Discursos Bento XVI 24410

AOS PARTICIPANTES DO CONGRESSO NACIONAL PROMOVIDO PELA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA COM O TEMA: "TESTEMUNHAS DIGITAIS. ROSTOS E LINGUAGENS NA ERA CROSSMEDIAL"

Sábado, 24 de Abril de 2010

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Eminência
Venerados Irmãos no Episcopado
Prezados amigos!

Estou feliz por esta ocasião de me encontrar convoco e concluir o vosso congresso, intitulado de modo muito evocativo: "Testemunhas digitais. Rostos e linguagens na era crossmedial". Agradeço ao Presidente da Conferência Episcopal Italiana, Cardeal Angelo Bagnasco, as cordiais palavras de boas-vindas com as quais, mais uma vez, desejei manifestar o afecto e a proximidade da Igreja que está na Itália ao meu serviço apostólico. Senhor Cardeal, nas suas palavras reflecte-se a adesão fiel a pedro de todos os católicos desta amada Nação e a estima de muitos homens e mulheres animados pelo desejo de procurar a verdade.

O tempo que vivemos conhece um enorme ampliamento das fronteiras da comunicação, realiza uma convergência inédita entre os diversos mass media e torna possível a interactividade. Portanto, a rede manifesta uma vocação aberta, tendencialmente igualitária e pluralista, mas ao mesmo tempo assinala um novo fosso: com efeito, fala-se de digital divide. Ele separa os incluídos dos excluídos e acrescenta-se às demais diferenças, que já afastam as nações entre si e também no seu interior. Aumentam também os perigos de homologação e de controle, de relativismo intelectual e moral, já bem reconhecíveis na flexão do espírito crítico, na verdade reduzida ao jogo das opiniões, nas múltiplas formas de degradação e de humilhação da intimidade da pessoa. Então, assiste-se a uma "poluição do espírito; ela torna os nossos rostos menos risonhos, mais obscuros, que nos leva a não nos cumprimentarmos, a não olharmos para os outros..." (Discurso na Piazza di Spagna, 8 de Dezembro de 2009). Este congresso, ao contrário, tem em vista precisamente reconhecer os rostos, portanto superar aquelas dinâmicas colectivas que podem fazer-nos perder a percepção da profundidade das pessoas e nivelar-nos na sua superfície: quando isto acontece, elas permanecem como corpos sem alma, objectos de intercâmbio e de consumo.

Como é possível, hoje, voltar aos rotos? Procurei indicar o seu caminho também na minha terceira Encíclica. Ela passa por aquela caritas in veritate, que resplandece no rosto de Cristo. O amor na verdade constitui "um grande desafio para a Igreja num mundo em crescente e incisiva globalização" (n. 9). Os mass media podem tornar-se factores de humanização, "não só quando, graças ao desenvolvimento tecnológico, oferecem maiores possibilidades de comunicação e de informação, mas também e sobretudo quando são organizados e orientados à luz de uma imagem da pessoa e do bem comum que respeite os seus valores universais" (n. 73). Isto exige que eles "estejam centrados na promoção da dignidade das pessoas e dos povos, animados expressamente pela caridade e colocados ao serviço da verdade, do bem e da fraternidade natural e sobrenatural" (Ibidem). Somente sob tais condições a passagem epocal que estamos a atravessar pode revelar-se rica e profunda de novas oportunidades. Sem temores, queremos fazer-nos ao largo no mar digital, enfrentando a navegação aberta com a mesma paixão que, desde há dois mil anos, governa a barca da Igreja. Mais do que pelos recursos técnicos, embora sejam necessários, queremos qualificar-nos habitando também este universo com um coração crente, que contribua para dar uma alma ao ininterrupto fluxo comunicativo da rede.

Esta é a nossa missão, a missão irrenunciável da Igreja: a tarefa de cada crente que trabalha no campo dos mass media consiste em "aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, aos homens que vivem nesta nossa era "digital", os sinais necessários para reconhecerem o Senhor" (Mensagem para o 44º dia mundial das comunicações sociais, 24 de Janeiro de 2010). Queridos amigos, também na rede sois chamados a inserir-vos como "animadores de comunidades", atentos a "preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus", e a expressar uma sensibilidade particular por aqueles que "caíram no desânimo e cultivam no seu coração desejos de absoluto e de verdade não caducas" (Ibidem). Deste modo, a rede poderá tornar-se uma espécie de "pórtico dos gentios", no qual "reservar espaço àqueles para quem Deus ainda é um desconhecido" (Ibidem).

Como animadores da cultura e da comunicação, vós representais um sinal vivo do modo como "os modernos meios de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contacto com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes" (Ibidem). Na Itália não faltam vozes neste campo: aqui é suficiente recordar o diário Avvenire, a emissora televisiva TV2000, o circuito radiofónico inBlu e a agência de imprensa SIR, além das publicações periódicas católicas, da rede abrangente de semanários diocesanos e dos já numerosos sites internet de inspiração católica. Exorto todos os profissionais da comunicação a não se cansarem de alimentar no próprio coração aquela sadia paixão pelo homem, que se torna tensão a aproximar-se mais das suas linguagens e do seu verdadeiro rosto. Ajudar-vos-á nisto uma sólida preparação teológica e, principalmente, uma profunda e jubilosa paixão por Deus, alimentada no diálogo permanente com o Senhor. Por sua vez, as Igrejas particulares e os institutos religiosos não hesitem em valorizar os percursos formativos propostos pelas Universidades Pontifícias, pela Universidade Católica do Sagrado Coração e pelas outras Universidades católicas e eclesiásticas, destinando-lhes com clarividência pessoas e recursos. O mundo da comunicação social entre plenamente na programação pastoral.

Enquanto vos agradeço o serviço que prestais à Igreja e, por conseguinte, à causa do homem, exorto-vos a percorrer, animados pela coragem do Espírito Santo, os caminhos do continente digital. A nossa confiança não é depositada acriticamente em qualquer instrumento da técnica. A nossa força está no facto de sermos Igreja, comunidade crente, capaz de dar testemunho a todos da perene novidade do Ressuscitado, com uma vida que floresce em plenitude na medida em que se abre, entra em relação e se entrega com gratuidade.

Confio-vos à salvaguarda de Maria Santíssima e dos grandes Santos da comunicação enquanto, de coração, vos abençoo.



PALAVRAS AOS MEMBROS DO COMITÉ "VOX CLARA" Quarta-feira, 28 de Abril de 2010

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Queridos Cardeais
Prezados irmãos bispos
Membros e consultores do Comité "Vox Clara"
Reverendos sacerdotes!

Agradeço-vos o trabalho que "Vox Clara" tem realizado ao longo dos últimos oito anos, assistindo e aconselhando a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, no cumprimento das suas responsabilidades relativas às traduções dos textos litúrgicos em inglês. Tratou-se de um empreendimento verdadeiramente colegial. Não apenas, entre os membros do Comité, estão representados os cinco continentes, mas também recebeis assiduamente contribuições das conferências episcopais dos territórios de língua inglesa do mundo inteiro. Agradeço-vos o enorme trabalho que realizastes no vosso estudo das traduções e no processamento dos resultados das numerosas consultas que foram feitas. Estou grato aos peritos assistentes, por terem oferecido os frutos do seu estudo em vista de prestar um serviço à Igreja universal. Agradeço também aos Superiores e aos Oficiais da Congregação o seu cansativo trabalho quotidiano de revisão da preparação e da tradução dos textos que proclamam a verdade da nossa redenção em Cristo, o Verbo Encarnado de Deus.

Santo Agostinho falava maravilhosamente da relação entre João Baptista, a vox clara que ressoava às margens do Jordão e a Palavra que ele anunciava. Ele dizia que uma voz serve para compartilhar com o ouvinte a mensagem que já está no coração de quem fala. Uma vez que a palavra é proferida, está presente no coração de ambos, e assim a voz, tendo cumprido a sua tarefa, pode esvaecer (cf. Sermão 293). É-me grato tomar conhecimento de que a tradução em inglês do Missal Romano em breve estará pronta para ser publicada, de maneira que os textos que preparastes com tanta dificuldade possam ser proclamados na liturgia que é celebrada em todo o mundo anglófono. Através destes textos sagrados e dos gestos que os acompanham, Cristo tornar-se-á presente e activo no meio do seu povo. A voz que ajudou a fazer nascer estas palavras terá cumprido a sua tarefa.

Depois, apresentar-se-á uma nova tarefa, que não é da competência directa de Vox Clara, mas que de certa forma interpelará todos vós a tarefa de preparação para a recepção da nova tradução por parte do clero e dos fiéis leigos. Muitos terão dificuldade de se adaptar a textos com os quais não têm familiaridade, depois de quase quarenta anos de uso contínuo da tradução precedente. A mudança deverá ser introduzida com a devida sensibilidade e a oportunidade que ela apresenta para a catequese deverá ser recebida com determinação. Rezo a fim de que deste modo seja evitado qualquer risco de confusão ou desorientamento e que, ao contrário, a mudança seja útil como trampolim para uma renovação e um aprofundamento da devoção eucarística em todo o mundo anglófono.

Caros irmãos bispos, reverendos sacerdotes e amigos, desejo que saibais quanto aprecio o grande esforço de colaboração para o qual tendes contribuído. Em breve tempo, os frutos dos vossos esforços tornar-se-ão disponíveis às congregações de língua inglesa em toda a parte. Na medida em que as preces do povo de Deus sobem até Ele como incenso (cf. Sl
Ps 140,2), que a bênção do Senhor desça sobre todos aqueles que contribuíram com o seu tempo e a sua experiência para redigir os textos em que tais orações estão expressas. Obrigado, e que possais ser abundantemente recompensados pelo serviço generoso ao povo de Deus.




AO SENHOR JEAN-PIERRE HAMULI MUPENDA NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

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Quinta-feira, 29 de Abril de 2010


Senhor Embaixador!

É com grande prazer que recebo Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República Democrática do Congo junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis palavras, mediante as quais me transmitiu a homenagem respeitosa do Presidente da República, Sua Excelência o Senhor Jo-seph Kabila Kabange, e do povo congolês. Tive a ocasião de me encontrar com o seu Presidente em Junho de 2008. Ficar-lhe-ia grato se tivesse a amabilidade de lhe transmitir os votos que formulo pela sua pessoa e pelo cumprimento da sua tarefa ao serviço da Nação. Deus o guie nos esforços pela consecução da paz, garantia de uma existência digna e de um progresso integral. Saúdo também cordialmente os diferentes Responsáveis e todos os habitantes do seu país.

A sua presença na chefia da Embaixada congolesa, após longos anos de vacância, manifesta o desejo do Chefe do Estado e do Governo de fortalecer as relações com a Santa Sé e por isto lhes agradeço. Faço notar também que esta decisão é tomada no ano do cinquentenário da independência da sua pátria. Que este jubileu seja para a Nação a ocasião de recomeçar com novas bases.

O seu país conheceu durante estes mesmos anos momentos particularmente difíceis e trágicos. A violência abateu-se, cega e impiedosa, sobre uma ampla camada da população, reprimindo-a sob o seu jugo brutal e insuportável, semeando ruínas e mortes. Penso de modo particular nas mulheres, nos jovens e nas crianças, cuja dignidade foi longamente espezinhada pela violação dos seus direitos. Gostaria de lhes expressar a minha solicitude e garantir-lhes a minha oração. A própria Igreja católica foi ferida em numerosos dos seus membros e estruturas. Ela deseja favorecer a cura interior e a fraternidade. A Conferência Episcopal falou amplamente sobre a problemática na sua Mensagem de Junho passado. Portanto seria oportuno agora empregar todos os meios políticos e humanos para pôr fim ao sofrimento. Também seria bom reparar e fazer justiça, como convidam as palavras justiça e paz inscritas no mote nacional. Os compromissos assumidos em Goma em 2008 e a aplicação dos acordos internacionais, mais particularmente o Pacto sobre a segurança, a estabilidade e o desenvolvimento da Região dos Grandes Lagos, certamente são necessários, mas é ainda mais urgente trabalhar pelas condições preliminares da sua aplicação. Ela só poderá realizar-se reconstruindo pouco a pouco o tecido social tão gravemente ferido, encorajando a primeira sociedade natural que é a família, e consolidando as relações interpessoais entre congoleses, fundadas numa educação integral, fonte de paz e de justiça. Senhor Embaixador, a Igreja católica deseja continuar a dar a sua contribuição para esta nobre tarefa através de todas as estruturas de que dispõe, graças à sua tradição espiritual, educativa e de saúde.

Convido os poderes públicos a que nada negligenciem para pôr fim à situação de guerra que, infelizmente, ainda persiste em certas províncias do país, e a dedicar-se à reconstrução humana e social da nação no respeito dos direitos humanos fundamentais. A paz não é unicamente a ausência de conflitos, ela é também um dom e uma tarefa que compromete os cidadãos e o Estado. A Igreja tem a convicção de que ela só pode ser realizada "no respeito da "gramática" inscrita no coração do homem pelo seu divino Criador", ou seja, numa resposta humana em harmonia com o plano divino. "Esta "gramática", isto é, o conjunto das regras do agir individual e das relações recíprocas entre as pessoas, segundo a justiça e a solidariedade, está inscrita nas consciências, onde se reflecte o sábio projecto de Deus" (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 2007, n. 3). Faço apelo à Comunidade internacional, envolvida em diversos níveis nos conflitos sucessivos que a sua nação viveu, a mobilizar-se a fim de contribuir eficazmente para restabelecer na República Democrática do Congo a paz e a legalidade.

Após tantos anos de sofrimentos, Excelência, o seu país precisa de se comprometer resolutamente no caminho da reconciliação nacional. Os Bispos do Congo proclamaram este ano de aniversário da Nação, um ano de graça, de renovação, de alegria e de reconciliação para construir um Congo solidário, próspero e unido. Um dos melhores meios para obter estas finalidades é a promoção da educação das jovens gerações. O espírito de reconciliação e de paz, nascido na família, afirma-se e expande-se na escola e na universidade. Os congoleses desejam uma boa educação para os seus filhos, mas o peso do financiamento directo por parte das famílias é grande e até insuportável para muitos. Tenho a certeza de que uma justa solução poderá ser encontrada. Ajudando economicamente os pais e garantindo o financiamento regular dos educadores, o Estado fará um investimento que será proveitoso para todos. É fundamental que as crianças e os jovens sejam educados com paciência e tenacidade, sobretudo quantos foram privados de instrução e treinados para matar. Seria bom não só inculcar-lhes um conhecimento que os ajudasse na sua futura vida adulta e profissional, mas é preciso proporcionar-lhes sólidas bases morais e espirituais que os ajudem a rejeitar a tentação da violência e do ressentimento para escolher o que é justo e verdadeiro. Através das suas estruturas educativas e segundo as suas possibilidades, a Igreja poderá ajudar a completar as do Estado.

As importantes riquezas naturais com as quais Deus dotou a vossa terra e que infelizmente se tornaram uma fonte de avidez e de lucro desproporcionado para alguns dentro e fora do seu país, permitem amplamente, graças a uma justa repartição dos rendimentos, ajudar a população a sair da pobreza e a providenciar à sua segurança alimentar e da saúde. As famílias congolesas e a educação dos jovens serão as primeiras beneficiárias. Este dever de justiça promovido pelo Estado consolidará a reconciliação e a paz nacional, e permitirá que a população possa gozar de uma vida serena, base necessária para a prosperidade.

Por seu intermédio, desejo igualmente dirigir votos calorosos aos membros da comunidade católica do seu país, mais particularmente aos Bispos, convidando-os a ser testemunhas generosas do amor de Deus e a contribuir para a edificação de uma nação unida e fraterna na qual cada um se sinta plenamente amado e respeitado.

No momento em que inicia a sua missão, apresento-lhe, Senhor Embaixador, os meus melhores votos pela nobre tarefa que o espera, garantindo-lhe que encontrará sempre um acolhimento atento e uma compreensão cordial junto dos meus colaboradores.

Sobre Vossa Excelência, a sua família, o povo congolês e os seus Dirigentes, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.



AOS BISPOS DA GÂMBIA, DA SERRA LEOA

E DA LIBÉRIA EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»


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Quinta-feira, 29 de Abril de 2010




Dilectos Irmãos Bispos!

Estou feliz por vos dar as boas-vindas, Bispos da Libéria, da Gâmbia e da Serra Leoa, por ocasião da vossa visita ad limina aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo. Estou grato pelos sentimentos de comunhão e de afecto manifestados em vosso nome por D. Koroma, e peço-vos que transmitais as minhas calorosas saudações e encorajamento aos vossos amados povos, enquanto eles se esforçam por levar uma vida digna da vocação que receberam (cf. Ef
Ep 4,1).

A segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos foi uma rica experiência de comunhão e uma circunstância providencial para renovar o vosso próprio ministério episcopal e para reflectir sobre a sua tarefa essencial, nomeadamente, "para ajudar o Povo de Deus a reservar à palavra da revelação a obediência da fé e a abraçar plenamente os ensinamentos de Cristo" (Pastores gregis ). É com prazer que vejo, nos vossos relatórios quinquenais, que enquanto vos dedicais à administração das vossas respectivas dioceses, esforçais-vos pessoalmente por anunciar o Evangelho nas confirmações, nas vossas visitas às paróquias, por ocasião dos vossos encontros com grupos de sacerdotes, de religiosos ou de fiéis leigos, assim como nas vossas cartas pastorais. Através do vosso ensinamento, o Senhor preserva os vossos povos do mal, da ignorância e da superstição, transformando-os em filhos do seu Reino. Procurai construir comunidades vibrantes e expansivas, feitas de homens e de mulheres fortes na própria fé, contemplativos e jubilosos na liturgia, e bem instruídos sobre "o modo como deveis proceder para agradar a Deus" (1Th 4,1). Num ambiente caracterizado pelo divórcio e pela poligamia, promovei a unidade e o bem-estar da família cristã, edificada no sacramento do matrimónio. Iniciativas e associações dedicadas à santificação desta comunidade de base merecem o vosso total apoio. Continuai a promover a dignidade das mulheres no contexto dos direitos humanos e a defender os vossos povos contra as tentativas de divulgar uma mentalidade antinatalista, dissimulada sob forma de progresso cultural (cf. Caritas in veritate ). A vossa missão exige também que presteis atenção ao discernimento e preparação adequados das vocações e à formação permanente dos sacerdotes, que são os vossos mais estreitos colaboradores na obra de evangelização. Continuai a orientá-los com a palavra e o exemplo, para que sejam homens de oração, sólidos e clarividentes no seu ensino, maduros e respeitosos nos seus relacionamentos com os outros, fiéis aos seus próprios compromissos espirituais e vigorosos na compaixão para com todos os que se encontram em necessidade. Do mesmo modo, não hesiteis em convidar os missionários de outros países a participar na boa obra que se está a levar a cabo por parte do clero, dos religiosos e dos catequistas.

Nos vossos países tem-se a Igreja em grande consideração, devido ao seu contributo para o bem da sociedade, de forma especial nos campos da educação, do desenvolvimento e da assistência à saúde, oferecido a todos sem qualquer distinção. Esta contribuição descreve bem a vitalidade da caridade cristã, aquele legado divino transmitido à Igreja universal por parte do seu fundador (cf. Caritas in veritate ). Aprecio de maneira especial a assistência que vós ofereceis aos refugiados e imigrantes, e exorto-vos a procurar, na medida do possível, a cooperação pastoral da parte dos seus países de origem. A luta contra a pobreza deve ser enfrentada com respeito pela dignidade de todas as pessoas interessadas, encorajando-as a ser protagonistas do seu desenvolvimento integral. Pode-se realizar um grande bem através de compromissos comunitários em pequena escala e mediante iniciativas microeconómicas ao serviço das famílias. No desenvolvimento e no apoio a tais estratégias, uma melhor educação será sempre um factor determinante. Por isso, encorajo-vos a continuar a oferecer programas escolares que preparem e motivem as novas gerações a tornar-se cidadãos responsáveis, socialmente activos para o bem das suas comunidades e dos seus países. Encorajais, justamente, as pessoas que ocupam posições de autoridade, a indicar o caminho na luta contra a corrupção, chamando a atenção para a gravidade e a injustiça de tais pecados. A este propósito, a formação espiritual e moral de leigos e leigas para funções de liderança, mediante cursos especializados na Doutrina Social da Igreja, constitui uma importante contribuição para o bem comum.

Elogio-vos pela vossa atenção ao grande dom que é a paz. Oro a fim de que o processo de reconciliação na justiça e na verdade, que justamente tendes incentivado nessa região, possa produzir um respeito duradouro por todos os direitos humanos, concedidos por Deus, e prevenir as tendências à retaliação e à vingança. No vosso serviço à paz continuai a promover o diálogo com as demais religiões, especialmente com o islão, de maneira a fomentar as boas relações já existentes e evitar qualquer forma de intolerância, injustiça ou opressão, prejudiciais para a promoção da confiança mútua. O trabalho conjunto em defesa da vida e na luta contra a doença e a subalimentação não deixará de promover a compreensão, o respeito e a aceitação. Acima de tudo, um clima de diálogo e de comunhão deve caracterizar a Igreja local. Mediante o vosso exemplo, orientai os vossos sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos, a fim de que cresçam no entendimento e na cooperação, na escuta recíproca e na partilha das iniciativas. Como sinal e instrumento da única Família de Deus, a Igreja tem o dever de dar um testemunho clarividente do amor de Jesus, nosso Senhor e Salvador, que vá além das fronteiras étnicas e inclua todos os homens e mulheres.

Prezados Irmãos Bispos, sei que encontrais inspiração e encorajamento nas palavras que Cristo Ressuscitado dirigiu aos seus Apóstolos: "A paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou a mim, também Eu vos envio a vós" (Jn 20,21). Quando voltardes para casa, para dar continuidade á vossa missão de sucessores dos Apóstolos, peço-vos que transmitais os meus carinhosos e orantes bons votos aos vossos presbíteros, aos religiosos, às religiosas, aos catequistas e a todos os vossos queridos povos. A cada um de vós, bem como àqueles que foram confiados aos vossos cuidados pastorais, concedo do íntimo do coração a minha Bênção Apostólica.




NO FINAL DO CONCERTO OFERECIDO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ITALIANA NO QUINTO ANIVERSÁRIO DE PONTIFICADO Sala Paulo VI

Quinta-feira, 29 de Abril de 2010




Senhor Presidente da República
Senhores Cardeais
1111 Ilustres Ministros e Autoridades
Venerados Irmãos no Episcopado
e no presbiterado
Gentis Senhores e Senhoras!

Mais uma vez o Presidente da República Italiana, Ilustre Giorgio Napolitano, com a máxima cortesia, quis oferecer a todos nós a possibilidade de ouvir óptima música por ocasião do aniversário de início do meu Pontificado. Ao saudá-lo com deferência, Senhor Presidente, juntamente com a sua gentil esposa, desejo expressar-lhe o meu sentido agradecimento pela homenagem deveras agradável deste concerto e pelas cordiais palavras que Vossa Excelência me dirigiu. Neste amável gesto vejo também mais um sinal de afecto que o povo italiano sente em relação ao Papa, afecto que foi tão fervoroso em Santa Catarina de Sena, Padroeira da Itália, da qual hoje se celebra a festa. Sinto-me feliz por saudar as outras Autoridades do Estado italiano, os Senhores Embaixadores, as diversas Personalidades e todos vós que participastes deste momento de alto valor cultural e musical.

Desejo agradecer a quantos cooperaram generosamente para a realização deste evento, sobretudo os Dirigentes da Fundação Escola de Música de Fiesole, da qual faz significativamente parte a Orquestra Juvenil Italiana, validamente dirigida pelo maestro Nicola Paszkowski. Na certeza de interpretar os sentimentos de todos os presentes, dirijo um sincero apreço aos membros da orquestra, que executaram com habilidade e eficiência trechos empenhativos do compositor milanês Giovanni Battista Sammartini, de Wolfgang Amadeus Mozart e de Ludwig van Beethoven.
Tivemos a alegria de ouvir esta tarde jovens concertistas alunos da Escola musical de Fiesole, fundada por Piero Farulli, que ao longo dos anos se afirmou como excelente centro nacional de formação orquestral, oferecendo a numerosas crianças, adolescentes, jovens e adultos a possibilidade de realizar um qualificado percurso formativo destinado à preparação de músicos para as melhores orquestras italianas e europeias. O estudo da música assume um alto valor no processo educativo da pessoa, porque produz efeitos positivos no desenvolvimento do indivíduo, favorecendo o seu harmonioso crescimento humano e espiritual. Sabemos quanto é comummente reconhecido o valor formativo da música nas suas implicações de natureza expressiva, criativa, relacional, social e cultural.

Aliás, a experiência mais que tricenal da Escola de Música de Fiesole assume uma particular relevância também perante a realidade quotidiana que nos diz como não seja fácil educar. De facto, no actual contexto social cada obra de educação parece tornar-se cada vez mais árdua e problemática: muitas vezes entre pais e professores fala-se das dificuldades que se encontram em transmitir às novas gerações os valores basilares da existência e de um comportamento recto. Esta situação problemática envolve quer a escola quer a família, assim como as várias agências que trabalham em âmbito formativo.

As actuais condições da sociedade exigem um extraordinário compromisso educativo a favor das novas gerações. Os jovens, mesmo se vivem em contextos diversos, têm em comum a sensibilidade em relação aos grandes ideais da vida, mas encontram muitas dificuldades em vivê-los. Não podemos ignorar as suas necessidades e expectativas, nem sequer os obstáculos ou as ameaças que encontram. Eles sentem a exigência de se aproximarem dos valores autênticos como a centralidade da pessoa, a dignidade humana, a paz e a justiça, a tolerância e a solidariedade. Procuram também, de modos por vezes confusos e contraditórios, a espiritualidade e a transcendência, para encontrar equilíbrio e harmonia. A este propósito, apraz-me observar que precisamente a música é capaz de abrir as mentes e os corações à dimensão do espírito e conduz as pessoas a levantar o olhar para o Alto, a abrir-se ao Bem e ao Belo absolutos, que têm a nascente última em Deus. A alegria do canto e da música são também um convite constante para os crentes e para todos os homens de boa vontade a empenhar-se para dar à humanidade um futuro rico de esperança. Além disso, a experiência de tocar numa orquestra acrescenta também a dimensão colectiva: as provas contínuas guiadas com paciência; o exercício da escuta dos outros músicos; o compromisso de não tocar "sozinhos", mas de fazer com que as diversas "cores orquestrais" – mesmo mantendo as próprias características – se fundem juntas; a busca comum da melhor expressão, tudo isto constitui uma "palestra" formidável, não só a nível artístico e profissional, mas sob o perfil humano global.

Queridos amigos, faço votos de que a grandeza e a beleza dos trechos musicais magistralmente executados esta tarde possam dar a todos nova e contínua inspiração a fim de tender cada vez mais para metas mais altas na vida pessoal e social. Renovo ao Senhor Presidente da República Italiana, aos organizadores e a todos os presentes a expressão da minha sincera gratidão por esta apreciada homenagem! Recordai-me nas vossas orações, para que iniciando o sexto ano do meu Pontificado, possa cumprir sempre o meu Ministério segundo a vontade do Senhor. Ele, que é a nossa força e a nossa paz, abençoe todos vós e as vossas famílias.




AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS Sexta-feira, 30 de Abril de 2010

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Estimados membros da Academia!

É-me grato saudar-vos no início da vossa décima sexta sessão plenária, dedicada a uma análise da crise económica global, à luz dos princípios éticos contidos na doutrina social da Igreja. Agradeço à vossa presidente, Professora Mary Ann Glendon, as suas amáveis palavras de saudação, enquanto lhe transmito os meus sinceros bons votos pela fecundidade das vossas deliberações.

Como sabemos, a crise financeira mundial demonstrou a fragilidade do actual sistema económico e das instituições que lhe estão vinculadas. Demonstrou inclusive o equívoco da convicção de que o mercado é capaz de se regular sozinho, separadamente da intervenção pública e sem o apoio dos critérios morais interiorizados. Esta convicção está alicerçada numa noção depauperada da vida económica, como uma espécie de mecanismo que se autocalibra, orientado pelo interesse próprio e pela busca do lucro. Como tal, ignora a natureza essencialmente ética da economia como uma actividade de e para os seres humanos. Em vez de ser uma espiral de produção e de consumo, em vista de necessidades humanas definidas de forma limitada, a vida económica deveria ser vista oportunamente como um exercício da responsabilidade humana, orientado de maneira intrínseca para a promoção da dignidade da pessoa, para a busca do bem comum e do desenvolvimento integral político, cultural e espiritual dos indivíduos, das famílias e das sociedades. Um apreço por esta dimensão mais plenamente humana exige, em contrapartida, precisamente o tipo de investigação e de reflexão interdisciplinar que agora a presente sessão da Academia empreendeu.

Na minha Carta Encíclica Caritas in veritate, observei que "a crise actual obriga-nos a projectar de novo o nosso caminho, a impor-nos regras novas e a encontrar novas formas de empenhamento" (n. 21). Naturalmente, projectar de novo o caminho significa também ter em consideração os padrões compreensivos e objectivos mediante os quais julgar as estruturas, as instituições e as decisões concretas que guiam e orientam a vida económica. Fundamentada na sua fé em Deus Criador, a Igreja afirma a existência de uma lei natural universal, que é o derradeiro manancial de tais critérios (cf. ibid., n. 59). No entanto, ela está igualmente convencida de que os princípios desta ordem ética, inscrita na própria criação, são acessíveis à razão humana e, como tais, devem ser adoptados como fundamento para as escolhas práticas. Como parte da grande herança da sabedoria humana, a lei moral natural, que a Igreja assimilou, purificou e desenvolveu à luz da revelação cristã, serve como farol para orientar os esforços dos indivíduos e das comunidades para buscar o bem e evitar o mal, enquanto dirige o seu compromisso em prol da edificação de uma sociedade autenticamente justa e humana.

Entre os princípios indispensáveis que plasmam uma semelhante abordagem ética integral da vida económica, devem estar a promoção do bem comum, alicerçada no respeito pela dignidade da pessoa humana e reconhecida como finalidade primária dos sistemas de produção e de comércio, assim como das instituições políticas e do bem-estar social. Nos nossos dias, a preocupação pelo bem comum tem adquirido uma dimensão mais acentuadamente global. E torna-se também cada vez mais evidente que o bem comum inclui a responsabilidade pelas gerações vindouras; por conseguinte, a solidariedade intergeracional deve ser reconhecida como o critério ético fundamental para julgar qualquer sistema social. Estas realidades indicam a urgência de fortalecer os procedimentos governamentais da economia global, todavia com o devido respeito pelo princípio de subsidiariedade. Mas no fim, todas as decisões e políticas económicas devem ser orientadas para a "caridade na verdade", uma vez que a verdade preserva e veicula o poder libertador da caridade nos acontecimentos e nas estruturas humanas, sempre contingentes. Pois "sem verdade, sem confiança e sem amor pelo que é verdadeiro, não há consciência nem responsabilidade social, e a actividade social acaba à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores na sociedade" (Caritas in veritate ).

Dilectos amigos, com estas considerações exprimo mais uma vez a minha convicção de que esta sessão plenária contribuirá para um discernimento mais profundo dos sérios desafios sociais e económicos que o nosso mundo deve enfrentar, e ajudará a indicar o caminho em frente para responder a tais desafios num espírito de sabedoria, justiça e humanidade autêntica. Asseguro-vos mais uma vez as minhas preces por esta obra importante, e sobre vós e os vossos entes queridos, invoco cordialmente as Bênçãos divinas da alegria e da paz.




Discursos Bento XVI 24410