Discursos Bento XVI 18518

ENCONTRO COM OS JOVENS NA PRAÇA MATTEOTTI DE GÉNOVA Domingo, 18 de Maio de 2008

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Caríssimos jovens!

Infelizmente a chuva persegue-me nestes dias, mas vejamo-la como sinal de bênção, de fecundidade para a terra, também como símbolo do Espírito Santo que vem e renova a terra, até a terra árida das nossas almas. Vós sois a juventude de Génova! Estou feliz por vos ver aqui! Abraço-vos com o coração de Cristo! Agradeço aos dois representantes que se fizeram vossos "porta-vozes". E agradeço a todos vós por todo o trabalho de preparação, não só exterior, mas sobretudo espiritual: com a adoração eucarística, a vigília de oração, assim fostes realmente ao encontro do Espírito Santo e, no Espírito, entrais na festa da Santíssima Trindade, que celebramos hoje. Obrigado por este caminho que fizestes! E agradeço-vos este entusiasmo que deve caracterizar a vossa alma não só nos anos juvenis, cheios de expectativas e de sonhos, mas sempre, também quando os anos da juventude tiverem passado e fordes chamados a viver outras estações. Mas no coração devemos permanecer todos jovens! É belo ser jovens e hoje todos querem ser jovens, permanecer jovens, e mascaram-se de jovens, mesmo se o tempo da juventude passou, passou visivelmente. E pergunto-me reflecti por que é belo ser jovem? Por que o sonho perene da juventude? Parece-me que há dois elementos determinantes. A juventude ainda tem todo o futuro diante de si, tudo é futuro, tempo de esperança. O futuro é cheio de promessas. Para ser sinceros, devemos dizer que para muitos o futuro também é obscuro, cheio de ameaças. Não sabemos: encontrarei um trabalho? Encontrarei casa? Encontrarei o amor? O que será o meu verdadeiro futuro? E face a estas ameaças, o futuro ainda pode parecer como um grande vazio.

Por isso hoje, muitos querem parar o tempo, receando um futuro vazio. Querem consumir imediatamente todas as belezas da vida. E assim o óleo na lâmpada arde, quando começaria a vida. Por isso é importante escolher as promessas verdadeiras, que abrem ao futuro, também com renúncias. Quem escolheu Deus, também na velhice tem um futuro sem fim e sem ameaças diante de si. Portanto, é importante escolher bem, não destruir o futuro. E a primeira opção fundamental deve ser Deus, Deus que se revelou no Filho, Jesus Cristo, e na luz desta opção, que nos oferece ao mesmo tempo uma companhia no caminho, uma companhia de confiança que nunca nos deixa, na luz desta opção encontram-se os critérios para as outras escolhas necessárias. Ser jovem implica ser bom e generoso. E de novo a bondade em pessoa é Jesus Cristo. Aquele Jesus que vós conheceis ou que o vosso coração procura. Ele é o Amigo que nunca trai, fiel ao dom da vida na cruz. Cedei ao seu amor! Como tendes escrito nas t-shirts preparadas para este encontro: "derretei-vos" diante de Jesus, porque só Ele pode derreter as vossas ansiedades e os vossos receios e preencher as vossas expectativas. Ele deu a vida por vós, por todos nós. Poderia porventura atraiçoar a vossa confiança? Poderia Ele guiar-vos por veredas erradas? Os seus caminhos são os da vida, os que levam aos prados da alma, mesmo se se elevam para o alto e são ousados. É a vida espiritual que vos convido a cultivar, queridos amigos. Jesus disse: "Eu sou a videira e vós sois os ramos. Quem permanece em Mim e Eu nele, dará muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer" (
Jn 15,5).Jesus não faz rodeios de palavras, é claro e directo. Todos o compreendem e tomam uma posição. A vida da alma é encontro com Ele, Rosto concreto de Deus; é oração silenciosa e perseverante, é vida sacramental, é Evangelho meditado, é acompanhamento espiritual, é pertença cordial à Igreja, às vossas comunidades eclesiais.

Mas como se pode amar, entrar na amizade com quem não se conhece? O conhecimento leva ao amor e o amor estimula o conhecimento. É assim também com Cristo. Para encontrar o amor com Cristo, para o encontrar realmente como companheiro da nossa vida, devemos antes de tudo conhecê-lo. Como aqueles dois discípulos que o seguem depois das palavras do Baptista e dizem timidamente: "Rabbì, onde moras?", querem conhecê-lo de perto. É o mesmo Jesus que, falando com os discípulos, distingue: "Quem diz o povo que Eu sou?", referindo-se àqueles que o conhecem de longe, por assim dizer, "indirectamente", e "Quem dizeis vós que Eu sou?", referindo-se a quantos o conhecem "directamente", tendo vivido com Ele, tendo entrado realmente na sua vida muito pessoal até serem testemunhas da sua oração, do seu diálogo com o Pai. Assim também para nós é importante não nos limitarmos à superficialidade dos muitos que ouviram alguma coisa acerca d'Ele que era uma grande personalidade... mas entrar numa relação pessoal para o conhecer realmente. E isto exige o conhecimento da Escritura, sobretudo dos Evangelhos, onde o Senhor fala connosco. Estas palavras nem sempre são fáceis, mas entrando nelas, entrando no diálogo, batendo à porta das palavras, dizendo ao Senhor "Abre-me", encontramos realmente palavras de vida eterna, palavras vivas para hoje, actuais como eram naquele momento e como o serão no futuro. Este diálogo com o Senhor nas Escrituras deve ser sempre também um diálogo não só individual, mas de comunhão, na grande comunhão da liturgia, do encontro muito pessoal da Santa Eucaristia e do sacramento da Reconciliação, onde o Senhor diz a mim "Perdoo-te". E também um caminho muito importante é ajudar os pobres necessitados, ter tempo para o próximo. Existem tantas dimensões para entrar no conhecimento de Jesus. Naturalmente também as vidas dos Santos. Tendes aqui na Ligúria tantos Santos, e em Génova, que nos ajudam a encontrar o verdadeiro rosto de Jesus. Só assim, conhecendo pessoalmente Jesus, podemos também comunicar esta nossa amizade aos outros. Podemos superar a indiferença. Porque também se parece invencível na realidade, algumas vezes a indiferença parece que não precisa de um Deus na realidade, todos sabem que falta algo na sua vida. Só descobrindo Jesus, se dão conta: "Era isto que eu esperava". E nós, quanto mais somos realmente amigos de Jesus, tanto mais podemos abrir o coração também aos outros, para que também eles se tornem verdadeiramente jovens, isto é, tendo diante de si um grande futuro.

No final do nosso encontro terei a alegria de entregar o Evangelho a alguns de vós como sinal de um mandato missionário. Ide, caríssimos jovens, aos ambientes de vida, às vossas paróquias, aos bairros mais difíceis, pelas ruas! Anunciai Cristo Senhor, esperança do mundo. Quanto mais o homem se afasta de Deus, a sua Fonte, tanto mais se perde a si mesmo, a convivência humana torna-se difícil, e a sociedade desmorona-se. Permanecei unidos entre vós, ajudai-vos a viver e a crescer na fé e na vida cristã, para poderdes ser testemunhas destemidas do Senhor. Permanecei unidos, mas não vos fecheis. Sede humildes, mas não medrosos. Sede simples, mas não ingénuos. Sede reflexivos, mas não complicados. Entrai no diálogo com todos, mas sede vós mesmos. Permanecei em comunhão com os vossos Pastores: são ministros do Evangelho, da divina Eucaristia, do perdão de Deus. São para vós pais e amigos, companheiros no vosso caminho. Vós precisais deles, e eles todos nós precisamos de vós.

Cada um de vós, queridos jovens, se permanecer unido a Cristo e à Igreja pode realizar coisas grandiosas. São estes os votos que vos deixo como uma recomendação. Digo adeus até Sidney a quantos se inscreveram para participar no Encontro mundial de Julho, e faço-o extensivo a todos, porque quem quiser poderá seguir o acontecimento também daqui. Sei que naqueles dias as dioceses organizarão propositadamente momentos comunitários, para que se verifique verdadeiramente um novo Pentecostes sobre os jovens do mundo inteiro. Confio-vos à Virgem Maria, modelo de disponibilidade e de coragem humilde no acolhimento da missão do Senhor. Aprendei dela a fazer da vossa vida um "sim" a Deus! Assim Jesus virá habitar entre vós, e levá-lo-eis com alegria a todos. Com a minha Bênção!



EXORTAÇÃO AOS CÓNEGOS E AOS CONSAGRADOS DURANTE O ENCONTRO NA CATEDRAL DE SÃO LOURENÇO EM GÉNOVA Domingo, 18 de Maio de 2008

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Senhores Cardeais
Estimados membros do Cabido da Catedral
Queridos religiosos e religiosas

Nesta breve mas intensa visita pastoral a Génova não podia faltar um encontro na vossa insigne Catedral, dedicada a São Lourenço, que conserva as relíquias do Precursor de Jesus, São João Baptista. E sinto-me feliz por me encontrar com os Cónegos do venerado Cabido Metropolitano e com os religiosos e as religiosas presentes e activos na Arquidiocese. Este templo, circundado por muitas ruelas, parece ser o ponto de confluência e de chegada de todos os caminhos: como se da sombra das ruas estreitas os homens quisessem sair à luz da sua Catedral, desejassem sair à luz de Deus que a todos acolhe, abraça, ilumina e restabelece. A cada um de vós, a minha cordial saudação. Dirijo uma saudação especial a Mons. Mário Grone, Presidente do Cabido da Catedral, e ao Padre Domenico Rossi, Delegado diocesano para a Vida Consagrada, que se fizeram intérpretes dos vossos devotos sentimentos.

Nos séculos passados, a Igreja de Génova conheceu uma rica tradição de santidade e de generoso serviço aos irmãos, graças à obra de zelosos sacerdotes, religiosos e religiosas de vida activa e contemplativa. Aqui, voltam à mente os nomes de vários santos e beatos: António Maria Gianelli, Agostinho Roscelli, Tomás Reggio, Francesco Maria de Camporosso, Catarina Fieschi Adorno, Virgínia Centurione Bracelli, Paula Frassinetti, Eugénia Ravasco, Maria Repetto e Benedita Cambiagio Frassinello. Mas também agora, apesar das dificuldades que a sociedade está a atravessar, nas vossas comunidades é forte a paixão evangelizadora. Em particular, aumentou o desejo comum de estabelecer relações de entendimento cada vez mais fraterno para colaborar na acção missionária promovida em toda a Arquidiocese. Com efeito, seguindo as orientações da Conferência Episcopal Italiana, desejais pôr-vos em estado de missionariedade permanente, como testemunho da alegria do Evangelho e como convite explícito dirigido a todos, a fim de que encontrem Jesus Cristo. Queridos amigos, eis-me no meio de vós para vos encorajar a caminhar nesta direcção.

De modo particular, gostaria de vos indicar como exemplo o Apóstolo Paulo, de quem nos preparamos para celebrar um Jubileu especial, por ocasião do bimilenário do nascimento. Convertendo-se a Cristo no caminho de Damasco, ele dedicou-se inteiramente à causa do Evangelho. Por Cristo, enfrentou provas de todos os tipos, permanecendo-lhe fiel até ao sacrifício da própria vida. Quando já chegava ao final da sua peregrinação terrena, assim escrevia ao seu fiel discípulo Timóteo: "Quanto a mim, estou pronto para o sacrifício; e o tempo da minha partida já se aproxima. Combati o bom combate, terminei a minha carreira e guardei a fé" (
2Tm 4 2Tm 6-7). Caros irmãos e irmãs, que cada um de nós possa dizer a mesma coisa no dia conclusivo da sua vida. Para que isto não aconteça, e é quanto o Senhor espera dos seus amigos, é necessário que cultivemos o mesmo espírito missionário que animou São Paulo com uma constante formação espiritual, ascética e pastoral. É preciso, sobretudo, que nos tornemos "especialistas" da escuta de Deus e exemplos credíveis de uma santidade que se traduza em fidelidade ao Evangelho sem sucumbir ao espírito do mundo. Como pôde escrever o Cardeal Giuseppe Siri, zeloso Pastor desta Arquidiocese durante várias décadas, e agora sepultado nesta vossa Catedral, "a vida religiosa move-se ao redor de Deus, tudo dispõe à volta de Deus e portanto torna-se um testemunho de Deus e a evocação de Deus" (Carta a todas as religiosas orantes e activas na Diocese de Génova, sobre o Congresso do "Culto ao Senhor", 15 de Agosto de 1953).

Dilectos membros do Cabido dos Cónegos da Catedral, ao cuidardes das acções litúrgicas que aqui se realizam, vós recordais que tudo em nós haure vigor da oração pessoal e litúrgica. É ainda o Cardeal Siri que sublinha o facto de que "a acção mais veneranda e mais santa, digna de toda a consideração e reconhecimento, de toda a honra e distinção que se realiza numa diocese é a solene celebração do Ofício Divino, ou seja, aquilo que vós fazeis... Toda a diocese, e num certo sentido a Igreja inteira, reza através dos vossos lábios. A dívida da família diocesana dos fiéis é paga a Deus antes de tudo mediante esta vossa oração" (Rumo ao Congresso do "Culto ao Senhor". Carta Pastoral aos Cónegos, 24 de Janeiro de 1953).

Caríssimos irmãos e irmãs, agradeço-vos em particular a vós, pessoas consagradas, a vossa presença. É uma presença antiga e sempre nova, apesar da diminuição dos números e das forças. Mas tende confiança: os nossos tempos não são os tempos de Deus e da sua Providência. É necessário rezar e crescer na santidade pessoal e comunitária. O Senhor provê. Peço-vos que jamais vos considereis como se estivésseis no "crepúsculo" da vida: Cristo é a aurora perene, a nossa luz. Peço-vos que deis continuidade às vossas obras, mas sobretudo à vossa presença: a falta das vossas comunidades empobrece a vós, mas também Génova. Os pobres, os doentes, as famílias, as crianças e as nossas paróquias, tudo é um precioso campo de serviço e de dom para construir a Igreja e servir os homens. Recomendo-vos sobretudo a educação dos adolescentes e dos jovens: vós sabeis que o desafio educativo é o mais urgente, porque sem uma autêntica educação do homem não se pode ir longe. E todos vós, embora de modos diferentes, tendes uma histórica experiência educativa. Temos que ajudar os pais na sua extraordinária e difícil tarefa de educação; temos que ajudar as paróquias e os grupos; temos que dar continuidade, mesmo com enormes sacrifícios, às escolas católicas, grande tesouro da comunidade cristã e verdadeiro recurso para o país.

Caros Cónegos, estimados religiosos e religiosas, a longa tradição espiritual de Génova conta com seis Papas, dos quais recordo sobretudo Bento XV, de venerada memória, o Papa da paz. Na sua Humani generis redemptionem, ele escrevia que "aquilo que torna a palavra humana capaz de beneficiar as almas é a graça de Deus". Nunca o esqueçamos: o que a todos nos irmana é o facto de sermos chamados a anunciar em conjunto a alegria de Cristo e a beleza da Igreja. Esta alegria e esta beleza, que derivam do Espírito, constituem uma dádiva e um sinal da presença de Deus nas nossas almas. Para sermos testemunhas e arautos da mensagem salvífica, não podemos contar unicamente com as nossas energias humanas. É a fidelidade a Deus que estimula e conforma a nossa fidelidade a Ele: por este motivo, deixemo-nos orientar pelo Espírito da verdade e do amor. Este é o convite que dirijo a cada um de vós, corroborando-o com uma especial lembrança na oração. Confio todos vós a Nossa Senhora da Guarda, a São Lourenço, a São João Baptista e aos vossos Santos Padroeiros. Com estes sentimentos, abençoo-vos de coração.




AOS MEMBROS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA ALBÂNIA POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sexta-feira, 23 de Maio de 2008

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Venerados e queridos Irmãos

É com grande alegria que vos recebo todos juntos, ao realizardes a vossa peregrinação ad limina Apostolorum. Trata-se de uma ocasião oportuna para o Sucessor de Pedro compartilhar os afãs apostólicos que estais a enfrentar na amada terra da Albânia. Saúdo-vos com afecto e agradeço-vos a espontânea abertura do vosso espírito, mediante a qual explicastes ao Papa a complexa realidade da Igreja na Albânia, com as suas dificuldades e as suas esperanças. Manifesto um particular reconhecimento pelas palavras com que, reunindo o pensamento de todos, o Presidente da vossa Conferência Episcopal me exprimiu os vossos sentimentos. Obrigado, meus queridos irmãos no Episcopado! E sede bem-vindos!

Todos conhecem a triste herança deixada na Albânia por um passado regime ditatorial, que tinha proclamado o ateísmo como ideologia de Estado. É evidente que um semelhante delineamento antidemocrático dos relacionamentos entre os cidadãos vos deixou uma tarefa não fácil, já no plano humano: a missão de redescobrir uma gramática conjunta, que possa novamente sustentar o edifício social. Mas vós, sucessores dos Apóstolos, sois chamados sobretudo a tornar-vos testemunhas de uma outra herança, particularmente benéfica e construtiva, a herança da mensagem de salvação que Cristo trouxe ao mundo. Neste sentido, depois da noite obscura da ditadura comunista, incapaz de compreender o povo albanês nas suas tradições atávicas, providencialmente a Igreja conseguiu renascer, graças também ao vigor apostólico do meu venerado Predecessor, o Servo de Deus João Paulo II, que vos visitou em 1993, reconstituindo de modo estável a Hierarquia católica, para o bem dos fiéis e em vantagem do povo albanês.

Um dos primeiros gestos do grande Pontífice foi o reconhecimento dos heróis da fé: recordo aqui, de maneira particular, o maravilhoso testemunho do Cardeal Koliqi, corifeu de uma numerosa plêiade de mártires. A reconstrução da Hierarquia católica constituiu o necessário reconhecimento da íntima união que vincula o vosso povo a Cristo e contribuiu para dar espaço às novas forças do catolicismo na terra da Albânia. Vós sois os guardiães deste vínculo, e cabe sobretudo a vós a tarefa de promover nos vossos gestos e nas vossas iniciativas aquela unidade que deve manifestar o mistério basilar e vivificador do único Corpo de Cristo, em comunhão com o ministério do Sucessor de Pedro. Nesta perspectiva, não se pode deixar de ver como é necessário o sentimento comum e a co-responsabilidade compartilhada dos Bispos, precisamente para enfrentar de modo eficaz os problemas e as dificuldades da Igreja que está na Albânia. Como se poderia imaginar um percurso diocesano que não tivesse em consideração o parecer dos demais Bispos, cujo consenso é necessário para responder de forma adequada às expectativas do único povo ao qual a Igreja se dirige?

O entendimento cordial e fraterno entre os Pastores não pode deixar de trazer grande benefícios ao amado povo albanês, tanto a nível social como nos planos ecuménico e inter-religioso. Por conseguinte, venerados irmãos, sede um só em Cristo, quando anunciais o Evangelho e celebrais os Mistérios divinos; manifestai a comunhão com a Igreja universal, na sua vasta e genuína fraternidade episcopal. Seria inconcebível a iniciativa de um Pastor que, na abordagem a situações concretas, não se preocupasse em coordenar o próprio compromisso com o dos seus irmãos Bispos. Existem questões específicas, referíveis a problemas contingentes, que necessariamente devem ser resolvidos com a contribuição de todos, nos âmbitos da caridade e da paciência pastoral. Exorto todos vós à prudência evangélica, em atitude de caridade autêntica, recordando que os cânones eclesiais constituem instrumentos para promover de maneira ordenada a comunhão em Cristo e o bem superior do único rebanho do Redentor. Isto diz respeito também às actividades evangelizadoras e catequéticas, enquanto se exprime mediante o compromisso no âmbito social. Penso de forma particular na assistência à saúde, na educação, no esforço de pacificação dos espíritos e em tudo aquilo que favorece a colaboração positiva entre os diferentes componentes da sociedade e as respectivas tradições religiosas.

O fenómeno da emigração, tanto dentro como fora do país, coloca-vos diante de graves problemas pastorais, que interpelam o vosso coração de Bispos, não somente no que diz respeito aos fiéis que vivem no vosso território, mas também no que se refere aos fiéis da diáspora. Isto chama em causa a vossa capacidade de dialogar com os vossos irmãos dos outros países, com a finalidade de oferecer uma ajuda pastoral necessária e urgente. Conheço a dificuldade de não poucos dos vossos sacerdotes, que trabalham em condições precárias, comprometidos em prestar o devido serviço ministerial aos fiéis católicos de origem albanesa em terra estrangeira. Isto honra-vos, estimados irmãos, a vós que vos demonstrais solícitos segundo o Coração de Cristo pelas condições espirituais da vossa população, mesmo fora dos confins da pátria. E isto honra também os sacerdotes que, generosamente, compartilham os vossos anseios pastorais.

Alem disso, existem numerosos problemas de ordem prática, para os quais é inclusivamente necessária a contribuição eficaz das instâncias civis, mediante propostas que não respondam unicamente a preocupações de natureza política, mas que tenham em consideração também situações sociais concretas. Sob o ponto de vista católico, tanto na pátria como no contexto da emigração, deveria sobressair uma atenção que, mesmo preservando a identidade específica do vosso povo, não descuide a sua inserção nos contextos sociais de chegada. Nesta perspectiva é necessário cultivar, principalmente nos presbíteros destinados ao cuidado pastoral dos emigrados, uma profunda sensibilidade pela pertença de todos ao único Corpo de Cristo, que é idêntico em todas as regiões da terra. Venerados Irmãos, dizer isto significa reiterar a necessidade persistente de uma atenção constante a favor de quantos o Senhor chama ao seu seguimento. Por conseguinte, a solicitude pela promoção das vocações seja sempre uma preocupação que ocupe o primeiro lugar das vossas prioridades: é disto que depende o porvir da Igreja na Albânia.

Enfim, desejo manifestar as minhas felicitações pelos acordos assinados recentemente com as Autoridades da República: formulo votos a fim de que estas providências possam favorecer a reconstrução espiritual do país, considerando o papel positivo que a Igreja desempenha no seio da sociedade. Quanto a mim, encorajo-vos a dar continuidade ao vosso ministério, para cumprir os programas sobre os quais concordastes conjuntamente. Enquanto vos confio à intercessão celestial de Maria, Mãe do Bom Conselho, é de bom grado que vos concedo, assim como aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais, uma particular Bênção Apostólica.




AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO ORGANIZADO PELO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS NAS UNIVERSIDADES CATÓLICAS Sexta-feira, 23 de Maio de 2008

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Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres Senhores, gentis Senhoras

Estou verdadeiramente feliz por dar as boas-vindas a todos vós académicos e educadores das instituições católicas de cultura superior reunidos em Roma para reflectir, juntamente com os componentes do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, sobre a identidade e a missão da Faculdade da comunicação nas Universidades católicas. Através de vós, desejo saudar os vossos colegas, os vossos estudantes e todos aqueles que fazem parte da Faculdade que vós representais. Dirijo um agradecimento especial ao vosso Presidente, D. Cláudio Celli, pelas amáveis palavras de homenagem que me transmitiu. Juntamente com ele, saúdo os Secretários e o Subsecretário do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais.

As várias formas de comunicação diálogo, oração, ensinamento, testemunho e proclamação e os seus diversos instrumentos imprensa, electrónica, artes visuais, música, voz, gestualidade e contacto são todas manifestações da natureza fundamental da pessoa humana. É a comunicação que revela a pessoa, que cria relações autênticas e comunidades, e que permite aos seres humanos amadurecer no conhecimento, na sabedoria e no amor. Todavia, a comunicação não é o simples produto de um puro e fortuito caso, ou das nossas capacidades humanas; à luz da mensagem bíblica, ela reflecte principalmente a nossa participação no Amor trinitário criativo, comunicativo e unificador, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Deus criou-nos para estarmos unidos a Ele e transmitiu-nos o dom e a tarefa da comunicação, porque Ele quer que alcancemos esta união, não sozinhos, mas através do nosso conhecimento, do nosso amor e do nosso serviço a Ele e aos nossos irmãos e irmãs, num relacionamento comunicativo e amoroso.

É evidente que no âmago de qualquer reflexão séria sobre a natureza e a finalidade das comunicações humanas deve haver um compromisso nas questões da verdade. O comunicador pode procurar informar, educar, divertir, convencer e confortar; mas o valor final de qualquer comunicação está na sua verdade. Numa das primeiras reflexões acerca da natureza da comunicação, Platão já evidenciava os perigos de qualquer tipo de comunicação que procura promover os objectivos e as finalidades do comunicador ou aqueles nos quais ele está comprometido, sem consideração pela verdade daquilo que é comunicado. Não é menos importante recordar a ponderada definição do orador, feita por Catão, o Velho: vir bonus dicendi peritus, um homem bom ou honesto, perito em comunicação. Por sua própria natureza, a arte da comunicação está ligada a um valor ético, às virtudes que constituem o fundamento da moralidade. É à luz desta definição que vos encorajo, como educadores, a alimentar e recompensar aquela paixão pela verdade e pela bondade, que nos jovens é sempre vigorosa. Ajudai-os a entregar-se plenamente à busca da verdade. No entanto, ensinai-lhes outrossim que a sua paixão pela verdade, que pode ser bem servida por um certo cepticismo metodológico, particularmente no que se refere a questões relativas ao interesse público, não pode ser desvirtuada, transformando-se num cinismo relativista em que todas as reivindicações de verdade e de beleza são sistematicamente rejeitadas ou ignoradas.

Encorajo-vos a prestar mais atenção aos programas académicos no campo dos mass media, nomeadamente às dimensões éticas da comunicação entre as pessoas, num período em que o fenómeno da comunicação assume um lugar cada vez mais vasto em todos os ambientes sociais. É importante que esta formação jamais seja vista como um simples exercício técnico ou como o puro desejo de transmitir informações; é oportuno que ela seja sobretudo um convite a promover a verdade na informação e a levar os nossos contemporâneos a reflectir acerca dos acontecimentos, com a finalidade de ser educadores dos homens de hoje e de construir um mundo melhor. É também necessário promover a justiça e a solidariedade, e respeitar em todas as circunstâncias o valor e a dignidade de cada pessoa, que também tem o direito de não ser ferida no que diz respeito à sua vida particular.

Seria uma tragédia para o futuro da humanidade, se os novos instrumentos de comunicação, que permitem compartilhar o conhecimento e a informação de maneira mais rápida e eficaz, não fossem acessíveis àqueles que já se encontram marginalizados económica e socialmente, ou se simplesmente contribuíssem para aumentar a distância que já separa tais pessoas das novas redes que estão a desenvolver-se ao serviço da socialização humana, da informação e da aprendizagem. Por outro lado, seria igualmente grave que a tendência globalizadora no mundo das comunicações debilitasse ou chegasse a eliminar os costumes tradicionais e as culturas locais, de maneira especial aqueles que conseguiram fortalecer os valores familiares e sociais, o amor, a solidariedade e o respeito pela vida. Neste contexto, desejo manifestar o meu apreço às comunidades religiosas que, não obstante os elevados custos financeiros ou os inúmeros recursos humanos, abriram Universidades católicas nos países em fase de desenvolvimento, e apraz-me ver que hoje estas instituições estão aqui representadas. Os seus esforços asseguram aos países em que se encontram, o benefício da colaboração de homens e de mulheres jovens que recebem uma profunda formação profissional, inspirada na ética cristã, que promove a educação e o ensino como um serviço a toda a comunidade. Valorizo de maneira particular o seu compromisso em vista de oferecer a todos uma educação esmerada, independentemente da raça, condição social ou credo, que constitui a missão da Universidade católica.

Nestes dias, vós estais a examinar em conjunto a questão da identidade de uma Universidade ou de uma Escola católica. A este propósito, gostaria de recordar que tal identidade não é simplesmente uma questão de número de estudantes católicos; é acima de tudo um problema de convicção, ou seja, trata-se de acreditar verdadeiramente que é só no mistério do Verbo feito carne que se esclarece o mistério do homem. A consequência é que a identidade católica reside em primeiro lugar na decisão de se confiar pessoalmente intelecto e vontade, mente e coração a Deus. Como peritos na teoria e na prática da comunicação e como educadores que estão a formar uma nova geração de comunicadores, vós desempenhais um papel privilegiado não apenas na vida dos vossos estudantes, mas inclusive na missão das vossas Igrejas locais e dos seus Pastores, para fazer com que todos os povos cheguem a conhecer a Boa Nova do amor de Deus.

Caríssimos, ao confirmar o meu apreço por este sugestivo encontro convosco, que abre o coração à esperança, desejo assegurar-vos que sigo as vossas preciosas actividades mediante a oração e que as acompanho com uma especial Bênção Apostólica, que de coração torno extensiva a todas as pessoas que vos são queridas.




À DELEGAÇÃO DA EX-REPÚBLICA JUGOSLAVA DA MACEDÓNIA NA ANUAL FESTA DOS SANTOS CIRILO E METÓDIO Sábado, 24 de Maio de 2008

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Senhor Presidente do Governo
Ilustres membros do Governo
Distintas Autoridades
Venerados Irmãos Representantes
da Igreja Ortodoxa
e da Igreja Católica

A anual festa dos Santos Cirilo e Metódio trouxe-vos a Roma, onde estão conservadas as relíquias de São Cirilo, e sinto-me feliz por vos receber e por dirigir a cada um de vós uma cordial saudação. Formulo bons votos a fim de que o vosso país "percorra os caminhos da concórdia e da fraternidade", esforçando-se por seguir com um compromisso cada vez mais generoso o exemplo dos Santos Irmãos de Salonica. Animados por uma fé fervorosa, eles difundiram a mãos-cheias na Europa os gérmens da fé cristã, promotora de valores e obras ao serviço do bem do homem e da sua dignidade. O seu ensinamento eficaz permanece actual e é fonte de inspiração para quantos tencionam colocar-se ao serviço do Evangelho, assim como para os Responsáveis pelo bem comum das nações.

Os Santos Padroeiros da Europa, com a sua incessante actividade apostólica e com o seu incansável zelo missionário, tornaram-se "pontes" de ligação entre o Oriente e o Ocidente. O seu luminoso testemunho espiritual indica uma verdade perene que deve ser redescoberta cada vez mais, ou seja, somente a partir de Deus a esperança pode tornar-se confiável e segura. Como escrevi na Encíclica Spe salvi, "quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida (cf. Ef
Ep 2,12)". Em seguida, acrescentei: "A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as desilusões, só pode ser Deus o Deus que nos amou, e ama ainda agora "até ao fim", "até à plena consumação" (cf. 19, 30)" (n. 27). Esta esperança torna-se uma realidade tangível, quando as pessoas de boa vontade em todas as regiões do mundo, como os Irmãos Cirilo e Metódio, imitando o exemplo de Jesus e fiéis ao seu ensinamento, dedicam-se incansavelmente a lançar os fundamentos da convivência amistosa entre os povos, no respeito pelos direitos de cada um e promovendo o bem de todos.

Obrigado por esta vossa visita, que se insere no contexto da vossa peregrinação anual a Roma: trata-se de um gesto de veneração aos Santos Cirilo e Metódio e, ao mesmo tempo, de um sinal eloquente dos vínculos de amizade que distinguem os relacionamentos entre a vossa nação e a Igreja católica. Faço votos de coração para que estes laços se revigorem cada vez mais, favorecendo atitudes de fecunda cooperação em vantagem de todo o vosso país. Queira Deus Todo-Poderoso cumular a vossa mente e o vosso coração com a sua paz, e que Ele abençoe copiosamente o povo da ex-República Jugoslava da Macedónia!





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