Discursos Bento XVI 29509

AO SENHOR DANZANNOROV BOLDBAATAR, NOVO EMBAIXADOR DA MONGÓLIA JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

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Excelência

É com prazer que lhe dou as cordiais boas-vindas, no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Mongólia junto da Santa Sé. Agradecido pela calorosa saudação que Vossa Excelência me dirigiu em nome do seu Presidente, Senhor Nambaryn Enkhbayar, retribuo com os meus melhores votos pela sua saúde e bem-estar. Asseguro-lhe, bem como a todos os cidadãos da Mongólia, as minhas orações, enquanto eles continuam a promover a paz e a harmonia social na própria pátria e no estrangeiro.

Senhor Embaixador, estou grato pelo facto de que o espírito de cooperação que caracteriza os vínculos diplomáticos entre a Mongólia e a Santa Sé tenha dado muitos frutos. Um reconhecimento explícito e mútuo dos benefícios alcançados através das relações diplomáticas preparou o terreno para o estabelecimento da Prefeitura Apostólica de Ulaanbaatar, tornando deste modo possível coordenar de forma mais eficaz o governo pastoral dos católicos na Mongólia e imprimindo um renovado impulso às suas actividades caritativas, para o bem de todos os seus concidadãos. Um sinal particular desta colaboração fecunda foi a dedicação da Catedral dos Santos Pedro e Paulo, em Julho de 2002, e que teve lugar na jubilosa ocasião do décimo aniversário do estabelecimento dos laços diplomáticos entre a Mongólia e a Santa Sé. Desejo expressar pessoalmente a minha profunda gratidão por tudo o que o seu governo e as autoridades civis realizaram em vista de tornar possível aquele acontecimento histórico. Ele não contribuiu só para criar um sentido de unidade entre os fiéis católicos no seu país e os fiéis no resto do mundo, mas também deu um testemunho clarividente do respeito duradouro da Mongólia pela liberdade religiosa. Este direito humano fundamental, inserido na Constituição da Mongólia e fomentado pelos seus cidadãos porque levando ao pleno desenvolvimento da pessoa humana, permite-lhes procurar a verdade, comprometer-se no diálogo e também cumprir o próprio dever de louvar a Deus, livres de qualquer coerção indevida.

A oportunidade para os seguidores das diferentes religiões de falar e de ouvir uns aos outros desempenha um papel vital no fortalecimento da família humana. O Senhor Embaixador mencionou a iniciativa intrépida de Gengis Khan no século XIII, para convidar muçulmanos, cristãos, budistas e taoístas a viver em conjunto nas estepes da Mongólia: um gesto que continua a encontrar expressão na abertura do povo mongol, que valoriza os costumes religiosos transmitidos de geração em geração, e que manifesta um profundo respeito pelas tradições que são diferentes das suas. Esta honestidade religiosa tornou-se particularmente evidente quando a Mongólia emergiu de anos de opressão sob o regime totalitário. Neste período de maior paz e estabilidade, encorajo sinceramente a criação de espaços que facilitem o intercâmbio amistoso de ideias a propósito da religião e da maneira de contribuir para o bem da sociedade civil. As pessoas que praticam a tolerância religiosa têm a obrigação de compartilhar a sabedoria deste princípio com a humanidade inteira, de tal forma que assim todos os homens e mulheres possam compreender a beleza da coexistência pacífica e tenham a coragem para edificar uma sociedade que respeite a dignidade humana e trabalhe em conformidade com a ordem divina de amar o próximo (cf.
Mc 12,32).

Excelência, este espírito de cooperação fraterna ajudará a Mongólia na sua luta para alcançar as finalidades do desenvolvimento nos anos vindouros. Como o Senhor Embaixador observou, entre elas a primeira é a redução da pobreza e do desemprego. Tais finalidades são inseridas num âmbito de crescimento económico geral e de distribuição equitativa dos bens, que o seu país deseja promover a longo prazo. Os valores da honestidade e da confiança no mercado, sustentados pelo povo mongol, constituem um sólido fundamento para alcançar estas finalidades. Os critérios para elaborar programas nesta direcção devem reflectir a justiça social e também comutativa (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 303); eles devem ter em consideração o valor objectivo do serviço prestado, da dignidade dos indivíduos que o realizam, das diversificadas necessidades dos cidadãos e do mérito que justamente corresponde à qualidade do trabalho realizado (cf. Centesimus annus CA 35).

A Mongólia é um país que reconhece que o bem-estar do homem não pode ser medido unicamente em termos de riqueza. A conquista da educação cujos indicadores confiáveis são as realizações literárias e artísticas é também uma característica essencial de uma sociedade florescente. Aprecio o facto de que o seu país tem salientado a necessidade de ampliar as oportunidades educativas, para o melhoramento de toda a sua população. Sem dúvida, os sistemas educativos não devem descuidar a formação tecnológica, que permite aos estudantes obter e conservar um emprego remunerado nesta época de rápida globalização e progresso tecnológico. Ao mesmo tempo, uma educação integral diz respeito ao homem no seu conjunto, e não simplesmente na sua capacidade de produzir. De modo particular, os jovens merecem uma formação espiritual e intelectual completa, que abra os seus olhos para a dignidade de cada pessoa humana e os leve a cultivar as virtudes necessárias para se colocarem por sua vez ao serviço da humanidade inteira. Por conseguinte, encorajo as iniciativas tomadas pelo seu governo para aumentar o acesso à educação e para a sustentar com uma ideia clara do que é genuinamente bom para os seres humanos.

Por sua vez a comunidade católica, não obstante ainda seja pequena na Mongólia, sente-se orgulhosa por oferecer a sua assistência na promoção do diálogo inter-religioso e do desenvolvimento, em vista do aumento das oportunidades educativas e da obtenção das nobres finalidades que consolidam a solidariedade da família humana e contemplam a acção do divino no mundo. Embora reconheça a devida autonomia da comunidade política, a Igreja católica sente-se impelida a cooperar com a sociedade civil de formas adequadas às circunstâncias do tempo e do lugar em que as duas se encontram a viver juntas.

Portanto estou-lhe grato, Senhor Embaixador, por garantir de bom grado que a Mongólia deseja continuar a desenvolver os resultados alcançados através das relações diplomáticas entre a sua nação e a Santa Sé. No momento em que Vossa Excelência dá início à sua missão, garanto-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estão prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres, enquanto invoco sobre o Senhor Embaixador, sobre os membros da sua família e sobre todos os cidadãos da Mongólia, as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.






À SENHORA CHITRA NARAYANAN NOVA EMBAIXADORA DA ÍNDIA JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

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Senhora Embaixadora

É-me grato dar-lhe as boas-vindas e aceitar as Cartas que a acreditam como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República da Índia junto da Santa Sé. Enquanto lhe agradeço as gentis palavras que Vossa Excelência me dirigiu em seu nome e em nome do seu governo, pedir-lhe-ia que comunicasse as minhas respeitosas saudações a Sua Excelência a Senhora Pratibha Patil, Presidente da República, e ao reeleito Primeiro-Ministro, Sua Excelência o Senhor Manmohan Singh, garantindo-lhes as minhas preces pelo seu bem-estar, assim como de toda a população da Índia.

A Índia é uma terra fértil, com uma antiga sabedoria. O seu povo, em representação de numerosas religiões e culturas diferentes, é sensível à necessidade de consciência, integridade e coexistência harmoniosa com o próximo, para o bem-estar pessoal e social de todos. A imensa variedade que existe dentro das suas fronteiras abre uma vasta gama de possibilidades para o diálogo entre filosofias e tradições religiosas, comprometidas na abordagem das problemáticas mais profundas da vida. A promoção destes diálogo não só enriquece a sua nação, mas serve também de exemplo para os outros, em toda a Ásia e efectivamente no mundo inteiro.

Não obstante as dificuldades financeiras que hoje estão a ser enfrentadas por toda a comunidade mundial, contudo a Índia alcançou níveis económicos notáveis ao longo dos últimos anos. Outras nações hauriram inspiração da diligência, do engenho humano e da clarividência que contribuíram para o crescimento do seu país. Maior prosperidade exige uma vigilância mais acentuada, em vista de assegurar que os pobres sejam salvaguardados da exploração através de mecanismos incontroláveis da economia, que com frequência tendem para beneficiar unicamente uma pequena elite. É daqui que haure a sua motivação o ambicioso programa de trabalho rural do seu país, destinado a ajudar as pessoas mais desvantajadas especialmente os camponeses mais pobres a receberem uma remuneração de subsistência, participando nos projectos de construção e noutras iniciativas de cooperação. Programas como este demonstram que o trabalho nunca constitui um mero serviço, mas é especificamente uma actividade humana. Por conseguinte, eles devem ser realizados de maneira a fomentar a dignidade humana e a rejeitar qualquer tentação de favoritismo, corrupção ou fraude.

A este propósito, o princípio de subsidiariedade é um valor especial. A sociedade que permite que as organizações subordinadas realizem as actividades que lhes são próprias, encoraja os cidadãos a desempenharem um papel activo na edificação do bem comum, colocando-se ao serviço do próximo e comprometendo-se na resolução das diferenças de maneira justa e pacífica. A subsidiariedade pressupõe e ao mesmo tempo promove a responsabilidade individual, unindo todos os membros da sociedade para que fomentem o bem do próximo como se fosse o próprio. Embora as estruturas burocráticas sejam necessárias, é preciso ter em mente que os vários níveis de governo nacional, regional e local estão orientados para o serviço dos cidadãos, dado que elas mesmas são administradas pelos cidadãos.

Os sistemas democráticos de governo devem ser controlados por uma vasta participação social. Tendo acabado de realizar uma importante série de eleições nacionais, a Índia demonstrou ao mundo que este principal processo democrático não só é possível, mas pode também concretizar-se numa atmosfera de civilidade e de paz. Enquanto os neoeleitos estão a enfrentar os desafios que se lhes apresentam, estou persuadido de que o mesmo espírito de cooperação paciente há-de prevalecer, sustentando-os na sua grave responsabilidade de delinear as leis e de definir a política social. Possam eles estar prontos para subordinar os interesses particulares, inserindo-os no contexto mais vasto do bem comum, que é uma finalidade essencial e indispensável da autoridade política (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 409).

Senhora Embaixadora, como Sumo Pastor da Igreja católica, uno-me aos líderes religiosos e governamentais do mundo inteiro, que compartilham o desejo comum de que todos os membros da família humana gozem da liberdade e para praticar a religião, participando na vida civil sem medo de repercussões adversas por causa do seu credo. Por conseguinte, não posso deixar de expressar a minha profunda solicitude pelos cristãos que têm padecido devido à explosão de violência em determinadas áreas no interior das fronteiras do seu país. Hoje tenho a oportunidade de manifestar o meu apreço pelos esforços que o seu país tem envidado em vista de oferecer aos aflitos alojamento e assistência, alívio e reabilitação, assim como pelas medidas que estão a ser tomadas para implementar as investigações dos crimes cometidos e realizar processos judiciais justos para resolver estas questões. Dirijo o meu apelo a todos, a fim de que demonstrem respeito pela dignidade humana, rejeitando o ódio e renunciando à violência em todas as suas formas.

Por sua vez, a Igreja católica que está no seu país continuará a desempenhar um papel na promoção da paz, da harmonia e da reconciliação entre os seguidores de todas as religiões, de maneira especial através da educação e da formação nas virtudes da justiça, da tolerância e da caridade. Efectivamente, esta é a finalidade inerente de todas as formas genuínas de educação, uma vez que em conformidade com a dignidade da pessoa humana e com a vocação de todos os homens e de todas as mulheres a viverem em comunidade elas têm em vista a promoção das virtudes morais e a preparação dos jovens, para que assumam as suas responsabilidades sociais com uma requintada sensibilidade por aquilo que é bom, justo e nobre.

Senhora Embaixadora, no momento em que assume as suas responsabilidades no seio da comunidade diplomática junto da Santa Sé, transmito-lhe os meus melhores votos pelo bom êxito do cumprimento da sua excelsa missão. Garanto-lhe que os diversos departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos para a ajudar. Sobre Vossa Excelência e sobre o amado povo da Índia, invoco as abundantes bênçãos divinas.




AO SENHOR CHARLES BORROMÉE TODJINOU NOVO EMBAIXADOR DA BENIM JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

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Senhor Embaixador

Estou feliz por receber Vossa Excelência no Vaticano, no momento em que apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Benim junto da Santa Sé. Expresso-lhe a minha gratidão pelas amáveis palavras que Vossa Excelência me dirigiu, assim como pela calorosa mensagem que me comunicou da parte de Sua Excelência o Senhor Boni Yayi, Presidente da República. Por minha vez, na feliz recordação da visita que ele me prestou no Vaticano, tenha a amabilidade de lhe transmitir os meus agradecimentos e a certeza dos meus votos cordiais por toda a nação, a fim de que ela progrida com coragem pelos caminhos do desenvolvimento humano e espiritual.

Como o Senhor Embaixador ressaltou no seu discurso, a actual crise financeira mundial corre o risco de comprometer os esforços louváveis realizados por numerosos países para o seu desenvolvimento. Deste modo, é necessário como nunca que todos os componentes da nação trabalhem em conjunto ao serviço do bem comum. Por conseguinte, isto exige que se instaure uma democracia autêntica, assente numa concepção correcta da pessoa humana. Durante os últimos anos, o seu país comprometeu-se de maneira intrépida ao longo deste caminho, especialmente com o apoio da Igreja católica e de outros componentes religiosos. O desenvolvimento de tal processo de democratização constitui uma garantia para a paz social, a estabilidade e a unidade do país, se se alicerçar sobre a dignidade de cada pessoa, o respeito pelos direitos do homem e o "bem comum" aceite como finalidade e critério para regular a vida política (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 407). Nesta perspectiva, o estabelecimento de um diálogo sincero entre as pessoas e entre as Instituições reveste uma grande importância.

Gostaria de manifestar igualmente o meu apreço pelo compromisso do seu país em prol da consolidação da paz e da estabilidade nas diversas regiões do mundo. Esta característica de solidariedade para com as nações provadas, nomeadamente na África, é uma contribuição notável para a promoção dos valores de bem, de verdade e de justiça, e para a defesa de vidas inocentes. A busca da paz e da reconciliação constitui uma fundamental responsabilidade para aqueles que tem o dever de governar as nações, uma vez que a violência, que nunca resolve os problemas, é um atentado inaceitável contra a dignidade do homem.

Senhor Embaixador, a sua presença aqui na manhã de hoje dá testemunho das boas relações existentes entre o Benim e a Santa Sé. Neste contexto, permita-me evocar aqui a eminente obra realizada pelo Cardeal Bernardin Gantin, da qual a vida da comunidade católica do seu país recebeu um impulso especial e cuja personalidade é sempre respeitada e admirada por todos os beninenses. Possa o seu compromisso generoso em prol da Igreja, do Benim e da África permanecer para muitos dos seus concidadãos um exemplo de abnegação e de entrega de si mesmo pelo próximo!

Como Vossa Excelência salientou, o Benim é uma terra de acolhimento, de hospitalidade e de tolerância. Arraigada no povo beninense desde há muitos anos, a Igreja católica dá continuidade à obra empreendida ao serviço da nação, oferendo deste modo a contribuição que lhe é própria para o desenvolvimento do país nos numerosos sectores, especialmente nos campos da educação, da saúde e da promoção humana. Deste modo, ela tenciona associar-se ao esforço nacional a fim de que cada um, assim como cada família, possa viver com dignidade. Esta participação da Igreja na vida social é uma parte importante da sua missão. Com efeito, porque deseja anunciar e actualizar o Evangelho no coração das relações sociais, a Igreja não pode permanecer indiferente diante de nenhuma das realidades que constituem a vida dos homens. Por conseguinte, regozijo-me por saber que estas obras da Igreja são apreciadas pela população e que elas recebem inclusive o apoio das Autoridades.

Deve ser também encorajador o desenvolvimento de relações harmoniosas entre os católicos e os membros das demais religiões, que no seu país são geralmente feitas de compreensão recíproca. As diversidades culturais ou religiosas devem permitir um enriquecimento qualitativo de toda a sociedade. Como tive a oportunidade de dizer recentemente, "em conjunto temos o dever de demonstrar, pelo nosso respeito e a nossa responsabilidade mútuos, que nos consideramos membros de uma única família: a família que Deus amou e reuniu, desde a criação do mundo até ao fim da história humana" (Discurso aos participantes do fórum católico-muçulmano, 6 de Novembro de 2008). Por conseguinte, é desejável que um conhecimento recíproco cada vez mais verdadeiro e lúcido permita a expressão de um entendimento sobre os valores fundamentais, especialmente aqueles que dizem respeito à salvaguarda e à promoção da vida e da família, assim como uma cooperação em tudo aquilo que fomenta o bem-estar comum.

Senhor Embaixador, permita-me saudar por seu intermédio a comunidade católica do seu país, unida ao redor dos seus Bispos. Faço votos a fim de que os católicos sejam no meio do povo beninense semeadores de esperança e de paz. Convido-os a colaborar com todos para edificar uma sociedade cada vez mais solidária e fraternal.

Neste dia em que Vossa Excelência dá início à sua missão junto da Sé Apostólica, desejo formular-lhe os meus melhores votos de bom êxito e asseguro-lhe que encontrará junto dos meus colaboradores a compreensão e o apoio para o seu feliz cumprimento.

Invoco do íntimo do coração sobre a sua pessoa, a sua família, os seus colaboradores e inclusive sobre todos os beninenses e os seus governantes, a abundância das Bênçãos de Deus Omnipotente.




AO SENHOR ROBERT CAREY MOORE-JONES NOVO EMBAIXADOR DA NOVA ZELÂNDIA JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DA CARTAS CREDENCIAIS Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

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Senhor Embaixador

É-me grato recebê-lo no Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais que o nomeiam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Nova Zelândia junto da Santa Sé. Pedir-lhe-ia a cortesia de transmitir ao Governador-Geral, ao Primeiro-Ministro Senhor John Key e ao seu governo, assim como a todo o povo da Nova Zelândia, os meus sinceros bons votos e a certeza das minhas preces pelo bem-estar do país.

O compromisso da Igreja a favor da sociedade civil está ancorado na sua convicção de que o autêntico progresso humano como indivíduos ou comunidades depende do reconhecimento da dimensão espiritual que é própria de cada pessoa. É de Deus que os homens e as mulheres recebem a sua dignidade essencial (cf.
Gn 1,27), assim como a capacidade de transcender os interesses particulares para procurar a verdade e a bondade e deste modo encontrar a razão e o significado das suas vidas. Esta ampla perspectiva oferece uma moldura em que é possível contrastar qualquer tendência a adoptar abordagens superficiais para uma política social que se preocupa unicamente com os sintomas das inclinações negativas na vida familiar e no seio das comunidades, e não pelas suas raízes. Com efeito, quando se ilumina o cerne espiritual da humanidade, os indivíduos são levados para além de si mesmos, para ponderar sobre Deus e sobre as maravilhas da vida humana: o ser, a verdade, a beleza, os valores morais e os relacionamentos que respeitam a dignidade do próximo. Deste modo pode-se encontrar um fundamento sério para unir a sociedade e sustentar uma visão comum de esperança.

Os jovens de Aotearoa justamente gozam de uma reputação pela sua generosidade e por um sentido intenso do que é justo. Apreciando os numerosos privilégios que lhes são oferecidos, eles empenham-se prontamente nos trabalhos de voluntariado e no serviço ao próximo, enquanto aproveitam as grandes oportunidades que lhes são oferecidas para a realização pessoal e o desenvolvimento cultural e académico. A Jornada Mundial da Juventude, realizada pela primeira vez na Oceânia no ano passado, deu-me a oportunidade de experimentar um pouco do espírito de milhares de jovens neozelandeses que nela participaram. Rezo para que esta nova geração de cristãos na Nova Zelândia orientem o seu entusiasmo para forjar amizades além das divisões e para criar espaços de fé viva no nosso mundo e para o nosso mundo, como contextos de esperança e de caridade prática. Deste modo, eles conseguem ajudar outros jovens que podem ser desorientados pela ilusão de promessas falsas de felicidade e de realização, ou que se encontram a lutar às margens da sociedade.

Excelência, a diversidade cultural oferece uma grande riqueza ao tecido social da Nova Zelândia de hoje. A presença contínua no vosso litoral de comunidades de migrantes de diversas tradições religiosas, além da aumentada participação do seu governo nos assuntos do Pacífico e da Ásia, tem despertado a consciência dos frutos que podem ser alcançados através do diálogo inter-religioso. Com efeito, não há muito tempo, a sua nação foi a sede do terceiro Diálogo interconfessional regional da Ásia e do Pacífico, realizado na histórica sede de Waitangi. No entanto, alguns continuam a questionar o lugar da religião na esfera pública e têm dificuldade de imaginar como é que ela pode servir a sociedade, de maneira particular numa cultura altamente secular. Naturalmente, isto aumenta a responsabilidade dos fiéis, de dar testemunho do significado da relação essencial de cada homem e de cada mulher com Deus, à imagem da qual foram criados. Quando o dom divino da razão humana é exercido em referência à verdade que Ele nos revela, os nossos poderes de reflexão são adornados com a sabedoria e deste modo vão além do empírico e do fragmentário e, ao contrário, dão expressão às nossas mais profundas aspirações humanas comuns. Desta maneira o debate público, em vez de permanecer fechado no horizonte estreito de grupos de interesses particulares, é ampliado e torna-se responsável pela fonte do bem comum e da dignidade de cada um dos membros da sociedade. Longe de ameaçar a tolerância das diferenças ou da pluralidade cultural, a verdade torna possível o consenso, assegura que as opções políticas sejam determinadas por princípios e valores, e enriquece a cultura com tudo aquilo que é bom, nobre e justo.

A actividade diplomática da Nova Zelândia, predominante no Pacífico e considerada na Ásia e mais além, é caracterizada por um forte compromisso na justiça e na paz, no bom governo, no desenvolvimento económico e na promoção dos direitos humanos. O empenhamento generoso de pessoas dedicadas a iniciativas de manutenção da paz pode ser encontrado das Ilhas Salomão até ao Sudão, e as abordagens inovativas da Nova Zelândia à assistência estrangeira incluem o notável e recente exemplo do desenvolvimento do ecoturismo no Afeganistão. Como Vossa Excelência indicou, a Santa Sé tem trabalhado estreitamente com a Nova Zelândia no desenvolvimento da Convenção sobre a proibição das munições de fragmentação; uma conquista que explica muito bem a necessidade da ética, que deriva da verdade a respeito da pessoa humana, para permanecer no centro de todas as relações internacionais, inclusive nas de defesa.

Senhor Embaixador, a Igreja católica que está na Nova Zelândia continua a fazer tudo o que pode para promover os fundamentos cristãos da vida cívica. Ela está profundamente empenhada na formação espiritual e intelectual dos jovens, de maneira especial através das suas escolas. Além disso, as suas obras caritativas incluem as pessoas que vivem marginalizadas na sociedade, e estou convicto de que, mediante a sua missão de serviço, ela há-de enfrentar generosamente os novos desafios sociais, na medida em que eles se apresentarem. A este propósito, desejo aproveitar este ensejo para manifestar a minha proximidade espiritual àquelas famílias que na Nova Zelândia, assim como no mundo inteiro, estão a sofrer por causa dos efeitos da actual incerteza económica. Penso particularmente naqueles que perderam o seu trabalho e nos jovens que têm dificuldade em obter um emprego.

Excelência, estou persuadido de que a sua nomeação contribuirá para fortalecer ulteriormente os vínculos de amizade que já existem entre a Nova Zelândia e a Santa Sé. No momento em que Vossa Excelência está a assumir as suas novas responsabilidades, há-de descobrir que a diversificada gama de departamentos da Cúria Romana estará pronta para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e sobre os seus compatriotas, invoco cordialmente as abundantes Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




AO SENHOR GEORGE JOHANNES NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

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Excelência

É com prazer que lhe apresento as boas-vindas ao Vaticano e que recebo as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da África do Sul junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis saudações e os sentimentos de boa vontade que Vossa Excelência manifestou em nome do Presidente, Senhor Jacob Zuma. Retribuo de bom grado, enquanto lhe peço que tenha a cortesia de transmitir as minhas congratulações e os meus bons votos a Sua Excelência, no momento em que toma posse do cargo de Presidente, mas também às autoridades civis e ao povo do seu país.

A transição rápida e pacífica da África do Sul para o governo democrático foi amplamente aclamada, e a Santa Sé tem acompanhado com interesse e encorajamento este histórico período de transformação. Ninguém pode duvidar que uma boa parte do crédito pelo progresso alcançado é devida à maturidade política e às qualidades humanas extraordinárias do ex-Presidente, Senhor Nelson Mandela. Ele foi um promotor do perdão e da reconciliação, e goza de um grande respeito tanto no seu país como no seio da comunidade internacional. Pedir-lhe-ia cordialmente que lhe transmitisse os meus bons votos pela sua saúde e bem-estar. Desejo reconhecer inclusive a contribuição de todos aqueles numerosos homens e mulheres comuns, cuja integridade, reflectida na sua abordagem honesta do trabalho, também ajudou a lançar os fundamentos para um futuro de paz e de prosperidade para todos.

O tamanho do seu país, a sua população e os seus recursos económicos, assim como a generosidade do seu povo faz da África do Sul uma das nações mais influentes no continente. Isto confere-lhe uma oportunidade singular para ajudar outros países africanos nos seus esforços para alcançar a estabilidade e o progresso económico. Tendo superado o isolamento associado à época do Apartheid, e ao mesmo tempo haurindo desta sua experiência dolorosa, o seu país tem envidado esforços louváveis para realizar a reconciliação também em outras terras, através das suas forças de manutenção da paz e das suas iniciativas diplomáticas. Países como Ruanda, Angola, Moçambique, Malavi e Zimbábue têm beneficiado desta assistência. Encorajo a África do Sul a fortalecer o seu compromisso na nobre tarefa de assistência às demais nações, ao longo do caminho da paz e da reconciliação, de maneira especial nesta época de dificuldade económica, para continuar a lançar mão aos seus consideráveis recursos humanos e materiais de modo a orientá-los para o bom governo e a prosperidade dos países vizinhos. Sem dúvida, encontram-se numerosos desafios ao longo desta vereda, entre os quais o grande número de refugiados nesta região não é o menos significativo. Contudo, estou convicto de que estas dificuldades podem continuar a ser enfrentadas no mesmo espírito de solidariedade e generosidade já demonstrado pelos sul-africanos.

O Senhor Embaixador discorreu acerca de alguns dos desafios sociais que o seu país está a enfrentar e sobre os planos de desenvolvimento que estão a ser delineados para os resolver. A pobreza contínua e a carência de serviços básicos e de oportunidades de emprego estão presentes em determinadas áreas, dando origem a numerosos outros problemas, inclusive a violência e a insegurança, o abusos de substâncias, as tensões étnicas e a corrupção. A angústia e a agressividade causadas pela pobreza, pelo desemprego e pela ruptura familiar tornam ainda mais urgentes os esforços realizados pelo governo para resolver estas dificuldades. A este propósito, encoraja-me observar os esforços que estão a ser realizados, em vista de garantir as condições necessárias para atrair investimentos internacionais e criar maiores oportunidades para a educação e o emprego, de modo especial para os seus jovens.

No seu discurso, Vossa Excelência fala sobre a grande conquista do governo democrático universal como o fundamento de uma vida melhor para todos. O povo da África do Sul tem demonstrado uma coragem moral e uma sabedoria grandiosas diante das injustiças cometidas no passado. Estou convencido de que na actual luta contra a pobreza e a corrupção, esta coragem e esta sabedoria haverão de prevalecer de novo. Justamente, o seu governo está a promover o progresso dos serviços de saúde e de educação juntamente com o desenvolvimento económico sustentável, procurando erradicar a pobreza e consolidar um clima de segurança. As famílias deveriam ser ajudadas nas suas necessidades e reconhecidas como os agentes indispensáveis na construção de uma sociedade sadia, enquanto as crianças e os jovens têm o direito de ver realizado o seu desejo de uma escolarização de qualidade, de exercer actividades extracurriculares e a oportunidade de encontrar o lugar que lhes compete no mundo do trabalho. A corrupção tem o efeito de desanimar as iniciativas comerciais e os investimentos, levando também os indivíduos à desilusão. Por conseguinte, o dinamismo que a África do Sul introduziu na luta contra a corrupção é extremamente importante e deve ser reconhecido e corroborado por todos os cidadãos. Cabe aos líderes cívicos, em particular, garantir que a luta para erradicar a corrupção seja realizada com imparcialidade, e acompanhada pelo respeito por um poder judiciário independente e pelo desenvolvimento constante de uma força policial altamente profissional. Ofereço o meu encorajamento para estas tarefas tão desafiadoras, e estou persuadido de que os obstáculos continuarão a ser superados.

A Igreja católica está convicta de que os serviços que ela oferece nos sectores da educação, dos programas sociais e de assistência à saúde têm um impacto positivo na vida do país. Ela contribui para a fibra moral da sociedade, defendendo a integridade, a justiça e a paz, e ensinando o respeito pela vida desde a concepção até à morte natural. De maneira particular, a Igreja católica desempenha seriamente o seu papel na campanha contra a difusão do vih/sida, ressaltando a fidelidade no matrimónio e a abstinência extraconjugal. Ao mesmo tempo, ela já está a oferecer uma grande assistência a nível prático às pessoas que sofrem deste mal, tanto no seu continente como no mundo inteiro. Encorajo os indivíduos e as instituições do seu país a continuar a oferecer o próprio apoio quer na pátria quer na região a todos aqueles que procuram aliviar o sofrimento humano através da pesquisa, da assistência concreta e do apoio espiritual.

Senhor Embaixador, formulo-lhe votos de todo o bom êxito na sua missão e asseguro-lhe a disponibilidade da cooperação por parte dos departamentos da Cúria Romana. Possa o Deus Todo-Poderoso derramar sobre Vossa Excelência, sobre a sua família e a nação representada pelo Senhor Embaixador, as abundantes Bênçãos de bem-estar e de paz!





Discursos Bento XVI 29509