Discursos Bento XVI 18108

A UMA DELEGAÇÃO ECUMÉNICA DA FINLÂNDIA, NO INÍCIO DO OITAVÁRIO Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2008

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Ilustres amigos da Finlândia

Apraz-me saudar a vossa delegação ecuménica, no momento em que vós realizais a vossa tradicional visita anual a Roma, por ocasião da festa de Santo Henrique, Padroeiro da Finlândia. Transmito calorosas boas-vindas ao Bispo Mäkinen e ao Bispo Wróbel, assim como a todos os membros do vosso grupo.

A vossa visita coincide com o início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Com efeito, no corrente ano celebra-se o 100º aniversário da sua inauguração, pelo Pe. Paul Wattson, como "Oitavário pela Unidade da Igreja".

Num certo sentido, a Semana de Oração encontra a sua origem na vigília do sofrimento e da morte de Jesus, quando Ele rezou pelos seus discípulos: "Para que todos sejam um, como Tu ó Pai estás em mim e Eu em ti; para que eles estejam em nós e o mundo creia que Tu me enviaste" (
Jn 17,21). A unidade dos cristãos é um dom do alto, que deriva e cresce em vista da comunhão de amor com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo. A oração conjunta dos luteranos e dos católicos da Finlândia constitui uma participação humilde mas fiel na oração de Jesus, que prometeu que todas as orações elevadas ao Pai em seu nome seriam atendidas (cf. Jn 15,7). Com efeito, esta é a porta régia do ecumenismo: tal oração leva-nos a considerar o Reino de Deus e a unidade da Igreja de um modo novo; ela revigora os nossos vínculos de comunhão, enquanto nos torna capazes de enfrentar com coragem as memórias dolorosas, as dificuldades sociais e a debilidade humana, que constituem uma boa parte das nossas divisões.

O apelo a "orar sem cessar" (1Th 5,17), que se encontra no cerne das leituras para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano, recorda-nos também que a vida autêntica na comunhão somente é possível quando os acordos doutrinais e as declarações formais são constantemente orientadas pela luz do Espírito Santo. Temos que dar graças pelos frutos do diálogo teológico luterano-católico nórdico na Finlândia e na Suécia, relativo às problemáticas centrais da fé cristã, inclusive à questão da justificação na vida da Igreja. Que o diálogo permanente produza resultados concretos, com gestos que manifestem e construam a nossa unidade em Cristo e, por conseguinte, fortaleça os relacionamentos entre os cristãos.

No ano passado, a Finlândia comemorou o 450º aniversário da morte do teólogo Mikael Agricola, cuja tradução da Bíblia teve um impacto imenso sobre a língua e a literatura finlandesas. Esta ocasião voltou a salientar a importância da Escritura para a Igreja, para os cristãos individualmente e para a sociedade no seu conjunto. Verdadeiramente, a Palavra de Deus é o fundamento para a nossa vida; como São Jerónimo dizia: "A ignorância das Escrituras é a ignorância de Jesus Cristo" (Comm. in Isaias, Prol.). Encontrar a Palavra de Deus, especialmente quando ressoa na Igreja e na sua liturgia, é também importante para o nosso caminho ecuménico. Como afirmava o Concílio Vaticano II, mediante esta Palavra [de Deus] "a Sagrada Teologia... consolida-se com firmeza e rejuvenesce-se continuamente investigando, à luz da fé, toda a verdade encerrada no mistério de Cristo" (Dei Verbum DV 24).

Estimados amigos, faço votos ardentes para que a vossa visita a Roma vos proporcione uma grande alegria, no momento em que recordais o testemunho dos primeiros cristãos e de maneira particular o martírio de Pedro e Paulo, os Apóstolos fundadores da Igreja de Roma. Santo Henrique seguiu os seus passos, levando a mensagem evangélica e incutindo o seu poder salvífico nas populações nórdicas. Nas renovadas e desafiadoras circunstâncias da Europa contemporânea e no interior do vosso próprio país, os luteranos e os católicos podem realizar grandes coisas em conjunto, ao serviço do Evangelho e do progresso do Reino de Deus.

Com estes sentimentos e com afecto no Senhor, invoco sobre vós e os vossos entes queridos as bênçãos divinas de júbilo e de paz.




AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA DOS BISPOS LATINOS DAS REGIÕES ÁRABES (C.E.L.R.A.) POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2008

18118 Queridos Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio!


Sinto-me feliz por vos receber por ocasião da vossa visita "ad Limina", fortalecendo assim a vossa comunhão com o Sucessor de Pedro assim como a das Igrejas locais das quais sois Pastores. Agradeço sentidamente a Sua Beatitude Michel Sabbah, Patriarca latino de Jerusalém e Presidente da vossa Conferência Episcopal, a sua apresentação das grandes características da vida da Igreja nos vossos Países. Que a vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos seja a ocasião de uma renovação espiritual das vossas comunidades, fundada sobre a pessoa de Cristo. A Conferência dos Bispos latinos das Regiões árabes encerra uma grande diversidade de situações. Com muita frequência, os fiéis, originários de numerosos países, são reunidos em pequenas comunidades, em sociedades compostas na maioria por crentes de outras religiões. Dizei-lhes quanto o Papa está espiritualmente próximo deles e que partilha as suas preocupações e esperanças. Dirijo a todos os meus votos mais afectuosos, para que vivam em serenidade e em paz.

Gostaria antes de tudo de vos reafirmar a importância que atribuo ao testemunho das vossas Igrejas locais, recordando-vos a mensagem que dirigi aos católicos do Médio Oriente, a 21 de Dezembro de 2006, para manifestar a solidariedade da Igreja universal. Na vossa região, o desencadear-se sem fim da violência, da insegurança, do ódio, tornam muito difícil a co-habitação entre todos, fazendo por vezes temer pela existência das vossas comunidades. É um desafio sério que se apresenta ao vosso serviço pastoral, que vos estimula a fortalecer a fé dos fiéis e o seu sentido fraterno, para que todos possam viver na esperança fundada na certeza de que o Senhor nunca abandona todos os que a Ele se dirigem, porque só Ele é a nossa esperança verdadeira, em virtude da qual podemos enfrentar o nosso presente (cf. Spe salvi ). Convido-vos vivamente a permanecer próximos das pessoas confiadas ao vosso ministério, apoiando-as nas provas e indicando-lhes sempre o caminho de uma autêntica fidelidade ao Evangelho no cumprimento dos seus deveres de discípulos de Cristo. Que todos, nas situações difíceis que conhecem, possam ter a força e a coragem de viver como testemunhas fervorosas da caridade de Cristo.

É compreensível que as circunstâncias obriguem por vezes os cristãos a deixar os seus países para encontrar uma terra acolhedora que lhes permita viver dignamente. Contudo, é preciso encorajar e apoiar firmemente quantos fazem a opção de permanecer fiéis à sua terra, para que não se torne um lugar arqueológico privado da vida eclesial. Desenvolvendo uma vida fraterna sólida, encontrarão uma ajuda nas suas provações. Portanto, ofereço todo o meu apoio às iniciativas que empreendeis a fim de contribuir para a criação de condições socioeconómicas apropriadas para ajudar os cristãos que permaneceram no seu país e exorto a Igreja inteira a contribuir para um apoio vigoroso para tais esforços.

A vocação dos cristãos nos vossos países assume uma importância fundamental. Como artífices de paz e de justiça, são uma presença viva de Cristo que veio para reconciliar o mundo com o Pai e para reunir todos os seus filhos que estavam dispersos. Portanto, uma comunhão autêntica e uma colaboração serena e respeitadora entre os católicos dos diversos ritos devem ser cada vez mais consolidadas e desenvolvidas. Trata-se de facto de sinais eloquentes para os outros cristãos e para a sociedade. Além disso, a oração de Cristo no Cenáculo, "Para que todos sejam um", é um convite urgente a procurar incessantemente a unidade entre os discípulos de Cristo. Portanto, estou contente ao saber que dedicais um lugar importante ao aprofundamento de relações fraternas com as outras Igrejas e comunidades eclesiais. Estas são um elemento fundamental no caminho da unidade e um testemunho prestado a Cristo, "para que o mundo creia" (
Jn 17,21). Os obstáculos ao longo do caminho da unidade nunca devem fazer diminuir o entusiasmo para tecer as condições de um diálogo quotidiano que é prelúdio da unidade.

O encontro com os membros das outras religiões, judeus e muçulmanos, é para vós uma realidade quotidiana. Nos vossos países, a qualidade das relações entre os crentes assume um significado totalmente particular, sendo ao mesmo tempo testemunho prestado ao Deus único e contribuindo para a instauração de relações mais fraternas entre as pessoas e entre as diversas componentes das vossas sociedades. Portanto, é necessário um melhor conhecimento recíproco e favorecer um respeito cada vez maior da dignidade humana, da igualdade dos direitos e dos deveres das pessoas e uma atenção renovada às necessidades de cada um, sobretudo dos mais pobres. Além disso, faço ardentes votos por que uma autêntica liberdade religiosa seja efectiva em toda a parte e por que o direito de cada um de praticar livremente a própria religião, ou de a mudar, não seja impedido. Trata-se de um direito primordial de cada ser humano.

Queridos irmãos, o apoio às famílias cristãs, que devem enfrentar numerosos desafios, como o relativismo, o materialismo e todas as ameaças contra os valores morais familiares e sociais, deve permanecer uma das vossas prioridades. Convido-vos em particular a prosseguir os vossos esforços para oferecer uma sólida formação aos jovens e aos adultos, a fim de os ajudar a fortalecer a sua identidade cristã e a enfrentar corajosa e serenamente as situações que se lhes apresentam, no respeito das pessoas que não partilham as suas convicções.

Conheço o compromisso das vossas comunidades no âmbito da educação e da saúde e no serviço social, compromisso apreciado pelas autoridades e pela população dos vossos países. Nas vossas condições, desenvolvendo os valores de solidariedade, de fraternidade e de amor recíproco, anunciai às vossas sociedades o amor universal de Deus, em particular pelos mais pobres e necessitados. De facto, "o amor na sua pureza e na sua gratuidade é o melhor testemunho do Deus no qual cremos e pelo qual somos estimulados a amar" (Deus caritas est ). Presto homenagem também ao compromisso corajoso dos sacerdotes, dos religiosos e das religiosas, para assistir as vossas comunidades na sua vida quotidiana e no seu testemunho. O apoio humano e espiritual deve ser uma preocupação fundamental vossa, que sois os Pastores.

Por fim, desejo expressar de novo a minha proximidade a todas as pessoas que, na vossa região, sofrem numerosas formas de violência. Podeis contar com a solidariedade da Igreja universal. Faço também apelo à sabedoria de todos os homens de boa vontade, em particular de quantos ocupam responsabilidades na vida colectiva, para que, privilegiando o diálogo entre todas as partes, cesse a violência, se instaure em toda a parte uma paz verdadeira e estável, e se estabeleçam relações de solidariedade e de colaboração. Ao confiar cada um dos vossos países e todas as vossas comunidades à intercessão materna de Maria, imploro a Deus para que a todos proporcione o dom da paz. Concedo-vos de coração uma afectuosa Bênção Apostólica, que faço extensiva aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis das vossas dioceses.




AOS PROFESSORES E ALUNOS DO ALMO COLÉGIO CAPRÂNICA Sábado, 19 de Janeiro de 2007

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Senhor Cardeal
Queridos Superiores e Alunos
do Almo Colégio Caprânica

Também no corrente ano, tenho o prazer de me encontrar convosco por ocasião da festa de Santa Inês, vossa Padroeira celestial. Dirijo as minhas mais cordiais boas-vindas a cada um de vós. Saúdo em primeiro lugar o Senhor Cardeal Camillo Ruini, enquanto lhe agradeço as amáveis expressões com as quais se fez intérprete dos vossos sentimentos. Saúdo o Reitor e quantos o coadjuvam na guia da comunidade; além disso, dirijo uma especial saudação a vós, queridos alunos, assim como a todos vós aqui presentes, estendendo o meu pensamento inclusive aos ex-alunos do Almo Colégio Caprânica, que em diversas regiões do mundo exercem o seu ministério ao serviço da Igreja e das almas.

O Almo Colégio, que se rejubila de uma história secular e de uma longa tradição de fidelidade à Igreja e ao seu supremo Pastor, depois de ter celebrado em 2007 os 550 anos de fundação, no próximo mês de Agosto recordará o mesmo aniversário da morte do Cardeal Domenico Caprânica (14 de Agosto de 1458), que muito se prodigalizou pelo nascimento do Collegium pauperum scholarium, destinado à preparação de homens oportunamente formados para o ministério presbiteral. Na proximidade de tal celebração, é de bom grado que recordo a figura exemplar e clarividente deste Purpurado que, com vigor e determinação, soube sustentar o anélito de reforma que começava a fazer-se ouvir também no interior da realidade romana e que, um século mais tarde, teria contribuído para determinar as orientações e as decisões do Concílio tridentino. Ele teve a dádiva de intuir, sem incertezas, que a reforma almejada não deveria referir-se unicamente às estruturas eclesiásticas, mas de maneira principal à vida e às opções daqueles que, no interior da Igreja, eram chamados a ser, a qualquer nível, guias e pastores do Povo de Deus.

Persuadido da importância que reveste a dimensão espiritual na formação dos futuros ministros do altar e na missão da Igreja, o Cardeal Caprânica não somente se prodigalizou pela instituição do Colégio, mas quis dotá-lo das Constitutiones, que regulam de maneira completa os diversos aspectos da formação dos jovens alunos. Deste modo, ele manifestou a sua atenção pelo primado da dimensão espiritual e a consciência de que a profundidade e a consequente perseverança de uma sólida formação sacerdotal dependem, de forma determinante, da integridade e da organicidade da proposta educativa. Actualmente, estas escolhas adquirem um relevo ainda maior, considerando os múltiplos desafios com que se deve medir a missão dos presbíteros e dos evangelizadores. A este propósito, em diversas circunstâncias recordei a seminaristas e sacerdotes a urgência de cultivar uma profunda vida interior, um contacto pessoal e constante com Cristo na oração e na contemplação, um anseio sincero pela santidade. Com efeito, sem uma amizade autêntica com Jesus é impossível para um cristão e com maior razão para um sacerdote cumprir a missão que o Senhor lhe confia. Para o presbítero, ela certamente comporta uma séria preparação cultural e teológica que vós, estimados alunos, estais a adquirir nestes anos de estudo em Roma.

Aliás, diria que precisamente da permanência nesta Cidade o vosso itinerário de formação pode receber um impulso decisivo. Os níveis de experiência e os contactos que se podem viver aqui constituem, efectivamente, um dom providencial e um estímulo singular. A presença da Cátedra de Pedro, o trabalho realizado por homens e organismos que coadjuvam o Bispo de Roma a presidir na caridade, um conhecimento mais directo de algumas Igrejas particulares, de modo especial da Diocese de Roma, são elementos importantes para ajudar um jovem chamado ao sacerdócio a preparar-se para o seu ministério futuro. De resto, os vossos Pastores enviaram-vos para a Cidade do Sucessor de Pedro com a esperança de que, em seguida, regresseis mais enriquecidos de um espírito acentuadamente católico, com uma sensibilidade eclesial mais completa e de profundidade universal. A própria experiência de vida comum no Colégio Caprânica, no meio de alunos provenientes de diversas regiões da Itália e de países do mundo inteiro, permite a cada um de vós, queridos amigos, conhecer bem aquele entrelaçamento de culturas e de mentalidades, que é típico da vida contemporânea. Além disso, a presença de alunos pertencentes à Igreja ortodoxa da Rússia imprime um impulso mais vigoroso ao diálogo e à fraternidade, enquanto alimenta a esperança ecuménica.

Dilectos alunos, aproveitai ao máximo as possibilidades que a Providência vos oferece nestes anos de estadia romana. Sobretudo, cultivai uma relação íntima com o Cordeiro imaculado, imitando Santa Inês que O seguiu fielmente até ao sacrifício da própria vida. Graças à intercessão desta santa Virgem e Mártir, e acima de tudo ao recurso constante à salvaguarda maternal de Maria Virgo Sapiens, que o Senhor vos ajude a preparar-vos com atenção constante ao ministério futuro. Enquanto vos agradeço mais uma vez a vossa visita, concedo-vos de bom grado, a vós aqui presentes e a quantos vos são queridos, uma especial Bênção apostólica.




AOS PARTICIPANTES NA VI REUNIÃO DA SECRETARIA GERAL DO SÍNODO DOS BISPOS Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2008

Queridos e venerados Irmãos
no Episcopado!

Sinto-me feliz por vos receber enquanto estais a participar na reunião do Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos em preparação para a Assembleia Geral Ordinária, convocada de 5 a 26 de Outubro próximo. Saúdo e agradeço a D. Nikola Eterovic, Secretário-Geral, as suas amáveis palavras; e faço extensivos os sentimentos do meu reconhecimento a todos os membros quer da Secretaria Geral do Sínodo quer do Conselho Ordinário da Secretaria Geral. A todos e a cada um saúdo com afecto sincero.

Na recente Carta Encíclica Spe salvi sobre a esperança crista, quis ressaltar o "carácter comunitário da esperança" (n. 14). "O facto de estarmos em comunhão com Jesus Cristo escrevi envolve-nos no seu ser "para todos", fazendo disso o nosso modo de ser. Ele compromete-nos a ser para os outros, mas só na comunhão com Ele é que se torna possível sermos verdadeiramente para os outros", porque existe uma "conexão entre amor de Deus e responsabilidade pelos homens" (ibid., n. 28), que não nos permite cair de novo no individualismo da salvação e da esperança. Penso que se possa descobrir eficazmente aplicado este princípio fecundo precisamente na experiência sinodal, na qual o encontro se torna comunhão e a solicitude por todas as Igrejas (cf. 2Co 11,28) sobressai na preocupação por todos.

599 A próxima Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos reflectirá sobre "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja". As grandes tarefas da Comunidade eclesial no mundo contemporâneo entre outros, ressalto a evangelização e o ecumenismo centram-se na Palavra de Deus e ao mesmo tempo são por ela justificadas e amparadas. Como a actividade missionária da Igreja com a sua obra evangelizadora encontra inspiração e finalidade na revelação misericordiosa do Senhor, o diálogo ecuménico não se pode basear em palavras de sabedoria humana (cf. 1Co 2,13) ou em sagazes expedientes estratégicos, mas deve ser animado unicamente pela referencia constante à Palavra originária, que Deus entregou à sua Igreja, para que seja lida, interpretada e vivida na sua comunhão. Neste âmbito, a doutrina de São Paulo revela uma força totalmente especial fundada obviamente sobre a revelação divina, mas também sobre a própria experiência apostólica, que lhe confirmou sempre de novo a consciência e não a sabedoria e a eloquência humana, mas só a força do Espírito Santo constrói naféaIgreja(cf. 1Co 1,22-24 1Co 2, 4ss. ).

Por uma feliz concomitância, São Paulo será particularmente venerado este ano, graças à celebração do Ano Paulino. Portanto, a realização do próximo Sínodo sobre a Palavra de Deus oferecerá à contemplação da Igreja, e principalmente dos seus Pastores, também o testemunho deste grande Apóstolo e arauto da Palavra de Deus. Ao Senhor, que ele inicialmente perseguiu e ao qual depois consagrou todo o seu ser, Paulo permaneceu fiel até à morte: que o seu exemplo sirva de encorajamento a todos para acolher a Palavra da salvação e traduzi-la na vida quotidiana em fiel seguimento de Cristo. À Palavra de Deus dedicaram a sua atenção diversos organismos eclesiais consultados em vista da Assembleia de Outubro próximo. Para ela dirigirão o seu coração os Padres sinodais, depois de terem analisado os documentos preparatórios, os Lineamenta e o Instrumentum laboris, para cuja redacção vós próprios contribuístes na Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos. Terão assim a oportunidade de se confrontarem entre si, mas sobretudo de se unirem em comunhão colegial para se porem à escuta da Palavra de vida, que Deus confiou aos cuidados solícitos da sua Igreja, para que anuncie com coragem e convicção, com a parresia dos Apóstolos, aos que estão próximos e aos distantes. Que todos tenham, pela graça do Espírito Santo, a possibilidade de encontrara Palavra viva que é Jesus Cristo.

Queridos e venerados Irmãos, como membros do Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, vós prestais um serviço louvável à Igreja, porque o órgão sinodal constitui uma instituição qualificada para promover a verdade e a unidade do diálogo pastoral no âmbito do Corpo místico de Cristo. Obrigado por quanto fazeis não sem sacrifício: Deus vos recompense! Continuemos a rezar juntos para que o Senhor torne frutuosa para toda a Igreja a Assembleia sinodal. Com estes votos, concedo de coração uma especial Bênção Apostólica a vós e rs Comunidades confiadas aos vossos cuidados pastorais, invocando a intercessão da Santíssima Mãe do Senhor e dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, que na Liturgia chamamos, juntamente com os outros Apóstolos, "coluna e fundamento da cidade de Deus".




AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA DA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2008

Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos irmãos e irmãs!

Obrigado por esta vossa visita, que realizais por ocasião da assembleia plenária da Congregação para a Educação Católica: dirijo a cada um de vós a minha saudação cordial. Saúdo em primeiro lugar o Senhor Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito da vossa Congregação, e juntamente com ele o novo Secretário e os outros Oficiais e Colaboradores. A Vossa Eminência, Senhor Cardeal, um obrigado especial pelas palavras que me dirigiu, apresentando os diversos temas sobre os quais a Congregação pretende reflectir nestes dias. Trata-se de temas de grande interesse e actualidade aos quais a Igreja dirige, especialmente neste momento histórico, a sua atenção.

Desde sempre o sector da educação é particularmente querido à Igreja, chamada a fazer sua a solicitude de Cristo, que narra o evangelista vendo as multidões "se comoveu..., porque eram como ovelhas sem pastor, e pôs-se a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6,34). A palavra grega usada para exprimir esta atitude de "comoção" recorda as vísceras de misericórdia e remete para o amor profundo que o Pai celeste sente pelo homem. A Tradição viu no ensinamento e, mais geralmente, na educação uma manifestação concreta da misericórdia espiritual, que constitui uma das primeiras obras do amor que a Igreja tem por missão oferecer à humanidade. É oportuno como nunca que, neste nosso tempo, se reflicta sobre como tornar actual e eficaz esta tarefa apostólica da Comunidade eclesial, confiada às Universidades católicas e de modo especial às Faculdades eclesiásticas. Portanto, alegro-me convosco por terdes escolhido para a vossa Plenária um tema de tanto interesse, assim como penso também que seja útil analisar atentamente os projectos de reforma, que actualmente estão a ser estudados pela vossa Congregação, relativos às mencionadas Universidades Católicas e às Faculdades eclesiásticas.

Em primeiro lugar, refiro-me à reforma dos estudos eclesiásticos de filosofia, projecto que já chegou à fase final de elaboração, na qual não deixará de ser ressaltada a dimensão metafísica e sapiencial da filosofia, recordada por João Paulo II na Encíclica Fides et ratio (cf. n. 81). De igual modo útil é avaliar a oportunidade de uma reforma da Constituição apostólica Sapientia christiana. Querida pelo meu venerado Predecessor em 1979, ela constitui a magna charta das Faculdades eclesiásticas e serve de base para formular os critérios de avaliação da qualidade destas instituições, avaliação exigida pelo Processo de Bolonha, do qual a Santa Sé se tornou membro desde 2003. As disciplinas eclesiásticas, sobretudo a teologia, são submetidas hoje a novos interrogativos, num mundo tentado, por um lado, pelo racionalismo, que segue uma racionalidade falsamente livre e separada de qualquer referência religiosa e, por outro, pelos fundamentalismos, que absolutizam com violência as suas referências religiosas, afastando-se da razão.

600 Também a escola deve interrogar-se sobre a missão que deve realizar no hodierno contexto social, marcado por uma evidente crise educativa. A escola católica, que tem como missão primária formar o aluno segundo uma visão antropológica integral, mesmo estando aberta a todos e respeitando a identidade de cada um, não pode deixar de propor a sua perspectiva educativa, humana e cristã. Eis então que se apresenta um desafio novo que a globalização e o pluralismo crescente tornam ainda mais agudo: isto é, o do encontro das religiões e das culturas na pesquisa comum da verdade. O acolhimento da pluralidade cultural dos alunos e dos pais encontra-se necessariamente em confronto com duas exigências: por um lado, não excluir alguém em nome da sua pertença cultural ou religiosa; por outro, quando esta diversidade cultural e religiosa é reconhecida e acolhida, não deter-se na mera constatação. Isto equivaleria de facto a negar que as culturas se respeitam verdadeiramente quando se encontram, porque todas as culturas autênticas estão orientadas para a verdade do homem e para o seu bem. Por isso, os homens provenientes de culturas diversas podem falar uns com os outros, compreender-se além das distâncias espaço-temporais, porque no coração de cada pessoa habitam as mesmas grandes aspirações ao bem, à justiça, à verdade, à vida e ao amor.

Outro tema que está a ser estudado pela vossa Assembleia Plenária é a questão da reforma da Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis para os Seminários. O documento-base, de 1970, foi actualizado em 1985, especialmente após a promulgação do Código de Direito Canónico de 1983. Nos sucessivos decénios, vários textos de especial relevo foram emanados, em particular a Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis (1992). A atmosfera actual da sociedade, com a máxima influência da mídia e a difusão do fenómeno da globalização, mudou profundamente. Portanto, parece necessário interrogar-se sobre a oportunidade da reforma da Ratio fundamentalis, que deverá ressaltar a importância de um correcto desenvolvimento das diversas dimensões da formação sacerdotal na perspectiva da Igreja-comunhão, seguindo as indicações do Concílio Vaticano II. Isto exige uma sólida formação na fé da Igreja, uma verdadeira familiaridade com a palavra revelada, doada por Deus à sua Igreja. Além disso, a formação dos futuros sacerdotes deverá oferecer orientações e rumos úteis para dialogar com as culturas contemporâneas. A formação humana e cultural portanto deve ser significativamente fortalecida e apoiada também com a ajuda das ciências modernas, dado que alguns factores sociais desestabilizadores presentes hoje no mundo (por exemplo, a condição de tantas famílias separadas, a crise educativa, uma violência difundida, etc.) tornam frágeis as novas gerações. Ao mesmo tempo, é necessária uma formação adequada à vida espiritual, que torne as comunidades cristãs, em particular as paróquias, cada vez mais conscientes da sua vocação e capazes de corresponder de modo adequado à exigência de espiritualidade manifestada especialmente pelos jovens. Isto requer que não faltem na Igreja apóstolos e evangelizadores qualificados e responsáveis. Por conseguinte, apresenta-se o problema das vocações, sobretudo para o sacerdócio e para a vida consagrada. Enquanto em certas partes do mundo se observa um florescimento de vocações, noutras o número diminui, sobretudo no Ocidente. O cuidado das vocações envolve toda a Comunidade eclesial: Bispos, sacerdotes, consagrados, mas também as famílias e as paróquias. Certamente será de grande ajuda para esta vossa acção pastoral também a publicação do documento sobre a vocação para o ministério presbiteral, que estais a preparar.

Queridos irmãos e irmãs! Recordei há pouco que o ensino é expressão da caridade de Cristo e é a primeira das obras de misericórdia espiritual que a Igreja é chamada a realizar. Quem entra na sede da Congregação para a Educação Católica é acolhido por um ícone que mostra Jesus no gesto do lava-pés aos seus discípulos durante a Última Ceia. Aquele que "nos amou até ao fim" (
Jn 13,1) abençoe o vosso trabalho ao serviço da educação e, com a força do seu Espírito, o torne eficaz. Por meu lado, agradeço-vos por quanto estais a fazer quotidianamente com competência e dedicação e, enquanto vos confio à protecção materna de Maria Santíssima, Virgem Sábia e Mãe do Amor, concedo a todos de coração a Bênção Apostólica.




AOS MEMBROS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA ESLOVÉNIA POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2008

Venerados Irmãos
no Episcopado

No momento em que está para terminar a vossa visita ad limina Apostolorum, para mim é uma grande alegria receber-vos, estimados Pastores da Igreja que está na Eslovénia. Saúdo-vos com carinho e estou grato ao D. Alojzij Uran, Arcebispo Metropolitano de Liubliana e Presidente da vossa Conferência Episcopal, pelas amáveis palavras que acabou de me dirigir.

Desde a precedente visita ad Limina, que teve lugar em Abril de 2001, o vosso país conheceu mudanças de notável relevo no plano das instituições civis. Em primeiro lugar, no dia 1 de Maio de 2004 a Eslovénia começou a fazer parte da União Europeia e nessa circunstância os Bispos dirigiram uma Carta pastoral a todos os fiéis. Depois, no dia 1 de Janeiro de 2007 o país adoptou a moeda única europeia. Finalmente, na conclusão do ano passado, ele foi inserido no âmbito do Tratado de Schengen para a livre circulação. Como que para coroar esta evolução, no corrente semestre à Eslovénia foi confiada a presidência de turno da União Europeia.

Estes importantes acontecimentos que desejei recordar não têm uma índole eclesiástica, e no entanto são do interesse da Igreja porque dizem respeito à vida das pessoas, de modo particular ao horizonte dos valores na Europa, como justamente ressalta a mencionada Carta pastoral, de 23 de Abril de 2004. Esta Carta pode parecer, hoje, demasiado optimista. Evidentemente, ela propunha-se valorizar os aspectos positivos, contudo sem ignorar os problemas e os perigos. À distância de quase quatro anos do ingresso da Eslovénia na União Europeia, parece-me que conserva todo o seu valor aquilo que vós afirmastes: se a Europa quiser permanecer e tornar-se cada vez mais uma terra de paz, preservando como um dos seus valores fundamentais o respeito pela dignidade da pessoa humana, não poderá negar a componente principal nos planos espiritual e ético deste fundamento, ou seja, a cristã. Os humanismos não são todos iguais, nem são equivalentes sob o perfil moral. Não me refiro aqui aos aspectos religiosos, mas limito-me às realidades ético-sociais. Com efeito, em conformidade com a visão do homem que se adopta, têm-se diferentes consequências para a convivência civil. Se, por exemplo, o homem fosse concebido de modo individualista, segundo uma tendência hoje muito difundida, como se poderia justificar o esforço pela construção de uma comunidade justa e solidária? A este propósito, gostaria de citar uma expressão da vossa Carta, já citada antes: "O cristianismo é a religião da esperança: esperança na vida, na felicidade sem fim, no cumprimento da fraternidade entre todos os homens". Isto é verdade em todos os continentes, e é-o também numa Europa onde muitos intelectuais ainda sentem a dificuldade de aceitar o facto de que "razão e fé precisam uma da outra para realizar a sua verdadeira natureza e missão" (Carta Encíclica Spe salvi ).

Reconhecemos aqui o desafio principal com que hoje se deve medir a Igreja que está na Eslovénia. O secularismo de cariz ocidental, diferente e talvez mais dissimulado do que o marxista, apresenta sinais que não podem deixar de nos preocupar. Pensemos, por exemplo, na busca desenfreada dos bens materiais, na redução da natalidade e ainda na diminuição da prática religiosa com uma diminuição sensível das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. A Comunidade eclesial eslovena já está comprometida há tempos numa resposta aos desafios do secularismo a diversos níveis e em várias direcções. Apraz-me, sobretudo, recordar o Concílio plenário nacional, que realizastes nos anos de 1999-2000, cujo tema ressoava as palavras dirigidas por Moisés ao povo de Israel, que estava prestes a entrar na terra prometida: "Escolhe a vida!" (Dt 30,19). Cada geração é chamada a renovar esta opção entre "a vida e o bem, a morte e o mal" (cf. Dt Dt 30,154). Quanto a nós, Pastores, temos o dever de indicar aos cristãos o caminho da vida para que eles, por sua vez, sejam sal e luz na sociedade. Por conseguinte, encorajo a Igreja que está na Eslovénia a responder à cultura materialista e egoísta com uma acção evangelizadora coerente, que comece a partir das paróquias: com efeito, é das comunidades paroquiais, mais do que de outras estruturas, que podem e devem derivar iniciativas e gestos concretos de testemunho cristão. Facilita este necessário compromisso pastoral também a reforma das circunstâncias eclesiásticas por mim dispostas em 2006, com a criação de três novas dioceses e a elevação de Maribor a sede metropolitana, para fazer com que os bispos estejam mais próximos dos seus sacerdotes e fiéis, acompanhando-os de maneira mais eficaz ao longo do caminho da fé e no empenhamento apostólico.

Caros e venerados Irmãos, para a Primavera de 2009 proclamastes o Congresso Eucarístico Nacional, convidando-me também para visitar o país em tal circunstância. Enquanto vos agradeço o gesto amável e confio ao Senhor este programa, quero elogiar-vos desde já pela iniciativa de convocar toda a Comunidade em redor do Mistério eucarístico, "fonte e ápice da vida e da missão da Igreja" (Constituição dogmática Lumen gentium LG 11). O meu venerado predecessor João Paulo II concluiu o seu longo pontificado, estimulando-nos a dirigir o coração para a Eucaristia. Recolhi este seu convite e, depois da Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia de Outubro de 2005, escrevi a Exortação Apostólica Sacramentum caritatis. Portanto, tendes uma grande riqueza de ensinamentos da qual haurir para a preparação do vosso Congresso, acontecimento eclesial que estou persuadido disto constituirá para as vossas comunidades uma ocasião propícia em que retomar as conclusões do recente Conselho plenário esloveno e dar continuidade à sua realização.

A Eucaristia e a Palavra de Deus a esta última será dedicada a próxima Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos constituem o verdadeiro tesouro da Igreja. Fiel ao ensinamento de Jesus, cada uma das comunidades deve utilizar os bens terrenos simplesmente como serviço ao Evangelho e em coerência com os preceitos do Evangelho. A este propósito, o Novo Testamento é muito rico de ensinamentos e de exemplos normativos, para que em todas as épocas os Pastores possam delinear correctamente a delicada problemática dos bens temporais e do seu uso apropriado. Em todas as épocas da Igreja, o testemunho de pobreza evangélica representou um elemento essencial da evangelização, como aconteceu na vida do próprio Cristo. Por conseguinte, é necessário que todos, pastores e fiéis, se comprometam numa conversão pessoal e comunitária, a fim de que uma fidelidade cada vez maior ao Evangelho, na administração dos bens da Igreja, ofereça a todos o testemunho de um povo cristão comprometido em sintonizar-se com os ensinamentos de Cristo.

Venerados e estimados Irmãos, dou graças ao Senhor que nestes dias nos concedeu reavivar os vínculos de comunhão, vossos e das respectivas Igrejas, com a Sé de Pedro. Que vos protejam e vos sustentem o Beato Anton Martin Slomsek e os outros Santos particularmente venerados no seio das vossas comunidades. Vele sempre sobre o vosso ministério Maria Santíssima, Mãe da Igreja, e vos obtenha abundantes dádivas celestiais. Quanto a mim, asseguro-vos a lembrança na oração e, do íntimo do coração, concedo-vos a Bênção Apostólica, que faço extensiva a todos os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais.





Discursos Bento XVI 18108