Discursos Bento XVI 772

AOS MEMBROS DO CENTRO DE ESTUDOS PARA A ESCOLA CATÓLICA DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA Castel Gandolfo, 25 de Setembro de 2008

Caros Irmãos
773 no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos irmãos e irmãs

O encontro hodierno tem lugar por ocasião do décimo aniversário de fundação do Centro de estudos para a escola católica (CSSC), instituído pela Conferência episcopal italiana como expressão da responsabilidade dos Bispos em relação à escola católica, inclusive no que diz respeito aos centros de formação de inspiração cristã. Portanto, é uma feliz circunstância para renovar a minha estima e o meu encorajamento por aquilo que já se realizou até agora neste importante sector da vida civil e eclesial. Dou-vos as minhas mais cordiais boas-vindas, caros irmãos e irmãs aqui presentes que representais, de certa forma, todos aqueles que a cada nível CEI, USMI, CISM, Institutos religiosos educativos, Universidades, Federações, Associações, Movimentos laicais e outras organizações estão ao serviço da escola católica na Itália. Transmito a cada um a minha afectuosa saudação e a gratidão da Igreja pelo serviço precioso que, com a escola católica, é prestado à evangelização da juventude e do mundo da cultura.

Dirijo uma saudação especial a Mons. Agostino Superbo, Vice-Presidente da Conferência episcopal italiana; aos Bispos membros da Comissão episcopal para a educação católica, a Escola e a Universidade, e especialmente ao seu Presidente, Mons. Diego Coletti, que se fez intérprete dos sentimentos de todos. As suas palavras permitiram-me conhecer as metas alcançadas e as perspectivas que aguardam o Centro de estudos para a educação católica. Depois, dirijo a minha saudação aos participantes no especial Congresso promovido para comemorar este aniversário, e que tem como tema: "Para além da emergência educativa, a escola católica ao serviço dos jovens".
Como é importante a missão da escola católica, reiterou-se muitas vezes nas várias intervenções dos meus venerados Predecessores, retomadas em significativos documentos do Episcopado italiano. A intervenção da CEI intitulada "A escola católica hoje na Itália" afirma, por exemplo, que a missão salvífica da Igreja se realiza em íntima união entre o anúncio de fé e a promoção do homem enquanto encontra, por isso, particular apoio no instrumento privilegiado que é a escola católica, destinada à formação integral do homem (cf. n. 11). E imediatamente depois, acrescenta que "a escola católica é uma expressão do direito de todos os cidadãos à liberdade de educação, e do correspondente dever de solidariedade na construção da convivência civil" (n. 12). Portanto, foi na perspectiva de consolidar em conjunto a dúplice consciência eclesial e civil que o Episcopado italiano sentiu, há dez anos, a necessidade de criar um Centro de estudos dedicado à escola católica. Para ser escolhida e apreciada, é necessário que a escola católica seja conhecida na sua intenção pedagógica; é preciso que se tenha consciência madura não somente da sua identidade eclesial e do seu projecto cultural, mas também do seu significado civil, que deve ser considerado não como defesa de um interesse partidário, mas sim como uma preciosa contribuição para a edificação do bem comum de toda a sociedade italiana.

O vosso Centro de estudos realizou, nesta sua primeira década de actividade, um serviço verdadeiramente inestimável para a Igreja e para a sociedade italiana. Isto é mérito da válida colaboração que se instaurou entre a CEI e os seus departamentos, com as Federações e Associações de escola católica, com a Faculdade de Ciências da Educação da Pontifícia Universidade Salesiana, com o Ministério para a Educação Pública, com a Comissão técnico-científica onde estão representadas a Universidade Católica do Sagrado Coração e a LUMSA, e com quantos, a qualquer nível, colaboram para as suas actividades.

Graças a este entendimento constante, o Centro de estudos conseguiu realizar uma atenta averiguação acerca da situação da escola católica na Itália, seguindo com particular interesse as vicissitudes da paridade e das reformas da escola na Itália. A este propósito, foi evidenciado o facto de que a frequência da escola católica em determinadas regiões da Itália está a aumentar em relação à década precedente, não obstante perdurem situações difíceis e às vezes até críticas. Precisamente no contexto da renovação para a qual desejariam tender aqueles que se interessam pelo bem dos jovens e do país, é necessário favorecer a igualdade efectiva entre escolas estatais e escolas paritárias, que permita aos pais a oportuna liberdade de escolha a respeito da escola a frequentar.

Estimados irmãos e irmãs, o aniversário que estais a comemorar constitui, indubitavelmente, uma ocasião propícia para continuar com renovado entusiasmo o serviço que estais a realizar com proveito. Em particular animo-vos a focalizar o vosso compromisso, como já é vossa intenção, nos seguintes sectores: a difusão de uma cultura destinada a qualificar a pedagogia da escola católica em vista da finalidade da educação cristã; a averiguação da qualidade e a colecta de dados sobre a situação da escola católica; a realização de novas pesquisas para aprofundar as emergências educativas, culturais e organizativas hoje relevantes; o aprofundamento da cultura da igualdade, nem sempre apreciada e às vezes caracterizada por interpretações equívocas; o incremento da profícua colaboração com as Federações/Associações de escolas católicas, no respeito pelas recíprocas competências e finalidades.

Confio a vossa actividade e os futuros projectos à intercessão maternal de Maria, Rainha da Família e Sede da Sabedoria, enquanto vos agradeço esta vossa visita e vos abençoo afectuosamente.




AOS BISPOS DO URUGUAI POR OCASIÃO DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Castel Gandolfo

Sexta-feira, 26 de Setembro de 2008


774 Queridos irmãos no Episcopado!

Apraz-me receber-vos neste encontro que, ao concluir a vossa visita ad Limina, me permite saudar-vos a todos e estimular-vos na esperança, tão necessária para o ministério que generosamente exerceis nas respectivas Igrejas particulares. Agradeço cordialmente as palavras de D. Carlos María Collazzi Irazábal, Bispo de Mercedes e Presidente da Conferência Episcopal do Uruguai, com as quais expressou os partilhados sentimentos de estreita comunhão com a Sé de Pedro, assim como os anseios e as preocupações que invadem o vosso coração de Pastores que desejam responder às expectativas do Povo de Deus.

A visita aos túmulos de São Pedro e São Paulo é uma ocasião privilegiada para aprofundar a origem e o sentido do ministério dos sucessores dos Apóstolos, fiéis transmissores da semente que eles plantaram (cf. Lumen gentium
LG 20), totalmente entregues à proclamação do Evangelho de Cristo e unânimes no seu testemunho. É também uma oportunidade indicada para fortalecer os vínculos de unidade efectiva e afectiva do colégio episcopal, que deve ser manifestação eminente do ideal, tão característico da comunidade eclesial desde as suas origens, de ter "um só coração e uma só alma" (Ac 4,32), e exemplo visível para promover o espírito de irmandade e concórdia entre os vossos fiéis e também na sociedade actual, muitas vezes dominada pelo individualismo e pela rivalidade exasperada.

Esta comunhão manifesta-se também na tarefa de tornar efectivas e concretas as orientações pastorais que propusestes para os próximos cinco anos, inspiradas no sugestivo marco do encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos no caminho de Emaús. De facto, o Mestre que acompanha, conversa com os seus e lhes explica as Escrituras, é um modelo que se deve seguir para preparar a mente e o coração do homem, de modo que consiga descobri-lo e encontrar-se com Ele pessoalmente. Portanto, promover o conhecimento e a meditação da Sagrada Escritura, explicá-la fielmente na pregação e na catequese ou ensiná-la nas escolas, é uma necessidade para conseguir viver a vocação cristã de modo mais consciente, firme e seguro. Animo-vos nesta tarefa com a qual quereis fazer partícipes os vossos fiéis e comunidades eclesiais, do impulso evangelizador e missionário proposto pela V Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, celebrada em Aparecida.

A Palavra de Deus é também a fonte e o conteúdo inesgotável do vosso ministério de "pregadores do Evangelho que conduzem novos discípulos para Cristo" (Lumen gentium LG 25), tão necessário num tempo em que muitas vozes procuram silenciar Deus na vida pessoal e social, levando os homens por caminhos que abalam a autêntica esperança e se desinteressam da verdade firme na qual pode repousar o coração do ser humano. Portanto, ensinai a fé da Igreja na sua integridade, com o vigor e a persuasão próprias de quem vive dela e para ela, sem renunciar a proclamar explicitamente os valores morais da doutrina católica, que por vezes são objecto de debate no âmbito político, cultural ou nos meios de comunicação social, como os que se referem à família, à sexualidade e à vida. Conheço os vossos esforços para defender a vida humana desde a concepção até ao seu fim natural e peço a Deus que eles produzam como fruto em cada uruguaio uma consciência clara da dignidade inviolável de todas as pessoas e um compromisso firme de a respeitar e salvaguardar sem hesitações.

Nesta tarefa, contais com a inestimável colaboração dos sacerdotes, os quais devem ser animados constantemente a fim de que, sem se conformar com o ambiente imperante no mundo (cf. Rm 12,2), sejam verdadeiros discípulos e missionários de Cristo, que levam com fervor a sua mensagem de salvação às paróquias e comunidades, às famílias e a todas as pessoas que anseiam sobretudo por palavras aprendidas do Espírito, e não por conhecimentos meramente humanos (cf. 1Co 2,6). A proximidade assídua dos Pastores de quantos se preparam para o sacerdócio pode ser determinante para uma formação na qual prevaleça o que deve distinguir acima de tudo um ministro da Igreja: o amor a Cristo, uma séria competência teológica em plena sintonia com o Magistério e com a Tradição da Igreja, a meditação constante e pessoal da sua missão salvadora e uma vida irrepreensivelmente em sintonia com o serviço que presta ao Povo de Deus. Desta forma darão testemunho fiel do que pregam e ajudarão os seus irmãos a evitar uma religiosidade superficial e com baixa incidência nos compromissos éticos aos quais a fé obriga, para aprender de Cristo a viver "na justiça e na santidade da verdade" (Ep 4,24).

Neste aspecto, deve-se esperar muito também das pessoas consagradas ou membros de diversos movimentos e associações especialmente comprometidos na missão da Igreja, chamados a dar um alegre testemunho de que a plenitude de vida se alcança quando se prefere ser melhor e não simplesmente ter mais, fazendo brilhar os verdadeiros valores e a alegria incomparável de se ter encontrado com Cristo e de se entregar incondicionadamente a Ele.

Queridos Irmãos, sabeis que a tarefa de testemunha verdadeira de Cristo não é fácil, exige muito, mas é clara e conta muito, mais do que com as próprias forças, com o poder de quem "venceu o mundo" (cf. Jn 16,33). Sem cairdes no desencorajamento, em muitas situações de indiferença ou de apatia religiosa, continuai a ser portadores da "esperança que não desilude" (Rm 5,5) e partícipes do amor de Cristo pelos pobres e necessitados mediante as obras caritativas das comunidades eclesiais. Em situações difíceis, que também atingem os uruguaios, a Igreja é chamada a mostrar a grandeza de coração, a solidariedade e a capacidade de sacrifício da família dos filhos de Deus para com os irmãos em dificuldade.

No final deste encontro, peço-vos que transmitais uma calorosa saudação aos vossos sacerdotes e seminaristas, mosteiros e comunidades religiosas, movimentos e associações, catequistas e demais pessoas dedicadas à apaixonante tarefa de levar e manter viva a luz de Cristo entre o Povo de Deus. Invoco a protecção da Santíssima Virgem Maria sobre as vossas tarefas apostólicas, assim como sobre todos os queridos uruguaios, e concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.




AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO INTERNACIONAL DO MOVIMENTO "RETROVAILLE" Palácio Pontifício de Castel Gandolfo

Sexta-feira, 26 de Setembro de 2008


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
775 no Episcopado e no Sacerdócio
Estimados irmãos e irmãs

É com alegria que vos recebo no dia de hoje, por ocasião do encontro mundial do Movimento Retrouvaille. Saúdo todos vós, cônjuges e presbíteros, juntamente com os responsáveis internacionais desta associação, que há mais de trinta anos trabalha com grande dedicação ao serviço dos casais em dificuldade. Saúdo de modo particular o Cardeal Ennio Antonelli, Presidente do Pontifício Conselho para a Família, e estou-lhe grato pelas suas amáveis expressões, assim como por me ter explicado as finalidades do vosso Movimento.

Prezados amigos, fiquei impressionado com a vossa experiência, que vos põe em contacto com famílias marcadas pela crise do matrimónio. Reflectindo sobre a vossa actividade, mais uma vez reconheci o "dedo" de Deus, ou seja, a obra do Espírito Santo que suscita na Igreja respostas adequadas às necessidades e às emergências de todas as épocas. Sem dúvida, nos nossos dias, uma emergência muito sentida é a das separações e dos divórcios. Portanto, foi providencial a intuição dos cônjuges canadenses Guy e Jeannine Beland, em 1977, de ajudar os casais em crise grave a enfrentá-la através de um programa específico, que visa a reconstrução das suas relações, não em alternativa às terapias psicológicas, mas com um percurso distinto e complementar. Com efeito, vós não sois profissionais, sois esposos que muitas vezes viveram pessoalmente as mesmas dificuldades, que as superaram com a graça de Deus e o auxílio do Retrouvaille e sentiram o desejo e a alegria de colocar, por sua vez, a própria experiência ao serviço do próximo. Entre vós há diversos sacerdotes que acompanham os esposos no seu caminho, partindo para eles a Palavra e o Pão da vida. "Recebestes de graça, dai também vós de graça" (
Mt 10,8): é nestas palavras de Jesus, dirigidas aos seus discípulos, que vos inspirais constantemente.

Como a vossa experiência demonstra, a crise conjugal falamos aqui de crises sérias e graves constitui uma realidade de duas faces. Por um lado apresenta-se, especialmente na sua fase aguda e mais dolorosa, como uma falência, como a prova de que o sonho terminou ou se transformou num pesadelo e, infelizmente, "já não há nada a fazer". Este é o aspecto negativo. Mas existe outro aspecto, que nos é muitas vezes desconhecido, mas que Deus vê. Com efeito, cada crise ensina-nos a natureza é a passagem para uma nova fase de vida. Porém, se nas criaturas inferiores isto acontece automaticamente, no homem implica a liberdade, a vontade e, portanto, uma "esperança maior" que o desespero. Nos momentos mais obscuros, os cônjuges perderam a esperança; então, há necessidade de outros que a conservem, de um "nós", de uma companhia de verdadeiros amigos que, com o máximo respeito, mas também com o desejo sincero do bem, estejam prontos a compartilhar um pouco da sua esperança com quem a perdeu. Não de modo sentimental ou volúvel, mas organizado e realista. É assim que vos tornais, no momento da ruptura, a possibilidade concreta para o casal de ter uma referência positiva, na qual confiar na hora do desespero. Com efeito, quando o relacionamento degenera, os cônjuges caem na solidão, tanto individual como conjugal. Perdem o horizonte da comunhão com Deus, com o próximo e com a Igreja. Então, os vossos encontros oferecem o "pretexto" para não se perderem completamente e para se restabelecerem de forma gradual. Apraz-me pensarem vós como em guardiães de uma esperança maior para os esposos que a perderam.

Por conseguinte, a crise como fase de crescimento. É nesta perspectiva que se pode ler a narração das bodas de Caná (cf. Jn 2,1-11). A Virgem Maria dá-se conta de que os esposos "não têm mais vinho" e di-lo a Jesus. Esta falta de vinho faz pensar no momento em que, na vida do casal, termina o amor, se esgota a alegria e diminui bruscamente o entusiasmo do matrimónio. Depois de Jesus ter transformado a água em vinho, felicitaram o esposo porque diziam tinha conservado até àquele momento "o vinho bom". Isto significa que o vinho de Jesus era melhor que o precedente. Sabemos que este "vinho bom" é símbolo da salvação, da nova aliança nupcial que Jesus veio realizar com a humanidade. Mas precisamente dela é sacramento todo o matrimónio cristão, mesmo o mais miserável e vacilante, e portanto pode encontrar na humildade a coragem de pedir ajuda ao Senhor. Quando um casal em dificuldade, ou como a vossa experiência demonstra até já separado, se confia a Maria e se dirige Àquele que dos dois fez "uma só carne", pode estar certo de que essa crise se tornará, com a ajuda do Senhor, uma passagem de crescimento, e que assim o amor será purificado, amadurecido e revigorado. Isto só pode ser realizado por Deus, que deseja servir-se dos seus discípulos como de válidos colaboradores, para se aproximar dos casais, para os ouvir e ajudar a descobrir o tesouro escondido do matrimónio, o fogo que permaneceu sepultado debaixo das cinzas. É Ele quem reaviva e volta a fazer arder a chama; sem dúvida, não da mesma forma que o namoro, mas de maneira diferente, mais intensa e profunda: porém, sempre a mesma chama.

Caros amigos, que quisestes pôr-vos ao serviço dos outros num campo tão delicado, asseguro-vos a minha oração para que este vosso compromisso não se torne uma mera actividade, mas permaneça sempre, em última análise, testemunho do amor de Deus. O vosso é um serviço "contra a corrente". Com efeito, hoje quando um casal entra em crise encontra muitas pessoas prontas a aconselhar a separação. Até aos cônjuges unidos em nome do Senhor é proposto com facilidade o divórcio, esquecendo que o homem não pode separar aquilo que Deus uniu (cf. Mt 19,6 Mc 10,9). Para cumprir esta vossa missão, também vós tendes necessidade de alimentar continuamente a vossa vida espiritual, de pôr amor naquilo que realizais para que, em contacto com realidades difíceis, a vossa esperança não se esgote ou não se reduza a uma fórmula. Que vos ajude nesta delicada obra apostólica a Sagrada Família de Nazaré, à qual confio o vosso serviço, e especialmente os casos mais difíceis. Permaneça ao vosso lado Maria, Rainha da Família, enquanto de coração concedo a Bênção apostólica a vós e a todos os membros do Movimento Retrouvaille.




AOS SENHOR PAVEL VOSALÍK NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA CHECA JUNTO DA SANTA SÉ Castel Gandolfo, 27 de Setembro de 2008



Senhor Embaixador

Apraz-me recebê-lo hoje, no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Checa. Estou grato pelas amáveis palavras proferidas ao dar início à missão que lhe foi confiada pelo seu governo. Peço-lhe que exprima as minhas saudações mais respeitosas a Sua Excelência, Senhor Václav Klaus, Presidente da República, assegurando-lhe as minhas preces pelo bem-estar de toda a população do seu país.

Senhor Embaixador, aprecio a importância que atribuiu à influência da cristandade sobre a rica herança cultural da sua nação, e de modo particular o papel que o Evangelho desempenhou, dando esperança ao povo checo em períodos de opressão. Com efeito, a esperança é uma mensagem imperecível que a Igreja transmite a todas as gerações e que a estimula a participar na missão mundial de forjar vínculos de paz e de boa vontade entre todos os povos. E fá-lo de maneira especial mediante a sua actividade diplomática, através da qual enaltece a dignidade de pessoas destinadas a uma vida de comunhão com Deus e com o próximo.

776 A sua nação, animada pelo sentido de solidariedade que a tornou capaz de emergir intrepidamente da derrocada do totalitarismo, deseja contribuir também para o bem-estar da família humana, fomentando a cooperação internacional na luta contra a violência, a fome, a pobreza e outros males sociais. Em breve, novos campos de influência vão apresentar-se ao seu país, que se prepara para assumir a Presidência do Conselho da União Europeia no próximo ano. Estou persuadido de que, estabelecendo metas claras e facilitando o compromisso de todos os Estados membros, a honra distinta de presidir ao Conselho por um mandato de seis meses há-de permitir que a República Checa exerça uma vigorosa liderança no empreendimento coral de vincular a unidade e a diversidade, a soberania nacional e a actividade conjunta, o progresso económico e a justiça social de lés a lés do continente.

A Igreja está perfeitamente consciente dos numerosos desafios que a Europa deve enfrentar, precisamente num período em que as suas nações aspiram a construir uma comunidade internacional mais estável para as gerações vindouras. Para progredirem, os seus líderes são chamados a reconhecer que a felicidade e o bem-estar do homem não podem ser alcançados apenas mediante estruturas, ou através de uma única camada de vida social ou política (cf. Spe salvi ). A realização de uma cultura genuína, digna da nobre vocação do homem, exige a cooperação harmoniosa das famílias, das comunidades eclesiais, das escolas, do comércio, das organizações comunitárias e das instituições governamentais. Longe de serem um fim em si mesmas, estas entidades são estruturas organizadas, destinadas ao serviço de todos, e estão integralmente ligadas umas às outras na busca do bem comum (cf. Centesimus annus
CA 13).

Por este motivo, toda a sociedade é beneficiada quando à Igreja é reconhecido o direito de administrar os bens materiais e espirituais exigidos para o seu ministério (cf. Gaudium et spes GS 88). Na sua nação, Senhor Embaixador, existem sinais de progressos neste sector, mas ainda há muito a fazer. Estou convicto de que as Comissões especiais definidas pelo seu governo e parlamento, para resolver as questões mais importantes relativas às propriedades eclesiásticas, progredirão com honestidade, justiça e o justo reconhecimento da capacidade que a Igreja tem de contribuir para o bem-estar da República. De modo particular, faço votos para que estas considerações sejam bem claras na busca de uma solução a propósito do futuro da Catedral de Praga, que sobressai como uma testemunha viva da rica herança cultural e religiosa da sua terra, enquanto dá testemunho da coexistência harmoniosa da Igreja e do Estado.

Pela sua própria natureza, o Evangelho exorta as pessoas de fé a oferecerem-se ao serviço amoroso dos seus irmãos e irmãs, sem qualquer distinção e sem poupar esforços (cf. Lc 10,25-37). O amor é a manifestação exterior da fé que sustém a comunidade de fiéis e os torna capazes de ser sinais de esperança para o mundo (cf. Jn 13,35). Um exemplo desta caridade visível resplandece através da obra da Cáritas, cujos membros se comprometem diariamente numa vasta gama de serviços sociais no seu país. Isto é particularmente evidente no serviço que oferece em favor das mulheres grávidas, dos desabrigados, dos portadores de deficiência e dos encarcerados. A coordenação entre a Cáritas da República Checa e os Ministérios governamentais da Saúde, do Trabalho e dos Assuntos Sociais demonstra os frutos potenciais que podem derivar da íntima colaboração entre os organismos do Estado e da Igreja (cf. Deus caritas est ). Gostaria de ressaltar aqui a enorme potencialidade formativa para os jovens, cuja participação em tais iniciativas ensina à juventude que a solidariedade genuína não consiste meramente na oferta de bens materiais, mas na entrega de si mesmo (cf. Lc 17,33). Além disso, enquanto a República Checa está a aumentar as formas de participação na tarefa de formação de uma comunidade internacional mais coesiva e cooperativa, não deveríamos esquecer os numerosos cidadãos checos que já estão a trabalhar no estrangeiro em projectos de desenvolvimento e de assistência a longo prazo, sob os auspícios da Cáritas e de outras organizações humanitárias. Encorajo de todo o coração os esforços de tais organizações e aprecio a generosidade de todos os concidadãos, Senhor Embaixador, que criativamente buscam formas de servir o bem comum, tanto no interior da sua nação como no mundo inteiro.

Excelência, antes de concluir, permita-me manifestar-lhe as minhas sinceras condolências, bem como aos seus compatriotas, pela trágica morte do Senhor Ivo Zd'árek, Embaixador da República Checa no Paquistão, que foi uma das vítimas do recente atentado em Islamabad. Rezo todos os dias pelo fim de tais actos de agressão, e encorajo quantos estão comprometidos no serviço diplomático, a dedicarem-se cada vez mais intensamente para promover a paz e garantir a segurança no mundo inteiro.

No momento em que o Senhor Embaixador começa o seu serviço, faço extensivos os meus bons votos a fim de que esta importante missão que lhe foi confiada produza frutos copiosos. Tenha a certeza de que os departamentos da Cúria Romana estão prontos para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Enquanto lhe peço que garanta ao povo da República Checa as minhas orações e a minha estima, invoco sobre ele a abundância das bênçãos divinas e confio-o à Providência amorosa de Deus Todo-Poderoso.






AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO PROMOVIDO PELO CENTRO TURÍSTICO JUVENIL E PELO ÓRGÃO INTERNACIONAL DO TURISMO SOCIAL Castel Gandolfo

Sábado, 27 de Setembro de 2008




Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Queridos amigos!

777 É com alegria que vos recebo e apresento as minhas cordiais boas-vindas. Agradeço ao Cardeal Martino, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, ter-me ilustrado as motivações do encontro de hoje, e ter-se feito intérprete também dos vossos sentimentos. Saúdo o Arcebispo Agostino Marchetto, Secretário do mesmo Conselho que se ocupa da pastoral da mobilidade humana, na qual se insere também a atenção pastoral ao turismo. A minha saudação destina-se também à Senhora Maria Pia Bertolucci e a Mons. Guido Lucchiari, respectivamente Presidente e Consultor eclesiástico do Centro Turístico Juvenil (CTG), principal artífice desta visita, assim como ao Dr. Norberto Tonini, Presidente da Repartição Internacional do Turismo Social (BITS), que se associou à iniciativa. A todos vós aqui presentes, dou uma saudação afectuosa.

O nosso encontro realiza-se por ocasião da celebração hodierna do Dia Mundial do Turismo. O tema deste ano O turismo enfrenta o desafio da mudança climática indica uma problemática de grande actualidade, que faz referência à potencialidade do sector turístico em relação ao estado do planeta e do bem-estar da humanidade. As vossas duas instituições já estão comprometidas num turismo atento à promoção integral da pessoa, numa visão de sustentabilidade e solidariedade, o que faz com que sejais actores qualificados na obra de conservação e de valorização responsável dos recursos da criação, imenso dom de Deus à humanidade.

A humanidade tem o dever de proteger este tesouro e de se comprometer contra um uso indiscriminado dos bens da terra. Sem um adequado limite ético e moral, o comportamento humano pode de facto transformar-se em ameaça e desafio. A experiência ensina que a gestão responsável da criação faz parte, ou assim deveria ser, de uma economia sadia e sustentável do turismo. Ao contrário, o uso impróprio da natureza e o abuso feito à cultura das populações locais danificam também o turismo. Aprender a respeitar o meio ambiente ensina também a respeitar os outros e a si mesmos. Já em 1991, na Encíclica Centesimus annus, o meu amado predecessor João Paulo II tinha denunciado o consumo excessivo e arbitrário dos recursos, recordando que o homem é colaborador de Deus na obra da criação e não O pode substituir. Ressaltou também como a humanidade de hoje deve "estar consciente dos seus deveres e tarefas em relação às gerações futuras" (n. 37).

Portanto, é necessário, sobretudo no âmbito do turismo, grande fruidor da natureza, que todos tendam para uma gestão equilibrada do nosso habitat, daquela que é a nossa casa comum e sê-lo-á para quantos vierem depois de nós. A degradação ambiental só pode ser impedida difundindo uma adequada cultura comportamental, que inclua estilos de vida mais sóbrios. Eis a importância, como recordei recentemente, de educar para uma ética da responsabilidade e de proceder com "propostas mais construtivas para garantir o bem-estar das gerações futuras" (Discurso no Eliseu, ed. port. de L'Oss. Rom.
Rm 38).

Além disso, a Igreja partilha com as vossas Instituições e outras Organizações semelhantes o compromisso pela difusão do turismo chamado social, que promove a participação das camadas mais débeis e pode ser assim um válido instrumento de luta contra a pobreza e tantas fragilidades, fornecendo empregos, preservando os recursos e promovendo a igualdade. Este turismo representa um motivo de esperança num mundo no qual existem distâncias acentuadas entre quem tem tudo e quem sofre fome, carestias e secas. Faço votos por que a reflexão proporcionada por este Dia Mundial do Turismo, graças ao tema proposto, consiga influenciar positivamente o estilo de vida de muitos turistas, de modo que cada qual dê a própria contribuição para o bem-estar de todos, que é em definitiva o de cada um.

Por fim, dirijo um convite aos jovens para que, através destas vossas Instituições, se façam defensores e fautores de comportamentos destinados ao apreço da natureza e à sua defesa, numa perspectiva ecológica correcta, como ressaltei várias vezes por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em Sidney, em Julho passado. Compete também às novas gerações promover um turismo sadio e solidário, que elimine o consumismo e o desperdício dos recursos da terra, para deixar espaço a gestos de solidariedade e de amizade, de conhecimento e de compreensão. Desta forma o turismo pode tornar-se instrumento privilegiado de educação para a convivência pacífica. Deus vos ajude no vosso trabalho. Por minha vez, disto tende a certeza, garanto-vos uma recordação na oração, enquanto com afecto concedo a Bênção Apostólica a vós aqui presentes, às pessoas que vos são queridas e aos membros das vossas beneméritas Instituições.



SAUDAÇÃO ÀS COMUNIDADES ECLESIAL E CIVIL DE CASTEL GANDOLFO Segunda-feira, 29 de Setembro de 2008



Caros irmãos e irmãs

Também este ano chegou o momento de me despedir de vós, no final do período de Verão. Antes de regressar ao Vaticano, sinto a sincera necessidade de vos renovar a minha gratidão por quanto fizestes por mim e pelos meus colaboradores. Saúdo e agradeço em primeiro lugar ao Bispo de Albano Laziale, D. Marcello Semeraro, ao pároco de Castel Gandolfo e à comunidade paroquial, juntamente com as comunidades religiosas que aqui vivem e trabalham. Encontro-me convosco em várias ocasiões e gostaria de vos repetir hoje que o Papa está grato pelo vosso apoio material e espiritual.

Depois, saúdo o Senhor Presidente da Câmara Municipal e os componentes da Administração Municipal, que me manifestam sempre a sua proximidade. Sei com quanto zelo vós, queridos amigos, trabalhais durante a minha estadia. Como disse noutras circunstâncias, aprecio muito a vossa hospitalidade e esforço para garantir toda assistência a mim, assim como aos hóspedes e aos peregrinos que me vêm visitar, especialmente ao domingo para a habitual reunião do Angelus. Peço-vos transmitir os sentimentos do meu reconhecimento à inteira população de Castel Gandolfo.

Dirijo-me agora com igual afecto aos responsáveis e adidos aos múltiplos Serviços do Governatorato. De cada um de vós, queridos irmãos e irmãs, pude apreciar a competência e a dedicação, e estou agradecido por tudo. O Senhor vos assista e torne frutuoso o vosso empenho quotidiano.


Discursos Bento XVI 772