Discursos Bento XVI 842

AOS SEGUIDORES DO CAMINHO NEOCATECUMENAL Sábado, 10 de Janeiro de 2009

Prezados irmãos e irmãs

É com grande alegria que vos recebo tão numerosos no dia de hoje, por ocasião do 40º aniversário do início do Caminho Neocatecumenal em Roma, que actualmente conta com 500 comunidades. A todos vós a minha cordial saudação. De modo especial, saúdo o Cardeal Vigário, Agostino Vallini, assim como o Cardeal Stanislaw Rylko, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos que, com dedicação, vos acompanharam no itinerário de aprovação dos vossos Estatutos. Saúdo os responsáveis do Caminho Neocatecumenal: o Senhor Kiko Argüello, a quem agradeço cordialmente as palavras entusiastas e entusiasmantes com que se fez intérprete dos sentimentos de todos vós. Saúdo a Senhora Carmen Hernández e o Padre Mário Pezzi. Saúdo as comunidades que partem em missão rumo às periferias mais necessitadas de Roma, as que vão em "missio ad gentes" nos cinco continentes, as 200 novas famílias itinerantes e os 700 catequistas itinerantes, responsáveis pelo Caminho Neocatecumenal nas várias nações. Obrigado a todos vós. O Senhor vos acompanhe.

Significativamente, este nosso encontro realiza-se na Basílica Vaticana, construída sobre o sepulcro do Apóstolo Pedro. Foi precisamente ele, o Príncipe dos Apóstolos que, respondendo à pergunta com que Jesus interpelava os Doze sobre a sua identidade, confessou com ímpeto: "Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo!" (Mt 16,16). Hoje estais aqui reunidos para renovar esta mesma profissão de fé. A vossa presença, tão numerosa e animada, dá testemunho dos prodígios realizados pelo Senhor nas últimas quatro décadas; ela indica também o compromisso com que tendes a intenção de continuar o caminho encetado, um caminho de seguimento fiel de Cristo e de testemunho corajoso do seu Evangelho, não apenas aqui em Roma mas onde quer que a Providência vos conduza; um caminho de adesão dócil às directrizes dos Pastores e de comunhão com todos os outros componentes do Povo de Deus. Tencionais fazer isto, bem conscientes de que ajudar os homens desta nossa época a encontrar Jesus Cristo, Redentor do homem, constitui a missão da Igreja e de cada baptizado. O "Caminho Neocatecumenal" insere-se nesta missão eclesial como uma das numerosas sendas suscitadas pelo Espírito Santo com o Concílio Vaticano ii para a nova evangelização.

Tudo começou aqui em Roma, há quarenta anos, quando na Paróquia dos Santos Mártires do Canadá foram constituídas as primeiras comunidades do Caminho Neocatecumenal. Como deixar de bendizer o Senhor pelos frutos espirituais que, através do método de evangelização por vós levado a cabo, puderam ser recolhidos nestes anos? Quantas novas energias apostólicas foram suscitadas, tanto entre os sacerdotes como entre os leigos! Quantos homens e mulheres, e quantas famílias, que se afastaram da comunidade eclesial ou tinham abandonado a prática da vida cristã, através do querigma e do itinerário de redescoberta do Baptismo foram ajudadas a reencontrar a alegria da fé e o entusiasmo do testemunho evangélico! A recente aprovação dos Estatutos do "Caminho" por parte do Pontifício Conselho para os Leigos veio consolidar a estima e a benevolência com que a Santa Sé acompanha a obra que o Senhor suscitou através dos vossos Iniciadores. O Papa, Bispo de Roma, agradece-vos o generoso serviço que prestais à evangelização desta Cidade e a dedicação com que vos prodigalizais por levar o anúncio cristão a todos os seus ambientes. Obrigado a todos vós.

A vossa acção apostólica, já tão benemérita, será ainda mais eficaz na medida em que vos esforçardes por cultivar constantemente aquele anélito pela unidade que Jesus comunicou aos Doze durante a última Ceia. Ouvimos o cântico: antes da Paixão, com efeito, o nosso Redentor rezou intensamente para que os seus discípulos fossem um só, de modo que o mundo pudesse ser impelido a crer nele (cf. Jn 17,21), uma vez que tal unidade só pode derivar da força de Deus. É esta unidade, dom do Espírito Santo e busca incessante dos crentes, que faz de cada comunidade uma articulação viva e bem inserida no Corpo místico de Cristo. A unidade dos discípulos do Senhor pertence à essência da Igreja e é condição indispensável para que a sua acção evangelizadora seja fecunda e credível. Sei com que zelo as comunidades do Caminho Neocatecumenal estão a trabalhar em 103 paróquias de Roma! Enquanto vos encorajo a dar continuidade a este compromisso, exorto-vos a intensificar a vossa adesão a todas as directrizes do Cardeal Vigário, meu directo colaborador no governo pastoral da Diocese. Obrigado pelo vosso "sim", que obviamente brota do coração. A inserção orgânica do "Caminho" na pastoral diocesana e a sua unidade com as demais realidades irão beneficiar todo o povo cristão, tornando mais profícuo o esforço da Diocese, em vista de um renovado anúncio do Evangelho nesta nossa Cidade. Com efeito, hoje há necessidade de uma vasta acção missionária que empenhe as diversas realidades eclesiais que, mesmo conservando cada uma a originalidade do seu próprio carisma, trabalhem concordemente procurando realizar aquela "pastoral integrada" que já permitiu alcançar resultados significativos. E vós, pondo-vos com plena disponibilidade ao serviço do Bispo, como recordam os vossos Estatutos, podereis servir de exemplo para muitas Igrejas locais, que justamente olham para a Igreja de Roma como modelo ao qual fazer referência.

Há outro fruto espiritual amadurecido nestes quarenta anos pelo qual, juntamente convosco, gostaria de dar graças à Providência divina: é o grande número de sacerdotes e de pessoas consagradas que o Senhor Kiko falou-nos acerca disto suscitou nas vossas comunidades. Muitos presbíteros estão comprometidos nas paróquias e em outros campos de apostolado diocesano; muitos são missionários itinerantes em várias nações: eles prestam um serviço generoso à Igreja de Roma, e a Igreja de Roma oferece um serviço precioso à evangelização do mundo. Trata-se de uma verdadeira "primavera de esperança" para a comunidade diocesana de Roma e para a Igreja universal! Estou grato ao Reitor e aos seus colaboradores do Seminário Redemptoris Mater de Roma pela obra educativa que eles levam a cabo. Todos nós sabemos que a sua tarefa não é fácil, mas é muito importante para o porvir da Igreja. Por conseguinte, encorajo-os a dar continuidade a esta missão, seguindo as directrizes formativas propostas quer pela Santa Sé quer pela Diocese. A finalidade que é necessário que todos os formadores tenham em vista é a de preparar presbíteros bem inseridos no presbitério diocesano e na pastoral, tanto paroquial como diocesana.

Estimados irmãos e irmãs, a página evangélica que foi proclamada evocou-nos as exigências e as condições da missão apostólica. As palavras de Jesus, que nos foram referidas pelo Evangelista São Marcos, ressoam como um convite a não desanimarmos perante as dificuldades, a não procurarmos sucessos humanos, a não termos medo de incompreensões e até de perseguições. Pelo contrário, encorajam a depositar a confiança unicamente no poder de Cristo, a tomar a "própria cruz" e a seguir os passos do nosso Redentor que, neste tempo natalício já a terminar, se nos manifestou na humildade e na pobreza de Belém. A Virgem Santa, modelo de cada discípulo de Cristo e "casa de bênção" como cantastes, vos ajude a realizar com alegria e fidelidade o mandato que a Igreja vos entrega com confiança. Enquanto vos agradeço o serviço que prestais na Igreja de Roma, asseguro-vos a minha oração e, de coração, abençoo-vos a vós aqui presentes e todas as comunidades do Caminho Neocatecumenal, espalhadas pelo mundo inteiro.



AOS ADMINISTRADORES DA REGIÃO DO LÁCIO,

DA PROVÍNCIA E DO MUNICÍPIO DE ROMA Sala Clementina

843
Segunda-feira, 12 de Janeiro de 2009


Ilustres Senhores e gentis Senhoras

No início do ano novo já é tradição que o Papa receba na sua casa os administradores de Roma, da sua Província e da Região do Lácio, para um cordial intercâmbio de bons votos. É o que acontece também hoje de manhã, num clima de estima e de amizade sincera: portanto, obrigado pela vossa agradável presença. Dirijo uma saudação deferente, em primeiro lugar, ao Presidente da Junta Regional do Lácio, Senhor Pietro Marrazzo; ao Presidente da Câmara Municipal de Roma, Deputado Gianni Alemanno; e ao Presidente da Província de Roma, Senhor Nicola Zingaretti, agradecendo-lhes as amáveis palavras que gentilmente me quiseram dirigir, também em nome das respectivas Administrações. A minha saudação estende-se aos Presidentes das diversas Assembleias de Conselho e a cada um de vós aqui presentes, às vossas famílias e também às queridas populações que representais de modo ideal.

Nas intervenções há pouco pronunciadas entrevi esperanças e preocupações. É indubitável que a comunidade mundial está a atravessar um período de grave crise económica, mas que está ligada à crise estrutural, cultural e de valores. A difícil situação, que está a atingir a economia mundial, traz consigo em toda a parte recaídas inevitáveis, e portanto atinge também Roma, a sua Província, as cidades e as aldeias do Lácio. Diante de um desafio tão árduo é quanto sobressai inclusive das vossas palavras deve ser concorde a vontade de reagir, ultrapassando as divisões e harmonizando estratégias que, se por um lado enfrentam as emergências de hoje, por outro visam designar um projecto estratégico orgânico para os anos futuros, inspirado naqueles princípios e valores que fazem parte do património ideal da Itália e, mais especificamente, de Roma e do Lácio. Nos momentos difíceis da sua história, o povo sabe reencontrar unidade de intenções e coragem, em volta da guia sábia de administradores iluminados, cuja preocupação fundamental é o bem de todos.

Queridos amigos, nas vossas intervenções parece claro que as Administrações por vós guiadas apreciam a presença e a actividade da comunidade católica; aqui faço questão de reiterar que ela não pede nem se orgulha de privilégios, mas deseja que a própria missão espiritual e social continue a encontrar apreço e cooperação. Agradeço-vos a vossa disponibilidade; com efeito, recordo que Roma e o Lácio desempenham um papel peculiar para a cristandade. Aqui, os católicos sentem-se estimulados a um testemunho evangélico vivo e a uma diligente acção de promoção humana, de maneira especial hoje, diante das dificuldades que nos são bem conhecidas. A este propósito, embora as Cáritas diocesanas, as comunidades paroquiais e as associações católicas não poupem esforços para prestar ajuda a quantos estão em necessidade, torna-se indispensável uma sinergia entre todas as instituições para oferecer respostas concretas às crescentes necessidades do povo. Penso nas famílias, principalmente nas famílias com filhos pequenos que têm direito a um futuro sereno, e nos idosos, muitos dos quais vivem em solidão e em condições de dificuldade; penso na emergência habitacional, na carência de trabalho e no desemprego juvenil, na difícil convivência entre diferentes grupos étnicos, na importante questão da imigração e dos nómades.

Se a actuação de políticas económicas e sociais adequadas é tarefa do Estado, a Igreja, à luz da sua doutrina social, é chamada a oferecer a sua contribuição, estimulando a reflexão e formando as consciências dos fiéis e de todos os cidadãos de boa vontade. Talvez nunca como hoje, a sociedade civil compreende que só com estilos de vida inspirados na sobriedade, na solidariedade e na responsabilidade, é possível construir uma sociedade mais justa e um futuro melhor para todos. Faz parte do seu dever institucional, que os poderes públicos garantam a todos os habitantes os próprios direitos, tendo em consideração que os deveres de cada um sejam definidos com clareza e realmente postos em prática. Eis por que uma prioridade inderrogável é a formação no respeito das normas, na assunção das próprias responsabilidades, num estilo de vida que reduza o individualismo e a defesa dos interesses partidários, a fim de tender em conjunto para o bem de todos, tendo particularmente a peito as expectativas dos indivíduos mais frágeis da população, não considerados um peso, mas sim um recurso a ser valorizado.

Nesta perspectiva, com uma intuição que gostaria de dizer profética, desde há anos a Igreja concentra os seus esforços sobre o tema da educação. Desejo manifestar gratidão pela colaboração que se instaurou entre as vossas Administrações e as comunidades eclesiais, no que se refere aos oratórios e à construção de novos complexos paroquiais nos bairros que não os têm. Faço votos por que no futuro esta entreajuda, no respeito das recíprocas competências, se consolide ulteriormente, tendo presente que as estruturas eclesiais, no coração de um bairro, além de permitir o exercício do direito fundamental da pessoa humana, que é a liberdade religiosa, são na realidade centros de agregação e de formação nos valores da socialidade, da convivência pacífica, da fraternidade e da paz.

Como não pensar especialmente nos adolescentes e nos jovens, que são o nosso porvir? Cada vez que a crónica refere espisódios de violência juvenil, cada vez que a imprensa cita acidentes rodoviários em que morrem muitos jovens, volta-me à mente o tema da emergência educativa, que hoje exige a colaboração mais ampla possível. Debilitam-se, de modo especial entre as jovens gerações, os valores naturais e cristãos que dão significado à vida quotidiana e formam uma visão da vida aberta à esperança; no entanto, sobressaem desejos efémeros e expectativas não duradouras, que no final geram tédio e falências. Tudo isto tem como êxito nefasto o afirmar-se de tendências a banalizar o valor da própria vida, para se refugiar na transgressão, na droga e no álcool, que para alguns se tornaram um rito habitudinário do fim de semana. Até o amor corre o risco de se reduzir a "uma simples coisa que se pode comprar e vender" e, "antes, o próprio homem torna-se mercadoria" (Deus caritas est ). Perante o niilismo que permeia de maneira crescente o mundo juvenil, a Igreja convida todos a dedicar-se seriamente aos jovens, a não os deixar à mercê de si mesmos, nem expostos à escola de "maus mestres", mas a comprometê-los em iniciativas sérias, que lhes permitam compreender o valor da vida numa família estável, fundada sobre o matrimónio. Só assim se lhes oferece a possibilidade de programar com confiança o seu futuro. Quanto à comunidade eclesial, ela torne-se ainda mais disponível para ajudar as novas gerações de Roma e do Lácio a projectar de modo responsável o seu amanhã. Ela propõe-lhes sobretudo o amor de Cristo, o único que pode oferecer respostas satisfatórias às interrogações mais profundas do nosso coração.

Enfim, permiti-me uma breve consideração relativa ao mundo da saúde. Sei bem como é exigente a tarefa de assegurar a todos uma assistência médica adequada no campo das doenças físicas e psíquicas, e como são ingentes as despesas a enfrentar. Também neste campo, como de resto no escolar, a comunidade eclesial, herdeira de uma longa tradição de assistência aos enfermos, com muitos sacrifícios continua a prestar a sua actividade através de hospitais e casas de cura inspirados nos princípios evangélicos. No ano que acaba de transcorrer, da parte da Região do Lácio, não obstante as dificuldades das situações actuais, receberam-se sinais positivos para ir ao encontro também das estruturas católicas de assistência à saúde. Formulo votos por que, continuando os esforços em curso, tal colaboração seja oportunamente incentivada, de tal modo que as pessoas possam continuar a valer-se do precioso serviço que estas estruturas de excelência reconhecida desempenham com competência, profissionalidade, atenção à gestão financeira e cuidado para com os doentes e as suas famílias.

Ilustres Senhores e gentis Senhoras! A tarefa que vos foi confiada pelos cidadãos não é fácil: vós tendes que vos medir com numerosas e complicadas situações que, cada vez mais frequentemente, têm necessidade de intervenções e decisões não simples e por vezes impopulares. Que vos sirva de estímulo a consciência de que, enquanto prestais um serviço importante à sociedade de hoje, contribuís para construir um mundo verdadeiramente humano para as novas gerações. A contribuição mais importante que o Papa vos assegura, e fá-lo com grande carinho, é a oração diária, para que o Senhor vos ilumine e vos torne sempre servidores honestos do bem comum. Com estes sentimentos, invoco a intercessão maternal de Nossa Senhora, venerada em muitas localidades do Lácio, e do Apóstolo Paulo, do qual estamos a comemorar o bimilénio do nascimento, e imploro a bênção de Deus sobre vós, as vossas famílias e todos aqueles que vivem em Roma, na sua Província e em toda a Região.



AO INSPECTORADO DA POLÍCIA DE ESTADO

NO VATICANO Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2009

844 Prezados amigos do Inspectorado de Segurança Pública no Vaticano

Há pouco começou o novo ano, e para mim é um verdadeiro prazer encontrar-me mais uma vez convosco e formular a cada um de vós ardentes bons votos, que cordialmente estendo às vossas famílias e às pessoas que vos são queridas. A índole familiar deste encontro tradicional, que aprecio muito, oferece-me a oportunidade de vos dirigir uma saudação pessoal e de vos expressar o meu mais profundo e agradecido apreço pelo trabalho que, diariamente, realizais com reconhecida profissionalidade e grande dedicação. Em vós, saúdo com afecto aqueles que o Estado italiano destina a um especial serviço de polícia e de vigilância, ligado à minha missão de Pastor da Igreja universal.

A minha saudação e os meus bons votos dirigem-se, antes de tudo, ao Dr. Giulio Callini, há pouco nomeado Dirigente-Geral, a quem agradeço as palavras com que interpretou os vossos comuns sentimentos, assim como ao Prefeito Salvatore Festa. Com igual afecto, saúdo os demais componentes do Inspectorado de Segurança Pública no Vaticano, que não puderam estar presentes. Estendo a minha deferente saudação ao Chefe da Polícia, Prefeito Antonio Manganelli; ao Vice-Chefe da Polícia, Prefeito Francesco Cirillo; ao Comandante da Polícia de Roma, Dr. Giuseppe Caruso, e aos outros Dirigentes e funcionários da Polícia de Estado pela sua significativa presença.

Considerando o trabalho que vós sois chamados a realizar recordo que sempre me acontecia de encontrar algum de vós quando, como Cardeal, atravessava todos os dias a Praça de São Pedro penso nos sacrifícios que o vosso serviço comporta. Sacrifícios que vós deveis fazer, mas que também os vossos familiares são chamados a compartilhar, por causa dos turnos que são exigidos pela vigilância contínua dos lugares adjacentes à Praça de São Pedro no Vaticano. Por isso, hoje gostaria de incluir no meu agradecimento também as vossas famílias, com um pensamento especial para aqueles de vós que há pouco casaram ou que estão prestes a dar este passo. A todos e a cada um garanto uma cordial lembrança na oração.

Começa um novo ano e são muitas as nossas expectativas e esperanças. Porém, não podemos negar que no horizonte se delineiam também não poucas sombras que preocupam a humanidade. Contudo, não podemos desanimar; aliás, temos que manter sempre acesa em nós a chama da esperança. Para nós, cristãos, a verdadeira esperança é Cristo, dom do Pai à humanidade. Este anúncio é para todos os homens: ele encontra-se no âmago da mensagem evangélica; com efeito, Jesus nasceu, morreu e ressuscitou para todos. A Igreja continua a proclamá-lo hoje e a toda a humanidade, para que cada pessoa e cada situação humana possa experimentar o poder da graça salvadora de Deus, a única que pode transformar o mal em bem. Só Cristo pode renovar o coração do homem e torná-lo um "oásis" de paz; só Cristo pode ajudar-nos a construir um mundo onde reinam a justiça e o amor.

Estimados funcionários e agentes, à luz desta esperança sólida, o nosso trabalho quotidiano, qualquer que ele seja, adquire um significado e valor diversos, porque o alicerçamos naqueles valores humanos e espirituais que tornam a nossa existência mais serena e útil para os irmãos. Por exemplo, no que se refere à vossa obra de vigilância, ela pode ser vivida como uma missão. Um serviço ao próximo, relativo à ordem e à segurança e, ao mesmo tempo, uma ascese pessoal, por assim dizer, uma vigilância interior constante que exige uma boa harmonia entre a disciplina e a cordialidade, o controle de si e o acolhimento vigilante dos peregrinos e dos turistas que vêm ao Vaticano. E este serviço levado a cabo com amor torna-se prece, oração ainda mais agradável a Deus quando o vosso trabalho é pouco gratificante, monótono e cansativo, especialmente nas horas nocturnas ou nos dias em que o clima se torna rígido. E é cumprindo bem o próprio dever que cada baptizado realiza a sua vocação à santidade.

Caros amigos, enquanto vos renovo os meus mais cordiais bons votos para este novo ano, asseguro-vos a minha proximidade espiritual e, de bom grado, concedo a cada um de vós uma especial Bênção Apostólica, que estendo com carinho aos vossos familiares e às pessoas que vos são queridas.



AOS BISPOS DO IRÃO EM VISITA

«AD LIMINA APOSTOLORUM» Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2009

Amados e venerados Irmãos
no Episcopado!

É com alegria e afecto que vos recebo esta manhã. Saúdo de modo particular Sua Excelência D. Ramzi Garmou, Arcebispo de Teerão dos Caldeus e Presidente da Conferência Episcopal Iraniana, que acaba de me dirigir palavras gentis em vosso nome. Sois os Ordinários das Igrejas arménia, caldeia e latina. Portanto, amados Irmãos, representais a riqueza da unidade na diversidade que existe no seio da Igreja católica e da qual dais testemunho quotidianamente na República Islâmica do Irão. Aproveito a ocasião para expressar a todo o povo iraniano a minha saudação cordial da qual vos fareis intérpretes junto das vossas comunidades. Hoje como outrora, a Igreja católica não deixa de encorajar quantos se preocupam pelo bem comum e pela paz entre as nações. Por seu lado, o Irão, ponte entre o Médio Oriente e a Ásia subcontinental, não deixará de realizar esta vocação.

845 Sinto-me sobretudo feliz por poder expressar-vos pessoalmente o meu apreço cordial pelo serviço que prestais numa terra onde a presença cristã é antiga e onde se desenvolveu e manteve durante diversas vicissitudes da história iraniana. O meu reconhecimento vai também aos sacerdotes, aos religiosos e religiosas que trabalham neste vasto e belo país. Sei quanto a sua presença é necessária e quanto a assistência espiritual e humana que eles garantem aos fiéis, através de um contacto directo e quotidiano, é preciosa e oferece a todos um bom testemunho. Penso de modo particular na assistência prestada às pessoas idosas e às categorias sociais que se encontram em particulares situações de necessidade. Saúdo também através de vós todas as pessoas comprometidas nas obras da Igreja. Gostaria de recordar de igual modo a contribuição da Igreja católica, sobretudo através da Caritas, para a obra de reconstrução, após o terrível terramoto que atingiu a região de Bam. Desejo recordar também o conjunto dos fiéis católicos cuja presença na terra dos seus antepassados leva a pensar na imagem bíblica do fermento na massa (cf. Mt 13,33), que faz levedar o pão, lhe confere sabor e consistência. Através de vós, queridos Irmãos, gostaria de agradecer a todos a sua constância e perseverança e encorajá-los a permenecer fiéis à fé dos seus antepassados e afeiçoados à sua terra a fim de colaborar para o desenvolvimento da nação.

Mesmo se as vossas diferentes Comunidades vivem em contextos diversificados, alguns problemas são-lhes comuns. Precisam de desenvolver relações harmoniosas com as instituições públicas que, com a graça de Deus certamente se aprofundarão pouco a pouco e permitir-lhe-ão realizar do melhor modo a sua missão de Igreja no respeito recíproco e para o bem de todos. Encorajo-vos a promover todas as iniciativas que favoreçam um melhor conhecimento mútuo. Podem ser explorados dois caminhos: o do diálogo cultural, riqueza plurimilenar do Irão, e o da caridade. O segundo iluminará o primeiro e será o seu motor. "A caridade é paciente; a caridade é prestativa... A caridade jamais passará..." (). Para realizar este objectivo, e sobretudo para o progresso espiritual dos vossos respectivos fiéis, é necessário dispor de trabalhadores que semeiem e que ceifem: sacerdotes, religiosos e religiosas. As vossas comunidades reduzidas em número não permitem a emergência de numerosas vocações locais que é necessário encorajar. Por outro lado, a difícil missão dos sacerdotes e dos religiosos obriga-os a deslocarem-se para assistir as diferentes comunidades espalhadas em todo o país. Para superar esta dificuldade concreta e outras, a constituição de uma Comissão bilateral com as vossas Autoridades deve ser alargada para permitir também o desenvolvimento de relações e o conhecimento mútuo entre a República Islâmica do Irão e a Igreja católica.

Gostaria de mencionar outro aspecto do vosso dia-a-dia. Por vezes os cristãos das vossas comunidades procuram alhures possibilidades mais favoráveis para a sua vida profissional e para a educação dos seus filhos. Verifica-se este desejo legítimo nos habitantes de numerosos países, que faz parte da condição humana, a qual procura sempre melhorar. Esta situação estimula-vos, como pastores do vosso rebanho, a ajudar particularmente os fiéis que permanecem no Irão e a encorajá-los a continuar em contacto com os membros das suas famílias que escolheram outro destino. Eles serão também capazes de manter a sua identidade e a sua fé ancestral. O caminho que se abre diante de vós é longo. Ele exige muita constância e paciência. O exemplo de Deus que é misericordioso e paciente com o seu povo será o vosso modelo e ajudar-vos-á a percorrer o espaço necessário para o diálogo.

As vossas Igrejas são herdeiras de uma nobre tradição e de uma longa presença cristã no Irão. Elas contribuíram, cada uma à sua maneira, para a vida e edificação do país. Elas desejam prosseguir a sua obra de serviço no Irão mantendo a sua identidade própria e vivendo livremente a sua fé. Na minha oração, não esqueço o vosso país e as comunidades católicas presentes no seu território e peço a Deus que as abençoe e as assista.

Queridos irmãos no Episcopado, desejo garantir-vos o meu afecto e apoio. Agradeço-vos que, quando regressardes ao Irão, transmitais aos vossos sacerdotes, religiosos e religiosas, assim como a todos os vossos fiéis, que o Papa está próximo deles e que reza por eles. A ternura materna da Virgem Maria vos acompanhe na vossa missão apostólica e que a Mãe de Deus apresente ao seu divino Filho todas as intenções, preocupações e alegrias dos fiéis das vossas diversas comunidades! Invoco sobre todos, neste ano dedicado a São Paulo, o Apóstolo das Nações, uma Bênção particular.



NO FINAL DO CONCERTO PELOS OITENTA E CINCO ANOS

DE MONSENHOR GEORG RATZINGER Capela Sistina

Sábado, 17 de Janeiro de 2009


Estimados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Amado Bispo Gerhard Ludwig
Estimados hóspedes de Regensburg
Estimados Músicos
846 e queridos "Domspatzen"
Querido Georg
Queridos amigos de língua italiana

Ao ouvir há pouco a Missa em dó menor de Mozart, voltei a pensar em quando, no distante ano de 1941, por iniciativa do meu querido irmão Georg fomos juntos ao festival de Salzburg. Pudemos então assistir a alguns maravilhosos concertos e, entre eles, na Basílica abacial de São Pedro, à execução da Missa em dó menor. Foi um momento inesquecível, diria, um vértice espiritual, daquele nosso passeio cultural. Precisamente por isso foi para nós motivo de particular alegria, por ocasião da fausta data genetlíaca do meu irmão, poder ouvir de novo esta magnífica e profunda composição sacra do grande filho da cidade de Salzburg, Wolfgang Amadeus Mozart. Também em nome do meu irmão, agradeço este maravilhoso dom que nos permitiu reviver momentos de extraordinária intensidade espiritual e artística.

Querido Georg, queridos amigos!

Já transcorreram quase 70 anos desde quando tomaste a iniciativa e fomos juntos a Salzburg, e na maravilhosa igreja abacial de São Pedro assistimos à Missa em dó menor de Mozart. Mesmo se eu na época era ainda um jovem simples, compreendi contigo que tínhamos vivido algo diferente do que um simples concerto: tinha sido música em oração, ofício divino, no qual podemos alcançar algo da magnificência e da beleza do próprio Deus, e ficamos tocados por esse acontecimento. Depois da guerra voltamos outras vezes a Salzburg para ouvir a Missa em dó menor, e é por isso que ela está inscrita profundamente na nossa biografia interior. A tradição quis que Mozart tenha composto esta Missa para desfazer um voto: em agradecimento pelas suas núpcias com Constance Weber. Explicam-se assim também os importantes solo do soprano, nos quais Constance era chamada a dar voz à gratidão e à alegria gratias agimus tibi propter magnam gloriam tuam gratidão pela graça de Deus que tinha recebido. Sob um ponto de vista estreitamente litúrgico poder-se-ia objectar que estes grandes solos se afastassem um pouco da sobriedade da liturgia romana; mas ao contrário podemos também perguntar: Não sentimos porventura neles a voz da esposa, da Igreja, da qual nos acabou de falar Mons. Gerhard Ludwig? Não é precisamente a voz da esposa, que faz ressoar neles a sua alegria por ser amada por Cristo e o seu próprio amor, e assim guia-nos a nós, como Igreja viva, diante de Deus, na sua gratidão e na sua alegria? Mozart colocou na grandeza desta música e desta Missa, que supera qualquer individualismo, o seu agradecimento pessoal. Neste momento, juntamente contigo, querido Georg, agradecemos a Deus, na harmonia desta Missa, os teus 85 anos de vida que Ele te doou. O professor Hommes, na publicação predisposta para este concerto, ressaltou com vigor que a gratidão expressa nesta Missa não é uma gratidão superficial e lançada ali com superficialidade, por um homem do Rococó, mas que nesta Missa encontra expressão também toda a intensidade da sua luta interior, da sua busca de perdão, da misericórdia de Deus e depois, destas profundezas, eleva-se radiante como nunca, a alegria em Deus.

Os 85 anos da tua vida nem sempre foram fáceis. Quando nasceste, tinha acabado de terminar a inflacção e o povo, também os nossos pais, tinham perdido todas as suas poupanças. Depois veio a crise económica mundial, a ditadura nazista, a guerra, a prisão... Depois, com nova esperança e alegria, numa Alemanha destruída e sangrada, iniciámos o nosso caminho. E também ali, não faltaram difíceis paredes íngremes e passagens escuras, mas sentimos sempre a bondade de Deus que te chamou e guiou. Desde o início, muito cedo, manifestou-se em ti esta dúplice vocação: para a música e para o sacerdócio, uma que abraça a outra, e assim foste guiado nos teus passos e percorreste o teu caminho, até quando a Providência te doou o encargo em Regensburg, com os Regensburger Domspatzen, onde pudeste servir sacerdotalmente a música e transmitir ao mundo e à humanidade a alegria pela existência de Deus através da beleza da música e do canto. Também ali tiveste muitos sofrimentos cada prova é uma fadiga, nós podemos intuir isto e sabemo-lo; também outras fadigas... Mas depois, quando o coro ressoava de modo brilhante e levava ao mundo a alegria, a beleza de Deus, tudo voltava a ser grande e belo. Por isto hoje agradecemos o bom Deus, juntamente contigo, pela tua providência, e depois agradecemos a ti, porque empregastes todas as tuas forças, a tua disciplina, a tua alegria, a tua fantasia e a tua criatividade nestes trinta anos com os Regensburger Domspatzen, conduzindo-os sempre de novo para Deus.

Naturalmente, e sobretudo, sentimo-nos também felizes nesta hora, porque este coro que há mais de mil anos ininterruptamente canta o louvor a Deus na catedral de Regensburg, mesmo sendo o coro de Igreja mais antigo do mundo, sempre constituído desta forma, é sempre jovem e cantou-nos com força e beleza jovens o louvor a Deus. A vós, queridos Domspatzen, um cordial "Vergelt's Gott", ao maestro de capela, a todos, de modo particular também à orquestra e aos solistas que nos deram de novo o som original dos tempos de Mozart. Um cordial agradecimento a todos vós!

E dado que a vida humana é sempre incompleta, enquanto estamos a caminho, em cada agradecimento humano há sempre também expectativa, esperança e alegria; e assim rezamos hoje ao bom Deus para que te conceda, querido Georg, ainda bons anos nos quais tu possas continuar a viver a alegria de Deus e a alegria da música, nos quais tu possas ainda servir aos homens como sacerdote. E pedimos-lhe que permita que todos nós, um dia, entremos no concerto celeste, para experimentar definitivamente a alegria de Deus.

Ao renovar também em nome dos hóspedes de língua italiana um fervoroso agradecimento aos promotores e aos realizadores desta agradabilíssima iniciativa, formulo votos de que a maravilhosa música ouvida, no contexto único da Capela Sistina, contribua para aprofundar a nossa relação com Deus; sirva para reavivar no nosso coração a alegria que brota da fé, para que cada um se torne sua testemunha convicta no seu ambiente de vida quotidiana. E naturalmente, um grande obrigado ao Bispo e ao capítulo da catedral e a todos os que contribuíram para a realização deste concerto. Com estes sentimentos concedo a todos com afecto a Bênção Apostólica.




Discursos Bento XVI 842