Discursos Bento XVI 13197

DURANTE A AUDIÊNCIA A SETE NOVOS EMBAIXADORES JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

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Excelências!

É com prazer que vos recebo por ocasião da apresentação das Cartas que vos acreditam como Embaixadores extraordinários e plenipotenciários dos vossos respectivos países: Tailândia, Seicheles, Namíbia, Gâmbia, Suriname, Singapura e Kuwait. Estou-vos grato pelas palavras gentis que tivestes a amabilidade de me transmitir da parte dos vossos Chefes de Estado. Peço-vos que lhes expresseis como agradecimento as minhas saudações deferentes e os meus melhores votos pelas pessoas e pelo alto cargo que desempenham ao serviço do seu país. A minha saudação calorosa dirige-se também a todas as Autoridades civis e religiosas das vossas nações, assim como a todos os vossos compatriotas. Por vosso intermédio, desejo garantir às comunidades católicas presentes no território dos vossos países os meus pensamentos e as minhas orações, encorajando-os a prosseguir a missão e o testemunho que dão pelo seu compromisso ao serviço de todos.

A vossa função de diplomatas é particularmente importante no mundo actual, para mostrar que, em todas as situações da vida internacional, o diálogo deve prevalecer sobre a violência, e que o desejo da paz e da fraternidade deve prevalecer sobre as oposições e sobre o individualismo, que levam apenas a tensões e rancores que não ajudam a construir sociedades reconciliadas. Por vosso intermédio, desejo lançar um novo apelo por que todas as pessoas que desempenham uma função na vida social, todas as que participam no governo das nações, façam quanto está em seu poder para voltar a dar esperança aos povos que estão encarregadas de guiar; que elas possam tomar em consideração as suas aspirações mais profundas e fazer com que todos beneficiem do produto das riquezas naturais e económicas dos seus países, segundo os princípios da justiça e da igualdade.

Nesta perspectiva, deve ser dedicada especial atenção às jovens gerações, mostrando-lhes que elas são a primeira riqueza de um país; a sua educação integral é uma necessidade primordial. De facto, não é suficiente uma formação técnica e científica para fazer deles homens e mulheres responsáveis na sua família e em todos os níveis da sociedade. Para esta finalidade, é preciso privilegiar uma educação nos valores humanos e morais, que permita que cada jovem tenha confiança em si próprio, confie no futuro, tenha a preocupação pelos seus irmãos e irmãs em humanidade e queira assumir o seu lugar no crescimento da nação, com um sentido cada vez mais profundo do próximo.


Eis por que faço votos de que, em cada país, a educação da juventude seja uma prioridade, com o apoio de todas as instituições da Comunidade internacional que estão comprometidas na luta contra o analfabetismo e contra a falta de formação em todas as suas formas. É uma maneira particularmente importante de lutar contra o desespero que pode invadir o coração dos jovens e estar na origem de numerosos actos de violência, individuais ou colectivos. Sabei que, por seu lado, a Igreja católica, graças às suas numerosas instituições educativas, se compromete incessantemente, com todos os homens de boa vontade, na frente da formação global dos jovens. Encorajo todas as pessoas que participam nesta bela missão da educação da juventude a prosseguir incansavelmente a sua tarefa, certos de que formar correctamente jovens prepara um porvir prometedor.

Vós acabais de receber dos vossos Chefes de Estado uma missão junto da Santa Sé. No final do nosso encontro, desejo dirigir-vos, Senhoras e Senhores Embaixadores, os meus melhores votos para o serviço que sois chamados a desempenhar. Que o Todo-Poderoso vos ampare, a vós, aos vossos familiares, colaboradores e a todos os vossos compatriotas na edificação de uma sociedade pacífica, e que desça sobre cada um vós a abundância das Bênçãos divinas.



NO ENCONTRO COM OS UNIVERSITÁRIOS DE ROMA uinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

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Queridos amigos!

Sinto-me muito feliz por me encontrar convosco que viestes em tão grande número a este tradicional encontro, nas proximidades do Natal de Cristo. Saúdo e agradeço ao Cardeal Camillo Ruini, que celebrou a Eucaristia juntamente com os Capelães universitários, aos quais dirijo um pensamento cordial. Saúdo as Autoridades, em primeiro lugar o Ministro para a Universidade com os Reitores, os Professores e todos os estudantes. Estou grato ao Reitor da Universidade Campus-biomédico e à estudante da Faculdade de Jurisprudência de Roma TRE, que em nome de todos vós me dirigiram expressões de afecto e de bons votos: retribuo de coração estes sentimentos, formulando para cada um de vós votos de um sereno e santo Natal. Gostaria de dirigir uma saudação especial aos jovens da delegação albanesa, que trouxeram a Roma o ícone de Maria Sedes Sapientiae e aos da delegação da Roménia, que recebem esta tarde a imagem de Maria para que seja "peregrina" de paz e de esperança no seu País.

Queridos jovens universitários, permiti que, neste encontro tão familiar, eu proponha à vossa atenção duas breves reflexões. A primeira refere-se ao caminho da vossa formação espiritual. A diocese de Roma quis dar mais ressalto à preparação dos jovens universitários para a santa Crisma; assim, a vossa peregrinação a Assis de 10 de Novembro passado representou o momento da "chamada" e esta tarde foi dada a "resposta". Cerca de 150 de vós foram de facto apresentados como candidatos para o Sacramento da Confirmação, que receberão na próxima Vigília de Pentecostes. Trata-se de uma iniciativa muito válida, que se insere bem no percurso de preparação para a Jornada Mundial da Juventude, programado em Sidney em Julho de 2008.

Aos candidatos para o Sacramento da Confirmação e a todos vós, queridos jovens amigos, desejo dizer: dirigi o olhar para a Virgem Maria e do seu "sim" aprendei a pronunciar também vós o vosso "sim" à chamada divina. O Espírito Santo entra na vossa vida na medida em que lhe abrirmos o coração com o nosso "sim": quanto mais o "sim" é total, tanto mais total é o dom da sua presença. Para compreender melhor, podemos fazer referência a uma realidade muito simples: a luz. Se as persianas das janelas estão hermeticamente fechadas, o sol mesmo resplandecente não pode iluminar a casa. Se há uma pequena abertura, entra um pouco de luz; se se abre um pouco mais a persiana, o quarto começa a iluminar-se, mas só quando se abre tudo de par em par é que os raios do sol iluminam e aquecem o ambiente. Queridos amigos! Maria é saudada pelo anjo como a "cheia de graça", que significa precisamente isto: o seu coração e a sua vida estão totalmente abertos a Deus e por isso completamente invadidos pela sua graça. Que ela vos ajude a fazer de vós mesmos um "sim" livre e total a Deus, para que possais ser renovados, aliás transformados pela luz e pela alegria do Espírito Santo.

A segunda reflexão, que desejo propor-vos, refere-se à recente Encíclica sobre a esperança cristã intitulada, como sabeis, Spe salvi, "salvos na esperança", palavras tiradas da Carta de São Paulo aos Romanos (8, 24). Entrego-a idealmente a vós, queridos universitários de Roma e, através de vós, a todo o mundo da Universidade, da escola, da cultura e da educação. Não é porventura o tema da esperança particularmente congenial aos Jovens? Em particular, proponho que façais objecto de reflexão e de confronto, também de grupo, aquela parte da Encíclica na qual falo da esperança na época moderna. No século XVII a Europa conheceu uma autêntica mudança epocal e desde então foi-se afirmando cada vez mais uma mentalidade segundo a qual o progresso humano é só obra da ciência e da técnica, enquanto à fé competiria apenas a salvação da alma, uma salvação meramente individual. As duas ideias principais da modernidade, a razão e a liberdade, separaram-se de Deus para se tornar autónomas e cooperar na construção do "reino do homem", praticamente contraposto ao Reino de Deus. Eis então que se difunde uma concepção materialista, alimentada pela esperança que, mudando as estruturas económicas e políticas, se possa dar vida finalmente a uma sociedade justa, onde reina a paz, a liberdade e a igualdade. Este processo que não está privado de valores e de razões históricas contém contudo um erro de fundo: de facto, o homem não é só o produto de determinadas condições económicas e sociais; o progresso técnico não coincide necessariamente com o crescimento moral das pessoas, aliás, sem princípios éticos a ciência, a técnica e a política podem ser usadas como aconteceu e como infelizmente ainda acontece não para o bem mas para o mal dos indivíduos e da humanidade.

Queridos amigos, trata-se de temáticas muito actuais que estimulam a vossa reflexão e favorecem ainda mais o confronto positivo e a colaboração já existente entre todos os Ateneus estatais, particulares e pontifícios. A cidade de Roma continue a ser um lugar privilegiado de estudo e de elaboração cultural, como aconteceu com o encontro europeu de Junho passado de mais de 3000 professores universitários. Roma seja também modelo de hospitalidade para os estudantes estrangeiros e sinto-me feliz por saudar, neste âmbito, as delegações de universitários provenientes de diversas cidades europeias e americanas. A luz de Cristo, que invocamos por intercessão de Maria, Estrela da Esperança, e da santa virgem e mártir Luzia, que hoje recordamos, ilumine sempre a vossa vida. Com estes votos, desejo de coração a vós e aos vossos familiares um Natal rico de graça e de paz, enquanto concedo de coração a todos a Bênção Apostólica.



PALAVRAS DE AGRADECIMENTO AOS FIÉIS DE VAL BADIA PELA OFERTA DA ÁRVORE DE NATAL DA PRAÇA DE SÃO PEDRO Sexta-feira, 14 de Dezembro de 2007

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Queridos irmãos e irmãs!

Obrigado pela vossa visita! Recebo de bom grado o dom que me trouxestes: a árvore de Natal que, juntamente com a manjedoura, que está a ser construída, enfeita a Praça de São Pedro. Saúdo de todo o coração cada um de vós, começando pelo chefe do governo regional do Sul Tirol, o Dr. Luís Durnwalder, e pelos presidentes de S. Martin de Tor, aos quais agradeço também as palavras afáveis com que expressaram os sentimentos comuns. Saúdo com respeito as autoridades civis do Sul Tirol, os representantes dos cinco municípios de Val Badia e quantos vieram aqui para fazer conhecer elementos típicos da terra do Gader mediante os costumes tradicionais, a música sugestiva e os produtos locais. Saúdo de todo o coração o Bispo Wilhelm Egger e agradeço-lhe as palavras fraternas que há pouco me dirigiu. Com ele saúdo também os sacerdotes e os conselhos paroquiais e incluo de bom grado também todos os habitantes de Val Badia aqui hoje representados.

Sei que todos os habitantes de Val Badia colaboraram na preparação deste particular acontecimento, de modo especial os estudantes que participaram no concurso de pintura. "A árvore de Natal no Vaticano". A todos agradeço pela oferta deste pinheiro-alvar vermelho e também das outras árvores que contribuíram para criar no Vaticano uma atmosfera natalícia. Que esta bela iniciativa possa despertar em todos os cristãos de Val Badia o desejo de testemunhar os valores da vida, do amor e da paz que a solenidade do nascimento de Cristo nos recorda ano após ano!

Portanto, este ano a árvore de Natal da Praça de São Pedro provém do Trentino-Alto Ádige, e precisamente dos bosques de Val Badia, o Gran Ega, maravilhoso vale aberto e solar, situado aos pés dos Dolomitas, contornado de cumes encantadores com a característica forma recortada típica daquelas montanhas. Este antigo pinheiro, cortado sem causar danos à vida do bosque, adequadamente decorado, permanecerá ao lado do Presépio até ao final das festas de Natal para ser admirado pelos numerosos peregrinos que virão de todas as partes do mundo, nos próximos dias, ao Vaticano. Significativo símbolo do Natal de Cristo, porque com as suas folhas sempre verdes recorda a vida que não morre, o pinheiro-alvar é também símbolo da religiosidade popular do vosso vale que se exprime de modo particular nas procissões.

Mantende vivas estas bonitas tradições tão sentidas, e comprometei-vos a torná-las cada vez mais manifestações de uma vida cristã autêntica e laboriosa. Neste esforço de testemunho evangélico seja para vós exemplo São José Freinademetz, filho ilustre da vossa Terra. Nele, zeloso missionário entre o povo chinês, o génio espiritual ladino manifestou um dos seus frutos mais maduros de santidade.

Queridos amigos, a árvore e o presépio são elementos daquele clima típico do Natal que faz parte do património espiritual das nossas comunidades. É um clima de religiosidade e de intimidade familiar que devemos conservar também nas hodiernas sociedades, onde por vezes parecem prevalecer a corrida ao consumismo e a busca unicamente dos bens materiais. Natal é festa cristã e os seus símbolos entre eles especialmente o presépio e a árvore decorada com prendas constituem importantes referências ao grande mistério da Encarnação e do Nascimento de Jesus, que a liturgia do tempo do Advento e do Natal recorda constantemente. O Criador do Universo, fazendo-se menino, veio entre nós para partilhar o nosso caminho humano: fez-se pequeno para entrar no coração do homem e assim o renovar com a omnipotência do seu amor. Predisponhamo-nos portanto a recebê-lo com fé animada por uma esperança firme.

Queridos amigos! Mais uma vez desejo expressar o meu sentido agradecimento a todos vós, a quem vos ajudou em casa, aos promotores e a quantos se tornaram disponíveis para transportar a árvore.

Obrigado pela contribuição que cada um de vós deu com grande generosidade. Aproveito desta bela ocasião para vos formular votos sinceros para a solenidade do Natal e para os dias de festa natalícios. Com estes sentimentos garanto-vos que nas minhas orações me recordo de vós, das vossas famílias e da população de Val Badia e de toda a Diocese de Bolzano-Bressanone. Concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.

Bun Nadé!


AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO JAPÃO POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sábado, 15 de Dezembro de 2007

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Queridos Irmãos Bispos

Estou feliz por vos dar as boas-vindas na circunstância da vossa visita ad Limina, no momento em que vindes aqui para venerar os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo. Agradeço-vos as amáveis palavras que o Arcebispo D. Takeo Okada me dirigiu em vosso nome, enquanto vos transmito os meus mais calorosos bons votos e orações por vós e por todas as pessoas confiadas aos vossos cuidados pastorais. Viestes à cidade onde Pedro cumpriu a sua missão de evangelização e deu testemunho de Cristo até à efusão do seu próprio sangue viestes para cumprimentar o Sucessor de Pedro. Deste modo, fortaleceis os fundamentos apostólicos da Igreja no vosso país e expressais visivelmente a vossa comunhão com todos os demais membros do Colégio episcopal e com o próprio Pontífice romano (cf. Pastores gregis ). Desejo aproveitar esta oportunidade para reiterar os meus pêsames pelo recente falecimento do Cardeal Stephen Hamao, Presidente Emérito do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, e também para manifestar o meu apreço pelos seus anos de serviço à Igreja. Mediante a sua própria pessoa, ele deu testemunho dos vínculos de comunhão entre a Igreja que está no Japão e a Santa Sé. Que ele descanse em paz.

No ano passado, a Igreja celebrou com grande alegria o 500º aniversário do nascimento de São Francisco Xavier, Apóstolo do Japão. Uno-me a vós, ao dar graças a Deus pela obra missionária que ele levou a cabo na vossa terra, e pelas sementes da fé cristã que semeou no período da primeira evangelização do Japão. A necessidade de proclamar Cristo corajosamente constitui uma prioridade permanente para a Igreja; com efeito, trata-se de um solene dever que lhe foi confiado por Cristo, que se uniu aos Apóstolos para "ir pelo mundo inteiro e proclamar o Evangelho a toda a criatura" (
Mc 16,15). Hoje em dia, a vossa tarefa consiste em buscar novas formas de reavivar a mensagem de Cristo no contexto cultural do Japão moderno. Embora os cristãos sejam apenas uma exígua percentagem da população, a fé representa um tesouro que tem necessidade de ser compartilhado com toda a sociedade japonesa. A vossa liderança neste campo deve inspirar os membros do clero, os religiosos, as religiosas, os catequistas, os professores e as famílias, a responder acerca da esperança que os anima (cf. 1P 3,15). Por sua vez, isto exige uma catequese sólida, fundamentada nos ensinamentos do Catecismo da Igreja Católica e do Compêndio. Permiti que a luz da fé resplandeça diante dos outros, de tal maneira que, "vendo as vossas obras, eles glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu" (Mt 5,16).

Efectivamente, o mundo tem fome da mensagem de esperança que o Evangelho anuncia. Mesmo em países altamente desenvolvidos como o vosso, numerosas pessoas estão a descobrir que o sucesso económico e a tecnologia avançada não são suficientes por si mesmos para saciar o coração humano. Quem não conhece Deus, "em última análise está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida" (Spe salvi ). Lembrai às pessoas que na vida existe mais do que o bom êxito profissional e o lucro. Através da prática da caridade, no seio da família e na comunidade, elas podem ser orientadas para "aquele encontro com Deus em Cristo que nelas suscita o amor e abre o seu íntimo ao outro" (Deus caritas est ). Esta é a grande esperança que os cristãos no Japão podem oferecer aos seus compatriotas; ela não é alheia à cultura japonesa mas, ao contrário, revigora e dá um renovado impulso a tudo aquilo que é bom e nobre na herança do vosso amado país. O merecido respeito que os cidadãos do vosso país manifestam à Igreja, em virtude da sua requintada contribuição nos campos da educação e da assistência médica, bem como em muitos outros sectores, oferece-vos a oportunidade para entrar em diálogo com eles e para lhes falar jubilosamente de Cristo, a "luz que a todo o homem ilumina" (Jn 1,9).

Especialmente os jovens correm o perigo de ser decepcionados pela fascinação da cultura secular moderna. No entanto, do mesmo modo como todas as esperanças maiores e menores à primeira vista dão a impressão de prometer muito (cf. Spe salvi ), também esta por sua vez é uma esperança falsa, que tragicamente muitas vezes, a desilusão leva à depressão e ao desespero, e até ao suicídio. Se as suas energias e o seu entusiasmo juvenis puderem ser orientados para as realidades divinas, as únicas que são suficientes para satisfazer as suas aspirações mais intensas, mais jovens poderão sentir-se inspirados a comprometer a própria vida em prol de Cristo, e alguns chegarão a reconhecer a vocação para a o servir no sacerdócio ou na vida religiosa. Exortai-os a considerar se esta é a sua vocação. Nunca tenhais medo de o fazer. Animai os vossos sacerdotes e, de igual modo, os religiosos a serem activos na promoção das vocações, e orientai o vosso povo na oração, pedindo ao Senhor que "envie trabalhadores para a sua messe" (Mt 9,38).

A messe do Senhor no Japão é formada cada vez mais de pessoas de diferentes nacionalidades, a tal ponto que metade da população católica é composta por imigrantes. Isto oferece a oportunidade para enriquecer a vida da Igreja no vosso país e para experimentar a verdadeira catolicidade do povo de Deus. Tomando iniciativas em vista de assegurar que todos se sintam bem-vindos na Igreja, podeis beneficiar das numerosas dádivas oferecidas pelos imigrantes. Ao mesmo tempo, tendes necessidade de permanecer vigilantes para garantir que as normas litúrgicas e disciplinares da Igreja universal sejam respeitadas com a devida atenção. O Japão moderno desejou comprometer-se generosamente em muitas partes do mundo, e a Igreja católica com a sua solicitude universal pode oferecer uma contribuição valiosa para este processo de abertura cada vez maior à comunidade internacional.

Inclusivamente outras nações podem aprender do Japão, da sabedoria acumulada da sua antiga cultura, e de maneira especial do testemunho da paz que tem caracterizado a sua posição no cenário político mundial nos últimos sessenta anos. Fizestes com que a voz da Igreja pudesse ser ouvida a respeito da importância duradoura deste testemunho, que é ainda maior num mundo em que os conflitos armados causam tanto sofrimento a pessoas inocentes. Animo-vos a continuar a discorrer acerca de questões de interesse público relativas à vida da vossa nação, de forma que elas possam ser ouvidas a todos os níveis no seio da sociedade. Desta maneira, a mensagem de esperança que o Evangelho transmite pode verdadeiramente sensibilizar os corações e as mentes, levando a ter maior confiança no futuro, a um amor e respeito pela vida mais profundos, aumentando a abertura em relação aos estrangeiros e a quantos se encontram no meio de vós. "Quem tem esperança, vive diversamente; quem tem esperança, recebeu uma vida nova" (Spe salvi ).

A este propósito, a próxima Beatificação de 188 mártires japoneses oferece um preclaro sinal de fortaleza e de vitalidade do testemunho cristão na história do vosso país. Desde os primórdios, os japoneses e as japonesas estavam prontos para derramar o seu próprio sangue por Cristo. Através da esperança destas pessoas, que foram "tocadas por Cristo, brotou a esperança para outros que viviam na escuridão e sem esperança" (Spe salvi ). Uno-me a vós dando graças a Deus pelo testemunho eloquente de Pedro Kibe e Companheiros, que "lavaram as suas túnicas, branqueando-as no sangue do Cordeiro" (Ap 7,14 s.), e agora servem a Deus dia e noite no seu santuário.

Neste período de Advento, a Igreja inteira aguarda ansiosamente a celebração do nascimento do nosso Salvador. Rezo a fim de que este tempo de preparação possa constituir para vós, assim como para toda a Igreja que está no Japão, uma oportunidade para crescer na fé, na esperança e no amor, de tal maneira que o Príncipe da Paz possa verdadeiramente encontrar uma morada nos vossos corações. Enquanto confio todos vós e os vossos sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos à intercessão de São Francisco Xavier e dos mártires do Japão, concedo-vos cordialmente a Bênção apostólica como penhor de júbilo e de paz no Senhor.



AOS POSTULADORES DA CONGREGAÇÃO PARA AS CAUSAS DOS SANTOS Segunda-feira, 17 de Dezembro de 2007

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Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos irmãos e irmãs!

Sinto-me feliz por receber e dar as boas-vindas a vós, queridos postuladores acreditados junto da Congregação para as Causas dos Santos, e aproveito de bom grado a ocasião para vos manifestar a minha estima e reconhecimento pelo trabalho que louvavelmente prestais no desenvolvimento das causas de beatificação e canonização. Saúdo o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal José Saraiva Martins, ao qual agradeço as gentis palavras que me dirigiu interpretando os sentimentos comuns. Com ele saúdo o Secretário, Mons. Michele Di Ruberto, o Subsecretário e os oficiais desta Congregação, chamada a dar uma indispensável e qualificada colaboração ao Sucessor de Pedro num âmbito de grande realce eclesial.

O hodierno encontro acontece quase na vigília do 25º aniversário da promulgação da Constituição Divinus perfectionis Magister. Com este documento, publicado a 25 de Janeiro de 1983 e ainda em vigor, o Servo de Deus João Paulo II, quis rever o procedimento das Causas dos Santos e, ao mesmo tempo, prover a uma reorganização interna da Congregação que fosse em benefício das exigências dos estudiosos e dos desejos dos pastores que, várias vezes, tinham solicitado, nas causas de beatificação e de canonização, uma maior agilidade de procedimento, mesmo conservando sempre a solidez das pesquisas neste campo tão importante para a vida da Igreja. Através das beatificações e das canonizações, de facto, ela dá graças a Deus pelo dom dos seus filhos que souberam responder generosamente à graça divina, os honra e os invoca como intercessores. Ao mesmo tempo, apresenta estes exemplos resplandecentes à imitação de todos os fiéis chamados com o baptismo à santidade que é meta proposta a qualquer estado de vida. Os santos e beatos, confessando com a sua existência Cristo, a sua pessoa, a sua doutrina e permanecendo n'Ele estreitamente unidos, são quase uma ilustração viva de ambos os aspectos da perfeição do Mestre divino.

Ao mesmo tempo, olhando para tantos nossos irmãos e irmãs, que em todas as épocas fizeram de si mesmos uma oferenda total a Deus pelo seu Reino, as comunidades eclesiais são levadas a tomar em consideração as necessidades que também neste nosso tempo existem testemunhas capazes de encarnar a verdade perene do Evangelho nas circunstâncias concretas da vida, fazendo delas um instrumento de salvação para o mundo inteiro. Também a isto quis fazer referência escrevendo na recente encíclica Spe salvi que "o nosso agir não é indiferente diante de Deus e, portanto, também não o é para o desenrolar da história. Podemos abrir-nos a nós mesmos e o mundo ao ingresso de Deus: da verdade, do amor, do bem. Foi o que fizeram os santos que, como "colaboradores de Deus", contribuíram para a salvação do mundo" (cf. n. 35). Nos últimos decénios aumentou o interesse religioso e cultural pelos campeões da santidade cristã, que mostram o rosto verdadeiro da Igreja, esposa de Cristo "sem mancha nem ruga" (cf. Ef
Ep 5,27). Os santos, se forem justamente apresentados no seu dinamismo espiritual e na sua realidade histórica, contribuem para tornar mais credível e atraente a palavra do Evangelho e a missão da Igreja. O contacto com eles abre o caminho para verdadeiras ressurreições espirituais, para conversões duradouras e para o florescimento de novos santos. Os santos normalmente geram outros santos e a proximidade às suas pessoas, ou também apenas às suas pegadas, é sempre saudável: purifica e eleva a mente, abre o coração ao amor a Deus e aos irmãos. A santidade semeia alegria e esperança, responde à sede de felicidade que os homens, também hoje, sentem.

A importância eclesial e social de propor sempre novos modelos de santidade torna, então, particularmente precioso o trabalho de quantos colaboram no desenvolvimento das causas de beatificação e de canonização. Todos quantos trabalham nas causas dos santos, mesmo se com papéis diferentes, estão chamados a colocar-se exclusivamente ao serviço da verdade. Por esta razão, no decorrer do Inquérito diocesano, as provas testemunhais e documentais devem ser recolhidas quer quando são favoráveis quer quando são contrárias à santidade e à fama de santidade ou de martírio dos Servos de Deus. A objectividade e a plenitude das provas recolhidas nesta primeira e em certos aspectos fundamental fase do processo canónico realizado sob a responsabilidade dos Bispos diocesanos, devem ser seguidas obviamente pela objectividade e pela plenitude das Positiones, que os relatores da Congregação preparam com a colaboração das Postulações. É portanto basilar a tarefa dos postuladores, quer na fase diocesana quer na fase do processo; é uma tarefa que deve revelar-se perfeita, inspirada por rectidão e marcada por absoluta probidade. Aos postuladores são pedidas competência profissional, capacidade de discernimento e honestidade na ajuda aos Bispos diocesanos na instrução de processos completos, objectivos e válidos tanto sob o ponto de vista formal como substancial. Não menos delicada e importante é a ajuda que eles dão à Congregação para as Causas dos Santos na investigação processual da verdade a ser alcançada mediante um debate apropriado, que tenha em consideração a certeza moral a ser adquirida e os meios de prova realisticamente disponíveis.

Queridos irmãos e irmãs, o Espírito Santo, fonte e artífice da santidade cristã, vos ilumine no vosso trabalho e a Virgem Maria, Mãe da Igreja, os Santos, os Beatos, os Servos de Deus, dos quais estais a seguir as Causas, vos obtenham do Senhor que o desempenheis sempre com fidelidade e amor à verdade. À oração por vós, uno de bom grado os votos por que possais seguir vós próprios as pegadas dos santos, assim como fizeram diversos postuladores dos quais está a decorrer a Causa de beatificação. Estando já nas proximidades do Santo Natal, formulo por fim bons votos fervorosos para vós e para as vossas famílias e para as pessoas queridas, enquanto de coração vos abençoo a todos.


NO ENCONTRO NATALÍCIO COM OS JOVENS DA ACÇÃO CATÓLICA ITALIANA Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2007

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Queridos jovens da Acção Católica

Com grande alegria dou-vos as boas-vindas. A vossa visita de hoje à casa do Papa está a indicar que já estamos próximos da grande festa do Santo Natal, uma festa muito esperada, especialmente por vós, jovens. Dirijo a cada um a minha afectuosa saudação, com um vivo agradecimento pelos sentimentos e orações que me garantistes em nome dos vossos amigos da A.C.R. e de toda a grande família da Acção Católica Italiana. Dirijo uma saudação particular ao Presidente nacional, Prof. Luigi Alici, e a D. Domenico Sigalini, que há pouco tempo nomeei Assistente-Geral da Acção Católica, e também ao Responsável e ao Assistente da A.C.R. e aos seus colaboradores, fazendo-a extensiva a todos os que cuidam da vossa formação humana, espiritual e apostólica.

Fiquei feliz por terdes citado uma menina, Antónia Meo, conhecida como Nennolina. Exactamente há três dias decretei o reconhecimento das suas virtudes heróicas e espero que a sua causa de beatificação possa concluir-se depressa com bom êxito. Que exemplo luminoso deixou esta vossa pequena coetânea! Nennolina, menina romana, na sua brevíssima vida somente seis anos e meio demonstrou uma fé, uma esperança e uma caridade especiais, e deste modo também as outras virtudes cristãs. Embora sendo uma frágil menina, conseguiu dar um testemunho forte e robusto do Evangelho e deixou um profundo sinal na Comunidade diocesana de Roma. Nennolina pertencia à Acção Católica: certamente hoje estaria inscrita na A.C.R.! Por conseguinte, podeis considerá-la uma vossa amiga, um modelo no qual vos inspirar. A sua existência, tão simples e ao mesmo tempo tão importante, demonstra que a santidade é para todas as idades: para as crianças e para os jovens, para os adultos e para os idosos. Cada estação da nossa existência pode ser oportuna para se decidir a amar seriamente Jesus e para o seguir fielmente. Em poucos anos Nennolina alcançou o cume da perfeição cristã que todos somos chamados a escalar, percorreu velozmente a "superestrada" que conduz a Jesus. Aliás, como recordastes vós próprios, é Jesus a verdadeira "estrada" que nos leva ao Pai e à sua e nossa casa definitiva que é o Paraíso. Vós sabeis que Antónia agora vive em Deus, e do Céu está próxima de vós: senti-a presente convosco, nos vossos grupos. Aprendei a conhecê-la e a seguir os seus exemplos. Penso que ela também ficará contente por isto: ser ainda "envolvida" na Acção Católica!

Estamos no período de Natal e gostaria de vos formular votos de alegria e de serenidade, mas permiti que, junto com estes votos, faça outro para todo o ano que daqui a pouco iniciaremos. Faço-o aproveitando o vosso slogan para o ano de 2008: que possais caminhar sempre com alegria na estrada da vida com Jesus. Um dia, Ele disse: "Eu sou o caminho" (
Jn 14,6). Jesus é a estrada que conduz à verdadeira vida, aquela que nunca acaba. Com frequência, é uma estrada estreita e íngreme, mas se nos deixarmos atrair por Ele, é sempre maravilhosa, como uma vereda de montanha: quanto mais se sobe mais é possível admirar do alto novos panoramas, mais bonitos e vastos. Há o cansaço do caminho, mas não se está só: ajudemo-nos reciprocamente, esperemos, demos uma mão a quem está atrasado... O importante é não se perder, não perder o caminho, caso contrário, corre-se o risco de acabar dentro de um precipício, de se perder no bosque! Queridos jovens, Deus fez-se homem para nos mostrar o caminho, aliás, fazendo-se menino, fez-se Ele próprio "Caminho", também para vós: foi como vós, teve a vossa idade. Segui-o com amor, segurando cada dia a vossa mão na sua.

Isto que digo a vós vale também para nós, adultos. Portanto, desejo que toda Acção Católica Italiana caminhe unida e activa na estrada de Cristo, para testemunhar, na Igreja e na sociedade, que este caminho é bom; é verdade que requer empenho, mas conduz à alegria autêntica. Confiemos estes votos, que são também oração, à materna intercessão de Maria, Mãe da Esperança, Estrela da Esperança. Ela, que aguardou e preparou com trepidação o nascimento do seu Filho Jesus, nos ajude também a celebrar o próximo Natal num clima de profunda devoção e íntima alegria espiritual. Acompanho os meus votos mais afectuosos com uma especial Bênção Apostólica a vós, aqui presentes, aos vossos entes queridos e à inteira família da Acção Católica. Bom Natal!




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