Discursos Bento XVI 745

AO RECEBER A CIDADANIA HONORÁRIA DE BRESSANONE Sábado, 9 de Agosto de 2008

Excelência
Senhor Presidente da Região
Senhor Presidente da Câmara Municipal
Senhores Conselheiros Municipais
Senhoras e Senhores

A honra que me foi reconhecida pela Municipalidade de Bressanone, com a entrega da cidadania honorária, constitui para mim uma grande alegria, que recebo com profunda gratidão e que agora me acompanhará nas épocas futuras da minha vida. Graças a este gesto, agora em Bressanone estou em casa, e não só por assim dizer com o coração, mas de certo modo também legalmente: faço parte da sua cidadania. Mesmo quando não puder vir, todavia estarei de certo modo legalmente presente. Não penso que é necessário que vos diga que muitas vezes estou aqui com o coração. Aceitai o meu grande e cordial agradecimento! E agradeço de coração também ao coro, que confirmou e transformou em realidade as suas bonitas palavras acerca de Bressanone e sobre a música.

Quando no passado eu vinha do Norte, ao longo da estrada de Brennero, a Bressanone, recordo que para mim era sempre um momento emocionante, quando o vale se abria diante dos meus olhos, e quando apareciam as torres de Bressanone esta cidade, circundada de vinhedos e pomares, situada no meio das montanhas, tão rica de história e de beleza. Então, eu sabia: aqui está-se bem! Então, eu sabia: escolhi o recanto exacto, e depois poderei voltar com forças renovadas às minhas tarefas.

Como já disse, em Bressanone escrevi uma grande parte dos meus livros, descansei, encontrei amizades; sobretudo, em Bressanone recebi recordações que levarei comigo. E este é o aspecto mais bonito: que posso passear na paisagem das recordações e, quando voltar para Roma, os meus passeios na paisagem das recordações passarão reiteradamente por Bressanone, e estarei novamente aqui, e de novo poderei descansar e retomar as forças.

746 Bressanone adquiriu para mim uma importância particular também porque como Vossa Excelência, Senhor Presidente da Câmara Municipal, já manifestou com termos tão bonitos e profundos é um lugar de encontro, de encontro entre as culturas: efectivamente, nas três línguas italiano, alemão e ladino encontram-se as culturas, e o encontro entre as culturas, do qual hoje em dia temos tanta necessidade, tem uma sua história em Bressanone. Como sabemos, ele nem sempre é fácil, mas é sempre frutuoso e rico de dádivas, que a todos ajuda e nos torna mais ricos, mais abertos e mais humanos.

Bressanone é para mim um lugar de encontros: encontro das culturas; inclusivamente encontro entre uma sadia laicidade e uma jubilosa fé católica, encontro entre uma grande história e o presente e o futuro. E vemos que esta história, que aqui realmente está presente e é tangível, não impede a formação, o dinamismo, a vitalidade do presente e do futuro mas, pelo contrário, inspira e torna-nos mais dinâmicos. E além disso, é também um encontro entre as raízes cristãs e o espírito da modernidade, que só em conjunto podem construir uma sociedade digna deste nome, uma sociedade realmente humana.

Neste sentido, para mim Bressanone é também um modelo europeu, uma verdadeira cidade europeia: aqui estão presentes as raízes cristãs, a identidade, a identidade cristã da nossa cultura; ela não nos encerra em nós mesmos mas, pelo contrário, abre-nos aos outros, proporcionando-nos a comunhão do encontro e oferecendo-nos também os critérios e os valores segundo os quais temos que viver.

O meu cordial agradecimento a todos vós, e sobretudo peço para todos vós a bênção de Deus. Que o Senhor continue a proteger esta bonita cidade e a ajude a construir um futuro grandioso, belo e humano.

Obrigado de coração!



SAUDAÇÃO AOS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA SEGURANÇA DURANTE A SUA PERMANÊNCIA EM BRESSANONE Segunda-feira, 11 de Agosto de 2008



Posso somente dizer obrigado pela vossa presença e a discrição com que trabalhastes para mim. Somente agora vejo que exército de "anjos da guarda" me circundou, garantindo-me este tempo de paz e de alegria. Realmente, eu pude viver numa ilha de paz, ver a beleza da natureza e, ao mesmo tempo, saber que muitas pessoas trabalharam para mim, ajudando-me a viver bem nesta ilha de paz.

Espero que também para vós tenha sido um tempo de respiro deste bom ar e não só de trabalho e de compromisso, mas também de um pouco de descanso nesta beleza da natureza, nesta bonita e pequena cidade, com tanta história e com um presente tão vivo e belo.

Faltam-me palavras para dizer mais. Desejo a todos vós toda a bênção de nosso Senhor, a alegria e todas as belas coisas às quais aspirais para as vossas famílias, para cada um de vós. O Senhor vos abençoe sempre. Esperemos que estes dias permaneçam na nossa memória dias que nos ajudem também sucessivamente a acreditar na beleza da vida e a ter confiança no nosso futuro.
Obrigado a todos vós!



SAUDAÇÃO AOS FIÉIS DE BRESSANONE POR OCASIÃO DA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA Segunda-feira, 11 de Agosto de 2008


747 Queridos amigos, Senhor Presidente da Câmara Municipal, amados cidadãos de Bressanone, dos quais agora também eu faço parte, como cidadão honorário! Todas as coisas belas terminam e assim, infelizmente, também as minhas férias em Bressanone. Mas posso dizer-vos: foram muito bonitas! E embora estes dias, materialmente, terminem, todavia permanece um tesouro de recordações que levo comigo e mediante as quais poderei continuar a estar convosco. E sobretudo através da ponte da oração, quero permanecer convosco. Assim estaremos unidos, e graças ao Senhor estaremos em contacto e alegrar-nos-emos em conjunto e procuraremos fazer o que é correcto para hoje e para amanhã.

Caros amigos, obrigado por tudo! Estes dias terminam, mas levo comigo um tesouro de recordações; sobretudo na ponte da oração estamos sempre unidos. A todos vós, os melhores votos, e o Senhor vos abençoe sempre!

A todos vós concedo de coração a bênção do Senhor e as minhas preces acompanhar-vos-ão. Posso concluir com a bênção!

Muito obrigado! Até à vista!



ALLA DELEGAZIONE DELLA "BAYERISCHER RUNDFUNK" Castelgandolfo, giovedì 14 agosto 2008



Verehrter lieber Herr Mandlig, verehrte Damen und Herren!

Dies war nicht einfach ein Film, sondern eine Pilgerschaft. Der Bayerische Rundfunk hat uns in die Pilgerschaft vieler Menschen zur Muttergottes mit hineingenommen: Es waren junge und alte, Männer und Frauen, alle Generationen, und die verschiedenen Facetten unseres Landes sind uns deutlich geworden. Aber das Gemeinsame war, daß sie alle auf dem Weg sind zu Maria und daß das Vertrauen zur Mutter des Herrn sie auf dem Weg hält und auf dem Weg führt.

Wir haben den Glauben der Menschen gespürt, und sie haben ihn bezeugt in der Einfachheit ihres Denkens und ihres Seins und gerade so mit der Glaubwürdigkeit dessen, der nicht etwas vormacht sondern der sich selber gibt. Und durch den Glauben hindurch haben wir Maria selbst gesehen, die Mutter des Herrn, und in ihr wiederum spiegelt sich die Güte Gottes selber.

Für dieses Geschenk danke ich Ihnen, lieber Herr Mandlig, all ihren Mitarbeitern und dem Bayrischen Rundfunk, und ich wünsche und hoffe, daß viele Menschen durch das Sehen dieses Films selbst in die Pilgerschaft zur Mutter und zum Herrn hineingenommen werden. Ich möchte aber auch nicht versäumen, den Oberaudorfern, die mich in München mit dem „Gott grüsse Dich" so wunderbar begrüßt haben, ein herzliches „Vergelt’s Gott" zu sagen dafür, daß sie sich auf den Weg zu uns gemacht und uns wiederum die Schönheit unserer bayrischen Volksmusik haben spüren lassen. Vergelt’s Gott!

[Signor Mandlig, Signore e Signori!

Questo non è stato semplicemente un film, è stato un pellegrinaggio. Il Bayerischer Rundfunk ci ha coinvolto nel pellegrinaggio di molte persone alla Madonna: giovani e anziani, uomini e donne, tutte le generazioni, e le diverse sfaccettature del nostro Paese si sono rese evidenti a noi. Quello che ha accomunato tutti, però, è stato il fatto di essere in cammino verso Maria e che la fiducia nella Madre del Signore conserva e conduce tutti nel loro cammino.

748 Abbiamo potuto sentire la fede delle persone che l’hanno testimoniata nella semplicità del loro pensiero e del loro essere e proprio per questo con la credibilità di chi non finge ma è spontaneo. E attraverso la fede abbiamo visto Maria stessa, la Madre di Dio: in lei si rispecchia la bontà di Dio.

Per questo dono ringrazio Lei, caro signor Mandlig, tutti i suoi collaboratori e il Bayerischer Rundfunk; mi auguro e spero che tante persone, guardando questo film, vengano coinvolte personalmente nel pellegrinaggio alla Madre e al Signore. Ma non voglio dimenticare di dire un cordiale "Vergelt’s Gott" ai cittadini di Oberaudorf, che già a Monaco mi avevano salutato in maniera splendida con il "Gott grüße Dich" e che ora sono venuti fino a noi e ci hanno fatto sentire nuovamente la bellezza della musica popolare bavarese. Dio vi ricompensi!]

Cari amici, questo non è stato semplicemente un film, è stato un pellegrinaggio. La Radio Bavarese ci ha coinvolti in un pellegrinaggio alla Madonna: c’erano giovani, anziani, persone semplici e gente colta, tutti in cammino verso la Madonna. E nel loro pellegrinaggio abbiamo sentito anche la loro fede, nella fede risplende il volto della Madonna e risplende la bontà di Dio. Per questo siamo grati alla Radio Bavarese e speriamo che questo film possa coinvolgere molti nel pellegrinaggio alla Madonna e guidarli sulla via della fede. Grazie: nella vigilia della Madonna Assunta, questo è un dono speciale! Buona festa a tutti! Grazie.



PALAVRAS APÓS A PROJECÇÃO DE UM FILME MARIANO OFERECIDO PELA RÁDIO BÁVARA "BAYERISCHER RUNDFUNK" Castel Gandolfo, 13 de Agosto de 2008

Senhor Mandlig
Senhoras e Senhores

Este não foi simplesmente um filme, mas uma peregrinação. A Bayerischer Rundfunk fez-nos participar na peregrinação de muitas pessoas rumo a Nossa Senhora: jovens e idosos, homens e mulheres, todas as gerações e os diversificados matizes do nosso país tornaram-se-nos evidentes. No entanto, aquilo que a todos nos irmanou foi o facto de nos termos colocado a caminho de Maria, e que a confiança na Mãe do Senhor conserva e conduz todos ao longo da sua vereda.

Pudemos sentir a fé das pessoas que a testemunharam na simplicidade do seu pensamento e do seu ser, e precisamente por este motivo, com a credibilidade de quem não finge mas é espontâneo. E através da fé pudemos ver a própria Maria, a Mãe de Deus: nela reflecte-se a bondade de Deus.

Estimado Senhor Mandlig, estou-lhe grato por este dom, assim como aos seus colaboradores e à Bayerischer Rundfunk; faço votos e espero que muitas pessoas, assistindo a este filme, se empenhem pessoalmente na peregrinação rumo à Mãe e ao Senhor. Todavia, não quero esquecer de transmitir um cordial "Vergelt's Gott" aos cidadãos de Oberaudorf, que já em Munique me saudavam de maneira esplêndida com as palavras "Gott grüße Dich", e que agora vieram até nós, fazendo-nos sentir novamente a beleza da música popular bávara.

Deus vos recompense!



ENTREGA DA CIDADANIA HONORÁRIA

DE CASTEL GANDOLFO A MONS. GEORG RATZINGER

Quinta-feira, 21 de Agosto de 2008


Eminências
Excelências
Autoridades
Queridos amigos

749 É para mim motivo de profunda alegria o facto de que agora o meu irmão pertence ao ilustre colégio dos concidadãos honorários desta bonita cidade. Deste modo, se é possível, Castel Gandolfo torna-se ainda mais querida, mais próxima ao meu coração. Portanto, obrigado por este gesto, também da minha parte.

Desde o início da minha vida, o meu irmão foi sempre não apenas um companheiro, mas também um guia confiável. Constituiu para mim um ponto de orientação e de referência, com a clarividência e a determinação das suas decisões. Indicou-me sempre o caminho a empreender, inclusive em situações difíceis.

Vossa Excelência, Senhor Presidente da Câmara Municipal, com as suas bonitas palavras fez-me pensar novamente nos anos transcorridos em Regensburg, onde realmente a bela música que se ouvia na Catedral, domingo após domingo, para mim era um alívio, uma consolação, uma alegria íntima, reflexo da beleza de Deus.

O meu irmão mencionou o facto de que, entretanto, chegamos à última etapa da nossa vida, à velhice. Os dias de vida reduzem-se progressivamente. Mas também nesta etapa o meu irmão me ajuda a aceitar com tranquilidade, com humildade e com coragem o peso de cada dia. Agradeço-lhe.

Estou grato ao Município de Castel Gandolfo por este gesto, que é realmente gratificante também para mim. Concluamos esta bonita cerimónia com a Bênção.



PALAVRAS NO FINAL DO CONCERTO EM SUA HONRA Sala dos Suíços do Palácio Pontifício de Castel Gandolfo

Domingo, 24 de Agosto de 2008


Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos amigos

750 Transcorremos uma bonita tarde, em que nos foi concedido ouvir novamente alguns trechos musicais famosos, que suscitaram em nós profundas emoções e sugestões espirituais. Com sentimentos de sincera cordialidade, dirijo a minha saudação a todos vós aqui presentes, e exprimo profunda gratidão a quantos promoveram e organizaram este encontro musical. Estou convicto de que interpreto os sentimentos de todos, formulando um grato e admirado apreço à Senhora Yvonne Timoianu e ao Senhor Christoph Cornaro, que tocaram respectivamente violoncelo e piano, com louvável talento. Graças à sua execução magistral, pudemos apreciar a riqueza multiforme da linguagem musical que caracteriza os trechos propostos. Apraz-me recordar que o meu conhecimento do Senhor Cornaro remonta ao período em que ele era Embaixador da Áustria junto da Santa Sé. Estou feliz por me encontrar de novo com ele, hoje como pianista.

Este concerto ofereceu-nos a ocasião para observar a feliz aproximação da poesia de Wilhelm Müller à música de Franz Schubert, num género melódico por ele apreciado. Com efeito, os Lieder que Schubert nos deixou são mais de seiscentos: o grande compositor, nem sempre compreendido pelos seus contemporâneos foi, como se sabe, o "príncipe do Lied". Como recita o seu epitáfio, ele "fez a poesia ressoar e a música falar". Há pouco, pudemos apreciar a obra-prima dos Lieder schubertianos: Die Winterreise (A viagem de Inverno). Trata-se de 24 Lieder compostos com as líricas de Wilhelm Müller, nos quais Schubert exprime uma intensa atmosfera de triste solidão, por ele particularmente sentida, considerando o estado de espírito de prostração que lhe foi causado pela longa enfermidade e pela sucessão de não poucas decepções sentimentais e profissionais. É uma viagem interior, que o célebre compositor austríaco escreveu em 1827, somente um ano antes da sua morte prematura, que o colheu com 31 anos.

Quando Schubert insere um texto poético no seu universo sonoro, interpreta-o através de uma mistura melódica que penetra na alma com docilidade, levando também quem o ouve a experimentar a mesma saudade pungente sentida pelo músico, a mesma evocação daquelas verdades do coração que vão além de todo o raciocínio. Nasce assim um afresco que fala de simples quotidianidade, de nostalgia, de introspecção e de futuro. Ao longo do percurso, tudo vem à superfície: a neve, a paisagem, os objectos, as pessoas e os acontecimentos, num pungente fluir de recordações. Em particular, para mim foi uma experiência nova e bonita, ouvir esta obra na versão que nos foi proposta, ou seja, com o violoncelo no lugar da voz humana. Não ouvíamos as palavras da poesia, mas o seu reflexo e os sentimentos nelas contidos, expressos com a "voz" quase humana do violoncelo.

Apresentando aos amigos A viagem de Inverno, Schubert pôde dizer: "Cantar-vos-ei um ciclo de Lieder, que me empenhou mais do que nunca. Gosto deles mais que todos, e serão também do vosso agrado". São palavras com as quais também nós concordamos, depois de os termos ouvido à luz da esperança da nossa fé. Espontâneo e exuberante, o jovem Schubert conseguiu comunicar também a nós, nesta tarde, aquilo que ele mesmo viveu e experimentou. Portanto, é merecido o reconhecimento que, universalmente, é tributado a este ilustre génio da música, que honra a civilização europeia e a grande cultura e espiritualidade da Áustria cristã e católica.

Interiormente confortados pela esplêndida experiência musical desta tarde, renovamos o nosso agradecimento àqueles que foram os seus promotores e a quem a realizou de forma magnífica. Transmito de novo a minha cordial saudação a quantos aqui se encontram, e a todos concedo com carinho a minha Bênção.



PALAVRAS POR OCASIÃO DA CELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA COM OS EX-ALUNOS DO O RATZINGER SCHÜLERKREIS NA CAPELA DO CENTRO MARIÁPOLIS Castel Gandolfo, 31 de Agosto de 2008


Queridos irmãos e irmãs!

Na leitura de hoje São Paulo diz-nos que temos necessidade de uma renovação do espírito para poder reconhecer a vontade de Deus. Nós não podemos realizar esta renovação, não a podemos obter só por nós, mas devemos ser renovados. Esta renovação é a morte e a ressurreição. Só pode acontecer na novidade realizada pelo próprio Deus, no perdermo-nos em Cristo, que nos atrai para si na Santa Eucaristia e que através do baptismo nos fez partícipes da sua morte e da sua ressurreição. Assim, a partir deste texto de Paulo, hoje torna-se compreensível também o que o Senhor diz no Evangelho, ou seja, que só podemos assumir a cruz e segui-lo. Não se trata de uma ascese limitada, mas fala-se de uma novidade que podemos receber só na comunhão com a sua morte e a sua ressurreição.

No início desta Santa Missa desejamos rezar ao Senhor para que afaste tudo o que em nós é velho, para que rompa o nosso velho fechamento em nós mesmos e a nossa auto-suficiência, para que nos torne novos.



                                                     Setembro 2008




AOS BISPOS DA NICARÁGUA RECEBIDOS EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Sábado, 6 de Setembro de 2008

751 Queridos irmãos no Episcopado!

Receber-vos todos juntos, Pastores da Igreja na Nicarágua, durante a vossa visita ad limina Apostolorum, é para mim motivo de grande alegria e oferece-me a oportunidade de expressar a minha proximidade aos vossos desvelos apostólicos e aos anseios e preocupações do povo nicaraguense, que nestes dias me tornastes vivamente presente. Agradeço as amáveis palavras que, em nome de todos, me dirigiu D. Leopoldo José Brenes Solórzano, Arcebispo de Manágua e Presidente da Conferência Episcopal, manifestando o vosso desejo de estreitar cada vez mais vínculos de unidade, de amor e de paz com o Sucessor de Pedro (cf. Lumen gentium
LG 22), assim como a comunhão entre vós na "missão apostólica como testemunhas de Cristo para os homens" (Christus Dominus CD 11).

Conheço os vossos esforços para levar a mensagem do Evangelho a todos os âmbitos da Nicarágua, com a abnegada colaboração dos vossos sacerdotes e dos Institutos religiosos presentes na Nicarágua. Com frequência, recebeis também uma valiosa ajuda dos Catequistas e Ministros da Palavra, que são como um caudal do qual o dom da fé cresce nos jovens e ilumina as diversas etapas da vida em lugares recônditos nos quais é praticamente impossível a presença estável de um sacerdote que guie a comunidade. A Igreja deve muito a estas pessoas que levam a Boa Nova e a doutrina cristã com espírito fraterno, face a face, dia a dia, e directamente, como é próprio de uma mensagem que se leva no íntimo e está destinada a transformar-se em vida nova em quantos a recebem. Por isso é imprescindível que estes generosos servos e colaboradores na missão evangelizadora da Igreja recebam o estímulo dos seus Pastores, tenham uma formação religiosa profunda e continuada, e mantenham uma fidelidade irrepreensível à doutrina da Igreja. Eles devem ser de modo muito especial "discípulos" avantajados que aprendem dos "mestres autênticos" que ensinam com a autoridade de Cristo (cf. Lumen gentium LG 25), e que infundem nos seus ouvintes o desejo do Mestre e dos seus ministros, que o tornam realmente presente mediante os sacramentos e de modo especial a Eucaristia, para assim constituir uma verdadeira e plena comunidade cristã reunida em volta do Senhor e presidida por um dos seus sacerdotes (cf. Sacramentum caritatis, 75).

A necessidade do clero bem preparado espiritual, intelectual e humanamente, levou-vos a rever recentemente o delineamento dos seminários no país, esperando poder oferecer assim uma melhor formação aos seminaristas das vossas dioceses, sempre muito necessária, e que exige uma proximidade e uma atenção esmerada da parte de cada Bispo, sem ceder no discernimento cuidadoso dos candidatos, nem nas rigorosas exigências necessárias para poder ser sacerdotes exemplares e transbordantes de amor a Cristo e à Igreja. Deste modo poderão ser acalentadas novas esperanças de poder dedicar-se pastoralmente e de forma adequada a sectores tão importantes como a catequese sistemática, incisiva e organizada de crianças e jovens, para os quais preparastes um catecismo específico para a Confirmação e promovestes a "infância missionária". É desejável que melhore também a devida assistência religiosa nos hospitais, cárceres e noutras instituições.

A respeito disto, não se deve esquecer que a semente do Evangelho deve espalhar-se cada vez mais, em todas as épocas e gerações, para que germine vigorosa e para que a sua flor não murche. Também a religiosidade popular, tão arraigada no vosso povo e que é uma grande riqueza para a vossa população, deve ser mais do que uma simples tradição recebida passivamente, revitalizando-a continuamente mediante uma acção pastoral que faça brilhar a profundidade dos gestos e dos sinais, indicando o mistério insondável de salvação e de esperança ao qual se referem e do qual Deus nos fez partícipes, iluminando a mente, colmando o coração e comprometendo a vida.

Um dos grandes desafios que enfrentais é precisamente a sólida formação religiosa dos vossos fiéis, fazendo com que o Evangelho seja profundamente gravado nas suas mentes, na sua vida e trabalho, para que sejam fermento do Reino de Deus com o seu testemunho nos diversos âmbitos da sociedade e contribuam para que os temas temporais sejam orientados segundo a justiça e adequados à vocação total do homem na terra (cf. Apostolicam actuositatem AA 7).

Isto é particularmente importante numa situação em que à pobreza e à emigração se juntam evidentes desigualdades sociais e uma política radical, especialmente nos últimos anos. Vejo com satisfação que, como Pastores, partilhais as vicissitudes do vosso povo e, respeitando escrupulosamente a autonomia da gestão política, vos esforçais por criar um clima de diálogo e distensão, sem renunciar a defender os direitos fundamentais do homem e as situações de injustiça e a fomentar uma concepção da política que, mais do que ambição pelo poder e pelo controle, seja um serviço generoso e humilde ao bem comum. Estimulo-vos neste caminho, exortando-vos ao mesmo tempo a promover e a acompanhar muitas iniciativas de caridade e de solidariedade com os mais necessitados que se encontram nas vossas Igrejas, para que às famílias em dificuldade não falte ajuda, nem o espírito generoso dos tantos leigos que, por vezes no anonimato, se esforçam por distribuir o pão quotidiano aos seus irmãos mais pobres.

Neste, como em muitos outros âmbitos, não devem ser esquecidos o dinamismo, a entrega e a criatividade dos religiosos e religiosas, que são um tesouro para a vida eclesial na Nicarágua. Eles são testemunhas de que "quanto mais se vive em Cristo, tanto melhor O podemos servir no próximo, chegando até aos postos de vanguarda da missão e aceitando os maiores riscos" (Vita consecrata VC 76). Que não lhes falte o reconhecimento dos Pastores nem o estímulo para permanecerem fiéis ao seu carisma e missão específica na Igreja.

As instituições educativas merecem uma menção especial, em particular as escolas católicas que são frequentadas pela maior parte dos estudantes nicaraguenses realizando assim, entre grandes dificuldades e falta da ajuda devida, uma missão fundamental da Igreja e um inestimável serviço à sociedade. É digno de louvor o serviço dos educadores que, por vezes com grandes sacrifícios, se dedicam a uma formação integral que abre as portas para um futuro promissor para os jovens. Um país que procura o progresso e uma Igreja que deseja ser mais dinâmica, devem concentrar os seus esforços neles, sem lhes esconder a grandeza que tem para o ser humano a dimensão transcendente e religiosa. Exorto-vos, portanto, a que animeis os educadores e vos esforceis por preservar os direitos que os pais têm de formar os seus filhos segundo as próprias convicções e crenças.

No final deste encontro, desejo reiterar o meu agradecimento e apreço pelo vosso trabalho solícito de Pastores, estimulando o espírito missionário nas vossas Igrejas particulares. Peço-vos que façais chegar a minha saudação ao Senhor Cardeal Miguel Obando Bravo, aos bispos eméritos, aos sacerdotes e seminaristas, às numerosas comunidades religiosas e, de modo especial, às Irmãs contemplativas do vosso país, aos Catequistas e a quantos os ajudam a difundir continuamente o Evangelho na Nicarágua. Ao recomendar o vosso trabalho à Virgem Maria, Nossa Senhora da Imaculada Conceição, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.



VISITA PASTORAL A CAGLIARI


ENCONTRO COM OS SACERDOTES, OS SEMINARISTAS DA PONTIFÍCIA FACULDADE TEOLÓGICA DA SARDENHA NA CATEDRAL DE CAGLIARI Domingo, 7 de Setembro de 2008

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Queridos irmãos no Sacerdócio
Estimados seminaristas
e estudantes de teologia
Queridos irmãos e irmãs!

Conservo viva nos olhos a imagem sugestiva da solene celebração eucarística desta manhã na Basílica de Nossa Senhora de Bonária. À volta de Maria, Padroeira especial de toda a Sardenha, marcaram encontro as comunidades paroquiais de toda a Região. E agora, quase como prolongamento daquele encontro espiritual, tenho a alegria de me deter convosco, queridos sacerdotes, seminaristas, alunos e professores da Pontifícia Faculdade Teológica da Sardenha, nesta Catedral, também ela dedicada à Santa Virgem Maria. Neste templo antigo, renovado e embelezado ao longo dos anos pela solicitude de Pastores zelosos, tudo fala de fé: uma fé viva, testemunhada pela devota conservação das relíquias dos Mártires de Cágliari, entre os quais me apraz citar os santos Bispos Siridonio, Martinho, Ninfo, Hilário, Fabrício e Juvenal.

Agradeço de coração ao Arcebispo, D. Giuseppe Mani, pela renovada saudação que me dirigiu em nome de todos os Bispos, os presbíteros de Cágliari e da Região. Ao encontrar-me convosco, queridos sacerdotes aqui presentes, penso com afecto e gratidão nos vossos irmãos que trabalham na Ilha num terreno arroteado e cultivado com fervor apostólico por quantos vos precederam. Sim! A Sardenha conheceu presbíteros que, como autênticos mestres de fé, deixaram exemplos maravilhosos de fidelidade a Cristo e à Igreja. O mesmo tesouro inestimável de fé, de espiritualidade e de cultura hoje está confiado a vós; é colocado nas vossas mãos, para que dele sejais administradores atentos e sábios. Ocupai-vos dele e conservai-o com alegria e paixão evangélica!

Dirijo-me agora com afecto paterno à comunidade do Seminário e da Faculdade Teológica, onde muitos de vós puderam realizar a sua formação doutrinal e pastoral, e onde actualmente diversos jovens se estão a preparar para o futuro ministério sacerdotal. Apraz-me agradecer aos educadores e aos professores, que quotidianamente se dedicam a este trabalho apostólico tão importante. Acompanhar os candidatos à missão sacerdotal no seu percurso formativo, significa ajudá-los antes de mais a conformar-se com Cristo. Neste compromisso, vós, queridos formadores e professores, sois chamados a desempenhar um papel insubstituível, porque é precisamente durante estes anos que se lançam as bases do futuro ministério do sacerdote. Eis por que, como em diversas ocasiões tive a ocasião de reafirmar, é preciso guiar os seminaristas para uma experiência pessoal de Deus através da oração pessoal e comunitária quotidiana, e sobretudo através da Eucaristia, celebrada e sentida como o centro de toda a própria existência. Na Exortação pós-sinodal Pastores dabo vobis João Paulo II escreveu: "A formação intelectual teológica e a vida espiritual, particularmente a vida de oração, encontram-se e reforçam-se mutuamente, sem nada tirar nem à seriedade da investigação nem ao sabor espiritual da oração" (n. 53).

Queridos seminaristas e alunos da Faculdade Teológica, vós sabeis que a formação teológica recordava-o ainda o meu venerado Predecessor na citada Exortação Apostólica é uma obra complexa e muito empenhativa. Ela deve guiar-vos a ter uma visão "completa e unitária" das verdades reveladas e do seu acolhimento na experiência de fé da Igreja. Disto brota a dupla exigência de conhecer a totalidade das verdades cristãs, e de conhecer tais verdades não como verdades separadas uma da outra, mas de modo orgânico, como uma unidade, como uma única verdade de fé em Deus, realizando "uma síntese que constitua o fruto dos dados fornecidos por todas as disciplinas teológicas, cuja especificidade apenas na sua profunda coordenação adquire um autêntico valor" (ibid, n. 54), que nos mostra a unidade da verdade, a unidade da nossa fé. Além disso, nestes anos, cada actividade e iniciativa deve dispor-vos para comunicar a caridade de Cristo Bom Pastor. D'Ele sois chamados a ser amanhã ministros e testemunhas: ministros da sua graça e testemunhas do seu amor. Ao lado do estudo e das experiências pastorais e apostólicas das quais usufruis, não esqueçais portanto de pôr em primeiro lugar a constante busca de uma comunhão íntima com Cristo. Consiste nisto, só nisto, o segredo do vosso verdadeiro sucesso apostólico.

Queridos presbíteros, queridos candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada, Deus quer-vos todos para si e chama-vos a ser trabalhadores na sua vinha, assim como fez com tantos homens e mulheres ao longo da história cristã da vossa bonita Ilha. Eles souberam responder com um "sim" generoso à sua chamada. Penso, por exemplo, na obra evangelizadora desempenhada pelos religiosos: Franciscanos, Mercedários, Dominicanos, Jesuítas, Beneditinos, Vicentinos, Salesianos, Escolápios, Irmãos das Escolas Cristãs e Josepinos, Orioninos, e muitos outros ainda. E como esquecer o grande florescimento de vocações religiosas femininas, da qual a Sardenha é um verdadeiro viveiro? Em tantas Ordens e Congregações estão presentes mulheres sardas, sobretudo nos mosteiros de clausura. Sem esta grande "nuvem de testemunhas" (cf. Hb
He 12,1), teria sido certamente mais difícil difundir o amor de Cristo nas cidades, nas famílias, nas escolas, nos hospitais, nas prisões e nos lugares de trabalho. Que património de bem se acumulou graças à sua dedicação! Sem a semente do cristianismo a Sardenha seria mais frágil e pobre. Juntamente convosco dou graças a Deus que nunca deixa faltar ao seu povo guias e testemunhas santas!

Queridos irmãos e irmãs, a vós compete prosseguir a obra de bem realizada por quem vos precedeu. A vós, sobretudo, queridos presbíteros e dirijo-me com afecto a todos os sacerdotes da Sardenha garanto a minha proximidade espiritual, para que possais responder ao apelo do Senhor com total fidelidade como, também recentemente, fizeram alguns dos vossos irmãos. Recordo Pe. Graziano Muntoni, sacerdote da diocese de Nuoro morto na vigília do Natal de 1998, quando estava a caminho da Igreja para celebrar a Missa, e Pe. Battore Carzedda do PIME, que deu a vida para que os crentes de todas as religiões se abram a um diálogo sincero amparado pelo amor. Não vos assustem, nem vos desencoragem as dificuldades: o grão e o jóio, como sabemos, crescerão juntos até ao fim do mundo (cf. Mt 13,30). É importante ser grãos de sementes boas que, caindo na terra, darão fruto. Aproveitai da consciência da vossa identidade: o sacerdote, para a Igreja e na Igreja, é sinal humilde mas real do único e eterno Sacerdote que é Jesus. Deve proclamar com incidência a sua palavra, renovar os seus gestos de perdão e de oferenda, exercer a sua amorosa solicitude ao serviço do seu rebanho, em comunhão com os Pastores e fielmente dócil aos ensinamentos do Magistério. Reavivai portanto todos os dias o carisma que recesbestes com a imposição das mãos (cf. 2Tm 1,6), identificando-vos com Jesus Cristo na sua tríplice função de santificar, ensinar e apascentar o rebanho. Que vos proteja e acompanhe Maria Santíssima, Mãe da Igreja. Quanto a mim, abençoo-vos a todos, com uma recordação especial para os sacerdotes idosos e doentes, e para as pessoas confiadas aos vossos cuidados pastorais. Obrigado por este encontro e formulo bons




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