Discursos Bento XVI 9937

NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA NO AEROPORTO DA CIDADE Viena, 9 de Setembro de 2007

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Ilustre Senhor Presidente Federal!

No momento da despedida da Áustria, na conclusão da minha peregrinação por ocasião do 850º aniversário do Santuário Nacional de Mariazell, repercorro mentalmente com espírito grato ao Senhor estes dias ricos de experiências. Sinto que este País tão bonito e o seu povo se tornaram para mim ainda mais familiares.

Agradeço de coração aos meus Irmãos no Episcopado, ao Governo, e a todos os responsáveis da vida pública assim como a todos os voluntários que contribuíram para o êxito da organização desta visita. Desejo a todos uma rica participação na graça que nos foi concedida nestes dias. Dirijo um particular e caloroso agradecimento a Vossa Excelência, Senhor Presidente Federal, pelas palavras que me dirigiu nesta despedida, pelo seu acompanhamento durante a peregrinação e por toda a atenção. Obrigado!

Pude de novo viver Mariazell como um lugar particular de graça, um lugar que nestes dias atraiu todos nós e nos fortaleceu interiormente para o nosso ulterior caminho. O grande número dos que participaram na festa juntamente connosco na Basílica, na cidade e em toda a Áustria deve encorajar-nos a olhar com Maria para Cristo e enfrentar cheios de confiança o caminho rumo ao futuro. Foi bom que o vento e o mau tempo não nos tenham detido, mas no fundo aumentamos ulteriormente a nossa alegria.

Já no início, a oração comum na Praça "Am Hof" reuniu-nos além dos confins nacionais e mostrou-nos a abertura hospitaleira da Áustria, que é uma das grandes qualidades deste País.

A busca de uma compreensão recíproca e a formação criativa de caminhos sempre novos para favorecer a confiança entre os homens e os povos continuem a inspirar a política nacional e internacional deste País! Viena, no espírito da sua experiência histórica e da sua posição no centro vivo da Europa, pode dar a sua contribuição para esta finalidade, fazendo valer consequentemente a compenetração dos valores tradicionais do Continente, permeados de fé cristã, nas instituições europeias e no âmbito da promoção das relações internacionais, interculturais e inter-religiosas.

Na peregrinação da nossa vida de vez em quando parámos, gratos pelo caminho percorrido e esperando e rezando em vista do que ainda temos para percorrer. Também eu fiz uma pausa deste género na Abadia de Heiligenkreuz. A tradição cultivada ali pelos monges cistercienses relaciona-nos com as nossas raízes, cuja força e beleza provêm no fundo do próprio Deus.

Hoje pude celebrar convosco o Domingo, o Dia do Senhor em representação de todas as paróquias da Áustria na Catedral de Santo Estêvão. Assim, nessa ocasião, eu estava unido de modo particular aos fiéis de todas as paróquias da Áustria.

Por fim, um momento comovedor foi para mim o encontro com os voluntários das Organizações assistenciais, que na Áustria são tão numerosas e multiformes. Os milhares de voluntários que pude ver representam os milhares de colegas que, em todo o País, na sua disponibilidade para ajudar mostram as características mais nobres do homem e fazem com que os crentes reconheçam o amor de Cristo.

Gratidão e alegria enchem neste momento o meu coração. A todos vós que seguistes estes dias, que dedicastes muitas energias e muito trabalho para que o denso programa se pudesse desenrolar sem obstáculos, que participastes na peregrinação e nas celebrações com todo o coração, chegue mais uma vez o meu agradecimento mais sincero. Ao despedir-me recomendo o presente e o futuro deste País à intercessão da Mãe da Graça de Mariazell, a Magna Mater Austriae, e a todos os Santos e Beatos da Áustria. Juntamente com eles queremos contemplar Cristo, nossa vida e nossa esperança. Digo a todos vós com afecto sincero um muito cordial "Vergelt's Gott".




AO SENHOR JOSEF DRAVECKÝ NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA ESLOVACA JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DA CARTAS CREDENCIAIS


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Quinta-feira, 13 de Setembro de 2007


Excelência

Sinto-me muito feliz por acolhê-lo no Vaticano e por receber as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Eslovaca junto da Santa Sé.

Agradeço-lhe as saudações cordiais que me transmitiu em nome do Presidente Gasparovic e peço-lhe a amabilidade de lhe transmitir as minhas respeitosas saudações e os meus bons votos orantes de bem-estar e prosperidade para a República. De facto, os vínculos que unem o Bispo de Roma e o povo do seu País remontam ao tempo dos Santos Cirilo e Metódio e a sua presença aqui, hoje, é outro exemplo do respeito e do afecto que a Santa Sé e a República Eslovaca nutrem uma pela outra.

Celebrar-se-á, no próximo ano, o 15º aniversário das relações diplomáticas entre a República Eslovaca e a Santa Sé. Nos últimos anos, esta cooperação foi particularmente fecunda como demonstra a ratificação por parte do Governo de dois dos quatro pontos contidos na Basic Agreement assinado em 2000. Estou-lhe grato, Excelência, por me ter garantido que a República está comprometida a ocupar-se dos outros pontos do Basic Agreement relativos à objecção de consciência e ao financiamento das actividades eclesiais. A este propósito recordo a disponibilidade da Santa Sé para assistir Vossa Excelência e os seus colegas de todas as formas possíveis para que estas importantes questões tenham bom êxito.

Excelência, como observei, um ponto importante aprovado no Basic Agreement, diz respeito à educação. É importante que os Estados continuem a garantir à Igreja a liberdade de fundar e gerir escolas católicas, oferecendo aos pais a oportunidade de escolher um instrumento educativo que promova a formação crista dos seus filhos. Aprendendo o ensino cristão, os jovens apreciam a própria dignidade pessoal de criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus (
Gn 1,27) e portanto reconhecem uma finalidade e uma orientação para a sua vida. De facto, uma sólida educação que alimente todas as dimensões da pessoa humana, inclusive a religiosa e espiritual, é interesse tanto da Igreja como do Estado. Desta forma, os jovens podem adquirir costumes que permitirão que cumpram os próprios deveres civis quando forem adultos.

Os esforços comuns da Igreja e da sociedade civil para instruir os jovens no bem são absolutamente cruciais num momento em que eles são tentados a desacreditar os valores do matrimónio e da família que são tão importantes para a sua felicidade futura e para a estabilidade social de uma nação. A família é o núcleo no qual uma pessoa aprende, antes do que noutros lugares, o amor humano e cultiva as virtudes da responsabilidade, da generosidade e da solicitude fraterna. Famílias sólidas são edificadas sobre matrimónios sólidos. Sociedades sólidas são edificadas sobre famílias sólidas. De facto, todas as comunidades civis deveriam fazer o possível para promover politicas económicas e sociais destinadas a ajudar os jovens cônjuges a facilitar o seu desejo de criar uma família. Longe do permanecer indiferente ao matrimónio, o Estado deve reconhecer, respeitar e apoiar esta honrada instituição como união estável entre um homem e uma mulher que se comprometem reciprocamente até à morte (cf. Familiaris consortio FC 40).

Os membros do vosso Conselho Nacional estão comprometidos em sérios debates sobre a promoção do matrimónio e da vida familiar. Também os Bispos católicos no seu País estão preocupados com o aumento da taxa dos divórcios e do número de crianças concebidas fora do vinculo matrimonial. Graças aos esforços do Conselho para a Família e para os Jovens, a Conferência Episcopal elaborou iniciativas educativas destinadas a incrementar a consciência da nobre vocação do matrimónio, preparando portanto os jovens para assumirem esta responsabilidade. Estes programas educativos são a base para uma futura colaboração entre Igreja e Estado e contribuem para um futuro sadio para o seu País.

A República da Eslováquia trabalha para alcançar o progresso social dentro das fronteiras nacionais e ao mesmo tempo olha para além delas, para a mais larga comunidade internacional. O rico património cultural e espiritual da Eslováquia é um grande potencial para revitalizar a alma do continente europeu. Vossa Excelência ressaltou os sacrifícios heróicos feitos ao longo da história da sua nação por numerosos homens e mulheres que, em tempos de perseguição, se comprometeram, pagando um preço muito elevado, na tutela do direito à vida, à liberdade religiosa e à liberdade de estar ao serviço caritativo ao próximo (cf. Deus caritas est ). Estes valores fundamentais são imperativos para edificar uma União Europeia justa e pacífica. Tenho confiança no facto de que as celebrações do 1150º aniversário dos Santos Cirilo e Metódio renovarão o vigor da Eslováquia em dar testemunho destes valores sem tempo. Desta forma, ela inspirará outros Estados-membros da União Europeia a comprometerem-se pela unidade mesmo reconhecendo a diversidade, a respeitar a soberania nacional comprometendo-se em actividades conjuntas e a perseguir o progresso económico apoiando a justiça social.

Excelência, tenho confiança no facto de que os vínculos entre a República da Eslováquia e a Santa Sé, que já gozam de espírito de boa vontade e de estima recíproca, hão-de continuar a apoiar o desenvolvimento integral da sua nação. Garanto-lhe que os vários Órgãos da Cúria Romana estão desejosos de o assistir no cumprimento dos seus deveres. Com os meus sinceros bons votos, invoco sobre Vossa Excelência, sobre a sua família e sobre todo o amado povo da República da Eslováquia abundantes bênçãos divinas.



À COMUNIDADE DAS MONJAS CLARISSAS

DO MOSTEIRO DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE ALBANO LAZIALE Castel Gandolfo, 15 de Setembro de 2007

Queridas Irmãs

537 Dou-vos as boas-vindas ao Palácio Apostólico! Com grande prazer vos recebo, agradecendo-vos a visita e saúdo cordialmente cada uma de vós. Pode-se dizer que a vossa Comunidade, que está situada no território das Vilas Pontifícias, vive à sombra da casa do Papa e é, portanto, muito estreito o vínculo espiritual que existe entre vós e o Sucessor de Pedro, como demonstram os numerosos contactos que, desde a fundação, tivestes com os Papas durante a sua estadia aqui, em Castel Gandolfo. Recordou-o há pouco a vossa Madre Abadessa, a quem agradeço de coração as gentis expressões que me dirigiu em nome de todas vós. Ao encontrar-vos esta manhã, gostaria de renovar a minha sincera gratidão à vossa Fraternidade pelo apoio quotidiano da oração e pela vossa intensa participação espiritual na missão do Pastor da Igreja universal. No silêncio da clausura e no dom total e exclusivo de vós mesmas a Cristo segundo o carisma franciscano, vós prestais um precioso serviço à Igreja.

Ao repercorrer a história do vosso Mosteiro, observei que muitos dos meus Predecessores, encontrando a vossa Fraternidade, exaltaram sempre a importância do vosso testemunho de contemplativas "contentes somente de Deus". Em particular, penso de novo no que vos disse o Servo de Deus Paulo VI, a 3 de Setembro de 1971, ou seja, que diante de quantos consideram as claustrais à margem da realidade e da experiência do nosso tempo, ao contrário, a vossa existência tem o valor de um singular testemunho que toca intimamente a vida da Igreja. "Vós representais realçou Paulo VI tantas coisas que a Igreja aprecia e que o Concílio Vaticano II confirmou. Fiéis à regra, à vida comunitária, à pobreza, vós sois uma semente e um sinal". Quase prosseguindo estas reflexões, alguns anos mais tarde, a 14 de Agosto de 1979, o amado João Paulo II, ao celebrar a santa Missa na vossa capela, quis confiar à vossa oração a sua pessoa, a Igreja e a humanidade inteira. "Vós não abandonastes o mundo observou para evitar as preocupações do mundo... vós levais-as todas no coração e, no atormentado cenário da história, acompanhais a humanidade com a vossa oração... Por esta vossa presença, escondida mas autêntica, na sociedade e mais ainda na Igreja, também eu olho com confiança para as vossas mãos postas".

Eis então, queridas Irmãs, o que o Papa espera de vós: que sejais chamas ardentes de amor, "mãos postas" que vigiam em oração incessante, totalmente separadas do mundo, para apoiar o ministério daquele que Jesus chamou para guiar a sua Igreja. "Irmãs pobres" que, seguindo o exemplo de São Francisco e de Santa Clara, observam o "santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade". Nem sempre tem eco na opinião pública o empenho silencioso daqueles que como vós procuram colocar em prática com simplicidade e alegria o Evangelho "sine glossa", mas estai certas é verdadeiramente extraordinário o contributo que dais à obra apostólica e missionária da Igreja no mundo, e Deus continuará a abençoar-vos com o dom de tantas vocações como fez até agora.

Queridas Irmãs Clarissas, São Francisco, Santa Clara e todos os Santos e Santas da vossa Ordem vos ajudem a "perseverar fielmente até ao fim" na vossa vocação. A Virgem Maria, que hoje a liturgia nos faz contemplar aos pés da cruz, associada intimamente à missão de Cristo e co-partícipe na obra da salvação com a sua dor de mãe, vos proteja de modo especial. No Calvário Jesus deu-a a nós como mãe e confiou-nos a Ela como filhos. A Virgem das Dores vos obtenha o dom de seguir o seu divino Filho crucificado e abraçar com serenidade as dificuldades e as provações da existência quotidiana. Com estes sentimentos concedo a todas vós uma especial Bênção Apostólica, que estendo de bom grado às pessoas que se confiam às vossas orações.


AOS OFICIAIS E COLABORADORES DO PONTIFÍCIO CONSELHO "JUSTIÇA E PAZ" Sala do Consistório do Palácio Pontifício

de Castel Gandolfo

Segunda-feira, 17 de Setembro de 2007



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Queridos irmãos e irmãs!

538 Dirijo uma cordial saudação de boas-vindas a todos vós, que vos reunistes para recordar o caríssimo Cardeal François-Xavier Nguyên Van Thuân, que o Senhor chamou a Si, há cinco anos, no dia 16 de Setembro. Passaram cinco anos, mas está viva ainda a nobre figura deste fiel servidor do Senhor na mente e no coração de quantos o conheceram. Também eu conservo muitas lembranças pessoais dos encontros que tive com ele durante os anos do seu serviço aqui na Cúria Romana.

Saúdo o Senhor Cardeal Renato Raffaele Martino e o Bispo D. Giampaolo Crepaldi, respectivamente Presidente e Secretário do Pontifício Conselho "Justiça e Paz", e também os seus colaboradores. Saúdo os membros da Fundação São Mateus instituída em memória do Cardeal Van Thuân, do Observatório Internacional, que tem o seu nome, criado para a difusão da doutrina social da Igreja, assim como os parentes e os amigos do Cardeal falecido. Ao Senhor Cardeal Martino expresso sentimentos de imensa gratidão também pelas palavras que quis dirigir-me em nome dos presentes.

De bom grado, aproveito a ocasião para trazer à luz, mais uma vez, o luminoso testemunho de fé que nos deixou este heróico Pastor. O Bispo Francisco Xavier assim ele gostava de se apresentar foi chamado à casa do Pai no Outono de 2002, após um longo período de grave enfermidade, enfrentada no total abandono à vontade de Deus. Um pouco antes, tinha sido nomeado pelo meu venerado predecessor João Paulo II, Vice-Presidente do Pontifício Conselho "Justiça e Paz", do qual depois se tornou Presidente, dando início à publicação do Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Como esquecer os marcantes traços da sua simples e imediata cordialidade? Como não mencionar a capacidade que ele tinha de dialogar e de se fazer próximo de todos? Recordamo-lo com muita admiração, enquanto nos voltam à mente as grandes visões, cheias de esperança, que o animavam e que ele sabia propor de modo fácil e aliciante; o seu fervoroso empenho pela difusão da doutrina social da Igreja entre os pobres do mundo, o desejo veemente pela evangelização do seu Continente, a Ásia, a capacidade que possuía de coordenar as actividades de caridade e de promoção humana que promovia e apoiava nos lugares mais longínquos da terra.

O Cardeal Van Thuân era um homem de esperança, vivia de esperança e difundia-a entre todos os que encontrava. Foi graças a esta energia espiritual que resistiu a todas as dificuldades físicas e morais. A esperança apoiou-o como Bispo isolado da sua comunidade diocesana por 13 anos; a esperança ajudou-o a entrever no absurdo dos eventos que viveu nunca teve o direito de um processo durante a sua longa detenção um desígnio providencial de Deus. A notícia da doença, o tumor, que depois o conduziu à morte, chegou quase em simultâneo com a da nomeação para Cardeal por parte de João Paulo II, que nutria por ele grande estima e afecto. O Cardeal Van Thuân amava repetir que o cristão é o homem da hora presente, do agora, do momento, a colher e viver com o amor de Cristo. Nesta capacidade de viver a hora presente transparece o seu íntimo abandono nas mãos de Deus e a simplicidade evangélica que todos admirávamos nele. Porventura é possível interrogava-se que quem confia no Pai celeste não queira depois se deixar estreitar pelos Seus braços?

Queridos irmãos e irmãs tomei conhecimento com íntima alegria da notícia de que inicia a Causa de beatificação deste singular profeta da esperança cristã e, enquanto confiamos ao Senhor a sua alma eleita, rezemos para que o seu exemplo seja para nós de válido ensinamento. Com estes votos, abençoo todos vós de coração


AOS BISPOS DO BENIM EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM » Quinta-feira, 20 de Setembro de 2007


Queridos Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio

Sinto-me feliz por vos receber no momento em que realizais a vossa visita ad Limina, manifestação de comunhão entre os Bispos e a Sé de Pedro, e meio eficaz para responder à exigência de conhecimento recíproco que provém da própria realidade desta comunhão (cf. Pastores gregis ). O Presidente da Vossa Conferência Episcopal, D. Antoine Ganyé, apresentou-me em vosso nome algumas realidades da vida da Igreja no Benim, ao qual agradeço cordialmente. Por seu intermédio, gostaria de saudar calorosamente todos os membros das vossas comunidades diocesanas, sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas, catequistas e todos os leigos, convidando-os a crescer na fé em Jesus, único Salvador dos homens. Tenha a amabilidade de transmitir também a minha saudação afectuosa ao estimado Cardeal Bernardin Gantin. Por fim, a todos os habitantes do Benim, dirijo votos cordiais, para que prossigam corajosamente o seu compromisso em vista da construção de uma sociedade cada vez mais fraterna e respeitadora de cada pessoa.

Ao longo dos últimos anos, destes provas de uma grande coragem evangélica para guiar o povo de Deus entre as numerosas dificuldades que a vossa sociedade viveu, sobretudo no campo da justiça e dos direitos humanos. Em todas estas situações, propusestes incansavelmente o ensinamento da Igreja fundada no Evangelho, suscitando assim a esperança no coração do vosso povo e contribuindo para manter a unidade e a concórdia nacionais. Face aos numerosos desafios que se vos apresentam hoje, encorajo-vos vivamente a desenvolver uma autêntica espiritualidade de comunhão, a fim de "fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão" (Novo millennio ineunte NM 43). De facto, esta comunhão que os Bispos são chamados a viver primeiro entre eles, para encontrar a força e o apoio no seu ministério, favorece o dinamismo missionário, "dando como garantia permanente o testemunho da unidade, para que o mundo creia, e dilatando os espaços do amor para que todos cheguem à comunhão trinitária, donde procedem e para onde se encaminham" (Pastores gregis ).

Convido-vos também a desenvolver esta comunhão nos vossos presbyterium, ajudando os sacerdotes, mediante a qualidade das relações que mantendes com eles, a assumir plenamente o seu ministério sacerdotal. Encorajo calorosamente cada um deles a manter na vida apostólica um equilíbrio, dando o espaço suficiente a uma intensa vida espiritual, para criar e fortalecer uma relação de amizade com Cristo, a fim de servir generosamente a parte do povo de Deus que lhe está confiado, bem como o anúncio do Reino de Deus a todos. Assim será tornado concretamente presente o Evangelho na sociedade. Em conformidade com a sabedoria da Igreja, que eles saibam também discernir nas "tradições" do seu povo o bem verdadeiro, que permite crescer na fé e num conhecimento autêntico de Deus, e rejeitar o que está em contradição com o Evangelho.

539 Por outro lado, os vossos relatórios quinquenais mostram como a influência das tradições ainda permanece muito presente na vida social. Se os seus aspectos melhores devem ser encorajados, é necessário rejeitar as suas manifestações que podem prejudicar, a manter o receio ou a excluir o próximo. A fé cristã deve inculcar nos corações a liberdade interior e a responsabilidade que Cristo nos dá perante os acontecimentos da vida. Uma sólida formação cristã será portanto um apoio indispensável para ajudar os fiéis a confrontar a fé com as crenças da "tradição". Esta formação deve permitir também que se aprenda a rezar com confiança, para permanecer sempre próximos de Cristo e no momento da aflição, encontrar nas comunidades cristãs um apoio, através dos sinais efectivos do amor de Deus que torna livres. Nesta tarefa delicada, a colaboração dos catequistas é uma contribuição preciosa. Conheço a sua dedicação e a solicitude que destinais à sua formação para lhes permitir levar uma vida digna. Saúdo-os cordialmente, manifestando-lhes o reconhecimento da Igreja pelo seu compromisso ao seu serviço.

Queridos Irmãos, nas vossas dioceses, os Institutos de vida consagrada dão uma generosa contribuição à missão. Que os religiosos e as religiosas conservem sempre o coração e o olhar fixos no Senhor Jesus para que, mediante as suas obras e pela doação total de si mesmos, comuniquem a todos o amor de Deus que recebem na sua existência! O serviço aos mais desprovidos da sociedade sem distinção, que é um compromisso fundamental da maior parte deles, nunca deve deixar de lado Deus e Cristo, que é necessário anunciar, sem com isto pretender impor a fé da Igreja. "O cristão sabe quando chegou o tempo de falar de Deus e quando é justo silenciar e deixar falar só o amor" (Deus caritas est ). Convido também os membros das comunidades contemplativas a permanecer, mediante a sua presença discreta, um apelo permanente para todos os crentes a procurar incessantemente o rosto de Deus e a dar-lhe graças por todos os seus benefícios.

No contexto cultural do vosso País, é necessário que a presença da Igreja se manifeste por sinais visíveis, que indicam o sentido autêntico da sua missão entre os homens. Entre eles, as celebrações litúrgicas fervorosas e calorosas devem ocupar um lugar eminente. No próprio centro da sociedade, elas são um testemunho eloquente de fé prestada pelas vossas comunidades. Por conseguinte, é importante que os fiéis participem na liturgia de modo pleno, activo e frutuoso. Para favorecer esta participação, é legítimo valer-se de certos arranjamentos apropriados aos diversos contextos culturais, no respeito das normas estabelecidas pela Igreja. Todavia, para que os elementos culturais incompatíveis com a fé cristã ou acções que se prestam a criar confusão não sejam introduzidos na liturgia, uma sólida formação litúrgica deve ser garantida aos seminaristas e aos sacerdotes, permitindo o aprofundamento do conhecimento dos fundamentos, do significado e do valor teológico dos ritos litúrgicos.

Por outro lado, a presença da Igreja na sociedade manifesta-se também com as intervenções públicas dos seus Pastores. Em várias circunstâncias, defendestes corajosamente os valores da família e do respeito pela vida, quando estavam ameaçadas por ideologias que propunham modelos de vida e comportamentos que contrastavam com uma concepção autêntica da vida humana.

Encorajo-vos a prosseguir este compromisso, que é um serviço prestado à sociedade inteira. Nesta perspectiva, a formação dos jovens é também uma das vossas prioridades pastorais. Gostaria de me congratular aqui pelo trabalho realizado por todas as pessoas que contribuem para a sua educação humana e religiosa, particularmente no ensino católico, cuja qualidade é amplamente reconhecida. Ajudando os jovens a adquirir uma maturidade humana e espiritual, fazei com que descubram Deus, que compreendam que é na doação de si mesmos ao serviço do próximo que se tornam mais livres e maduros. De outra forma, os obstáculos com que se deparam para se comprometerem no matrimónio cristão e para viver em fidelidade aos compromissos assumidos, obstáculos com frequência relacionados com a cultura e com as tradições, exigem não só uma séria preparação para este sacramento, mas também um acompanhamento permanente das famílias, particularmente nos momentos de maior dificuldade.

Por fim, desejo manifestar a minha satisfação ao verificar que, em geral, as relações entre cristãos e muçulmanos se desenvolvem numa atmosfera de compreensão recíproca. De igual modo, a fim de evitar que se crie qualquer forma de intolerância e para prevenir todas as violências, seria conveniente encorajar um diálogo sincero, fundado num conhecimento recíproco sempre mais verdadeiro, sobretudo através de relações humanas respeitadoras, de um entendimento sobre os valores da vida e uma cooperação recíproca em tudo o que promove o bem-estar comum. Um tal diálogo exige também que se preparem pessoas competentes para ajudar a conhecer e a compreender os valores religiosos que temos em comum e a respeitar lealmente as diferenças.

Amados Irmãos, no momento em que termina o nosso encontro, encorajo-vos a prosseguir a vossa missão ao serviço do povo de Deus no Benim, vivendo cada vez mais intensamente o mistério de Cristo. Não tenhais medo de propor a novidade radical da vida que Cristo nos trouxe e ofereceu a todos os homens para que realizem a sua vocação integral! Confio cada um de vós à intercessão materna de Maria, Rainha da África. Ela interceda pelos sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas, catequistas e pelos fiéis de cada uma das vossas Dioceses. Dirijo a todos de coração uma afectuosa Bênção Apostólica.




AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO DA COMISSÃO INTERNACIONAL DEMOCRÁTICA DE CENTRO E DEMOCRÁTICO-CRISTÃ Sexta-feira, 21 de Setembro de 2007

Senhor Presidente
Ilustres Parlamentares
Distintas Senhoras e Senhores!

540 Estou feliz por vos receber durante os trabalhos do Comité Executivo da Internacional Democrática de Centro e Democrático-Cristã e desejo, antes de tudo, dirigir uma cordial saudação às numerosas Delegações presentes, que provêm de tantas nações do mundo. Dirijo uma saudação particular ao Presidente, Deputado Pier Ferdinando Casini, e agradeço-lhe as gentis palavras que me endereçou em nome de todos. A vossa visita dá-me a oportunidade de oferecer à vossa atenção algumas considerações sobre valores e ideais que foram forjados ou aprofundados de maneira decisiva pela tradição cristã na Europa e no mundo inteiro.

Sei que vós, mesmo na variedade das vossas proveniências, partilhais não poucos dos seus princípios, como por exemplo a centralidade da pessoa e o respeito pelos direitos humanos, o empenho pela paz e a promoção da justiça para todos. Portanto, fazeis referência a princípios fundamentais, que estão correlacionados entre si, como demonstra a experiência da história. De facto, quando os direitos humanos são violados, é a própria dignidade da pessoa a ser ferida; se a justiça vacila, a paz está em perigo. Por outro lado, a justiça pode dizer-se verdadeiramente humana só se a visão ética e moral sobre a qual se funda estiver centrada sobre a pessoa e a sua inalienável dignidade.

Ilustres Senhores e Senhoras, a vossa actividade, que se inspira a tais princípios, actualmente tornou-se ainda mais difícil devido ao clima de profundas mudanças no qual vivem as nossas comunidades. Por isso, gostaria de vos encorajar ainda mais a prosseguir o esforço de servir o bem comum, empenhando-vos a fazer com que não se difundam, nem se reforcem ideologias que possam obscurecer ou confundir as consciências e veicular uma ilusória visão da verdade e do bem. Existe, por exemplo, no campo económico uma tendência que identifica o bem com o proveito e desse modo dissolve a força do ethos a partir de dentro, acabando por ameaçar o próprio proveito. Muitos acreditam que a razão humana seja capaz de colher a verdade e, por conseguinte, de perseguir o bem correspondente à dignidade da pessoa. Depois há quem julga legítima a eliminação da vida humana na sua fase pré-natal ou na terminal. Também é preocupante a crise na qual vive a família, célula basilar da sociedade fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem e de uma mulher. A experiência demonstra que quando a verdade do homem é ultrajada, quando a família é minada nos seus fundamentos, a própria paz é ameaçada, o direito corre o risco de se comprometer e, como lógica consequência, vai-se ao encontro de injustiças e violências.

Outro âmbito que vos está muito a peito é o da defesa da liberdade religiosa, direito fundamental insuprimível, inalienável e inviolável, radicado na dignidade de cada ser humano e reconhecido por vários documentos internacionais, entre os quais, antes de tudo, a Declaração Universal dos Direitos do Homem. O exercício dessa liberdade inclui também o direito de mudar de religião, que é garantido não só juridicamente como na prática quotidiana. Com efeito, a liberdade religiosa responde à intrínseca abertura da criatura humana a Deus, Verdade plena e Bem supremo e a sua valorização constitui uma expressão fundamental de respeito pela razão humana e pela sua capacidade de verdade. A abertura para a transcendência constitui uma garantia indispensável para a dignidade humana porque há desejos e exigências do coração de cada pessoa que só em Deus encontram compreensão e resposta. Não se pode então excluir Deus do horizonte do homem e da história! Eis porque deve ser acolhido o desejo comum a todas as tradições autenticamente religiosas de mostrar publicamente a própria identidade, sem ser obrigados a escondê-la ou mimetizá-la.

O respeito pela religião contribui também para desmentir a repetida reprovação de ter esquecido Deus, com a qual algumas redes terroristas procuram pretextualmente justificar as próprias ameaças à segurança das sociedades ocidentais. O terrorismo representa um fenómeno gravíssimo, que com frequência chega a instrumentalizar Deus e despreza de maneira injustificável a vida humana. A sociedade certamente tem o direito de se defender, mas este direito, como todos os demais, deve ser exercido no pleno respeito pelas regras morais e jurídicas, também no que concerne à escolha dos objectivos e dos meios. Nos sistemas democráticos o uso da força nunca justifica a renúncia aos princípios do estado de direito. De facto, pode-se proteger a democracia ameaçando os seus fundamentos? Portanto, é necessário tutelar corajosamente a segurança da sociedade e dos seus membros, salvaguardando contudo os direitos inalienáveis de cada pessoa. O terrorismo deve ser combatido com determinação e eficácia, na consciência de que, se o mal é um mistério alastrador, a solidariedade dos homens no bem é um mistério que se propaga ainda mais.

A este propósito, a Doutrina Social da Igreja Católica oferece elementos de reflexão úteis para promover a segurança e a justiça, quer a nível nacional quer internacional, a partir da razão, do direito natural e também do Evangelho, isto é, a partir do que está em conformidade com a natureza de cada ser humano e também a transcende. A Igreja sabe que não é sua tarefa fazer valer esta doutrina politicamente: o seu objectivo é servir a formação da consciência na política e contribuir a fim de que cresça a percepção das verdadeiras exigências da justiça e, ao mesmo tempo, a disponibilidade para agir com base nelas, mesmo se isto contrastasse com situações de interesse pessoal (cf. Deus caritas est ). Nesta sua missão, a Igreja é movida pelo amor por Deus e pelo homem e pelo desejo de colaborar com todas as pessoas de boa vontade para construir um mundo onde são salvaguardados a dignidade e os direitos inalienáveis de todas as pessoas. A quantos partilham a fé em Cristo, a Igreja exorta a testemunhá-la hoje, com ainda maior coragem e generosidade. De facto, a coerência dos cristãos é indispensável também na vida política, para que o "sal" do empenho apostólico não perca o seu "sabor" e a "luz" dos ideais evangélicos não seja obscurecida na sua acção quotidiana.

Ilustres Senhores e Senhoras, obrigado mais uma vez pela vossa agradável visita. Enquanto formulo fervorosos votos para o vosso trabalho, garanto uma lembrança na oração para que Deus abençoe a vós, as vossas famílias e vos obtenha sabedoria, coerência e vigor moral para servir a grande e nobre causa do homem e do bem comum.





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