Discursos Bento XVI 24518

À DELEGAÇÃO DA REPÚBLICA DA BULGÁRIA NA ANUAL FESTA DOS SANTOS CIRILO E METÓDIO Sábado, 24 de Maio de 2008

24518
Ilustres membros do Governo
e distintas Autoridades
Venerados Irmãos Representantes
da Igreja Ortodoxa
e da Igreja Católica!

Como todos os anos, tenho o prazer de dirigir as cordiais boas-vindas a todos vós, membros da Delegação oficial búlgara, que viestes a Roma por ocasião da festa dos Santos Cirilo e Metódio, venerados quer no Oriente quer no Ocidente. A memória litúrgica destes dois santos Irmãos reveste para a Bulgária um alto valor simbólico e constitui, ao mesmo tempo, um importante acontecimento cultural. De facto, a sua recordação estimula nos crentes, quer ortodoxos quer católicos, o desejo profundo de oferecer ao país um estímulo significativo e aprofundar o rico património cristão, cujas origens remontam precisamente à infatigável iniciativa dos dois grandes evangelizadores provenientes de Tessalonica. Sinal deste compromisso comum é a composição da vossa delegação, guiada pelo Vice-Primeiro-Ministro e constituída por representantes das diversas Igrejas e Instituições culturais presentes na terra búlgara.

É necessário continuar a olhar ainda hoje para a obra de evangelização, realizada com fervor apostólico pelos Santos Cirilo e Metódio, porque constitui um modelo de inculturação da fé, nos seus elementos essenciais, também na época pós-moderna. De facto, o Evangelho não enfraquece o que há de autêntico nas diversas tradições culturais, mas ajuda o homem de todos os tempos a reconhecer e a realizar o bem autêntico, iluminado pelo esplendor da verdade. Portanto é tarefa dos cristãos manter e fortalecer o vínculo intrínseco que existe entre o Evangelho, a missão dos discípulos de Cristo e a sua respectiva identidade cultural. Redescobrir as raízes cristãs é importante para contribuir para construir uma sociedade na qual estejam presentes os valores espirituais e culturais que brotam do Evangelho. Valores e ideais que se alimentam de uma união incessante com Deus, como demonstra a existência dos Santos Cirilo e Metódio, constantes tecedores de relacionamentos de conhecimento e cordialidade recíprocos entre povos diversos e entre culturas e tradições eclesiais diferentes. Quis recordá-lo na minha Encíclica Spe salvi: se estivermos em relação com Aquele que não morre, que é a própria Vida e o próprio Amor, então estamos na vida, podemos estabelecer relações de solidariedade autêntica com o próximo (cf. n. 27).

Desejo de coração que este nosso encontro possa ser para todos vós, aqui presentes, e para as realidades eclesiais e civis que representais motivo de relações fraternas e solidárias cada vez mais intensas. O Senhor abençoe o vosso amado país e todos os seus cidadãos.


Discurso ao novo Embaixador da República Unida da Tanzânia

Senhor Ahmada Rweyemamu Ngemera

Nova confiança no diálogo

para a região dos Grandes Lagos



Excelência
É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e recebo as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Unida da Tanzânia junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelas amáveis saudações e sentimentos de boa vontade que o Senhor Embaixador manifestou da parte de Sua Excelência, o Senhor Jakaya Mrisho Kikwete, Presidente da República, com quem tive o prazer de me encontrar. Peço-lhe a amabilidade de transmitir o meu agradecimento e os meus bons votos pessoais a Sua Excelência o Senhor Presidente, ao governo e ao povo da Tanzânia.
Senhor Embaixador, o seu país é considerado com respeito e com apreço pelas populações da África Oriental, em virtude da sua estabilidade e da sua atmosfera de tolerância e de paz. A Tanzânia é também estimada pelo importante papel desempenhado pelos seus líderes políticos no processo de pacificação na Região dos Grandes Lagos e além de outras iniciativas internacionais que visam a manutenção da paz. A generosa hospitalidade oferecida aos refugiados em fuga das hostilidades desencadeadas nos países limítrofes, causadas pelas respectivas dificuldades económicas nacionais, também tem suscitado o devido apreço pelos nobres sentimentos do povo tanzaniano. Recentemente algumas tendências negativas, como o aumento do tráfico de armamentos nessa região e as interrupções de importantes iniciativas de diálogo e de reconciliação, lançaram dúvidas sobre o futuro imediato do processo de paz. A este propósito, não surpreende o facto de que os líderes responsáveis e numerosos homens e mulheres de boa vontade se sentem fortemente impelidos a apoiar este processo, custe o que custar, e a levá-lo ao seu cumprimento. Não se deveriam poupar esforços em ordem a criar novamente as condições indispensáveis para uma vida normal, com vista ao desenvolvimento e ao progresso da cultura das populações mais atingidas. A Santa Sé une a sua voz a este apelo e continua a exortar todas as pessoas que detêm funções de responsabilidade nessa região, a fim de que não percam confiança no valor do diálogo mas que, ao contrário, analisem e busquem com uma mente aberta todas as possibilidades que possam levar à obtenção de uma paz duradoura.
A Tanzânia pode sentir-se orgulhosa da sua herança de coexistência harmoniosa entre os seus diversificados grupos étnicos e religiosos, transmitida até às presentes gerações por obra do seu Presidente Fundador, Sua Excelência o Senhor Julius Nyerere e por outros importantes estatistas. Todas as gerações devem continuar a valorizar e salvaguardar este tesouro. É necessário prestar atenção para que o bem comum de todos os tanzanianos, bem como a dignidade e os direitos autênticos de todas as pessoas possam prevalecer sobre as reivindicações de interesses particulares, formuladas por determinados grupos. A este respeito, o discernimento e a acção decisiva por parte das autoridades são fundamentais para impedir o favoritismo ou iniciativas que possam revelar-se incompatíveis com um projecto político alicerçado nos direitos humanos e na prática da lei, e que em determinadas circunstâncias poderiam acarretar consigo sementes de intolerância e de violência. A Igreja católica está comprometida na promoção de relações étnicas positivas e no diálogo com os membros das demais religiões como um elemento fundamental da sua vontade de dar testemunho do amor universal de Deus. É com imensa alegria que ela ajuda a sociedade a criar um ambiente de boa vontade entre todos os homens e mulheres, ambiente este que seja fundamentado nos reíprocos conhecimento, apreço e respeito.
694 A criação de um ambiente e de estruturas apropriadas para o desenvolvimento de um país constitui uma das finalidades mais importantes na tarefa de um bom governo. A confiança e a boa vontade internacionais em relação à Tanzânia foram geradas de maneira bem sucedida, de modo não indiferente pelos esforços em vista de combater a corrupção, e a economia tem respondido com um progresso equilibrado. A experiência em numerosos países em fase de desenvolvimento demonstra que a credibilidade e a transparência, de maneira especial no uso dos fundos públicos, não só fomenta a necessária integridade moral das pessoas que detêm funções de responsabilidade mas constitui, por si só, um factor económico indispensável para o progresso estável. É necessário prestar grande atenção a fim de continuar ao longo deste caminho, juntamente com a clarividente vontade de levar os sectores menos favorecidos a uma justa e activa participação no crescimento económico comum. Enquanto o seu país continua a empreender obras de infra-estrutura e a promover investimentos em vista de contribuir para a agricultura e a indústria, estou persuadido de que o seu povo trabalhará com confiança pelo bem da sua pátria e que a Tanzânia encontrará sempre abertura, confiança e assistência concreta nos planos internacionais.
Estou feliz por observar que se têm envidado esforços consideráveis para promover um ulterior acesso à educação, com a consciência de que se trata de um dos factores mais importantes para o desenvolvimento. Foram também sabiamente elaborados determinados programas de formação para os professores e para outros funcionários nas escolas e nos centros de assistência médica, uma vez que a construção de estruturas adequadas não pode ser separada do esforço complementar de preparação de um pessoal qualificado. Senhor Embaixador, estou-lhe grato pelas suas palavras de apreço pelo serviço que a Igreja católica tem oferecido à população do seu país. Tanto na educação como nos serviços médicos, tem-se procurado destinar recursos financeiros a diferentes programas ou instituições, tendo como base as necessidades mais urgentes ou o mérito. A equidade e a transparência nestes sectores facilitam em grande medida uma cooperação leal entre as iniciativas particulares e as agências públicas. Nestes mesmos campos de desenvolvimento, as instituições são chamadas a continuar a ampliar e aperfeiçoar a própria qualidade, a fim de corresponder às necessidades da população. Estou persuadido de que os católicos tanzanianos não deixaram de oferecer a contribuição que lhes é específica, através das instituições e das iniciativas da Igreja, animados pelo serviço cristão ao próximo e o amor generoso pelo próprio país.
Excelência, no momento em que assume o seu encargo como representante da República Unida da Tanzânia junto do Vaticano, desejei expressar algumas das perspectivas e das esperanças mais sinceras da Santa Sé a respeito do seu país. Que a sua missão contribua para fortalecer os vínculos já existentes entre a República Unida da Tanzânia e a Santa Sé. Tenha a certeza de que os vários departamentos da Cúria Romana estarão prontos para o assistir no cumprimento da sua tarefa. Com as minhas orações e os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão, invoco copiosas bênçãos de Deus Todo-Poderoso sobre o Senhor Embaixador e a sua família, bem como sobre o povo do seu país.




Curriculum vitae



Sua Excelência o , novo Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Unida da Tanzânia junto da Santa Sé, nasceu no dia 12 de Junho de 1950.


AO SENHOR NYINE S. BITAHWA

NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE UGANDA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 29 de Maio de 2008



Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais através das quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Uganda junto da Santa Sé. Aprecio as saudações que o Senhor Embaixador me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Yoweri Museveni, Presidente da República, e é de bom grado que lhe retribuo, formulando-lhe os meus melhores votos e a certeza das minhas preces por Sua Excelência e por todo o povo do Uganda.

A Santa Sé estabele relações diplomáticas com os Estados em vista de alcançar a cooperação recíproca, para o bem espiritual e material das respectivas populações. A este propósito, os esforços que se têm levado a cabo no interior do seu país, na luta contra a pobreza e contra as suas causas subjacentes, são extremamente encorajadores. O desenvolvimento do homem através da disponibilidade de emprego, de habitação adequada e da ampliação das oportunidades educativas constitui um factor indispensável para o progresso económico e social de uma nação. No Uganda têm-se alcançado grandes resultados nos campos da educação, do desenvolvimento e da assistência à saúde, de particular modo na luta contra a Vih/Sida, dedicando-se uma atenção especial às pessoas atingidas e a uma política de prevenção bem sucedida, assente na continência e na promoção da fidelidade na vida matrimonial. Em sintonia com o seu compromisso de anunciar o amor a Deus e ao próximo, a Igreja católica continuará a cooperar com as autoridades civis, de forma particular nestes sectores, que contribuem para melhorar a condição humana.

O Senhor Embaixador discorreu sobre a alegria com que o seu povo observa que o resultado dos esforços levou a formalizar os acordos de paz e a pôr fim aos longos anos de guerra, caracterizados por uma violência cruel e insensata. Na perspectiva da sua vocação de iluminar as consciências, a Igreja não pode deixar de manifestar o seu júbilo pelos resultados alcançados e a sua esperança mais intensa, para que as condições de plena segurança prevaleçam quanto antes, permitindo assim que todas as pessoas deslocadas voltem para casa e restabeleçam uma existência pacífica e produtiva. A este propósito, desejo transmitir o apreço da Santa Sé a todos os indivíduos que levantaram a sua voz contra a violência e o ódio, mas também a todos aqueles que contribuíram para a promoção concertada da paz. Encorajo todas as pessoas interessadas a participarem generosamente na tarefa de restabelecimento e de reconstrução, a seguir aos numerosos anos de desordem e de abandono. O facto de que esta tarefa esteja a desenvolver-se no meio de temores de escassez alimentar e do aumento dos preços a nível mundial deveria constituir um ulterior estímulo à dedicação e à perseverança na consolidação da paz, da reconciliação e da reconstrução. Estou persuadido de que o vigoroso desejo de paz da população há-de inspirar o seu governo a continuar a assumir as suas responsabilidades a nível regional e a levar a cabo tudo aquilo que estiver ao seu alcance para assegurar a estabilidade e a reconciliação em toda essa região, onde uma paz duradoura só será possível, se todas as partes interessadas aderirem aos acordos internacionais e se comprometerem individualmente no pleno respeito pelas fronteiras das respectivas nações. Há muito para realizar nestes próximos anos, mas nasceu uma nova esperança para o povo do norte de Uganda e para os seus vizinhos. Que Deus Todo-Poderoso os assista nos seus esforços em vista de dar início a uma nova vida.

Actualmente, nenhuma nação está livre da influência da globalização, com os seus benefícios e os seus desafios. Este fenómeno facilita as oportunidades comerciais, o acesso à informação e a comunicação dos valores. Infelizmente, ela pode promover também estilos de vida e atitudes superficiais, que debilitam os hábitos saudáveis fundamentados sobre a verdade e as virtudes morais. Justamente, os homens e as mulheres de boa vontade na África rejeitam as perspectivas destruidoras que são associadas à ganância, à corrupção e a numerosas outras formas de desintegração individual e social. A democracia e a prática da lei não são alimentadas pelo materialismo, pelo individualismo e pelo relativismo moral, mas sim pela integridade e pela confiança recíproca, de maneira especial quando é sustentada por líderes comprometidos e altruístas, que desejam oferecer o próprio serviço aos seus concidadãos, para a construção do bem comum. Rezo ardentemente a fim de que os benefícios genuínos da cultura contemporânea enriqueçam a existência de todos os ugandeses, em harmonia com o que existe de verdadeiro e de sadio nos valores que foram transmitidos de geração em geração.

695 A este propósito, o país que Vossa Excelência representa, Senhor Embaixador, personifica importantes características que se encontram na cultura africana, ou seja: uma atitude respeitadora da autoridade parental e um modo religioso de considerar os momentos mais importantes da existência humana, assim como a promoção de um profundo respeito pela dignidade de cada vida humana, desde a concepção até à morte natural. Esta é a rica tradição através da qual gerações de africanos foram educados, e partir da qual a semente do Evangelho cristão produziu frutos abundantes. A Igreja católica valoriza esta herança, por si só e em virtude da sua relação harmoniosa com as verdades essenciais da ordem moral natural e com os preceitos fundamentais da fé. Senhor Embaixador, asseguro-lhe que a Igreja há-de continuar a desempenhar a parte que lhe compete na defesa e na promoção de tais princípios. Ela considera como sua missão consolidá-los e completá-los na maravilhosa plenitude do Evangelho.

Excelência, discorri sobre algumas temáticas de interesse essencial, tanto para o Estado como para a Igreja, mas também sobre os sectores em que, indubitavelmente, a cooperação há-de continuar a produzir fruto em vista de um futuro melhor para todos os ugandeses. Os vários departamentos da Cúria Romana terão a alegria de o assistir na sua missão como representante do seu país junto da Santa Sé. Estou feliz por lhe assegurar as minhas preces, no momento em que Vossa Excelência dá início ao seu mandato, enquanto invoco as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente sobre o Senhor Embaixador, a sua família e o povo do Uganda.




AO SENHOR WESLEY MOMO JOHNSON NOVO EMBAIXADOR DA LIBÉRIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 29 de Maio de 2008

Excelência

Estou feliz por lhe dar as boas-vindas ao Vaticano e receber as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Libéria junto da Santa Sé. Gostaria de manifestar o meu agradecimento pelos bons votos que o Senhor Embaixador me transmitiu da parte do seu Presidente, a Senhora Ellen Johnson-Sirleaf. Peço-lhe a cortesia de comunicar a Sua Excelência as minhas cordiais saudações e de lhe assegurar as minhas preces incessantes por todo o povo da sua nação.

Senhor Embaixador, permita-me que lhe assegure que a Santa Sé valoriza os seus vínculos diplomáticos com o seu país e deseja ardentemente fortalecê-los ainda mais no decorrer dos próximos anos. Enquanto a comunidade internacional procura cumprir as suas obrigações humanitárias em relação às populações da África, a Santa Sé olha com particular solicitude para os numerosos cidadãos da Libéria que foram debilitados pelo violento conflito que se abateu sobre o seu país durante tantos anos. Depois de dois anos sob um governo eleito estável, alcançou-se um progresso significativo na imensa tarefa de reconstrução. Foi com satisfação que tomei conhecimento da decisão do Fundo Monetário Internacional, do passado mês de Novembro, de dar passos em vista de cancelar a dívida da Libéria. Com efeito, trata-se de uma boa notícia, e espera-se enormemente que os recentes sinais de crescimento económico sejam sustentados também nos anos vindouros. Após décadas de guerra e de instabilidade, a população do seu país merece ser libertada da pobreza, da insegurança alimentar e do subdesenvolvimento, que a atingiram durante tanto tempo.

Estou certo de que o seu povo se dá conta de que um futuro pacífico e próspero somente pode ser alcançado, se se fizer uma séria tentativa em ordem a reconhecer os fracassos do passado e a curar as feridas provocadas durante os anos da guerra civil. O processo "da verdade e da reconciliação" na Libéria, assim como nos demais países africanos, constitui um passo intrépido e necessário ao longo do caminho da renovação nacional, e se for promovido com integridade e determinação, só poderá levar ao revigoramento dos valores dos quais depende a sociedade civilizada. Quando o povo de uma nação experimenta a violência, a má governação e a corrupção, praticadas na impunidade nos níveis mais elevados da sociedade, não é fácil voltar a adquirir confiança no mecanismo do governo. Efectivamente, existe a tentação de se separar de maneira integral da vida nacional, procurando promover exclusivamente os interesses particulares ou aqueles da própria região ou grupo étnico. Estas atitudes partidárias devem ser ultrapassadas por um renovado compromisso em vista de fomentar o bem comum de todos os cidadãos, um profundo respeito por todos os membros da sociedade, independentemente da origem étnica ou da aderência política, e o desejo de contribuir com os próprios dons e recursos a fim de alcançar um maior bem-estar e prosperidade para o próximo.

Na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz, emanada no início do corrente ano, sublinhei a importância da família como pedra fundamental no seio da sociedade, onde os valores essenciais para uma coexistência pacífica podem ser aprendidos e, sucessivamente, transmitidos às gerações vindouras. A partir do "sim" responsável e definito de um homem e de uma mulher, e do "sim" consciente dos filhos, que gradualmente nascem no âmbito da família, os seus membros oferecem o seu consenso para a edificação do bem comum. É isto que torna possível que a comunidade prospere nos planos local, nacional e internacional (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2008, n. 6). Estou consciente de que as populações da África reservam um valor excelso à manutenção dos laços familiares, e por isso encorajo o seu governo a fim de que assegure que a política pública continue a assistir e fortalecer a família de todos os modos. Somente assim será possível lançar fundamentos sólidos para renovar a infra-estrutura social, que foi tão severamente prejudicada ao longo de décadas de conflito violento.

O Senhor Embaixador pode ter a certeza de que a Igreja que está na Libéria deseja ardentemente contribuir para a edificação da vida familiar e para a oferta de educação e de assistência médica, que são tão urgentemente necessárias de lés a lés do país. Aprecio enormemente as palavras da Presidente, a Senhora Ellen Johnson-Sirleaf, que elogiou as actividades levadas a cabo pela Igreja nestes campos ao longo da história da Libéria e, na realidade, pelo intrépido testemunho oferecido pelos mártires que se dedicaram ao serviço do país, mesmo à custa das próprias vidas. Os numerosos homens e mulheres devotos sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos que desempenham o seu apostolado no seu país actualmente não estão menos comprometidos em benefício do povo, do qual se encontram ao serviço, bem como da promoção da justiça, de uma coexistência pacífica e da reconciliação entre as facções bélicas do passado recente.

O apostolado educativo é, provavelmente, o seu investimento mais significativo em vista do porvir da Libéria. Muitas das crianças e dos jovens do seu povo ficaram traumatizados pela experiência da guerra, enquanto alguns deles chegaram a ser forçados a transformar-se em soldados e assim a abandonar a própria educação, provocando como resultado um baixo nível de alfabetização em toda a população. Em tais circunstâncias, a Igreja procura oferecer esperança à população, incutir-lhe confiança no futuro e demonstrar-lhe que é amada e estimada; em síntese, procura levá-la ao encontro com Cristo, Salvador da humanidade. Deste modo, Excelência, estou convencido de que as cordiais relações já existentes entre a Libéria e a Santa Sé hão-de dar frutos copiosos para o crescimento e para a maior prosperidade do seu amado país, durante muitos anos no futuro.

Enquanto lhe formulo os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão, gostaria de lhe assegurar que os diversos departamentos da Cúria Romana estão prontos para o ajudar e apoiar no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, a sua família e toda a população da Libéria, invoco do íntimo do coração as abundantes bênçãos de Deus.




AO SENHOR HISSEIN BRAHIM TAHA NOVO EMBAIXADOR DO CHADE JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


696
Quinta-feira, 29 de Maio de 2008


Senhor Embaixador!

Recebo com prazer Vossa Excelência no Vaticano por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Chade junto da Santa Sé e agradeço-lhe ter-me transmitido a mensagem gentil de Sua Ex.cia o Sr. Idriss Deby Itno, Presidente da República. Ficar-lhe-ia grato se lhe transmitisse em retribuição os meus melhores votos pela sua pessoa e por todo o povo do Chade, desejando que todos possam conhecer a paz e a prosperidade.

De facto, a busca da paz e a segurança para todos é uma preocupação constante e primária para os responsáveis das Nações. Sem o estabelecimento de uma paz duradoura não pode haver desenvolvimento autêntico. Após o apelo que lancei a 6 de Fevereiro passado às populações do Chade, faço votos por que se realize depressa uma autêntica reconciliação nacional e que a solidariedade internacional contribua para ajudar eficazmente as pessoas que se encontram em necessidade. Que os responsáveis encarregados de guiar os povos desta região façam tudo o que está ao seu alcance para pôr fim à violência e deste modo criar situações favoráveis que permitam a todos viver em paz e com dignidade! O meu pensamento dirige-se para os numerosos refugiados que encontraram asilo no seu país. Que os esforços feitos para apoiar estas famílias, que vivem em condições por vezes dramáticas, os ajude a reencontrar uma situação na qual os direitos humanos fundamentais sejam realmente garantidos.

Nesta perspectiva, é necessário que, graças a uma sadia gestão, os recursos económicos do país sejam sempre postos ao serviço de um progresso social efectivo que permita que a população veja as suas justas aspirações realizadas. Para consolidar a estabilidade e a unidade da nação, a preocupação pelo bem comum impõe que se reparta com justiça e equidade as riquezas do país, tendo em consideração mais particularmente as pessoas que se encontram à margem do progresso social e económico.

A qualidade das relações entre as comunidades religiosas que vivem no Chade, sobretudo entre os cristãos e os muçulmanos, é um elemento importante no caminho da paz e da reconciliação. Cada um deve poder expressar a sua fé sem receio e seguir a voz da consciência na escolha da sua religião. Alegro-me por saber, Senhor Embaixador, que no seu país, apesar das dificuldades que podem apresentar-se, os cristãos e os muçulmanos procuram consolidar relações de respeito e de compreensão recíprocas. Faço votos por que estas relações contribuam para o bem comum e para a edificação de uma sociedade harmoniosa e pacífica. Para resolver as incompreensões, o diálogo deve permanecer sempre no caminho que permite evitar qualquer recurso à violência.

Como Vossa Excelência realçou, o compromisso da Igreja católica no serviço da sociedade chadiana, sem distinção de origem nem de religião, abrange numerosos âmbitos, como o da saúde, da educação e do progresso. Mediante as suas obras sociais, a comunidade católica manifesta a sua preocupação por promover a dignidade de cada pessoa. Nesta perspectiva, gostaria de realçar de modo particular a acção da Igreja em favor da educação e da formação dos jovens, graças sobretudo às escolas católicas, que ocupam um lugar apreciado no sistema educativo chadiano. Mediante estas escolas, que são lugares nos quais os jovens de religiões e meios sociais diferentes aprendem a viver juntos no respeito recíproco, a Igreja pretende lutar contra qualquer forma de pobreza e contribuir para a edificação de uma sociedade cada vez mais fraterna e solidária.

No final deste encontro, permita-me, Senhor Embaixador, que saúde por seu intermédio os Bispos do Chade assim como todos os membros da comunidade católica. Garanto-lhes a minha proximidade e encorajo-os a permanecer firmes na fé e corajosos nas provações que partilham com os seus compatriotas, testemunhando deste modo o seu compromisso por construir juntos uma sociedade reconciliada.

No momento em que inicia a sua nobre missão, na certeza de que encontrará sempre um acolhimento atento junto dos meus colaboradores, apresento-lhe, Senhor Embaixador, os meus votos cordiais para o seu feliz desempenho, para que sejam prosseguidas e desenvolvidas relações harmoniosas entre a Santa Sé e o Chade.

Sobre Vossa Excelência, a sua família e colaboradores, assim como sobre os Responsáveis e todos os habitantes do Chade, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.






AO SENHOR DEBAPRIYA BHATTACHARYA NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA POPULAR DE BANGLADESH Quinta-feira, 29 de Maio de 2008

Senhor Embaixador

697 É com alegria que recebo Vossa Excelência no dia de hoje, no momento em que apresenta as Cartas Credenciais com as quais Sua Excelência o Senhor Presidente Iajuddin Ahmed o escolheu como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Popular de Bangladesh junto da Santa Sé. Pedir-lhe-ia, Senhor Embaixador, que lhe comunicasse as minhas cordiais saudações, assim como aos membros do governo, juntamente com a certeza dos meus melhores votos pelo bem-estar de todos os seus compatriotas.

Estabelecidas há trinta e cinco anos, as relações diplomáticas entre a Santa Sé e Bangladesh têm sido fortalecidas através de uma solicitude recíproca pela promoção da boa vontade num mundo cada vez mais interligado, contudo não sem sinais de novas divisões e de formas de violência e de injustiça profundamente inquietadoras. Estes fenómenos apresentam renovados desafios a toda a família humana, suscitando uma profunda sensação de que é necessária uma cooperação internacional mais vigorosa para assegurar que as aspirações de todos, de modo especial dos mais pobres e debilitados, sejam plenamente atendidas (cf. Sollicitudo rei socialis
SRS 43). Senhor Embaixador, estou convicto de que a participação concreta do seu país em organismos como a Organização das Nações Unidas há-de contribuir para a "cultura da paz", que Bangladesh deseja construir, tanto na pátria como no estrangeiro. Comprometendo-se em tais diálogos a nível internacional, o seu país desempenhará uma parte da harmonização das iniciativas da comunidade global, para alcançar as finalidades conjuntas da paz e do desenvolvimento (cf. Discurso à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, 18 de Abril de 2008).

Como Vossa Excelência sugeriu, para ser sustentada, uma democracia sólida tem necessidade mais do que uma série de regras; ela exige que os seus cidadãos abracem os valores subjacentes que inspiram as instituições e os procedimentos democráticos, como a dignidade da pessoa humana, o respeito genuíno pelos direitos do homem e um compromisso em prol do bem comum como critérios-guia para a vida política em geral (cf. Centesimus annus CA 46). Enquanto procuram fomentar um consenso coral a respeito da importância fulcral destes valores fundamentais, os líderes das sua nação hão-de pavimentar o caminho para um governo estável e para uma coexistência harmoniosa de todos aqueles que consideram Bangladesh a sua pátria. No momento em que o seu país se prepara para realizar as eleições gerais, durante o corrente ano, estou persuadido de que os seus cidadãos reflectirão e renovarão o seu apreço pelos fundamentos morais que tornam possível a democracia autêntica. O progresso e a coesão sociais exigem que todos os indivíduos, as famílias, os oficiais eleitos, os funcionários civis e os profissionais abracem de bom grado a responsabilidade que lhes compete em vista de contribuir para a vida comunitária com integridade, honestidade e sentido de serviço (cf. Pacem in terris PT 55 Centesimus annus, 46). De maneira particular, os candidatos a cargos públicos devem estar dispostos a deixar de lado os interesses pessoais, para salvaguardar o bem comum das pessoas por eles representadas e servidas. Vossa Excelência indicou o desafio da reconstrução das instituições representativas, que se deterioraram não obstante o seu país tenha observado processos democráticos na selecção dos recentes governos. Esta tarefa crucial de restabelecimento da confiança nestas e noutras institutições democráticas exigirá uma vigorosa liderança da parte de homens e de mulheres que sejam dignos de confiança, justos e competentes. Indubitavelmente, a população de Bangladesh buscará estas qualidades nos seus candidatos, ao exercerem o seu direito ao voto num processo de escrutínio que, por si só, reflecte os verdadeiros valores dos quais a democracia depende (cf. Centesimus annus CA 46).

Um sistema educativo enérgico é essencial para as democracias vigorosas. Tanto o Estado como a Igreja têm as respectivas funções a desempenhar para ajudar as famílias a transmitir a sabedoria, o conhecimento e a virtude moral aos próprios filhos, de tal maneira que eles consigam reconhecer a dignidade comum de todos os homens e mulheres, inclusivamente daqueles que pertencem a culturas e religiões que sejam diferentes das suas. A Igreja procura contribuir para esta finalidade, fundando escolas que visam não apenas o desenvolvimento intelectual das crianças, mas igualmente o seu progresso espiritual e moral. Por conseguinte, enquanto estas e outras escolas de inspiração confessional oferecem o serviço público de formação dos jovens nos campos da tolerância e do respeito, elas deveriam receber a ajuda de que têm necessidade, e também a assistência financeira, para beneficiar toda a família humana.

O país do Senhor Embaixador deu passos significativos no crescimento económico ao longo destes últimos anos. No entanto, isto nem sempre se traduziu numa diminuição proporcional da pobreza e num acréscimo de oportunidades no mundo do trabalho. A estabilidade a longo prazo no campo económico está vinculada de maneira orgânica a outros sectores da vida cívica, inclusivamente às instituições públicas e a um sistema educativo que funcione de forma adequada. A primeira promove a eficácia e a transparência necessárias para fomentar o desenvolvimento económico (cf. Centesimus annus CA 48), enquanto o último constitui "o instrumento mais precioso da sociedade para a promoção do desenvolvimento e do progresso económico" (Populorum progressio PP 35). Por este motivo, as finalidades económicas de uma nação devem ser inseridas sempre no horizonte mais vasto do seu crescimento moral, cívico e cultural (cf. Centesimus annus CA 29). Além disso, o desenvolvimento económico duradouro só se verifica como resultado de uma interacção dinâmica entre a iniciativa particular, a autoridade pública e a assistência das organizações internacionais (cf. ibid., CA 10 CA 32 CA 49). Por sua vez a Igreja, na sua solicitude constante pelo bem integral da pessoa humana, faz ressoar as aspirações da humanidade em vista de assegurar os bens materiais necessários para o bem-estar físico e espiritual (cf. Gaudium et spes GS 14). Com efeito, ela está firmemente convencida de que o desenvolvimento é, em última análise, uma questão de paz, "porque ajuda a alcançar o que é bom para os outros e para a comunidade humana no seu conjunto" (Mensagem para o Dia Mundial da paz de 1987, n. 7).

Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência dá início ao seu serviço, renovo os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão. Asseguro-lhe que os vários departamentos da Santa Sé estão prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, a sua família e toda a população de Bangladesh, invoco cordialmente as bênçãos divinas da fortaleza e da paz.



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