Discursos Bento XVI 821

À PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO

PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2008



Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Amados irmãos e irmãs!

Dirijo as cordiais boas-vindas a todos vós, que participais na sessão plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Em primeiro lugar, a minha saudação dirige-se ao Cardeal Presidente, ao qual estou grato também pelas gentis palavras com que ilustrou o trabalho que desempenhastes nestes dias. A minha saudação faz-se extensiva ao Secretário, e aos demais colaboradores do Pontifício Conselho, bem como a quantos, provenientes de várias partes, ofereceram a contribuição da sua experiência para a reflexão comum sobre o tema da vossa reunião: "Recepção e futuro do diálogo ecuménico". Trata-se de um tema de grande interesse para o caminho rumo à plena unidade entre os cristãos; um tema que apresenta duas dimensões essenciais: por um lado, o discernimento do itinerário até agora percorrido e, por outro, a identificação de novos caminhos para o prosseguir, procurando juntos o modo para superar as divergências que infelizmente ainda permanecem nas relações entre os discípulos de Cristo.

Não há dúvida de que o diálogo teológico constitui uma componente fundamental para restabelecer a plena comunhão pela qual todos ansiamos e, por isso, deve ser apoiada e encorajada. Cada vez mais, este diálogo realiza-se no contexto das relações eclesiais que, por graça de Deus, se vão alargando e abrangem não só os Pastores, mas todas as várias componentes e articulações do Povo de Deus. Agradecemos ao Senhor pelos significativos passos realizados, por exemplo, nas relações com as Igrejas ortodoxas e com as antigas Igrejas ortodoxas do Oriente quer no que diz respeito ao diálogo teológico, quer pela consolidação e o crescimento da fraternidade eclesial. O último documento da Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas ortodoxas sobre o tema "Comunhão eclesial, sinodalidade e autoridade", ao qual se referiu explicitamente Sua Santidade Bartolomeu i falando à recente Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, abre certamente uma perspectiva positiva de reflexão sobre a relação que existe entre primazia e sinodalidade na Igreja, tema de importância primordial nas relações com os irmãos ortodoxos, e que será objecto de aprofundamento e de confronto nas próximas reuniões. É confortador também observar como cresceu nos últimos anos um sincero espírito de amizade entre católicos e ortodoxos, e se tenha manifestado também nos numerosos contactos realizados entre Responsáveis da Cúria Romana e Bispos da Igreja católica com Responsáveis das diversas Igrejas ortodoxas, assim como nas visitas de outros representantes ortodoxos a Roma e a Igrejas particulares católicas.

Na vossa Sessão Plenária reflectistes, de modo especial, sobre o chamado Harvest Project: "Ecumenical consensus/convergence on some basic aspects of the Christian faith found in the reports of the first four international bilateral dialogues in which the Catholic Church has taken part since the Second Vatican Council" [Consentimento/convergência ecuménica sobre alguns aspectos fundamentais da fé cristã identificados nas relações dos primeiros quatro diálogos bilaterais internacionais nos quais a Igreja Católica participou depois do Concílio Vaticano II]. Este confronto levou-vos a examinar os resultados de quatro importantes diálogos: o diálogo com a Federação Luterana Mundial, com o Conselho Mundial Metodista, com a Comunhão Anglicana e com a Aliança Reformada Mundial. Se traçastes quanto, com a ajuda de Deus, já se conseguiu alcançar na recíproca compreensão e na localização de elementos de convergência, não evitastes contudo, com grande honestidade, fazer sobressair o que ainda permanece para realizar. Poder-se-ia dizer que estamos a caminho, numa situação intermédia, onde se manifesta sem dúvida que é útil e oportuno um exame objectivo dos resultados obtidos. E estou certo de que o trabalho desta vossa sessão dará um válido contributo para elaborar, nesta perspectiva, uma reflexão mais ampla, clara e pormenorizada.

Queridos irmãos e irmãs, em muitas regiões a situação ecuménica hoje é diferente e está a mudar ulteriormente, o que obriga a um esforço de um confronto sincero. Vão sobressaindo novas comunidades e grupos, vão-se delineando tendências inéditas, e por vezes até tensões entre as Comunidades cristãs, e é por conseguinte importante o diálogo teológico, que diz respeito ao âmbito concreto da vida das várias Igrejas e Comunidades eclesiais. Insere-se nesta perspectiva o tema da vossa Plenária, e o discernimento indispensável para traçar de modo concreto as perspectivas do empenho ecuménico que a Igreja católica pretende prosseguir e intensificar com prudência e sabedoria pastoral. Ressoam no nosso espírito o mandamento de Cristo, o "mandatum novum", e a sua oração pela unidade "ut omnes unum sint... ut mundus credat quia tu me misisti (Jn 17,21). A caridade ajudará os cristãos a cultivar a "sede" da plena comunhão na verdade e, seguindo docilmente as inspirações do Espírito Santo, podemos ter a esperança de cedo alcançar a desejada unidade, quando o Senhor quiser. Eis por que o ecumenismo nos solicita a um fraterno e generoso intercâmbio de dons, cientes de que a plena comunhão na fé, nos sacramentos e no ministério permanece a finalidade e a meta de todo o movimento ecuménico. Deste vasto empreendimento, o ecumenismo espiritual, como afirmou claramente o Concílio Vaticano II, é o coração pulsante.

Estamos a viver os dias do Advento, que nos prepara para o Natal de Cristo. Este tempo de vigilante expectativa mantenha viva em nós a esperança do cumprimento do Reino de Deus, da Basileia tou Theou, e nos acompanhe e nos guie Maria, Mãe da Igreja, no não fácil caminho rumo à unidade. Com estes sentimentos, formulo bons votos para as próximas festas do Natal e, enquanto vos agradeço de novo pelo trabalho que desempenhastes nesta assembleia, invoco sobre todos vós e sobre cada um a bênção de Deus.




AOS PEREGRINOS DA BAIXA ÁUSTRIA POR OCASIÃO DA OFERTA DA ÁRVORE DE NATAL Sala da Bênção

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Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2008


Queridos irmãos e irmãs

Um cordialíssimo "Grüß Gott" a todos vós que viestes para oferecer ao Santo Padre e à Igreja de Roma a árvore de Natal que, juntamente com o presépio, adornará a Praça de São Pedro no próximo período natalício. Dirijo particulares boas-vindas ao Senhor Governador Regional da Baixa Áustria, Dr. Erwin Pröll, e um agradecimento pelas amáveis palavras que me dirigiu inclusive em nome de todos os presentes. Saúdo também o Bispo de Sankt Pölten, D. Klaus Küng e, em representação da delegação e de todos os hóspedes da Baixa Áustria, o Presidente da Câmara Municipal de Gutenstein, Sr. Johann Seper, em cujo território cresceu esta árvore maravilhosa. Enfim, dirijo a minha saudação particular aos jovens cantores de Altenburg e aos músicos de Ziersdorf, que com a sua execução musical conferiram ao nosso encontro uma tonalidade festiva e são, por assim dizer, mensageiros da rica cultura do vosso país e das suas múltiplas tradições. Obrigado de coração!

O dom que provém dos bosques do vosso bonito país do qual fazem parte também outros pinheiros que trouxestes para conferir ao Palácio Apostólico e a vários lugares no Vaticano uma atmosfera natalícia vem-me à memória a visita que, no ano passado, pude realizar à vossa Pátria. Nessa ocasião, visitei um dos numerosos mosteiros que caracterizam o vosso país e que dão testemunho da sua história profundamente cristã. Todos os fiéis deverão assumir o compromisso de fazer com que também no futuro este testemunho por Cristo permaneça vivo, para oferecer aos homens ajuda e orientação na sua vida.

Nas próximas semanas, a árvore de Natal será motivo de alegria para os romanos e para os numerosos peregrinos que, do mundo inteiro, vierem à Cidade eterna por ocasião da festividade da Natividade de Cristo. Da janela dos meus aposentos, também eu poderei contemplar com alegria sempre renovada a árvore ao lado do presépio. A forma bem contornada, o seu verde e as luzes nos seus ramos constituem símbolos de vida. Além disso, fazem-nos pensar no mistério da Noite Santa. Cristo, o Filho de Deus, traz ao mundo escuro, frio e não redimido, onde vem nascer, uma nova esperança e um novo esplendor. Se o homem se deixar sensibilizar e iluminar pelo esplendor da verdade viva que é Cristo, experimentará uma paz interior no seu coração e tornar-se-á pacificador numa sociedade que tem muita nostalgia de reconciliação e de redenção.

Estimados amigos! Uma vez mais, um sincero "Vergelt's Gott" por este bonito dom! Agradeço também a todos os colaboradores que hoje não podem estar aqui presentes, aos patrocinadores e a quantos se ocuparam do transporte da árvore. O Senhor vos recompense pela disponibilidade com que, generosamente, contribuístes para a entrega da árvore. Desde hoje, manifesto-vos os meus melhores votos para uma Festa de Natal repleta de graças, e peço-vos que os transmitais também às vossas famílias e aos vossos compatriotas. Asseguro-vos a minha oração pelas vossas famílias e pelo vosso país, e confio todos vós à intercessão de Maria, Padroeira da Áustria, e do Padroeiro da Região, São Leopoldo. O Senhor salvaguarde a vossa Região e abençoe a Áustria inteira!

VISITA À EMBAIXADA DA ITÁLIA JUNTO DA SANTA SÉ

ENCONTRO

COM OS FUNCIONÁRIOS DA EMBAIXADA ACOMPANHADOS PELOS FAMILIARES Sábado, 13 de Dezembro de 2008

Senhor Subsecretário da Presidência do Conselho
Prezados amigos

Nesta minha breve visita à Embaixada da Itália, o primeiro encontro realiza-se nesta bonita Capela recém-restaurada e renovada. E estou feliz por me encontrar, precisamente aqui, convosco que constituís a comunidade de vida e de trabalho desta Embaixada. Saúdo todos vós com afecto, juntamente com os vossos familiares. Dirijo uma saudação especial ao Senhor Subsecretário da Presidência do Conselho dos Ministros, que me transmitiu a saudação do Presidente do Conselho e me dirigiu calorosas boas-vindas, fazendo-se intérprete dos vossos sentimentos. Ele recordou que esta Capela, abençoada há poucos dias pelo Senhor Cardeal Secretário de Estado, é dedicada a um Santo, cujo nome está indissoluvelmente vinculado a este Palácio: São Carlos Borromeu. Ele, juntamente com o irmão Frederico, recebeu como dom esta habitação do seu tio, o Pontífice Pio IV com quem, nomeado Cardeal ainda muito jovem, colaborou no governo da Igreja universal. Foi precisamente depois da morte do irmão mais velho, que o jovem sobrinho do Pontífice começou um processo de amadurecimento espiritual, até chegar a uma profunda conversão, caracterizada por uma decidida opção de vida evangélica. Tornando-se Bispo, dedicou todo o seu desvelo à Arquidiocese de Milão. Da sua biografia sobressai com clareza o zelo com que cumpriu o seu ministério episcopal, promovendo a reforma da Igreja segundo o espírito do Concílio de Trento, cujos delineamentos pôs em prática de modo exemplar, manifestando uma proximidade constante às populações, especialmente durante os anos da peste, a ponto de ser chamado precisamente em virtude desta sua dedicação generosa "Anjo dos empestados". A vicissitude humana e espiritual de São Carlos Borromeu mostra como a graça divina pode transformar o coração do homem e torná-lo capaz de um amor aos irmãos impelido ao sacrifício de si.

Caros irmãos e irmãs, à protecção de São Carlos confio cada um de vós aqui presentes, juntamente com os vossos familiares, para que também vós possais cumprir a missão que Deus vos confia ao serviço do próximo, em conformidade com as vossas diferentes funções. Enfim, aproveito esta ocasião para vos desejar um feliz e santo Natal, enquanto vos abençoo de coração.

VISITA À EMBAIXADA DA ITÁLIA JUNTO DA SANTA SÉ


ÀS AUTORIDADES DIPLOMÁTICAS


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Sábado, 13 de Dezembro de 2008


Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros
Senhor Subsecretário
da Presidência do Conselho
Senhor Embaixador junto da Santa Sé
Representantes do Corpo Diplomático junto da Santa Sé
Ilustres Autoridades
Senhores e Senhoras

Estou verdadeiramente feliz por poder acolher hoje o amável convite que me foi dirigido para visitar este histórico edifício, sede da Embaixada da Itália junto da Santa Sé. Saúdo todos cordialmente, a começar pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, a quem agradeço as deferentes expressões que acabou de me dirigir. Saúdo os demais Ministros, as Autoridades presentes e de modo especial o Embaixador Antonio Zanardi Landi. Obrigado de coração pela gentil recepção, acompanhada de um agradável intervalo musical.

Como já foi recordado, este histórico Palácio recebeu a visita de três dos meus Predecessores: os Servos de Deus Pio XII, no dia 2 de Junho de 1951; Paulo VI, a 2 de Outubro de 1964; e João Paulo II, em 2 de Março de 1986. Na hodierna, solene e ao mesmo tempo familiar circunstância, voltam-me à mente também os recentes encontros com o Presidente da República: o do passado dia 24 de Abril, por ocasião do concerto que ele me ofereceu pelo solene aniversário do meu serviço na Cátedra de Pedro; depois o de 4 de Outubro, no Quirinal; e o de quarta-feira passada na Sala Paulo VI, no Vaticano, por ocasião do concerto pela celebração do 60º aniversário da Declaração dos Direitos do Homem, à qual Vossa Excelência, Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, fez referência. Enquanto dirijo uma deferente e grata saudação ao Presidente da República, apraz-me retomar aquilo que pude afirmar precisamente durante a visita ao Quirinal, ou seja, que "na cidade de Roma convivem pacificamente e colaboram de modo fecundo o Estado italiano e a Sé Apostólica (ed. port. de L'Osservatore Romano de 11 de Outubro de 2008, pág. 5).

Bastaria a singular atenção demonstrada pelos Pontífices a esta Sede diplomática para assinalar o reconhecimento do importante papel que desempenhou e desempenha a Embaixada da Itália nas intensas e particulares relações que intercorrem entre a Santa Sé e a República Italiana, assim como nos relacionamentos de mútua colaboração entre a Igreja e o Estado da Itália. Sem dúvida, teremos a oportunidade de evidenciar esta importante dúplice ordem de vínculos diplomáticos, sociais e religiosos no mês de Fevereiro do próximo ano, na celebração do 80º aniversário da assinatura dos Pactos Lateranenses e do 25º aniversário do Acordo de Revisão da Concordata. A este aniversário já foi feita referência para ressaltar justamente o fecundo relacionamento que existe entre a Itália e a Santa Sé. Trata-se de um entendimento muito importante e significativo, na actual situação mundial, na qual o perdurar de conflitos e de tensões entre povos torna cada vez mais necessária uma colaboração entre todos aqueles que compartilham os mesmos ideais de justiça, de solidariedade e de paz. Além disso, referindo-se àquilo que Vossa Excelência, Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros disse, não posso deixar de mencionar com sentimentos de profunda gratidão a colaboração que, quotidianamente, se realiza entre a Embaixada da Itália e a minha Secretaria de Estado, e a este propósito saúdo cordialmente os Chefes de Missão que nestes anos se sucederam no Palácio Borromeu e que hoje gentilmente quiseram estar presentes connosco.

824 Esta breve visita é-me propícia para confirmar como a Igreja está bem consciente de que "pertence à estrutura fundamental do cristianismo a distinção entre o que é de César e o que é de Deus (cf. Mt 22,21), isto é, a distinção entre Estado e Igreja" (Encíclica Deus caritas est ). A Igreja não só reconhece e respeita esta distinção e esta autonomia, mas sente-se feliz por elas, como um grande progresso da humanidade e uma condição fundamental para a sua própria liberdade e o cumprimento da sua missão universal de salvação entre todos os povos. Ao mesmo tempo, a Igreja sente como sua tarefa, seguindo os preceitos da própria doutrina social, argumentada "a partir daquilo que é conforme com a natureza de todo o ser humano" (Ibidem), de despertar na sociedade as forças morais e espirituais, contribuindo para abrir as vontades às autênticas exigências do bem. Por isso, evocando o valor que têm para a vida não só particular, mas também e sobretudo pública, alguns princípios éticos fundamentais, com efeito a Igreja contribui para garantir e promover a dignidade da pessoa e o bem comum da sociedade, e neste sentido realiza-se a desejada, verdadeira e própria cooperação entre Estado e Igreja.

Agora seja-me permitido mencionar com gratidão também a preciosa contribuição que, tanto esta Representação diplomática como em geral as Autoridades italianas oferecem com generosidade, a fim de que a Santa Sé possa cumprir livremente a sua missão e, por conseguinte, também manter relações diplomáticas com muitos países do mundo. A este propósito, saúdo e agradeço ao Decano e a alguns Representantes do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, que participam neste nosso encontro, e estou convicto de que eles compartilham este apreço pelos inestimáveis serviços que a Itália presta à sua delicada e qualificada missão.

Senhores e Senhoras, é verdadeiramente significativo que a Representação diplomática italiana junto da Santa Sé tenha desde 1929 a sua sede onde viveu São Carlos Borromeu quando era jovem, que então exercia o ofício de colaborador do Pontífice Romano na Cúria Romana, chefiando aquela que normalmente se define a diplomacia da Santa Sé. Portant0, aqueles que aqui trabalham podem encontrar neste Santo um protector constante e, ao mesmo tempo, um modelo no qual encontrar inspiração no cumprimento das suas tarefas quotidianas. Confio à sua intercessão quantos se reuniram aqui hoje, e formulo a cada um sinceros votos de todo o bem. Enquanto se aproxima a solenidade do Natal do Senhor Jesus, estes votos estendem-se às Autoridades italianas, a começar pelo Presidente da República, e a todo o dilecto povo desta amada Península. Além disso, os meus votos de paz incluem todos os países da terra, quer sejam ou não oficialmente representados junto da Santa Sé. São votos de luz e de autêntico progresso humano, de prosperidade e de concórdia, realidades todas às quais podemos aspirar com esperança confiante, porque são dádivas que Jesus trouxe ao mundo ao nascer em Belém. A Virgem Maria, que há poucos dias pudemos venerar como a Imaculada Conceição, obtenha para a Itália e para o mundo inteiro estes dons e todos os outros bens verdadeiros almejados, do seu Filho, o Príncipe da paz, cuja bênção invoco de coração sobre todos vós e sobre as pessoas que vos são queridas.



AO SENHOR ISAAC CHIKWEKWERW LAMBA

NOVO EMBAIXADOR DO MALAVI JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008



Excelência

No momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador e Ministro Plenipotenciário da República do Malavi junto da Santa Sé, dou-lhe as cordiais boas-vindas. Peço-lhe que transmita as minhas saudações ao Presidente, Dr. Bingu wa Mutharika, juntamente com os meus sinceros bons votos para que Deus abençoe a nação e o seu povo com prosperidade e paz.

Agradeço-lhe a sua amável menção à contribuição da Igreja para o desenvolvimento espiritual e económico do Malavi, especialmente através do seu apostolado nos campos da educação, da ajuda caritativa e da assistência médica. Esta missão tem a sua fonte e inspiração no desejo que a Igreja sente por dar testemunho do amor de Deus (cf. Deus caritas est ); como tal, não conhece fronteiras de raça ou credo, mas procura tornar cada ser humano capaz de desenvolver-se plenamente como indivíduo e como membro de uma sociedade caracterizada pela solidariedade e pela solicitude genuína pelas necessidades do próximo. A recente fundação da Universidade Católica em Blantyre constitui um sinal do compromisso da Igreja na formação intelectual e humana dos jovens que hão-de tornar-se os líderes da próxima geração, com a responsabilidade pela formação do futuro do seu país e do mais vasto continente do qual ele faz parte.

Com efeito, a África está cada vez mais consciente da urgente necessidade de unidade e cooperação para enfrentar os desafios do futuro e assegurar um desenvolvimento sólido e integral para o seu povo. Isto exige políticas sábias e clarividentes, a prudente administração dos recursos e a resolução de combater a corrupção e a injustiça, assim como de promover a responsabilidade cívica e a solidariedade fraterna a todos os níveis da sociedade (cf. Ecclesia in Africa ). De modo especial, os líderes políticos hão-de ter um profundo sentido do seu dever de fazer progredir o bem comum e assim estar firmemente comprometidos no diálogo e na prontidão a transcender os interesses particulares no serviço a toda a estrutura política. Como muitos dos seus vizinhos, também o Malavi tem experimentado as dificuldades e as lutas derivadas do esforço por edificar uma sociedade livre, moderna e democrática. Formulo votos a fim de que os importantes passos que actualmente estão a ser dados pelos líderes religiosos e sociais do seu país, para ajudar a abrir vias de comunicação mais amplas e uma maior cooperação na vida política da nação, dêem fruto numa renovada determinação em vista de enfrentar conjuntamente as críticas questões que o Malavi está a enfrentar no momento presente.

Com efeito, a luta contra a pobreza, a necessidade de garantir a segurança alimentar e os esforços permanentes por combater a enfermidade, especialmente o flagelo da sida, representam prioridades de desenvolvimento que não podem ser adiadas. O desenvolvimento autêntico, em acréscimo ao seu necessário aspecto económico, deve contribuir para o progresso intelectual, cultural e moral dos indivíduos e dos povos. A Igreja está convencida de que o Evangelho confirma e enobrece tudo aquilo que é verdadeiro e bom na sabedoria e nos valores tradicionais dos povos com os quais se encontra (cf. Nostra aetate NAE 2). Por este motivo, ela preocupa-se em promover modelos de desenvolvimento integral, enquanto resiste a paradigmas de progresso que são contrários a estes valores tradicionais. Enquanto o Malavi procura fomentar um sólido crescimento económico, é necessário que a satisfação das necessidades humanas elementares e a garantia de um padrão de vida digno, especialmente para as camadas mais indigentes das populações, continuem a ser prioridades essenciais. De igual modo, modelos de desenvolvimento ética e economicamente sólidos devem incluir um compromisso específico no respeito pelo meio ambiente natural, que representa um tesouro confiado a toda a humanidade, e deve ser responsavelmente cultivado e salvaguardado, para o bem das gerações futuras (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2008, n. 7).

Foi com particular apreço que observei a sua referência à tolerância religiosa que caracteriza a vida da sua nação, e à importância para a sociedade, que haja relacionamentos respeitosos e harmoniosos entre os seguidores das várias religiões. A liberdade religiosa garantida pela constituição do Malavi tem permitido que a Igreja proclame a sua mensagem sem coerção nem interferência, e desempenhe a sua obra de educação e de caridade. E tem consentido também que a comunidade católica participe livremente na vida cívica, contribua para a formação das consciências e manifeste a dimensão moral das várias questões sociais, políticas e económicas que dizem respeito à vida nacional. Ao levar a cabo as suas actividades, a Igreja que está no Malavi não busca privilégios para si mesma, mas somente a autonomia necessária para cumprir a sua missão ao serviço de Deus e do homem. Uma vez que o respeito pela consciência e pela liberdade religiosa constituem a pedra angular de toda a estrutura dos direitos humanos (cf. Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, 7 de Janeiro de 2008), a garantia certa de tais direitos deve ser considerada como uma condição essencial para a edificação de uma sociedade verdadeiramente justa, livre e fraterna.

No momento em que Vossa Excelência se prepara para assumir a sua missão ao serviço do Malavi e do seu povo, formulo-lhe os meus sinceros bons votos e, ao mesmo tempo, asseguro-lhe que os vários Departamentos da Santa Sé estão preparados para o assistir no cumprimento dos seus altos deveres. Estou convicto de que a sua missão servirá para consolidar as boas relações já existentes entre a Santa Sé e a República do Malavi. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todos os seus concidadãos, invoco cordialmente as bênçãos de alegria e de paz do Deus Omnipotente.




À SENHORA PEROLS ULLA BIRGITTA GUDMUNDSON NOVA EMBAIXADORA DO REINO DA SUÉCIA JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


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Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008




Excelência

Estou feliz por lhe dar as boas-vindas ao Vaticano e por aceitar as Cartas que a acreditam como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária do Reino da Suécia junto da Santa Sé. Gostaria de expressar o meu agradecimento pelos bons votos que Vossa Excelência me transmite da parte do Rei Carlos XVI Gustavo. Peço-lhe que tenha a amabilidade de comunicar a Sua Majestade as minhas cordiais saudações e de lhe assegurar as minhas preces contínuas por todo o povo da sua nação.

A Santa Sé valoriza os seus vínculos diplomáticos com a Suécia, estabelecidos já há mais de um quarto de século. Desde a recente transferência para Estocolmo da residência do Núncio Apostólico junto dos países nórdicos, as relações entre a Suécia e a Santa Sé progrediram ulteriormente. Além disso, a população católica do seu país cresceu de maneira considerável ao longo dos últimos anos, e não em menor medida por causa do grande número de refugiados provenientes do mundo inteiro, que foram acolhidos com tanta generosidade. É particularmente apreciável o facto de que milhares de refugiados cristãos oriundos do Iraque foram recebidos na Suécia. Como Vossa Excelência sabe, o flagelo dos cristãos no Médio Oriente constitui uma grande solicitude para mim, e enquanto rezo quotidianamente para um melhoramento das condições nas suas respectivas pátrias, que lhes permita permanecer nelas, ao mesmo tempo reconheço com gratidão as boas-vindas oferecidas àqueles que foram obrigados a fugir. A oportunidade de prestar culto em conformidade com as suas próprias tradições representa um elemento importante no gesto de fazer com que se sintam em casa, e o seu Governo tem demonstrado sabedoria ao reconhecer o papel fulcral desempenhado a este propósito por parte das várias Igrejas às quais eles pertencem.

A abertura à imigração traz consigo, inevitavelmente, o desafio de manter relações harmoniosas entre os diversificados elementos presentes na população. O seu Governo tem envidado esforços prudentes em vista de promover a integração, e a comunidade católica está ansiosa por oferecer a sua própria contribuição, edificando a coesão social e fomentando uma educação nas virtudes. No campo do compromisso em prol da dignidade da pessoa humana e da defesa dos direitos humanos e das liberdades individuais, há um grande terreno em comum entre a Igreja e as autoridades suecas, como Vossa Excelência observou. Então, será importante construir ulteriormente sobre esta base ao longo dos anos vindouros.

Manter um equilíbrio entre liberdades contrastantes entre si representa um dos desafios mais delicados que se apresenta ao Estado moderno. Alguns dos dilemas que se impõem são de particular solicitude para a Santa Sé. Por exemplo, cada sociedade liberal tem o dever de avaliar atentamente até que medida à liberdade de palavra e de expressão pode ser permitido que ignore as sensibilidades religiosas. Esta problemática é de particular importância, quando a integração harmoniosa entre os diferentes grupos religiosos constitui uma prioridade. Além disso, o direito de ser defendido contra a discriminação é, às vezes, invocado em circunstâncias que põem em dúvida o direito que os grupos religiosos têm de manifestar e de pôr em prática as suas convicções vigorosamente sentidas, por exemplo no que diz respeito à importância fundamental para a sociedade da instituição do matrimónio, entendido como uma união entre um homem e uma mulher que dure a vida inteira, como uma união aberta à transmissão da vida. E até mesmo ao direito à própria vida, no caso do nascituro, é com frequência negada a salvaguarda legal incondicional que ela merece. O sexagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que se está a celebrar no corrente ano, impele-nos a considerar em que medida a nossa sociedade garante os direitos legítimos de todos os seus membros, de maneira especial dos mais frágeis e mais vulneráveis. A Santa Sé deseja ardentemente comprometer-se com todas as partes interessadas, no debate contínuo que se refere a estas questões no mundo contemporâneo.

A nível internacional, a Suécia oferece muitas contribuições importantes para a consecução da paz e para a luta contra a pobreza. Sempre desejosa de encorajar as iniciativas humanitárias e de pacificação nas regiões tumultuosas do mundo, a Santa Sé aprecia as contribuições oferecidas pelo seu país, em vista de ajudar a resolver os conflitos, por exemplo na África, nos Balcãs, no Médio Oriente e no Afeganistão. É oportuno reconhecer a obra levada a cabo por numerosos dos seus concidadãos, homens e mulheres, como o Conde Folke Bernadotte, Dag Hammarskjöld e inumeráveis outros, que dedicaram a sua própria vida às missões de paz no mundo inteiro. Entre os países mais abastados, a Suécia sobressai pela assistência que oferece aos projectos de desenvolvimento para o benefício das nações mais pobres. O papel activo desempenhado pela Suécia na promoção do bem da humanidade é eloquentemente expresso nos prestigiosos prémios que confere a homens e mulheres de extraordinária realização nos campos das artes, das ciências e da consecução da paz. Reconhecendo todas estas actividades dignas de valor, e gostaria de recordar a estima da Santa Sé pela decisão do Governo sueco de ter entregue o Per Anger Prize ao Arcebispo D. Gennaro Verolino em 2004, como reconhecimento pela sua obra em favor dos direitos humanos durante os anos em que servia na Nunciatura em Budapeste, durante a segunda guerra mundial.

Excelência, ao transmitir-lhes os melhores votos pelo bom êxito da sua missão, gostaria de lhe garantir que os vários Departamentos da Cúria Romana estão prontos para lhe oferecer ajuda e apoio no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo do Reino da Suécia, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus.




AO SENHOR CHRISTIAN SHEKA KARGBO NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE SERRA LEOA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008



Excelência

É-me grato recebê-lo no Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Serra Leoa junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis saudações e bons sentimentos que me expressou em nome do Senhor Presidente da República, Sua Excelência o Dr. Ernest Bai Koroma. Peço que lhe transmita o meu agradecimento e as minhas pessoais congratulações e bons votos, enquanto ele governa o país na sua posição de Chefe de Estado. Gostaria de lhe pedir a gentileza de lhe manifestar as minhas saudações e os meus bons votos aos membros do Governo, às autoridades civis e a todos os seus compatriotas.

826 Senhor Embaixador, o regresso do seu país à paz e à estabilidade, depois de muitos anos de conflito, constitui um grandioso sinal de esperança para a África e para o mundo. Com efeito, as recentes eleições manifestaram o desejo que o povo tem de uma paz que seja duradoura e de uma democracia sólida. A suave transição entre um governo e outro fala bem dos representantes políticos do país e do seu desejo de servir os próprios eleitores. É edificante ver como estes acontecimentos inauguraram um novo capítulo na sua história nacional, depois de tantos anos de violência destruidora. Uno as minhas esperanças às dos outros, e rezo a fim de que a nação continue ao longo do caminho de edificação de instituições democráticas cada vez mais sólidas, fomentando a justiça e fortalecendo o bem comum.

Enquanto o seu povo está a comprometer-se nesta delicada missão de edificação nacional, ainda mais árdua dado que deve ser empreendida contra o pano de fundo de um agitado clima económico internacional, o seu Governo justamente salienta a prioridade de reviver a agricultura e a indústria em conformidade com as necessidades da população e com o devido respeito pelo meio ambiente e pelo bem-estar das gerações vindouras. Este tipo de desenvolvimento sustentável, que promove a adequada administração dos recursos do país, só pode ser eficazmente alcançado na economia globalizada do tempo presente, mediante uma cooperação concertada entre os sectores privado e público, e através de um diálogo aberto com outros países e organismos internacionais. Se os jovens do seu país, que desejam desempenhar a parte que lhes compete no progresso da nação, receberem uma formação adequada e condições favoráveis para maiores oportunidades de trabalho, então é a nação inteira que será beneficiada. Não tenho qualquer dúvida de que estas iniciativas, consideradas em conjunto com o presente clima de estabilidade social, hão-de representar um incentivo para aqueles que desejam participar no desenvolvimento económico da sua nação. Por sua vez, a Igreja católica está persuadida de que os serviços que ela oferece nos campos da assistência à saúde, dos programas sociais e da educação continuarão a ter um impacto cada vez mais positivo na luta contra a enfermidade, a pobreza e o subdesenvolvimento. Com efeito, ela considera a sua missão como uma tarefa intimamente associada à promoção do desenvolvimento humano integral (cf. Ecclesia in Africa ).

Senhor Embaixador, o seu Governo tem dado prioridade à tarefa sensível da purificação do tecido moral da sociedade e está convicto de que a erradicação de práticas de corrupção no campo da política constitui um tema-chave neste processo. A experiência tem demonstrado que as nações só podem alcançar um progresso estável, quando a maioria dos seus cidadãos forem adequadamente alimentados, oportunamente educados e se respeitam uns aos outros. A Igreja católica há-de continuar a cooperar na promoção de um clima moral de esperança para o futuro. Efectivamente, ela sente-se feliz por contribuir para esta tarefa importante, de maneira especial no campo da educação, onde novas gerações de jovens são formados, em vista de se tornarem membros activos e responsáveis da sociedade. Esta missão será ainda mais bem sucedida e satisfatória para todas as pessoas interessadas, se as suas instituições educativas, inspiradas por valores e princípios religiosos, puderem gozar de um grau suficiente e aceitável de autonomia e de iniciativa institucionais.

Excelência, a Serra Leoa recebeu a bênção de se ter libertado do conflito étnico ou religioso. A diversidade, em termos de linguagem e de costumes, representa uma riqueza que deve ser valorizada. Além disso, a religião ensina os seus seguidores a considerarem os outros como irmãos e irmãs, que em conjunto são chamados na grande família humana a construir uma casa comum, em paz e cooperação. A Igreja católica que está na Serra Leoa continuará a encorajar a compreensão mútua e a boa vontade entre os diferentes grupos étnicos e religiosos, opondo-se aos preconceitos e apoiando a cooperação (cf. Ecclesia in Africa ). Comprometendo-se no diálogo inter-religioso, ela está convencida de que o exemplo de um relacionamento estreito e respeitoso entre os líderes religiosos há-de levar os fiéis a consolidar as suas atitudes de compreensão recíproca e de cooperação pacífica.

Senhor Embaixador, estas são algumas das reflexões que a presente situação da Serra Leoa sugeriu. Formulo-lhe votos de todo o bom êxito na sua missão e convido-o a valer-se da cooperação disponível dos Departamentos da Cúria Romana. Possa o Deus Todo-Poderoso conceder a Vossa Excelência, à sua família e à nação que o Senhor Embaixador representa, abundantes e duradouras bênçãos de bem-estar e de paz!





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