Discursos Bento XVI 29559

AO SENHOR BEYON LUC ADOLPHE TIAO NOVO EMBAIXADOR DO BURKINA FASO JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

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Senhor Embaixador

É-me grato recebê-lo no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Burkina Faso junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as corteses palavras que me dirigiu, assim como os deferentes bons votos que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Senhor Blaise Compaoré, Presidente da República. Em contrapartida, tenha a amabilidade de se fazer intérprete da minha mais alta consideração pela sua pessoa e pelo povo burkinense, ao qual faço votos a fim de que viva na paz e na fraternidade.

Senhor Embaixador, a crise económica que actualmente o mundo está a viver torna ainda mais frágil as economias africanas e as famílias vêem o crescimento das suas dificuldades, nomeadamente em função do aumento da pobreza, do desemprego e das enfermidades. Neste contexto, os jovens são levados também a partir para longe dos seus países em busca de um futuro melhor e para ajudar as respectivas famílias. Desejo profundamente que uma solidariedade autêntica se manifeste entre os países desenvolvidos e os países mais pobres. É particularmente indispensável, em momentos de crise, que a ajuda ao desenvolvimento não diminua, mas que as promessas feitas numerosas vezes sejam efectivamente concretizadas. No entanto, como já tive a oportunidade de o dizer por ocasião da minha recente viagem apostólica à África, "os próprios Africanos, trabalhando em conjunto para o bem das suas comunidades, devem ser os primeiros protagonistas do seu desenvolvimento" (Luanda, 20 de Março de 2009). Assim poderão ser tomados em consideração os autênticos valores dos povos africanos e poderá ser evitado que eles não sejam simples destinatários de programas elaborados por terceiros. Nesta perspectiva, alegro-me pelo serviço importante que está a ser realizado pela Fundação João Paulo II para o Sahel, que acaba de celebrar em Ouagadougou o vigésimo quinto aniversário da sua existência. Ela constitui um sinal eloquente da solidariedade da Igreja católica para com os países do Sahel, particularmente atingidos pela seca, a fome e a desertificação, e da sua participação efectiva na luta contra aqueles males que são um atentado a uma vida digna das populações.

Para que se possa realizar um verdadeiro desenvolvimento da sociedade, o restabelecimento da concórdia e da segurança na região, no qual o seu país está particularmente interessado, é de uma importância essencial. Os resultados já alcançados demonstram que é unicamente mediante um diálogo paciente que as diferenças se podem resolver, e que se estabelecem a paz e a justiça. Gostaria de encorajar os homens e as mulheres apreciadores da paz e particularmente as pessoas que ocupam lugares de responsabilidade na sociedade, a dar continuidade com coragem aos seus esforços para que a estabilidade e a tranquilidade reencontradas permitam consolidar os relacionamentos de fraternidade e de solidariedade entre os povos da região, numa profunda confiança recíproca.

Como o Senhor Embaixador sublinhou, através das suas obras nos campos da saúde, da educação ou da acção social, a Igreja católica está profundamente comprometida na sociedade burkinense. Mediante o seu serviço à população, ela deseja contribuir, no que lugar que lhe é próprio, para enfrentar os numerosos e importantes desafios que as famílias devem enfrentar. Deste modo, a salvaguarda dos valores familiares deve ser para todos uma preocupação importante, uma vez que a família representa o primeiro pilar do edifício social. Por conseguinte, as manifestações de uma degradação do tecido familiar não podem senão conduzir a situações em que as vítimas serão com frequência as crianças e os jovens. A educação e a formação das jovens gerações são também de uma importância primordial para o porvir da nação. Diante das dificuldades da vida, é necessário que a sociedade ofereça aos mais jovens motivos para viver e esperar.

Para contribuir para a edificação da nação, a consolidação dos laços de amizade entre todos os fiéis constitui uma tarefa que deve continuar incessantemente. Regozijo-me particularmente com os bons relacionamentos e as colaborações que, no seu país, se têm desenvolvido desde há muitos anos entre os cristãos e os muçulmanos. Procurando uma compreensão cada vez melhor, no respeito mútuo, e rejeitando toda e qualquer forma de violência e de intolerância, os fiéis oferecem a Deus um testemunho eloquente e fazem progredir o bem comum.

Senhor Embaixador, na conclusão deste encontro gostaria de saudar por seu intermédio também os Bispos do Burkina Faso, assim como todos os membros da comunidade católica, cujo dinamismo conheço. Quando nos preparamos para celebrar a segunda Assembleia sinodal para a África do Sínodo dos Bispos, convido-os de maneira particular a acompanhar com a sua oração a preparação e o desenvolvimento deste grandioso acontecimento eclesial e a ser, em colaboração com todos os seus compatriotas, artífices de reconciliação, de justiça e de paz.

No momento em que inaugura a sua missão junto da Santa Sé, Senhor Embaixador, que o acompanhem os meus bons votos pelo seu feliz cumprimento. Enquanto desejo que as relações harmoniosas já existentes entre o Burkina Faso e a Santa Sé continuem e sejam desenvolvidas — a recente abertura de uma Nunciatura Apostólica em Ouagadougou é disto um sinal positivo — asseguro-lhe a disponibilidade dos meus colaboradores, junto dos quais Vossa Excelência encontrará sempre um acolhimento atento e uma compreensão cordial.

Sobre Vossa Excelência, a sua família e os seus colaboradores de Embaixada, e também sobre os responsáveis e todos os habitantes do Burkina Faso, invoco que o Todo-Poderoso derrame a abundância dos seus Benefícios.




AO SENHOR NEVILLE MELVIN GERTZE NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DA NAMÍBIA JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

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Sexta-feira, 29 de Maio de 2009


Excelência

Estou feliz por lhe dar as boas-vindas ao Vaticano e por receber as Cartas Credenciais através das quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Namíbia junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelas amáveis expressões que me comunicou da parte do Presidente da República, Sua Excelência o Senhor Hifikepunye Pohamba. Peço-lhe a cortesia de lhe transmitir a minha gratidão e os meus bons votos. Gostaria de lhe pedir também a amabilidade de dirigir as minhas saudações aos membros do governo, às autoridades civis e a todos os seus concidadãos.

As relações diplomáticas entre a Santa Sé e os países individualmente servem para criar uma moldura em que os interesses comuns são abordados e salvaguardados enquanto, ao mesmo tempo, oferecem a ambas as partes oportunidades para promover os valores comuns nos planos nacional e internacional. Estou satisfeito com a cooperação que em tão pouco tempo alcançou numerosos resultados positivos tanto para a Santa Sé como para a Namíbia.

Como o Senhor Embaixador bem sabe, a África apresenta um diversificado panorama de realidades políticas, sociais e económicas. Algumas delas são histórias de sucesso, outras não corresponderam às expectativas das populações que tais iniciativas deviam servir. A Namíbia tem uma história relativamente breve como membro da família das nações independentes. Os seus cidadãos e as suas autoridades eleitas têm beneficiado da observação dos exemplos de outros países. Isto às vezes levou a reconhecer a necessidade de proteger os recursos minerais e agrícolas da nação, e a subestimar a sua exploração racional e a sua utilização para o bem comum. Os esforços realizados em vista de levar a extracção do urânio e os processos industriais diamantíferos a serem controlados de maneira responsável são iniciativas positivas. Com efeito, a transparência, as práticas comerciais honestas e o bom governo são essenciais para um desenvolvimento económico sustentável. Estou feliz por ver que a Constituição do seu país inclui uma consciência clarividente das responsabilidades ecológicas do Estado. Enquanto o seu país continua a lutar por uma distribuição equilibrada da riqueza, que oferecerá maiores possibilidades de progresso para aqueles que são menos afortunados, encorajo a nação a continuar a percorrer o caminho do fortalecimento do bem comum, consolidando as instituições e as práticas democráticas e promovendo a justiça para todos.

Senhor Embaixador, a Santa Sé está convicta de que o seu país pode contribuir para alcançar desenvolvimentos positivos na África e na comunidade internacional. Em virtude da sua história de independência e de integração pacíficas, da sua unidade na diversidade e da sua gestão responsável dos recursos naturais, a Namíbia pode oferecer um exemplo para o desenvolvimento dos demais países. Além disso, é importante que a voz da Namíbia seja expressa nos encontros internacionais, uma vez que as actuais necessidades e aspirações do povo do seu continente devem ser apresentadas de forma objectiva e a partir de uma perspectiva africana, e não apenas em conformidade com os interesses dos outros.

A Igreja católica sente-se feliz por exercer a sua missão num clima de liberdade religiosa. A contribuição da Igreja para a vida cívica pode ser vista não só nas realizações dos cristãos ou das instituições individualmente, mas inclusive no impacto da sua mensagem. Anunciando o Evangelho e encorajando atitudes de fé, de esperança e de amor, a Igreja católica convida as pessoas a uma vida de virtude, corroborada por aquela força espiritual e moral que deriva da fé e é expressa na integridade e no uso responsável da liberdade, do respeito e da tolerância para com todos. As pessoas, especialmente os líderes políticos, económicos e culturais, que de um modo ou de outro se inspiram nestas ou em semelhantes perspectivas morais e espirituais, contribuem positivamente para o bem da sociedade nas suas dimensões social, económica e política.

A missão de evangelização da Igreja inclui um vigoroso testemunho de iniciativas generosas a favor das pessoas mais necessitadas. Como o Senhor Embaixador mencionou no seu pronunciamento, a Igreja na sua pátria tem desenvolvido ao longo dos anos uma vasta presença de comunidades e de instituições de boa vontade, dedicadas à atenção pastoral, à educação, à instrução profissional e à solicitude pelos indivíduos que vivem em situações de dificuldade. Através de escolas e de centros de formação especializada, mediante hospitais e instituições caritativas, a Igreja exerce aquele amor ao próximo expresso claramente no supremo mandamento. Rezo a fim de que as instituições católicas no seu país continuem a oferecer a sua experiência para a promoção e o desenvolvimento do povo da Namíbia, em conformidade com as necessidades presentes e futuras.

Estou consciente de que uma das prioridades na agenda do governo consiste em prestar maior atenção à saúde da população e de forma especial à necessidade de tratar as numerosas pessoas infectadas pelo VIH/SIDA. Nessa área, a Igreja continuará a oferecer de bom grado a sua assistência. Ela está convencida de que somente uma estratégia fundamentada na educação do indivíduo para a responsabilidade no contexto de uma visão moral da sexualidade humana, especialmente através da fidelidade conjugal, pode ter um impacto verdadeiro sobre a prevenção desta enfermidade. A Igreja tem o prazer de cooperar nesta tarefa, de modo particular no campo da educação, onde as novas gerações de jovens são formadas como membros activos e responsáveis da sociedade.

Senhor Embaixador, expressei livremente alguns pensamentos inspirados pela presente situação na sua nação, vista com amor pelo seu povo e com confiança no futuro da Namíbia. Faço votos pelo bom êxito na sua missão, enquanto o convido a valer-se da cooperação dos departamentos da Cúria Romana. Possa Deus Todo-Poderoso derramar sobre Vossa Excelência, a sua família e a nação representada pela sua pessoa, as abundantes e duradouras Bênçãos de bem-estar e de paz!






AO SENHOR ROLF TROLLE ANDERSEN NOVO EMBAIXADOR DO REINO DA NORUEGA JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

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Excelência


Tenho o prazer de lhe dar as boas-vindas ao Vaticano e de aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Noruega junto da Santa Sé. Gostaria de expressar a minha gratidão pelos bons votos que Vossa Excelência me transmite da parte do rei Harald V. Peço-lhe a cortesia de comunicar a Sua Majestade as minhas cordiais saudações, garantindo-lhe as minhas contínuas orações por todo o povo da sua nação. Parece-me particularmente oportuno que a cerimónia do dia de hoje, uma data importante nas nossas relações diplomáticas, tenha lugarnum momento próximo da celebração do vigésimo quinto aniversário da histórica visita que o Papa João Paulo II realizou aos países escandinavos.

O seu país não só é abençoado com um notável grau de prosperidade, mas tem uma história muito distinta de assistência a outras nações menos afortunadas do que ela. Na sequência das agitações financeiras dos últimos meses, a Noruega ofereceu rapidamente a sua assistência especializada a outros países, para os ajudar a suportar a tempestade, não obstante ela mesma esteja a sofrer a parte que lhe cabe das dificuldades económicas, como consequência da crise. Abrindo as suas portas a um significativo número de refugiados e imigrantes, durante muitos anos a Noruega tem demonstrado que é uma nação generosa e hospitaleira. Como Vossa Excelência observou, o efeito deste influxo sobre a sociedade norueguesa, e de maneira especial sobre a pequena comunidade católica, foi o de introduzir uma maior variedade cultural e étnica. Em contrapartida, isto tem estimulado uma maior reflexão sobre os pressupostos e os valores que governam hoje a vida na Noruega, e sobre o seu lugar no mundo moderno.

"Bem-aventurados os pacificadores!". Estas palavras de Jesus (
Mt 5,9) foram tomadas muito seriamente pelos noruegueses, cuja cultura foi fortemente modelada pela sua história cristã milenar. O compromisso da Noruega em prol da manutenção da paz é claramente exemplificado no seu empenhamento a alto nível na Organização das Nações Unidas, cujo primeiro Secretário-Geral, Senhor Trygve Lie, era originário da Noruega, como o são numerosos altos funcionários actuais. A Santa Sé aprecia enormemente a contribuição do seu país para a resolução de conflitos em algumas das regiões mais agitadas do mundo. Do Sri Lanka ao Afeganistão, do Sudão à Somália, do Chade à República Democrática do Congo, a Noruega tem desempenhado o seu papel, quer nas negociações de paz, quer exortando as partes interessadas a observar a lei internacional, quer na assistência humanitária, quer na ajuda para a reconstrução e a manutenção da paz, ou mesmo na promoção da democracia e na oferta de conselhos especializados a respeito da edificação de uma infra-estrutura social. Tendo regressado recentemente da minha viagem apostólica à Terra Santa, estou particularmente consciente do trabalho crucial que o seu país tem realizado na mediação dos acordos de paz entre Israel e a Autoridade Palestiniana. Faço votos e rezo a fim de que o espírito de reconciliação e a busca da justiça, que levaram à assinatura dos Acordos de Oslo, finalmente cheguem a prevalecer e a proporcionar uma paz duradoura aos povos dessa região tão atormentada.

Além destas preocupações humanitárias, os noruegueses levam muito a sério as necessidades do meio ambiente natural, dando ênfase particular ao desenvolvimento das fontes de energia renováveis e prestando atenção às causas e às consequências das mudanças climáticas. Uma característica da visão a longo prazo do seu país, para o bem do planeta e o bem-estar dos seus habitantes, é a iniciativa do chamado Global Seed Vault, destinado a garantir a sobrevivência de inúmeras variedades da flora, de tal maneira que, em particular as fontes alimentares vitais, possam ser salvaguardadas contra a possibilidade de extinção.

Em todas estas actividades, o seu país é motivado pelos valores éticos fundamentais, dos quais Vossa Excelência quis falar, valores estes que estão arraigados na cultura cristã da Noruega e que, por conseguinte, são fulcrais para as perspectivas e para as finalidades que ela partilha com a Santa Sé. Em menos de trinta anos de relações diplomáticas entre nós, muitos resultados foram alcançados. A estreita cooperação entre a Santa Sé e o Reino da Noruega — juntamente com outras nações — no delineamento e na ratificação das recentes convenções que proíbem as munições de fragmentação representa um bom exemplo. Também eu desejo ansiosamente promover e fortalecer ulteriormente as nossas excelentes relações, em muitos campos diferentes, para a promoção da visão ética que ambos compartilhamos, para a construção de um mundo mais humano e mais justo.

A nível nacional, a comunidade católica na Noruega, embora seja pequena, deseja ardentemente desempenhar o seu papel na vida da nação e fazer com que a sua voz seja ouvida no debate público. Mencionei precedentemente a profunda reflexão que hoje em dia se dedica aos pressupostos e aos valores que governam a sociedade norueguesa, e neste campo a comunidade católica, com o seu substancial património de ensinamento social, tem uma contribuição valiosa a oferecer. Como muitos países europeus hoje em dia, também a Noruega é cada vez mais interpelada a examinar as implicações do direito à liberdade religiosa no contexto de uma sociedade liberal e pluralista. Estou persuadido de que os elevados princípios éticos e a generosidade, tão característicos da actividade da Noruega no cenário internacional, também hão-de prevalecer a nível nacional, de tal maneira que todos os cidadãos do seu país serão livres de praticar a própria religião, e todas as diversificadas comunidades religiosas serão livres de disciplinar os seus assuntos em conformidade com os respectivos credos e sistemas jurídicos, contribuindo assim de maneira particular para o bem comum.

Excelência, enquanto lhe transmito os melhores votos para o bom êxito da sua missão, gostaria de lhe assegurar que os vários departamentos da Cúria Romana estão prontos para o ajudar e apoiar no cumprimento das suas obrigações. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo do Reino da Noruega, invoco cordialmente as abundantes Bênçãos de Deus.






AOS OITO NOVOS EMBAIXADORES JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 29 de Maio de 2009

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Excelências

É com alegria que vos recebo hoje de manhã, para a apresentação das Cartas que vos acreditam como Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários dos vossos respectivos países junto da Santa Sé: Mongólia, Índia, República do Benim, Nova Zelândia, República da África do Sul, Burkina Faso, Namíbia e Noruega. Estou-vos grato por me terdes transmitido as corteses palavras dos vossos respectivos Chefes de Estado. Peço-vos que tenhais a amabilidade de lhes comunicar, em contrapartida, as minhas cordiais saudações e os meus deferentes bons votos pelas suas pessoas e pelas suas altas missões ao serviço dos seus países e dos seus povos. Permito-me, de igual modo, saudar por intermédio de cada um de vós todas as Autoridades civis e religiosas das vossas nações, assim como os vossos compatriotas. Dirijo as minhas orações e os meus pensamentos, de maneira particular, às comunidades católicas presentes nos vossos respectivos países. Tende a certeza de que elas desejam colaborar fraternalmente para a edificação nacional oferecendo, na melhor das suas possibilidades, a própria contribuição alicerçada no Evangelho.

Senhora e Senhores Embaixadores, o compromisso ao serviço da paz e o fortalecimento das relações fraternas entre as nações está no âmago da vossa missão de diplomatas. Hoje, na crise social e económica que o mundo está a viver, é urgente tomar uma renovada consciência de que é necessário empreender uma luta, de maneira eficaz, para estabelecer uma paz autêntica em vista da construção de um mundo mais justo e mais próspero para todos. Efectivamente, as injustiças muitas vezes evidentes entre as nações, ou no seio das mesmas, assim como todos os processos que contribuem para suscitar divisões entre os povos ou para os marginalizar, constituem atentados perigosos contra a paz e criam sérios riscos de conflitos. Por conseguinte, todos nós somos chamados a oferecer a nossa contribuição para o bem comum e para a paz, cada qual segundo as suas próprias responsabilidades. Como escrevi na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz, no passado dia 1 de Janeiro, "uma das estradas mestras para construir a paz é uma globalização que tenha em vista os interesses da grande família humana. Mas, para guiar a globalização é preciso uma forte solidariedade global entre países ricos e países pobres, como também no âmbito interno de cada uma das nações, incluindo as ricas" (n. 8) A paz não pode ser construída, a não ser se procurarmos corajosamente eliminar as desigualdades geradas por sistemas injustos, a fim de garantir a todos um nível de vida que permita uma existência digna e próspera.

Estas desigualdades tornaram-se ainda mais evidentes por causa da actual crise financeira e económica, que se alastra através de diferentes canais nas nações onde o rendimento é baixo. Contento-me com mencionar alguns deles: a onda de investimentos estrangeiros, a diminuição da procura de matérias-primas e a tendência à diminuição da ajuda internacional. A isto, acrescenta-se o decréscimo das remessas de fundos enviadas às suas famílias que permaneceram no país, por parte dos trabalhadores emigrados, vítimas da recessão que aflige igualmente os países que os acolhem. Esta crise pode transformar-se em catástrofe humana para os habitantes de numerosos países frágeis. Aqueles que já vivem em condições de pobreza são os primeiros atingidos, uma vez que são os mais vulneráveis. Esta crise faz de igual modo cair na pobreza pessoas que até agora viviam de maneira decorosa, contudo sem ser abastadas. A pobreza aumenta e tem consequências graves e por vezes irreversíveis. Assim, a recessão gerada pela crise económica pode tornar-se uma ameaça para a existência de inúmeros indivíduos. As crianças são as suas primeiras vítimas inocentes, que é necessário proteger de maneira prioritária. A crise económica tem de igual modo outro efeito. O desespero que ela provoca conduz certas pessoas à busca angustiada de uma solução que lhes permita sobreviver quotidianamente. Às vezes, infelizmente, esta procura é acompanhada de actos individuais ou colectivos de violência que podem levar a conflitos internos que correm o risco de desestabilizar ainda mais as sociedade já debilitadas. Para enfrentar a actual situação de crise e encontrar uma solução para a mesma, determinados países decidiram não diminuir a sua ajuda às nações mais ameaçadas, propondo-se ao contrário aumentá-la. Seria oportuno que o seu exemplo fosse seguido por outros países desenvolvidos, a fim de permitir que as nações em necessidade sustentem a própria economia e consolidem as medidas sociais destinadas a proteger as populações mais necessitadas. Exorto a um suplemento de fraternidade e de solidariedade, e a uma generosidade global realmente vivida. Esta partilha exige que os países desenvolvidos voltem a encontrar o sentido da medida e da sobriedade na economia e no estilo de vida.

Senhora e Senhores Embaixadores, vós não ignorais que se têm manifestado novas formas de violência ao longo destes últimos anos, e que infelizmente elas se baseiam no Nome de Deus para justificar práticas perigosas. Conhecendo a debilidade do homem, Deus não lhe revelou porventura no Sinai estas palavras: "Não invocarás em vão o Nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixará de punir aquele que invocar em vão o seu Nome" (
Ex 20,7)? Tais exageros levaram às vezes a ver nas religiões uma ameaça para as sociedades. Então, elas são atacadas e desacreditadas, afirmando que elas não são factores de paz. Os responsáveis religiosos têm o dever de acompanhar os fiéis e de os esclarecer para que eles possam progredir em santidade e interpretar as palavras divinas na verdade. Portanto, convém favorecer o nascimento de um mundo no qual as religiões e as sociedades possam abrir-se umas às outras, e isto graças à abertura que elas mesmas praticam no seu seio e entre si. Isto ofereceria um autêntico testemunho de vida. Criaria um espaço que tornaria o diálogo positivo e necessário. Oferecendo ao mundo a contribuição que lhe é própria, a Igreja católica deseja dar testemunho de uma visão positiva do futuro da humanidade. Estou persuadido "da função insubstituível da religião para a formação das consciências e da contribuição que ela pode oferecer, com outras instâncias, para a criação de um consenso ético fundamental na sociedade" (Discurso no Eliseu, Paris, 12 de Setembro de 2008).

Senhora e Senhores Embaixadores, a vossa missão junto da Santa Sé está a começar. Vós haveis de encontrar nos meus colaboradores o apoio necessário para a cumprir positivamente. Formulo-vos de novo os meus votos mais cordiais para o bom êxito da vossa delicada função. Possa o Todo-Poderoso sustentar-vos e acompanhar-vos, a vós mesmos, aos vossos entes queridos, aos vossos colaboradores e todos os vossos compatriotas! Deus vos cumule com a abundância das suas bênçãos!





DIÁLOGO COM AS CRIANÇAS DA PONTIFÍCIA OBRA PARA A INFÂNCIA MISSIONÁRIA Sala Paulo VI

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Sábado, 31 de Maio de 2009


Chamo-me Anna Filippone, tenho doze anos, sou ministrante e venho da Calábria, da Diocese de Oppido Mamertina-Palmi. Papa Bento, o pai do meu amigo Giovanni é italiano e a mãe equatoriana, e ele é muito feliz. Pensas que as diversas culturas um dia poderão viver sem entrar em conflito em nome de Jesus?

Compreendi que desejais saber como fazíamos nós, quando éramos crianças, para nos ajudar reciprocamente. Tenho que dizer que vivi os anos da escola elementar numa pequena aldeia de 400 habitantes, muito distante dos grandes centros. Portanto, éramos um pouco ingénuos e nessa aldeia havia, por um lado, agricultores muito ricos e também outros menos ricos mas abastados e, por outro, pobres empregados, artesãos. Pouco antes do início da escola elementar a nossa família chegara a esse povoado vinda de outra cidade, portanto éramos um pouco estrangeiros para eles, e até o dialecto era diferente. Portanto, nessa escola reflectiam-se situações sociais muito diversas entre si. Contudo, havia uma bonita comunhão entre nós. Ensinaram-me o seu dialecto, que eu ainda não conhecia. Colaborámos bem e, tenho que admitir, às vezes naturalmente também discutíamos, mas depois reconciliávamo-nos e esquecíamos quanto tinha acontecido.

Isto parece-me importante. Por vezes na vida humana parece inevitável discutir; todavia, é sempre importante a arte da reconciliação, do perdão, do começar de novo e não deixar amargura na alma. Recordo-me com gratidão do modo como todos nós colaborávamos: um ajudava o outro e juntos percorríamos o nosso caminho. Todos nós éramos católicos, e isto era naturalmente uma grande ajuda. Assim, em conjunto, aprendemos a conhecer a Bíblia, a começar pela criação até ao sacrifício de Jesus na cruz, e depois também os primórdios da Igreja. Juntos aprendemos o catecismo, juntos aprendemos a rezar e juntos nos preparamos para a primeira confissão, para a primeira comunhão: aquele foi um dia maravilhoso! Compreendemos que o próprio Jesus vem até nós, e que Ele não é um Deus distante: entra na minha própria vida, na minha própria alma. E se o próprio Jesus entra em cada um de nós, somos irmãos, irmãs e amigos, e portanto temos que nos comportar como tais.

Para nós, esta preparação quer para a primeira confissão como purificação da nossa consciência e da nossa vida, quer também para a primeira comunhão como encontro concreto com Jesus que vem ter comigo, que vem ter com todos nós, foram factores que contribuíram para formar a nossa comunidade. Ajudaram-nos a caminhar juntos, a aprender em conjunto a reconciliar-nos quando era necessário. Fazíamos inclusive pequenos espectáculos: também é importante colaborar, prestar atenção uns aos outros. Depois, com oito ou nove anos tornei-me coroinha. Nessa época ainda não havia meninas coroinhas, mas elas liam melhor do que nós. Portanto, eram elas que liam as leituras da liturgia, e nós desempenhávamos a função de coroinhas. Nesse período ainda havia muitos textos latinos para aprender, e de tal modo cada um teve a sua parte de canseiras a assumir. Como disse, não éramos santos: tivemos as nossas discussões, e no entanto havia uma bonita comunhão, onde as distinções entre ricos e pobres, entre inteligentes e menos inteligentes não contavam. Era a comunhão com Jesus no caminho da fé comum e na responsabilidade coral, nos jogos e no trabalho conjunto. Tínhamos encontrado a capacidade de viver juntos, de ser amigos e, embora a partir de 1937, ou seja, há mais de setenta anos, tenha deixado de viver nessa aldeia, ainda permanecemos amigos. Portanto, aprendemos a aceitar-nos reciprocamente, a carregar o peso uns dos outros.

Isto parece-me importante: não obstante as nossas fraquezas, aceitamo-nos uns aos outros e, com Jesus Cristo, com a Igreja, encontramos juntos o caminho da paz e aprendemos a viver bem.

Chamo-me Letizia e queria fazer-te uma pergunta. Querido Papa Bento XVI, o que significava para ti, quando eras menino, o mote: "As crianças ajudam as crianças"? Alguma vez numa pequena aldeia pensaste em tornar-te Papa?

Para dizer a verdade, nunca pensei que viria a ser Papa porque, como já disse, fui um menino bastante ingénuo, numa pequena aldeia muito distante dos centros, numa província esquecida. Éramos felizes por viver nessa província e não pensávamos noutras coisas. Naturalmente, conhecíamos, venerávamos e amávamos o Papa — era Pio XI — mas para nós estava numa altura inalcançável, quase noutro mundo: um nosso pai, e no entanto uma realidade muito superior a todos nós. E devo dizer que ainda hoje tenho dificuldade em compreender como o Senhor pôde pensar em mim, destinar-me para este ministério. Mas aceito-o das suas mãos, embora seja algo surpreendente e me pareça muito além das minhas forças. Contudo, o Senhor ajuda-me.

Amado Papa Bento, sou Alessandro. Queria perguntar-te: tu és o primeiro missionário; como podemos nós, crianças, ajudar-te a anunciar o Evangelho?

Diria que um primeiro modo é o seguinte: colaborar com a Pontifícia Obra para a Infância Missionária. Assim fazeis parte de uma grande família, que difunde o Evangelho no mundo. Assim pertenceis a uma rede grandiosa. Vemos aqui como se reflecte a família dos diversos povos. Vós estais nesta grande família: cada um desempenha o seu papel e, em conjunto, todos vós sois missionários, portadores da obra missionária da Igreja. Tendes um bonito programa, indicado pela vossa porta-voz: ouvir, rezar, conhecer, compartilhar e solidarizar. Estes são os elementos essenciais que realmente constituem um modo de ser missionário, de dar continuidade ao crescimento da Igreja e à presença do Evangelho no mundo. Gostaria de ressaltar alguns destes pontos.

Em primeiro lugar, rezar. A oração é uma realidade: Deus ouve-nos e, quando oramos, Deus entra na nossa vida, torna-se presente e operante no meio de nós. Rezar é algo muito importante, que pode mudar o mundo, porque torna presente a força de Deus. E é importante ajudar-se no acto de rezar: oremos juntos a liturgia, rezemos em conjunto na família. E aqui diria que é importante começar o dia com uma pequena oração e, depois, terminar o dia também com uma pequena prece, recordando os pais na oração. Rezar antes do almoço, antes do jantar e por ocasião da celebração coral do domingo. Um domingo sem Missa, a grande oração comum da Igreja, não é um domingo verdadeiro: falta precisamente o coração do domingo, e assim também a luz para a semana. E podeis ajudar também os outros — de modo especial quando em casa, talvez, não se reza, não se conhece a oração — ensinando os outros a rezar: orar com eles e desta forma introduzir os outros na comunhão com Deus.

Depois, ouvir, ou seja, aprender realmente o que Jesus nos diz. Além disso, conhecer a Sagrada Escritura, a Bíblia. Na história de Jesus aprendemos — como o Cardeal disse — o rosto de Deus, aprendemos como é Deus. É importante conhecer Jesus profunda e pessoalmente. Assim Ele entra na nossa vida e, através da nossa vida, entra no mundo.

E também compartilhar, não desejar as coisas unicamente para nós mesmos, mas para todos; dividir com o próximo. E se virmos outra pessoa que talvez tenha necessidade, que seja menos dotada, temos que a ajudar e assim tornar presente o amor de Deus sem grandes palavras, no nosso pequeno mundo pessoal, que faz parte do grande mundo. E desta maneira tornamo-nos em conjunto uma só família, onde todos se respeitam: suportar o outro na sua alteridade, aceitar precisamente também os antipáticos, não deixar que alguém seja marginalizado, mas ajudá-lo a inserir-se na comunidade. Tudo isto quer dizer, simplesmente, viver nesta grande família da Igreja, nesta grandiosa família missionária. Viver os pontos essenciais como a partilha, o conhecimento de Jesus, a oração, a escuta recíproca e a solidariedade é uma obra missionária, porque ajuda a fazer com que o Evangelho se torne uma realidade no nosso mundo.






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