Discursos Bento XVI 28309


VISITA PASTORAL À PARÓQUIA ROMANA DA SANTA FACE DE JESUS NA "MAGLIANA"


IV Domingo de Quaresma, 29 de Março de 2009

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SAUDAÇÃO AOS FIÉIS ANTES DA SANTA MISSA:

Queridos irmãos e irmãs, obrigado por estardes comigo neste maravilhoso domingo. Infelizmente chove, mas também o sol está a chegar. Talvez seja o sinal deste tempo pré-pascal, no qual sentimos os sofrimentos do Senhor e todos os problemas do nosso mundo de hoje, cada um a seu modo. Mas sabemos também que o sol, mesmo se com frequência escondido, existe; que Deus está próximo, nos ajuda e nos acompanha. Neste sentido desejamos encaminhar-nos rumo à Páscoa sabendo que fazem parte da nossa vida sofrimentos e dificuldades, mas sabendo também que por detrás está o sol da bondade divina. Neste sentido saúdo-vos a todos cordialmente: obrigado pela vossa presença. E bom domingo a toda esta bela paróquia. Bem haja!.

SAUDAÇÃO ÀS CRIANÇAS QUE SE PREPARAM PARA A PRIMEIRA COMUNHÃO

Queridas crianças, antes de tudo bom domingo! Sinto-me feliz por estar hoje convosco, mesmo se com o mau tempo e mesmo se nos levantamos uma hora mais cedo porque mudou o horário, contudo estamos todos reunidos e sei que vos estais a preparar para a primeira comunhão, para o encontro com Jesus. Hoje sentimos no Evangelho que pessoas da Grécia disseram: queremos ver Jesus. Todos nós queremos ver e conhecer Jesus, que está presente entre nós. Agora percorrei este caminho de preparação e depois no momento da primeira comunhão Ele estará muito próximo de vós, e vós podereis sentir como Ele será convosco. Na Páscoa, com a beleza da festa, poderíamos sentir melhor que festa traz ao coração a presença de Jesus ressuscitado. E então desejo-vos um bom domingo, uma boa preparação para a Páscoa e para a comunhão e muita alegria nas férias e depois, naturalmente, boas festas para a primeira comunhão: o centro não é o almoço, mas será o próprio Jesus, depois também o almoço pode ser bom. A todos vós digo: bem haja. Rezai por mim, eu rezo por vós.


SAUDAÇÃO AOS LEIGOS COMPROMETIDOS

Queridos amigos, neste momento posso dizer apenas obrigado por tudo o que fazeis pela construção da Igreja viva neste bairro de Roma. Parece-me que estes Conselhos pastorais são um dos dons do Concílio Vaticano II, onde leigos representantes de toda a comunidade enfrentam, juntamente com o pároco e com os sacerdotes, os problemas da Igreja viva de um bairro, ajudando a construir a Igreja, a tornar presente a Palavra de Deus e a sensibilizar o povo sobre a presença de Jesus Cristo nos sacramentos. Neste tempo em que o secularismo é forte, e todas as impressões que se recolhem em volta são um pouco contra a presença de Deus, contra a capacidade de sentir esta presença, é muito mais importante que o sacerdote não seja deixado sozinho, mas circundado por crentes que com ele levem esta semente da Palavra e ajudem para que seja vivo e crescente também no nosso tempo. Por isso, obrigado por estas vossas iniciativas. É importante consolar, ajudar, assistir o povo no sofrimento, fazer experimentar a proximidade dos crentes que se sentem particularmente próximos de todos os que sofrem.

Vi isto na África: existe em Yaoundé, nos Camarões, um grande centro que criou o Cardeal Léger, canadense, grande Padre do Concílio, onde o conheci. Ele, depois do Concílio em 1968 sentia a necessidade não só de pregar e de governar, mas de ser um simples sacerdote para assistir quem sofre. Foi aos Camarões onde criou este Centro, que hoje pertence ao Estado, mas nele trabalham sobretudo eclesiásticos, e nele vê-se todos os tipos de sofrimentos: sida, lepra, tudo. Mas vê-se também a força da fé e do amor que a fé suscita, colocando-se totalmente à disposição; assim o sofrimento é transformado e as pessoas que ajudam são transformadas, tornam-se mais humanas, mais cristãs; sente-se um pouco do amor de Deus. Por isso, nas nossas dimensões, também nós queremos ser sempre sensíveis ao sofrimento, aos sofredores, aos pobres, às pessoas necessitadas em diversas formas de pobreza, também espiritual, que nos esperam, nas quais nos espera o Senhor. Obrigado por tudo o que fazeis.

Segundo a tradição o conselho é um dom do Espírito Santo e um pároco, e muito mais um Papa, precisa de conselho, de ser ajudado a tomar as decisões. Por isso, estes conselhos pastorais realizam também uma obra do Espírito Santo e testemunham a sua presença na Igreja.

Obrigado por tudo o que fazeis; o Senhor vos assista sempre e vos dê a alegriapascalpara todo o ano. Obrigado.


DESPEDIDA

Queridos amigos, gostaria de vos agradecer o vosso entusiasmo. Ele faz-me pensar em África, onde vi também tanta gente com a alegria de ser católica, de ser parte da grande família de Deus. Obrigado porque vejo esta alegria também entre vós. Desejo-vos bom domingo e boa Páscoa e a alegria do Senhor em todas as complicações da vida: que esteja sempre presente também a sua luz. Obrigado e bons votos a todos vós.



AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA ARGENTINA EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Sexta-feira, 2 de Abril de 2009

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Queridos Irmãos no Episcopado!

1. É para mim motivo de grande alegria poder receber-vos esta manhã, Pastores do Povo de Deus na Argentina, que viestes a Roma por ocasião da visita ad limina Apostolorum. O meu pensamento dirige-se também a todas as dioceses que representais e aos vossos sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis, que com abnegação e entusiasmo trabalham pela edificação do Reino de Deus nessa querida Nação.

Desejo, em primeiro lugar, agradecer as amáveis palavras que, em nome de todos, me dirigiu D. Alfonso Delgado Evers, Arcebispo de San Juan de Cuyo, o qual quis reiterar os vossos sentimentos de comunhão com o Sucessor de Pedro, fortalecendo assim o vínculo interior que nos une na fé, no amor fraterno e na oração.

2. Como em muitas outras partes do mundo, também na Argentina sentis a urgência de realizar uma intensa e incisiva acção evangelizadora que, tendo em consideração os valores cristãos que modelaram a história e a cultura do vosso País, conduza a um renascimento espiritual e moral das vossas comunidades e de toda a sociedade. Estimula-vos a isto, além do mais, o vigoroso impulso missionário que a v Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, celebrada em Aparecida, quis suscitar em toda a Igreja da América Latina (cf. Documento conclusivo, n. 213).

3. O meu venerado predecessor, Papa Paulo VI, afirmava na Exortação apostólica Evangelii nuntiandi que "evangelizar é, em primeiro lugar, dar testemunho, de maneira simples e directa, de Deus revelado por Jesus Cristo, no Espírito Santo. Dar testemunho de que no seu Filho ele amou o mundo" (n. 26). Portanto, não consiste somente em transmitir ou ensinar uma doutrina, mas em anunciar Cristo, o mistério da sua Pessoa e o seu amor, porque estamos verdadeiramente convencidos de que "nada há de mais formoso do que ter sido alcançado, surpreendido, pelo Evangelho, por Cristo. Nada há de mais belo do que conhecê-lo e comunicar aos outros a amizade com Ele" (Homilia na Santa Missa de início de Pontificado, 24 de Abril de 2005).

Este anúncio nítido e explícito de Cristo, como Salvador dos homens, insere-se nesta busca apaixonada da verdade, da beleza e do bem que caracteriza o ser humano. Além disso, tendo em consideração que "a verdade não se impõe de outro modo, senão pela força dessa mesma verdade" (Dignitatis humanae
DH 1), e que os conhecimentos adquiridos por outros ou transmitidos pela própria cultura enriquecem o homem com verdades que por si só não poderia obter, consideramos que "o anúncio e o testemunho do Evangelho são o primeiro serviço que os cristãos podem prestar a cada pessoa e a todo o género humano" (Discurso ao Congresso da Congregação para a Evangelização dos Povos, 11 de Março de 2006).

4. Qualquer empenho evangelizador surge de um tríplice amor: à Palavra de Deus, à Igreja e ao mundo. Dado que através da Sagrada Escritura, Cristo se nos dá a conhecer na sua Pessoa, na sua vida e na sua doutrina, "a tarefa prioritária da Igreja, no início deste novo milénio, consiste antes de tudo em alimentar-se da Palavra de Deus, para tornar eficaz o compromisso da nova evangelização, do anúncio no nosso tempo" (Homilia na conclusão da XII Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, 26 de Outubro de 2008). Tendo em conta que a Palavra de Deus dá sempre fruto em abundância (cf. Is 55,10-11 Mt 13,23), e que só ela pode mudar profundamente o coração do homem, encorajo-vos, queridos Irmãos, a facilitar o acesso de todos os fiéis à Sagrada Escritura (cf. Dei Verbum DV 22 Dei Verbum DV 25) para que, pondo a Palavra de Deus no centro das suas vidas, acolham Cristo como Redentor e a sua luz ilumine todos os âmbitos da humanidade (cf. Homilia na abertura da XII Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, 5 de Outubro de 2008).

Dado que a Palavra de Deus não se pode compreender separada e à margem da Igreja, é necessário fomentar o espírito de comunhão e de fidelidade ao Magistério, especialmente em quantos têm a missão de transmitir íntegra a mensagem do Evangelho. Portanto, o evangelizador deve ser filho fiel da Igreja e, além disso, cheio de amor aos homens, para saber oferecer-lhes a grande esperança que temos na nossa alma (cf. 1P 3,15).

5. Deve ter-se sempre bem presente que a primeira forma de evangelização é o testemunho da própria vida (cf. Lumen gentium LG 35). A santidade da vida é um dom precioso que podeis oferecer às vossas comunidades no caminho da verdadeira renovação da Igreja. Hoje como nunca a santidade é uma exigência de actualidade perene, dado que o homem do nosso tempo sente necessidade urgente do testemunho claro e atraente de uma vida coerente e exemplar.

A este respeito, recomendo-vos vivamente que presteis uma atenção especial aos presbíteros, vossos mais directos colaboradores. Os desafios da época actual exigem mais do que nunca sacerdotes virtuosos, cheios de espírito de oração e sacrifício, com uma sólida formação e dedicados ao serviço de Cristo e da Igreja mediante a prática da caridade. O sacerdote tem a grande responsabilidade de se apresentar diante dos fiéis com um comportamento irrepreensível, seguindo de perto Cristo com o apoio e o conforto dos fiéis, sobretudo com a sua oração, compreensão e afecto espiritual.

6. O anúncio do Evangelho diz respeito a todos na Igreja; também aos fiéis leigos, destinados a esta missão graças ao baptismo e à confirmação (cf. Lumen gentium LG 33). Exorto-vos, amados Irmãos no Episcopado, a fazer com que os leigos sejam cada vez mais conscientes da sua vocação, como membros vivos da Igreja e autênticos discípulos e missionários de Cristo em todas as situações (cf. Gaudium et spes GS 43). Quantos benefícios podem vir, também para a sociedade civil, do ressurgir de um laicado maduro, que procure a santidade nos seus afazeres temporais, em plena comunhão com os seus Pastores, e firme na sua vocação apostólica de ser fermento evangélico no mundo.

7. Recomendo com especial devoção à Virgem Maria, Nossa Senhora de Luján, todos os vossos afãs pastorais, as vossas preocupações e pessoas. A todos vós, aos vossos sacerdotes, religiosos, seminaristas e fiéis concedo, com todo o afecto no Senhor, uma especial Bênção Apostólica.




AO SENHOR VÍCTOR MANUEL GRIMALDI CÉSPEDES NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DOMINICANA JUNTO DA SANTA SÉ


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Sexta-feira, 3 de Abril de 2009


Senhor Embaixador

É com grande alegria que o recebo neste solene acto, no qual Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Dominicana junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as deferentes palavras que me dirigiu, assim como a amável saudação da parte do Dr. Leonel Antonio Fernández Reyna, Presidente dessa nobre Nação. Peço-lhe que tenha a amabilidade de lhe garantir que peço ao Senhor nas minhas orações pelo seu Governo e pelo amado povo dominicano, tão próximo do coração do Papa.

Vossa Excelência vem como Representante de um País de profundas raízes católicas e que, como acaba de recordar, evoca já no seu nome a adesão à mensagem cristã da maioria dos seus habitantes, ao aludir a São Domingos de Guzmán, preclaro pregador da Palavra de Deus. Faço votos por que as cordiais relações diplomáticas que a sua Nação mantém com a Sé Apostólica se estreitem ainda mais no futuro.

Como Vossa Excelência recordou, também a comunidade católica dominicana se prepara para comemorar o V centenário da criação da Arquidiocese de São Domingos, erigida a 8 de Agosto de 1511. Esta efeméride, juntamente com a Missão continental estimulada pela V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, celebrada em Aparecida, está a ser motivo de um renovado dinamismo missionário e evangelizador, que favorecerá a promoção humana de todos os membros da sociedade.

A Igreja, que nunca se deve confundir com a comunidade política, converge com o Estado no fomento da dignidade da pessoa e na busca do bem comum da sociedade (cf. Gaudium et spes
GS 76). Neste contexto de recíproca autonomia e cooperação sadia, inserem-se as iniciativas diplomáticas que, com as palavras do meu venerado Predecessor, o servo de Deus João Paulo II, "estão ao serviço da grande causa da paz, da proximidade e colaboração entre os povos e de um intercâmbio frutuoso para alcançar relações mais humanas e justas" (cf. Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da República Dominicana, 11 de Outubro de 1992, n. 1). Por isso, a Santa Sé tem em alta consideração o trabalho que Vossa Excelência hoje inicia a desempenhar.

O seu País forjou com o tempo um rico património cultural, profundamente inscrito na alma do povo, no qual sobressaem significativas tradições e costumes, muitas das quais têm a sua origem e alimento na doutrina católica, que promove em quantos a professam um anseio de liberdade e de consciência crítica, de responsabilidade e solidariedade.

Há mais de cinco séculos, no solo que hoje é a República Dominicana, foi celebrada pela primeira vez a Santa Missa no Continente americano. A partir de então, e graças a um generoso e abnegado trabalho de evangelização, a fé em Cristo Jesus foi-se tornando cada vez mais viva e activa, de modo que da Ilha de La Española partiram os primeiros missionários encarregados de anunciar a Boa Nova da salvação no Continente. Daquela primeira semente surgiu sucessivamente, como árvore frondosa, a Igreja na América Latina, que com o passar dos anos foi dando abundantes frutos de santidade, cultura e prosperidade de todos os membros da sociedade.

Neste sentido, é justo reconhecer o contributo da Igreja, através das suas instituições, em benefício do progresso do seu País, sobretudo em campo educativo, com as diversas universidades, centros de formação técnica, institutos e escolas paroquiais; e no âmbito assistencial, com a atenção aos numerosos imigrantes, aos refugiados, deficientes, enfermos, idosos, órfãos e indigentes. A este respeito, apraz-me ressaltar a assídua colaboração existente entre as entidades católicas locais e os organismos do Estado no desenvolvimento de programas que, procurando sempre o bem comum da sociedade, favorecem os mais necessitados e estimulam autênticos valores morais e espirituais.

Por outro lado, é da máxima importância que nos significativos intercâmbios políticos e sociais nos quais a República Dominicana está imersa nos últimos tempos, se implantem e prolonguem aqueles nobres princípios que distinguem a rica história dominicana desde a fundação da sua Pátria. Refiro-me, em primeiro lugar, à defesa e difusão dos valores humanos tão básicos como o reconhecimento e a tutela da dignidade da pessoa, o respeito da vida humana desde o momento da sua concepção até à sua morte natural e a salvaguarda da instituição familiar baseada no matrimónio entre um homem e uma mulher, porque estes são elementos insubstituíveis e irrenunciáveis do tecido social.

Nos últimos tempos, graças ao trabalho das diversas instâncias do seu País, foram-se produzindo notáveis benefícios, tanto a nível social como económico, que permitem almejar um futuro mais luminoso e sereno. Não obstante, permanece ainda um longo caminho a percorrer, a fim de garantir uma vida digna aos dominicanos e erradicar as marcas da pobreza, o narcotráfico, a marginalização e a violência. Portanto, tudo o que se orientar para o fortalecimento das instituições é fundamental para o bem-estar da sociedade, que se apoia em pilares como o cultivo da honestidade e a transparência, a independência jurídica, o cuidado e respeito pelo meio ambiente e a protecção dos serviços sociais, assistenciais, médicos e educativos de toda a população. Estes passos devem ser acompanhados por uma forte determinação para erradicar definitivamente a corrupção, que causa tanto sofrimento, sobretudo aos membros mais pobres e indefesos da sociedade. Na instauração de um clima de verdadeira concórdia e de busca de respostas e soluções eficazes e estáveis para os problemas mais urgentes, as Autoridades dominicanas encontrarão sempre a mão estendida da Igreja, para a construção de uma civilização mais livre, pacífica, justa e fraterna.

908 Senhor Embaixador, antes de concluir o nosso encontro, desejo renovar-lhe a minha proximidade espiritual, juntamente com os meus votos fervorosos para que o importante cargo que lhe foi confiado seja em benefício da sua Nação. Peço-lhe que se faça intérprete desta esperança junto do Senhor Presidente e do Governo da República Dominicana. Vossa Excelência, a sua família e o pessoal da sua Missão Diplomática poderão contar sempre com a estima, o bom acolhimento e o apoio desta Sé Apostólica no desempenho da sua alta responsabilidade, para a qual desejo abundantes frutos. Peço ao Senhor, por intercessão de Nossa Senhora de Altagraça e de São Domingos de Guzmán, que cumule de dons celestiais todos os filhos e filhas deste amado País, aos quais concedo de bom grado a Bênção Apostólica.



AO CÍRCULO DE SÃO PEDRO

DURANTE A TRADICIONAL ENTREGA DO ÓBOLO Sala dos Papas

Sexta-feira, 3 de Abril de 2009




Queridos Sócios do Círculo
de São Pedro!

Com muita satisfação encontro-vos e transmito a cada um de vós a minha cordial saudação, que estendo de bom grado aos vossos familiares e a quantos actuam convosco nas diversas actividades promovidas pela vossa benemérita associação. Em particular, saúdo o Presidente-Geral, Duque Leopoldo Torlonia, ao qual agradeço as palavras com que interpretou os sentimentos comuns, e o vosso Assistente espiritual, Mons. Franco Camaldo. A ocasião é-me propícia para vos renovar o meu vivo apreço pelo serviço que prestais ao Papa e pelo contributo que ofereceis à comunidade cristã de Roma, especialmente suprindo as necessidades de tantos nossos irmãos pobres e indigentes. Agradeço-vos porque com estas iniciativas de solidariedade humana e evangélica tornais presente, de certo modo, a preocupação do Sucessor de Pedro pelos que se encontram em condições de particular carência.

Sabemos que a autenticidade da nossa fidelidade ao Evangelho se verifica também com base na atenção e solicitude concreta que nos esforçamos em manifestar ao próximo, especialmente os mais débeis e marginalizados. Assim, o serviço caritativo, que pode ser realizado numa multiplicidade de formas, torna-se uma forma privilegiada de evangelização, à luz do ensinamento de Jesus, o qual julgará como feito a Si mesmo o que fizermos aos nossos irmãos, especialmente a quem entre eles é "pequeno" e abandonado (cf. Mt 25,40). Por conseguinte, para que o nosso serviço não seja só acção filantrópica, embora também útil e digna, é necessário alimentá-lo com a oração constante e a confiança em Deus. É preciso harmonizar o nosso olhar com o olhar de Cristo, o nosso coração com o seu coração. Deste modo, o apoio amoroso oferecido aos outros traduz-se em participação e consciente partilha das suas esperanças e sofrimentos, tornando visível, e diria quase palpável, por um lado a misericórdia infinita de Deus para cada ser humano, e por outro a nossa fé n'Ele. Jesus, o seu Filho Unigénito, ao morrer na cruz, revelou-nos o amor misericordioso do Pai que é fonte da verdadeira fraternidade entre todos os homens e nos indicou o único caminho possível para nos tornar testemunhas credíveis deste Amor.

Daqui a alguns dias, na Semana Santa, teremos a possibilidade de reviver intensamente a suprema manifestação do Amor divino. Poderemos imergir-nos mais uma vez nos mistérios da dolorosa paixão e da gloriosa ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. O Tríduo Pascal seja para cada um de vós, queridos irmãos, uma ocasião propícia para reforçar e purificar a vossa fé; para vos abrir à contemplação da Cruz que é mistério de amor infinito do qual haurir força para fazer da vossa existência um dom aos irmãos. A Cruz de Cristo — escreve o Papa São Leão Magno — é "fonte de todas as bênçãos, é causa de todas as graças" (cf. Disc. 8 sobre a paixão do Senhor, 6-8). Da Cruz brota também a alegria e a paz do coração, que nos torna testemunhas daquela esperança da qual se sente uma grande necessidade neste tempo de crise económica difundida e generalizada. E desta esperança são sinais eloquentes as várias iniciativas de caridade do vosso benemérito Círculo de São Pedro, como também e, sobretudo, as vossas existências se vos deixardes guiar pelo Espírito de Cristo.

Queridos amigos, como todos os anos, viestes hoje entregar-me o óbolo de São Pedro, que recolhestes nas paróquias de Roma. Obrigado por este sinal de comunhão eclesial e de concreta participação no esforço económico que a Sé Apostólica desempenha a fim de ir ao encontro das crescentes urgências da Igreja, especialmente nos países mais pobres da terra. Desejo, mais uma vez, manifestar o meu vivo apreço por este serviço, animado pela convicta fidelidade e adesão ao Sucessor de Pedro. O Senhor vos retribua e cubra de bênçãos o vosso Círculo; ajude cada um de vós a realizar plenamente a própria vocação cristã na família, no trabalho e no âmbito da vossa Associação. A Virgem Santa acompanhe e apoie com a sua materna protecção os vossos propósitos e projectos de bem. Da minha parte, garanto-vos a oração por vós aqui presentes, por todos os sócios e os voluntários, como também por quantos estão ao vosso lado nas vossas várias actividades, e por aqueles que encontrardes no vosso apostolado quotidiano. Com estes sentimentos, concedo-vos afectuosamente uma especial Bênção Apostólica, que estendo de bom grado às vossas famílias e às pessoas que vos são queridas.



SAUDAÇÃO À DELEGAÇÃO VINDA DE MADRID PARA RECEBER A CRUZ DAS JORNADAS MUNDIAIS DA JUVENTUDE Sala Paulo VI

Segunda-feira, 6 de Abril de 2009




Queridos amigos!

909 É para mim um grande prazer receber nesta audiência um grupo tão numeroso, que veio de Madrid e de Espanha para receber a Cruz dos jovens que percorrerá diversas cidades até à Jornada Mundial da Juventude, em Madrid no ano de 2011. Saúdo cordialmente o Senhor Arcebispo de Madrid, Cardeal António Maria Rouco Varela, que preside a esta peregrinação, o coordenador-geral da Jornada, o seu Bispo Auxiliar, D. César Augusto Franco Martínez, e os demais bispos, sacerdotes e catequistas que quiseram estar aqui. Saúdo-vos com afecto especialmente a vós, queridos jovens que, ao receber a Cruz, confessais a vossa fé n'Aquele que vos ama infinitamente, o Senhor Jesus, cujo mistério pascal celebraremos nestes dias santos. Como disse noutra ocasião, "a fé, a seu modo, precisa de ver e tocar. O encontro com a cruz, que se toca e se leva, transforma-se num encontro interior com Aquele que na cruz morreu por nós. O encontro com a cruz suscita no mais íntimo dos jovens a recordação de Deus que quis fazer-se homem e sofrer connosco" (Aos membros da Cúria romana, 22 de Dezembro de 2008). Alegra-me saber que esta cruz que recebestes a levareis em procissão na Sexta-Feira Santa pelas ruas de Madrid para que seja aclamada e venerada.

Animo-vos, portanto, a descobrir na Cruz a medida infinita do amor de Cristo, para assim poder decidir, como São Paulo: "eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim" (
Ga 2,20). Sim, queridos jovens, Cristo entregou-se por cada um de vós e ama-vos de modo único e pessoal. Respondei ao amor de Cristo oferecendo-lhe a vossa vida com amor. Deste modo, a preparação da Jornada Mundial da Juventude, cujos trabalhos iniciastes com muito entusiasmo e abnegação, serão recompensados com o fruto que estas Jornadas se propõem alcançar: renovar e fortalecer a experiência do encontro com Cristo morto e ressuscitado por nós.

Caminhai nas pegadas de Cristo, Ele é a vossa meta, o vosso caminho e também o vosso prémio. No lema que escolhi para a Jornada de Madrid, o Apóstolo Paulo convida a caminhar, "arraigados nele... e apoiados na fé" (Col 2,7). A vida é um caminho, sem dúvida. Não é um caminho incerto e sem destino fixo, mas conduz a Cristo, meta da vida humana e da história. Por este caminho chegareis a encontrar-vos com Aquele que, entregando a sua vida por amor, vos abre as portas da vida eterna. Convido-vos portanto a formar-vos na fé que dá sentido à vossa vida e a fortalecer as vossas convicções, para assim poder permanecer firmes nas dificuldades de cada dia. Além disso, exorto-vos a que, no caminho para Cristo, saibais atrair a vós jovens amigos, companheiros de estudo e de trabalho, para que também eles o conheçam e o confessem como Senhor das suas vidas. Para isso, deixai que a força do Alto que está dentro de vós, o Espírito Santo, se manifeste com a sua atracção imensa. Os jovens de hoje precisam de descobrir a vida nova que vem de Deus, de se saciar com a verdade que tem a sua fonte em Cristo morto e ressuscitado e que a Igreja recebeu como um tesouro para todos os homens.

Queridos jovens, este tempo de preparação para a Jornada Mundial é uma ocasião extraordinária para experimentar também a graça de pertencer à Igreja, Corpo de Cristo. As Jornadas Mundiais manifestam o dinamismo da Igreja e a sua eterna juventude. Quem ama Cristo, ama a Igreja com a mesma paixão, porque ela nos permite viver em estreita relação com o Senhor. Por isso, cultivai as iniciativas que permitam que os jovens se sintam membros da Igreja, em plena comunhão com os seus pastores e com o Sucessor de Pedro. Orai em comum, abrindo as portas das vossas paróquias, associações e movimentos para que todos possam sentir-se na Igreja como na sua própria casa, na qual são amados com o mesmo amor de Deus. Celebrai e vivei a vossa fé com imensa alegria, que é dom do Espírito. Assim, os vossos corações e os dos vossos amigos preparar-se-ão para celebrar a grande festa que é a Jornada da Juventude e todos experimentaremos uma nova epifania da juventude da Igreja.

Nestes dias grandiosos da Semana Santa, que iniciamos ontem, estimulo-vos a contemplar Cristo nos mistérios da sua paixão, morte e ressurreição. Neles descobrireis o que supera qualquer sabedoria e conhecimento, ou seja, o amor de Deus manifestado em Cristo. Aprendei d'Ele, que não veio "para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10,45). É este o estilo do amor de Cristo, marcado com o sinal da cruz gloriosa, na qual Cristo é exaltado, à vista de todos, com o coração aberto, para que o mundo possa contemplar e ver, através da sua humanidade perfeita, o amor que nos salva. A cruz transforma-se assim no próprio sinal da vida, porque nela Cristo vence o pecado e a morte através da entrega total de si mesmo. Por isso, devemos abraçar e adorar a cruz do Senhor, fazê-la nossa, aceitar o seu peso como o Cireneu para participar na única realidade que pode redimir toda a humanidade (cf. Col 1,24). No baptismo fostes marcados com a cruz de Cristo e pertenceis-lhe totalmente. Tornai-vos cada vez mais dignos dela e nunca vos envergonheis deste sinal supremo do amor.

Com esta atitude profundamente cristã, levareis em frente os trabalhos de preparação para a Jornada Mundial da Juventude com sucesso e fecundidade porque, segundo quanto diz São Paulo, tudo podemos n'Aquele que nos dá a força (cf. Ph 4,13). E em Cristo crucificado foram-nos manifestadas a força e a sabedoria de Deus (cf. 1Co 1,14). Deixai-vos arrebatar por esta força e sabedoria, comunicai-as aos outros e, sob a protecção da Santíssima Virgem Maria, preparai com dedicação e alegria a Jornada que fará de Madrid um lugar radiante de fé e de vida, onde os jovens de todo o mundo festejem Cristo com entusiasmo.

Levai a minha saudação afectuosa às vossas famílias e aos amigos e companheiros que não puderam vir hoje, os quais abençoo também de coração.

Felizes festas de Páscoa. Muito obrigado.



VIA CRUCIS NO COLISEU

SAUDAÇÃO

Palatino

Sexta-feira Santa, 10 de Abril de 2009



Amados irmãos e irmãs!

910 No termo da dramática narração da Paixão, o evangelista São Marcos escreve: «O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-Lo expirar daquela maneira, exclamou: “Na verdade, este homem era Filho de Deus!”» (Mc 15,39). Não pode deixar de surpreender-nos a profissão de fé deste soldado romano, que tinha assistido às sucessivas fases da crucifixão. Quando as trevas da noite se preparavam para descer sobre aquela Sexta-feira única na história, quando já o sacrifício da Cruz se tinha consumado e os presentes se apressavam para poder celebrar regularmente a Páscoa hebraica, as poucas palavras, escapadas dos lábios de um anónimo comandante do exército romano, ressoaram no silêncio diante daquela morte muito singular. Este oficial do exército romano, que assistira à execução de um de tantos condenados à pena capital, soube reconhecer naquele Homem crucificado o Filho de Deus, que expirou no abandono mais humilhante. O seu fim ignominioso deveria ter determinado o triunfo definitivo do ódio e da morte sobre o amor e sobre a vida. Mas não foi assim! No cimo do Gólgota, erguia-se a Cruz da qual pendia um homem já morto, mas aquele homem era o «Filho de Deus», como não pôde deixar de confessar o centurião, «ao vê-Lo expirar daquela maneira» – especifica o evangelista.

A profissão de fé deste soldado é-nos proposta todas as vezes que voltamos a ouvir a narração da Paixão segundo São Marcos. Nesta noite também nós, como ele, nos detemos a fixar o rosto exânime do Crucificado, no fim da devoção habitual da Via-Sacra que reuniu, graças à rádio e à televisão, muita gente de toda a parte do mundo. Revivemos a trágica vicissitude de um Homem único na história de todos os tempos, que mudou o mundo, não matando os outros, mas deixando-Se matar pregado numa cruz. Este Homem, aparentemente um de nós e no entanto perdoa aos seus algozes que o matavam, é o «Filho de Deus», que – como nos recorda o apóstolo Paulo – «não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo (…), humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz» (Ph 2,6-8).

A dolorosa paixão do Senhor Jesus não pode deixar de mover à piedade mesmo os corações mais duros, porque constitui o ápice da revelação do amor de Deus por cada um de nós. Observa São João: «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele acredita não pereça mas tenha a vida eterna» (Jn 3,16). É por nosso amor que Cristo morre na cruz. No decurso dos milénios, falanges de homens e mulheres deixaram-se fascinar por este mistério e seguiram a Jesus, fazendo da própria vida por sua vez, como Ele e graças ao seu auxílio, um dom para os irmãos. São os santos e os mártires, muitos dos quais nos são desconhecidos. Mesmo neste nosso tempo, quantas pessoas, no silêncio da sua vida diária, unem os seus sofrimentos aos do Crucificado, tornando-se apóstolos de uma autêntica renovação espiritual e social! O que seria do homem sem Cristo? Observa Santo Agostinho: «Ficarias sempre num estado de miséria, se Ele não tivesse usado de misericórdia contigo. Não terias voltado a viver, se Ele não tivesse partilhado a tua morte. Terias desfalecido, se Ele não tivesse vindo em teu auxílio. Ter-te-ias perdido, se Ele não tivesse chegado» (Discurso 185, 1). Então porque não acolhê-Lo na nossa vida?

Nesta noite, detenhamo-nos a contemplar o seu rosto desfigurado: é o rosto do Homem das dores, que assumiu todas as nossas angústias mortais. O seu rosto reflecte-se no de cada pessoa humilhada e ofendida, doente e atribulada, só, abandonada e desprezada. Derramando o seu sangue, resgatou-nos da escravidão da morte, quebrou a solidão das nossas lágrimas, entrou em cada uma das nossas penas e aflições.

Irmãos e irmãs! Enquanto se destaca a Cruz sobre o Gólgota, o olhar da nossa fé projecta-se para alvorada do Dia novo e saboreamos já a alegria e o fulgor da Páscoa. «Se morremos com Cristo – escreve São Paulo – acreditamos que também com Ele viveremos» (Rm 6,8). Com esta certeza, continuemos o nosso caminho. Amanhã, Sábado Santo, permaneceremos velando em oração. Mas, desde já, unimo-nos em oração com Maria, a Virgem Nossa Senhora das Dores, rezando com todos os aflitos, mormente com todos os atribulados da zona desastrada de Áquila: pedimos que nesta noite escura se levante, para eles também, a estrela da esperança, a luz do Senhor ressuscitado.

Desde já desejo a todos uma Páscoa feliz, na luz do Senhor ressuscitado.





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