Discursos Bento XVI 13129

POR OCASIÃO DA VISITA AO "HOSPICE" FUNDAÇÃO ROMA Domingo, 13 de Dezembro de 2009

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Amados irmãos e irmãs!

Aceitei com prazer o convite para visitar o Hospice Fundação Roma e sinto-me muito feliz por estar entre vós. Dirijo o meu cordial pensamento ao Cardeal Vigário Agostino Vallini, aos Excelentíssimos Bispos Auxiliares e aos Sacerdotes presentes. Agradeço sentidamente ao Professor Emmanuele Emanuele, Presidente da Fundação Roma, e ao Pe. Leopoldo dei Duchi Torlonia, Presidente do Círculo de São Pedro, as significativas palavras que gentilmente me dirigiram. Com eles saúdo a Direcção do Hospice Fundação Roma, o seu Presidente, Eng. Alessandro Falez, os médicos, os enfermeiros e o pessoal administrativo, as Irmãs e quantos prestam de vários modos a sua obra nesta benemérita instituição. Manifesto depois a minha estima aos Voluntários do Círculo de São Pedro, dos quais conheço o zelo e a generosidade com que prestam ajuda e conforto aos doentes e aos seus familiares. O Hospice Fundação Roma surgiu em 1998, com adenominação de Hospice Sagrado Coração,por iniciativa do então Presidente-Geral do Círculo de São Pedro, Pe. Marcello dei Marchesi Sacchetti, a quem saúdo com profunda e grata deferência. Tarefa desta instituição é a cura dos doentes em fase terminal, para aliviar o mais possível os sofrimentos e acompanhá-los amorosamente no decurso da doença. O número de quantos foram internados no Hospice, ao longo de onze anos, passou de três para mais de trinta, seguidos quotidianamente por médicos, enfermeiros e voluntários. A estes devemos acrescentar os noventa com assistência domiciliar. Tudo isto contribui para fazer do Hospice Fundação Roma, que com o tempo se enriqueceu com a Repartição Alzheimer e com um projecto de assistência experimental destinado a pessoas atingidas por Esclerose Lateral Amiotrófica, uma realidade particularmente significativa, no panorama médico romano.

Queridos amigos! Sabemos como algumas graves patologias inevitavelmente causam nos doentes momentos de crise, de desorientação e um sério confronto com a própria situação pessoal. Os progressos nas ciências médicas com frequência oferecem os instrumentos necessários para enfrentar este desafio, pelo menos relativamente aos aspectos físicos. Contudo, nem sempre é possível encontrar uma cura para cada doença e, por conseguinte, nos hospitais e nas estruturas de saúde de todo o mundo com frequência nos deparamos com o sofrimento de tantos irmãos e irmãs incuráveis, e muitas vezes em fase terminal. Hoje, a prevalecente mentalidade eficientista tende muitas vezes a marginalizar estas pessoas, considerando-as um peso e um problema para a sociedade. Ao contrário, quem tem o sentido da dignidade humana sabe que elas devem ser respeitadas e apoiadas enquanto enfrentam as dificuldades e o sofrimento, relacionados com as suas condições de saúde. Para esta finalidade, recorre-se hoje cada vez mais ao uso de curas paliativas, que conseguem aliviar os sofrimentos que derivam da doença e ajudar as pessoas enfermas a vivê-la com dignidade. Contudo, paralelamente às indispensáveis curas clínicas, é necessário oferecer aos doentes gestos concretos de amor, de proximidade e de solidariedade cristã, de conforto e de encorajamento constante. É quanto felizmente se realiza aqui, no Hospice Fundação Roma, que coloca no centro do próprio compromisso a cura e o acolhimento solícito dos doentes e dos seus familiares, em sintonia com quanto ensina a Igreja, a qual, ao longo dos séculos, se mostrou sempre como mãe amorosa de quantos sofrem no corpo e no espírito. Ao congratular-me pela louvável obra realizada, desejo encorajar quantos, fazendo-se ícones concretos do bom samaritano, que "sente compaixão e cuida do próximo" (cf.
Lc 10,34), oferecem quotidianamente às pessoas internadas e aos seus familiares uma assistência adequada e atenta às exigências de cada um.

Queridos doentes, estimados familiares, acabei de me encontrar com cada um de vós, e vi nos vossos olhos a fé e a força que vos amparam nas dificuldades. Vim para oferecer a cada um o testemunho concreto de proximidade e de afecto. Garanto-vos a minha oração, e convido-vos a encontrar em Jesus apoio e conforto, para nunca perderdes a confiança e a esperança. A vossa doença é uma prova muito dolorosa e singular, mas diante do mistério de Deus, que assumiu a nossa carne mortal, ela adquire o seu sentido e torna-se dom e ocasião de santificação. Quando o sofrimento e o desânimo se tornam mais fortes, pensai que Cristo está a associar-vos à sua cruz porque quer dizer através de vós uma palavra de amor a quantos se extraviaram no caminho da vida e, fechados no próprio egoísmo vazio, vivem no pecado e no afastamento de Deus. De facto, as vossas condições de saúde testemunham que a vida verdadeira não é aqui, mas junto de Deus, onde cada um de nós encontrará a sua alegria e terá dado humildemente os seus passos atrás dos do homem mais verdadeiro: Jesus de Nazaré, Mestre e Senhor.

O tempo do Advento, no qual estamos imersos, fala-nos da visita de Deus e convida-nos a preparar-lhe o caminho. À luz da fé podemos ler na doença e no sofrimento uma particular experiência do Advento, uma visita de Deus que de modo misterioso vem ao nosso encontro para nos libertar da solidão e da insensatez e transformar o sofrimento em tempo de encontro com Ele, de esperança e de salvação. O Senhor vem, está aqui, ao nosso lado! Esta certeza cristã ajuda-nos a compreender também a "tribulação" como o modo d'Ele vir ao nosso encontro e tornar-se para cada um o "Deus próximo" que liberta e salva. O Natal, para o qual nos estamos a preparar, oferece-nos a possibilidade de contemplar o Santo Menino, a luz verdadeira que vem a este mundo para manifestar "a graça de Deus, que traz a salvação a todos os homens" (Tt 2,11). A ele, com os sentimentos de Maria, todos confiemos a nós próprios, a nossa vida e as nossas esperanças. Queridos irmãos e irmãs! Com estes pensamentos invoco sobre cada um de vós a materna protecção da Mãe de Jesus, que o povo cristão na tribulação invoca como Salus infirmorum e concedo-vos de coração uma especial Bênção Apostólica, penhor de júbilo espiritual eíntimoe de autêntica paz no Senhor.



AO SENHOR HANS KLINGENBERG NOVO EMBAIXADOR DA DINAMARCA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009

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Excelência

É com prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Dinamarca junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis palavras de saudação que me transmite da parte de Sua Majestade a Rainha Margrethe II, e pedir-lhe-ia que comunicasse a Sua Majestade, ao Governo e ao povo do seu país a minha gratidão pelos bons votos e a certeza das minhas preces pelo bem-estar espiritual da nação.

As relações diplomáticas da Igreja fazem parte da sua missão de serviço em prol da Comunidade Internacional. Este compromisso com a sociedade civil é forjado pela sua convicção de que num mundo cada vez mais globalizado, os esforços em vista de promover o desenvolvimento humano integral e uma ordem económica sustentável devem ter em consideração a relação fundamental entre Deus, a criação e as suas criaturas. Nesta perspectiva, as tendências para uma fragmentação social e para iniciativas de desenvolvimento isoladas podem ser superadas pelo reconhecimento da dimensão moral unificadora constitutiva de cada ser humano, e da consequência moral ínsita em cada decisão económica (cf. Caritas in veritate ). Com efeito, o cepticismo contemporâneo diante da retórica política e a crescente preocupação pela falta de pontos de referência éticos que governem os progressos tecnológicos e os mercados comerciais, tudo isto indica as imperfeições e os limites que se encontram tanto nos indivíduos como na sociedade, e a necessidade de uma redescoberta dos valores fundamentais e de uma profunda renovação cultural, em harmonia com o desígnio de Deus para o mundo (cf. ibid., n. 21).

Excelência, actualmente a atenção do mundo está voltada para a Dinamarca, sede da cimeira das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas. As deliberações políticas e diplomáticas em jogo, para enfrentar as exigências de uma problemática tão complexa, põem à prova a determinação dos participantes para renunciar a presumíveis vantagens nacionalistas ou a curto prazo, em favor de benefícios a longo prazo para toda a família humana internacional. Embora, indubitavelmente, seja possível alcançar um determinado consenso através da elaboração das aspirações conjuntas, acompanhadas de políticas e de objectivos específicos, uma mudança fundamental em qualquer forma de comportamento humano – individual ou colectivo – exige a conversão do coração. Coragem e sacrifício, frutos de um despertar ético, tornam-nos capazes de prever um mundo melhor e encorajam-nos a perseguir com esperança tudo aquilo que é necessário para assegurar que às gerações vindouras seja transmitida a criação inteira, em tais condições que também elas lhe possam chamar casa. No entanto, quando declina a "solidez moral da sociedade em geral" (Ibid., n. 51), os desafios que os líderes actuais enfrentam nos dias de hoje só podem aumentar.

Esta necessidade urgente de frisar o dever moral de distinguir entre o bem e o mal em todas as acções humanas, a fim de redescobrir e de alimentar o vínculo de comunhão que une a pessoa humana e a criação, foi um tema fulcral do discurso que recentemente dirigi à fao. Nessa circunstância, a Comunidade Internacional tomou em consideração a urgente questão da segurança alimentar. Afirmei novamente que, por mais importantes que possam ser, os planos de desenvolvimento, os investimentos e a legislação não são suficientes. Pelo contrário, os indivíduos e as comunidades devem mudar o seu comportamento e a sua percepção da necessidade. Para os próprios Estados, isto inclui uma redefinição dos conceitos e dos princípios que até agora governaram as relações internacionais, incluindo o princípio do altruísmo e a determinação a procurar novos parâmetros – tanto éticos como jurídicos e económicos – capazes de construir relações de maior equidade e equilíbrio entre os países em vias de desenvolvimento e os países desenvolvidos (cf. Discurso à FAO, 16 de Novembro de 2009).

Neste contexto, pode surgir uma compreensão global da saúde da sociedade em que os nossos deveres em relação ao meio ambiente nunca estão desvinculados dos nossos deveres para com a pessoa humana e onde uma crítica moral das normas culturais que forjam a coexistência humana, com uma solicitude particular pelos mais jovens, é considerada central para o bem-estar da sociedade. Com demasiada frequência, os esforços em vista de promover uma compreensão integral do meio ambiente têm sido acompanhados por uma compreensão reducionista da pessoa. Geralmente, a segunda não tem respeito pela dimensão espiritual dos indivíduos e às vezes chega a ser hostil em relação à família, colocando os cônjuges em oposição entre si mediante um retrato deturpado da complementaridade entre homens e mulheres, e opondo entre si a mãe e o filho nascituro através de uma representação equivocada da "saúde reprodutiva". A responsabilidade nos relacionamentos, incluindo a responsabilidade pela procriação responsável (cf. Caritas in veritate Familiaris consortio, 35), nunca pode ser autenticamente alimentada sem o profundo respeito pela unidade da vida familiar, em conformidade com o desígnio amoroso do nosso Criador.

A assistência que a Dinamarca oferece às causas humanitárias é ampla e diversificada. O compromisso do Reino para apoiar as operações de manutenção da paz e projectos de desenvolvimento, juntamente com o seu empenho crescente no continente africano são reconhecidos de bom grado pela Santa Sé pela sua generosidade e profissionalidade. Entre os princípios que compartilhamos a respeito do desenvolvimento encontra-se a convicção de que qualquer forma de corrupção é sempre uma afronta à dignidade da pessoa humana e constituirá sempre um sério impedimento para o justo e equitativo progresso dos povos. A tradição de que goza a Dinamarca a este propósito é louvável e as vossas políticas estrangeiras de assistência financeira insistem justamente sobre a responsabilidade e a transparência das nações receptoras.

Senhor Embaixador, os membros da Igreja católica no seu país continuarão a rezar e trabalhar em prol do desenvolvimento espiritual, social e cultural do povo dinamarquês. Em associação ecuménica com os demais cristãos, eles estão atentos às necessidades das comunidades de imigrantes presentes na sua terra, assim como às dos outros grupos que são vulneráveis de várias maneiras. Além disso, as escolas da Igreja, cujos alunos saúdo regularmente nas minhas audiências gerais semanais, servem a nação e, ao mesmo tempo, procuram dar testemunho do amor e da verdade de Cristo.

Excelência, durante o seu mandato como representante da Dinamarca junto da Santa Sé, os vários departamentos da Cúria Romana farão tudo o que puderem para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Formulo os meus melhores votos pelo bom êxito dos seus esforços em vista de fortalecer as cordiais relações já existentes entre nós. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todos os seus compatriotas, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



AO SENHOR FRANCIS K. BUTAGIRA

NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO UGANDA JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009


Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano, no momento em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais através das quais é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Uganda junto da Santa Sé. Agradeço as amáveis saudações e bons votos que Vossa Excelência transmitiu em nome de Sua Excelência o Presidente Yoweri Kaguta Museveni. É de bom grado que os retribuo enquanto lhe peço que tenha a amabilidade de comunicar a Sua Excelência e ao povo do Uganda a certeza das minhas orações pelo seu bem-estar.

As relações diplomáticas entre a Santa Sé e a República do Uganda continuam a oferecer numerosas oportunidades de assistência e cooperação mútuas, para o bem espiritual e a prosperidade do povo da sua nação. De igual modo, o clima de liberdade e de respeito na sua nação, em relação à Igreja católica, tem-lhe permitido ser fiel à missão que lhe é própria. Os frutos da cooperação entre a Igreja e o Estado, de maneira especial nos sectores relacionados com o desenvolvimento, a educação e a assistência médica, são amplamente reconhecidos. Com efeito, este sólido fundamento deveria promover a integridade pessoal, a justiça e a equidade no seio das comunidades locais e a esperança para a nação inteira, tanto entre aqueles que a governam como no meio da população em geral, e deveria constituir um importante factor de estabilidade e de crescimento.

1039 Senhor Embaixador, no seu discurso Vossa Excelência referiu-se ao crescimento económico constante da nação. O progresso alcançado para contrastar as causas do subdesenvolvimento é, sem dúvida, encorajador. Há que elogiar também as iniciativas tomadas em vista de fomentar formas de agricultura mais produtivas, a utilização adequada dos recursos do país e a implementação de políticas concretas de cooperação regional. Estes e outros esforços em vários sectores, como o fornecimento de água potável para todos, a salvaguarda do meio ambiente, a promoção de uma educação universal sólida e a luta contra a corrupção nas suas diversas formas constituem um programa ambicioso que há-de exigir um bom governo.

A campanha de violência no norte do país tem devastado vastas áreas. A tragédia para as populações locais é evidente para todos. A certas pessoas foi-lhes arruinada a própria infância e foram forçadas a cometer crimes deploráveis; verificou-se uma destruição maciça de propriedades; viúvas e órfãos estão a viver na pobreza extrema; além disso, muitas pessoas deslocadas ainda não conseguem, ou têm medo de voltar para as suas aldeias e os seus campos. Compreende-se que em certa medida esta situação melhorou, e formulo votos a fim de que a falta de segurança finalmente seja substituída por uma paz e prosperidade estáveis para a população gravemente provada dessa região. Enquanto o mundo espera resultados concretos do encontro recentemente realizado no Uganda, a respeito do flagelo das pessoas deslocadas, dos refugiados e dos repatriados, rezo para que a Declaração de Kampala possa levar as pessoas que ocupam cargos de responsabilidade na sua nação, mas inclusive além, a oferecer as devidas ajuda e assistência a todos aqueles que, mesmo sem ter qualquer culpa pessoal, foram obrigados a abandonar as suas casas.

Neste contexto, gostaria de recordar que a reconciliação e a paz foram os temas principais do recente Sínodo Especial para a África, realizado aqui no Vaticano há poucos meses. A experiência da Igreja no seu continente tem demonstrado que a mera ausência de conflito não constitui a paz. É só através do estabelecimento da justiça, da reconciliação e da solidariedade que a paz e a estabilidade verdadeiras e duradouras podem ser alcançadas. Asseguro a Vossa Excelência que os católicos ugandeses, mediante a vivência dos valores do Evangelho, desejam ajudar os seus concidadãos e as suas concidadãs na promoção de uma reconciliação e paz profundamente arraigadas. A Igreja continuará também a trabalhar pela justiça para todos, acompanhada de uma oração ardente a fim de que um dom tão precioso pode tornar-se uma realidade para todos os cidadãos, sem qualquer distinção de etnia, região de proveniência ou credo.

Excelência, estou persuadido de que o período que servirá como Embaixador contribuirá para revigorar as relações de cordialidade que já existem entre a Santa Sé e o Uganda. Os vários departamentos da Cúria Romana estão prontos para o ajudar e, no momento em que Vossa Excelência dá início à sua alta missão, é-me grato garantir-lhe as minhas preces. Invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso sobre o Senhor Embaixador, a sua família e todo o povo do Uganda.



AO SENHOR SULIEMAN MOHAMED MUSTAFA,

NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO SUDÃO JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009




Excelência

É um prazer para mim, acolhê-lo hoje no Vaticano e receber as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Sudão junto da Santa Sé. Estou grato pelas saudações que Vossa Excelência manifestou em nome de Sua Excelência o Senhor Omar al-Bashir, Presidente da República, e peço-lhe que tenha a gentileza de transmitir os meus bons votos a todos os seus amados compatriotas.

É de bom grado que a Santa Sé estabelece relações diplomáticas com os diferentes países, como um veículo para a promoção do diálogo e da cooperação no mundo inteiro. Este diálogo pode ajudar em grande medida a superar tensões, representações equivocadas e mal-entendidos, de maneira especial quando põem em perigo a causa da paz e do desenvolvimento. No caso do Sudão, a Santa Sé sentiu-se profundamente gratificada pela assinatura do Acordo Compreensivo de Paz, há quatro anos, que pôs termo a um trágico período de sofrimento imenso, de mortes e de destruição. As expectativas geradas por este Acordo, pactuado por interlocutores importantes no interior do país e com a ajuda da Comunidade internacional, devem ser conservadas vivas. Os resultados positivos, alicerçados numa busca genuína de soluções justas para as tensões e para a cooperação multipartidária, deveriam inspirar ulteriores aperfeiçoamentos no processo de implementação. De igual modo neste período delicado, o trabalho positivo que está a ser realizado por promotores internacionais da paz em regiões mais sensíveis e por agências humanitárias merece o apoio e a devida assistência da parte de todas as autoridades nacionais e regionais.

Senhor Embaixador, o país representado por Vossa Excelência dispõe dos recursos e da população para se tornar um protagonista importante no continente africano. Ele há-de prosperar, se os cidadãos da nação viverem numa terra onde prevalecem a harmonia e a boa vontade, tendo como fundamento a justa resolução dos conflitos existentes, aceitável por todas as partes. A violência "limita o desenvolvimento autêntico e impede a evolução dos povos para um maior bem-estar socioeconómico e espiritual" (cf. Caritas in veritate ); a paz e o desenvolvimento, dois elementos essenciais para o bem-estar de qualquer nação, não podem existir sem a salvaguarda dos direitos humanos para todos os cidadãos, sem qualquer excepção.

Neste contexto, é necessário recordar que a população do Darfur continua a sofrer enormemente. Os acordos negociados entre os grupos armados têm sido lentos e hesitantes, e têm urgente necessidade de ajuda de todas as partes. O respeito pelas populações civis e pelos seus direitos humanos fundamentais, e as suas responsabilidades relativas à estabilidade nacional e regional exigem claramente renovadas tentativas de promover acordos duradouros. A minha sincera esperança é por que todas as partes possam aproveitar cada oportunidade em vista de uma decisão, através do diálogo e da resolução pacífica dos conflitos. Este é o único caminho que levará à estabilidade sustentada pela verdade, justiça e reconciliação para a região do Darfur e igualmente para o restante do país.

1040 Senhor Embaixador, a Igreja católica presente no seu país está comprometida na promoção do bem-estar espiritual e humano dos seus membros e, efectivamente, de todos os cidadãos da nação, de forma especial através da educação, da assistência à saúde e dos programas de desenvolvimento, mas também mediante o incentivo ao espírito de tolerância, de paz e de respeito pelos outros, mediante o diálogo e a cooperação. Os católicos fomentam somente a liberdade, o reconhecimento e o respeito, que são próprios da identidade e da missão da Igreja. O Sudão, como também numerosos países, está a enfrentar o desafio da busca de um justo equilíbrio entre a conservação dos valores culturais que caracterizam a identidade da maioria da população, e o respeito pelos direitos e pela liberdade das minorias. As autoridades públicas têm necessidade de assegurar que o direito humano fundamental da liberdade religiosa seja autenticamente vivido pelas pessoas pertencentes a todos os credos. De igual modo, as famílias de uma minoria religiosa que vivem onde as escolas dispõem de programas educativos adequados para a maioria religiosa, justamente aspiram ao reconhecimento dos seus direitos de pais, de determinar a educação dos seus próprios filhos, sem qualquer impedimento da parte da lei. Tanto os pais muçulmanos como os pais cristãos compartilham o mesmo carinho e solicitude pelos seus filhos e pelo seu bem-estar, especialmente no que se refere à sua formação religiosa.

Convido Vossa Excelência a valer-se da disponível cooperação dos departamentos da Cúria Romana, enquanto lhe formulo votos de bom êxito na sua missão de promover ulteriormente as relações cordiais já existentes entre o Sudão e a Santa Sé. Possa o Omnipotente derramar as suas bênçãos sobre o Senhor Embaixador, a sua família e a nação representada por Vossa Excelência.




AO SENHOR ELKANAH ODEMBO, NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO QUÉNIA JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009




Excelência

É com prazer que lhe dou as boas- vindas ao Vaticano e aceito as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Quénia junto da Santa Sé. Agradeco-lhe as saudações que me transmite da parte do seu Presidente, Sua Excelência Mway Kibaki, e peço-lhe que lhe transmita a minha respeitosa gratidão e lhe assegure as minhas constantes orações pelo bem-estar de todo o seu povo.

Como deve saber, a segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos teve lugar em Outubro deste ano, em Roma, e cerca de seis meses antes fiz a minha primeira Visita Apostólica à África. Estes são os sinais do empenho constante da Santa Sé em manter e reforçar as relações cordiais com as populações e as nações do seu continente, e para garantir que a dimensão africana das urgentes preocupações que mencionou liberdade religiosa, diálogo inter-religioso, paz internacional e justiça e todas as áreas do desenvolvimento humano permaneça firme na agenda da comunidade internacional. Como disse por ocasião da minha chegada em março, a África sofreu desproporcionadamente numa época de escassez alimentar mundial, de confusão financeira, de modelos causadores de mudanças climáticas. (Discurso por ocasião da cerimónia de boas-vindas, 17 de Março de 2009), e é essencial que as tentativas para resolver estes problemas tomem em devida consideração as necessidades e os direitos dos povos africanos.

O Senhor Embaixador falou do momento obscuro que o Quénia viveu há dois anos, imediatamente após os contestados resultados eleitorais. Permita-me aproveitar desta ocasião para lhe garantir novamente a minha solícita compaixão para com os que sofreram prejuízos ou lutos durante a violência e a minha mais sincera esperança que a agenda de reforma que o seu Governo empreendeu possa conseguir um bom êxito na restauração da paz e da estabilidade, pelas quais o Quénia era justamente conhecida ao longo de muitos anos. O diálogo e o consenso popular, unidos à responsabilidade e à transparência, são os traços distintivos de um Governo sólido e democraticamente estável. Ao perseguir estes objectivos, as autoridades quenianas lançarão os fundamentos de uma sociedade pacífica e justa por muitos anos no futuro.

Considerando os abundantes recursos humanos e naturais com que o Quénia foi abençoado, o objectivo de garantir a prosperidade para todos os seus cidadãos deveria estar ao seu alcance. Obviamente, a viragem da economia global, nos últimos doze meses, pagou o seu tributo, e a Santa Sé vai continuar a indicar a "urgente necessidade moral de uma renovada solidariedade" entre os países em diversas fases de desenvolvimento (Caritas in veritate ), no interesse da justiça económica. Porém, a responsabilidade da luta contra a pobreza também deve ser assumida pelas sociedades envolvidas, as quais devem dar prioridade à luta contra a corrupção e ao esforço de distribuir a riqueza de forma mais equitativa. Corrigindo as disfunções que causam divisões entre e no seio das populações, deveria ser possível adquirir o potencial positivo do processo de globalização, de forma a garantir a redistribuição da riqueza e, portanto, "orientar a globalização em termos de relacionamento, de comunhão e de partilha" (ibid., 42).

É neste âmbito que a Igreja local oferece a mais valiosa contribuição, sublinhando a dimensão ética dos assuntos que se apresentam à vida da nação. Agradeço a estima que exprimiu em relação ao trabalho da comunidade católica no Quénia, nas áreas da saúde, da educação e dos direitos humanos, e especialmente na promoção das iniciativas de paz e de reconciliação por ocasião da crise pós-eleitoral. Garanto-lhe que os católicos no Quénia desejam continuar esta missão de serviço à mais ampla comunidade, sobretudo à luz do renovado empenho pela reconciliação, a justiça e a paz, que foram o foco da recente Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. Aquele evento solene foi um apelo à Igreja em África, a proclamar com alegria a boa notícia da sua fé doadora de vida, a fim de infundir esperança nos corações de toda a população do continente.

Excelência, estou confiante de que a missão diplomática que o Senhor começa hoje, reforçará o bom relacionamento que existe entre a Santa Sé e a República do Quénia. Ao formular os meus melhores votos para os próximos anos, desejo assegurar-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão sempre disponíveis para o ajudar e assistir no seu trabalho. Invoco cordialmente as abundantes bênçãos divinas sobre Vossa Excelência, a sua família e toda a população do Quénia.




AO SENHOR MUKHTAR B. TILEUBERDI, NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO CAZAQUISTÃO JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

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Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009




Excelência!

Estou feliz por recebê-lo no Vaticano e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Cazaquistão junto da Santa Sé. Nesta ocasião gostaria de lhe pedir para transmitir a minha saudação a Sua Excelência o Presidente Nursultan Nazarbayev, que recentemente me visitou aqui no Vaticano, e os meus bons votos a toda a população da República. Gentilmente, garanta ao Presidente as minhas orações pelo seu bem-estar e o de todos os cidadãos da nação, e transmita-lhe a minha gratidão pelos bons votos que acabou de me expressar em seu nome.

Como se recorda, o meu venerável Predecessor, o saudoso Papa João Paulo II, visitou o Cazaquistão em Setembro de 2001. Ele testemunhou, no meio da incerteza e tristeza mundial daquele momento, que a Igreja, em fidelidade ao ensinamento de Cristo, apoia a paz e a compreensão entre os povos e esforça-se para promover o progresso humano autêntico.

A Santa Sé encoraja as nações a respeitar a pessoa humana na sua totalidade, reconhecendo as necessidades espirituais assim como as materiais de todos. O homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida económica e social (cf. Caritas in veritate ). Portanto, a Igreja age como fermento em todas as sociedades a fim de enaltecer a dignidade do homem, para lhe dar a força necessária de modo a gerar uma visão mais clara dele mesmo e demonstrar uma nova energia para o serviço do desenvolvimento humano autêntico.

Senhor Embaixador, apesar dos cristãos no Cazaquistão serem uma pequena percentagem da população total, ali eles podem encontrar vestígios das suas raízes ao longo dos séculos. Por conseguinte, representam uma parte importante da rica diversidade de religiões e tradições que a sua nação abrange. O facto de que estes vários grupos vivem lado a lado no seu país, juntamente com o facto do país ser um vínculo geográfico entre a Europa e a Ásia e entre países com grandes populações cristãs e muçulmanas respectivamente, oferece uma oportunidade preciosa para promover o intercâmbio e a fraternidade. A cooperação no desenvolvimento também oferece uma ocasião maravilhosa para o encontro entre culturas e povos (cf. Caritas in veritate ). Para que este encontro se realize genuinamente, é necessário que haja um compromisso contínuo da parte dos Estados de respeitar os direitos humanos fundamentais, entre os quais a liberdade de religião não é o último. As religiões têm muito para oferecer ao desenvolvimento, especialmente quando o lugar de Deus é reconhecido no domínio público, nomeadamente no que diz respeito às suas dimensões cultural, social, económica e particularmente política (cf. ibid., n. 56).

Por sua parte, a Santa Sé, juntamente com a comunidade católica no Cazaquistão, apoia as iniciativas que promovem a paz e a amizade autênticas entre os povos, fundadas no reconhecimento recíproco das diferenças legítimas, mas acima de tudo no compromisso pelo bem comum. O Acordo assinado entre a Santa Sé e o Cazaquistão em 1998, o primeiro do seu género na sua região, é um acordo fundado na confiança e no respeito mútuos. A garantia jurídica dos direitos e das responsabilidades do acordo fornece meios para uma maior cooperação e boa vontade. Garanto-lhe que a comunidade católica no seu país deseja contribuir para o fortalecimento das boas relações e da compreensão recíproca entre os mundos cristão e islâmico, em benefício de todos. Possa esta cooperação e boa vontade serem abençoadas abundantemente cada dia!

Excelência, no momento em que o Cazaquistão assume a presidência da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, a 1 de Janeiro de 2010, estou feliz por lhe oferecer os meus bons votos para o período em que o seu país ocupará o cargo. Recentemente, a comunidade internacional recordou o vigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim. À luz deste evento, a presidência da osce por parte da sua nação representa um testemunho eloquente de quanto o mundo avançou e amadureceu. A celebração deste aniversário também dá impulso ao fortalecimento daquelas conquistas democráticas em vista do futuro estável da região e na realidade do mundo inteiro. A Santa Sé está empenhada em consolidar as liberdades políticas conquistadas há vinte anos na Europa, cuja expressão externa apenas poderá florescer quando o dom divino da liberdade interior for respeitado e protegido.

Senhor Embaixador, ao oferecer-lhe os meus bons votos pelo sucesso da sua missão, garanto-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estão prontos para o ajudar e apoiar no cumprimento dos seus deveres. É desejo da Igreja desenvolver e aprofundar as harmoniosas relações que existem entre a Santa Sé e a República do Cazaquistão. Sobre Vossa Excelência, a sua família e o povo da República do Cazaquistão, invoco cordialmente abundantes bênçãos divinas.





Discursos Bento XVI 13129