Discursos Bento XVI 628

628 Dilectos estudantes universitários de Washington, D.C., transmito-vos calorosas saudações! Se Deus quiser, estarei na vossa cidade em Abril. Com a vossa ajuda, que a América permaneça fiel às suas raízes cristãs e aos seus excelsos ideais de liberdade na verdade e na justiça!
Caros amigos reunidos em Avinhão, a Europa tem necessidade da juventude de espírito da qual sois portadores e que vós, jovens cristãos, podeis oferecer-lhe, esforçando-vos por viver verdadeiramente o Evangelho. Isto constituirá um testemunho para todos. É isto que vos desejo de todo o coração.

Amados jovens, reunidos em Aparecida: ainda está viva no meu coração a lembrança da Viagem Pastoral que realizei no Brasil, especialmente no Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Peço à Virgem Mãe que obtenha para todos vocês a graça de ser sempre testemunhas de esperança!

Prezados estudantes universitários de Minsk, saúdo-vos cordialmente! Confio também à vossa reflexão a Encíclica sobre a esperança e exorto-vos a construir a civilização do amor mediante comportamentos quotidianos repletos de fé e de coragem evangélica!

Estimados amigos congregados em Bucareste, o Senhor vos abençoe! Para difundir a civilização do amor, os cristãos devem permanecer unidos em espírito ecuménico. Dai vós mesmos o exemplo de sincera colaboração entre todos os discípulos de Jesus.

Enfim, saúdo todos vós, que vos encontrais na Catedral de Nápoles! A vossa cidade e a Itália inteira têm necessidade de reencontrar o gosto do compromisso compartilhado por uma sociedade mais justa e solidária. Sede exemplo também disto, alimentando-vos de oração e deixando-vos orientar pela luz e pela força do Evangelho.

Agradeço ao Cardeal Ruini, a Mons. Leuzzi e a quantos colaboraram para a organização deste encontro. Estou grato ao coro e à orquestra que contribuíram para a nossa oração, assim como ao Centro Televisivo do Vaticano, à Rádio Vaticano e ao "Telespazio" pelas várias ligações. Queridos jovens, desejo-vos um trabalho sereno e profícuo, assim como uma feliz Páscoa, enquanto a todos concedo de coração a Bênção apostólica.




AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA GUATEMALA POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Quinta-feira, 6 de Março de 2008

Senhor Cardeal
Queridos irmãos no Episcopado!

É para mim motivo de alegria receber-vos esta manhã por ocasião da visita ad Limina com a qual renovais os vínculos de comunhão das vossas Igrejas particulares com o Bispo de Roma. Agradeço as palavras que, em vosso nome, me dirigiu D. Pablo Vizcaíno Prado, Bispo de Suchitepéquez-Retalhuleu e Presidente da Conferência Episcopal, e saúdo-vos a todos com afecto, pedindo-vos que transmitais a minha estima ao querido povo guatemalteco. Os encontros que tive com cada um de vós aproximaram-me da vida quotidiana e das aspirações dos vossos compatriotas, assim como do solícito trabalho pastoral que estais a realizar na vossa Nação.

629 Levais no vosso coração de Pastores a preocupação pelo aumento da violência e da pobreza que atinge grandes camadas da população, provocando uma forte emigração para outros países, com graves consequências no âmbito pessoal e familiar. É uma situação que convida a renovar os vossos esforços para mostrar a todos o rosto misericordioso do Senhor, do qual a Igreja está chamada a ser imagem, acompanhando e servindo com generosidade e abnegação sobretudo os que sofrem e os mais desamparados. De facto, a caridade e a assistência aos irmãos necessitados "fazem parte da natureza da Igreja e são manifestação irrenunciável da sua própria essência" (cf. Deus caritas est ).

Deus abençoou o povo guatemalteco com um profundo sentimento religioso, rico de expressões populares, que devem amadurecer em comunidades cristãs sólidas, celebrando com alegria a sua fé como membros vivos do Corpo de Cristo (cf.
1Co 12,27) e fiéis ao fundamento dos Apóstolos. Sabeis muito bem que a firmeza da fé e a participação nos sacramentos tornam fortes os vossos fiéis perante o perigo das seitas ou de grupos pretensamente carismáticos, que causam desorientação e conseguem pôr em perigo a comunhão eclesial.

A tradição das vossas culturas tem na família, célula fundamental da sociedade, o núcleo básico da existência e da transmissão da fé nos valores, mas ela confronta-se hoje com sérios desafios pastorais e humanos. Por isso, a Igreja dedica-se sempre com uma atenção particular à formação sólida de quantos se preparam para contrair matrimónio, infundindo constantemente a fé e a esperança nos lares e velando para que, com as ajudas necessárias, possam cumprir as suas responsabilidades.

Contais, no vosso ministério, com a colaboração inestimável dos sacerdotes, que devem ver no seu Bispo um verdadeiro pai e mestre, muito próximo deles, no qual encontram ajuda para as suas necessidades espirituais e materiais, assim como o conselho apropriado nos momentos de dificuldade. Precisam sempre de conforto para perseverar no caminho de autêntica santidade sacerdotal, sendo verdadeiros homens de oração (cf. Novo millennio ineunte NM 32), e também de meios adequados para ampliar a sua formação humana e teológica, para que possam assumir as tarefas particularmente delicadas, como as de professores, formadores ou directores espirituais nos vossos Seminários. Eles, com o seu exemplo e zelo pastoral, devem ser uma chamada viva para os jovens e menos jovens a entregar-se totalmente ao Senhor, colaborando com a graça divina para que o Senhor "envie trabalhadores para a sua messe" (Mt 9,38).

O II Congresso Missionário Americano celebrado na Guatemala em 2003 considerou um desafio levar às dioceses e vicariatos uma vivência mais intensa do compromisso missionário, incluindo-o no novo plano global da Conferência Episcopal. Agora, à luz também das conclusões da V Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida, devem fortalecer a vossa identidade e estimular-vos a levar a cabo os compromissos evangelizadores que ali assumistes. Por isso, tal como fez o meu venerado predecessor João Paulo II na sua primeira visita ao vosso País, estimulo-vos a continuar com espírito renovado a missão evangelizadora da Igreja no contexto das mudanças culturais actuais e da globalização, dando renovado vigor à pregação e à catequese, proclamando Jesus Cristo, o Filho de Deus, como fundamento e razão de ser de todo o crente. A evangelização das culturas é uma tarefa prioritária para que a Palavra de Deus se torne acessível a todos e, acolhida na mente e no coração, seja luz que as ilumina e água que as purifica com a mensagem do Evangelho que traz a salvação para todo o género humano.

Ao concluir este encontro, desejo estimular-vos a continuar a guiar o Povo de Deus que vos está confiado. Que, com a vossa palavra e com o vosso exemplo, a Igreja continue a brilhar como fonte de esperança para todos. Levai a minha saudação afectuosa e a minha bênção aos vossos sacerdotes, religiosos, religiosas e a todos os fiéis, especialmente a quantos colaboram com mais dedicação na obra de evangelização. Invoco sobre eles e sobre vós a protecção materna de Nossa Senhora do Rosário, Padroeira da Guatemala, e concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.


AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA COMISSÃO DE CIÊNCIAS HISTÓRICAS Sexta-feira, 7 de Março de 2008

Reverendíssimo Monsenhor
Ilustres Senhores, gentis Senhoras

Estou feliz por vos dirigir uma especial palavra de saudação e de apreço pelo trabalho que vós levais a cabo num campo de grande interesse para a vida da Igreja. Congratulo-me com o vosso Presidente e com cada um de vós pelo caminho percorrido ao longo destes anos.

Como bem sabeis, foi Leão XIII que, diante de uma historiografia orientada pelo espírito do seu tempo e hostil à Igreja, pronunciou a conhecida frase: "Não temos medo da publicidade dos documentos", e tornou acessível à pesquisa o arquivo da Santa Sé. Ao mesmo tempo, criou aquela comissão de Cardeais para a promoção dos estudos históricos que vós, professoras e professores, podeis considerar como antepassada da Pontifícia Comissão de Ciências Históricas, da qual sois membros. Leão XIII estava persuadido do facto de que o estudo e a descrição da história autêntica da Igreja não podiam deixar de se lhe revelar favoráveis.

630 A partir de então, o contexto cultural passou por uma profunda mudança. Já não se trata apenas de enfrentar uma historiografia hostil ao cristianismo e à Igreja. Hoje, é a própria historiografia que atravessa uma crise mais séria, dado que tem de lutar pela sua existência numa sociedade formada pelo positivismo e pelo materialismo. Ambas estas ideologias levaram a um desenfreado entusiasmo pelo progresso que, animado por espectaculares descobertas e conquistas técnicas, não obstante as desastrosas experiências do século passado, determina a concepção da vida de amplas camadas da sociedade. Assim, o passado mostra-se somente como um pano de fundo obscuro, no qual o presente e o futuro resplandece com promessas sedutoras. A isto ainda está ligada a utopia de um paraíso na terra, mesmo que tal utopia se tenha demonstrado falaz.

Típico desta mentalidade é o desinteresse pela história, que se traduz na marginalização das ciências históricas. Onde estas forças ideológicas são activas, descuidam-se a pesquisa histórica e o ensino da história nas universidades e nas escolas a todos os níveis e graus. Isto produz uma sociedade que, esquecendo o seu próprio passado e portanto desprovida de critérios adquiridos através da experiência, já não é capaz de projectar uma convivência harmoniosa nem um compromisso comum na consecução de finalidades futuras. Esta sociedade apresenta-se particularmente vulnerável à manipulação ideológica.

O perigo aumenta em medida cada vez maior, por causa da ênfase excessiva que se dá à história contemporânea, sobretudo quando as investigações neste sector são condicionadas por uma metodologia inspirada no positivismo e na sociologia. São ignoradas, outrossim, importantes âmbitos da realidade histórica e até mesmo épocas inteiras. Por exemplo, em muitos programas de estudo, o ensino da história começa somente a partir dos acontecimentos da Revolução francesa. Produto inevitável deste desenvolvimento é uma sociedade que desconhece o próprio passado e, por conseguinte, permanece desprovida de uma memória histórica. Não há quem não veja a gravidade de uma semelhante consequência: assim, como a perda da memória provoca no indivíduo a perda da própria identidade, de maneira análoga este fenómeno verifica-se para a sociedade no seu conjunto.

É evidente que tal esquecimento histórico comporta um perigo para a integridade da natureza humana em todas as suas dimensões. Chamada por Deus Criador a cumprir o dever de defender o homem e a sua humanidade, a Igreja tem a peito uma cultura histórica autêntica, um progresso efectivo das ciências históricas. Com efeito, a investigação histórica a alto nível faz parte, inclusivamente em sentido mais estreito, do interesse específico da Igreja. Mesmo quando não diz respeito à história propriamente eclesiástica, a análise histórica concorre de qualquer maneira para a descrição daquele espaço vital em que a Igreja desempenhou e ainda desempenha a sua missão ao longo dos séculos. Indubitavelmente, a vida e a acção eclesiais foram sempre determinadas, facilitadas ou então dificultadas pelos vários contextos históricos. A Igreja não é deste mundo, mas nele vive e para ele existe.

Se agora tomarmos em consideração a história eclesiástica sob o ponto de vista teológico, relevaremos mais um aspecto importante. Efectivamente, a sua tarefa essencial revela-se como a complicada missão de indagar e esclarecer aquele processo de recepção e de transmissão, de paralépsis e de parádosis, através do qual ao longo dos séculos se consolidou a razão de ser da Igreja. Com efeito, é inquestionável que nas suas escolhas a Igreja possa haurir inspiração do seu plurissecular tesouro de experiências e de memórias.

Portanto, ilustres membros da Pontifícia Comissão de Ciências Históricas, é meu desejo animar-vos de todo o coração a comprometer-vos como tendes feito até agora ao serviço da Santa Sé, em vista da consecução destes objectivos, prosseguindo o vosso empenho diuturno e meritório na pesquisa e no ensino. Formulo votos a fim de que, em sinergia com a actividade de outros colegas, sérios e autorizados, consigais buscar com eficácia as finalidades sempre árduas que vos propusestes e trabalhar em prol de uma ciência histórica cada vez mais autêntica.

Com estes sentimentos e enquanto vos asseguro, para vós e para o vosso delicado compromisso, a lembrança nas minhas orações, a todos concedo uma especial Bênção Apostólica.


AOS PARTICIPANTES NO CURSO SOBRE O FORO INTERNO ORGANIZADO PELA PENITENCIARIA APOSTÓLICA


Sexta-feira, 7 de Março de 2008


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
631 Queridos Penitencieiros das Basílicas Romanas!

Sinto-me feliz por vos receber, quando está para terminar o curso sobre o foro interno que a Penitenciaria Apostólica promove há diversos anos durante a Quaresma. Com um programa cuidadosamente preparado, este encontro anual presta um serviço precioso à Igreja e contribui para manter vivo o sentido da santidade do sacramento da Reconciliação. Portanto, dirijo um cordial agradecimento a quem o organiza e, em particular, ao Penitencieiro-Mor, Cardeal James Francis Stafford, ao qual saúdo agradecendo-lhe as gentis palavras que me dirigiu. Juntamente com ele saúdo e agradeço o Regente e o pessoal da Penitenciaria, assim como os beneméritos Religiosos de diversas Ordens que administram o sacramento da Penitência nas Basílicas Papais da Cidade. Além disso saúdo os participantes no curso.

A Quaresma é um tempo propício como nunca para meditar sobre a realidade do pecado à luz da infinita misericórdia de Deus, que o sacramento da Penitência manifesta na sua forma mais nobre. Portanto, aproveito de bom grado a ocasião para propor à vossa atenção algumas reflexões sobre a administração deste Sacramento na nossa época, que infelizmente vai perdendo cada vez mais o sentido do pecado. Hoje, é preciso fazer experimentar a quem se confessa aquela ternura divina para com os pecadores arrependidos que tantos episódios evangélicos mostram com tonalidades de intensa comoção. Tomemos como exemplo a página do Evangelho de Lucas que apresenta a pecadora perdoada (cf.
Lc 7,36-50). Simão, fariseu e rico "importante" da cidade, organiza em sua casa um banquete em honra de Jesus. Inesperadamente do fundo da sala entra uma hóspede não convidada nem prevista: uma mulher prostituta. Compreensível o embaraço dos presentes, do qual contudo a mulher não se preocupa. Ela avança e, de modo bastante furtivo, pára aos pés de Jesus. Chegaram aos seus ouvidos as suas palavras de perdão e de esperança para todos, também as prostitutas; está comovida e está ali em silêncio. Molha com as lágrimas os pés de Jesus, enxuga-os com os cabelos, beija-os e unge-os com um perfume suave. Fazendo assim a pecadora pretende expressar o afecto e o reconhecimento que sente pelo Senhor com gestos que lhe são familiares, mesmo se socialmente censurados.

Perante o embaraço geral, é precisamente Jesus quem enfrenta a situação: "Simão, tenho uma coisa para te dizer". "Diz, Mestre", responde o dono de casa. Conhecemos todos a resposta que Jesus dá com uma parábola que poderíamos resumir com as seguintes palavras que o Senhor substancialmente diz a Simão: "Vês? Esta mulher sabe que é pecadora e, movida pelo amor, pede compreensão e perdão. Tu, ao contrário, supões que és justo e talvez estejas convencido de que não tens nada de grave para te ser perdoado".

É eloquente a mensagem que transparece do trecho evangélico: a quem muito ama, Deus tudo perdoa. Quem confia em si mesmo e nos próprios sentimentos está como que cego pelo seu eu e o seu coração endurece-se no pecado. Ao contrário, quem se reconhece frágil e pecador confia em Deus e d'Ele obtém graça e perdão. É precisamente esta mensagem que é preciso transmitir: o que mais conta é fazer compreender que no sacramento da Reconciliação, seja qual for o pecado que se tenha cometido, se o reconhecermos humildemente e nos aproximarmos confiantes do sacerdote confessor, experimenta-se sempre a alegria pacificadora do perdão de Deus. Nesta perspectiva, assume uma importância notável o vosso Curso, que tem por finalidade preparar confessores bem formados sob o ponto de vista doutrinal e capazes de fazer experimentar aos penitentes o amor misericordioso do Pai celeste. Não é porventura verdade que hoje se assiste a uma certa indiferença em relação a este Sacramento? Quando se insiste só na acusação dos pecados, que deve existir e é preciso ajudar os fiéis a compreender a sua importância, corre-se o risco de relegar para segundo plano o que nele é central, isto é, o encontro pessoal com Deus, Pai de bondade e de misericórdia. No centro da celebração sacramental não está o pecado, mas a misericórdia de Deus, que é infinitamente maior do que qualquer culpa nossa.

O empenho dos Pastores, e especialmente dos confessores, deve ser também o de ressaltar o vínculo estreito que existe entre o sacramento da Reconciliação e uma existência orientada decididamente para a conversão. É preciso que entre a prática do sacramento da Confissão e uma vida propensa para seguir sinceramente Cristo se instaure uma espécie de "círculo virtuoso" ininterrupto, no qual a graça do Sacramento ampare e alimente o compromisso por ser fiéis discípulos do Senhor. O tempo quaresmal, no qual nos encontramos, recorda-nos que a nossa vida cristã deve tender sempre para a conversão e quando nos aproximamos com frequência do sacramento da Reconciliação permanece vivo no crente o anseio pela perfeição evangélica. Se este anseio incessante faltar, a celebração do Sacramento infelizmente corre o risco de se tornar algo de formal que não incide no tecido da vida quotidiana. Por outro lado, se, mesmo estando animados pelo desejo de seguir Jesus, não nos confessarmos regularmente, a tendência é que pouco a pouco diminui o ritmo espiritual até o enfraquecer cada vez mais e talvez até desapareça.

Queridos irmãos, não é fácil compreender o valor que ocupa na Igreja o vosso ministério de dispensadores da misericórdia divina para a salvação das almas. Segui e imitai o exemplo de tantos santos confessores que, com a sua intuição espiritual, ajudavam os penitentes a dar-se conta de que a celebração regular do sacramento da Penitência e a vida cristã propensa para a santidade são componentes inseparáveis de um mesmo percurso espiritual para cada baptizado. E não esqueçais de ser vós mesmos exemplos de autêntica vida cristã. A Virgem Maria, Mãe de misericórdia e de esperança, vos ajude, assim como a todos os confessores, a desempenhar com zelo e alegria este grande serviço do qual depende tão intensamente a vida da Igreja. Eu garanto-vos uma recordação na oração e abençoo-vos com afecto.




AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A CULTURA Sábado, 8 de Março de 2008

Senhores Cardeais
Amados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Gentis Senhoras
Ilustres Senhores

632 É-me grato receber-vos, por ocasião da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, congratulando-me pelo trabalho que estais a realizar e, em particular, pelo tema escolhido para esta Sessão: "A Igreja e o desafio da secularização". Trata-se de uma questão fundamental para o futuro da humanidade e da Igreja. A secularização, que muitas vezes se transforma em secularismo, abandonando a acepção positiva de secularidade, põe à dura prova a vida cristã dos fiéis e dos pastores, e durante os vossos trabalhos vós interpretaste-la e transformaste-la também num desafio providencial, de maneira a propor respostas convincentes às interrogações e às esperanças do homem, nosso contemporâneo.

Agradeço ao Arcebispo Gianfranco Ravasi, há poucos meses Presidente do Pontifício Conselho, as cordiais palavras com que se fez vosso intérprete e explicou a cadência dos vossos trabalhos. Agradeço a todos vós o compromisso assumido para fazer com que a Igreja se ponha em diálogo com os movimentos culturais deste nosso tempo e assim seja conhecido cada vez mais minuciosamente o interesse que a Santa Sé nutre pelo vasto e diversificado mundo da cultura. Com efeito, hoje mais que nunca a abertura recíproca entre as culturas é um terreno privilegiado para o diálogo entre homens e mulheres comprometidos na busca de um humanismo genuíno, para além das divergências que os separam. A secularização, que se apresenta nas culturas como um delineamento do mundo e da humanidade sem referência à Transcendência, impregna todos os aspectos da vida quotidiana e desenvolve uma mentalidade em que Deus se tornou total ou parcialmente ausente da existência e da consciência do homem. Esta secularização não é apenas uma ameaça externa para os fiéis, mas já se manifesta há muito tempo no seio da própria Igreja. Desnatura a partir de dentro e em profundidade a fé cristã e, por conseguinte, o estilo de vida e o comportamento quotidiano dos fiéis. Eles vivem no mundo e são muitas vezes marcados, se não condicionados, pela cultura da imagem que impõe modelos e impulsos contraditórios, na negação prática de Deus: já não há necessidade de Deus, nem de pensar nele e de voltar para Ele. Além disso, a mentalidade hedonista e consumista predominante favorece, tanto nos fiéis como nos pastores, uma deriva na superficialidade e um egocentrismo que prejudica a vida eclesial.

A "morte de Deus", anunciada nos séculos passados por muitos intelectuais, cede o lugar a um estéril culto do indivíduo. Neste contexto cultural, há o risco de cair numa atrofia espiritual e num vazio do coração, às vezes caracterizados por formas sucedâneas de pertença religiosa e de vago espiritualismo. Revela-se mais urgente que nunca reagir a semelhantes derivas mediante a evocação dos valores mais excelsos da existência, que dão sentido à vida e podem saciar a inquietação do coração humano em busca da felicidade: a dignidade da pessoa humana e a sua liberdade, a igualdade entre todos os homens, o sentido da vida e da morte e daquilo que nos espera depois da conclusão da existência terrena. Nesta perspectiva o meu predecessor, o Servo de Deus João Paulo II, consciente das mudanças radicais e rápidas das sociedades, solicitou com insistência a urgência de encontrar o homem no campo da cultura para lhe transmitir a Mensagem evangélica. Precisamente por este motivo, instituiu o Pontifício Conselho para a Cultura, para dar um renovado impulso à acção da Igreja, em vista de levar o Evangelho ao encontro da pluralidade das culturas nas várias partes do mundo (cf. Carta ao Card. Casaroli, em: AAS LXXIV, 6, págs. 683-688). A sensibilidade intelectual e a caridade pastoral do Papa João Paulo II levaram-no a pôr em evidência o facto de que a revolução industrial e as descobertas científicas permitiram responder a interrogações que antes eram em parte satisfeitas unicamente pela religião. Como consequência, o homem contemporâneo tem frequentemente a impressão de não precisar de ninguém para compreender, explicar e dominar o universo; ele sente-se o centro de tudo, a medida de tudo.

Mais recentemente a globalização, por intermédio das novas tecnologias da informação, não raramente teve como êxito também a difusão em todas as culturas de numerosos componentes materialistas e individualistas do Ocidente. A fórmula "Etsi Deus non daretur" torna-se cada vez mais um estilo de vida que haure a sua origem de uma espécie de "soberba" da razão de resto, uma realidade criada e amada por Deus que se considera suficiente a si mesma e se fecha à contemplação e à busca de uma Verdade que a ultrapassa. A luz da razão exaltada, mas na realidade depauperada pelo Iluminismo substitui-se radicalmente à luz da fé, à luz de Deus (cf. Bento XVI, Alocução preparada para o encontro com a Universidade de Roma "La Sapienza", 17 de Janeiro de 2008). Por isso, são enormes os desafios que a missão da Igreja deve enfrentar neste âmbito. Por isso, o compromisso do Pontifício Conselho para a Cultura revela-se mais importante que nunca em vista de um diálogo fecundo entre a ciência e a fé. Trata-se de um confronto muito esperado pela Igreja, mas inclusivamente pela comunidade científica, e encorajo-vos a continuá-lo. Nele, a fé supõe a razão e a perfeição, enquanto a razão, iluminada pela fé, encontra a força para se elevar ao conhecimento de Deus e das realidades espirituais.

Neste sentido, a secularização não favorece a finalidade última da ciência, que está ao serviço do homem, "imago Dei". Que este diálogo continue, na distinção das características específicas da ciência e da fé. Com efeito, cada uma delas dispõe dos seus próprios métodos, âmbitos, objectos de investigação, finalidades e limites, e deve respeitar e reconhecer à outra a legítima possibilidade de exercício autónomo, em conformidade com os princípios que lhe são próprios (cf. Gaudium et spes
GS 36); então, ambas são chamadas a servir o homem e a humanidade, favorecendo o desenvolvimento e o crescimento integral de cada um e de todos.

Exorto sobretudo os Pastores da grei de Deus, a uma missão incansável e generosa para enfrentar, nos campos do diálogo e do encontro com as culturas, do anúncio do Evangelho e do testemunho, o preocupante fenómeno da secularização, que debilita a pessoa impedindo o seu anseio inato pela Verdade na sua integridade. Assim, graças ao serviço prestado de modo particular pelo vosso Conselho, que os discípulos de Cristo possam continuar a anunciá-lo no âmago das culturas, porque Ele é a luz que ilumina a razão, o homem e o mundo. Também a nós se apresenta a admoestação que tinha sido dirigida pelo anjo à Igreja presente em Éfeso: "Conheço as tuas obras, as tuas fadigas e a tua constância... No entanto, tenho uma coisa contra ti: abandonaste o teu amor primitivo" (Ap 2,2 Ap 2,4). Façamos nosso o brado do Espírito e da Igreja: "Vem!" (Ap 22,17), e deixemos que o nosso coração seja imbuído pela resposta do Senhor: "Sim, virei brevemente!" (Ap 22,20). Ele é a nossa esperança, a luz para o nosso caminho, a força para anunciar a salvação com coragem apostólica, chegando até ao coração de todas as culturas. Deus vos assista no cumprimento da vossa árdua mas exaltante missão!

Enquanto confio a Maria, Mãe da Igreja e Estrela da Nova Evangelização, o futuro do Pontifício Conselho para a Cultura e o de todos os seus membros, concedo-vos a todos do íntimo do coração a Bênção apostólica.


AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO HAITI EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Quinta-feira, 13 de Março de 2008

13308 Queridos Irmãos no Episcopado

Dou-vos calorosas boas-vindas, no momento em que realizais a vossa visita ad limina Apostolorum, ocasião para confirmar a vossa comunhão com o Sucessor de Pedro e entre vós, e para partilhar com a Cúria Romana os motivos de alegria e de esperança, assim como de preocupações, vividos pelo povo de Deus confiado aos vossos cuidados pastorais. Desejo antes de tudo agradecer a D. Louis Kébreau, novo Arcebispo de Cap-Haïtien e Presidente da Conferência Episcopal, as palavras que me dirigiu em vosso nome, recordando a situação do país e a acção da Igreja. Saúdo particularmente os Bispos que acabam de deixar o seu cargo pastoral e quantos receberam um novo. O meu pensamento dirige-se também aos fiéis, e a todo o povo haitiano.

Gostaria de recordar a viagem que o meu predecessor, o Papa João Paulo II, fez ao Haiti há vinte e cinco anos, no final do Congresso eucarístico nacional, recordando o tema central desta reunião: "É preciso que algo aqui mude". As coisas mudaram? O vosso país conheceu momentos dolorosos, que a Igreja segue com atenção: divisões, injustiças, miséria, desemprego, elementos que são fonte de preocupações profundas para o povo. Peço ao Senhor que infunda no coração de todos os haitianos, sobretudo das pessoas que desempenham responsabilidades sociais, a coragem de promover a mudança e a reconciliação, a fim de que os habitantes do país tenham condições de vida dignas e beneficiem dos bens da terra, numa solidariedade cada vez maior. Não posso esquecer quantos são obrigados a deslocar-se para países vizinhos a fim de satisfazer as suas necessidades. Faço votos por que a Comunidade internacional prossiga e intensifique o apoio ao povo haitiano, para permitir que ele assuma cada vez mais o seu futuro e o seu desenvolvimento.

Entre as preocupações presentes nos vossos relatórios quinquenais, encontra-se a situação da estrutura familiar, que se tornou instável devido à crise que o país atravessa, mas também à evolução dos costumes e à perda progressiva do sentido do matrimónio e da família, pondo no mesmo nível outras formas de união. É em grande medida a partir da família que a sociedade e a Igreja se desenvolvem. A vossa atenção a este aspecto da vida pastoral é fundamental, porque se trata do lugar primordial da educação da juventude. "Então, a família cristã, porque teve começo num matrimónio, imagem e participação da aliança de amor de Cristo e da Igreja, manifestará a todos os homens a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja, tanto pelo amor dos esposos, pela sua fecundidade, como pela cooperação amorosa de todos os seus membros" (Concílio Vaticano II, Gaudium et spes
GS 48). Encorajo-vos portanto a apoiar os esposos e os jovens lares mediante um acompanhamento e uma formação cada vez mais apropriados, ensinando-lhes também o respeito pela vida.

No vosso ministério episcopal, os sacerdotes ocupam um lugar primordial. Eles são os vossos primeiros colaboradores. Dando a máxima atenção à sua formação permanente e mantendo com eles relacionamentos fraternos e confiantes, ajudá-los-eis a absterem-se de compromissos políticos. É conveniente que sejam organizados regularmente encontros entre os sacerdotes, para que façam uma experiência tangível do presbitério e que se fortaleçam mediante a oração. Levai as minhas saudações afectuosas a todos os vossos sacerdotes; conheço a fidelidade e a coragem da qual devem dar provas para viver em situações por vezes difíceis. Devem basear o seu apostolado na sua relação com Cristo, no mistério eucarístico que nos recorda que o Senhor se doou totalmente pela salvação do mundo, no sacramento do perdão, no amor à Igreja, dando através da vida recta, humilde e pobre um testemunho eloquente do seu compromisso sacerdotal.

Dedicai atenção à pastoral das vocações e à formação dos jovens que se apresentam e para os quais é preciso fazer um discernimento profundo. Para esta finalidade, procurais equipes de formadores para os vossos seminários. Convido-vos a considerar com os episcopados de outros países a possibilidade de pôr à disposição formadores experientes, que tenham uma vida sacerdotal exemplar, para acompanhar nas diferentes etapas a sua formação humana, moral, espiritual e pastoral, os futuros sacerdotes dos quais as vossas dioceses têm necessidade. O futuro da Igreja no Haiti depende disso. Que as Igrejas locais ouçam este apelo e aceitem fazer o dom de sacerdotes para vos ajudar na formação dos seminaristas, segundo o espírito da encíclica Fidei donum; isto constituirá para elas também uma abertura, uma riqueza e uma fonte de numerosas graças.

As escolas católicas, apesar dos seus meios escassos, desempenham um importante papel no Haiti; elas são apreciadas pelas Autoridades e pela população. Dou graças pelas pessoas comprometidas na bela missão da educação da juventude. Levai-lhes a minha saudação calorosa. É a formação e a maturação das personalidades que se realiza através do ensino, e do reconhecimento dos valores fundamentais e da prática das virtudes; com ele, transmite-se também uma concepção do homem e da sociedade. A escola católica é um importante lugar de evangelização, mediante o testemunho da vida dado pelos educadores, mediante a descoberta da mensagem evangélica ou as celebrações vividas no seio da comunidade educativa. Dizei aos jovens do Haiti que o Papa tem confiança neles, que conhece a sua generosidade e o seu desejo de ter sucesso na vida, que Cristo os chama a uma existência cada vez mais bonita, recordando-se que Ele é o único portador da verdadeira mensagem de bem-estar e dá sentido à existência. Sim, os vossos jovens são para mim motivo de alegria e de esperança. Um país que deseja desenvolver-se, uma Igreja que pretende ser mais dinâmica, deve antes de tudo apostar na juventude. Compete-vos também estimular a formação dos leigos adultos, para que possam cumprir sempre melhor a sua missão cristã no mundo e na Igreja.

Queridos Irmãos no Episcopado, no final deste encontro, desejo expressar de novo a minha proximidade espiritual à Igreja no Haiti, rezando ao Senhor para que lhe conceda força para a sua missão. Seja-me permitido congratular-me também pelo trabalho dos religiosos, das religiosas e dos benevolentes, muitas vezes comprometidos junto dos mais pobres e deserdados da sociedade, mostrando que, lutando contra a pobreza, se luta também contra numerosos problemas sociais com ela relacionados. Que eles sejam apoiados por todos nesta tarefa. Concedo de coração a cada um de vós uma afectuosa Bênção Apostólica, assim como aos sacerdotes, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos das vossas dioceses.



Discursos Bento XVI 628