Discursos Bento XVI 979

979 Estimados amigos, sede semeadores de confiança e de esperança. Efectivamente, é profundo o sentido de confusão em que muitas vezes vive a juventude contemporânea. Não raro, as palavras humanas são desprovidas de futuro e de perspectiva, despojadas também de sentido e de sabedoria. Difundem-se uma atitude de impaciência frenética e uma incapacidade de viver o tempo da expectativa. E no entanto, esta pode ser a hora de Deus: a sua chamada, mediada pela força e eficácia da Palavra, gera um caminho de esperança rumo à plenitude da vida. A Palavra de Deus pode tornar-se verdadeiramente luz e força, nascente de esperança, pode traçar um caminho que passa através de Jesus, "caminho" e "porta"; através da sua Cruz, que é plenitude de amor. Esta é a mensagem que nos vem do Ano paulino, recém-concluído. Conquistado por Cristo, São Paulo foi um suscitador e um formador de vocações, como se vê muito bem das saudações das suas cartas, onde são citadas dezenas de nomes próprios, ou seja, rostos de homens e de mulheres que colaboraram com ele no serviço do Evangelho. Esta é também a mensagem do Ano sacerdotal, há pouco iniciado: o Santo Cura d'Ars, João Maria Vianney — que constitui o "farol" deste novo itinerário espiritual — foi um sacerdote que dedicou a sua vida à orientação espiritual das pessoas, com humildade e simplicidade, "saboreando e vendo" a bondade de Deus nas situações ordinárias. Assim, ele demonstrou-se um verdadeiro mestre do ministério da consolação e do acompanhamento vocacional. Por conseguinte, o Ano sacerdotal oferece uma bonita oportunidade para reencontrar o sentido profundo da pastoral vocacional, assim como as suas escolhas fundamentais de método: o testemunho, simples e credível; a comunhão, com itinerários concertados e compartilhados na Igreja particular; a quotidianidade, que educa a seguir o Senhor na vida de todos os dias; a escuta, guiada pelo Espírito Santo, para orientar os jovens na busca de Deus e da verdadeira felicidade; e, finalmente, a verdade, a única que pode gerar a liberdade interior.

Queridos irmãos e irmãs, possa a Palavra de Deus tornar-se em cada um de vós nascente de bênção, de consolação e de confiança renovada, para que sejais capazes de ajudar muitos a "ver" e a "tocar" aquele Jesus que acolheram como Mestre. A Palavra do Senhor permaneça sempre em vós, renove nos vossos corações a luz, o amor e a paz que só Deus pode conceder, e vos torne capazes de testemunhar e de anunciar o Evangelho, manancial de comunhão e de amor. Com estes bons votos, que confio à intercessão de Maria Santíssima, concedo de coraçãoatodosvósa Bênção Apostólica.




AO SENHOR EMBAIXADOR CARL-HENRI GUITEAU NOVO ENVIADO EXTRAORDINÁRIO PLENIPOTENCIÁRIO DO HAITI JUNTO DA SANTA SÉ Segunda-feira, 6 de Julho de 2009



Senhor Embaixador!

É com alegria que recebo Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Enviado Extraordinário e Plenipotenciário do Haiti junto da Santa Sé, missão que absolutamente não é nova para Vossa Excelência, porque já exerceu o mesmo cargo junto da Sé Apostólica de 2002 a 2004.

Estou-lhe grato por me ter transmitido a mensagem cordial de Sua Ex. o Senhor René Garcia Préval, Presidente da República. Ficar-lhe-ia grato por se dignar expressar-lhe em retribuição os meus melhores votos pela sua pessoa e por todos os haitianos, desejando-lhes que vivam na dignidade e na segurança e que constituam uma sociedade cada vez mais justa e fraterna. Senhor Embaixador, ao agradecer-lhe as suas palavras gentis, gostaria também de mencionar a próxima celebração do sesquincentenário da Concordata entre a Santa Sé e o Haiti, a mais antiga na América. Nesta ocasião, alegro-me pelos numerosos frutos que estes Acordos produziram para a Igreja e para a Nação, ressaltando ainda a este propósito que no Haiti a comunidade católica sempre gozou da estima das Autoridades e da população.

Excelência, nos últimos meses o seu país conheceu catástrofes naturais que provocaram graves danos em todo o território nacional. As numerosas destruições causadas por furacões na agricultura agravaram a situação já difícil de numerosas famílias. Faço votos por que a solidariedade internacional à qual fiz apelo em várias ocasiões no ano passado continue a manifestar-se. De facto, é necessário que, neste período particularmente delicado da vida nacional, a comunidade internacional dê sinais concretos de apoio às pessoas que se encontram em necessidade. Por outro lado, como se sabe, durante os últimos anos, numerosos haitianos deixaram o seu país indo à procura noutras partes de recursos para o sustento das suas famílias. É por conseguinte desejável que, apesar das situações administrativas por vezes problemáticas, sejam encontradas soluções rápidas para permitir que estas famílias vivam reunidas.

Esta vulnerabilidade do seu país às intempéries, por vezes violentas, que o atingem regularmente, levou também a uma melhor tomada de consciência da necessidade de se ocupar da criação. Há de facto uma espécie de parentela do homem com a criação que o deve levar a respeitar cada uma das suas realidades. A protecção do meio-ambiente é um desafio para todos, porque se trata de defender e valorizar um bem colectivo, que se destina a todos, uma responsabilidade que deve estimular as gerações presentes a preocupar-se pelas gerações vindouras. A exploração imprudente dos recursos da criação e as suas consequências, que com muita frequência afectam gravemente a vida dos mais pobres, só podem ser enfrentadas eficazmente graças a opções políticas e económicas em conformidade com a dignidade humana e com uma cooperação internacional efectiva.

Contudo, não faltam no seu país sinais de esperança. Eles fundam-se sobretudo nos valores humanos e cristãos que existem na sociedade haitiana, como o respeito da vida, a dedicação à família, o sentido das responsabilidades e sobretudo a fé em Deus que não abandona quantos n'Ele confiam. A afeição a estes valores permitem evitar muitos males que ameaçam a vida social e familiar. Encorajo também vivamente os esforços de quantos, no seu país, contribuem para desenvolver a protecção da vida e para restituir à instituição familiar toda a sua importância, reencontrando sobretudo o valor do matrimónio na vida social. De facto, "qualquer modelo de sociedade que pretenda servir o bem do homem não pode excluir o carácter central e a responsabilidade social da família" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 214). Nesta perspectiva, é indispensável fornecer um verdadeiro apoio às famílias que se encontram em necessidade, e garantir uma protecção eficaz às mulheres e às crianças que por vezes são vítimas de violência, de abandono ou de injustiça.

A educação dos jovens é também uma prioridade para o futuro da Nação. Esta tarefa é importante e urgente para desenvolver a qualidade da vida humana, quer a nível individual quer social. De facto, na raiz da pobreza encontra-se com frequência diversas formas de privação cultural. Neste campo, a Igreja católica dá uma contribuição notável, quer através das suas numerosas instituições educativas e da sua presença em regiões rurais e isoladas, ou ainda através da qualidade da educação e da formação que as escolas católicas dão. Alegro-me por saber que estas instituições são apreciadas pelas Autoridades e pela população.

Nesta feliz ocasião, Senhor Embaixador, gostaria de saudar calorosamente a comunidade católica do seu país que, guiada pelos seus Bispos, testemunham generosamente o Evangelho. Encorajo-a a prosseguir o seu serviço à sociedade haitiana permanecendo sempre atenta às necessidades dos mais pobres e procurando com todos a unidade da nação, na fraternidade e na solidariedade. Deste modo ela é um sinal autêntico de esperança para todos os habitantes do Haiti

980 Senhor Embaixador, no momento em que inicia a sua nobre missão de representar o seu país junto da Santa Sé, dirijo-lhe os meus cordiais votos para o seu bom êxito e garanto-lhe que encontrará sempre junto dos meus colaboradores a compreensão e o apoio que lhe forem necessários!

Sobre a sua pessoa, a sua família, os seus colaboradores, assim como sobre todo o povo haitiano e sobre os seus dirigentes, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.






AO SENHOR HÉCTOR FEDERICO LING ALTAMIRANO NOVO EMBAIXADOR DO MÉXICO JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 10 de Julho de 2009



Senhor Embaixador!

1. Apraz-me receber Vossa Excelência no solene acto no qual me entrega as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário dos Estados Unidos Mexicanos junto da Santa Sé. Agradeço-lhe cordialmente as deferentes palavras que me dirigiu, pedindo-lhe ao mesmo tempo que tenha a amabilidade de transmitir ao Senhor Presidente da República, Dr. Felipe de Jesus Calderón Hinojosa, ao seu Governo e a todas as nobres populações do seu País os meus melhores votos, que acompanho com a minha oração fervorosa, para que, enfrentando com coragem, decisão e unidade as vicissitudes do momento presente, o querido povo mexicano possa prosseguir pelos caminhos da liberdade, da solidariedade e do progresso social.

2. Vossa Excelência vem como Representante de uma grande Nação, cuja identidade se foi forjando ao longo dos séculos em fecunda relação com a mensagem de salvação que a Igreja católica proclama, como se pode ver em muitos dos seus costumes e festas populares, na sua arquitectura e em diversas manifestações. A fé em Jesus Cristo deu origem no México a uma cultura que oferece um sentido específico e completo da vida e uma visão esperançosa da existência, ilustrando ao mesmo tempo uma série de princípios substanciais para o progresso harmonioso de toda a sociedade, como a promoção da justiça, o trabalho pela paz e pela reconciliação, a promoção da honradez e da transparência, a luta contra a violência, a corrupção e a criminalidade, a tutela constante da vida humana e a salvaguarda da dignidade da pessoa.

3. A celebração há alguns meses do VI Encontro Mundial das Famílias na Cidade do México ressaltou, além disso, a importância desta instituição, tão estimada pelo povo mexicano. De facto, a família, comunidade de vida e de amor, fundada no matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher, é a célula básica de todo o tecido social, motivo pelo qual é da máxima importância ajudá-la adequadamente, de modo que os lares não deixem de ser escolas de respeito e entendimento recíproco, viveiros de virtudes humanas e motivo de esperança para o resto da sociedade. Neste contexto, desejo reiterar a minha satisfação pelos frutos desse importante Encontro eclesial, e ao mesmo tempo agradecer de novo às Autoridades do seu país, e a todos os mexicanos, a diligência demonstrada na sua organização.

4. É-me grato constatar as boas relações entre a Santa Sé e o México, após os importantes progressos que se produziram nestes anos num clima de recíproca autonomia e sadia colaboração. Isto deve animar-nos a esforçar-nos por estimulá-los no futuro, tendo em consideração o lugar relevante que a religião ocupa na idiossincrasia e na história da vossa Pátria. Precisamente, por ocasião do 15º aniversário do restabelecimento das relações diplomáticas entre o seu país e a Santa Sé, foi organizada na Cidade do México uma série de actos comemorativos com os quais foram aprofundados diversos temas de interesse comum, como o modo correcto de entender um autêntico Estado democrático e o seu dever de apoiar e favorecer a liberdade religiosa em todos os aspectos da vida pública e social da Nação. De facto, a liberdade religiosa não é um direito a mais, nem sequer um privilégio que a Igreja católica reclama. É a rocha firme na qual os direitos humanos assentam solidamente, dado que esta liberdade manifesta de modo particular a dimensão transcendente da pessoa humana e a absoluta inviolabilidade da sua dignidade. Por isso, a liberdade religiosa pertence ao mais essencial de cada pessoa, povo e nação. O seu significado central não permite que ela seja limitada a uma mera convivência de cidadãos que praticam privadamente a sua religião, ou limitá-la ao livre exercício do culto, mas deve ser assegurada aos crentes a plena garantia de manifestar publicamente a sua religião, oferecendo também a sua contribuição para a edificação do bem comum e da recta ordem social em qualquer âmbito da vida, sem qualquer tipo de restrição ou coacção. A este respeito, a Igreja católica, enquanto apoia e estimula esta visão positiva do papel da religião na sociedade, não deseja interferir na devida autonomia das instituições civis. Ela, fiel ao mandato recebido do seu divino Fundador, procura estimular as iniciativas que beneficiam a pessoa humana, promovem integralmente a sua dignidade e reconhecem a sua dimensão espiritual, sabendo que o melhor serviço que os cristãos podem prestar à sociedade é a proclamação do Evangelho, que ilumina uma genuína cultura democrática e orienta na busca do bem comum. É assim evidente que a Igreja e a comunidade política estão e devem sentir-se, mesmo se a diverso título, ao serviço da vocação pessoal e social dos mesmos homens (cf. Gaudium et spes GS 76).

5. São muitos os passos dados em diversos âmbitos pela sua nação a fim de fomentar uma ordem social mais justa e solidária e superar as contrariedades que continuam a atormentar o país. Neste sentido, merece ser destacada a atenção e o empenho com que as Autoridades da sua pátria estão a enfrentar problemáticas muito graves como a violência, o narcotráfico, as desigualdades e a pobreza, que são um campo fértil para a delinquência. Sabe-se bem que para uma solução eficaz e duradoura destes problemas não são suficientes medidas técnicas ou de segurança. Exigem-se grande clarividência e uma eficiente união de esforços, além da promoção de uma necessária renovação moral, a educação das consciências e a construção de uma verdadeira cultura da vida. Nesta tarefa, as Autoridades e as distintas forças da sociedade mexicana encontrarão sempre a leal cooperação e solidariedade da Igreja católica.

6. Nunca se insistirá o suficiente sobre o facto de que o direito à vida deve ser reconhecido em toda a sua amplitude. De facto, todas as pessoas merecem respeito e solidariedade, desde o momento da sua concepção até ao seu fim natural. Esta nobre causa, na qual valorosamente se comprometeram muitos homens e mulheres, deve ser também apoiada pelo esforço das Autoridades civis na promoção de leis e políticas públicas efectivas que tenham em consideração o altíssimo valor que todo o ser humano possui em cada momento da sua existência. A este respeito, desejo saudar com alegria a iniciativa do México, que no ano de 2005 eliminou da sua legislação a pena capital, assim como as recentes medidas que alguns dos seus Estados adoptaram para proteger a vida humana desde o seu início. Estas apostas decididas numa questão tão fundamental devem ser um emblema da sua Pátria, do qual se deve sentir justamente orgulhosa, pois é no reconhecimento do direito à vida que "se fundamentam a convivência humana e a própria comunidade política" (João Paulo II, Carta Encíclica Evangelium vitae EV 2).

7. Senhor Embaixador, antes de concluir este encontro, desejo felicitar-me com Vossa Excelência, com a sua família e com os demais membros desta Missão Diplomática, assim como reiterar-lhe que encontrará sempre nos meus colaboradores a cooperação de que poderá precisar no alto cargo de representar a sua querida Nação junto da Sé Apostólica.

981 Suplico a Deus, por intercessão de Maria Santíssima, Nossa Senhora de Guadalupe, que abençoe, proteja e acompanhe todos os mexicanos, tão próximos do coração do Papa, para que no seu país resplandeçam incessantemente a concórdia, a fraternidade e a justiça.




AOS PARTICIPANTES NO PRIMEIRO ENCONTRO EUROPEU DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS Sala das Bênçãos

Sábado, 11 de Julho de 2009


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Prezados irmãos e irmãs

Obrigado de coração por esta visita, que tem lugar no dia da festa de São Bento, Padroeiro da Europa, por ocasião do primeiro Encontro europeu de estudantes universitários, promovido pela Comissão Catequese-Escola-Universidade do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE). A cada um de vós aqui presentes, dirijo as minhas mais cordiais boas-vindas. Saúdo em primeiro lugar o Bispo D. Marek Jedraszewski, Vice-Presidente da Comissão, e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu em vosso nome. Saúdo de modo especial o Cardeal Vigário Agostino Vallini e manifesto-lhe toda a minha gratidão pelo precioso serviço que a pastoral universitária de Roma presta à Igreja que está na Europa. E não posso deixar de elogiar Mons. Lorenzo Leuzzi, incansável animador do Ofício diocesano. Além disso, saúdo com profundo reconhecimento o Prof. Renato Lauro, Magnífico Reitor da Universidade de Roma Tor Vergata. E dirijo o meu pensamento sobretudo a vós, queridos jovens: bem-vindos à casa de Pedro! Vós pertenceis a trinta e uma nações, e estais a preparar-vos para assumir importantes funções e tarefas na Europa do terceiro milénio. Estai sempre conscientes das vossas potencialidades e, ao mesmo tempo, também das vossas responsabilidades.

O que a Igreja espera de vós? É o mesmo tema sobre o qual estais a reflectir, que sugere a resposta oportuna: "Novos discípulos de Emaús. Como cristãos na universidade". Depois do encontro europeu de professores, realizado há dois anos, também vós estudantes vos encontrais agora para oferecer às Conferências Episcopais da Europa a vossa disponibilidade para continuar o caminho de elaboração cultural que São Bento intuiu como necessário para a maturação humana e cristã dos povos da Europa. Isto pode verificar-se se vós, como os discípulos de Emaús, vos encontrardes com o Senhor ressuscitado na experiência eclesial concreta, e de modo particular na celebração eucarística. "Com efeito, em cada Missa — pude recordar aos vossos coetâneos há um ano, durante a Jornada Mundial da Juventude em Sydney — o Espírito Santo desce novamente, invocado na solene oração da Igreja, não apenas para transformar os nossos dons do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor, mas também para transformar as nossas vidas, para fazer de nós, com a sua força, um único corpo e um só espírito em Cristo" (Homilia na missa de conclusão, 20 de julho de 2008). Por conseguinte, o vosso compromisso missionário no âmbito universitário consiste em dar testemunho do encontro pessoal que tivestes com Jesus Cristo, Verdade que ilumina o caminho de cada homem. É do encontro com Ele que brota aquela "novidade do coração", capaz de dar uma orientação nova à existência pessoal; e só assim nos tornamos fermento e levedura de uma sociedade vivificada pelo amor evangélico.

Então, como é fácil compreender, também a acção pastoral universitária deve exprimir-se em todo o seu valor teológico e espiritual, ajudando os jovens a fazer com que a comunhão com Cristo os leve a compreender o mistério mais profundo do homem e da história. E, precisamente por esta sua acção evangelizadora específica, as comunidades eclesiais comprometidas nesta acção missionária, como por exemplo as capelanias universitárias, podem ser o lugar da formação de crentes maduros, homens e mulheres conscientes de que são amados por Deus e chamados, em Cristo, a tornar-se animadores da pastoral universitária. Na universidade, a presença cristã faz-se cada vez mais exigente e, ao mesmo tempo, fascinante, porque a fé é chamada, como nos séculos passados, a oferecer o seu serviço insubstituível ao conhecimento que, na sociedade contemporânea, é o verdadeiro motor do desenvolvimento. Do conhecimento, enriquecido com a contribuição da fé, depende a capacidade de um povo de saber olhar para o futuro com esperança, vencendo as tentações de uma visão puramente materialista da nossa essência e da história.

Queridos jovens, vós sois o futuro da Europa. Imersos nestes anos de estudo no mundo do conhecimento, sois chamados a investir os vossos melhores recursos, não apenas intelectuais, para consolidar as vossas personalidades e contribuir para o bem comum. Trabalhar pelo desenvolvimento do conhecimento é a vocação específica da universidade, e exige qualidades morais e espirituais cada vez mais elevadas, diante da vastidão e da complexidade do saber que a humanidade tem à sua disposição. A nova síntese cultural, que nesta época está a ser elaborada na Europa e no mundo globalizado, tem necessidade da contribuição de intelectuais capazes de repropor nas aulas académicas o discurso sobre Deus, ou melhor, de fazer renascer aquele desejo do homem de se pôr à procura de Deus — quaerere Deum — ao qual me referi noutras ocasiões.

982 Enquanto agradeço a quantos trabalham no campo da pastoral universitária, sob a orientação dos organismos do Conselho das Conferências Episcopais Europeias, formulo votos a fim de que continuem o caminho profícuo começado há alguns anos e pelo qual manifesto o meu mais profundo apreço e encorajamento. Estou persuadido de que o vosso encontro destes dias em Roma poderá indicar ulteriores etapas a percorrer, em vista de um projecto orgânico, que favoreça o envolvimento e a comunhão entre as diversas experiências já activas em muitos países. Vós, prezados jovens, contribuís juntamente com os vossos professores, para criar laboratórios da fé e da cultura, compartilhando o cansaço do estudo e da pesquisa com todos os amigos que encontrais na universidade. Amai as vossas universidades, que são palestras de virtude e de serviço. A Igreja na Europa confia muito no compromisso apostólico generoso de todos vós, consciente dos desafios e das dificuldades, mas inclusive das numerosas potencialidades da acção pastoral no âmbito universitário. Quanto a mim, asseguro-vos o sustento da oração e sei que por minha vez posso contar com o vosso entusiasmo, com o vosso testemunho, sobretudo com a vossa amizade, que hoje me manifestastes e que vos agradeço de coração.

São Bento, Padroeiro da Europa e meu Padroeiro pessoal no Pontificado, e sobretudo a Virgem Maria, por vós invocada como Sedes Sapientiae, vos acompanhem e guiem os vossos passos. A todos, a minha Bênção.



Agosto de 2009




AOS PARTICIPANTES NO CAMPEONATO MUNDIAL

DE NATAÇÃO REALIZADO EM ROMA Sábado, 1 de Agosto de 2009



Prezados amigos

Foi com profundo prazer que aceitei o vosso convite a encontrar-me convosco, por ocasião do campeonato mundial de natação. Obrigado pela vossa agradável visita; é de bom grado que dou a cada um e a cada uma de vós as minhas cordiais boas-vindas! Dirijo um pensamento deferente, em primeiro lugar, ao Presidente da Federação Mundial de Natação (FINA), Sr. Júlio Maglione, e ao Presidente da Federação Italiana de Natação (FIN), Dep. Paolo Barelli, enquanto lhes agradeço também as gentis palavras que me dirigiram em nome de todos vós. Saúdo as Autoridades presentes, os dirigentes e os responsáveis, os técnicos, os delegados, os jornalistas e os agentes dos mass media, os voluntários, os organizadores e quantos contribuíram para a realização deste acontecimento desportivo mundial. Dirijo a minha saudação mais afectuosa especialmente a vós, caros atletas de diversas nacionalidades, que sois os protagonistas deste campeonato mundial de natação. Com as vossas competições ofereceis ao mundo um emocionante espectáculo de disciplina e de humanidade, de beleza artística e de vontade tenaz. Mostrai para que metas pode conduzir a vitalidade da juventude, quando não se rejeita o cansaço de treinamentos árduos e se aceita de bom grado não poucos sacrifícios e privações. Tudo isto constitui uma importante lição de vida também para os vossos coetâneos.

Como há pouco foi recordado, o desporto praticado com paixão e atento sentido ético, especialmente para a juventude, torna-se ginásio de espírito de competição sadio e de aperfeiçoamento físico, escola de formação para os valores humanos e espirituais, meio privilegiado de crescimento pessoal e de contacto com a sociedade. Assistindo a este mundial de natação e admirando os resultados obtidos, não é difícil dar-se conta de quanta potencialidade Deus dotou o corpo humano, e que interessantes objectivos de perfeição ele pode alcançar. Então, o pensamento vai à admiração do Salmista que, contemplando o universo, canta a glória de Deus e a grandeza do ser humano. "Quando contemplo os céus — lemos no Salmo 8 — obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que Vós fixastes, que é o homem para vos lembrardes dele, o filho do homem para dele cuidardes? Contudo, pouco lhe falta para que seja um ser divino; de glória e de honra o coroastes" (vv. 4-6). Então, como deixar de dar graças ao Senhor por ter dotado o corpo do homem de tamanha perfeição, por o ter enriquecido de uma beleza e de uma harmonia que se podem expressar de tantos modos!

As disciplinas desportivas, cada uma com diversas modalidades, ajudam-nos a apreciar este dom que Deus nos concedeu. A Igreja acompanha e está atenta ao desporto, praticado não como um fim em si mesmo, mas como um meio, como instrumento precioso para a formação perfeita e equilibrada de toda a pessoa. Inclusive na Bíblia encontramos interessantes referências ao desporto como imagem da vida. Por exemplo, o Apóstolo Paulo considera-o um autêntico valor humano, utiliza-o não apenas como metáfora para explicar altos ideais éticos e ascéticos, mas também como meio para a formação do homem e como componente da sua cultura e civilização.

Estimados atletas, vós sois modelos para os vossos coetâneos, e o vosso exemplo pode ser determinante para eles construírem positivamente o seu porvir. Então, sede campeões no desporto e na vida! Antes foi mencionado João Paulo II que, encontrando-se em Outubro do Ano jubilar de 2000 com o mundo do desporto, teve a oportunidade de sublinhar a grande importância da prática desportiva, precisamente porque "pode favorecer a afirmação nos jovens de valores importantes como a lealdade, a perseverança, a amizade, a partilha e a solidariedade" (Insegnamenti, vol. XXIII/2, pág. 729). Além disso, manifestações desportivas como a vossa, graças aos meios de comunicação social modernos, exercem um notável impacto sobre a opinião pública, dado que a linguagem do desporto é universal e alcança especialmente as novas gerações. Por conseguinte, transmitir mensagens positivas através do desporto contribui para construir um mundo mais fraterno e solidário.

Queridos amigos desportivos de língua francesa, estou feliz por vos receber e saudar cordialmente, por ocasião do campeonato mundial de natação. O desporto que vós praticais é uma escola de generosidade, de lealdade e de respeito pelo próximo. Possa ele favorecer o desenvolvimento dos valores de amizade e de partilha entre as pessoas e entre os povos. Deus vos abençoe!

É-me grato saudar os atletas de expressão inglesa, que participam no campeonato mundial da Federação Internacional de Natação, juntamente com os numerosos oficiais, os funcionários assistentes, os voluntários e os amigos que se uniram a vós aqui em Roma nestes dias. Possa a vossa busca da excelência ser acompanhada da acção de graças pelos dons que recebestes de Deus e do desejo de ajudar os outros a utilizarem os seus próprios dons na construção de um mundo melhor e mais unido. Sobre vós e as vossas famílias, invoco as bênçãos divinas da alegria e da paz!

Saúdo de coração os participantes de língua alemã no campeonato mundial de natação aqui em Roma. Caros amigos, como competidores desportivos, vós alcançais resultados muito elevados e sois exemplo para muitos jovens. Empenhai-vos no mundo em que viveis, no que é bom e duradouro, a fim de que o desporto sirva para desenvolver os dons que Deus concedeu ao homem. O Senhor vos abençoe no vosso caminho.

983 Saúdo cordialmente os presentes de língua espanhola: atletas, dirigentes e quantos participaram de vários modos no campeonato mundial de natação. Convido-vos a continuar a fomentar o desporto de acordo com os mais elevados valores humanos, de maneira que favoreça o desenvolvimento físico sadio daqueles que o praticam, e seja uma proposta para a formação integral de crianças e jovens. Muito obrigado!

Queridos amigos de língua portuguesa, que tomais parte neste campeonato mundial de natação, a todos saúdo cordialmente, aproveitando para vos agradecer a lição de vida que ofereceis ao mundo, feita de disciplina e humanidade, de beleza artística e vontade forte para vencer e sobretudo para se vencer a si mesmo. Invoco a ajuda de Deus sobre vós e vossas famílias, ao conceder-vos a Bênção Apostólica.

Caros amigos, e sobretudo vós, queridos atletas, enquanto mais uma vez vos agradeço este cordial encontro, faço-vos votos a fim de que "nadeis" rumo a ideais cada vez mais incomparáveis. Asseguro-vos uma lembrança na oração e invoco sobre vós, as vossas famílias e todos os vossos entes queridos, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, a bênção divina.



SAUDAÇÃO NO FINAL DO CONCERTO EM SUA HONRA NO PALÁCIO PONTIFÍCIO DE CASTEL GANDOLFO Domingo, 2 de Agosto de 2009

Ilustre Senhor Decano Kemmer
Distintos músicos
Queridos amigos

Hoje, pela primeira vez depois de um concerto tão bonito, não pude aplaudir com vigor. Portanto, estou ainda mais feliz por poder manifestar ao Senhor Albrecht Mayer e aos músicos da Bayerisches Kammerorchester Bad Brückenau o agradecimento e a admiração de todos os presentes. De igual modo, agradeço ao Decano Kilian Kemmer as suas palavras de saudação, bem como a todos aqueles que organizaram e tornaram possível este concerto em Castel Gandolfo. Para nós, naturalmente, a grande fascinação desta tarde foi o som do oboé que Vossa Excelência, prezado Senhor Mayer, nos ofereceu magistralmente.

Foi comovedor observar como, de um pedaço de madeira, deste instrumento, flui todo um universo de música: o insondável e o jubiloso, o sério e o faceto, o grandioso e o humilde, o diálogo interior das melodias. Pensei: como é magnífico que num pequeno pedaço criativo se esconde tal promessa, que o mestre pode libertar. E isto significa que toda a criação está repleta de promessas e que o homem recebe o dom de folhear este livro de promessas, pelo menos por um pouco. Na minha opinião, esta tarde convida-nos não só a conservar as forças naturais que nos ajudam a fazer sobressair as energias físicas, que são uma promessa da criação, mas também a conservar as promessas mais profundas que esta música nos indicou, na vigilância do coração, que nos permite compreender também este fragmento de criação.

O programa de sala, com a descrição do concerto, introduziu-nos um pouco nas obras dos compositores. Penso que para todos nós é emocionante que estes mestres se tenham comportado como o bom pai de família do Evangelho, de quem o Senhor fala. Não tiram apenas o antigo e o novo das suas riquezas. Sob o impulso das suas tarefas, não só podem criar coisas sempre novas, mas também retomar em consideração o que é antigo, e portanto tornam-se visíveis novas potencialidades, que estavam presentes na obra precedente. Este concerto com os solos do oboé cumpriu a tarefa de expressar novas potencialidades, em que a música continua, permanece viva e renasce em cada execução, como também agora.

Vem-me ao pensamento que hoje se celebra na Igreja o dia da Porciúncula, que nos recorda a visão milagrosa de São Francisco. Na pequena igreja da Porciúncula, em Assis, ele vê o Senhor, com a sua mãe e os Anjos ao redor. O Senhor concede-lhe exprimir um desejo, e São Francisco pede para poder levar o perdão a casa. O pedido é aceite, ele regressa a casa e diz com alegria aos irmãos: amigos, o Senhor quer que todos nós estejamos no Paraíso! Hoje, penso que deveríamos transcorrer este momento como uma hora de paraíso, observar e ouvir o paraíso e a beleza incorrupta e o bem da criação. Não é uma fuga da miséria deste mundo e da quotidianidade, porque só podemos continuar a contrastar o mal e as trevas, se nós mesmos acreditarmos no bem, e só podemos acreditar no bem, se o experimentarmos e vivermos como realidade. Nesta hora, tocamos o bem e o belo com o nosso coração.

Prezados amigos, falei em língua alemã, porque os músicos e uma boa parte dos participantes são alemães. Infelizmente, depois dos acontecimentos da torre de Babel as línguas separam-nos, criam barreiras. Mas nesta hora vimos e ouvimos que existe uma parte intacta do mundo, mesmo depois da torre e da soberba de Babel, e é a música: a língua que todos nós podemos compreender, porque toca o coração de todos nós. Isto para nós não é apenas uma garantia de que a bondade e a beleza da criação de Deus não estão destruídas, mas que nós somos chamados e capazes de trabalhar para o bem e para o belo, e são inclusive uma promessa de que o mundo futuro há-de vir, que Deus triunfa, que a beleza e a bondade vencem.

Por esta consolação, por este conforto no nosso trabalho quotidiano, estamos gratos a vós, músicos. Obrigado a todos vós, boa tarde e boa semana.



POR OCASIÃO DA PROJECÇÃO DO FILME SOBRE SANTO AGOSTINHO

20909
Discursos Bento XVI 979