Discursos Bento XVI 22059

PALAVRAS A UMA DELEGAÇÃO DA BULGÁRIA POR OCASIÃO DA FESTA DOS SANTOS APÓSTOLOS CO-PADROEIROS DA EUROPA CIRILO E METÓDIO Sexta-feira, 22 de Maio de 2009

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Senhor Presidente
Senhoras e Senhores
Membros da Delegação
Veneráveis Representantes da Igreja ortodoxa
e da Igreja católica

É-me particularmente agradável dirigir a cada um de vós as minhas saudações mais cordiais, neste encontro que se realiza por ocasião da festa anual dos Santos Cirilo e Metódio. Nesta feliz circunstância, gostaria de renovar os meus sentimentos de amizade pelo amado povo búlgaro, cujas raízes espirituais – como o testemunha de novo a vossa visita hodierna – mergulham na pregação dos Santos co-padroeiros da Europa. Saúdo cada um de vós com deferência e estendo estes sentimentos às autoridades e a todo o povo búlgaro, assim como aos responsáveis e aos fiéis da Igreja ortodoxa e da Igreja católica presentes na vossa amada terra.

Este encontro oferece-nos a oportunidade de pensar novamente na obra evangélica e social levada a cabo por estas duas insignes testemunhas do Evangelho, que foram os Santos Cirilo e Metódio. A sua herança espiritual marcou a vida dos povos eslavos: o seu exemplo corroborou o testemunho e a fidelidade de inúmeros cristãos que, ao longo dos séculos, consagraram a sua existência à difusão da mensagem da salvação, abrindo ao mesmo tempo à construção de uma sociedade justa e solidária. Possa o seu testemunho espiritual permanecer vivo na vossa nação para que também a Bulgária, haurindo desta fonte de luz e de esperança, contribua com eficácia para construir uma Europa que permaneça fiel às suas raízes cristãs. Os valores da solidariedade e da justiça, da liberdade e da paz, hoje constantemente reafirmadas, encontram com efeito ainda mais força e firmeza no ensinamento eterno de Cristo, traduzido na vida dos seus discípulos de todos os tempos.

Trata-se de sentimentos que gostaria de manifestar a cada um de vós, enquanto vos asseguro a minha estima e a minha proximidade espiritual. Tende também a certeza de que a Santa Sé continua a acompanhar com simpatia o progresso da vossa nação e o compromisso de todos aqueles que trabalham para o seu bem.

Invoco do íntimo do coração sobre cada um de vós a abundância das Bênçãos divinas.



PALAVRAS A UMA DELEGAÇÃO DA MACEDÓNIA POR OCASIÃO DA FESTA DOS SANTOS APÓSTOLOS CO-PADROEIROS DA EUROPA CIRILO E METÓDIO Sexta-feira, 22 de Maio de 2009

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Senhor Presidente
Ilustres membros da Delegação
Veneráveis Irmãos da Igreja ortodoxa e da Igreja católica

Apraz-me dar-vos as boas-vindas novamente este ano, por ocasião da memória litúrgica dos Santos Cirilo e Metódio. Estou feliz pelo facto de que durante a vossa visita para prestar homenagem aos co-padroeiros da Europa, vós manifestastes o desejo de me encontrar, uma ocorrência que já se tornou uma tradição. Estou-vos grato por este gesto de amabilidade e faço extensiva a cada um de vós as minhas sinceras boas-vindas e o meu apreço pelos sentimentos que vós trazeis a este encontro. Dou especiais boas-vindas às autoridades e a toda a população da ex-República Jugoslava da Macedónia. Transmito também as minhas calorosas saudações aos fiéis e a todos aqueles que têm responsabilidades pastorais no vosso país. Aproveito este ensejo para expressar os sentimentos de estima e de amizade que unem a Santa Sé ao amado povo macedónio.

A celebração anual da festa dos Santos Cirilo e Metódio, mestres da fé e apóstolos dos povos eslavos, convida todos nós que estamos unidos pela única fé em Jesus Cristo, a contemplar o seu heróico testemunho evangélico. Ao mesmo tempo, somos desafiados a conservar o património de ideais e valores que eles transmitiram com palavras e acções. Efectivamente, esta é a contribuição mais preciosa que os cristãos podem oferecer para a construção de uma Europa do terceiro milénio, que aspira a um futuro de progresso, justiça e paz para todos.

A vossa pátria amada, caracterizada pela influência destes dois grandes Santos, procura tornar-se cada vez mais um lugar de encontro pacífico e de diálogo entre os numerosos sectores sociais e religiosos do país. A minha esperança, que renovo hoje com todo o meu coração, é de que vós possais continuar a progredir ao longo deste caminho. Enquanto invoco a protecção divina sobre as autoridades da vossa nação, às quais renovo a proximidade da Sé Apostólica, desejo assegurar-vos a minha estima e amizade pessoal.

Uma vez mais, estendo os meus calorosos bons votos a cada um de vós neste dia de festa, e ofereço as minhas preces ardentes ao Senhor, tanto por vós que estais hoje aqui presentes, como também por todo o povo macedónio.






À PONTIFÍCIA ACADEMIA ECLESIÁSTICA Sábado, 23 de Maio de 2009

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Venerado Irmão no Episcopado
Queridos irmãos sacerdotes!

É para mim uma alegria renovada acolher e saudar todos vós, que viestes também este ano para manifestar ao Sucessor de Pedro o testemunho do vosso afecto e da vossa fidelidade. Saúdo o Presidente da Pontifícia Academia Eclesiástica, D. Beniamino Stella, e agradeço-lhe as palavras que gentilmente me dirigiu, assim como o serviço que desempenha com grande dedicação. Saúdo os seus colaboradores, as Irmãs Franciscanas Missionárias do Menino Jesus e todos vós, que nestes anos da vossa juventude sacerdotal vos estais a preparar para servir a Igreja e o seu Pastor universal, num ministério singular, como é precisamente o que desempenhais nas Representações Pontifícias.

De facto, o serviço nas Nunciaturas Apostólicas pode ser considerado, de certa forma, uma específica vocação sacerdotal, um ministério pastoral que exige uma inserção particular no mundo e nas suas problemáticas muitas vezes bastante complexas, de carácter social e político. Então é importante que aprendais a decifrá-las, sabendo que o "código", por assim dizer, de análise e de compreensão destas dinâmicas só pode ser o Evangelho e o perene Magistério da Igreja. É necessário que vos formeis na leitura atenta das realidades humanas e sociais, a partir de uma certa sensibilidade pessoal, que cada servidor da Santa Sé deve possuir, e usufruindo de uma experiência específica a ser adquirida durante estes anos. Além disso, aquela capacidade de diálogo com a modernidade que vos é exigida, assim como o contacto com as pessoas e as instituições que elas representam, requerem uma robusta estrutura interior e uma solidez espiritual, capaz de salvaguardar cada vez melhor a vossa identidade cristã e sacerdotal. Só assim podereis evitar sentir os efeitos negativos da mentalidade mundana, e não vos deixareis atrair nem contaminar por lógicas demasiado terrenas.

Dado que é o próprio Senhor quem vos pede para desempenhar esta missão na Igreja, através da chamada do vosso Bispo que vos indica e vos põe à disposição da Santa Sé, é ao próprio Senhor que deveis sempre e sobretudo fazer referência. Nos momentos de obscuridade e de dificuldade interior, dirigi o vosso olhar para Cristo que um dia vos fixou com amor e vos chamou para estar com Ele e para vos ocupardes, na sua escola, do seu Reino. Recordai sempre que é essencial e fundamental para o ministério sacerdotal, seja qual for o modo de o exercer, manter um vínculo pessoal com Jesus. Ele quer que sejamos seus "amigos", amigos que procuram a sua intimidade, seguem os seus ensinamentos e se comprometem em dá-lo a conhecer e em fazer com que seja amado por todos. O Senhor quer que sejamos santos, isto é "seus", não preocupados em construir uma carreira humanamente interessante ou agradável, não em busca do louvor e do sucesso da parte do povo, mas totalmente dedicados ao bem das almas, dispostos a cumprir até ao fim o nosso dever com a consciência de sermos "servos inúteis", felizes por poder oferecer o nosso pobre contributo para a difusão do Evangelho.

Queridos sacerdotes, sede, antes de tudo, homens de oração intensa, que cultivam uma comunhão de amor e de vida com o Senhor. Sem esta sólida base espiritual, como seria possível perseverar no vosso ministério? Quem trabalha assim na vinha do Senhor sabe que tudo o que é realizado com dedicação, com sacrifício e por amor, nunca é perdido. E se por vezes nos é concedido saborear o cálice da solidão, da incompreensão e do sofrimento, se o serviço às vezes nos parece pesado e a cruz algumas vezes é difícil de carregar, nos ampare e nos seja de conforto a certeza de que Deus sabe tornar tudo fecundo. Nós sabemos que a dimensão da cruz, bem simbolizada na parábola do grão de trigo que, se for lançado à terra, morre para dar fruto imagem usada por Jesus pouco antes da sua paixão é parte essencial da vida de cada homem e de cada missão apostólica. Em cada situação devemos oferecer o feliz testemunho da nossa adesão ao Evangelho, acolhendo o convite do Apóstolo Paulo a orgulhar-nos unicamente da cruz de Cristo, com a única ambição de completar em nós mesmos o que falta à paixão do Senhor, a favor do seu Corpo que é a Igreja (cf.
Col 1,24).

O Ano Sacerdotal, que terá início no próximo dia 19 de Junho, solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus e Dia de santificação sacerdotal, será ocasião muito propícia para renovar e fortalecer a vossa relação com Ele. Valorizai ao máximo esta oportunidade para serdes sacerdotes segundo o Coração de Cristo, como São João Maria Vianney, o Santo Cura d'Ars, do qual nos preparamos para celebrar o 150º aniversário da morte. À sua intercessão e à de Santo António Abade, Padroeiro da Academia, confio estes votos e intenções. Vigie maternalmente sobre vós e vos proteja Maria, Mãe da Igreja. Quanto a mim, ao agradecer-vos a vossa visita hodierna, garanto-vos a minha especial recordação na oração, e concedo de coração a Bênção Apostólica a cada um de vós, às reverendas Irmãs, ao pessoal da Casa e a todos os que vos são queridos.






NA ABERTURA DO CONGRESSO ECLESIAL DA DIOCESE DE ROMA

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Basílica de São João de Latrão

Terça-feira, 26 de Maio de 2009




Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos religiosos e religiosas
Amados irmãos e irmãs!

Seguindo um costume já consolidado, sinto-me feliz por abrir também este ano o Congresso diocesano pastoral. A cada um de vós, que aqui representais toda a comunidade diocesana, dirijo com afecto a minha saudação e um sentido agradecimento pelo trabalho pastoral que desempenhais. Através de vós, faço extensiva a minha saudação cordial a todas as paróquias, com as palavras do apóstolo Paulo: "A todos os amados de Deus que estais em Roma, chamados à santidade: graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo" (
Rm 1,7). Agradeço de coração ao Cardeal Vigário as palavras encorajadoras que me dirigiu, fazendo-se intérprete dos vossos sentimentos, e pela ajuda que, juntamente com os Bispos Auxiliares, me oferece no quotidiano serviço apostólico ao qual o Senhor me chamou como Bispo de Roma.

Acabou de ser recordado que, no decorrer do passado decénio, a atenção da Diocese se concentrou durante três anos inicialmente na família; depois, por um triénio sucessivo, na educação para a fé das novas gerações, procurando responder àquela "emergência educativa", que é para todos um desafio não fácil; e por fim, sempre com referência à educação, solicitados pela Carta Spe salvi, tomastes em consideração o tema do educar para a esperança. Ao dar graças convosco ao Senhor pelo tanto bem que nos concedeu realizar – penso em particular nos párocos e nos sacerdotes que não se poupam na orientação das comunidades que lhe estão confiadas – desejo expressar o meu apreço pela escolha pastoral de dedicar tempo a uma prova do caminho percorrido, com a finalidade de focalizar, à luz da experiência vivida, alguns âmbitos fundamentais da pastoral ordinária, a fim de melhor os determinar, e torná-los mais compartilhados. Como fundamento deste empenho, que já pondes em prática desde há alguns meses em todas as paróquias e nas outras realidades eclesiais, deve haver uma renovada tomada de consciência do nosso ser Igreja e da co-responsabilidade pastoral que, em nome de Cristo, todos somos chamados a exercer. E gostaria de aprofundar agora precisamente este aspecto.

O Concílio Vaticano II, querendo transmitir pura e íntegra a doutrina sobre a Igreja maturada no decorrer de dois mil anos, deu dela "uma definição mais meditada", ilustrando antes de tudo a sua natureza mística, isto é, de "realidade imbuída de presença divina, e por isso sempre capaz de explorações novas e cada vez mais profundas" (Paulo VI, Discurso de abertura da segunda sessão, 29 de Setembro de 1963). Pois bem, a Igreja, que tem origem no Deus trinitário, é um mistério de comunhão. Enquanto comunhão, a Igreja não é uma realidade apenas espiritual, mas vive na história, por assim dizer, em carne e osso. O Concílio Vaticano II descreve-a "como um sacramento, ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano" (Lumen gentium LG 1). E a essência do sacramento é precisamente que no visível se toca o invisível, que o visível tocável abre a porta ao próprio Deus. A Igreja, dissemos, é uma comunhão, uma comunhão de pessoas que, pela acção do Espírito Santo, formam o Povo de Deus, que é ao mesmo tempo o Corpo de Cristo. Reflictamos um pouco sobre estas duas palavras-chave. O conceito "Povo de Deus" nasceu e desenvolveu-se no Antigo Testamento: para entrar na realidade da história humana, Deus elegeu um determinado povo, o povo de Israel, para que seja o seu povo. A intenção desta escolha particular é alcançar, através de poucos, os muitos, e dos muitos a todos. A intenção, com outras palavras, da eleição particular é a universalidade. Através deste Povo, Deus entra realmente de modo concreto na história. E esta abertura à universalidade realizou-se na cruz e na ressurreição de Cristo. Na Cruz Cristo, assim diz São Paulo, abateu o muro da separação. Dando-nos o seu Corpo, Ele une-nos neste seu Corpo para fazer de nós uma coisa só. Na comunhão do "Corpo de Cristo" todos nos tornamos um só povo, o Povo de Deus, onde – citando de novo São Paulo – todos são uma só coisa e não há mais distinção, diferença, entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, xiita, escravo, hebreu, mas Cristo é tudo em todos. Derrubou o muro da distinção de povos, raças, culturas: todos estamos unidos em Cristo. Assim vemos que os dois conceitos "Povo de Deus" e "Corpo de Cristo" se completam e formam juntos o conceito neotestamentário de Igreja. E enquanto "Povo de Deus" expressa a continuidade da história da Igreja, "Corpo de Cristo" expressa a universalidade inaugurada na cruz e na ressurreição do Senhor. Portanto, para nós cristãos, "Corpo de Cristo" não é só uma imagem, mas um verdadeiro conceito, porque Cristo nos oferece o seu Corpo real, e não só uma imagem. Ressuscitado, Cristo une-nos a todos no Sacramento para fazer de nós um só corpo. Por conseguinte, os conceitos "Povo de Deus" e "Corpo de Cristo" completam-se: em Cristo tornamo-nos realmente o Povo de Deus. E "Povo de Deus" significa portanto "todos": começando pelo Papa até à última criança baptizada. A primeira Oração eucarística, o chamado cânone romano escrito no século IV, distingue entre servos – "nós teus servos" – e "plebs tua sancta"; portanto, se se quiser distinguir, fala-se de servos e plebs sancta, enquanto que a expressão "Povo de Deus" expressa todos juntos no seu comum ser Igreja.

Depois do Concílio esta doutrina eclesiológica encontrou amplo acolhimento, e graças a Deus muitos bons frutos maturaram na comunidade cristã. Mas devemos também recordar que a recepção desta doutrina na prática e a consequente assimilação no tecido da consciência eclesial, não se verificaram sempre e em toda a parte sem dificuldades e segundo uma justa interpretação. Como tive a ocasião de esclarecer no discurso à Cúria Romana a 22 de Dezembro de 2005, uma corrente interpretativa, apelando-se a um presumível "espírito do Concílio", julgou estabelecer uma descontinuidade e até uma contraposição entre a Igreja antes e a Igreja depois do Concílio, ultrapassando por vezes os próprios confins objectivamente existentes entre o ministério hierárquico e as responsabilidades dos leigos na Igreja. A noção de "Povo de Deus", em particular, foi interpretada por alguns segundo uma visão puramente sociológica, com uma ruptura quase exclusivamente horizontal, que excluía a referência vertical a Deus. Trata-se de uma posição em aberto contraste com a palavra e com o espírito do Concílio, o qual não quis uma ruptura, uma outra Igreja, mas um verdadeiro e profundo renovamento, na continuidade do único sujeito Igreja, que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo contudo sempre idêntico, único sujeito do Povo em peregrinação.

Em segundo lugar, deve ser reconhecido que o despertar de energias espirituais e pastorais no decurso destes anos não produziu sempre o incremento e o desenvolvimento desejados. De facto, deve-se registar em certas comunidades eclesiais que, a um período de fervor e de iniciativa, se seguiu um tempo de enfraquecimento do empenho, uma situação de cansaço, por vezes quase de estagnação, também de resistência e de contradição entre a doutrina conciliar e diversos conceitos formulados em nome do Concílio, mas na realidade opostos ao seu espírito e à sua letra. Também por esta razão, ao tema da vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, foi dedicada a assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos de 1987. Este facto diz-nos que as luminosas páginas dedicadas pelo Concílio ao laicado ainda não tinham sido suficientemente traduzidas e realizadas na consciência dos católicos e na prática pastoral. Por um lado ainda existe a tendência a identificar unilateralmente a Igreja com a hierarquia, esquecendo a comum responsabilidade, a comum missão do Povo de Deus, que somos todos nós em Cristo. Por outro lado, persiste também a tendência a conceber o Povo de Deus como já disse, segundo uma ideia puramente sociológica ou política, esquecendo a novidade e a especificidade daquele povo que só se torna povo na comunhão com Cristo.

Queridos irmãos e irmãs, a pergunta surge espontânea: a que ponto está a nossa Diocese de Roma? Em que medida é reconhecida e favorecida a co-responsabilidade pastoral de todos, particularmente dos leigos? Nos séculos passados, graças ao testemunho generoso de tantos baptizados que dedicaram a sua viva para educar na fé as novas gerações, para curar os doentes e socorrer os pobres, a comunidade cristã anunciou o Evangelho aos habitantes de Roma. Esta mesma missão é confiada hoje a nós, em situações diversas, numa cidade na qual não poucos baptizados esqueceram o caminho para a Igreja e os que não são cristãos não conhecem a beleza da nossa fé. O Sínodo Diocesano, querido pelo meu amado predecessor João Paulo II, foi uma efectiva receptio da doutrina conciliar, e o Livro do Sínodo comprometeu a Diocese a tornar-se cada vez mais Igreja viva e laboriosa no coração da cidade, através da acção coordenada e responsável de todas as suas componentes. A Missão da Cidade, que a seguiu em preparação para o Grande Jubileu do ano 2000, permitiu que a nossa comunidade eclesial tomasse consciência do facto que o mandato de evangelizar não diz respeito a alguns, mas a todos os baptizados. Foi uma saudável experiência que contribuiu para fazer maturar nas paróquias, nas comunidades religiosas, nas associações e nos movimentos a consciência de pertencer ao único Povo de Deus, que – segundo as palavras do apóstolo Pedro – Deus "adquiriu, a fim de anunciardes as Suas virtudes" (cf. 1P 2,9). E por isto desejamos dar graças esta tarde.

Contudo ainda resta muito caminho para percorrer. Demasiados baptizados não se sentem parte da comunidade eclesial e vivem à margem dela, dirigindo-se às paróquias só nalgumas circunstâncias para receber serviços religiosos. São ainda poucos os leigos, em proporção ao número dos habitantes de cada paróquia que, mesmo professando-se católicos, não se disponibilizam para trabalhar nos diversos campos apostólicos. Certamente, não faltam as dificuldades de tipo cultural e social mas, fiéis ao mandato do Senhor, não podemos resignar-nos à conservação do existente. Confiantes na graça do Espírito, que Cristo ressuscitado nos garantiu, devemos retomar com zelo renovado o caminho. Que vias podemos percorrer? É preciso em primeiro lugar renovar o esforço por uma formação mais atenta e pontual à visão de Igreja da qual falei, e isto tanto da parte dos sacerdotes como dos religiosos e dos leigos. Compreender sempre melhor o que é esta Igreja, este Povo de Deus no Corpo de Cristo. É necessário, ao mesmo tempo, melhorar a orientação pastoral, de modo que, no respeito das vocações e dos papéis dos consagrados e dos leigos, se promova gradualmente a co-responsabilidade do conjunto de todos os membros do Povo de Deus. Isto exige uma mudança de mentalidade no que diz respeito particularmente aos leigos, passando do considerá-los "colaboradores" do clero ao reconhecê-los realmente "co-responsáveis" do ser e do agir da Igreja, favorecendo a consolidação de um laicado maduro e comprometido. Esta consciência comum de todos os baptizados de ser Igreja não diminui a responsabilidade dos párocos. Compete precisamente a vós, queridos párocos, promover o crescimento espiritual e apostólico de quantos já são assíduos e comprometidos nas paróquias: eles são o núcleo da comunidade que servirá de fermento para os outros. Para que tais comunidades, mesmo se algumas vezes numericamente pequenas, não percam a sua identidade e o seu vigor, é necessário que sejam educadas na escuta orante da Palavra de Deus, através da prática da lectio divina, ardentemente desejada pelo recente Sínodo dos Bispos. Alimentemo-nos realmente da escuta, da meditação da Palavra de Deus. A estas nossas comunidades nunca deve faltar a consciência de que são "Igreja" porque Cristo, Palavra eterna do Pai, as convoca e as faz seu Povo. De facto, a fé é por um lado uma relação profundamente pessoal com Deus, mas possui uma componente comunitária essencial e as duas dimensões são inseparáveis. Assim poderão experimentar a beleza e a alegria de ser e de se sentir Igreja também os jovens, que estão mais expostos ao crescente individualismo da cultura contemporânea, a qual comporta como inevitáveis consequências o enfraquecimento dos vínculos interpessoais e o debilitar-se das pertenças. Na fé em Deus estamos unidos no Corpo de Cristo e tornamo-nos todos unidos no mesmo Corpo e assim, precisamente crendo de forma profunda, podemos expressar também a comunhão entre nós e superar a solidão do individualismo.

Se é a Palavra que convoca a Comunidade, é a Eucaristia que a torna seu corpo: "Porque havendo um só pão – escreve São Paulo – nós, sendo muitos, somos um só corpo: de facto todos pertencemos ao único pão" (1Co 10,17). Portanto a Igreja não é o resultado de uma soma de indivíduos, mas uma unidade entre aqueles que são alimentados pela única Palavra de Deus e pelo único Pão de vida. A comunhão e a unidade da Igreja, que nascem da Eucaristia, são uma realidade da qual devemos ter cada vez mais consciência, também no nosso receber a santa comunhão, ser cada vez mais conscientes de que entramos em unidade com Cristo e assim tornamo-nos, entre nós, uma só coisa. Devemos aprender sempre de novo a guardar e defender esta unidade de rivalidades, de pretensões e ciúmes que podem nascer nas e entre as comunidades eclesiais. Em particular, gostaria de pedir aos movimentos e às comunidades que surgiram depois do Vaticano ii, que também no interior da nossa Diocese são um dom precioso do qual devemos agradecer sempre ao Senhor, gostaria de pedir a estes movimentos, que, repito, são um dom, que se preocupem sempre por que os seus percursos formativos conduzam os membros a maturar um verdadeiro sentido de pertença à comunidade paroquial. Centro da vida da paróquia, como disse, é a Eucaristia, e particularmente a Celebração dominical. Se a unidade da Igreja nasce do encontro com o Senhor, não é secundário então que a adoração e a celebração da Eucaristia sejam muito cuidadas, dando a oportunidade a quem nelas participa de experimentar a beleza do mistério de Cristo. Dado que a beleza da liturgia não é "mero esteticismo, mas modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata" (cf. Sacramentum caritatis, 35), é importante que a Celebração eucarística manifeste, comunique, através dos sinais sacramentais, a vida divina e revele aos homens e às mulheres desta cidade o verdadeiro rosto da Igreja.

O crescimento espiritual e apostólico da comunidade leva depois a promover o seu alargamento através de uma acção missionária convicta. Prodigalizai-vos portanto para voltar a animar cada paróquia, como nos tempos da Missão da Cidade, aos pequenos grupos ou centros de escuta de fiéis que anunciam Cristo e a sua Palavra, lugares nos quais seja possível experimentar a fé, exercer a caridade, organizar a esperança. Este articular-se das grandes paróquias urbanas através do multiplicar-se de pequenas comunidades permite um alcance missionário mais amplo, que tem em consideração a densidade da população, a sua fisionomia social e cultural, com frequência muito diversificada. Seria importante se este método pastoral encontrasse aplicação eficaz também nos lugares de trabalho, que hoje devem ser evangelizados com uma pastoral de ambiente bem pensada, porque devido à elevada mobilidade social a população transcorre nele grande parte do dia.

Por fim, não se deve esquecer o testemunho da caridade, que une os corações e abre à pertença eclesial. À pergunta como se explique o sucesso do Cristianismo dos primeiros séculos, o crescimento de uma presumível seita judaica à religião do Império, os historiadores respondem que foi particularmente a experiência da caridade dos cristãos que convenceu o mundo. Viver a caridade é a forma primária da missionariedade. A Palavra anunciada e vivida torna-se credível se se encarna em comportamentos de solidariedade, de partilha, em gestos que mostram o rosto de Cristo como de verdadeiro Amigo do homem. O silencioso e quotidiano testemunho da caridade, promovido pelas paróquias graças ao compromisso de tantos fiéis leigos, continue a propagar-se cada vez mais, para que quem vive no sofrimento sinta que a Igreja está próxima e conheça o amor do Pai, rico de misericórdia. Sede portanto "bons samaritanos" prontos a curar as feridas materiais e espirituais dos vossos irmãos. Os diáconos, conformados com a ordenação a Cristo servo, poderão desempenhar um serviço útil na promoção de uma renovada atenção em relação às antigas e novas formas de pobreza. Penso além disso nos jovens: caríssimos, convido-vos a colocar ao serviço de Cristo e do Evangelho o vosso entusiasmo e a vossa criatividade, tornando-vos apóstolos dos vossos coetâneos, dispostos a responder generosamente ao Senhor, se vos chamar para o seguir mais de perto, no sacerdócio ou na vida consagrada.

Queridos irmãos e irmãs, o futuro do cristianismo e da Igreja em Roma depende também do compromisso e do testemunho de cada um de nós. Para isto, invoco a intercessão materna da Virgem Maria, venerada há séculos na Basílica de Santa Maria Maior como Salus populi romani. Como fez com os Apóstolos no Cenáculo na expectativa do Pentecostes, nos acompanhe também a nós e nos encoraje a olhar com confiança para o futuro. Com estes sentimentos, ao agradecer-vos pelo vosso trabalho diuturno, concedo de coração a todos uma especial Bênção Apostólica.




À ASSEMBLEIA GERAL DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA (CEI) Quinta-feira, 28 de Maio de 2009

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Queridos Irmãos Bispos italianos!

Sinto-me feliz por vos encontrar mais uma vez todos juntos, por ocasião deste significativo encontro anual que vos vê reunidos em assembleia para partilhar as ansiedades e as alegrias do vosso ministério nas Dioceses da amada Nação italiana. De facto, a vossa assembleia expressa visivelmente e promove aquela comunhão da qual a Igreja vive, e que se actua também na concórdia das iniciativas e da acção pastoral. Venho com a minha presença confirmar a comunhão eclesial que vi incrementar-se e fortalecer-se constantemente. Em particular, agradeço ao Cardeal Presidente que, em nome de todos, confirmou a fraterna adesão e a cordial comunhão com o magistério e o serviço pastoral do Sucessor de Pedro, reafirmando assim a singular unidade que liga a Igreja na Itália à Sé Apostólica. Neste clima de comunhão o povo cristão pode alimentar-se proveitosamente da Palavra de Deus e da graça dos sacramentos, o qual experimenta a profunda inserção no território, o sentido vivo da fé e a pertença sincera à comunidade eclesial: tudo isto graças à vossa guia pastoral, ao serviço generoso de tantos presbíteros e diáconos, de religiosos e fiéis leigos que, com dedicação assídua, apoiam o tecido eclesial e a vida quotidiana das numerosas paróquias espalhadas por todos os recantos do País. Não escondemos as dificuldades que elas encontram ao conduzir os próprios membros para uma plena adesão à fé cristã. Não é por acaso que se invoca de várias partes uma sua renovação no sinal de uma crescente colaboração dos leigos, e de uma sua co-responsabilidade missionária.

Por estes motivos oportunamente quisestes aprofundar na acção pastoral o compromisso missionário, que caracterizou o caminho da Igreja na Itália depois do Concílio, pondo no centro da reflexão da vossa assembleia a tarefa fundamental da educação. Como tive modo de afirmar várias vezes, trata-se de uma exigência constitutiva e permanente da vida da Igreja, que hoje tende a assumir as características da urgência e, até, da emergência. Tivestes a ocasião, nestes dias, de ouvir, reflectir e discutir sobre a necessidade de lançar mãos a uma espécie de projecto educativo que nasça de uma visão do homem coerente e completa, que pode surgir unicamente da imagem e realização perfeitas que dela temos em Jesus Cristo. É Ele o Mestre em cuja escola devemos redescobrir a tarefa educativa como altíssima vocação na qual cada fiel, com diversas modalidades, é chamado. Num tempo em que é forte o fascínio de concepções relativistas da vida, e a própria legitimidade da educação é posta em questão, o primeiro contributo que podemos oferecer é testemunhar a nossa confiança na vida e no homem, na sua razão e na sua capacidade de amar. Ela não é fruto de um optimismo ingénuo, mas provém-nos daquela "esperança fidedigna" (Spe salvi ) que nos é doada mediante a fé na redenção realizada por Jesus Cristo. Em referência a este acto fundadodoamor pelo homem pode surgir uma aliança educativa entre todos os que têm responsabilidades neste delicado âmbito da vida social e eclesial.

A conclusão, no próximo domingo, do triénio do Ágora dos jovens italianos, que viu empenhada a vossa Conferência num percurso articulado de animação da pastoral juvenil, constitui um convite a verificar o caminho educativo em acto e a empreender novos projectos para uma categoria de destinatários, a das novas gerações, extremamente ampla e significativa para as responsabilidades educativas das nossas comunidades eclesiais e de toda a sociedade. Por fim, a obra formativa alarga-se também à idade adulta, que não é excluída de uma verdadeira responsabilidade de educação permanente. Ninguém é excluído da tarefa de se ocupar do próprio crescimento e do próximo à "medida da plenitude de Cristo" (
Ep 4,13).

A dificuldade de formar cristãos autênticos enlaça-se até se confundir com a dificuldade de fazer crescer homens e mulheres responsáveis e maduros, na qual consciência da verdade e do bem e livre adesão a eles estejam no centro do projecto educativo, capaz de dar forma a um percurso de crescimento global devidamente predisposto e acompanhado. Por isso, juntamente com um projecto adequado que indique o fim da educação à luz do modelo completo a ser perseguido, há necessidade de educadores influentes para os quais as novas gerações possam olhar com confiança. Neste Ano Paulino, que vivemos no aprofundamento da palavra e do exemplo do grande apóstolo das nações, e que de vários modos celebrastes nas vossas Dioceses e precisamente ontem todos juntos na Basílica de São Paulo fora dos Muros, ressoa com singular eficácia o seu convite: "Sede meus imitadores" (1Co 11,1).Um verdadeiro educador põe em questão em primeiro lugar a sua pessoa e sabe unir autoridade e exemplaridade na tarefa de educar quantos lhe são confiados. Disto nós mesmos estamos conscientes, colocados como guias no meio do povo de Deus, aos quais o apóstolo Pedro dirige, por sua vez, o convite a apascentar a grei de Deus tornando-nos "modelos do rebanho" (1P 5,3).

É portanto muito feliz a circunstância que nos vê prontos para celebrar, depois do ano dedicado ao Apóstolo das nações, um Ano sacerdotal. Somos chamados, juntamente com os nossos sacerdotes, a redescobrir a graça e a tarefa do ministério presbiteral. Ele é um serviço à Igreja e ao povo cristão que exige uma profunda espiritualidade. Em resposta à vocação divina, esta espiritualidade deve alimentar-se da oração e de uma intensa união pessoal com o Senhor para o poder servir nos irmãos através da pregação, dos sacramentos, de uma organizada vida de comunidade e da ajuda aos pobres. Em todo o ministério sacerdotal sobressai, deste modo, a importância do compromisso educativo, para que cresçam pessoas livres e responsáveis, cristãos maduros e conscientes.

Não há dúvida de que o sentido de solidariedade tira a sua vitalidade sempre renovada do espírito cristão que está profundamente radicado no coração dos italianos e encontra o modo de se expressar com particular intensidade nalgumas circunstâncias dramáticas da vida do País, tendo sido a última o devastador terramoto que atingiu algumas áreas dos Abruzos. Tive a ocasião, com a minha visita àquela terra tragicamente ferida, de me dar conta pessoalmente dos lutos, do sofrimento e dos desastres causados pelo terrível sismo, mas também da força de ânimo daquelas populações, juntamente com o movimento de solidariedade que se activou imediatamente de todas as partes da Itália. As nossas comunidades responderam com grande generosidade ao pedido de ajuda que se elevava daquela região, apoiando iniciativas promovidas pela Conferência Episcopal através das Caritas. Desejo renovar aos Bispos abruzeses e, através deles, às comunidades locais a certeza da minha oração constante e da persistente proximidade afectuosa.
Estamos verificando há meses os efeitos de uma crise financeira e económica que atingiu duramente o cenário global e alcançou de várias maneiras todos os países. Apesar das medidas empreendidas a vários níveis, os efeitos sociais da crise ainda não deixam de se fazer sentir, e também duramente, de modo particular sobre as camadas mais débeis da sociedade e sobre as famílias. Desejo, portanto, expressar o meu apreço e encorajamento pela iniciativa do fundo de solidariedade denominado "Empréstimo da esperança", que terá precisamente no próximo domingo um momento de participação coral na colecta nacional, que constitui a base do mesmo fundo. Este renovado pedido de generosidade, que se acrescenta às muitas iniciativas promovidas por numerosas Dioceses, evocando o gesto da colecta promovida pelo apóstolo Paulo a favor da Igreja de Jerusalém, é um testemunho eloquente da partilha dos fardos uns dos outros. Num momento de dificuldade, que atinge de modo particular quantos perderam o trabalho, isto torna-se um verdadeiro acto de culto que nasce da caridade suscitada pelo Espírito do Ressuscitado no coração dos crentes. É um anúncio eloquente da conversão interior gerada pelo Evangelho e uma manifestação comovedora da comunhão eclesial.

Uma forma essencial de caridade sobre a qual as Igrejas na Itália estão profundamente comprometidas é também a intelectual. Disto é exemplo significativo o compromisso na promoção de uma difundida mentalidade a favor da vida em todos os seus aspectos e momentos, com uma atenção particular àquela marcada por condições de grande fragilidade e precariedade. Este compromisso é muito bem testemunhado pelo manifesto "Livres para viver. Amar a vida até ao fim", que vê o laicado católico italiano concorde em trabalhar para que no País não falte a consciênciadaplena verdade sobre o homem e a promoção do autêntico bem das pessoas e da sociedade. Os "sins" e os "nãos" que aí estão expressos designam os contornos de uma verdadeira acção educativa e são expressão de um amor forte e concreto para cada pessoa. Portanto, o pensamento volta ao tema central da vossa assembleia — a tarefa urgente da educação que exige a radicação — na Palavra de Deus e o discernimento espiritual, o projecto cultural e social, o testemunho da unidade e da gratuidade.

Caríssimos Irmãos, apenas poucos dias nos separam da solenidade do Pentecostes, na qual celebraremos o dom do Espírito que abate as fronteiras e abre à compreensão de toda a verdade. Invoquemos o Consolador que não abandona quem a Ele se dirige, confiando-lhe o caminho da Igreja na Itália e cada pessoa que vive neste amadíssimo País. Desça sobre todos nós o Espírito de vida e faça arder nos nossos corações o fogo do seu amor infinito.

Abençoo-vos de coração, a vós e às vossas comunidades!





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