Discursos Bento XVI 15509

ENCONTRO ECUMÉNICO

15509
Sala do Trono da Sede do Patriarcado Greco-Ortodoxo - Jerusalém

Sexta-feira 15 de Maio de 2009




Caros irmãos e irmãs em Cristo

É com profunda gratidão e alegria que realizo esta visita ao Patriarcado greco-ortodoxo de Jerusalém; um momento que esperei muito. Agradeço a Sua Beatitude o Patriarca Teófilo III as suas gentis palavras de saudação fraterna, que retribuo calorosamente. Manifesto a todos vós a minha cordial gratidão por me terdes oferecido esta oportunidade de me encontrar mais uma vez com os numerosos chefes de Igrejas e comunidades eclesiais presentes.

Hoje de manhã, recordo os encontros históricos que tiveram lugar aqui, em Jerusalém, entre o meu predecessor, Papa Paulo VI, e o Patriarca Ecuménico Atenágoras I, assim como o encontro entre o Papa João Paulo II e Sua Beatitude o Patriarca Diodoros. Estes encontros, nos quais incluo a minha visita hodierna, têm um grande significado simbólico. Eles recordam que a luz do Oriente (cf.
Is 60,1 Ap 21,10) iluminou o mundo inteiro desde o momento exacto em que um "sol nascente" veio visitar-nos (Lc 1,78) e recordam-nos também que daqui o Evangelho foi anunciado a todas as nações.

Permanecendo neste lugar santo, ao lado da Igreja do Santo Sepulcro, que indica o lugar onde nosso Senhor crucificado ressuscitou dos mortos por toda a humanidade, e perto do Cenáculo, onde no dia de Pentecostes "estavam todos reunidos no mesmo lugar" (Ac 2,1), quem poderia deixar de se sentir impelido a colocar a plenitude da boa vontade, da sã doutrina e do desejo espiritual nos nossos esforços ecuménicos? Elevo a minha oração a fim de que o nosso encontro hodierno possa imprimir um novo impulso aos trabalhos da Comissão Conjunta Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas, acrescentando-se aos recentes frutos de documentos de estudo e de outras iniciativas comuns.

Motivo de particular alegria para as nossas Igrejas foi a participação do Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Sua Santidade Bartolomeu I, no último Sínodo dos Bispos em Roma, subordinado ao tema: "A palavra de Deus na vida e na missão da Igreja". O caloroso acolhimento que ele recebeu e a sua emocionante intervenção foram expressões sinceras da profunda alegria espiritual que brota da amplidão com que a comunhão já está presente entre as nossas Igrejas. Uma experiência ecuménica semelhante testemunha claramente o vínculo entre a unidade da Igreja e a sua missão. Ao estender os braços na cruz, Jesus revelou a plenitude do seu desejo de atrair todas as pessoas a si, congregando-os todos na unidade (cf. Jn 12,32). Soprando o seu Espírito sobre nós, revelou o seu poder de nos tornar capazes de participar na sua missão de reconciliação (cf. Jn 19,30 Jn 20,22-23). É nesse sopro, mediante a redenção unificadora, que se encontra a nossa missão! Por isso, não causa admiração o facto de que é precisamente na presença do nosso ardente desejo de levar Cristo aos outros, de tornar conhecida a sua mensagem de reconciliação (cf. 2Co 5,19), que nós experimentamos a vergonha da nossa divisão. Todavia, enviados ao mundo (cf. Jn 20,21), confirmados pela força unificadora do Espírito Santo (cf. ibid., v. 22), chamados a anunciar a reconciliação que atrai todos os homens a acreditar que Jesus é o Filho de Deus (cf. ibid., v. 31), nós temos que encontrar a força para duplicar o nosso compromisso a fim de aperfeiçoar a nossa comunhão, para a tornar completa, e dar um testemunho conjunto do amor do Pai, que envia o Filho a fim de que mundo conheça o seu amor por nós (cf. Jn 17,23).

Há cerca de dois mil anos, ao longo destas estradas, um grupo de gregos perguntou a Filipe: "Senhor, queremos ver Jesus" (Jn 12,21). Trata-se de um pedido que nos é dirigido novamente hoje, aqui em Jerusalém, na Terra Santa, nesta região e em todo o mundo. Como devemos responder? A nossa resposta é ouvida? São Paulo alerta-nos acerca da gravidade da nossa resposta, sobre a nossa missão de ensinar e pregar. Ele diz: "A fé vem da escuta, e a escuta refere-se à palavra de Cristo" (Rm 10,17). Por isso, é imperativo que os chefes cristãos e as suas comunidades dêem um testemunho vigoroso de quanto a nossa fé proclama: a Palavra eterna, que entrou no espaço e no tempo nesta terra, Jesus de Nazaré, que caminhou por estas ruas chama, mediante as suas palavras e os seus gestos, pessoas de todas as idades para a sua vida de verdade e de amor.

Caros amigos, enquanto vos animo a proclamar com alegria o Senhor ressuscitado, desejo reconhecer a obra levada a cabo com esta finalidade por parte dos chefes das comunidades cristãs, que se encontram regularmente nesta cidade. Parece-me que o maior serviço que os cristãos de Jerusalém podem oferecer aos seus próprios concidadãos consiste na orientação e na educação de uma nova geração de cristãos bem formados e comprometidos, solícitos no desejo de contribuir generosamente para a vida religiosa e civil desta cidade única e santa. A prioridade fundamental de cada líder cristão é nutrir a fé dos indivíduos e das famílias confiados aos seus cuidados pastorais. Esta solicitude pastoral conjunta fará com que os vossos encontros regulares sejam caracterizados pela sabedoria e pela caridade fraterna, necessárias para vos apoiar uns aos outros e para enfrentar tanto as alegrias como as dificuldades particulares que distinguem a vida da vossa população. Rezo para que se compreenda que as aspirações dos cristãos de Jerusalém estão em sintonia com as aspirações de todos os seus habitantes, independentemente da sua religião de pertença: uma vida caracterizada pela liberdade religiosa e pela coexistência pacífica – e de modo particular para as novas gerações – o livre acesso à educação e ao trabalho, a perspectiva de uma hospitalidade adequada e da residência familiar, bem como a possibilidade de receber os benefícios de uma situação de estabilidade económica e de contribuir para a mesma.

Beatitude, agradeço-lhe mais uma vez a amabilidade com que me convidou aqui, juntamente com outros convidados. Sobre cada um de vós e sobre as comunidades por vós representadas, invoco a abundância das bênçãos divinas da fortaleza e da sabedoria! Possa cada um de vós ser revigorado pela esperança de Cristo, que não decepciona!




VISITA AO SANTO SEPULCRO

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PALAVRAS Jerusalém
Sexta-feira 15 de Maio de 2009




Caros amigos em Cristo

O hino de louvor que há pouco pudemos entoar une-nos às plêiades angélicas e à Igreja de todos os tempos e lugares "o glorioso coro dos Apóstolos, a nobre companhia dos Profetas e a cândida plêiade dos Mártires" enquanto damos glória a Deus pela obra da nossa redenção, cumprida na paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Diante deste Santo Sepulcro, onde o Senhor "venceu o acúleo da morte e abriu o reino dos céus a todos os fiéis", saúdo-vos a todos na alegria do tempo pascal. Agradeço ao Patriarca Fouad Twal e ao Guardião, Padre Pierbattista Pizzaballa, as amáveis palavras de boas-vindas. Desejo manifestar, da mesma maneira, o meu apreço pela hospitalidade que me foi reservada pelos Hierarcas da Igreja ortodoxa grega e da Igreja arménia apostólica. Vejo com prazer a presença de representantes das outras comunidades cristãs na Terra Santa. Saúdo o Cardeal John Patrick Foley, Grão-Mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. Saúdo também os Cavaleiros e as Damas da Ordem aqui presentes, manifestando-lhes gratidão pela sua dedicação inesgotável ao serviço da missão da Igreja nestas terras, que se tornaram santas pela presença terrena do Senhor.

O Evangelho de João transmitiu-nos uma narração sugestiva da visita de Pedro e do Discípulo muito amado ao túmulo vazio na manhã de Páscoa. Hoje, à distância de cerca de vinte séculos, o Sucessor de Pedro, Bispo de Roma, encontra-se diante daquele mesmo túmulo vazio e contempla o mistério da Ressurreição. Seguindo os passos do Apóstolo, desejo proclamar mais uma vez, perante os homens e as mulheres desta nossa época, a fé sólida da Igreja, que Jesus Cristo "foi crucificado, morreu e foi sepultado", e que "no terceiro dia ressuscitou dos mortos". Elevado à direita do Pai, Ele enviou-nos o seu Espírito para o perdão dos pecados. Fora dele, que Deus constituiu como Senhor e Cristo, "não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos" (
Ac 4,12).

Encontrando-nos neste lugar santo e reflectindo sobre aquele acontecimento maravilhoso, como poderíamos deixar de sentir "arder o nosso coração" (cf. Ac 2,37), à maneira daqueles que foram os primeiros a ouvir a pregação de Pedro no dia de Pentecostes? Aqui Cristo morreu e ressuscitou, para nunca mais voltar a morrer. Aqui a humanidade foi transformada definitivamente. O longo domínio do pecado e da morte foi destruído pelo triunfo da obediência e da vida; o madeiro da cruz revela a verdade a respeito do bem e do mal; o juízo de Deus foi pronunciado sobre este mundo e a graça do Espírito Santo foi derramada sobre a humanidade inteira. Aqui Cristo, o novo Adão, ensinou-nos que o mal nunca tem a última palavra, que o amor é mais forte que a morte, que o nosso futuro e o da humanidade está nas mãos de um Deus próvido e fiel.

O túmulo vazio fala-nos de esperança, a mesma que não nos engana, porque é dom do Espírito da vida (cf. Rm 5,5). Esta é a mensagem que hoje desejo transmitir-vos, na conclusão da minha peregrinação na Terra Santa. Possa a esperança elevar-se sempre de novo, pela graça de Deus, no coração de cada pessoa que vive nestas terras! Possa arraigar-se nos vossos corações, permanecer nas vossas famílias e comunidades, e inspirar em cada um de vós um testemunho cada vez mais fiel do Príncipe da Paz. A Igreja presente na Terra Santa, que muitas vezes tem experimentado o obscuro mistério do Gólgota, nunca deve cesar de ser um arauto intrépido da luminosa mensagem de esperança que este túmulo vazio proclama. O Evangelho diz-nos que Deus pode renovar todas as realidades, que a história não se repete necessariamente, que as memórias podem ser purificadas, que os frutos amargos da recriminação e da hostilidade podem ser superados e que um futuro de justiça, de paz, de prosperidade e de colaboração pode nascer para cada homem e mulher, para toda a família humana e, de maneira especial, para o povo que vive nesta terra, tão querida ao Coração do Salvador.

Esta antiga igreja do Anastasis traz um seu testemunho silencioso, quer do peso do nosso passado com todas as suas faltas, incompreensões e conflitos, quer da promessa gloriosa que continua a irradiar do túmulo vazio de Cristo. Este lugar santo, onde o poder de Deus se revelou na debilidade, e os sofrimentos humanos foram transfigurados pela glória divina, convida-nos a olhar mais uma vez com os olhos da fé o rosto do Senhor crucificado e ressuscitado. Ao contemplar a sua carne glorificada, completamente transfigurada pelo Espírito, conseguimos compreender mais plenamente que também agora, mediante o Baptismo, trazemos "sempre e em toda a parte no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste na nossa carne mortal" (2Co 4,10-11). Também agora a graça da Ressurreição está em acção em nós! Possa a contemplação deste mistério estimular os nossos esforços, quer como indivíduos quer como membros da comunidade eclesial, a crescer na vida do Espírito mediante a conversão, a penitência e a oração. Possa, além disso, ajudar-nos a superar com o poder deste mesmo Espírito, todo o conflito e toda a tensão nascidos da carne e remover todos os obstáculos, tanto dentro como fora, que se interpõem ao nosso testemunho conjunto de Cristo e ao poder do seu amor que reconcilia.

Queridos amigos, é com estas palavras de encorajamento que encerro a minha peregrinação aos lugares santos da nossa redenção e do nosso renascimento em Jesus Cristo. Rezo para que a Igreja que está na Terra Santa receba cada vez mais força da contemplação do túmulo vazio do Redentor. Neste túmulo ela é chamada a sepultar todos os seus anseios e temores, para voltar a ressurgir todos os dias e dar continuidade à sua viagem pelas ruas de Jerusalém, da Galileia e mais além, proclamando o triunfo do perdão de Cristo e a promessa de uma vida nova. Como cristãos, sabemos que a paz à qual esta terra dilacerada por conflitos aspira, tem um nome: Jesus Cristo. "Ele é a nossa paz!", que nos reconciliou com Deus num único corpo mediante a Cruz, pondo fim à inimizade (cf. Ef Ep 2,14). Por conseguinte, nas suas mãos confiemos toda a nossa esperança para o futuro, precisamente como na hora das trevas Ele mesmo confiou o seu espírito nas mãos do Pai.

Permiti-me concluir com uma especial palavra de encorajamento aos meus Irmãos Bispos e sacerdotes, assim como aos religiosos e às religiosas que servem a amada Igreja na Terra Santa. Aqui, diante do túmulo vazio e do próprio coração da Igreja, exorto-vos a renovar o entusiasmo da vossa consagração a Cristo e o vosso compromisso no serviço amoroso ao seu Corpo místico. Imenso é o vosso privilégio de dar testemunho de Cristo nesta terra, que Ele santificou através da sua presença terrena e do seu ministério. Com caridade pastoral, tornai os vossos irmãos e irmãs e todos os habitantes desta terra, capazes de sentir a presença do Ressuscitado que purifica e o seu amor que reconcilia. Jesus pede a cada um de nós que sejamos testemunhas de unidade e de paz para todos aqueles que vivem nesta Cidade da Paz. Como novo Adão, Cristo é o manancial da unidade à qual toda a família humana é chamada, esta mesma unidade da qual a Igreja é sinal e sacramento. Como Cordeiro de Deus, ele é a fonte da reconciliação, que ao mesmo tempo é uma dádiva de Deus e um dever sagrado que a nós foi confiado. Como Príncipe da Paz, Ele é a nascente daquela paz que supera toda a compreensão, a paz da nova Jerusalém. Possa Ele sustentar-vos nas vossas provações, confortar-vos nas vossas aflições e confirmar-vos nos vossos esforços em vista de anunciar e de propagar o seu Reino. A todos vós e a quantos são destinatários dos vossos cuidados pastorais, concedo cordialmente a minha Bênção apostólica, como penhor da alegria e da paz da Páscoa.


VISITA À IGREJA PATRIARCAL APOSTÓLICA ARMÉNIA DE SÃO TIAGO

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Jerusalém

Sexta-feira 15 de Maio de 2009




Beatitude

Saúdo-o com afecto fraterno no Senhor, e formulo os melhores votos orantes pela sua saúde e pelo seu ministério. Estou reconhecido pela oportunidade de visitar esta igreja catedral de São Tiago, no coração do antigo bairro arménio de Jerusalém, e de me encontrar com o ilustre clero do Patriarcado, juntamente com os membros da comunidade arménia da Cidade Santa.

O nosso encontro hodierno, caracterizado por uma atmosfera de cordialidade e de amizade, é mais um passo no campo para a unidade, que o Senhor deseja para todos os seus discípulos. Nas décadas mais recentes, pudemos testemunhar, pela graça de Deus, um progresso significativo nos relacionamentos entre a Igreja católica e a Igreja apostólica arménia. Considero uma grande bênção, o facto de me ter encontrado no ano passado com o Supremo Patriarca e Catholicos de todos os Arménios, Karekin II e com o Catholicos da Cilícia, Aram I. A sua visita à Santa Sé, bem como os momentos de oração que pudemos compartilhar, revigoraram-nos na amizade e confirmaram o nosso compromisso em prol da sagrada causa da promoção da unidade dos cristãos.

Em espírito de gratidão ao Senhor, desejo expressar também o meu apreço pelo compromisso decisivo da Igreja apostólica arménia de dar continuidade ao diálogo teológico entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas orientais. Este diálogo, corroborado pela oração, alcançou progressos na superação do fardo de mal-entendidos do passado, e oferece muitas promessas para o futuro. Um especial sinal de esperança é o recente documento sobre a natureza e a missão da Igreja, preparado pela Comissão mista e apresentado às Igrejas para ser estudado e avaliado. Confiemos conjuntamente, mais uma vez, o trabalho da Comissão mista ao Espírito de sabedoria e de verdade, a fim de que possa produzir frutos abundantes para o crescimento da unidade dos cristãos e para aumentar a expansão do Evangelho no meio dos homens e das mulheres do nosso tempo.

Desde os primeiros séculos cristãos, a comunidade arménia de Jerusalém teve uma história ilustre, caracterizada não em menor medida por um extraordinário florescimento de vida e de cultura monástica, ligadas aos lugares santos e com as tradições litúrgicas que se desenvolveram ao redor deles. Esta venerável igreja catedral, juntamente com o Patriarcado e com as várias instituições educativas e culturais adjacentes, dão testemunho desta longa e distinta história. Oro a fim de que a vossa comunidade possa haurir constantemente nova vida destas ricas tradições e ser confirmada no fiel testemunho de Jesus Cristo e do poder da sua Ressurreição (cf.
Ph 3,10) nesta Cidade Santa. Asseguro igualmente às famílias presentes, e de modo particular às crianças e aos jovens, uma especial lembrança nas minhas orações. Prezados amigos, peço-vos por minha vez que rezeis comigo a fim de que todos os cristãos da Terra Santa trabalhem em conjunto e com generosidade e zelo, anunciando o Evangelho da nossa reconciliação em Cristo, e o advento do seu Reino de santidade, de justiça e de paz.

Beatitude, agradeço-lhe mais uma vez a amável recepção e invoco cordialmente as mais ricas bênçãos de Deus sobre Vossa Beatitude, sobre todo o clero e os fiéis da Igreja apostólica arménia na Terra Santa. Que o júbilo e a paz de Cristo ressuscitado estejam sempre convosco!




VISITA À IGREJA PATRIARCAL APOSTÓLICA ARMÉNIA DE SÃO TIAGO

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Jerusalém

Sexta-feira 15 de Maio de 2009




Beatitude


Saúdo-o com afecto fraterno no Senhor, e formulo os melhores votos orantes pela sua saúde e pelo seu ministério. Estou reconhecido pela oportunidade de visitar esta igreja catedral de São Tiago, no coração do antigo bairro arménio de Jerusalém, e de me encontrar com o ilustre clero do Patriarcado, juntamente com os membros da comunidade arménia da Cidade Santa.

O nosso encontro hodierno, caracterizado por uma atmosfera de cordialidade e de amizade, é mais um passo no campo para a unidade, que o Senhor deseja para todos os seus discípulos. Nas décadas mais recentes, pudemos testemunhar, pela graça de Deus, um progresso significativo nos relacionamentos entre a Igreja católica e a Igreja apostólica arménia. Considero uma grande bênção, o facto de me ter encontrado no ano passado com o Supremo Patriarca e Catholicos de todos os Arménios, Karekin II e com o Catholicos da Cilícia, Aram I. A sua visita à Santa Sé, bem como os momentos de oração que pudemos compartilhar, revigoraram-nos na amizade e confirmaram o nosso compromisso em prol da sagrada causa da promoção da unidade dos cristãos.

Em espírito de gratidão ao Senhor, desejo expressar também o meu apreço pelo compromisso decisivo da Igreja apostólica arménia de dar continuidade ao diálogo teológico entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas orientais. Este diálogo, corroborado pela oração, alcançou progressos na superação do fardo de mal-entendidos do passado, e oferece muitas promessas para o futuro. Um especial sinal de esperança é o recente documento sobre a natureza e a missão da Igreja, preparado pela Comissão mista e apresentado às Igrejas para ser estudado e avaliado. Confiemos conjuntamente, mais uma vez, o trabalho da Comissão mista ao Espírito de sabedoria e de verdade, a fim de que possa produzir frutos abundantes para o crescimento da unidade dos cristãos e para aumentar a expansão do Evangelho no meio dos homens e das mulheres do nosso tempo.

Desde os primeiros séculos cristãos, a comunidade arménia de Jerusalém teve uma história ilustre, caracterizada não em menor medida por um extraordinário florescimento de vida e de cultura monástica, ligadas aos lugares santos e com as tradições litúrgicas que se desenvolveram ao redor deles. Esta venerável igreja catedral, juntamente com o Patriarcado e com as várias instituições educativas e culturais adjacentes, dão testemunho desta longa e distinta história. Oro a fim de que a vossa comunidade possa haurir constantemente nova vida destas ricas tradições e ser confirmada no fiel testemunho de Jesus Cristo e do poder da sua Ressurreição (cf.
Ph 3,10) nesta Cidade Santa. Asseguro igualmente às famílias presentes, e de modo particular às crianças e aos jovens, uma especial lembrança nas minhas orações. Prezados amigos, peço-vos por minha vez que rezeis comigo a fim de que todos os cristãos da Terra Santa trabalhem em conjunto e com generosidade e zelo, anunciando o Evangelho da nossa reconciliação em Cristo, e o advento do seu Reino de santidade, de justiça e de paz.

Beatitude, agradeço-lhe mais uma vez a amável recepção e invoco cordialmente as mais ricas bênçãos de Deus sobre Vossa Beatitude, sobre todo o clero e os fiéis da Igreja apostólica arménia na Terra Santa. Que o júbilo e a paz de Cristo ressuscitado estejam sempre convosco!



CERIMÓNIA DE DESPEDIDA Aeroporto Internacional Ben Gurión - Tel Aviv Sexta-feira 15 de Maio de 2009

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Senhor Presidente
Senhor Primeiro-Ministro
Excelências, Senhoras e Senhores!

Ao preparar-me para regressar a Roma, gostaria de partilhar convosco algumas das fortes impressões que a minha peregrinação na Terra Santa me deixou no coração. Mantive proveitosos diálogos com as Autoridades civis, quer em Israel, quer nos Territórios Palestinianos, e verifiquei os grandes esforços que os dois Governos estão a realizar para garantir o bem-estar das pessoas. Encontrei-me com os Chefes da Igreja católica na Terra Santa e alegro-me por ver como trabalham juntos no cuidado do rebanho do Senhor. Tive também a possibilidade de me encontrar com os responsáveis das várias Igrejas cristãs e comunidades eclesiais, assim como com os chefes de outras religiões na Terra Santa. Esta terra é deveras um terreno fértil para o ecumenismo e para o diálogo inter-religioso e rezo para que a rica variedade do testemunho religioso na região possa dar fruto numa crescente compreensão recíproca e respeito mútuo.

Senhor Presidente, nós plantámos uma oliveira na sua residência, no dia da minha chegada a Israel. A oliveira, como Vossa Excelência sabe, é uma imagem usada por São Paulo para descrever as relações muito estreitas entre Cristãos e Judeus. Na sua Carta aos Romanos, Paulo descreve como a Igreja dos Gentios é como um rebento de oliveira selvagem, enxertado na árvore de oliveira boa que é o Povo da Aliança (cf. 11, 17-24). Tiramos o nosso alimento das mesmas raízes espirituais. Encontramo-nos como irmãos, irmãos que em certos momentos da história comum tiveram um relacionamento tenso, mas agora estão firmemente comprometidos na construçãodepontesde amizade duradoura.

A cerimónia no Palácio presidencial foi seguida por um dos momentos mais solenes da minha permanência em Israel a minha visita ao Memorial do Holocausto Yad Vashem, para honrar as vítimas do Shoah. Ali encontrei-me com alguns dos sobreviventes. Aqueles encontros profundamente comovedores renovaram recordações da minha visita de há três anos ao campo da morte de Auschwitz, onde tantos Judeus mães, pais, maridos, esposas, filhos, filhas, irmãos, irmãs, amigos foram brutalmente exterminados sob um regime sem Deus que propagava uma ideologia de anti-semitismo e de ódio. Aquele terrível capítulo da história jamais deve ser esquecido ou negado. Ao contrário, aquelas memórias tenebrosas devem fortalecer a nossa determinação em aproximarmo-nos ainda mais uns dos outros como ramos da mesma oliveira, alimentados pelas mesmas raízes e unidos por amor fraterno.

Senhor Presidente, agradeço-lhe a sua calorosa hospitalidade, muito apreciada, e desejo que conste o facto de que vim visitar este país como amigo dos Israelitas, assim como sou amigo do Povo Palestiniano. Os amigos gostam de passar tempo em recíproca companhia e preocupam-se profundamente quando vêem o outro sofrer. Nenhum amigo dos Israelitas e dos Palestinianos pode evitar de ficar triste pela contínua tensão entre os vossos dois povos. Nenhum amigo pode deixar de chorar pelos sofrimentos e perdas de vidas humanas que ambos os povos sofreram nos últimos seis decénios. Permita que eu faça este apelo a todo o povo destas terras: basta ao derramamento de sangue! Basta aos confrontos! Basta ao terrorismo! Basta à guerra! Interrompamos o círculo vicioso da violência. Que se possa instaurar uma paz estável baseada na justiça, haja verdadeira reconciliação e restabelecimento. Seja universalmente reconhecido que o Estado de Israel tem o direito de existir e de gozar de paz e de segurança dentro de confins internacionalmente reconhecidos. Seja igualmente reconhecido que o Povo Palestiniano tem o direito a uma pátria independente e soberana, de viver com dignidade e de viajar livremente. Que a "two-State solution" (a solução de dois Estados) se torne realidade e não permaneça um sonho. E que a paz se possa difundir destas terras; possam ser "luz para as Nações" (
Is 42,6), levando esperança às muitas outras regiões atingidas por conflitos.

Uma das visões para mim mais tristes durante a minha visita a estas terras foi o muro. Enquanto o ladeava, rezei por um futuro no qual os povos da Terra Santa possam viver juntos em paz e harmonia sem a necessidade de semelhantes instrumentos de segurança e de separação, mas respeitando-se e tendo confiança uns nos outros, renunciando a qualquer forma de violência e de agressão. Senhor Presidente, sei quanto será difícil alcançar este objectivo. Sei quanto é difícil a sua tarefa e a da Autoridade Palestiniana. Mas garanto-lhe que as minhas orações e as orações dos católicos de todo o mundo o acompanharão enquanto Vossa Excelência prossegue o esforço de construir uma paz justa e estável nesta região.

Por fim, desejo expressar o meu sentido agradecimento a quantos contribuíram de modos diversos para a minha visita. Estou profundamente grato ao Governo, aos organizadores, aos voluntários, aos mass media, a quantos deram hospitalidade a mim e a todos os que me acompanharam. Tende a certeza que sereis recordados com afecto nas minhas orações. A todos digo: obrigado e que o Senhor esteja convosco. Shalom!



SAUDAÇÃO AOS JORNALISTAS DURANTE O VOO DE REGRESSO DA PEREGRINAÇÃO À TERRA SANTA Sexta-feira, 15 de Maio de 2009

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Queridos amigos

Obrigado pelo vosso trabalho. Imagino como deve ter sido difícil, circundado por tantos problemas, tantas transferências, etc., e gostaria de vos agradecer porque aceitastes todas estas dificuldades para informar o mundo sobre esta peregrinação, convidando assim também outros à peregrinação a estes lugares santos.

Já fiz um breve resumo desta viagem no discurso no aeroporto, não pretendo acrescentar muito. Poderia citar tantos, muitos pormenores: a comovedora descida ao ponto mais profundo da terra, ao Jordão, que para nós é também um símbolo da descida de Deus, da descida de Cristo nos pontos mais profundos da existência humana.

O Cenáculo, onde o Senhor nos doou a Eucaristia, onde se verificou o Pentecostes, a descida do Espírito Santo; depois o Santo Sepulcro, e muitas outras impressões, mas parece-me que não é o momento para nos demorarmos sobre isto.

Talvez, contudo, poderia fazer algumas breves menções. São três as impressões fundamentais: a primeira é que encontrei em toda a parte, em todos os ambientes muçulmanos, cristãos e judaicos, uma decidida disponibilidade ao diálogo inter-religioso, ao encontro e à colaboração entre as religiões. E é importante que todos vejam isto, não apenas como uma acção – digamos – inspirada em motivos políticos na dada situação, mas como fruto do mesmo núcleo da fé, porque crer num único Deus que nos criou a todos, Pai de todos nós, acreditar neste Deus que criou a humanidade como uma família, crer que Deus é amor e deseja que o amor seja a força predominante no mundo, implica este encontro, esta necessidade do encontro, do diálogo, da colaboração como exigência da própria fé.

Segundo ponto: encontrei também um clima ecuménico muito encorajador. Tivemos muitas reuniões com o mundo ortodoxo, com grande cordialidade; pude falar inclusive com um representante da Igreja anglicana e com dois representantes luteranos, e vê-se que precisamente este clima da Terra Santa encoraja também o ecumenismo.

E o terceiro ponto: existem dificuldades enormes – sabemo-lo, vimo-lo e sentimo-lo. Mas vi também que há um profundo desejo de paz da parte de todos. As dificuldades são mais visíveis e não devemos escondê-las: existem, e devem ser resolvidas. Mas não é tão visível o desejo comum da paz, da fraternidade, e parece-me que devemos falar também disto, encorajar todos nesta vontade para encontrar as soluções certamente não fáceis para estas dificuldades.

Vim como peregrino de paz. A peregrinação é um elemento essencial de muitas religiões. É-o inclusive do islão, do judaísmo e do cristianismo. É também a imagem da nossa existência, que é um caminhar para a frente, rumo a Deus, e também para a comunhão da humanidade.

Vim como peregrino e espero que muitos sigam estes passos e assim estimulem a unidade dos povos desta Terra Santa e se tornem, por sua vez, mensageiros de paz.

Obrigado!




AOS BISPOS DO PERU EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Segunda-feira, 18 de Maio de 2009

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Senhor Cardeal
Queridos Irmãos no Episcopado!

1. Com o coração cheio da alegria pascal, dom do Senhor Ressuscitado, e como Sucessor de Pedro, manifesto-vos as minhas cordiais boas-vindas, enquanto "dou graças incessantemente por vós ao meu Deus" (
1Co 1,4). Agradeço a D. Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, Arcebispo de Trujillo e Presidente da Conferência Episcopal Peruana, as deferentes palavras que me dirigiu em nome de todos. Nelas reconheço a caridade e a dedicação com que apascentais as vossas Igrejas particulares.

2. A visita ad limina Apostolorum é uma ocasião significativa para fortalecer os vínculos de comunhão com o Romano Pontífice e entre vós, sabendo que nos vossos desvelos pastorais deve estar sempre presente a unidade de toda a Igreja, para que as vossas comunidades, como pedras vivas, contribuam para a edificação de todo o Povo de Deus (cf. 1P 2,4-5). De facto, "os Bispos, como legítimos sucessores dos Apóstolos e membros do Colégio episcopal, considerem-se sempre unidos entre si e mostrem-se solícitos por todas as Igrejas" (Christus Dominus CD 6). A experiência diz-nos, sem dúvida, que esta unidade nunca está definitivamente alcançada e que se deve construir e aperfeiçoar incessantemente, sem se render face às dificuldades objectivas e subjectivas, com o propósito de mostrar o verdadeiro rosto da Igreja católica, una e única.

Também hoje, como ao longo de toda a história da Igreja, é imprescindível cultivar o espírito de comunhão, valorizando as qualidades de cada um dos irmãos que a Divina Providência colocou ao nosso lado. Desta forma, os diversos membros do Corpo de Cristo conseguem ajudar-se reciprocamente para realizar o trabalho quotidiano (cf. 1Co 12,24-26 Ph 2,1-4 Ga 6,2-3). Por isso, é preciso que os Bispos sintam a constante necessidade de manter vivo e traduzir concretamente na prática o afecto colegial, considerando que é "um apoio muito válido para ler com atenção os sinais dos tempos e discernir com clareza aquilo que o Espírito diz às Igrejas" (João Paulo II, Exort. Apost. Pastores gregis ).

3. A unidade autêntica na Igreja é sempre fonte inexaurível de espírito evangelizador. Neste sentido, sei que estais a acolher, nos vossos programas pastorais, o impulso missionário promovido pela V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, celebrada em Aparecida, e sobretudo a "Missão continental", com a finalidade de que cada fiel aspire à santidade tratando pessoalmente com o Senhor Jesus, amando-o com perseverança e conformando a própria vida com os critérios evangélicos, de modo que se criem comunidades eclesiais de intensa vida cristã. Certamente, uma Igreja em missão relativiza os seus problemas internos e olha com esperança e entusiasmo para o futuro. Trata-se de relançar o espírito missionário, não por receio do futuro, mas porque a Igreja é uma realidade dinâmica e o verdadeiro discípulo de Jesus Cristo rejubila ao transmitir gratuitamente a outros a sua Palavra divina e ao partilhar com eles o amor que brota do seu lado trespassado na cruz (cf. Mt 10,8 Jn 13,34-35 Jn 19,33-34 1Co 9,16). De facto, quando a beleza e a verdade de Cristo conquistam os nossos corações, experimentamos a alegria de ser seus discípulos e assumimos de modo convicto a missão de proclamar a sua mensagem redentora. A este respeito, exorto-vos a convocar todas as forças vivas das vossas Dioceses, para que caminhem a partir de Cristo irradiando sempre a luz do seu rosto, em particular aos irmãos que, talvez por se sentirem pouco valorizados ou insuficientemente apoiados nas suas necessidades espirituais e materiais, procurem noutras experiências religiosas respostas para as suas preocupações.

4. Vós mesmos, queridos Irmãos no Episcopado, seguindo o exemplo insigne de São Toríbio de Mogrovejo e de muitos outros Santos Pastores, estais igualmente a viver como audaciosos discípulos e missionários do Senhor. A visita pastoral assídua às comunidades eclesiais também às mais distantes e humildes a oração prolongada, a preparação esmerada da pregação, a vossa paterna atenção aos sacerdotes, às famílias, aos jovens, aos catequistas e demais agentes de pastoral, são a melhor forma de fazer nascer em todos o ardente desejo de ser mensageiros da Boa Nova da salvação, abrindo ao mesmo tempo as portas do coração de quantos os circundam, sobretudo dos enfermos e dos mais necessitados.

5. A Igreja na vossa Nação contou desde o seu início com a presença benéfica de abnegados membros da vida consagrada. É muito importante que continueis a acompanhar e a animar fraternalmente os religiosos e religiosas presentes nas vossas Igrejas particulares, para que, vivendo com fidelidade os conselhos evangélicos segundo o próprio carisma, continuem a dar um testemunho vigoroso do amor a Deus, de adesão inabalável ao Magistério da Igreja e de colaboração solícita nos planos pastorais diocesanos.

6. Penso agora, sobretudo, nos peruanos desempregados e sem adequados serviços educativos e de saúde, ou nos que vivem nos arredores das grandes cidades e em zonas recônditas. Penso, de igual modo, em quantos caíram nas mãos da toxicodependência ou da violência. Não podemos desinteressar-nos destes nossos irmãos mais frágeis e queridos por Deus, tendo sempre presente que a caridade de Cristo nos constrange (cf. 2Co 5,14 Rm 12,9 Rm 13,8 Rm 15,1-3).

7. Ao concluir este agradável encontro, peço ao Senhor Jesus que vos ilumine no vosso serviço pastoral ao Povo de Deus. Por vezes sentir-vos-eis desanimados, mas a palavra dirigida por Cristo a São Paulo deve animar-vos na prática da vossa responsabilidade: "Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a minha força se revela totalmente" (2Co 12,9).

Com esta profunda esperança, peço-vos que transmitais a minha afectuosa saudação aos Bispos eméritos, aos sacerdotes, diáconos e seminaristas, às comunidades religiosas e aos fiéis do Peru.

Maria Santíssima, Nossa Senhora da Evangelização, vos proteja sempre com o seu amor de Mãe. Ao invocar a sua intercessão, assim como a de todos os Santos venerados especialmente entre vós, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.




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