Discursos Bento XVI 877

ÀS ASSOCIAÇÕES "PRO PETRI SEDES"

E "ETRENNES PONTIFICALES" Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2009



Prezados amigos

Estou particularmente feliz por vos acolher ao realizardes a peregrinação que, todos os anos, vos traz ao túmulo dos Apóstolos, a fim de pedir ao Senhor que fortifique a vossa fé e abençoe os esforços que estais a envidar para testemunhar generosamente o seu amor.

Através da meditação da palavra do Apóstolo das Nações, o ano paulino oferece-nos a ocasião de retomar uma consciência mais viva do facto que a Igreja é um Corpo, mediante o qual circula a mesma vida que é a de Jesus. Por isso, cada membro do corpo eclesial está vinculado de maneira muito profunda a todos os outros e não deveria ignorar as suas necessidades. Alimentados pelo mesmo pão eucarístico, os baptizados não podem permanecer indiferentes, quando falta o pão na mesa dos homens. Também neste ano quisestes ouvir o apelo a ampliar o espaço do vosso coração às necessidades dos deserdados, a fim de que os membros do Corpo de Cristo atingidos pela miséria sejam aliviados, tornando-se assim mais vivos e mais livres para dar testemunho da Boa Nova.

Confiando o fruto da vossa poupança ao Sucessor de Pedro, vós permitis-lhe exercer uma caridade concreta e activa, que constitui o sinal da sua solicitude por todas as Igrejas, por cada um dos baptizados e por todos os homens. Agradeço-vos profundamente em nome de todas as pessoas que a vossa generosidade irá ajudar na luta aos males que atentam contra a sua dignidade. Combatendo a pobreza, oferecemos uma ulterior possibilidade à paz, para que venha e se arraigue nos corações.

Enquanto vos confio, bem como todas as pessoas que vós amais, à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de misericórdia, concedo-vos de todo o coração a Bênção apostólica, assim como aos membros das vossas duas associações e aos seus familiares.



Março de 2009




NO ENCERRAMENTO DOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DA QUARESMA PREGADOS PELO CARDEAL FRANCIS ARINZE


878
Capela Redemptoris Mater

Sábado, 7 de Março de 2009


Eminência
Estimados e venerados Irmãos

Uma das bonitas funções do Papa é dizer "obrigado". Neste momento, em nome de todos nós e de todos vós, gostaria de lhe dizer obrigado de coração, Eminência, por estas meditações que nos ofereceu. Vossa Eminência guiou-nos, iluminou-nos e ajudou-nos a renovar o nosso sacerdócio. A sua não foi uma acrobacia teológica. Não nos ofereceu acrobacias teológicas, mas deu-nos uma doutrina sadia, o pão bom da fé.

Ouvindo as suas palavras, veio-me à mente uma profecia do profeta Ezequiel, interpretada por Santo Agostinho. No livro de Ezequiel o Senhor, o Deus pastor, diz ao povo: guiarei as minhas ovelhas nos montes de Israel, nas pastagens verdejantes. E Santo Agostinho interroga-se onde estão estes montes de Israel, o que são estas pastagens verdejantes. E diz: os montes de Israel, as pastagens verdejantes são a Sagrada Escritura, a Palavra de Deus que nos oferece a verdadeira alimentação.

A sua pregação foi permeada pela Sagrada Escritura, com uma grande familiaridade com a Palavra de Deus lida no contexto da Igreja viva, pelos Padres até ao Catecismo da Igreja Católica, sempre contextualizada na leitura, na liturgia. E precisamente assim a Escritura esteve presente na sua plena actualidade. A sua teologia, como nos disse, não foi uma teologia abstracta, mas marcada por um realismo sadio. Admirei e gostei desta experiência concreta dos seus cinquenta anos de sacerdócio, dos quais Vossa Eminência falou e à luz dos quais ajudou-nos a concretizar a nossa fé. Disse-nos palavras justas, concretas para a nossa vida, para o nosso comportamento de sacerdotes. E espero que muitos leiam também estas palavras e que as ponderem no coração.

Vossa Eminência começou com esta narração, sempre fascinante e bonita, dos primeiros discípulos que seguem Jesus. Ainda um pouco incertos e tímidos, eles perguntam: Mestre, onde moras? E a resposta, que Vossa Eminência nos interpretou, é: "vinde ver". Para ver, temos que ir, devemos caminhar e seguir Jesus, que nos precede sempre. Só caminhando e seguindo Jesus podemos também ver. Vossa Eminência mostrou-nos onde habita Jesus, onde é a sua morada: na sua Igreja, na sua Palavra, na Santíssima Eucaristia.

Obrigado, Eminência, por esta sua orientação. Com renovado impulso e com nova alegria, empreendamos o caminho rumo à Páscoa. Desejo a todos vós uma boa Quaresma e uma boa Páscoa.

VISITA AO CAPITÓLIO DE ROMA


AOS ADMINISTRADORES MUNICIPAIS Segunda-feira, 9 de Março de 2009

Senhor Presidente
879 da Câmara Municipal
Senhor Presidente do Conselho Municipal
Senhores e Senhoras Assessores
e Conselheiros do Município de Roma
Ilustres Autoridades
Queridos amigos

Como foi recordado, não é a primeira vez que um Papa é recebido com tanta cordialidade neste Palácio Senatorial e toma a palavra nesta solene Sala conciliar, em que se reúnem os máximos representantes da administração municipal. Os anais da história recordam, em primeiro lugar, a breve visita do Beato Pio IX à Praça do Capitólio, depois da visita à Basílica do "Ara Coeli", no dia 16 de Setembro de 1870. Muito mais recente é a visita que o Papa Paulo VI realizou no dia 16 de Abril de 1966, à qual se seguiu a do meu venerado Predecessor João Paulo II, no dia 15 de Janeiro de 1998. São gestos que testemunham o afecto e a estima que os Sucessores de Pedro, Pastores da comunidade católica romana e da Igreja universal, alimentam desde sempre em relação a Roma, centro da civilização latina e cristã, "mãe acolhedora dos povos" (cf. Prudêncio, Peristephanon, carme 11, 191) e "discípula da verdade" (cf. Leão Magno, Tract. septem et nonaginta).

Portanto, é com compreensível emoção que agora tomo a palavra durante a minha visita hodierna. Tomo-a para expressar, antes de tudo, Senhor Presidente da Câmara Municipal, o meu reconhecimento pelo gentil convite a visitar o Capitólio, que Vossa Excelência me dirigiu no início do seu mandato de primeiro magistado da Urbe. Obrigado também pelas profundas expressões com que, interpretando o pensamento dos presentes, me recebeu. A minha saudação estende-se ao Senhor Presidente do Concelho Municipal, a quem estou grato pelos nobres sentimentos expressos também em nome dos colegas. Acompanhei com grande atenção as reflexões, quer do Presidente da Câmara Municipal, quer do Presidente, e senti nelas a vontade decidida da Administração de servir esta Cidade, apostando no seu verdadeiro e integral bem-estar material, social e espiritual. Enfim, dirijo a minha cordial saudação aos Assessores e aos Conselheiros do Município, aos Representantes do Governo, às Autoridades, às Personalidades e a toda a população romana.

Com a minha presença hodierna nesta Colina, sede e emblema da história e da missão de Roma, apraz-me renovar a certeza da atenção paternal que o Bispo da comunidade católica nutre não só pelos membros desta, mas também por todos os romanos e por quantos de várias partes da Itália e do mundo vêm à Capital por motivos religiosos, turísticos, de trabalho, ou para permanecer aqui, integrando-se no tecido da cidade. Estou aqui no dia de hoje para encorajar o vosso compromisso não fácil, de vós Administradores, ao serviço desta Metrópole singular; para compartilhar as expectativas e as esperanças dos habitantes e ouvir as suas preocupações e os problemas pelos quais vos tornais intérpretes responsáveis neste Palácio, que constitui o centro natural e dinâmico dos projectos que fervem no "canteiro" da Roma do terceiro milénio. Senhor Presidente da Câmara Municipal, observei na sua intervenção o propósito firme de trabalhar para que Roma continue a ser farol de vida e de liberdade, de civilização moral e de desenvolvimento sustentável, promovido no respeito pela dignidade de cada ser humano e pela sua fé religiosa. Quero garantir-lhe, bem como aos seus colaboradores, que a Igreja católica, como sempre, não deixará faltar o seu apoio activo a cada iniciativa cultural e social destinada a promover o bem autêntico de cada pessoa e da Cidade no seu conjunto. Sinal desta colaboração quer ser o dom do "Compêndio da Doutrina Social da Igreja" que, com afecto, ofereço ao Presidente da Câmara Municipal e aos demais Administradores.

Senhor Presidente da Câmara Municipal, Roma foi sempre uma cidade hospitaleira. Especialmente nos últimos séculos, ela abriu os seus institutos universitários e centros de investigação civis e eclesiásticos a estudantes provenientes de todas as regiões do mundo que, regressando aos seus países, são depois chamados a assumir funções e cargos de alta responsabilidade em vários sectores da sociedade, assim como na Igreja. Esta nossa cidade, como de resto a Itália e toda a humanidade, encontra-se hoje a enfrentar inéditos desafios culturais, sociais e económicos, por causa das profundas transformações e das numerosas mudanças que se verificaram nestas últimas décadas. Roma foi-se povoando de habitantes que provêm de outras nações e pertencem a diferentes culturas e tradições religiosas, e por conseguinte, já possui o perfil de uma Metrópole multiétnica e multirreligiosa, na qual às vezes a integração é cansativa e complicada. Quanto à comunidade católica, nunca deixará de oferecer uma contribuição convicta para encontrar modalidades cada vez mais adequadas para a tutela dos direitos fundamentais da pessoa, no respeito pela legalidade. Também eu estou persuadido, como afirmou Vossa Excelência, Senhor Presidente da Câmara Municipal, que haurindo uma nova linfa das raízes da sua história plasmada pelo Direito antigo e pela fé cristã, Roma saberá encontrar a força para exigir de todos o respeito pelas regras da convivência civil e rejeitar qualquer forma de intolerância e discriminação.

Além disso, seja-me permitido observar que os episódios de violência, por todos deplorados, manifestam um mal-estar mais profundo; são o sinal – diria – de uma verdadeira pobreza espiritual que aflige o coração do homem contemporâneo. A eliminação de Deus e da sua lei, como condição da realização da felicidade do homem, não alcançou de modo algum o seu objectivo; pelo contrário, priva o homem das certezas espirituais e da esperança, necessárias para enfrentar as dificuldades e os desafios quotidianos. Quando, por exemplo, a uma roda falta o eixo central, ela perde a sua função motriz. Assim, a moral não atinge a sua finalidade última, se não tiver como ponto de apoio a inspiração e a submissão a Deus, manancial e juiz de todo o bem. Diante do preocupante debilitamento dos ideais humanos e espirituais, que fizeram de Roma "modelo" de civilização para o mundo inteiro, a Igreja, através das comunidades paroquiais e das outras realidades eclesiais, está a comprometer-se numa obra educativa minuciosa destinada a fazer com que, de modo particular as novas gerações, redescubram os valores perenes. Na era pós-moderna, Roma deve reapropriar-se da sua alma mais profunda, das suas raízes civis e cristãs, se quiser ser promotora de um novo humanismo, que ponha no centro a questão do homem reconhecido na sua realidade completa. Desvinculado de Deus, o homem permaneceria desprovido da sua vocação transcendente. O cristianismo é portador de uma mensagem luminosa sobre a verdade do homem, e a Igreja, que é depositária desta mensagem, está consciente da sua própria responsabilidade em relação à cultura contemporânea.

880 Quantas outras coisas gostaria de dizer neste momento! Como Bispo desta Cidade, não posso esquecer que também em Roma, por causa da actual crise económica à qual antes me referia, está a aumentar o número de quantos, perdendo o emprego, se encontram em condições precárias e por vezes não conseguem fazer frente aos compromissos financeiros assumidos; penso, por exemplo, na compra ou na locação da casa. Então, ocorre um esforço concorde entre as diversas Instituições, para ir ao encontro de quantos vivem na pobreza. A Comunidade cristã, através das paróquias e outras estruturas caritativas, já está comprometida em sustentar diariamente muitas famílias que têm dificuldade em manter um nível de vida digno e, como já aconteceu recentemente, está pronta a colaborar com as autoridades designadas para a consecução do bem comum. Também neste caso, os valores da solidariedade e da generosidade, que estão arraigados no coração dos romanos, poderão ser sustentados pela luz do Evangelho, para que todos assumam novamente as exigências dos mais desvantajados, sentindo-se partícipes de uma única família. Com efeito, quanto mais amadurecer em cada cidadão a consciência de se sentir pessoalmente responsável pela vida e pelo futuro dos habitantes da nossa Cidade, tanto mais aumentará a confiança de poder superar as dificuldades do momento presente.

E o que dizer das famílias, das crianças e da juventude? Obrigado, Senhor Presidente da Câmara Municipal, por me ter oferecido como dom, por ocasião desta minha visita um sinal de esperança para os jovens, chamando-o com o meu nome, o de um idoso Pontífice que olha com confiança para os jovens e por eles reza todos os dias. As famílias, a juventude podem esperar num porvir melhor, na medida em que o individualismo deixar espaço a sentimentos de colaboração fraterna entre todos os componentes da sociedade civil e da comunidade cristã. Também esta obra que está a ser erigida possa constituir um estímulo para que Roma realize um tecido social de hospitalidade e de respeito, onde o encontro entre a cultura e a fé, entre a vida social e o testemunho religioso coopere para formar comunidades verdadeiramente livres e animadas por sentimentos de paz. Para isto poderá oferecer uma sua singular contribuição também o nascente "Observatório para a liberdade religiosa", à qual Vossa Excelência acabou de se referir.

Senhor Presidente da Câmara Municipal, estimados amigos, no final desta minha intervenção, permiti que dirija o olhar para Nossa Senhora com o Menino, que desde há alguns séculos vigia maternalmente nesta sala sobre os valores da Administração municipal. A Ela confio cada um de vós, o vosso trabalho e os propósitos de bem que vos animam. Espero que sigais sempre todos concordes ao serviço desta amada Cidade, onde o Senhor me chamou para desempenhar o ministério episcopal. Sobre cada um de vós invoco de coração a abundância das bênçãos divinas, e para todos asseguro uma lembrança na oração. Obrigado pela vossa hospitalidade!

VISITA AO CAPITÓLIO DE ROMA


AOS ROMANOS REUNIDOS NA PRAÇA DO CAPITÓLIO Segunda-feira, 9 de Março de 2009

Queridos irmãos e irmãs!

Depois de ter encontrado os Administradores da cidade, estou muito contente por saudar cordialmente todos vós, reunidos nesta Praça do Capitólio, para a qual se projecta, num abraço ideal, a colunata com que Bernini completou a esplêndida estrutura da Basílica Vaticana. Vivendo em Roma há tantíssimos anos, já me tornei um pouco romano; mas sinto-me mais romano como vosso Bispo. Então, com mais viva participação, dirijo, através de cada um de vós, o meu pensamento a todos os "nossos" concidadãos, que de certa maneira vós representais hoje: às famílias, comunidades e paróquias, às crianças, jovens e idosos, aos deficientes físicos e/ou mentais e aos doentes, aos voluntários e aos agentes sociais, aos imigrados e aos peregrinos. Agradeço ao Cardeal Vigário, que me acompanha nesta visita, e encorajo a prosseguir no seu empenho quantos sacerdotes, pessoas consagradas e fiéis leigos colaboram activamente com as administrações públicas para o bem de Roma, das suas periferias e bairros.

Há alguns dias, precisamente conversando com os párocos e sacerdotes de Roma, dizia que o coração romano é um "coração de poesia", a sublinhar que a beleza é quase "um seu privilégio, um seu carisma natural". Roma é bonita pelos vestígios da sua antiguidade, pelas instituições culturais e pelos monumentos que narram a sua história, pelas igrejas e as suas numerosas obras-primas de arte. Mas Roma é bonita sobretudo pela generosidade e santidade de tantos dos seus filhos, que deixaram um rasto eloquente da sua paixão pela beleza de Deus, a beleza do amor que não desflorece nem envelhece. Desta beleza foram testemunhas os Apóstolos Pedro e Paulo e a multidão de mártires do início do cristianismo; foram testemunhas muitos homens e mulheres que, sendo romanos por nascimento ou por adopção, ao longo dos séculos se dedicaram ao serviço da juventude, dos doentes, dos pobres e de todos os necessitados. Limito-me a citar alguns: o diácono São Lourenço, Santa Francisca Romana, cuja festa se celebra precisamente hoje, São Filipe Neri, São Gaspar del Bufalo, São João Baptista De Rossi, São Vicente Pallotti, a Beata Ana Maria Taigi, os beatos cônjuges Luís e Maria Beltrami Quattrocchi. Os seus exemplos mostram que, quando uma pessoa encontra Cristo, não se fecha em si mesma, mas abre-se às necessidades dos outros e, em cada âmbito da sociedade, antepõe o bem de todos ao seu próprio interesse.

De homens e mulheres assim, há realmente necessidade também neste nosso tempo, porque tantos jovens e adultos se encontram em situações precárias e às vezes até dramáticas; situações que só é possível superar juntamente, como ensina também a história de Roma, que conheceu muitos outros momentos difíceis. A propósito, vem-me à mente um verso do grande poeta latino Ovídio que, numa sua elegia, encorajava assim os romanos de então: "Perfer et obdura: multo graviora tulisti Suporta e resiste: superaste situações muito mais difíceis" (cf. Trist., lib. V, el. XI, v. 7). Além da solidariedade necessária e do devido empenho de todos, podemos sempre contar com a ajuda certa de Deus, que nunca abandona os seus filhos.

Queridos amigos, ao voltar para as vossas casas, comunidades e paróquias, dizei a quantos encontrardes que o Papa garante a todos a sua compreensão, proximidade espiritual e oração. A cada um, especialmente a quem está doente, no sofrimento e se encontra em graves dificuldades, levai a minha lembrança e a bênção de Deus, que agora invoco sobre vós por intercessão dos Santos Pedro e Paulo, de Santa Francisca Romana, co-Padroeira de Roma, e especialmente de Maria Salus populi romani. Deus abençoe e proteja sempre Roma e todos os seus habitantes!



DURANTE A VISITA AO MOSTEIRO

DE SANTA FRANCISCA ROMANA EM TOR DE'SPECCHI (ROMA) Segunda-feira, 9 de Março de 2009

Queridas Irmãs Oblatas!

881 Com grande alegria, após a visita ao vizinho Capitólio, venho encontrar-vos neste histórico mosteiro de Santa Francisca Romana, enquanto ainda está a decorrer o quarto centenário da sua canonização realizada a 29 de Maio de 1608. Depois, exactamente hoje, celebra-se a festa desta grande Santa, na recordação da data do seu nascimento no céu. Portanto, estou particularmente grato ao Senhor por poder prestar esta homenagem à "mais romana das Santas", em feliz sucessão com o encontro que tive com os Administradores na sede do governo da cidade. Dirijo a minha cordial saudação à vossa comunidade, e em particular à Presidente, Madre Maria Camilla Rea – à qual agradeço as gentis palavras com que interpretou os sentimentos comuns – e ao Bispo Auxiliar D. Ernesto Mandara, às estudantes hóspedes e a todos os presentes.

Come sabeis, acabei de concluir juntamente com os meus colaboradores da Cúria Romana os Exercícios Espirituais, que coincidem com a primeira semana de Quaresma. Nestes dias experimentei mais uma vez quanto são indispensáveis o silêncio e a oração. E pensei também em Santa Francisca Romana, na sua total dedicação a Deus e ao próximo, da qual surgiu a experiência de vida comunitária aqui, em Tor de' Specchi. Contemplação e acção, oração e serviço de caridade, ideal monástico e empenho social: tudo isto encontrou aqui um "laboratório" rico de frutos, em estreita ligação com os monges Olivetanos de Santa Maria Nova. Todavia, o verdadeiro motor do que aqui se realizou no decurso do tempo foi o coração de Francisca, no qual o Espírito Santo derramou os seus dons espirituais e ao mesmo tempo suscitou muitas iniciativas de bem.

O vosso mosteiro encontra-se no coração da cidade. Como não ver nisto quase um símbolo da necessidade de trazer ao centro da convivência civil a dimensão espiritual, para dar pleno sentido às múltiplas actividades do ser humano? Precisamente nesta perspectiva, a vossa comunidade, juntamente com as outras comunidades de vida contemplativa, é chamada a ser uma espécie de "pulmão" espiritual da sociedade, para que em toda a acção, em todo o activismo de uma cidade não falte o "respiro" espiritual, a referência a Deus e ao seu desígnio de salvação. Este é o serviço que prestam em particular os mosteiros, lugares de silêncio e de meditação da Palavra divina, lugares onde a preocupação é manter sempre a terra aberta para o céu. Depois, o vosso mosteiro tem uma peculiaridade, que naturalmente reflecte o carisma de Santa Francisca Romana. Aqui vive-se um equilíbrio singular entre vida religiosa e vida laical, entre vida no mundo e fora do mundo. Um modelo que não nasceu no papel, mas na experiência concreta de uma jovem romana: escrito – poder-se-ia dizer – pelo próprio Deus na existência extraordinária de Francisca, na sua história de menina, de adolescente, de jovem esposa e mãe, de mulher madura, conquistada por Jesus Cristo, como diria São Paulo. Não é ocasional que as paredes destes ambientes sejam decoradas com imagens da sua vida, demonstrando que o verdadeiro edifício que Deus ama construir é a vida dos santos.

Também nos nossos dias, Roma tem necessidade de mulheres – e naturalmente também de homens, mas aqui gostaria de realçar a dimensão feminina mulheres – , dizia, dedicadas totalmente a Deus e ao próximo; mulheres capazes de recolhimento e de serviço generoso e discreto; mulheres que sabem obedecer aos Pastores, mas também apoiá-los e estimulá-los com as próprias sugestões, amadurecidas no diálogo com Cristo e na experiência directa no campo da caridade, da assistência aos doentes, aos marginalizados, aos menores em dificuldade. É o dom de uma maternidade que forma uma unidade com a oblação religiosa, seguindo o modelo de Maria Santíssima. Pensemos no mistério da Visitação: Maria após ter concebido no coração e na carne o Verbo de Deus, imediatamente se põe a caminho para ir ajudar a parente idosa Isabel. O coração de Maria é o claustro onde a Palavra continua a falar no silêncio, e ao mesmo tempo, é a fornalha de uma caridade que impele a gestos corajosos, e também a uma partilha perseverante e escondida.

Queridas Irmãs! Obrigado pelas orações com que acompanhais sempre o ministério do Sucessor de Pedro e obrigado pela vossa presença preciosa no coração de Roma. Desejo-vos que experimenteis todos os dias a alegria de nada antepor ao amor de Cristo, um lema que herdámos de São Bento mas que reflecte a espiritualidade do apóstolo Paulo, por vós venerado como padroeiro da vossa Congregação. A vós, aos monges Olivetanos e a todos os presentes concedo de coração uma especial Bênção Apostólica.

À PLENÁRIA DA CONGREGAÇÃO

PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS Sexta-feira, 13 de Março de 2009

Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Sacerdócio e no Episcopado
Estimados irmãos!

É com grande alegria e com reconhecimento sempre vivo que vos recebo, por ocasião da Plenária da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Nesta importante ocasião é-me grato, em primeiro lugar, transmitir a minha cordial saudação ao Prefeito, Senhor Cardeal Antonio Cañizares Llovera, a quem agradeço as palavras com que explicou os trabalhos realizados nestes dias e deu expressão aos sentimentos de quantos estão hoje aqui presentes. Estendo a minha saudação carinhosa e o meu agradecimento cordial a todos os Membros e Oficiais do Dicastério, a começar pelo Secretário, D. Malcom Ranjith, e pelo Subsecretário, até incluir todos os outros que, nas diversas funções, prestam com competência e dedicação o seu serviço para "a regulamentação e a promoção da sagrada liturgia" (Pastor bonus ). Na Plenária reflectistes sobre o Mistério eucarístico e, de modo particular, sobre o tema da adoração eucarística. Bem sei que, depois da publicação da Instrução Eucharisticum mysterium, de 25 de Maio de 1967 e da promulgação, a 21 de Junho de 1973, do Documento De sacra communione et cultu mysterii eucharistici extra Missam, a insistência sobre o tema da Eucaristia como inesgotável manancial de santidade foi uma atenção de primeiro plano do Dicastério.

882 Portanto, acolhi de bom grado a proposta que a Plenária se ocupasse do tema da adoração eucarística, confiante que uma renovada reflexão colegial sobre esta prática pudesse contribuir para esclarecer, nos limites da competência do Dicastério, os meios litúrgicos e pastorais com que a Igreja dos nossos tempos pode promover a fé na presença real do Senhor na Sagrada Eucaristia e assegurar à celebração da Santa Missa toda a dimensão da adoração. Sublinhei este aspecto na Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, em que eu reunia os frutos da XI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, realizada em Outubro de 2005. Evidenciando a importância da relação intrínseca entre celebração da Eucaristia e adoração (cf. n. 66), nela eu citava o ensinamento de Santo Agostinho: "Nemo autem illam carnem manducat, nisi prius adoraverit; peccemus non adorando" (Enarrationes in Psalmos, 98, 9: ccl 39, 1385). Os Padres sinodais não deixaram de manifestar preocupação por uma certa confusão gerada, depois do Concilio Vaticano II, a respeito da relação entre Missa e adoração do Santíssimo Sacramento (cf. Sacramentum caritatis, n. 66). Nisto encontrava eco quanto o meu Predecessor, Papa João Paulo II, já tinha expresso acerca dos desvios que às vezes poluíram a renovação litúrgica pós-conciliar, revelando "uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico" (Ecclesia de Eucharistia EE 10).

O Concilio Vaticano II esclareceu o papel singular que o mistério eucarístico desempenha na vida dos fiéis (cf. Sacrosanctum concilium SC 48-54 SC 56). Como o Papa Paulo VI repetiu várias vezes: "A Eucaristia é um mistério altíssimo, aliás, propriamente, como diz a Sagrada Liturgia, o mistério de fé" (Mysterium fidei MF 15). Com efeito, a Eucaristia está nas próprias origens da Igreja (cf. João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia EE 21) e é a nascente da graça, constituindo uma ocasião incomparável, quer para a santificação da humanidade em Cristo, quer para a glorificação de Deus. Neste sentido, todas as actividades da Igreja estão, por um lado, ordenadas para o mistério da Eucaristia (cf. Sacrosanctum concilium SC 10 Lumen gentium LG 11, Presbyterorum ordinis PO 5 e Sacramentum caritatis 17) e, por outro, é em virtude da Eucaristia que "a Igreja vive e cresce continuamente" também nos dias de hoje (Lumen gentium LG 26). A nossa tarefa consiste em compreender o preciosíssimo tesouro deste mistério de fé inefável "tanto na própria celebração da Missa, como no culto das espécies sagradas, que são conservadas depois da Missa para ampliar a graça do Sacrifício" (Instrução Eucharisticum mysterium, n. 3, g.). A doutrina da transubstanciação do pão e do vinho e da presença real são verdades de fé já evidentes na própria Sagrada Escritura e depois confirmadas pelos Padres da Igreja. A este respeito, o Papa Paulo VI recordava que "a Igreja católica não só sempre ensinou, mas também viveu a fé na presença do corpo e do sangue de Cristo na Eucaristia, adorando sempre com culto latrêutico, que compete unicamente a Deus, um Sacramento tão exímio" (Mysterium fidei MF 56 cf. Catecismo da Igreja Católica CEC 1378).

É oportuno recordar, a este propósito, as diversas acepções que o vocábulo "adoração" tem nas línguas grega e latina. A palavra grega proskýnesis indica o gesto de submissão, o reconhecimento de Deus como nossa verdadeira medida, cuja norma aceitamos seguir. A palavra latina adoratio, ao contrário, denota o contacto físico, o ósculo, o abraço, que está implícito na ideia de amor. O aspecto da submissão prevê um relacionamento de união, porque Aquele ao qual nos submetemos é Amor. Efectivamente, na Eucaristia a adoração deve tornar-se união: união com o Senhor vivo e depois com o seu Corpo místico. Como disse aos jovens na Esplanada de Marienfeld, em Colónia, durante a XX Jornada Mundial da Juventude, no dia 21 de Agosto de 2005: "Deus já não está só diante de nós, como o Totalmente Outro. Está dentro de nós, e nós estamos n'Ele. A sua dinâmica penetra-nos e de nós deseja propagar-se aos outros e difundir-se em todo o mundo, para que o seu amor se torne realmente a medida dominante do mundo" (Insegnamenti, vol. I, 2005, págs. 457 s.). Era nesta perspectiva que eu recordava aos jovens que na Eucaristia se vive a "fundamental transformação da violência em amor, da morte em vida, que depois traz consigo as outras transformações. Pão e vinho tornam-se o seu Corpo e o seu Sangue. Mas a este ponto, a transformação não deve deter-se, antes, é aqui que deve começar plenamente. O Corpo e o Sangue de Cristo são-nos dados para que nós mesmos, por nossa vez, sejamos transformados" (Ibid., pág. 457).

O meu Predecessor, Papa João Paulo II, na Carta Apostólica Spiritus et sponsa, por ocasião do 40º aniversário da Constituição Sacrosanctum concilium sobre a Sagrada Liturgia, exortava a empreender os passos necessários para aprofundar a experiência da renovação. Isto é importante também em relação ao tema da adoração eucarística. Este aprofundamento só será possível através de um maior conhecimento do mistério, em plena fidelidade à sagrada Tradição e incrementando a vida litúrgica no interior das nossas comunidades (cf. Spiritus et sponsa, nn. 6-7). A este propósito, aprecio de modo particular o facto de que a Plenária tenha reflectido também acerca do discurso da formação de todo o Povo de Deus na fé, com uma atenção especial aos seminaristas, para favorecer o seu crescimento num espírito de autêntica adoração eucarística. Com efeito, S. Tomás explica: "Que neste sacramento esteja presente o verdadeiro Corpo e o verdadeiro Sangue de Cristo não se pode apreender com os sentidos, mas unicamente com a fé, que se alicerça na autoridade de Deus" (Summa theologiae, III, 75, 1; cf. Catecismo da Igreja Católica CEC 1381).

Estamos vivendo os dias da Santa Quaresma, que constitui não apenas um caminho de prática espiritual mais intensa, mas também uma eficaz preparação para celebrar melhor a santa Páscoa. Recordando três práticas penitenciais muito queridas à tradição bíblica e cristã a oração, a esmola e o jejum animemo-nos reciprocamente a redescobrir e a viver com renovado fervor o jejum, não só como prática ascética, mas inclusive como preparação para a Eucaristia e como arma espiritual para lutar contra qualquer eventual apego desordenado a nós mesmos. Este período intenso da vida litúrgica nos ajude a afastar tudo aquilo que distrai o espírito e a intensificar o que alimenta a alma, abrindo-a ao amor a Deus e ao próximo. Com estes sentimentos, formulo desde já a todos vós os meus bons votos para as próximas festas pascais e, enquanto vos agradeço o trabalho que desempenhastes nesta Sessão Plenária, concedo a cada um com afecto a minha Bênção.



A UM GRUPO DE PRELADOS ARGENTINOS

EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Sala do Consistório

Sábado, 14 de Março de 2009




Senhor Cardeal
Queridos Irmãos no Episcopado!

1. É para mim motivo de profunda alegria dar-vos as boas-vindas a este encontro com o Sucessor de Pedro e Cabeça do Colégio Episcopal.

Agradeço as amáveis palavras do Cardeal Jorge Mario Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires e Presidente da Conferência Episcopal Argentina, com as quais se fez intérprete dos sentimentos de todos. Através de vós desejo saudar também todo o clero, comunidades religiosas e leigos das vossas Dioceses, manifestando-lhes o meu apreço e proximidade, assim como o meu conforto constante na apaixonante tarefa da evangelização, que estais a realizar com grande dedicação e generosidade.


Discursos Bento XVI 877