Discursos Bento XVI 12509

VISITA DE CORTESIA AO GRÃO-MUFTI

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Esplanada das Mesquitas - Jerusalém

Terça-feira, 12 de Maio de 2009



Queridos Amigos Muçulmanos
As-salámu "aláikum! Paz a vós!

Agradeço cordialmente ao Grão-Mufti, Muhammad Ahmad Hussein, juntamente com o Director do Jerusalem Islamic Waqf, Xeque Mohammed Azzam al-Khatib al-Tamimi e o Chefe do Awquaf Council, Xeque Abdel Azim Salhab, as palavras de boas-vindas que me dirigiram em nome de todos. Estou profundamente grato pelo convite para visitar este lugar sagrado e de bom grado apresento os meus cumprimentos a vós e aos chefes da comunidade islâmica em Jerusalém.

A Cúpula da Rocha conduz os nossos corações e as nossas mentes a reflectir sobre o mistério da criação e sobre a fé de Abraão. Aqui os caminhos das três grandes religiões monoteístas mundiais encontram-se, recordando-nos o que elas tem em comum. Cada uma crê num só Deus, criador e regulador de tudo. Cada uma reconhece Abraão como próprio antepassado, um homem de fé ao qual Deus concedeu uma bênção especial. Cada uma reuniu multidões de fiéis no decorrer dos séculos e inspirou um rico património espiritual, intelectual e cultural.

Num mundo tristemente dilacerado por divisões, este lugar sagrado serve de estímulo e constitui inclusive um desafio para os homens e mulheres de boa vontade a empenharem-se a fim de superar incompreensões e conflitos do passado e colocarem-se no caminho de um diálogo sincero finalizado à construção de um mundo de justiça e de paz para as gerações vindouras.

Dado que os ensinamentos das tradições religiosas dizem respeito ultimamente à realidade de Deus, ao significado da vida e ao destino comum da humanidade – quer dizer, tudo o que para nós é mais sagrado e querido – pode ocorrer a tentação de empenhar-se em tal diálogo com relutância ou ambiguidade acerca das suas possibilidades de sucesso. Contudo, podemos começar acreditando que o Único Deus é a infinita fonte de justiça e de misericórdia, porque n'Ele ambas existem em perfeita união. Quem confessa o seu nome tem o dever de empenhar-se incansavelmente pela rectidão, inclusive imitando a sua clemência, pois as duas atitudes estão intrinsicamente orientadas para a coexistência pacífica e harmoniosa da família humana.

Por esta razão, deduz-se que quem adora o Único Deus deveria manifestar em si mesmo ser fundado sobre e caminhar para a unidade da inteira família humana. Noutras palavras, a fidelidade ao Único Deus, o Criador, o Altíssimo, leva ao reconhecimento de que os seres humanos estão fundamentalmente ligados uns aos outros dado que todos devem a própria existência a uma só fonte e são orientados para uma meta comum. Marcados com a imagem indelével do divino, somos chamados a desempenhar um papel activo na remoção das divisões e na promoção da solidariedade humana.

Isto exige de nós uma grave responsabilidade. Aqueles que adoram o Único Deus crêem que Ele considerará os seres humanos responsáveis pelas próprias acções. Os Cristãos afirmam que os dons divinos da razão e da liberdade estão na base desta responsabilidade. A razão abre a mente para compreender a natureza partilhada e o destino comum da família humana, enquanto a liberdade impele o coração a aceitar o outro e a servi-lo na caridade. O amor indiviso ao Único Deus e a caridade para com o próximo tornam-se assim o fulcro ao redor do qual gira tudo o resto. Esta é a razão porque agimos incansavelmente para salvaguardar os corações humanos do ódio, da raiva e da vingança.

Queridos Amigos, vim a Jerusalém em peregrinação de fé. Dou graças a Deus por esta ocasião que me é oferecida para me encontrar convosco como Bispo de Roma e Sucessor do Apóstolo Pedro, mas também como filho de Abraão, pelo qual "todas as famílias da terra serão abençoadas" (
Gn 12,3 cf. Rm 4,16-17). Garanto-vos que é fervoroso desejo da Igreja cooperar para o bem-estar da família humana. Ela crê firmemente que a promessa feita a Abraão tem um alcance universal, que abraça todos os homens e mulheres, independentemente da sua proveniência ou status social. Enquanto Muçulmanos e Cristãos continuam o diálogo respeitador que já iniciaram, rezo a fim de que eles possam descobrir como a Unicidade de Deus está inextricavelmente ligada à unidade da família humana. Submetendo-se ao seu amável plano para a criação, estudando a lei inscrita no cosmos e inserida no coração do homem, reflectindo sobre o misterioso dom da auto-revelação de Deus, possam todos os que O seguem continuar a manter o olhar fixo na sua bondade absoluta, sem nunca perder de vista como ela se reflecte no rosto dos outros.

Com estes pensamentos, humildemente peço ao Todo-Poderoso que vos conceda a paz e abençoe todo o amado povo desta região. Empenhemo-nos a viver em espírito de harmonia e de cooperação, dando testemunho do Único Deus mediante o serviço que generosamente prestamos uns aos outros. Obrigado!




ORAÇÃO DIANTE DO MURO OCIDENTAL DE JERUSALÉM Terça-feira, 12 de Maio de 2009

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Deus de todos os tempos,
na minha visita a Jerusalém, "Cidade da Paz",
pátria espiritual comum de judeus, cristãos e muçulmanos,
apresento-vos as alegrias, as esperanças e as aspirações,
as provações, os sofrimentos e a dor
de todo o vosso povo no mundo inteiro.

Deus de Abraão, Isaac e Jacob,
ouvi o clamor dos aflitos, dos amedrontados e dos desesperados;
enviai a vossa paz sobre esta Terra Santa, sobre o Médio Oriente
e sobre toda a família humana;
estimulai os corações de todos aqueles que invocam o vosso nome,
a percorrer humildemente o caminho da justiça e da compaixão.

"O Senhor é bom para aqueles que nele confiam,
para a alma que O procura" (
Lm 3,25)!




VISITA DE CORTESIA AOS DOIS GRÃO-RABINOS DE JERUSALÉM

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Centro Hechal Shlomo - Jerusalém

Terça-feira, 12 de Maio de 2009




Ilustres rabinos
Caros amigos

Estou-vos reconhecido pelo convite que me apresentastes para visitar o Centro Hechal Shlomo e para me encontrar convosco durante esta minha viagem à Terra Santa como Bispo de Roma. Agradeço ao Rabino sefardita Shlomo Amar e ao Rabino ashkenazita Yona Metzger as suas calorosas palavras de boas-vindas e o desejo que manifestaram de continuar a fortalecer os vínculos de amizade que a Igreja católica e o grão-rabinado se comprometeram tão diligentemente a fazer progredir ao longo das últimas décadas. As vossas visitas ao Vaticano, em 2003 e 2005, constituem um sinal da boa vontade que caracteriza as nossas crescentes relações.

Ilustres Rabinos, retribuo esta atitude expressando por minha vez os meus pessoais sentimentos de respeito e de estima por vós e pelas vossas comunidades. Asseguro-vos o meu desejo de aprofundar a compreensão recíproca e a cooperação entre a Santa Sé, o grão-rabinado de Israel e o povo judeu no mundo inteiro.

Um grande motivo de satisfação para mim, desde o início do meu pontificado, foi o fruto produzido pelo diálogo em curso entre a Delegação da Comissão da Santa Sé para as Relações religiosas com os judeus e o grão-rabinado da Delegação de Israel para as Relações com a Igreja católica. Desejo agradecer aos membros de ambas as Delegações a sua dedicação e o trabalho cansativo no aperfeiçoamento desta iniciativa, tão sinceramente desejada pelo meu venerado Predecessor, Papa João Paulo II, como ele quis afirmar no Grande Jubileu do Ano 2000.

O nosso hodierno encontro é uma ocasião muito apropriada para dar graças ao Todo-Poderoso pelas numerosas bênçãos que acompanharam o diálogo empreendido pela Comissão bilateral, e para olhar com esperança para as suas sessões futuras. A boa vontade dos delegados para debater aberta e pacientemente não apenas sobre os pontos de entendimento, mas também acerca dos pontos de desacordo, tem aberto também o caminho para uma colaboração mais eficaz na vida pública. Judeus e cristãos estão igualmente interessados em assegurar o respeito pela sacralidade da vida humana, a centralidade da família, uma válida educação dos jovens, a liberdade de religião e de consciência para uma sociedade sadia. Estes temas de diálogo representam somente a fase inicial daquilo que nós esperamos venha a ser um caminho sólido e progressivo para uma melhor compreensão recíproca. Uma indicação da potencialidade desta série de encontros viu-se imediatamente na nossa preocupação compartilhada diante do relativismo moral e das ofensas que ele gera contra a dignidade da pessoa humana. Ao abordar as questões éticas mais urgentes da nossa época, as nossas duas comunidades encontram-se perante o desafio de comprometer a nível de razão as pessoas de boa vontade, indicando-lhes simultaneamente os fundamentos religiosos que melhor sustêm os valores morais perenes. Possa o diálogo que foi encetado continuar a gerar ideias sobre o modo como é possível que cristãos e judeus trabalhem em conjunto para aumentar o apreço da sociedade pelas contribuições características das nossas tradições religiosas e éticas. Aqui em Israel, dado que constituem somente uma pequena porção da população total, os cristãos apreciam de modo particular as oportunidades de diálogo com os seus vizinhos judeus.

Inegavelmente, a confiança é um elemento essencial para um diálogo eficaz. Hoje, tenho a oportunidade de repetir que a Igreja católica está comprometida de maneira irrevogável no caminho decidido pelo Concílio Vaticano II para uma reconciliação autêntica e duradoura entre cristãos e judeus. Como a Declaração Nostra aetate esclareceu, a Igreja continua a valorizar o património espiritual comum de cristãos e judeus, e aspira a uma compreensão e estima mútuas cada vez mais profundas, tanto mediante os estudos bíblicos e teológicos, como através dos diálogos fraternos. Os sete encontros da Comissão bilateral que já tiveram lugar entre a Santa Sé e o grão-rabinado possam constituir uma prova disto! Estou-vos deveras grato pela vossa garantia compartilhada de que a amizade entre a Igreja católica e o grão-rabinado continuará no futuro a crescer no respeito e na compreensão.

Meus amigos, exprimo mais uma vez o meu profundo apreço pelas boas-vindas que me dirigistes hoje. Estou convicto de que a nossa amizade continuará a apresentar-se como exemplo de confiança no diálogo para os judeus e os cristãos do mundo inteiro. Vendo os resultados até agora alcançados e haurindo a nossa inspiração das Sagradas Escrituras, podemos apostar com confiança numa cooperação cada vez mais persuadida entre as nossas comunidades – juntamente com todas as pessoas de boa vontade – na condenação do ódio e da opressão no mundo inteiro. Rezo a Deus, que perscruta os nossos corações e conhece os nossos pensamentos (cf. Sl
Ps 139,23), para que continue a iluminar-nos com a sua sabedoria, de tal maneira que possamos seguir os seus mandamentos de O amar com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (cf. Dt Dt 6,5) e de amor ao nosso próximo como a nós mesmos (cf. Lv Lv 19,18).

Obrigado!



BREVE VISITA À CO-CATEDRAL LATINA DE JERUSALÉM SAUDAÇÃO Terça-feira, 12 de Maio de 2009

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Beatitude

Agradeço-lhe as suas palavras de boas-vindas. Estou grato também ao Patriarca Emérito e garanto a ambos os meus bons votos fraternos e as minhas orações.

Caros Irmãos e Irmãs em Cristo, estou feliz por estar hoje aqui convosco nesta co-Catedral, onde a comunidade cristã de Jerusalém continua a congregar-se como tem feito há séculos, desde os primeiros dias da Igreja. Aqui, nesta cidade, Pedro foi o primeiro que anunciou a Boa Nova de Jesus Cristo no dia de Pentecostes, quando cerca de três mil almas se uniram ao número dos discípulos. Também aqui os primeiros cristãos "eram assíduos no ensinamento dos Apóstolos e na comunhão, na fracção do pão e nas orações" (
Ac 2,42). De Jerusalém, o Evangelho difundiu-se "por toda a terra... até aos confins do mundo" (Ps 19,4), e em todas as épocas o esforço dos missionários do Evangelho foi sustentado pelas orações dos fiéis, congregados ao redor do altar do Senhor para invocar o vigor do Espírito Santo sobre a obra da pregação.

Acima de tudo, foram as orações daqueles cuja vocação, segundo as palavras de Santa Teresa de Lisieux, consiste em ser "o profundo amor no coração da Igreja" (Carta à Irmã Maria do Sagrado Coração), que sustém a obra da evangelização. Desejo expressar uma particular palavra de apreço pelo apostolado escondido nas pessoas de vida contemplativa, que estão aqui presentes, e agradecer-vos a vossa generosa dedicação a uma vida de oração e de abnegação. Estou particularmente grato pelas preces que recitais pelo meu ministério universal e peço-vos que continueis a recomendar ao Senhor o meu serviço ao Povo de Deus no mundo inteiro. Com as palavras do Salmista, também eu vos peço que "oreis pela paz de Jerusalém" (Ps 122,6), que rezeis continuamente pelo fim do conflito que trouxe tantos sofrimentos às populações desta região.

E agora concedo-vos a minha Bênção.



CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS AOS TERRITÓRIOS PALESTINIANOS

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Praça do Palácio Presidencial - Belém

Quarta-feira, 13 de Maio de 2009


Senhor Presidente
Queridos amigos

Saúdo todos vós do profundo do coração, e agradeço calorosamente ao Presidente, Sr. Mahmoud Abbas, as suas palavras de boas-vindas. A minha peregrinação às terras da Bíblia não seria completa sem uma visita a Belém, a Cidade de David e o lugar do nascimento de Jesus Cristo. Eu também não poderia ter vindo à Terra Santa, sem aceitar o amável convite do Presidente Abbas a visitar estes Territórios e para saudar o povo da Palestina. Sei quanto já sofrestes e continuais a sofrer por causa das agitações que têm afligido esta terra há dezenas de anos. O meu coração volta-se para todas as famílias que permaneceram desabrigadas. Esta tarde farei uma visita ao Aida Refugee Camp, para manifestar a minha solidariedade ao povo que perdeu tanto. Àqueles dentre vós que choram a perda de familiares e dos seus entes queridos nas hostilidades, de modo particular no recente conflito de Gaza, ofereço a certeza da minha profunda compaixão e da frequente lembrança na oração. Com efeito, recordo-me de todos vós nas minhas orações quotidianas, e imploro ardentemente o Altíssimo pela paz, uma paz justa e duradoura, nos Territórios Palestinianos e em toda a região.

Senhor Presidente, a Santa Sé apoia o direito do seu povo a uma Palestina soberana na terra dos vossos antepassados, segura e em paz com os seus vizinhos, dentro de confins internacionalmente reconhecidos. Embora no presente esta finalidade pareça longe de ter sido alcançada, encorajo Vossa Excelência e todo o seu povo a conservar acesa a chama da esperança, esperança de que se possa encontrar um caminho de compromisso entre as aspirações legítimas, tanto dos israelitas como dos palestinianos, à paz e à estabilidade. Segundo as palavras do precedente Papa João Paulo II, não pode haver "paz sem justiça, nem justiça sem perdão" (Mensagem para o dia mundial da paz, 2002). Suplico a todas as partes envolvidas neste conflito duradouro, a deixar de lado quaisquer rancores e divisões que ainda impeçam o caminho da reconciliação, e a alcançar igualmente todos com generosidade e compaixão, sem discriminação. Uma coexistência justa e pacífica entre os povos do Médio Oriente só pode ser realizada com um espírito de cooperação e respeito mútuo, em que os direitos e a dignidade de todos sejam reconhecidos e respeitados. Peço ato dos vós, peço aos vossos líderes, que renovem o compromisso de trabalhar para estas finalidades. Em particular, peço à comunidade internacional que use a sua influência a favor de uma solução. Acredito e confio que através de um diálogo honesto e perseverante, no pleno respeito pelas expectativas de justiça, nestas terras se possa alcançar uma paz duradoura.

Espero ardentemente que os graves problemas relativos à segurança em Israel e nos Territórios Palestinianos sejam depressa aliviados suficientemente, de maneira a permitir uma maior liberdade de movimento, especialmente a propósito dos contactos entre as famílias e do acesso aos lugares santos. Os palestinianos, assim como todas as outras pessoas, têm o direito natural a casar, a formar uma família e a ter acesso ao trabalho, à educação e à assistência médica. Rezo também para que, com a ajuda da comunidade internacional, o trabalho de reconstrução possa continuar rapidamente onde quer que casas, escolas ou hospitais tenham sido danificados ou destruídos, especialmente durante o recente conflito em Gaza. Isto é essencial a fim de que o povo desta terra possa viver em condições que favoreçam a paz duradoura e o bem-estar. Uma infra-estrutura estável oferecerá aos vossos jovens melhores oportunidades para adquirir especializações válidas e para obter empregos remunerados, tornando-os capazes de desempenhar o seu papel na promoção da vida das vossas comunidades. Dirijo este apelo aos numerosos jovens que hoje vivem nos Territórios Palestinianos: não permitais que as perdas de vidas e as destruições das quais fostes testemunhas suscitem amarguras ou ressentimentos nos vossos corações. Tende a coragem de resistir a toda a tentação que podeis sentir de recorrer a actos de violência ou de terrorismo. Pelo contrário, fazei com que a vossa experiência renove a vossa determinação de construir a paz. Fazei com que isto vos encha de um profundo desejo de oferecer uma contribuição duradoura para o futuro da Palestina, de tal forma que ela possa ocupar o lugar que lhe compete no cenário do mundo. Que isto inspire em vós sentimentos de compaixão por todos aqueles que sofrem, compromisso em prol da reconciliação e uma confiança firme na possibilidade de um futuro mais luminoso.

Senhor Presidente, queridos amigos reunidos aqui em Belém, invoco sobre todo o povo da Palestina as bênçãos e a protecção do nosso Pai celestial, e elevo a fervorosa oração de que se realize o canto dos anjos ressoado neste lugar: "paz na terra aos homens de boa vontade". Obrigado! E Deus esteja convosco.



VISITA AO CARITAS BABY HOSPITAL

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PALAVRAS Belém
Quarta-feira, 13 de Maio de 2009


Queridos amigos

Saúdo-vos carinhosamente em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, "que morreu, ressuscitou dentre os mortos, e agora está sentado à direita de Deus e intercede por nós" (cf.
Rm 8,34). Possa a vossa fé na sua Ressurreição e na sua promessa de nova vida, mediante o Baptismo, encher os vossos corações de alegria neste tempo pascal!

Estou grato pelas calorosas boas-vindas que me foram dirigidas em nome de todos vós pelo Pe. Michael Scheiger, Presidente da Kinderhilfe Association, pelo Sr. Ernesto Langensand, que está a completar o seu mandato de Administrador-Chefe do Caritas Baby Hospital, e pela Madre Erika Nobs, Superiora desta comunidade local das Irmãs Elisabetinas Franciscanas de Pádua. Saúdo também cordialmente o Arcebispo D. Robert Zollisch e o Bispo D. Kurt Koch, que representam respectivamente as Conferências Episcopais alemã e suíça, e que fizeram progredir a missão do Caritas Baby Hospital mediante o seu generoso apoio financeiro.

Deus abençoou-me com esta oportunidade de expressar aos administradores, médicos, enfermeiros e funcionários do Caritas Baby Hospital o meu apreço pelo serviço inestimável que eles ofereceram – e continuam a oferecer – às crianças da região de Belém e de toda a Palestina há mais de cinquenta anos. O Pe. Ernst Schnydrig fundou esta estrutura na convicção de que as crianças inocentes merecem um lugar seguro contra tudo aquilo que lhes possa fazer algum mal nos tempos e lugares de conflito. Graças à dedicação do Children's Relief Bethlehem, esta instituição permaneceu um oásis silencioso para os mais vulneráveis e resplandeceu como um farol de esperança relativa à possibilidade que o amor tem de prevalecer sobre o ódio, e a paz sobre a violência.

Aos jovens pacientes e aos membros das suas famílias que recebem o benefício da vossa assistência, desejo simplesmente dizer: "O Papa está convosco!". Hoje ele está pessoalmente convosco, mas todos os dias acompanha espiritualmente cada um de vós nos seus pensamentos e nas suas orações, pedindo ao Altíssimo que vele sobre vós com a sua terna atenção.

O Pe. Schnydrig descreveu este lugar como "uma das menores pontes construídas para a paz". Agora, tendo aumentado de 14 macas para oitenta leitos e preocupando-se com as necessidades de milhares de crianças todos os anos, esta não é mais uma pequena ponte! Ela acolhe conjuntamente pessoas de diferentes origens, línguas e religiões, em nome do Reino de Deus, o Reino da Paz (cf. Rm 14,17). Encorajo-vos de coração a perseverar na vossa missão de manifestar amor por todos os doentes, os pobres e os débeis.

Nesta Festa de Nossa Senhora de Fátima, gostaria de concluir invocando a intercessão de Maria, enquanto concedo a Bênção Apostólica às crianças e a todos vós. Oremos:

Maria, Saúde dos Enfermos, Refúgio dos Pecadores, Mãe do Redentor: nós unimo-nos às numerosas gerações que te chamaram "Bem-Aventurada". Escuta os teus filhos, enquanto invocamos o teu nome. Tu prometeste às três crianças de Fátima: "No final, o meu Coração Imaculado triunfará!". Que assim seja! Que o amor triunfe sobre o ódio, a solidariedade sobre a divisão e a paz sobre todas as formas de violência! Possa o amor que ofereceste ao teu Filho ensinar-nos a amar a Deus com todo o nosso coração, com todas as forças e com toda a alma. Que o Altíssimo nos manifeste a sua misericórdia, nos fortaleça com o seu poder e nos cumule de todo o bem (cf. Lc 1,46-56). Nós pedimos ao teu Filho Jesus que abençoe estas crianças e todas as crianças que sofrem no mundo inteiro. Possam elas receber a saúde do corpo, a força da mente e a paz da alma. Mas principalmente, que saibam que são amadas com um amor que não conhece confins nem limites: o amor de Cristo, que ultrapassa toda a compreensão (cf. Ef Ep 3,19).

Amém!



VISITA AO CAMPO DE REFUGIADOS DE AIDA

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Belém

Quarta-feira, 13 de Maio de 2009


Senhor Presidente
Estimados amigos

A minha visita ao campo de refugiados de Aida nesta tarde oferece-me a agradável oportunidade de manifestar a minha solidariedade a todos os Palestinianos desabrigados, que desejam poder voltar à sua terra natal ou viver permanentemente na sua própria pátria. Obrigado, Senhor Presidente, pela sua amável saudação. E obrigado também a Vossa Excelência, Senhora Abu Zayd, bem como aos outros porta-vozes. A todos os oficiais da United Nations Relief and Works Agency, que se ocupam dos refugiados, transmito o apreço sentido por numerosos homens e mulheres do mundo inteiro pela obra realizada aqui e noutros campos nesta região.

Dirijo uma saudação especial às crianças e aos professores da escola. Através do vosso compromisso na educação, manifestais a vossa esperança no futuro, a todos os jovens aqui presentes, digo: renovai os vossos esforços a fim de vos preparardes para o tempo em que sereis responsáveis dos assuntos do povo palestiniano nos anos vindouros. Aqui, os pais desempenham um papel muito importante. A todas as famílias presentes neste campo, digo: não deixeis de sustentar os vossos filhos nos seus estudos e de cultivar os seus dons, de tal forma que não haja escassez de pessoal bem formado para ocupar, no futuro, posições de responsabilidade na comunidade palestiniana. Bem sei que muitas das vossas famílias estão divididas – por causa do aprisionamento de alguns membros da família ou por causa das restrições à liberdade de movimento – e que muitos entre vós sofrestes perdas durante as hostilidades. O meu coração une-se ao daqueles que, por este motivo, sofrem. Estai persuadidos de que todos os refugiados palestinianos no mundo, de maneira especial aqueles que perderam a própria casa e entes queridos durante o recente conflito em Gaza, são constantemente recordados nas minhas orações.

Desejo reconhecer o bom trabalho levado a cabo por muitas agências da Igreja, em vista de cuidar dos refugiados aqui e noutras partes dos Territórios Palestinianos. A Pontifícia Missão para a Palestina, fundada há cerca de sessenta anos para coordenar a assistência humanitária católica aos refugiados, continuar a sua obra extremamente necessária ao lado de outras organizações. Neste campo, a presença das Irmãs Missionárias Franciscanas do Coração Imaculado de Maria traz à mente a figura carismática de São Francisco, grande apóstolo de paz e de reconciliação. A este propósito, desejo manifestar o meu particular apreço pela enorme contribuição oferecida pelos diversos membros da Família franciscana no cuidado dos habitantes destas terras, fazendo-se eles mesmos "instrumentos de paz", em conformidade com a célebre expressão atribuída a São Francisco.

Instrumentos de paz. Como as pessoas deste campo, destes Territórios e de toda a região aspiram à paz! Nestes dias, este desejo assume uma intensidade particular, enquanto recordais os acontecimentos de Maio de 1948 e os anos de conflito ainda hoje não resolvido, que se seguiram àqueles acontecimentos. Agora vós estais a viver em condições precárias e difíceis, com limitadas oportunidades de emprego. É compreensível que vos sintais muitas vezes frustrados. As vossas aspirações legítimas a uma pátria permanente, a um Estado palestiniano independente ainda não se realizaram. E vós, ao contrário, sentis-vos presos numa armadilha, como muitas pessoas nesta região e no mundo, numa espiral de violência, de ataques e de contra-ataques, de vinganças e de destruições contínuas. O mundo inteiro deseja fortemente que seja interrompida esta espiral, e faz votos a fim de que a paz ponha termo às hostilidades perenes. O que vos compete, enquanto estamos aqui reunidos nesta tarde, é a dura consciência do ponto morto ao qual parecem ter chegado os contactos entre israelitas e palestinianos o muro.

Num mundo em que as fronteiras são cada vez mais abertas ao comércio, às viagens, à mobilidade das pessoas e aos intercâmbios culturais é trágico ver que ainda hoje são erigidos muros. Como aspiramos a ver os frutos da tarefa muito mais difícil de edificar a paz! Como nós oramos ardentemente, a fim de que terminem as hostilidades que causaram a erecção deste muro!

De ambas as partes do muro é necessária uma grande coragem para superar o medo e a desconfiança, se quisermos contrastar o desejo de vingança por perdas ou ferimentos. É necessária a magnanimidade para buscar a reconciliação, depois de anos de conflitos armados. E todavia, a história ensina-nos que a paz só chega quando as partes em conflito estão dispostas a ir além das recriminações e a trabalhar em conjunto, visando finalidades comuns, levando a sério os interesses e as preocupações dos outros e procurando decididamente construir uma atmosfera de confiança. Deve haver uma determinação a empreender iniciativas fortes e criativas para a reconciliação: se cada um insistir sobre concessões preliminares da parte do outro, o resultado será somente a parálise das negociações.

A ajuda humanitária, como a ajuda que é oferecida neste campo, tem um papel essencial a desempenhar, mas a solução a longo prazo para um conflito como este não pode ser senão política. Ninguém espera que os povos palestiniano e israelita alcancem tal resultado sozinhos. O apoio da comunidade internacional é vital. Por este motivo, renovo o meu apelo a todas as partes interessadas, a fim de que exerçam a sua influência a favor de uma solução justa e duradoura, no respeito pelas exigências legítimas de todas as partes e reconhecendo o seu direito a viver em paz e com dignidade, em conformidade com o direito internacional. Ao mesmo tempo, porém, os esforços diplomáticos só poderão alcançar bom êxito se os próprios palestinianos e israelitas estiverem dispostos a interromper o ciclo das agressões. Vêem-me à mente estas maravilhosas palavras, atribuídas a São Francisco: "Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, o perdão... onde houver trevas, que eu leve a luz; onde houver tristeza, a alegria".

A cada um de vós renovo o convite a um profundo compromisso em cultivar a paz e a não-violência, seguindo o exemplo de São Francisco e de outros grandes construtores de paz. A paz deve ter início no próprio ambiente, na própria família e no próprio coração. Continuo a rezar para que todas as partes em conflito nesta terra tenham a coragem e a imaginação para percorrer o caminho exigente mas indispensável da reconciliação. Possa a paz florescer mais uma vez nestas terras! Deus abençoe o seu povo com a paz!


CERIMÓNIA DE DESPEDIDA Pátio do Palácio Presidencial - Belém Quarta-feira 13 de Maio de 2009

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Senhor Presidente
Prezados amigos

Agradeço-vos a grande amabilidade que me manifestastes neste dia que transcorri em vossa companhia, aqui nos Territórios Palestinianos. Estou grato ao Presidente, Sr. Mahmoud Abbas, pela sua hospitalidade e pelas suas gentis palavras. Foi uma profunda emoção para mim, ouvir também os testemunhos dos residentes que me falaram das condições de vida aqui na Área Ocidental e em Gaza. Asseguro a todos vós que vos levo no meu coração e almejo ver a paz e a reconciliação nestas terras atormentadas.

Foi verdadeiramente um dos dias mais memoráveis, desde que cheguei a Belém esta manhã, e tive a alegria de celebrar a Missa na presença de uma grande multidão de fiéis no lugar onde nasceu Jesus Cristo, luz das nações e esperança do mundo. Vi a atenção reservada às crianças de hoje no Caritas Baby Hospital. Com angústia, tomei conhecimento da situação dos refugiados que, como a Sagrada Família, tiveram que abandonar as suas casas. E vi, circundando o campo e ocultando uma boa parte de Belém, o muro que se introduz nos vossos Territórios, separando os vizinhos e dividindo as famílias.

Embora os muros se possam construir com facilidade, todos nós sabemos que eles não duram para sempre. Eles podem ser derrubados. Porém, em primeiro lugar, é necessário remover os muros que nós edificamos ao redor dos nossos corações, as barreiras que elevamos contra o nosso próximo. Eis por que motivo, nas minhas palavras conclusivas, quero dirigir um renovado apelo à abertura e à generosidade de espírito, para que se ponha fim à intolerância e à exclusão. Não importa quão intratável e profundamente arraigado possa parecer um conflito, pois existem sempre razões para esperar que ele possa ser resolvido, que os esforços pacientes e perseverantes daqueles que trabalham pela paz e a reconciliação, no final produzam frutos. Os votos mais sinceros que vos transmito, povo da Palestina, é para que isto aconteça depressa, e que vós finalmente possais gozar da paz, da liberdade e da estabilidade que vos faltaram por tanto tempo.

Asseguro-vos que aproveitarei todas as oportunidades para exortar aqueles que estão comprometidos nas negociações de paz, a trabalhar por uma solução justa que respeite as legítimas aspirações de ambos, israelitas e palestinianos. Como passo importante nesta direcção, a Santa Sé deseja estabelecer em breve, de acordo com a Autoridade Palestina, a Comissão bilateral de trabalho permanente, que foi delineada no Acordo de base, assinado no Vaticano no dia 15 de Fevereiro de 2000 (cf. Acordo de base entre a Santa Sé e a Organização de Libertação da Palestina, art. 9).

Senhor Presidente, queridos amigos, mais uma vez manifesto-vos a minha gratidão e confio todos vós à salvaguarda do Todo-Poderoso. Que Deus dirija o seu olhar de amor para cada um de vós, sobre as vossas famílias e sobre todos aqueles que vos são queridos. Que Ele abençoe o povo da Palestina com a paz!




SAUDAÇÃO AOS CHEFES RELIGIOSOS DA GALILEIA

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Auditório do Santuário da Anunciação - Nazaré

Quinta-feira 14 de Maio de 2009

Encontro com os chefes religiosos da Galileia




Caros amigos

Grato pelas palavras de boas-vindas do Bispo D. Giacinto-Boulos Marcuzzo e pela vossa calorosa hospitalidade, saúdo cordialmente os chefes das diversas comunidades religiosas, que incluem cristãos, muçulmanos, judeus, drusos e outros povos religiosos.

Sinto como uma bênção particular o facto de poder visitar esta cidade venerada pelos cristãos como o lugar onde o Anjo anunciou à Virgem Maria que teria concebido por obra do Espírito Santo. Aqui também José, seu noivo, viu em sonho um Anjo e foi-lhe indicado que ao Menino desse o nome de "Jesus". Depois destes maravilhosos acontecimentos que acompanharam o seu nascimento, o Menino foi trazido por José e Maria a esta cidade, onde Ele "crescia e se fortalecia em sabedoria, e a graça de Deus estava sobre Ele" (
Lc 2,40).

A convicção de que o mundo é um dom de Deus, e que Deus entrou nos meandros e nos desvios da história humana, é a perspectiva a partir da qual os cristãos vêem que a criação tem um motivo e uma finalidade. Longe de ser o resultado de um acontecimento cego, o mundo foi desejado por Deus e revela o seu esplendor glorioso.

No cerne de cada tradição religiosa existe a convicção de que a própria paz é um dom de Deus, embora não se possa alcançá-la sem o esforço humano. Uma paz duradoura provém do reconhecimento que o mundo, em última análise, não é nossa propriedade, mas sim o horizonte dentro do qual nós somos convidados a participar no amor de Deus e a cooperar para orientar o mundo e a história sob a sua inspiração. Não podemos fazer com o mundo inteiro o que nos apetece; pelo contrário, somos chamados a conformar as nossas opções às leis complexas e todavia perceptíveis, inscritas pelo Criador no universo, e a modelar as nossas acções segundo a bondade divina que permeia o reino da criação.

A Galileia, uma terra conhecida pela sua heterogeneidade étnica e religiosa, é a pátria de um povo que conhece bem os esforços exigidos para viver em coexistência harmoniosa. As nossas diversas tradições religiosas têm em si notáveis potencialidades para promoção de uma cultura da paz, especialmente através do ensinamento e da pregação dos valores espirituais mais profundos da nossa humanidade comum. Plasmando os corações dos jovens, nós modelamos o futuro da própria humanidade. Os cristãos unem-se de bom grado aos judeus, muçulmanos, drusos e povos de outras religiões no desejo de salvaguardar as crianças contra o fanatismo e a violência, enquanto os preparam para se tornar construtores de um mundo melhor.

Meus dilectos amigos, sei que vós recebeis jubilosamente e com a saudação da paz os numerosos peregrinos que chegam à Galileia. Animo-vos a continuar a exercer o respeito recíproco, enquanto vos esforçais por aliviar as tensões concernentes aos lugares de culto, garantindo assim um ambiente tranquilo para a oração e a meditação, aqui e em toda a Galileia. Representando diversas tradições religiosas, compartilhais o desejo comum de contribuir para o melhoramento da sociedade e de testemunhar deste modo os valores religiosos e espirituais que ajudam a corroborar a vida pública. Asseguro-vos que a Igreja católica está comprometida em participar neste empreendimento tão nobre. Cooperando com homens e mulheres de boa vontade, ela procurará garantir que a luz da verdade, da paz e da bondade continue a resplandecer da Galileia e a guiar as pessoas no mundo inteiro a buscar tudo quanto promover a unidade da família humana.

Deus abençoe todos vós!



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