Discursos Bento XVI 14308

AO SENHOR CARLOS FEDERICO DE LA RIVA GUERRA NOVO EMBAIXADOR DA BOLÍVIA JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 14 de Março de 2008

14308
Senhor Embaixador!

1. É para mim motivo de particular alegria recebê-lo nesta audiência na qual me apresenta as cartas credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto da Santa Sé. Ao dar-lhe as minhas cordiais boas-vindas, desejo agradecer as deferentes palavras que me dirigiu e desejar-lhe um trabalho fecundo na alta missão que lhe foi confiada. De igual modo, peço-lhe que faça chegar a minha proximidade e afecto a todos os filhos e filhas desse querido país, assim como a minha deferente saudação ao Senhor Presidente da República.

2. As profundas raízes cristãs da Bolívia ampararam os seus povos, acompanharam as vicissitudes da sua história e promoveram o sentido de respeito e de reconciliação, tão necessário nos momentos difíceis que essa Nação teve que enfrentar. A este propósito, é particularmente significativo o acolhimento caloroso e em massa de todos os bolivianos, da cidade e do campo, do planalto e do oriente, ao meu venerado precedessor João Paulo II durante a visita que realizou há vinte anos ao seu país, e que ressaltou a grande marca religiosa e o espírito de comunhão e de fraternidade, como prova da fé de todo o povo.

Recordar este acontecimento é importante num momento no qual a sua Nação está a viver um profundo processo de mudança, que produz situações difíceis e por vezes preocupantes. De facto, não é possível permanecer indiferentes quando a tensão social vai aumentando e se difunde um clima que não favorece a compreensão. Penso que todos partilhamos a mesma convicção de que as posições encontradas, em várias ocasiões incentivadas e apoiadas, impeçam o diálogo construtivo para encontrar soluções de igualdade económica e justiça com a finalidade do bem comum, sobretudo a favor dos que têm dificuldade em viver de modo digno.

As autoridades que governam o destino do povo, assim como os responsáveis das organizações políticas, sociais e civis, necessitam da prudência e da clarividência que nasce do amor pelo homem, com a finalidade de promover em toda a população as condições necessárias para o diálogo e para o entendimento. Este louvável objectivo será favorecido se todos os bolivianos contribuem com o melhor de si mesmos com franqueza e próvida solicitude que exige, com frequência, abnegação e sacrifício. Deste modo, a colaboração sincera e altruísta de pessoas e instituições contribui para desenraizar os males que afligem o nobre povo boliviano, com frequência atingido também por catástrofes naturais, que exigem de todos medidas eficazes e sentimentos de fraternidade que ajudem a aliviar as suas graves consequências.

O renascimento civil e social, político e económico, exige sempre uma laboriosidade abnegada e um compromisso generoso a favor de um povo que pede ajuda material, moral e espiritual. A consecução da paz deve estar baseada na justiça, na verdade e na liberdade, assim como na cooperação recíproca, no amor e na reconciliação entre todos.

3. A Igreja, conhecendo bem as necessidades e as esperanças do povo boliviano, oferece o anúncio da fé e a sua experiência em humanidade para o ajudar a crescer espiritualmente e a alcançar a sua plena reconciliação humana. Fiel à sua missão, está sempre disposta a colaborar na pacificação e no desenvolvimento humano e espiritual do país, proclamando a sua doutrina e expressando também publicamente a sua opinião sobre as questões relativas à ordem social. Por isso, reconhecendo as competências próprias do Estado, assume como dever próprio a orientação dos fiéis, propondo-lhes, assim como a toda a sociedade, que rejeitem o ódio racial, as represálias e a vingança e, em definitiva, que em vez de adoptar atitudes de divisão empreendam o caminho da solidariedade e da confiança recíproca no respeito da diversidade.

No Documento final da V Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida, os Bispos consideraram urgente colaborar com os organismos políticos e sociais para criar novas estruturas que consolidem uma ordem social, económica e política, promovam uma autêntica convivência humana, impeçam a protecção de alguns e facilitem o diálogo fraterno, sincero e construtivo para os necessários consentimentos sociais (cf. n. 384).

Para esta finalidade, é preciso que a defesa e a salvaguarda dos direitos humanos estejam firmemente assentes em valores éticos, como a justiça e o anseio pela paz, a honestidade e a transparência, assim como a solidariedade efectiva para que sejam corrigidas as injustas desigualdades sociais.

Por isso, o ensino do bem moral, do que é justo e injusto, sem o qual sociedade alguma poderia reger-se, compete à educação a começar pela mais tenra idade. Nesta tarefa, a família desempenha um papel decisivo, para o qual deve contar com as ajudas necessárias a fim de cumprir o seu compromisso e ser "a principal "artífice" de paz" em benefício de todos (Mensagem para o Dia Mundial da paz, 2008, 5).

4. Senhor Embaixador, antes de concluir este encontro desejo reiterar os melhores votos por um feliz desempenho da sua missão, para que se fortaleçam os vínculos de diálogo entre o seu país e a Sé Apostólica.

Desejamos para a sua Nação um autêntico renascimento espiritual, material e civil. Desejamos profundamente que em cada pessoa humana resplandeça a imagem do seu Criador e Senhor, e que o amor de Cristo Jesus seja fonte de esperança para cada filho e filha dessa amada terra boliviana. Peço ao Senhor que na Bolívia triunfe a verdade que procura o respeito do próximo, também daquele que não partilha as mesmas ideias, a paz que se conjuga com a justiça e abre as portas ao progresso harmonioso e estável, a sensatez que se esforça por encontrar soluções equitativas e razoáveis para os problemas e a concórdia que une as vontades na superação das adversidades na consecução do bem comum.

Que a materna protecção de Nossa Senhora de Copacabana acompanhe Vossa Excelência, a sua família, seus colaboradores e todos os queridos filhos e filhas da nobre Nação boliviana.



AO SENHOR MILTIADIS HISKAKIS NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA HELÉNICA JUNTO DA SANTA SÉ Sábado, 15 de Março de 2008

15308

Excelência

É para mim um prazer recebê-lo no Vaticano e aceitar as cartas mediante as quais foi nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Helénica junto da Santa Sé. Agradeço as gentis saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Karolos Papoulias, e peço-lhe que lhe garanta, assim como aos líderes do seu país e ao povo da Grécia os meus bons auspícios e orações pelo seu bem-estar e pela paz.

Recentemente, alguns encontros significativos fortaleceram os vínculos de boa vontade entre a Grécia e a Santa Sé. Em continuidade com o Ano Jubilar de 2000, o meu venerado predecessor João Paulo II visitou o seu país no âmbito da peregrinação pelo caminho de São Paulo. Essa visita causou uma série de intercâmbios de delegações Ortodoxas e Católicas entre Roma e Atenas. Em 2006, tive a felicidade de receber o seu Presidente aqui no Vaticano, e fui honrado pela visita de Sua Beatitude Christodoulos, cuja morte recente os cristãos do seu país e todo o mundo ainda choram. Rezo ao Senhor para que conceda a esse dovoto pastor o descanso dos seus trabalhos e abençoe os seus corajosos esforços no sentido de colmatar a ruptura entre os Cristãos do Oriente e do Ocidente. Aproveito esta ocasião para transmitir ao novo Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, Sua Beatitude Ieronymos, os meus sinceros e fraternais auspícios de paz, juntamente com a garantia das minhas preces constantes pelo seu frutuoso ministério e pela sua boa saúde.

Aproveito também a ocasião para reiterar o meu desejo intenso de cooperar com ele, à medida que percorremos juntos o caminho rumo à unidade dos cristãos. Neste contexto, Vossa Excelência sublinhou os sinais de esperança que emergiram dos encontros ecuménicos que tiveram lugar nas últimas décadas. Eles não só reafirmaram o que Católicos e Ortodoxos têm em comum, mas abriram também as portas a debates mais profundos sobre o significado exacto da unidade da Igreja. Sem dúvida, serão requeridas honestidade e confiança de todas as partes se quisermos que as perguntas importantes, fruto deste diálogo, continuem a ser tratadas com eficácia. Somos encorajados pelo "novo espírito" de amizade que tem caracterizado os nossos colóquios, convidando todos os participantes a uma conversão e oração permanentes, porque só assim podemos garantir que os cristãos um dia obterão a unidade pela qual Jesus orou com fervor (cf.
Jn 17,21).

O iminente Jubileu dedicado ao segundo milénio do nascimento de São Paulo, será uma ocasião particularmente propícia para a intensificação dos nossos esforços ecuménicos, porque Paulo foi um homem que "se prodigalizou pela unidade e pela harmonia de todos os cristãos" (cf. Homilia nas Vésperas da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, 28 de Junho de 2007). Este brilhante "Apóstolo dos Gentios" dedicou as suas energias à pregação da sabedoria da cruz de Cristo ao povo grego, plasmado pela requintada cultura Helénica. E porque a memória de Paulo está eternamente enraizada no seu solo, a Grécia desempenhará um papel importante nesta celebração. Estou confiante de que os peregrinos que forem à Grécia para venerar os lugares sagrados relacionados com a sua vida e ensinamento, serão acolhidos com o caloroso espírito de hospitalidade pelo qual a sua nação se distingue.

O vibrante intercâmbio entre a cultura helénica e o cristianismo permitiu que a primeira fosse transformada pelo ensinamento cristão e a segunda enriquecida pela língua e filosofia gregas. Isto permitiu que os cristãos anunciassem o Evangelho com maior coerência e persuasão por todo o mundo. Também hoje, os visitantes de Atenas podem contemplar as palavras de Paulo agora inscritas no monumento situado diante do Areópago que foram proclamadas aos cidadãos cultos da polis.Ele falou do Deus único no qual "vivemos, nos movemos e existimos" (cf. Ac 17,16-34). A poderosa pregação de Paulo aos Coríntios sobre o mistério de Cristo, os quais muito estimavam a própria herança filosófica (cf. 1Co 2,5), abriu a sua cultura à benéfica influência da Palavra de Deus. As suas palavras ainda ressoam nos corações dos homens e mulheres de hoje. Elas podem ajudar os nossos contemporâneos a apreciar mais profundamente a própria dignidade dos homens, e assim promover o bem de toda a família humana. É minha esperança que o Ano Paulino se torne um catalizador que acenda a centelha da reflexão sobre a história da Europa, e desperte os seus habitantes para a redescoberta do inestimável tesouro de valores que herdaram, da sabedoria integral da cultura helénica e do Evangelho.

Senhor Embaixador, agradeço-lhe a confirmação da vontade do seu governo de resolver as questões administrativas que dizem respeito à Igreja Católica na sua nação. Entre elas, a questão do seu status jurídico é da maior importância. Os fiéis católicos, apesar de serem poucos, esperam ansiosos resultados favoráveis para estas deliberações. De facto, quando os responsáveis religiosos e as autoridades civis cooperam para elaborar uma legislação justa no que diz respeito à vida das comunidades eclesiais locais, melhoram o bem-estar espiritual dos crentes e o bem de toda a sociedade.

Na arena internacional, louvo os esforços da Grécia na promoção da paz e da reconciliação, especialmente na área adjacente à bacia mediterrânea. Os seus esforços para apaziguar as tensões e afastar as nuvens das dúvidas que impedem há muito tempo o caminho para uma coexistência plenamente harmoniosa na região, contribuirão para reacender o espírito de boa vontade entre os indivíduos e as nações.

Por fim, Senhor Embaixador, não posso deixar de relembrar a devastação causada pelos incêndios que se alastraram na Grécia no Verão passado. Continuo a recordar nas minhas preces aqueles que foram atingidos por este desastre, e peço a graça e a força de Deus sobre quantos estão comprometidos no processo de reconstrução. No momento em que assume as suas responsabilidades no seio da comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, ofereço-lhe os meus votos para o sucesso da sua missão e asseguro-lhe a completa colaboração da Cúria Romana no desempenho dos seus deveres. Invoco cordialmente sobre si e sobre o amado povo da Grécia as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



VIA CRUCIS NO COLISEU - SAUDAÇÃO

21308
Palatino

Sexta-feira Santa, 21 de Março de 2008


Queridos irmãos e irmãs

Também este ano repercorremos o caminho da cruz, a Via Crucis, reevocando com fé as etapas da Paixão de Cristo. Os nossos olhos viram de novo o sofrimento e a angústia que o nosso Redentor teve que suportar no momento da grande dor, que marcou o ápice da sua missão terrena. Jesus morre na cruz e jaz no sepulcro. O dia de Sexta-Feira Santa, tão impregnado de melancolia humana e de silêncio religioso, termina no silêncio da meditação e da oração. Voltando para casa, também nós como quantos assistiram ao sacrifício de Jesus, "batemos a mão no peito", pensando de novo no que aconteceu (cf.
Lc 23,48). Podemos porventura permanecer indiferentes face à morte de um Deus? Para nós, para a nossa salvação fez-se homem e morreu na cruz.

Irmãos e irmãs, dirijamos hoje para Cristo os nossos olhares muitas vezes distraídos por dispersões e efémeros interesses terrenos; detenhamo-nos a contemplar a sua Cruz. A Cruz é fonte de vida imortal, é escola de justiça e de paz, é património universal de perdão e de misericórdia; é prova permanente de um amor oblativo e infinito que levou Deus a fazer-se homem vulnerável como nós até morrer crucificado. Os seus braços pregados abrem-se para cada ser humano e convidam-nos a aproximar-nos d'Ele na certeza de que nos acolhe e nos estreita num abraço de ternura infinita: "E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim" (Jn 12,32).

Através do caminho doloroso da cruz os homens de todas as épocas, reconciliados e remidos pelo sangue de Cristo, tornaram-se amigos de Deus, filhos do Pai celeste. "Amigo!", assim chama Jesus a Judas e dirige-lhe o último dramático apelo à conversão; chama cada um de nós amigo porque é amigo verdadeiro de todos. Infelizmente nem sempre os homens conseguem compreender a profundidade deste amor ilimitado que Deus sente pelas suas criaturas. Para Ele não há diferença de raça nem de cultura. Jesus Cristo morreu para libertar toda a humanidade do desconhecimento de Deus, do cerco de ódio e vingança, da escravidão do pecado. A Cruz torna-nos irmãos.

Perguntamo-nos: que fizemos deste dom? Que fizemos da revelação do rosto de Deus em Cristo, da revelação do amor de Deus que vence o ódio? Muitos, também na nossa época, não conhecem Deus e não o podem encontrar em Cristo crucificado; muitos procuram um amor e uma liberdade que exclui Deus; tantos crêem que não precisam de Deus. Queridos amigos, depois de termos vivido juntos a paixão de Jesus, deixemos que esta noite o seu sacrifício na Cruz nos interpele; permitamos a Ele que ponha em crise as nossas certezas humanas; abramos-lhe o coração: Jesus é a Verdade que nos torna livres de amar. Não receemos! Morrendo, o Senhor salvou os pecadores, isto é, todos nós. O apóstolo Pedro escreve: Jesus "suportou os nossos pecados no Seu corpo sobre o madeiro, a fim de que, mortos para o pecado, vivêssemos para a justiça; pelas suas chagas fostes curados" (1P 2,24). Esta é a verdade da Sexta-Feira Santa: na cruz o Redentor restituiu-nos a dignidade que nos pertence, tornou-nos filhos adoptivos de Deus que nos criou à sua imagem e semelhança. Permaneçamos portanto em adoração diante da Cruz. Ó Cristo, Rei crucificado, concede-nos que Te conheçamos verdadeiramente, a alegria que desejamos, o amor que encha o nosso coração sequioso de infinito. Assim Te pedimos esta noite, Jesus, Filho de Deus, morto por nós na Cruz e ressuscitado no terceiro dia. Amém!


AOS MEMBROS DO XXVI CAPÍTULO GERAL DOS SALESIANOS DE DOM BOSCO Segunda-feira, 30 de Março de 2008

30308
Eminência
Queridos Membros do Capítulo-Geral
da Congregação Salesiana

É-me grato encontrar-me convosco hoje enquanto os vossos trabalhos capitulares já estão a chegar à sua fase conclusiva. Agradeço antes de tudo ao Reitor-Mor, Dom Pascual Chávez Villanueva, os sentimentos que expressou em nome de todos vós, confirmando a vontade da Congregação de trabalhar sempre com a Igreja e pela Igreja, em plena sintonia com o Sucessor de Pedro. Agradeço-lhe também o serviço generoso desempenhado no sexénio passado e apresento-lhe os meus bons votos pelo cargo que lhe acabou de ser renovado. Saúdo também os membros do novo Conselho Geral, que ajudarão o Reitor-Mor na sua tarefa de animação e de governo de toda a vossa Congregação.

Na mensagem dirigida no início dos vossos trabalhos ao Reitor-Mor, e por seu intermédio a vós Capitulares, eu tinha expressado algumas expectativas que a Igreja tem nos Salesianos e oferecido algumas considerações para o caminho da vossa Congregação. Hoje pretendo responder e aprofundar algumas destas indicações, também à luz do trabalho que estais a desempenhar. O vosso XXVI Capítulo Geral situa-se num período de grandes mudanças sociais, económicas, políticas; de acentuados problemas éticos, culturais e ambientais; de conflitos ainda sem solução entre etnias e nações. Neste nosso tempo existem, por outro lado, comunicações mais intensas entre os povos, novas possibilidades de conhecimento e de diálogo, um confronto mais vivo sobre os valores espirituais que dão sentido à existência. Em particular, os apelos que os jovens nos fazem, sobretudo as suas perguntas sobre os problemas básicos, fazem referência aos desejos intensos de vida plena, de amor autêntico, de liberdade construtiva que eles sentem. São situações que interpelam profundamente a Igreja e a sua capacidade de anunciar hoje o Evangelho de Cristo com toda a sua carga de esperança. Por isso faço vivos votos por que toda a Congregação salesiana, graças também aos resultados do vosso Capítulo Geral, possa viver com renovado impulso e fervor a missão pela qual o Espírito Santo, pela intervenção materna de Maria Auxiliadora, a suscitou na Igreja. Desejo hoje encorajar a vós e a todos os Salesianos a continuar pelo caminho desta missão, em plena fidelidade ao vosso carisma originário, no contexto já do iminente bicentenário do nascimento de Dom Bosco.

Com o tema "Da mihi animas, cetera tolle" o vosso Capítulo Geral propôs-se reavivar a paixão apostólica em cada Salesiano e em toda a Congregação. Isto ajudará a caracterizar melhor o perfil do Salesiano, de modo que ele se torne cada vez mais consciente da sua identidade de pessoa consagrada "para glória de Deus" e seja cada vez mais inflamado pelo impulso pastoral "para a salvação das almas". Dom Bosco quis que a continuidade do seu carisma na Igreja fosse garantida pela opção pela vida consagrada. Também hoje o movimento salesiano pode crescer em fidelidade carismática unicamente se no seu interior continua a permanecer um núcleo forte e vital de pessoas consagradas. Por isso, a fim de enrobustecer a identidade de toda a Congregação, o vosso primeiro compromisso consiste em fortalecer a vocação de cada Salesiano para viver em plenitude a fidelidade à sua chamada à vida consagrada. Toda a Congregação deve tender para ser continuamente "memória vivente do modo de ser e de agir de Jesus como verbo encarnado face ao Pai e aos irmãos" (Vita consecrata
VC 22). Cristo seja o centro da vossa vida! É preciso deixar-se alcançar por Ele e é preciso voltar a partir sempre d'Ele. Tudo o mais seja considerado "uma perda face à sublimidade do conhecimento de Jesus" e tudo seja considerado "esterco, a fim de ganhar Cristo" (Ph 3,8). Nasce daqui o amor fervoroso ao Senhor Jesus, a aspiração de se identificar com Ele assumindo os seus sentimentos e a forma de vida, o abandono confiante ao Pai, a dedicação à missão evangelizadora, que devem caracterizar todos os salesianos: eles devem sentir-se escolhidos para se porem no seguimento de Cristo obediente, pobre e casto, segundo os ensinamentos e os exemplos de Dom Bosco.

O processo de secularização, que aumenta nas culturas contemporâneas, infelizmente não poupa nem sequer as comunidades de vida consagrada. É preciso por isso vigiar sobre formas e estilos de vida que arriscam tornar débil o testemunho evangélico, ineficiente a acção pastoral e frágil a resposta vocacional. Por isso, peço-vos que ajudeis os vossos Irmãos a conservar e a reavivar a fidelidade à chamada. A oração dirigida por Jesus ao Pai antes da sua Paixão, para que guardasse no seu nome todos os discípulos que lhe tinha dado e para que nenhum deles se perdesse (cf. Jn 17,11-12), é válida em particular para as vocações de especial consagração. Para isto "a vida espiritual deve ocupar o primeiro lugar no programa" da vossa Congregação (Vita consecrata VC 93). A Palavra de Deus e a Liturgia sejam as fontes da espiritualidade salesiana! Em particular a lectio divina, praticada quotidianamente por todos os Salesianos, e a Eucaristia, celebrada todos os dias na comunidade, sejam o seu alimento e apoio. Daqui surgirá a espiritualidade autêntica da dedicação apostólica e da comunhão eclesial. A fidelidade ao Evangelho vivido sine glossa e à vossa Regra de vida, em particular um teor de vida austero e a pobreza evangélica praticada de modo coerente, o amor fiel à Igreja e a doação generosa de vós mesmos aos jovens, especialmente aos mais necessitados e desfavorecidos, serão garantia do florescimento da vossa Congregação.

Dom Bosco é um exemplo resplandecente de uma vida marcada pela paixão apostólica, vivida ao serviço da Igreja dentro da Congregação e da Família salesiana. Na escola de São José Cafasso, o vosso Fundador aprendeu a assumir o mote "Da mihi animas, cetera tolle" como síntese de um modelo de acção pastoral inspirado na figura e na espiritualidade de São Francisco de Sales. O horizonte no qual se coloca este modelo é o da primazia absoluta do amor de Deus, um amor que chega a plasmar personalidades fervorosas, desejosas de contribuir para a missão de Cristo, a fim de acender toda a terra com o fogo do seu amor (cf. Lc 12,49). Ao lado do fervor do amor de Deus, outra característica do modelo salesiano é a consciência do valor inestimável das "almas". Esta percepção gera, por contraste, um sentido agudo do pecado e das suas devastantes consequências no tempo e na eternidade. O apóstolo está chamado a colaborar na acção redentora do Salvador, para que ninguém se desvie. "Salvar as almas", segundo a palavra de São Pedro, foi portanto a única razão de vida de Dom Bosco. O Beato Michele Rua, seu primeiro sucessor, sintetizou assim toda a vida do vosso amado Pai e Fundador: "Não moveu passo algum, não pronunciou palavras, não empreendeu obras que não tivessem por finalidade a salvação da juventude... Realmente a sua única preocupação eram as almas". Assim o Beato Michele Rua falou de Dom Bosco.

Também hoje é urgente alimentar no coração de cada Salesiano esta paixão. Ele não terá assim receio de se mover com audácia nos âmbitos mais difíceis da acção evangelizadora a favor dos jovens, especialmente dos mais pobres material e espiritualmente. Terá a paciência e a coragem de propor aos jovens que vivam a mesma totalidade de dedicação na vida consagrada. Ele terá o coração aberto para encontrar as novas necessidades dos jovens e ouvir a sua invocação de ajuda, deixando eventualmente a outros os campos já consolidados de intervenção pastoral. O Salesiano enfrentará por isso as exigências totalizantes da missão com uma vida simples, pobre e austera, na partilha das mesmas condições dos pobres e terá a alegria de dar mais a quem na vida teve menos. A paixão apostólica far-se-á contagiosa e atrairá também outros. O Salesiano torna-se portanto promotor do sentido apostólico, ajudando antes de tudo os jovens a conhecer e a amar o Senhor Jesus, a deixar-se fascinar por Ele, a cultivar o compromisso evangelizador, a querer fazer o bem aos próprios coetâneos, e a ser apóstolos de outros jovens, como São Domingos Sávio, a Beata Laura Vicuña e o Beato Zeferino Namuncurá e os cinco jovens Beatos Mártires do oratório de Poznan. Queridos Salesianos, seja vosso compromisso formar leigos com um coração apostólico, convidando todos a caminhar na santidade de vida que faz amadurecer discípulos corajosos e apóstolos autênticos.

Na mensagem que dirigi ao Reitor-Mor no início do vosso Capítulo Geral quis entregar idealmente a todos os Salesianos a carta por mim recentemente enviada aos fiéis de Roma, sobre a preocupação daquela a que chamei uma grande emergência educativa. "Educar nunca foi fácil e hoje parece tornar-se cada vez mais difícil: por isso não poucos pais e professores se sentem tentados a renunciar à sua tarefa, e não conseguem sequer compreender qual seja, verdadeiramente, a missão que lhes está confiada. De facto, demasiadas incertezas e dúvidas circulam na nossa sociedade e na nossa cultura, demasiadas imagens deturpadas são veiculadas pelos meios de comunicação social. Assim, torna-se difícil propor às novas gerações algo de válido e de certo, regras de comportamento e objectivos pelos quais valha a pena dispender a própria vida" (Discurso na entrega à Diocese de Roma da Carta sobre a tarefa urgente da educação,23 de Fevereiro de 2008). Na realidade, o aspecto mais grave da emergência educativa é o sentido de desencorajamento que invade muitos educadores, em particular pais e professores, face às dificuldades que a sua tarefa hoje apresenta. De facto, assim escrevi na citada carta: "Alma da educação pode ser apenas uma esperança fiável. Hoje a nossa esperança é insidiada de muitas partes, e arriscamos de nos tornarmos nós também, como os antigos pagãos, homens "sem esperança e sem Deus neste mundo", como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos de Éfeso (2, 12). Nasce precisamente disto a dificuldade talvez mais profunda para uma verdadeira obra educativa: na raiz da crise da educação há de facto uma crise de confiança na vida", que, no fundo, não é mais do que desconfiança naquele Deus que nos chamou à vida. Na educação dos jovens é extremamente importante que a família seja um sujeito activo. Ela encontra-se muitas vezes em dificuldade ao enfrentar os desafios da educação; outras vezes é incapaz de oferecer a sua contribuição específica, ou então é ausente. A predilecção e o compromisso a favor dos jovens, que são característica do carisma de Dom Bosco, devem traduzir-se num igual compromisso pelo envolvimento e formação das famílias. Portanto, a vossa pastoral juvenil deve abrir-se decididamente à pastoral familiar. Ocupar-se das famílias não é subtrair forças ao trabalho pelos jovens, aliás é torná-lo mais duradouro e mais eficaz. Por isso encorajo-vos a aprofundar as formas deste compromisso, sobre o qual já vos encaminhastes; isto será também em benefício da educação e evangelização dos jovens.

Face a estas múltiplas tarefas é necessário que a vossa Congregação garanta, especialmente aos seus membros, uma formação sólida. A Igreja tem urgente necessidade de pessoas de fé sólida e profunda, de preparação cultural actualizada, de genuína sensibilidade humana e de grande sentido pastoral. Ela necessita de pessoas consagradas, que dediquem a sua vida a estar nestas fronteiras. Só assim se tornará possível evangelizar eficazmente. Anunciar o Deus de Jesus Cristo e assim a felicidade da vida. Portanto, a vossa Congregação deve dedicar-se a este compromisso formativo como sua prioridade. Ela deve continuar a formar com grande cuidado os seus membros sem se contentar com a mediocridade, superando as dificuldades da fragilidade vocacional, favorecendo um sólido acompanhamento espiritual e garantindo na formação permanente a qualificação educativa e pastoral.

Concluo dando graças a Deus pela presença do vosso carisma ao serviço da Igreja. Encorajo-vos na realização de metas que o vosso Capítulo Geral proporá a toda a Congregação. Garanto-vos a minha oração para a concretização do que o Espírito vos sugerir pelo bem dos jovens, das famílias e de todos os leigos comprometidos no espírito e na missão de Dom Bosco. Com estes sentimentos concedo agora a todos vós, em penhor de abundantes dons celestes, a Bênção Apostólica.






AOS MEMBROS DA "PAPAL FOUNDATION" Sala Clementina

40408
Sexta-feira, 4 de Abril de 2008



Caros irmãos Bispos
Queridos amigos em Cristo

Dou-vos uma calorosa saudação de boas-vindas, representantes da Papal Foundation, à medida em que continuamos a celebrar a gloriosa ressurreição de nosso Senhor durante este abençoado tempo pascal.

"Realmente, o Senhor ressuscitou!" esta foi a resposta dos Onze depois que os discípulos de Emaús, ao reconhecerem Jesus no partir o pão, correram para Jerusalém (cf.
Lc 24,33-40). O seu encontro com o Senhor Ressuscitado transformou o pesar em alegria, a desilusão em esperança. O seu testemunho de fé, alimenta a nossa firme convicção de que Jesus vive no meio de nós, concedendo os dons que nos fortalecem na missão de mensageiros de esperança no mundo de hoje. A verdadeira fonte do serviço de amor da Igreja, nos seus esforços para aliviar o sofrimento dos pobres e dos débeis, pode ser encontrada na fé inabalável de que o Senhor derrotou definitivamente o pecado e a morte; e que servindo aos seus irmãos e irmãs, ela sirva ao Senhor até que ele regresse na Sua glória (cf. Mt 25,31-46 Deus caritas est ).

Caros amigos, estou contente por ter esta ocasião para expressar a minha gratidão pelo generoso apoio oferecido pela Papal Foundation através de projectos e bolsas de estudo, apoios que me ajudam a realizar o Ministério Apostólico para a Igreja universal. Peço-vos as vossas orações, e prometo-vos as minhas. Que o vosso bom trabalho continue a multiplicar-se, garantindo aos nossos irmãos e irmãs a esperança certa de que Jesus nunca cessará de doar a sua vida por nós nos sacramentos, para que possamos prover às necessidades materiais e espirituais de toda a família humana (cf. Deus caritas est ).

Ao confiar a vós e aos vossos entes queridos à protecção da Bem-Aventurada Virgem Maria, concedo-vos a minha Bênção Apostólica como penhor de alegria e paz no Salvador Ressuscitado.



AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO INTERNACIONAL DE ESTUDOS SOBRE MATRIMÓNIO E FAMÍLIA Sala Clementina do Palácio Apostólico

50408
Sábado, 5 de Abril de 2008


Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos irmãos e irmãs!

É com grande alegria que me encontro convosco por ocasião do Congresso Internacional "O óleo sobre as feridas". Uma resposta às chagas do aborto e do divórcio, promovido pelo Pontifício Instituto João Paulo II para os Estudos sobre Matrimónio e Família, em colaboração com os Cavaleiros de Colombo. Congratulo-me convosco pela temática que é objecto das vossas reflexões destes dias, actual como nunca e complexa, e em particular pela referência à parábola do bom samaritano (
Lc 10,25-37), que escolhestes como chave para tratar as chagas do aborto e do divórcio, as quais causam tanto sofrimento na vida das pessoas, das famílias e da sociedade. Sim, verdadeiramente os homens e as mulheres dos nossos dias encontram-se por vezes despojados e feridos, às margens das estradas que percorremos, muitas vezes sem alguém que ouça o seu grito de ajuda e se aproxime do seu sofrimento, para o aliviar e curar. No debate, muitas vezes meramente ideológico, cria-se em relação a eles uma espécie de conspiração do silêncio. Só na atitude do amor misericordioso nos podemos aproximar para levar socorro e permitir que as vítimas se ergam e recomecem o caminho da existência.

Num contexto cultural marcado por um crescente individualismo, pelo hedonismo e, com muita frequência, também pela falta de solidariedade e de apoio social adequado, a liberdade humana, face às dificuldades da vida, é levada na sua fragilidade a decisões em contraste com a indissolubilidade do pacto conjugal ou com o respeito devido à vida humana acabada de conceber e ainda albergada no seio materno. Divórcio e aborto são opções de natureza certamente diferente, por vezes maturadas em circunstâncias difíceis e dramáticas, que com frequência causam traumas e são fonte de profundos sofrimentos para quem os pratica. Atingem também vítimas inocentes: a criança acabada de conceber e ainda não nascida, os filhos envolvidos na ruptura dos vínculos familiares. Em todos deixam feridas que marcam a vida indelevelmente. O juízo ético da Igreja em relação ao divórcio e ao aborto provocado é claro e conhecido por todos: trata-se de culpas graves que, em medida diversa e excluindo a avaliação das responsabilidades subjectivas, ofendem a dignidade da pessoa humana, implicam uma profunda injustiça nas relações humanas e sociais e ofendem o próprio Deus, garantia do pacto conjugal e autor da vida. E contudo a Igreja, a exemplo do seu Divino Mestre, tem sempre diante de si as pessoas concretas, sobretudo as mais débeis e inocentes, que são vítimas das injustiças e dos pecados, e também aqueles outros homens e mulheres, que tendo realizado tais actos se mancharam de culpas e levam consigo as feridas interiores, procurando a paz e a possibilidade de uma recuperação.

A Igreja tem o dever primário de se aproximar destas pessoas com amor e delicadeza, com solicitude e atenção materna, para anunciar a proximidade misericordiosa de Deus em Jesus Cristo. De facto é Ele, como ensinam os Padres, o verdadeiro Bom Samaritano, que se fez nosso próximo, que derrama o óleo e o vinho sobre as nossas chagas e que nos conduz à estalagem, a Igreja, na qual nos faz curar, confiando-nos aos seus ministros e pagando pessoal e antecipadamente pela nossa cura. Sim, o evangelho do amor e da vida é também sempre evangelho da misericórdia, que se dirige ao homem concreto e pecador que somos nós, para o levantar de qualquer queda, para o restabelecer de qualquer ferida. O meu amado predecessor, o Servo de Deus João Paulo II, do qual celebrámos há pouco o terceiro aniversário da morte, inaugurando o novo santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia disse: "Não existe para o homem outra fonte de esperança, fora da misericórdia de Deus" (17 de Agosto de 2002). A partir desta misericórdia a Igreja cultiva uma inexorável confiança no homem e na sua capacidade de retomada. Ela sabe que, com a ajuda da graça, a liberdade humana é capaz da doação de si definitiva e fiel, que torna possível o matrimónio de um homem e de uma mulher como pacto indissolúvel, que a liberdade humana também nas circunstâncias mais difíceis é capaz de extraordinários gestos de sacrifício e de solidariedade para acolher a vida de um novo ser humano. Assim pode-se ver que os "nãos" que a Igreja pronuncia nas suas indicações morais e sobre os quais por vezes se detém de modo unilateral a atenção da opinião pública, são na realidade grandes "sins" à dignidade da pessoa humana, à sua vida e à sua capacidade de amar. São a expressão da confiança constante que, apesar das suas debilidades, os seres humanos são capazes de corresponder à altíssima vocação para a qual foram criados: a de amar.

Naquela mesma ocasião, João Paulo II prosseguia: "É preciso transmitir ao mundo este fogo da misericórdia. Na misericórdia de Deus o mundo encontrará a paz". Insere-se aqui a grande tarefa dos discípulos do Senhor Jesus, que se descobrem companheiros de caminho de tantos irmãos, homens e mulheres de boa vontade. O seu programa, o programa do bom samaritano, é "um coração que vê. Este coração vê onde há necessidade de amor e actua em consequência" (Deus caritas est ). Nestes dias de reflexão e de diálogo inclinastes-vos sobre as vítimas atingidas pelas feridas do divórcio e do aborto. Antes de tudo verificastes os sofrimentos, por vezes traumáticos, que atingem os chamados "filhos do divórcio", marcando a sua vida a ponto de tornar o seu caminho muito mais difícil. De facto, é inevitável que quando se rompe o pacto conjugal quem sofre são sobretudo os filhos, que são o sinal vivo da sua indissolubilidade. A atenção solidária e pastoral deverá portanto ter por finalidade e fazer com que os filhos não sejam vítimas inocentes dos conflitos entre os pais que divorciam, que seja garantida na medida do possível a continuidade dos laços com os seus pais e também aquele relacionamento com as próprias origens familiares e sociais que é indispensável para um crescimento psicológico e humano equilibrado.

Dedicastes atenção também ao drama do aborto provocado, que deixa sinais profundos, por vezes indeléveis na mulher que o pratica e nas pessoas que a circundam, e que causa consequências devastadoras na família e na sociedade, também pela mentalidade materialista de desprezo da vida, que favorece. Quantas cumplicidades egoístas estão muitas vezes na origem de uma decisão sofrida que tantas mulheres tiveram que enfrentar sozinhas e da qual levam no coração uma ferida que ainda não se curou! Mesmo se quanto foi realizado permanece uma grave injustiça e não é em si remediável, faço minha a exortação dirigida, na Encíclica Evangelium vitae, às mulheres que recorreram ao aborto: "Não vos deixeis cair no desânimo, nem percais a esperança. Sabei, antes, compreender o que se verificou e interpretai-o em toda a sua verdade. Se não o fizestes ainda, abri-vos com humildade e confiança ao arrependimento: o Pai de toda a misericórdia espera-vos para vos oferecer o seu perdão e a sua paz no sacramento da Reconciliação. A este mesmo Pai e à sua misericórdia, podeis com esperança confiar o vosso menino" (n. 99).

Exprimo profundo apreço por todas estas iniciativas sociais e pastorais que são dirigidas à reconciliação e à cura das pessoas feridas pelo drama do aborto e do divórcio. Elas constituem, juntamente com tantas outras formas de compromisso, elementos essenciais para a construção daquela civilização do amor, da qual a humanidade, nunca como hoje, tem necessidade.

Ao implorar do Senhor Deus misericordioso que vos conforme cada vez mais com Jesus, Bom Samaritano, para que o seu Espírito vos ensine a ver com novos olhos a realidade dos irmãos que sofrem, vos ajude a pensar com critérios novos e vos estimule a agir com impulso generoso na perspectiva de uma autêntica civilização do amor e da vida, a todos concedo uma especial Bênção Apostólica.





Discursos Bento XVI 14308