Discursos Bento XVI 1041

AO SENHOR MD. ABDUL HANNAN, NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA POPULAR DO BANGLADESH JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009




1042 Senhor Embaixador!

É com prazer que lhe dou as boas vindas neste acto em que Vossa Excelência apresenta as Cartas Credenciais que o acreditam como Embaixador da República Popular do Bangladesh junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as saudações que me transmitiu da parte da Sua Excelência, o Presidente Zillur Rahman, e peço-lhe que lhe transmita os meus orantes bons votos pelo seu duradouro bem-estar e do povo do Bangladesh. A recente visita ao Vaticano do Primeiro-Ministro, Sua Excelência o Xeque Hasina Wajed, deu-me uma boa oportunidade para renovar o nosso empenho comum para reforçar o espírito de cooperação que tem caracterizado as relações cordiais entre a Santa Sé e o Bangladesh, há mais de trinta anos.

Excelência, enquanto o seu país ainda enfrenta muitos desafios económicos, sociais e ambientais, os significativos passos rumo ao desenvolvimento, dados recentemente, suscitaram a esperança dos seus cidadãos e chamaram a atenção da inteira comunidade global. Embora o número exíguo, também os católicos bangladeshianos compartilham as expectativas de que os esforços de colaboração, que permitiram alcançar estes benefícios, continuarão a animar a nação, enquanto os cidadãos estabelecem novos objectivos para o futuro e encontram novos caminhos para os alcançar.

Um destes objectivos foi a redução da pobreza. A sua diminuição está inextricavelmente ligada à difusão do emprego retribuído. O trabalho exprime a dignidade humana, permitindo que os homens e as mulheres realizem os seus talentos, desenvolvam as suas capacidades, e reforcem os laços da recíproca solidariedade. Esta solidariedade, por sua vez, tem também uma dimensão espiritual, pois dividindo os frutos dos seus trabalhos uns com os outros e especialmente com os mais carenciados as pessoas testemunham, em toda a parte, a bondade do Omnipotente e a sua solicitude para com os mais pobres e os mais frágeis.

Neste contexto, não se pode deixar de notar o sucesso das iniciativas do seu país em relação ao microcrédito e microfinança, que gradualmente está a trazer ao seu povo um novo nível de prosperidade.

Ainda mais, estas medidas são os sinais da tutela contra os riscos e os abusos da usura, nos sectores mais vulneráveis da sociedade (cf. Caritas in veritate ). Possa a correcta e prudente aplicação de inovativas estratégias de empréstimos suportar as infraestruturas rurais, estimular os mercados e promover o desenvolvimento e a difusão das tecnologias agrícolas, que permitirão um melhor emprego dos recursos humanos, naturais e sócio-económico do seu país.

Melhorar o nível da vida depende também muito do empenho na educação da juventude: jovens e moças.

Nas últimas décadas, isto tem sido justamente uma prioridade para o Bangladesh, e as aquisições neste âmbito fazem esperar no futuro. Numa época de globalização, é cada vez mais claro que uma maior possibilidade de acesso à educação é essencial para o desenvolvimento a todos os níveis. Sobretudo, é essencial que os professores compreendam a natureza da pessoa humana e olhem no íntimo de cada um dos estudantes como um indivíduo único e precioso, fornecendo alimento à alma e à mente. A Igreja Católica local está a desempenhar o seu papel neste âmbito, espalhando a sua rede de escolas e outras instituições educativas. Neste sentido, o Colégio de formação dos professores, recentemente instituído, pretende fornecer professores apropriadamente qualificados para garantir que o nível possa melhorar ainda mais e que no futuro o empenho no âmbito da educação possa continuar com passos vigorosos. Os positivos e recentes encontros com o Ministério da Educação e o estabelecimento das relações formais entre o Ministério e os Bispos para discutir questões de interesse comum, deveriam servir para reforçar a cooperação no âmbito da educação e permitir a rápida e amistosa resolução de qualquer questão que possa surgir de vez em quando.

Excelência, rezo para que muçulmanos, hindus, cristãos e todas as pessoas de boa vontade no seu país possam ser testemunhas incansáveis da coexistência pacífica, que continua a ser a vocação da humanidade inteira. Com essa finalidade, todos os cidadãos sobretudo os chefes compartilham a responsabilidade de apoiar os princípios que sustentam um correcto sistema democrático de governo. Intimidações e violências corroem as verdadeiras bases da harmonia social e devem ser condenadas como ofensivas para a vida humana e para a liberdade. Mostrar o amor preferencial para com os pobres e os mais aflitos, abraçar os débeis como preciosos aos olhos de Deus: estes são os modos através dos quais a sociedade é imbuída do sopro da bondade divina, que sustenta a vida de todas as criaturas.

Senhor Embaixador, no início da sua missão, formulo cordialmente votos de sucesso e garanto-lhe as minhas orações e o apoio das várias repartições da Santa Sé que estão prontas para o assistir. Invoco de bom grado abundantes bênçãos divinas, sobre Vossa Excelência, a sua família e todos os cidadãos do Bangladesh.




AO SENHOR ALPO RUSI, NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DA FINLÂNDIA JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

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Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009




Senhor Embaixador

Estou feliz por lhe dar as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador da República da Finlândia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as suas amáveis palavras e as saudações que Vossa Excelência expressa da parte do seu Presidente, Sua Excelência a Senhora Tarja Halonen. Peço-lhe que lhe comunique os meus bons votos pessoais e que lhe transmita as minhas contínuas orações pelo bem-estar e a prosperidade de todos os cidadãos da sua terra.

Como Vossa Excelência observou, a Santa Sé mantém relações diplomáticas cordiais com a Finlândia há mais de sessenta anos, e efectivamente existem muitas finalidades comuns nos assuntos internacionais, a propósito dos quais podemos continuar a trabalhar em conjunto. A sua nação tem dado demonstrações de um compromisso em benefício da construção de relações harmoniosas no seio da Europa, particularmente entre os Estados-membros da União Europeia. A fronteira da Finlândia com a Rússia torna-a capaz de agir como ponte com aquele país, e a sua proximidade em relação aos Estados bálticos significa que está bem situada para promover a cooperação e o intercâmbio recíproco entre eles e as terras nórdicas. A Santa Sé deseja ardentemente oferecer o seu apoio às iniciativas que encorajam a fraternidade entre as nações, e ao mesmo tempo reconhece que, por si só, os aspectos técnicos da cooperação e da coexistência estável não são suficientes para criar uma amizade duradoura entre os povos, nem para superar qualquer divisão. Pelo contrário, isto depende da caridade, um dom divino que pressupõe e contemporaneamente transcende a justiça nos relacionamentos humanos (cf. Caritas in veritate Caritas in veritate, 19 e 34). É aqui que a voz da Igreja tem uma contribuição essencial a oferecer aos assuntos internacionais, como de facto nações como a sua reconheceram, desde que as relações diplomáticas foram estabelecidas entre nós, durante os dias obscuros da Segunda Guerra Mundial.

Durante muitos anos, a Finlândia tem permanecido na vanguarda da actividade diplomática internacional nos campos da defesa da paz e dos direitos humanos. Efectivamente, o próprio nome da sua capital, Helsínquia, está associado a esta meta digna de valor, na mente de inúmeras pessoas. A sua nação tem contribuído de maneira activa para as operações que visam a manutenção da paz e recentemente guiou de forma distinta a presidência da Organização para a Segurança e a cooperação na Europa, uma agência que deve a sua origem ocorrida em 1975 ao Acto Final de Helsínquia, outro fruto da presença concreta do seu país na arena internacional.

Nesta perspectiva, a Santa Sé aprecia de maneira particular as iniciativas que o seu Governo tomou recentemente a fim de fortalecer os seus vínculos com as nações africanas. No passado mês de Outubro, por ocasião da inauguração da segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, falei a propósito da grande contribuição espiritual que as populações daquele continente podem oferecer para um mundo que, sob muitos pontos de vista, está a passar por uma crise de fé e de esperança (cf. Homilia, 4 de Outubro de 2009). Enquanto por um lado seria justamente necessário oferecer ajuda económica e transferência tecnológica às populações africanas, por outro lado, com a sua grande vitalidade e amor pela vida, elas têm também muito a ensinar ao resto do mundo. Neste contexto, o compromisso do seu país em vista do desenvolvimento representa um exemplo do modo como "orientar a globalização da humanidade em termos de relacionamento, comunhão e partilha" (Caritas in veritate ).

Os finlandeses gozam de uma distinta tradição de assistência humanitária, e o seu apoio aos povos menos afortunados manifesta-se igualmente no acolhimento oferecido aos imigrantes. Trata-se de uma área em que a Igreja pode ajudar, dado que a integração harmoniosa dos estrangeiros nos países receptores é imensamente facilitado, quando ali eles conseguem encontrar um lar espiritual, e as comunidades católicas, de modo especial quando são numericamente exíguas, estão sempre muito conscientes da sua comunhão com os cidadãos católicos no mundo inteiro. No passado mês de Setembro, a feliz ocasião da ordenação de um finlandês nativo como Bispo católico de Helsínquia, constituiu um sinal tanto das antigas raízes da Igreja católica finlandesa, como também do seu crescimento ao longo dos últimos anos. Neste contexto, é-me grato observar inclusivamente a crescente cooperação e diálogo entre as diferentes comunidades cristãs presentes na Finlândia. Estou grato a Vossa Excelência pelas saudações que me transmite da parte dos Arcebispos luterano e ortodoxo, enquanto lhe peço que tenha a amabilidade de lhes retribuir os votos recebidos. Estes sinais decrescimento da fraternidade entre os seguidores de Jesus Cristo são promissores do desenvolvimento, do entendimento e do respeito recíprocos entre os imigrantes que acabam de chegar, pertencentes as diversas religiões e os seus anfitriões finlandeses.

Uma contribuição vital que todos os grupos religiosos podem oferecer no seu país, assim como em toda a Europa, consiste em chamar a atenção para determinados valores que se encontram em perigo de ser corroídos através do processo de secularização. Compreendo as pressões que os vários governos estão a enfrentar, quando se encontram diante de exigências insistentes da parte de alguns, em nome da tolerância, para a aceitação de uma vasta série de pontos de vista e de estilos de vida, mas como eu mesmo tenho indicado com frequência, a virtude da tolerância não é servida mediante o sacrifício da verdade, particularmente da verdade a respeito da dignidade da pessoa humana. Exorto o seu Governo a continuar a ter em consideração as perspectivas éticas fundamentadas sobre a lei natural indelevelmente inscrita na nossa humanidade comum aqueles valores autenticamente humanos, aos quais Vossa Excelência acabou de se referir de tal maneira que a estima pela família e o respeito pela vida, de antiga tradição na Finlândia, possam forjar a sua resposta às delicadas problemáticas sociais com implicações a longo prazo, em vista da saúde de toda a sociedade humana.

Enquanto formulo os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão, gostaria de lhe garantir que os vários departamentos da Cúria Romana estão prontos para lhe oferecer ajuda e assistência no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e sobre todo o povo da Finlândia, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus.



AO SENHOR EINARS SEMANIS,

NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DA LETÓNIA JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009




Senhor Embaixador

1044 Ao dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e ao receber as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador da República da Letónia junto da Santa Sé, sinto-me feliz por manifestar a minha satisfação pelas cordiais relações que continuamos a manter. Estou grato a Vossa Excelência por ter transmitido as corteses saudações do seu Presidente, o Senhor Valdis Zatlers, e pedir-lhe-ia a amabilidade de lhe retribuir e comunicar os meus bons votos, tanto a ele como a todo o povo da República.

Da sua posição singular na costa báltica, a Letónia desempenhou um papel importante na evolução comercial e cultural da Europa. Esta influência não diminuiu nem sequer quando o seu povo permaneceu desprovido, durante períodos longos e difíceis, do seu estatuto de nação soberana. Agora, que a sua identidade nacional está bem definida, e que a sua população voltou a gozar da sua liberdade, a Letónia pode oferecer muito à comunidade internacional. O Senhor Embaixador mencionou o vigésimo aniversário do surgimento do "Baltic Way", em conformidade com o qual a Letónia, a Lituânia e a Estónia manifestaram o seu desejo de regressar plenamente à Europa. Este gesto histórico foi um acto de confiança nos valores essenciais da liberdade, da verdade, da justiça e da solidariedade que, assentes numa tradição e perspectiva cristãs, edificaram a cultura europeia e modelaram as suas instituições mais importantes. Tendo-se tornado membro da União Europeia em 2004, a Letónia também é chamada a participar na tarefa do continente, de encontrar os meios para uma maior colaboração internacional em vista de consolidar a liberdade, a paz e a prosperidade das respectivas populações.

O Senhor Embaixador também ressaltou os importantes momentos e frutos da história cristã no seu país, que tinha sido designada como Terra Mariana pelo Papa Inocêncio III no ano de 1205. Rezo a fim de que a Letónia, inspirada por um apelativo tão carinhoso e poderoso, possa permanecer fiel aos princípios e valores que as primeiras testemunhas cristãs levaram ao seu país, inclusive São Mainardo e outros pastores sábios e zelosos que evangelizaram a sua nação. Os cristãos de todas as Igrejas e Comunidades eclesiais presentes na Letónia são chamados a contribuir para a vida política e cultural da nação, mas também a trabalhar pela unidade visível do Corpo Místico de Cristo. O meu Predecessor, o saudoso Papa João Paulo II, na sua histórica visita à sua terra em 1993, insistiu sobre a busca de uma maior unidade cristã como contribuição para a unidade nacional e como uma prioridade para a renovação (cf. Discurso no Santuário Mariano de Aglona, 9 de Setembro de 1993). É necessário esperar em grande medida que esta renovação tenha lugar depressa, para o bem da nação no seu conjunto.

O povo letão, que é conhecido pelo seu amor à própria terra e solícito em protegê-la da degradação ambiental, também se inspira no seu folclore e cultura como base sólida para a sua solicitude pela terra em todos os seus aspectos. Utilizando a sua habilidade e cultivando os recursos que Deus lhe concedeu, enaltecendo a dignidade humana e respeitando a vida humana, mas também promovendo a vocação do homem para construir um humanismo aberto aos valores espirituais e transcendentes (cf. Caritas in veritate ), a Letónia tornar-se-á certamente um modelo de desenvolvimento que tutela a dignidade da pessoa humana e, ao mesmo tempo, demonstra-se sensível às exigências de uma economia sustentável.

A recente recessão económica global teve sérios efeitos sobre a economia da nação, gerando pobreza e desemprego em algumas regiões e deixando não poucas incertezas a respeito do porvir. A minha sincera esperança é que o povo letão possa animar-se, procurando juntamente com os seus líderes os modos eficazes para superar esta crise e reconstruir a força económica da Letónia. Esta época exige coragem e determinação. Senhor Embaixador, os seus concidadãos estão conscientes de que são necessárias algumas medidas radicais para promover o bem comum, mesmo à custa de certas restrições, renúncias e sacrifícios. Por um lado, este exercício só pode obter bom êxito e ser socialmente aceitável se for completado num espírito de justiça e equidade genuínas, prestando uma atenção especial àqueles que são mais vulneráveis. Rezo para que o espírito de recuperação do povo letão possa continuar a sustentá-lo.

Enfim, Excelência, estou convicto de que as cordiais relações existentes entre a Santa Sé e a Letónia, restabelecidas há 16 anos, depois de uma longa lacuna que nenhuma das duas partes desejou, ajudará a promover a fraternidade, o respeito e o diálogo. Enquanto manifesto os meus bons votos no início da sua missão como Embaixador junto da Santa Sé, asseguro-lhe a prontidão da Cúria Romana para o assistir no seu importante cargo. Possa Deus Todo-Poderoso derramar as suas copiosas bênçãos sobre Vossa Excelência e todo o povo da Letónia.




AOS OITO NOVOS EMBAIXADORES JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009


Senhores Embaixadores

Sinto-me feliz por vos receber esta manhã no Palácio Apostólico. Viestes apresentar-me as Cartas que vos acreditam como Embaixadores extraordinários e plenipotenciários dos vossos respectivos países: Dinamarca, Uganda, Sudão, Quénia, Cazaquistão, Bangladesh, Finlândia e Letónia. Sede bem-vindos e tende a amabilidade de apresentar as minhas cordiais saudações aos vossos Chefes de Estado e agradecer-lhes as cordiais palavras que gentilmente me transmitistes da sua parte. Formulo deferentes votos pela sua nobre Missão ao serviço do país. Gostaria igualmente, por vosso intermédio, de saudar as Autoridades civis e religiosas das vossas nações, assim como todos os vossos compatriotas. Saudai-os da minha parte. Os meus pensamentos abrangem também, naturalmente, as comunidades católicas presentes nos vossos países. Sabeis que elas desejam unir-se fraternalmente à edificação nacional para a qual contribuem do melhor modo que lhes é possível.

Na minha última Encíclica, Caritas in veritate, recordei o restabelecimento necessário de uma relação justa entre o homem e a criação na qual ele vive e trabalha. Por conseguinte, a criação é o dom precioso que Deus, na sua bondade, confiou aos homens. Eles são os seus administradores e devem portanto assumir todas as consequências desta responsabilidade. Os homens não a podem declinar nem evitar deixando-a para as gerações futuras. Torna-se evidente que esta responsabilidade ambiental não pode ser oposta à urgência de pôr fim aos escândalos da miséria e da fome. Já não é possível, ao contrário, desassociar-se destas duas realidades, pois a degradação contínua do meio ambiente constitui uma ameaça directa à sobrevivência do homem e ao seu próprio desenvolvimento; e corre até o risco de ameaçar directamente a paz entre as pessoas e os povos.

1045 Quer a nível individual quer político, é necessário doravante assumir compromissos mais decididos e amplamente partilhados em relação à criação. Neste sentido, encorajo vivamente as Autoridades políticas dos vossos respectivos países, e do conjunto das nações, não só a reforçar a sua acção em favor da salvaguarda do meio ambiente, mas também – dado que o problema não pode ser enfrentado só individualmente por cada país – a ser uma força de proposta e de estímulo, a fim de alcançar Acordos internacionais vinculantes que sejam úteis e justos para todos.

Os desafios com os quais a humanidade se depara hoje exigem certamente uma mobilização das inteligências e da criatividade do homem, uma intensificação da pesquisa aplicada em vista de um uso mais eficaz e sadio das energias e dos recursos disponíveis. Estes esforços não podem dispensar uma conversão ou uma transformação do modelo de desenvolvimento actual das nossas sociedades. A Igreja propõe que esta modificação profunda, que deve ser descoberta e vivida, esteja orientada pela noção de desenvolvimento integral da pessoa humana. De facto, o bem do homem não reside num consumo cada vez mais desenfreado e no acúmulo ilimitado de bens consumo e acúmulo reservados só a um pequeno número e propostos como modelo à massa. A este propósito, compete não só às diversas religiões ressaltar e defender a primazia do homem e do espírito, mas também ao Estado. Este tem o dever de o fazer sobretudo através de uma política ambiciosa que favoreça todos os cidadãos – em termos de igualdade – o acesso aos bens do espírito. De facto, eles valorizam a riqueza do vínculo social e encorajam o homem a prosseguir a sua busca espiritual.

Na passada Primavera, durante a minha viagem apostólica a diferentes países do Médio Oriente, propus em várias ocasiões que a religião seja considerada, em geral, como "novo começo" para a paz. Demasiadas vezes e muito rapidamente foi dito que ela é um factor de conflito. Estou convencido, por meu lado, de que ela se pode tornar um factor efectivo de paz.

A nossa humanidade deseja a paz e, se possível, a paz universal. É necessário tender para isto sem utopias nem manipulações. Todos sabemos que para estabelecer a paz são necessárias condições políticas e económicas, culturais e espirituais. A coexistência pacífica das diferentes tradições religiosas no seio de cada nação por vezes é difícil. Mais do que um problema político, esta coexistência é também um problema religioso que se apresenta a cada uma das tradições no seu interior. Todos os crentes são chamados a interrogar Deus sobre a Sua vontade em relação a cada situação humana.

Reconhecendo Deus como único criador do homem – de todos os homens, seja qual for a sua confissão religiosa, a sua condição social ou as opiniões políticas – cada um respeitará o próximo na sua unicidade e diferença.

Aos olhos de Deus não existe categoria alguma ou hierarquia de homem, inferior ou superior, dominante ou protegido. Para Ele há unicamente o homem que Ele criou por amor e que deseja ver vivo, em família e em sociedade, numa harmonia fraterna. A descoberta do sábio projecto de Deus para o homem leva-o a reconhecer o Seu amor. Para o homem de fé ou de boa vontade, a resolução dos conflitos humanos, assim como a delicada convivência das diferentes expressões religiosas, pode transformar-se numa coexistência humana numa ordem plena de bondade e de sabedoria que tem a sua origem e dinamismo em Deus. Esta coexistência no respeito da natureza das coisas e da sua sabedoria inerente que provém de Deus – a tranquillitas ordinis – chama-se paz. O diálogo inter-religioso dá a sua específica contribuição para esta lenta génese que desafia os imediatos interesses humanos, políticos e económicos. Por vezes é difícil para o mundo político e económico conceder ao homem o primeiro lugar; é ainda mais delicado considerar e admitir a importância e a necessidade do religioso, e garantir à religião a sua verdadeira natureza e lugar na sua vertente pública. A paz, tão almejada, só poderá nascer da acção conjunta do indivíduo, que descobre a sua verdadeira natureza em Deus, e dos dirigentes das sociedades civis e religiosas que – no respeito da dignidade da fé de cada um – saberão reconhecer e atribuir à religião o seu nobre e autêntico papel de realização e aperfeiçoamento da pessoa humana. Trata-se aqui de uma recomposição global, simultaneamente temporal e espiritual, que permitirá um novo começo rumo à paz universal que Deus deseja.

Senhores Embaixadores, a vossa missão junto da Santa Sé está a iniciar. Encontrareis sempre junto dos meus colaboradores o apoio necessário para o seu bom cumprimento. Apresento-vos de novo os meus votos mais cordiais pelo excelente êxito da vossa função tão delicada. Possa o Todo-Poderoso amparar-vos e acompanhar-vos, assim como aos vossos familiares, colaboradores e todos os vossos compatriotas! Deus vos cumule da abundância das suas Bênçãos!



AOS BISPOS DA BIELO-RÚSSIA POR OCASIÃO

DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos

Estou feliz por transmitir a cada um de vós as minhas cordiais boas-vindas à casa do Sucessor de Pedro, a quem Cristo confiou a tarefa de apascentar a sua grei (cf. Jn 21,15-19), confirmar os irmãos na fé (cf. Lc 22,31), conservar e promover a unidade eclesial (cf. Lumen gentium LG 22). Agradeço a D. Aleksander Kaszkiewicz as palavras com que quis apresentar o caminho da Igreja na Bielo-Rússia, evidenciando também os desafios que a esperam.

1046 Nos encontros que tive convosco, apreciei o zelo pastoral com que desempenhais o vosso ministério, no desejo e no compromisso para que aumentem cada vez mais no meio de vós a co-responsabilidade, a comunhão e a partilha das decisões, a fim de que o vosso serviço seja sempre mais fecundo. Com efeito, é particularmente importante anunciar com entusiasmo renovado e incisividade a Mensagem perene do Evangelho numa sociedade que não está imune às tentações da secularização, do hedonismo e do relativismo: os problemas da diminuição da natalidade, da fragilidade das famílias e da ilusão de encontrar fortuna fora da própria terra são um sinal disto. Diante de tais desafios, a tarefa urgente dos Pastores é de salientar a força da fé, uma fé arraigada numa tradição sólida, em vista de contribuir para preservar a profunda identidade cristã da Nação, no diálogo respeitador com as demais culturas e religiões. Para alcançar esta finalidade, é necessário que, acolhendo o convite do Salmo: "Como é belo e amável os irmãos viverem unidos" (Ps 133,1), tenhais grande cuidado ao formular programas e promover métodos pastorais cada vez mais adequados, assim como ao pôr em prática as decisões da Conferência Episcopal. Este renovado testemunho de unidade, além de ser útil para o anúncio do Evangelho, há-de favorecer a relação com a Autoridade civil e, particularmente, as relações ecuménicas.

Outro elemento que desejo sublinhar é a atenção especial a prestar, na acção pastoral, à dimensão educativa. Como pude afirmar, hoje vivemos numa espécie de "emergência" neste sector delicado e essencial, e é necessário multiplicar os esforços para oferecer, em primeiro lugar às novas gerações, uma formação válida. Portanto, encorajo-vos a dar continuidade ao vosso compromisso, oferecendo uma catequese adequada que marque o caminho de fé em todas as etapas da vida, e que haja ocasiões, intra e extra eclesiais, para fazer chegar, sob a vossa orientação, a Mensagem de Cristo a todos os âmbitos do rebanho que vos foi confiado. Adquire um relevo singular a preocupação pelo discernimento e o acompanhamento das diversas vocações, de modo particular sacerdotais e religiosas, assim como o compromisso para favorecer programas destinados ao crescimento humano e cristão da juventude. A este propósito, convido-vos a velar atentamente a fim de que os candidatos ao sacerdócio recebam uma formação espiritual e teológica sólida e rigorosa, e sejam devidamente guiados na realização de uma verificação séria e profunda do chamamento divino. A situação actual da nossa sociedade exige um discernimento particularmente atento. Então, é importante para o futuro da vossa Igreja que em Grodno e em Pinsk se continue a oferecer aos jovens seminaristas um itinerário formativo completo e qualificado, e é uma oportunidade preciosa para promover uma acção pastoral unitária também o facto de que em ambas as instituições os candidatos para o clero diocesano e para o religioso compartilhem o caminho rumo ao sacerdócio. Esta situação produzirá frutos cada vez mais promissores, se a proposta educativa continuar a ser o resultado de colaboração intensa entre o Bispo e os respectivos Superiores religiosos, e se for capaz de dar vida também a iniciativas para a formação permanente. Com solicitude cada vez maior, permanecei próximos dos vossos sacerdotes, especialmente daqueles que estão a começar o seu ministério pastoral. O exercício atento e cordial da paternidade do Bispo constitui um elemento fundamental para o bom êxito de uma vida sacerdotal! Além disso, é necessário ter sempre presente o facto de que o Senhor vos chama, como Pastores da Igreja, a saber discernir todo o ministério destinado à edificação do corpo eclesial, também de índole laica, cultural e civil, a fim de que todos contribuam para fazer crescer o Reino de Deus na Bielo-Rússia, no espírito de uma comunhão verdadeira e real para evocar aqueles valores cristãos que contribuíram de modo determinante para a construção da civilização europeia.

Estimados Irmãos, sabei valorizar qualquer contribuição justa para anunciar e difundir o Reino de Deus, testemunhando com gestos concretos a fraternidade que gera a paz; a mansidão que acompanha a justiça; o espírito de comunhão que evita personalismos; a caridade que é paciente e benigna, não é invejosa, não se ufana, não se ensoberbece, não é inconveniente, não procura o seu interesse, não se irrita, não suspeita mal, não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade, e tudo crê, tudo espera e tudo suporta por amor a Cristo (cf. 1Co 13,4-7). É neste contexto que se insere, outrossim, a colaboração fraternal com a Igreja ortodoxa da Bielo-Rússia, cujos Pastores compartilham convosco a busca e o compromisso em prol do bem dos fiéis. Também as Igrejas ortodoxas, assim como a Igreja católica, estão vigorosamente comprometidas em reflectir sobre o modo como enfrentar os desafios do nosso tempo para transmitir com fidelidade o Magistério de Cristo. Aceitando o convite salientado no recente encontro católico-ortodoxo de Chipre, é preciso intensificar o caminho conjunto nesta direcção. Uma contribuição significativa poderá ser oferecida pela pequena mas ardente Comunidade greco-católica presente no país. Ela constitui um testemunho importante para a Igreja e uma dádiva do Senhor.

Há alguns meses recebi o Senhor Presidente da República da Bielo-Rússia. Durante o encontro, cordial e respeitoso, foi confirmada a vontade que as partes têm de estipular um Acordo, que está a ser elaborado. Além disso, sublinhei a atenção especial com que esta Sé Apostólica, assim como a Conferência Episcopal, acompanham as vicissitudes do país e o compromisso de colaboração efectiva sobre matérias de interesse comum, em vista de promover, no respeito pelas competências de cada âmbito, o bem dos cidadãos.

Venerados Irmãos, enquanto vos renovo a minha gratidão, invoco a Mãe de Deus, tão amada na vossa Terra, a fim de que vos ajude e vos oriente com a sua salvaguarda. Com estes bons votos e com carinho particular que concedo a vós, bem como aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis, uma particular Bênção Apostólica, e garanto-vos a minha recordação na prece por todo o povo bielo-russo.




AOS PEREGRINOS DA BÉLGICA EM AGRADECIMENTO PELA ÁRVORE DE NATAL DA PRAÇA DE SÃO PEDRO Sala Clementina

Sexta-feira, 18 de Dezembro de 2009


Queridos irmãos e irmãs!

Dou as boas-vindas a todos vós, que viestes aqui para oferecer a árvore de Natal que, com o presépio, ornamentará a Praça de São Pedro durante as festas da Natividade. Dirijo uma saudação particular ao Ministro da Economia da Região da Valónia e a D. Aloys Jousten, Bispo de Liège, e agradeço-lhes as gentis palavras que me dirigiram. As minhas saudações vão também a Sua Excelência o Sr. Franck De Coninck, Embaixador da Bélgica junto da Santa Sé, assim como às Autoridades políticas locais que empreenderam a viagem. Saúdo de igual modo os coristas e os representantes da Agência valónia para a Exportação e os Investimentos exteriores que estão na origem do projecto. A minha gratidão estende-se a quantos ofereceram a própria colaboração para este dom e que hoje não puderam estar aqui presentes. Agradeço também às pessoas que garantiram o delicado transporte desta árvore imponente.

Na floresta, as árvores estão umas próximas das outras e cada uma delas contribui para fazer com que a floresta seja um lugar sombreado, por vezes escuro. Eis que, escolhido entre tantos, o abete majestoso que me ofereceis hoje está iluminado e coberto de decorações cintilantes que são como outros tantos frutos maravilhosos. Deixando o seu hábito escuro por um esplendor cintilante, é transfigurado e torna-se portador de uma luz que não é sua, mas que dá testemunho da verdadeira Luz que vem ao mundo. O destino desta árvore é a mesma dos pastores: enquanto velam nas trevas da noite, são iluminados pela mensagem dos anjos. O destino desta árvore é também comparável com o nosso, nós que somos chamados a dar bons frutos para mostrar que o mundo foi deveras visitado e resgatado pelo Senhor. Colocada ao lado do presépio, esta árvore mostra, à sua maneira, a presença do grande mistério no lugar simples e pobre de Belém. Aos habitantes de Roma, a todos os peregrinos, a quantos visitarem a Praça de São Pedro através das imagens das televisões de todo o mundo, ela proclama o advento do Filho de Deus. Através dela, é o solo da vossa terra e a fé das comunidades cristãs da vossa Região que saúdam o Menino Jesus que veio para renovar todas as coisas e convidar todas as criaturas, das mais humildes às mais elevadas, a entrar no mistério da Redenção e a ele se associar.

Rezo a fim de que as populações da vossa região permaneçam fiéis à luz da fé. Levada há tanto tempo por homens que se aventuraram nos vales e nas florestas das Ardenas, a luz do Evangelho voltou a partir depois do vosso país, levada por numerosíssimos missionários que deixaram a própria terra natal para a anunciar por vezes até aos confins do mundo. Possa a Igreja que está na Bélgica, e sobretudo a Diocese de Liège, ser ainda por muito tempo uma terra na qual germina com generosidade a semente do Reino que Cristo veio lançar na terra.


Discursos Bento XVI 1041