Discursos Bento XVI 832

AO SENHOR NASER MUHAMED YOUSSEF AL BELOOSHI PRIMEIRO EMBAIXADOR DO BARHEIN JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

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Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008




Senhor Embaixador

É com grande alegria que o recebo no Vaticano no momento em que apresenta as Cartas que o acreditam como primeiro Embaixador extraordinário e plenipotenciário do Reino do Barhein junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu assim como as saudações e o convite que me transmitiu da parte de Sua Majestade o Rei Hamad Bin Isa Al-Khalifa. Retribuo, pedindo-lhe a amabilidade de lhe transmitir os meus melhores votos pela sua pessoa assim como pelos habitantes do Reino, a fim de que todos vivam em paz e em prosperidade.

A visita que Sua Majestade me fez a Castel Gandolfo em Julho passado, assim como a sua designação como primeiro Embaixador do Reino de Barhein, são sinais das boas relações com a Santa Sé, às quais o seu país deseja dar continuidade. Disto me alegro profundamente e faço votos por que elas se aprofundem ulteriormente.

Os progressos que o Reino conheceu durante os últimos anos manifestam a preocupação constante de progredir rumo ao estabelecimento de uma sociedade aberta ao mundo e de relações cada vez mais fraternas com as outras nações, permanecendo fiel aos seus valores tradicionais legítimos. A participação da maioria nas orientações e na gestão da vida do país contribui para manter a unidade e a solidariedade entre os seus diversos componentes, e para favorecer o bem comum.

Desejo congratular-me pelo compromisso do seu país em promover uma política de paz e de diálogo, o qual Vossa Excelência ressaltou. O Reino do Barhein tem de facto uma longa tradição de tolerância e de acolhimento, recebendo sobretudo numerosos trabalhadores estrangeiros, que participam no desenvolvimento do país. Quando eles se afastam das suas nações de origem e dos seus familiares, o que faz com que a sua vida seja mais difícil, que eles possam sentir-se como na própria casa no seu país, graças ao acolhimento favorável que lhes é reservado!

Entre estes trabalhadores estrangeiros um grande número é de religião católica. Gostaria de agradecer às Autoridades do Reino o acolhimento que lhes é destinado assim como a possibilidade que lhes é concedida de praticar o seu culto. E, apraz-me recordar que a igreja erigida em 1939, num terreno oferecido pelo Emir dessa época, foi a primeira igreja construída nos países do Golfo. Contudo, todos estão conscientes de que hoje, com o aumento do número dos católicos, seria desejável que pudessem dispor de outros lugares de culto.

O respeito pela liberdade religiosa, que se encontra entre os direitos garantidos pela constituição do seu País, é de importância fundamental, pois diz respeito ao que há de mais sagrado no homem: a sua relação com Deus. A religião dá a resposta à questão do verdadeiro sentido da existência no campo pessoal e social. A liberdade religiosa, que permite que cada um viva a sua crença sozinho ou em comunidade, em privado ou em público, exige também a possibilidade para a pessoa de mudar de religião se a sua consciência o exige. Portanto, desde o Concílio Vaticano ii, a Igreja católica quis ressaltar solenemente a obrigação para o homem de seguir a sua consciência em todas as circunstâncias e o facto que a pessoa não pode ser obrigada a agir contra ela (cf. Declaração sobre a liberdade religiosa, Dignitatis humanae
DH 3).

O seu país tem também a preocupação de contribuir para o estabelecimento de um diálogo autêntico entre as culturas e entre os membros das religiões. De facto, é indispensável que uma compreensão cada vez mais sincera entre as pessoas e entre os grupos humanos e religiosos possa crescer para estabelecer relações cada vez mais fraternas. Isto começa por uma escuta respeitosa uns dos outros, baseada numa estima recíproca. Mesmo reconhecendo as divergências que nos separam, cristãos e muçulmanos, assim como as abordagens diferentes que temos sobre vários aspectos, é importante que no mundo de hoje possamos colaborar para defender e promover os valores fundamentais da vida e da família que permitem que o homem viva na fidelidade ao Deus único e que a sociedade se estabeleça na paz e na solidariedade.

Por seu intermédio, Senhor Embaixador, gostaria de saudar também muito calorosamente a comunidade católica do seu país, assim como o seu Vigário Apostólico. Peço a Deus que os ampare na sua fé e que os ajude a ser testemunhas autênticas da esperança que os anima. No Reino de Barhein, como em todos os países, os católicos procuram contribuir para o bem da sociedade. Por isso, a Sacred Hearth School, dirigida por religiosas carmelitas, que proporcionam um ensino de grande qualidade aos jovens, sem distinção de origem nem de religião, é há longos anos um sinal eloquente deste compromisso. Nesta perspectiva, faço votos por que a Igreja local e as suas instituições ofereçam cada vez mais a sua contribuição própria para o bem de toda a sociedade, em diálogo confiante e em colaboração eficaz com as Autoridades do país.

Senhor Embaixador, no momento em que inicia a sua missão junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus melhores votos para o seu bom êxito e garanto-lhe a disponibilidade dos meus colaboradores junto dos quais encontrará sempre compreensão e apoio para o seu feliz cumprimento.

833 Sobre a sua pessoa, a sua família, os seus colaboradores assim como sobre todos os habitantes do Reino de Bahrein e seus dirigentes, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos do Altíssimo.




AO SENHOR PIO BOSCO TIKOISUVA NOVO EMBAIXADOR DAS ILHAS FIJI JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008




Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República das Ilhas Fiji junto da Santa Sé. Gostaria de manifestar a minha gratidão pelos bons votos que Vossa Excelência me transmite da parte do Presidente, Senhor Ratu Josefa, e do Primeiro-Ministro, Senhor Frank Bainimarama. Peço-lhe a cortesia de comunicar as minhas saudações a cada um deles e de lhes assegurar as minhas preces incessantes por todo o povo das Ilhas Fiji.

A Santa Sé sente-se sempre animada ao ver sinais de progresso por uma paz e estabilidade maiores, enquanto espera ardentemente que os passos dados rumo ao restabelecimento de uma forma de governo democraticamente eleito nas Ilhas Fiji, haurindo dos talentos e das energias de todos os habitantes, produzam frutos. Com efeito, um dos princípios-chave da visão cristã da organização social e política é a virtude da solidariedade, através da qual os diferentes elementos da sociedade trabalham em conjunto para alcançar o bem comum de todos, produzindo deste modo aquilo que o meu predecessor, Papa Paulo VI, descreveu tão maravilhosamente como a "civilização do amor" (Homilia para o encerramento do Ano Santo de 1975). Por este motivo, a Igreja julga que o sistema democrático dá voz a todos os diferentes sectores da sociedade e encoraja a responsabilidade comum. No entanto, subsiste o facto de que "o bem-estar moral do mundo nunca pode ser garantido simples e unicamente através de estruturas, por melhores que elas possam ser" (Spe salvi ): a democracia por si só não é suficiente, a não ser que seja orientada e iluminada por valores arraigados na verdade a respeito da pessoa humana (cf. Centesimus annus CA 46).

É aqui que as relações diplomáticas da Santa Sé com os Estados pode oferecer uma importante contribuição para o bem comum. Enquanto os governantes assumem a responsabilidade pelo ordenamento político do Estado, a Igreja proclama incessantemente a sua visão da dignidade e dos direitos, que a pessoa humana recebe de Deus. É com base nisto que ela anima os líderes políticos a assegurarem que todo o seu povo possa viver em paz e liberdade, sem medo, discriminações ou injustiças de qualquer tipo. Ela exorta as autoridades civis a garantirem o mais fundamental entre os direitos, nomeadamente o direito à vida desde o momento da concepção até à morte natural. Daqui deriva o direito a viver numa família unida e num ambiente moral que leve ao crescimento pessoal, o direito a buscar e a conhecer a verdade através da educação, o direito a trabalhar e a gozar do próprio trabalho, o direito a estabelecer uma família e a educar os filhos de maneira responsável. A síntese de todos estes direitos encontra-se na liberdade religiosa, entendida como "o direito a viver na verdade da própria fé e em conformidade com a dignidade transcendente da pessoa" (Centesimus annus CA 47).

A comunidade católica em Fiji deseja ardentemente desempenhar a sua parte na promoção do devido respeito à pessoa humana, especialmente através do compromisso na educação e nas actividades caritativas. Com efeito, a formação adequada dos jovens e o serviço aos necessitados faz parte integrante da missão da Igreja no mundo, e ambos são elementos-chave na sua contribuição para o bem comum da sociedade. Graças à presença de cristãos de diferentes tradições, assim como aos membros de outras religiões, Fiji oferece um terreno fértil para o desenvolvimento de iniciativas ecuménicas e para o diálogo inter-religioso. A Igreja católica tem o prazer de contribuir com a sua experiência nestes sectores, e de cooperar com todos os homens e mulheres de boa vontade, em vista de oferecer o testemunho comum dos valores que devem alicerçar a "civilização do amor". De modo particular, exorta aqueles que prestam culto a Deus, a promoverem a causa dos pobres, dos humildes e dos indefesos, daqueles que foram sempre reconhecidos como especialmente próximos dele.

Senhor Embaixador, como Vossa Excelência sabe, neste período a região do Pacífico está a enfrentar muitos desafios, não menos os efeitos da mudança climática, especialmente sobre as populações insulares, e a necessidade de preservar os recursos naturais. A beleza da criação de Deus é particularmente evidente para aqueles que vivem no Sul do Pacífico. Formulo fervorosos votos por que, através da cooperação regional e global, se possa alcançar um acordo sobre "um modelo de desenvolvimento sustentável, capaz de assegurar o bem-estar de todos, mas no respeito pelos equilíbrios do meio ambiente" (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2008, n. 7). Deste modo, as gerações futuras dos habitantes insulares do Pacífico serão capazes de desfrutar das maravilhas do génio da criação de Deus e viver na verdadeira paz e harmonia com a natureza.
Excelência, ao formular os melhores votos pelo bom êxito da sua missão, gostaria de lhe garantir que os vários Departamentos da Cúria Romana estão prontos para apoiar e contribuir para o cumprimento das suas tarefas. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo da República das Ilhas Fiji, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus.



A ONZE NOVOS EMBAIXADORES JUNTO DA SANTA SÉ

Sala Clementina

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Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008


Excelências

É com alegria que vos recebo esta manhã para a apresentação das Cartas que vos acreditam como Embaixadores extraordinários e plenipotenciários dos vossos respectivos Países junto da Santa Sé: Malavi, Suécia, Serra Leoa, Islândia, Grão-Ducado de Luxemburgo, República de Madagáscar, Belize, Tunísia, República do Cazaquistão, Reino do Barhein, e República das Ilhas Fiji. Agradeço-vos as gentis palavras que tivestes o cuidado de me dirigir da parte dos vossos Chefes de Estado. Agradeço-vos a amabilidade de lhes transmitirdes as minhas cordiais saudações e os meus votos deferentes pelas suas pessoas e pela alta missão ao serviço dos seus Países e povos. Desejo saudar também, por vosso intermédio, todas as Autoridades civis e religiosas das vossas nações, assim como os vossos compatriotas. As minhas orações e pensamentos dirigem-se também de modo particular às vossas comunidades católicas presentes nos vossos países onde elas se preocupam por viver o Evangelho e testemunhá-lo num espírito de colaboração fraterna.

A diversidade das vossas proveniências permitem-me dar graças a Deus pelo seu amor criador e pela multiplicidade dos seus dons que não cessam de surpreender a humanidade. Ela é um ensinamento. Por vezes a diversidade assusta, e por isso não admira constatar que, com frequência, o homem prefere a monotonia da uniformidade. Sistemas político-económicos provenientes ou que reivindicam matrizes pagãs ou religiosas afligiram a humanidade por muito tempo e procuraram uniformizá-la com demagogia e violência. Eles reduziram e, por vezes, ainda reduzem o homem a uma escravidão ao serviço de uma ideologia única ou de uma economia desumana e pseudo-científica. Todos sabemos que não existe um modelo político único como ideal a ser absolutamente realizado, e que a filosofia política evolui no tempo e na sua expressão com a clarividência da inteligência humana e das lições tiradas da sua experiência política e económica. Cada povo tem o seu génio e também os "seus demónios". Cada povo progride através de um parto por vezes doloroso que lhe é próprio, rumo a um porvir que deseja luminoso. Os meus votos são por que cada povo cultive o seu génio que enriquecerá do melhor modo possível para o bem de todos, e se liberte dos seus "demónios" que controlará do melhor modo até os eliminar transformando-os em valores positivos e criadores de harmonia, de prosperidade e de paz a fim de defender a grandeza da dignidade humana!

Reflectindo sobre a bela missão do Embaixador, veio-me espontâneo ao coração um dos aspectos essenciais da sua actividade: a busca e a promoção da paz que acabo de evocar. Desejo citar a Bem-Aventurança pronunciada por Cristo no Sermão da montanha: "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus" (
Mt 5,9). O Embaixador pode e deve ser um construtor de paz. O pacificador a que nos referimos aqui, não é apenas a pessoa de temperamento calmo e conciliador que deseja viver em harmonia com todos e evitar se possível os conflitos, mas é também quem se coloca totalmente ao serviço da paz e se compromete activamente para a construir, por vezes até à doação da sua vida. A paz não implica unicamente o estado político ou militar de não-conflito: ela remete globalmente para o conjunto das condições que permitem a concórdia entre todos e o desenvolvimento pessoal de cada um. A paz é querida por Deus que a propõe ao homem e lha concede como dom. Esta intervenção divina na humanidade tem o nome de "aliança de paz" (Is 54,10). Quando Cristo chama o artífice de paz, filho de Deus, significa que ele participa e trabalha, de modo consciente ou inconsciente, na obra de Deus e prepara, através da sua missão, as condições necessárias para o acolhimento da paz que vem do alto. A vossa missão, Excelências, é alta e nobre. Ela exige todas as vossas energias que sabereis empregar para alcançar este ideal nobre que honrará as vossas pessoas, os vossos Governos e respectivos países.

Como eu, vós sabeis que a paz autêntica só é possível se reinar a justiça. O nosso mundo tem sede de paz e de justiça. A Santa Sé publicou, na vigília da Conferência de Doha que terminou há poucos dias, uma Nota sobre a actual crise financeira e sobre as suas repercussões na sociedade e nos indivíduos. Trata-se de alguns pontos de reflexão destinados a promover o diálogo sobre vários aspectos éticos que deveriam reger as relações entre as finanças e o desenvolvimento, e a enconrajar os governos e os agentes económicos a procurar soluções duradouras e solidárias para o bem de todos, e mais particularmente para quantos estão mais expostos às dramáticas consequências da crise. Voltando ao tema da justiça, ela não tem apenas um alcance social ou até ético. Ela não se refere unicamente ao que é equitativo ou conforme com o direito. A etimologia judaica da palavra justiça refere-se ao que se ajusta. A justiça de Deus manifesta-se portanto mediante a sua verdade. Ela põe tudo em jogo, tudo na ordem, para que o mundo seja conforme com o desígnio de Deus e com a sua ordem (cf. Is 11,3-5). A nobre tarefa do Embaixador consiste portanto em empregar a sua arte para que tudo seja "ajustado", a fim de que a nação que ele serve viva não só em paz com os outros países mas também segundo a justiça que se expressa pela igualdade e pela solidariedade nas relações internacionais, e para que os cidadãos, gozando da paz social, possam viver livre e serenamente as suas crenças e alcançar assim a "verdade" de Deus.

Senhoras e Senhores Embaixadores, acabais de iniciar a vossa missão junto da Santa Sé. Apresento-vos de novo os meus votos mais cordiais para o bom êxito da função tão delicada que estais chamados a desempenhar. Imploro o Todo-Poderoso para que vos assista e vos acompanhe, a vós, aos vossos familiares e colaboradores e a todos os vossos compatriotas, a fim de contribuir para a realização de um mundo mais pacífico e justo. Deus vos cumule com a abundância das suas Bênçãos!



POR OCASIÃO DO 25º ANIVERSÁRIO

DO CENTRO TELEVISIVO VATICANO Sala do Consistório

Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008




Caríssimos irmãos e irmãs

Sinto-me feliz por encontrar-me convosco, funcionários, colaboradores e conselheiros do Centro Televisivo Vaticano, acompanhados dos vossos familiares, para comemorar o 25º aniversário da fundação do vosso Centro. Saúdo, em particular, o Senhor Cardeal John P. Foley e o Director-Geral Pe. Federico Lombardi, a quem agradeço a saudação que me dirigiu, ilustrando a realidade do Centro. Também gostaria de recordar o saudoso Dr. Emílio Rossi, que por vários anos foi Presidente do Centro e depois Presidente do seu Conselho de Administração, oferecendo o testemunho de um generoso e competente serviço à Igreja e à sociedade. O Centro foi desejado pelo meu Predecessor João Paulo II em 1983, com a consciência de que a Santa Sé, além dos instrumentos de comunicação de que já dispunha, devia também possuir uma estrutura própria, para que o serviço do Papa à Igreja universal e à humanidade pudesse servir-se inclusive desse meio, cuja eficácia começa a manifestar-se com sempre maior evidência.

835 Videre Petrum, ver o Papa, foi o desejo que trouxe a Roma inúmeros peregrinos. Hoje este desejo, pelo menos em parte, pode ser satisfeito também graças à rádio e à televisão, que permitem a muitíssimas pessoas, antes mediante a voz e agora por intermédio das imagens, participar nas celebrações e eventos que se realizam no Vaticano ou nos lugares que o Papa visita no cumprimento do seu ministério. Por conseguinte, antes de tudo o vosso serviço é precioso para a comunhão na Igreja. A colaboração com as televisões católicas caracterizou o vosso Centro desde as suas origens. Na Itália, Telepace e Sat2000 transmitem quase todas as vossas filmagens, mas é muito encorajador saber que não poucas televisões católicas em diversas regiões do mundo estão em ligação convosco. Deste modo, um número cada vez maior de fiéis pode seguir, em directa ou em transmissão em diferido, o que acontece no centro da Igreja.

Mas a televisão não alcança só os fiéis católicos. Ao colocar as imagens à disposição das maiores agências televisivas mundiais e das grandes televisões nacionais ou comerciais, favoreceis uma adequada e tempestiva informação sobre a vida e o ensinamento da Igreja no mundo de hoje, ao serviço da dignidade da pessoa humana, da justiça, do diálogo e da paz. As relações de boa colaboração que vos esforçastes por estabelecer no vasto mundo da comunicação televisiva, em particular por ocasião das viagens internacionais do Papa, ampliaram o campo do vosso serviço, pode-se bem dizer, até aos confins do mundo, respondendo às expectativas humanas e espirituais de inúmeros contemporâneos nossos.

No vosso serviço sois chamados com muita frequência a filmar e difundir as imagens de importantes e maravilhosas celebrações litúrgicas que se realizam no centro da cristandade. A liturgia é verdadeiramente o ápice da vida da Igreja, tempo e lugar da relação profunda com Deus. Seguir o evento litúrgico através do olhar atencioso da telecâmera, para permitir uma verdadeira participação espiritual inclusive aos que não podem estar presentes fisicamente, é tarefa elevada e empenhativa, que requer também de vós uma preparação séria e uma autêntica sintonia espiritual com aquilo de que sois de certo modo os intermediários. A boa colaboração com o Departamento das Celebrações Litúrgicas, que cultivais há muito tempo, ajudar-vos-á a crescer cada vez mais neste precioso serviço espiritual aos telespectadores de todo o mundo.

As imagens que filmastes durante os anos e agora ciosamente conservais, fazem do vosso arquivo um recurso inestimável, não só para a produção de programas televisivos actuais e futuros, mas podemos dizer, para a história da Santa Sé e da Igreja. Conservar adequadamente a gravação das vozes e das imagens é uma tarefa tecnicamente difícil e economicamente dispendiosa, mas é um dos vossos papéis institucionais que vos encorajo a desempenhar com confiança. A fim de que a Igreja continue a estar presente com a sua mensagem "no grande areópago" da comunicação social como o definia João Paulo II e não esteja fora dos espaços nos quais numerosos jovens navegam em busca de respostas e de sentido para a própria vida, deveis procurar as vias para difundir, de formas novas, vozes e imagens de esperança através da rede telemática que envolve o nosso planeta com malhas cada vez mais estreitas.

Além disso, não estais sós ao enfrentar a vossa missão. Hoje justamente se fala da "convergência" entre os diversos mass media. Os confins entre um e outro atenuam-se e as sinergias aumentam. Também os instrumentos da comunicação social ao serviço da Santa Sé experimentam naturalmente esta evolução e nela devem inserir-se consciente e activamente. Desde sempre a colaboração entre o vosso Centro e a Rádio Vaticano foi muito próxima e continuou a crescer, pois nas transmissões a imagem e o som não podem ser separados. Contudo, hoje a Internet chama a uma integração cada vez maior da comunicação escrita, sonora e visual e desafia, portanto, a ampliar e intensificar as formas de colaboração entre a mídia que está ao serviço da Santa Sé. Para isto contribuirá em particular também a relação positiva com o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, com o qual vos encorajo a desenvolver iniciativas e aprofundamentos frutuosos.

Portanto, coragem! Não vos assuste a modesta entidade da vossa estrutura em comparação com a grandeza das tarefas. Muitas pessoas, graças ao vosso trabalho, podem sentir-se mais próximas do coração da Igreja. Também sois conscientes da gratidão do Papa, que sabe que vos dedicais generosamente a um trabalho que contribui para a amplitude e eficácia do seu serviço quotidiano. O Senhor que vem, e cuja salvação quereis anunciar através das vossas imagens, vos acompanhe. Com estas felicitações e com um especial voto de Bom Natal, extensivo a todos os vossos entes queridos, de coração vos abençoo.




AOS MEMBROS DO DEPARTAMENTO DO TRABALHO DA SÉ APOSTÓLICA Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Dilectos irmãos e irmãs

836 Estou feliz por dar as minhas boas-vindas a todos vós, que participais neste encontro, a poucos dias do 20º aniversário da instituição do Departamento do Trabalho da Sé Apostólica (ULSA), por parte do meu venerado predecessor João Paulo II, com o Motu Proprio "No primeiro aniversário", de 1º de Janeiro de 1989. Saúdo o Senhor Cardeal Francesco Marchisano, Presidente do ULSA, agradeço-lhe as cordiais palavras que me dirigiu e aproveito a oportunidade para lhe manifestar o profundo agradecimento pelo longo serviço que prestou à Santa Sé. Saúdo o Vice-Presidente, o Bispo D. Franco Croci, o Director, Dr. Massimo Bufacchi, os componentes da Presidência, do Conselho, do Colégio de Conciliação, arbitrado juntamente com os outros vossos colaboradores.

No Motu Proprio institutivo do ULSA, o Servo de Deus João Paulo II, como o vosso Presidente recordou, formulava os bons votos por que "seja efectivamente honrada a dignidade de cada colaborador; sejam reconhecidos, tutelados e promovidos os direitos sociais e económicos de cada membro; sejam cada vez mais fielmente cumpridos os respectivos deveres; seja estimulado um profundo sentido de responsabilidade; e seja prestado cada vez melhor o serviço". No sucessivo Motu Proprio de 1994, intitulado "A solicitude", com que ele aprovou o Estatuto definitivo do Departamento, quis escrever: "Agora, desejo confirmar a função atribuída ao Departamento do Trabalho da Sé Apostólica, de Órgão da mesma, que tem a identidade institucional específica e está anteposto à tutela dos interesses legítimos daqueles que pertencem à comunidade de trabalho da Santa Sé, para assegurar harmonia e perequação, na pluralidade, diversidade e especificidade das funções, favorecendo uma correcta aplicação dos princípios da justiça social, como garantia da unidade de tal comunidade e do crescimento dos relacionamentos interpessoais no seio da mesma".

Trata-se de orientações bem claras, que me apraz reiterar, salientando a tarefa peculiar que o Departamento do Trabalho da Sé Apostólica é chamado a desempenhar na formação dos funcionários, para tornar a actividade da comunidade de trabalho da Santa Sé cada vez mais eficaz e solidária. Outro importante serviço do vosso Departamento consiste em prevenir toda a eventual desarmonia relativa aos trabalhadores empregados da Santa Sé e, se for necessário, procurar a sua solícita resolução mediante um diálogo sincero e objectivo, realizando os previstos procedimentos de conciliação e de arbitragem. Tudo isto, em vista de consolidar tal comunidade de trabalho, realizando oportunas intervenções destinadas ao pleno cumprimento das normas apresentadas, para a salvaguarda da mesma, e resolvendo eventuais questões de índoles administrativa e socioeconómica, que se verificassem nos vários organismos da Santa Sé. Precisamente assim, cooperando para a melhor organização da comunidade de trabalho da Sé Apostólica, o vosso Departamento alcança as finalidades para as quais foi constituído.

Nesta circunstância, gostaria de ressaltar o facto de que a comunidade de trabalho, constituída por quantos trabalham nos vários escritórios e organismos da Santa Sé, forma uma singular "família", cujos membros estão unidos não apenas por vínculos funcionais, mas também por uma mesma missão, que consiste em ajudar o Sucessor de Pedro no seu ministério ao serviço da Igreja universal. A actividade profissional que eles desempenham constitui, por conseguinte, uma "vocação" que deve ser cultivada com atenção e com espírito evangélico, vendo nela um caminho concreto para a santidade. Isto exige que o amor a Cristo e aos irmãos, juntamente com um compartilhado sentido eclesial, anime e vivifique a competência e a dedicação, a profissionalidade, o compromisso honesto e correcto, a responsabilidade atenta e madura, tornando deste modo oração o próprio trabalho, qualquer que ele seja. Poderíamos qualificar tudo isto como uma tarefa formativa e espiritual permanente, para a qual todos podem oferecer a sua contribuição: cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos. Com efeito, se é importante o respeito pelos princípios da justiça e da solidariedade, bem delineados pela doutrina social da Igreja, é indispensável sobretudo o comum esforço envidado pela adesão convicta a Cristo e pelo amor sincero à sua Igreja.

Portanto, enquanto de bom grado aproveito a hodierno oportunidade para agradecer a todos os que prestam a sua obra nos vários Dicastérios e Departamentos, formulo os bons votos por que em todos e cada um nunca faltem a busca da justiça e a tensão constante para a santidade. Ao mesmo tempo, desejo que o Departamento do Trabalho da Sé Apostólica, na medida que lhe compete, contribua para a consecução desta finalidade. Além disso, a iminência do Santo Natal leva quase naturalmente o meu pensamento à crise do trabalho que hoje preocupa a humanidade inteira. Quem tem a possibilidade de trabalhar seja reconhecido ao Senhor e abra com generosidade a alma àqueles que, ao contrário, se encontram em dificuldades de trabalho e económicas. O Menino Jesus, que na Noite Santa de Belém se fez homem para vir ao encontro das nossas dificuldades, olhe com bondade para quantos estão a ser arduamente provados por esta crise mundial e suscite em todos, sentimentos de uma solidariedade autêntica. Na mensagem para o próximo Dia Mundial da Paz, recordo que "a luta contra a pobreza tem necessidade de homens e de mulheres que vivam profundamente a fraternidade e sejam capazes de acompanhar pessoas, famílias e comunidades, em percursos de autêntico de envolvimento humano" (n. 13).

De bom grado formulo estes votos, que deposito das mãos de Nossa Senhora e de São José, pelo vosso Departamento, pelos funcionários da Sé Apostólica, ampliando-o a todo o mundo do trabalho e, enquanto a todos desejo um Natal santo e sereno, é de coração que vos abençoo, assim como as vossas famílias e as pessoas que vos são queridas.

Feliz Natal!




AO SENHOR GRAZIANO LUIGI TRIBOLDI NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE SEYCHELLES JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008



Senhor Embaixador

Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência e por o acreditar como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República de Seychelles junto da Santa Sé. Agradeço-lhe por me ter transmitido as saudações de Sua Excelência o Sr. James Alix Michel, Presidente da República. Ficar-lhe-ia grato se se dignar transmitir-lhe os votos cordiais que formulo pela sua pessoa e por todo o povo seychellense.

Ao recordar o seu País, é sempre um prazer falar da sua beleza e poder elencar os numerosos benefícios dos quais goza. Para incrementar as suas potencialidades, o seu País realiza hoje esforços importantes para reduzir o seu endividamento. Num contexto mundial que se tornou difícil, desejo congratular-me pelos esforços que devem poder contar com o apoio das instituições internacionais na medida do possível e com o compromisso consentido. Trata-se de um importante desafio que as gerações futuras devem enfrentar. De facto, seria injusto que os homens de hoje evitassem as suas responsabilidades fazendo pesar as consequências das próprias escolhas ou da sua inacção sobre as gerações vindouras. Trata-se portanto, não só de restabelecer a economia, mas também e sobretudo de enfrentar um desafio de justiça social. Por outras palavras, endireitar as contas da nação, significa oferecer uma situação mais estável para a actividade económica e por conseguinte, proteger antes de tudo as populações mais pobres e mais vulneráveis.

837 Este louvável objectivo precisa da cooperação de todos, para a qual o sentido da solidariedade é primordial. Vemos aqui quanto a harmonia social está relacionada não só com um âmbito legislativo justo e adequado, mas também com a qualidade moral de cada cidadão porque "a solidariedade apresenta-se sob dois aspectos complementares; o do princípio social e o da virtude moral" (Compêndio da Doutrina social da Igreja, n. 193). A solidariedade eleva-se ao nível da virtude social quando pode apoiar-se ao mesmo tempo em estruturas de solidariedade, mas também sobre a determinação firme e perseverante de cada pessoa em trabalhar pelo bem comum, porque todos nós somos responsáveis por todos.

Para suscitar este sentido duradouro da solidariedade, a educação dos jovens é sem dúvida o melhor caminho. Sob este ponto de vista, apraz-me poder ressaltar mais uma vez os esforços permitidos depois de muito tempo pelo seu País a fim de construir um sistema educativo de qualidade. Seja qual for o seu nível de responsabilidade, encorajo todos a prosseguir este caminho e a semear generosamente para o futuro. Contudo, esta preocupação pela educação permaneceria vã se a instituição familiar fosse excessivamente frágil. As famílias precisam constantemente de serem encorajadas e amparadas pelos poderes públicos. Existe uma harmonia profunda entre as tarefas da família e os deveres do Estado. Favorecer entre eles uma sinergia positiva, significa trabalhar eficazmente para um futuro de prosperidade e de paz social.

Por seu lado, a Igreja local não poupa esforços para acompanhar as famílias, oferecendo-lhes a luz do Evangelho que põe em realce toda a grandeza e beleza do "mistério" da família e ajudando-a a assumir as suas responsabilidades educativas. Em relação a quantas vivem em dificuldade, ela preocupa-se por contribuir para a pacificação das relações e educar os corações para a reconciliação.

Senhor Embaixador, aproveito a ocasião deste encontro para saudar calorosamente, por seu intermédio, o Bispo de Seychelles e os seus colaboradores, assim como todos os fiéis católicos que vivem no seu País. Que eles conservem a preocupação, em harmonia com todos os outros cidadãos, por construir uma vida social na qual todos possam encontrar os caminhos para um desenvolvimento pessoal e colectivo! Deste modo darão testemunho da fecundidade social da Palavra de Deus.

No momento em que inicia a sua nobre missão de representação junto da Santa Sé, desejo renovar a expressão da minha satisfação pelas excelentes relações que a República de Seychelles mantém com a Santa Sé e dirijo-lhe Senhor Embaixador, os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão. Tenha a certeza de que encontrará sempre junto dos meus colaboradores o acolhimento e a compreensão de que poderá precisar.

Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família e colaboradores, assim como sobre todo o povo da República de Seychelles e seus dirigentes, invoco de todo o coração a abundância das Bênçãos divinas.





Discursos Bento XVI 832