Discursos Bento XVI 1051


VISITA

À COMUNIDADE DE SANTO EGÍDIO EM ROMA

Domingo, 27 de Dezembro de 2009


DISCURSO NO FINAL DO ALMOÇO COM OS POBRES

SAUDAÇÃO FINAL

Caros amigos

É para mim uma experiência comovedora estar convosco, estar aqui na família da Comunidade de Santo Egídio, estar com os amigos de Jesus, porque Jesus ama especialmente as pessoas que sofrem, as pessoas em dificuldade, e quer que elas sejam os seus irmãos e as suas irmãs. Obrigado por esta possibilidade! Sinto-me muito feliz e estou agradecido a quantos, com amor e capacidade, prepararam a refeição – realmente senti a competência desta cozinha, parabéns! – e também àqueles que a serviram de maneira tão fluida que no arco de uma hora tivemos um grande almoço! Obrigado e parabéns! Dirijo o meu pensamento cordial a D. Luigi Moretti, Vice-Gerente, e a D. Vincenzo Paglia, Bispo de Terni-Narni-Amelia. Saúdo com afecto o Prof. Andrea Riccardi, – Fundador da Comunidade amigo desde há muito tempo, como também D. Paglia e D. Spreafico – e agradeço-lhe as palavras amáveis e profundas que desejou dirigir-me. Alémdo Prof. Riccardi, saúdo inclusive o Presidente, Prof. Marco Impagliazzo, e o Pároco de Santa Maria "in Trastevere", Mons. Matteo Zuppi, Assistente eclesiástico. Enfim, dirijo um pensamento especial a todos os amigos de Santo Egídio e a cada um dos presentes. Durante o almoço pude tomar conhecimento de um pouco da história de alguns, como reflexo das situações humanas aqui presentes; ouvi vicissitudes dolorosas e repletas de humanidade, mas também histórias de um amor reencontrado aqui em Santo Egídio: experiências de idosos, emigrantes, pessoas sem morada fixa, ciganos, portadores de deficiência, pessoas com problemas económicos ou outras dificuldades, e todos, de uma maneira ou outra, provados pela vida. Encontro-me aqui convosco para vos dizer que estou perto de vós, que vos estimo e que as vossas pessoas e vicissitudes não estão distantes dos meus pensamentos, mas sim no centro e no coração da Comunidade dos fiéis e assim também no meu coração.

Através dos gestos de amor daqueles que seguem Jesus, torna-se visível a verdade segundo a qual "(Deus) nos amou primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor" (Encíclica Deus caritas est ). Jesus diz: "Tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e recolhestes-me; estava nu e destes-me de vestir; adoeci e visitastes-me; estive na prisão e fostes visitar-me" (Mt 25,35-36). E conclui: "Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (v. 40). Ouvindo estas palavras, como não nos sentirmos verdadeiramente amigos daqueles em quem o Senhor se reconhece? E não apenas amigos, mas também familiares. Vim ao meio de vós precisamente na Festa da Sagrada Família porque, num certo sentido, ela se parece convosco. Com efeito, também a Família de Jesus, desde os seus primeiros passos, encontrou dificuldades: viveu o incómodo de não encontrar hospitalidade e foi obrigada a emigrar para o Egipto, devido à violência do rei Herodes. Vós sabeis bem o que significa ter dificuldades, mas aqui tendes alguém que vos quer bem e vos ajuda, aliás, alguns encontraram aqui a sua família graças ao serviço atencioso da Comunidade de Santo Egídio, que oferece um sinal do amor de Deus pelos pobres.

Aqui hoje realiza-se aquilo que acontece em casa: quem serve e ajuda confunde-se com quem é ajudado e servido, e em primeiro lugar encontra-se aquele está em maior dificuldade. Volta-me à mente a expressão do Salmo: "Como é bom, como é agradável viverem os irmãos em unidade!" (Ps 133 [132], 1). O compromisso de fazer com que se sinta em família quem está sozinho ou em necessidade, tão louvavelmente levado a cabo pela Comunidade de Santo Egídio, nasce da escuta atenta da Palavra de Deus e da oração. Desejo encorajar todos a perseverar neste caminho de fé. Com as palavras de São João Crisóstomo, gostaria de recordar a cada um: "Pensa que te tornas sacerdote de Cristo, oferecendo com a tua própria mão não a carne mas o pão, não o sangue mas um copo de água" (Homilias sobre o Evangelho de Mt 42,3). Que riqueza oferece à vida o amor de Deus, que se manifesta no serviço concreto aos irmãos que estão em necessidade! São Lourenço, diácono da Igreja de Roma, quando os Magistrados romanos daquela época o intimaram a entregar os tesouros da Igreja, indicou os pobres de Roma como o verdadeiro tesouro da Igreja. Recordando o gesto de São Lourenço, podemos justamente dizer que também vós pobres sois o tesouro precioso da Igreja.

Amar, servir, infunde a alegria do Senhor, que diz: "A felicidade está mais em dar do que em receber" (Ac 20,35). Nesta época de particulares dificuldades económicas, cada um seja sinal de esperança e testemunha de um mundo novo para quem, fechado no seu próprio egoísmo e iludido de poder ser feliz sozinho, vive na tristeza ou numa alegria efémera que deixa o coração vazio.

Passaram poucos dias desde o Santo Natal: Deus fez-se Menino, tornou-se próximo a nós para nos dizer que nos ama e tem necessidade do nosso amor. Com afecto desejo a todos boas festas e a alegria de experimentar cada vez mais o amor de Deus. Invoco a salvaguarda da Virgem da Visitação, Aquela que nos ensina a caminhar "depressa" ao encontro das necessidades dos irmãos, e abençoo-vos com carinho.

Antes de sair do refeitório, Bento XVI dirigiu uma saudação à multidão reunida fora da sede da Comunidade de Santo Egídio.

Queridos irmãos e irmãs

1052 Depois de ter participado no almoço festivo no refeitório da Comunidade de Santo Egídio e ter cumprimentado alguns estudantes da Escola de Línguas e de Cultura da Comunidade, dirijo os mais calorosos bons votos a vós, que não conseguistes entrar, mas que participastes neste encontro permanecendo fora, dizem-me, já há uma ou duas horas. Obrigado!

Muitas pessoas provenientes de vários países, marcadas pela necessidade, encontram-se aqui para procurar uma palavra, uma ajuda e uma luz para um futuro melhor. Comprometei-vos a fim de que ninguém permaneça sozinho, ninguém seja marginalizado, ninguém seja abandonado.

Existe uma língua que, para além das diferentes línguas, une tudo: é a do amor. Como o Apóstolo Paulo diz: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como bronze que ressoa, ou como címbalo que tine" (
1Co 13,1). Tal é a língua também desta Escola, que temos de aprender e praticar cada vez mais. Ensina-nos o Menino Jesus, Deus que por amor se fez um de nós e fala antes de tudo com a sua presença, com a sua humildade de ser um Menino que se faz dependente do nosso amor. Esta língua melhorará a nossa cidade e o mundo.

Abençoo todos vós com afecto e com reconhecimento por aquilo que fazeis pelos pobres, em vista da construção da civilização do amor. Obrigado a todos.

Boas festas e Bom Ano!


1053                                                                                2010                                                        



                                                                  Janeiro de 2010




AO SENHOR KENAN GÜRSOY, NOVO EMBAIXADOR DA TURQUIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 7 de Janeiro de 2010

Senhor Embaixador

Estou feliz por o receber no Vaticano e por aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Turquia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as suas amáveis palavras e os cumprimentos que me transmite em nome do seu Presidente, Sua Excelência Abdullah Gül. Por favor comunique-lhe os meus bons votos e garanta-lhe as minhas contínuas orações pelo bem-estar e a prosperidade de todos os cidadãos da sua terra.

Como Vossa Excelência observou, estamos a aproximar-nos rapidamente do 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Turquia e a Santa Sé, fruto do pontificado do meu predecessor Papa João XXIII, que serviu como Delegado Apostólico em Istambul e cujo afecto pelo povo turco é bem conhecido. Muito foi alcançado durante os últimos 50 anos nas áreas de interesse comum que Vossa Excelência indicou, e estou confiante de que estas relações cordiais se aprofundarão e fortalecerão como resultado da colaboração contínua nas muitas questões importantes que actualmente surgem nos assuntos multilaterais.

Recordo com muito prazer a minha visita ao vosso país em 2006, quando tive a possibilidade de apresentar a minha homenagem ao povo turco e aos membros do seu Governo. Aproveito esta oportunidade para renovar o meu apreço pela calorosa recepção que me foi reservada. Um dos momentos de relevo dessa visita foi o meu encontro com o Patriarca Bartolomeu I no Fanar. Na secular República da Turquia, ao lado da população muçulmana predominante, as comunidades cristas estão orgulhosas de desempenhar o seu papel, conscientes da sua herança antiga e da contribuição significativa que deram para a civilização, não só da sua terra, mas de toda a Europa. Durante as recentes celebrações no aniversário do segundo milénio do nascimento de Paulo de Tarso, esta herança crista tornou-se um foco de particular atenção no mundo inteiro, e gostaria de exprimir o apreço dos cristãos de todas as partes pelos passos que foram dados a fim de facilitar peregrinações e celebrações litúrgicas nos lugares associados ao grande Apóstolo.

A minha visita à Turquia também me proporcionou a agradável oportunidade de saudar os membros da comunidade muçulmana. De facto, foi a minha primeira visita como Papa a um país predominantemente islâmico. Fiquei contente por poder expressar a minha estima pelos muçulmanos e renovar o compromisso da Igreja Católica de prosseguir o diálogo inter-religioso num espírito de respeito e amizade recíproca, dando um testemunho conjunto da fé firme em Deus que caracteriza cristãos e muçulmanos, e esforçando-nos em conhecer-nos melhor uns aos outros de modo a fortalecer os vínculos de afecto entre nós (cf. Discurso durante o encontro com o Presidente do Departamento para os Assuntos Religiosos, Ancara, 28 de Novembro de 2006). É minha fervorosa oração que este processo conduza a uma maior confiança entre os indivíduos, as comunidades e os povos, especialmente nas áreas conflituosas do Médio Oriente.

Os católicos na Turquia apreciam a liberdade de culto que é garantida pela Constituição, e estão contentes por poderem contribuir para o bem-estar dos seus concidadãos, especialmente mediante o envolvimento em actividades caritativas e na assistência médica. Eles estão verdadeiramente orgulhosos da ajuda dada aos pobres pelos hospitais La Paix e Saint Georges, em Istambul. Para que estes esforços dignos possam florescer, estou convencido de que o seu Governo continuará a fazer o possível para que eles recebam todo o apoio de que necessitam. Além disso, a Igreja Católica na Turquia está à espera do reconhecimento jurídico civil. Isso iria ajudá-la a gozar da plena liberdade religiosa e a dar uma contribuição ainda maior para a sociedade.

Como Estado democrático secular que está localizado entre a Europa e a Ásia, a Turquia está bem posicionada para agir como ponte entre o islão e o Ocidente e para dar uma contribuição significativa para o esforço de levar paz e estabilidade ao Médio Oriente. A Santa Sé aprecia as numerosas iniciativas que a Turquia já tomou a este respeito, e deseja ardentemente apoiar ulteriores esforços para pôr um fim aos conflitos duradouros na região. Como a história tem mostrado com frequência, disputas territoriais e rivalidades étnicas só podem ser resolvidas de modo satisfatório, quando as aspirações legítimas de cada parte são devidamente levadas em consideração, as injustiças passadas são reconhecidas e, na medida do possível, reparadas. Permita-me assegurar a Vossa Excelência a alta prioridade que a Santa Sé dá à procura de soluções justas e duradouras para todos os conflitos na região e a sua prontidão para colocar os seus recursos diplomáticos ao serviço da paz e da reconciliação.

Ao formular-lhe os meus melhores votos para o sucesso da sua missão, gostaria de lhe garantir que os vários departamentos da Cúria Romana estão sempre dispostos a ajudá-lo e apoiá-lo no cumprimento das suas tarefas. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo da República da Turquia, invoco cordialmente as copiosas bênçãos do Todo-Poderoso.





PALAVRAS À COMPANHIA DE ROMA SÃO PEDRO DA ARMA DOS CARABINEIROS


1054
Quinta-feira, 7 de Janeiro de 2010




Venerado Irmão
Senhor Comandante-General
Senhores Generais
Senhor Comandante
Estimados Carabineiros da Companhia de Roma São Pedro!

Estou feliz por vos receber e dirigir a cada um de vós as minhas cordiais boas-vindas. Saúdo o Arcebispo Vincenzo Pelvi, Ordinário Militar para a Itália, e o Comandante-General da Arma dos Carabineiros, Senhor General Leonardo Gallitelli, enquanto lhe agradeço as amáveis expressões que me dirigiu em nome dos presentes. Juntamente com eles, saúdo os outros Senhores Generais e Oficiais, o Comandante Provincial da Arma, Senhor General Vittorio Tomasone, e o Comandante da Companhia de São Pedro, Capitão Gabriele De Pascalis. Dirijo o meu agradecimento a todos, especialmente a vós, prezados Carabineiros, pela obra diligente que levais a cabo com a presença vigilante e discreta ao redor do Vaticano.

O vosso compromisso contribui para dar segurança e tranquilidade aos peregrinos e aos visitantes que chegam ao centro da fé católica e permite-lhes o necessário recolhimento espiritual na visita ao Túmulo do Apóstolo Pedro e à Basílica que o encerra. Além disso, cria um clima favorável para o encontro com o Sucessor de Pedro, a quem Cristo confiou a tarefa de confirmar os irmãos na fé (cf.
Lc 22,31). Como sugere a majestosa colunata de Bernini, a casa de Pedro está sempre aberta para receber num abraço ideal os fiéis e todos os homens de boa vontade, que do Magistério dos Pontífices romanos recebem luz e encorajamento para crescer na fé e para se tornar construtores de paz e de uma tranquila convivência civil. Desta afluência pacífica e intensa de pessoas diferentes por idade, origem e cultura, vós sois testemunhas, tutores e garantes silenciosos e diligentes, e contudo necessários e preciosos.

Também as Festas de Natal, há pouco transcorridas, permitiram a muitas pessoas apreciar o vosso trabalho humilde mas indispensável, a fim de que a peregrinação a Roma constitua para cada visitantes uma ocasião singular para experimentar a alegria da fé e os valores da fraternidade, do acolhimento e do respeito recíproco, segundo o exemplo Daquele que, embora fosse Deus, se tornou Menino por amor a nós.

Queridos amigos, obrigado mais uma vez pela vossa colaboração! O Senhor vos recompense. Faço votos por que a vossa fé, a tradição de fidelidade e de generosidade de que sois herdeiros e os ideais da vossa Arma vos ajudem a encontrar neste serviço delicado motivos sempre novos de satisfação e a viver experiências positivas para a vossa vida profissional e pessoal.

Maria, a "Virgo fidelis", vossa Padroeira, vos acompanhe a vós e a Arma inteira, de modo particular quantos, em vários países do mundo estão comprometidos em delicadas missões de paz, e acolha os vossos propósitos de bem, apresentando-os ao seu Filho divino.

1055 É-me grato concluir este agradável encontro, formulando a vós e às vossas famílias fervorosos votos de toda a almejada graça e prosperidade no Senhor para o novo ano. Com estes votos, é do íntimo do coração que concedo a todos vós a Bênção Apostólica.




AO INSPECTORADO DE SEGURANÇA PÚBLICA NO VATICANO Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2010

Caros amigos do Inspectorado
de Segurança Pública no Vaticano!

Na conclusão das Festas de Natal, durante as quais contemplámos com o enlevo da fé o mistério do nascimento de Jesus, eis-nos reunidos para este encontro que já se tornou familiar. Bem-vindos à casa de Pedro!

Dirijo o meu cordial pensamento ao Prefeito Antonio Manganelli, Chefe da Polícia, assim como aos Vice-Chefes, Prefeitos Francesco Cirillo e Paola Basilone, ao Prefeito Salvatore Festa e ao Comandante da Polícia, Giuseppe Caruso. Juntamente com eles, saúdo os Dirigentes e Funcionários que, a vários níveis, compartilham as responsabilidades da Polícia de Estado, os Agentes, os Colaboradores, os Capelães e todos os presentes. Agradeço de modo particular ao Dr. Giulio Callini, Dirigente do Inspectorado de Segurança Pública "Vaticano", que quis dirigir-me expressões de estima cordial e de bons votos em nome dos presentes.

O compromisso assumido diariamente para tutelar a ordem pública na Praça de São Pedro e nos arredores do Vaticano é particularmente importante para o cumprimento da missão do Pontífice Romano. Com efeito, ele consente o clima de serenidade que permite a quantos vêm visitar o centro da Cristandade, a possibilidade de uma experiência religiosa autêntica, em contacto com testemunhos fundamentais da fé cristã, como o túmulo do Apóstolo Pedro, as relíquias de muitos Santos e os túmulos de numerosos Pontífices, amados e venerados pelo povo cristão.

Obrigado por este serviço precioso que prestais ao Papa e à Igreja! O Senhor vos recompense pelos sacrifícios frequentemente ocultos a favor de numerosos fiéis e visitantes, e para a salvaguarda da missão do Papa.

De cada um de vós são exigidos o compromisso e uma grande responsabilidade no cumprimento do próprio dever, mas aos olhos da fé ele deve constituir um modo especial para servir o Senhor, e como que para "lhe preparar o caminho", a fim de que a experiência vivida no centro da Cristandade represente para cada peregrino ou visitante uma ocasião particular para o encontro com o Senhor, que transforma a vida.

Em muitas ocasiões pude observar a atenção e a sensibilidade de espírito que inspiram o vosso serviço, assim como a fidelidade e a dedicação, não separadas de notáveis sacrifícios que ele comporta. Estou convicto de que eles são fruto também da vossa fé e do vosso amor pela Igreja.

Aquilo que sois chamados a realizar possa tornar-vos cada vez mais fortes e coerentes na fé, e a não ter medo nem hesitação ao manifestá-la no âmbito das vossas respectivas famílias, do vosso trabalho e onde quer que vos encontreis.

1056 Confio-vos, bem como o vosso trabalho, à protecção maternal de Maria Santíssima, Mãe de Jesus e Rainha de todas as famílias: Ela atenda às vossas intenções e as corrobore, apresentando-as ao seu Filho.

Enquanto retribuo os bons votos de prosperidade serena para o novo ano, a vós, aos vossos colegas e às pessoas queridas, concedo de coração a Bênção Apostólica.






À COMUNIDADE E AOS EX-ALUNOS DO PONTIFÍCIO COLÉGIO NORTE AMERICANO Sábado, 9 de Janeiro de 2010



Eminências
Queridos Irmãos
Bispos e Sacerdotes

É com prazer que dou as boas-vindas aos ex-alunos do Pontifício Colégio Norte-Americano, juntamente com o Reitor, os membros da faculdade e os estudantes do seminário na colina do "Gianicolo", assim como aos sacerdotes estudantes da Casa Santa Maria da Humildade. O nosso encontro realiza-se no encerramento das celebrações que marcam o sesquicentenário de fundação do Colégio por parte do meu predecessor, o Beato Pio IX. Nesta feliz ocasião, é de bom grado que me uno a vós, dando graças ao Senhor pelos numerosos modos como o Colégio permaneceu fiel à sua visão originária, formando gerações de eficazes pregadores do Evangelho e ministros dos sacramentos, dedicados ao Sucessor de Pedro e comprometidos na edificação da Igreja nos Estados Unidos da América.

Neste Ano sacerdotal, é apropriado o facto de terdes voltado ao Colégio e à Cidade Eterna, com a finalidade de de dar graças pela formação académica e espiritual que alimentou o vosso ministério sacerdotal ao longo dos anos. A presente reunião é uma oportunidade não só para recordar com gratidão o período dos vossos estudos, mas também para confirmar o vosso afecto filial pela Igreja de Roma, evocar as obras apostólicas dos inúmeros ex-alunos que vos precederam e para vos comprometerdes novamente nos excelsos ideais de santidade, fidelidade e zelo pastoral, que vós abraçastes no dia da vossa ordenação. Esta é, igualmente, uma oportunidade para renovar o vosso amor pelo Colégio e o vosso apreço pela sua missão distintiva em prol da Igreja no vosso país.

Durante a minha Visita Pastoral aos Estados Unidos, manifestei a minha convicção de que a Igreja na América é chamada a cultivar "uma "cultura" intelectual que seja genuinamente católica, confiante na profunda harmonia entre fé e razão, e preparada para levar a riqueza da visão da fé a entrar em contacto com as questões urgentes que dizem respeito ao porvir da sociedade norte-americana" (Homilia no Nationals Stadium, Washington, 17 de Abril de 2008). Como o Beato Pio IX justamente previu, o Pontifício Colégio Norte-Americano em Roma está preparado de forma singular para enfrentar este desafio perene. Durante o século e meio que passou desde a sua fundação, o Colégio ofereceu aos seus estudantes uma experiência extraordinária da universalidade da Igreja, da vastidão da sua tradição intelectual e espiritual e da urgência do seu mandato de levar a verdade salvífica de Cristo aos homens e às mulheres de todos os tempos e lugares. Estou convicto de que, salientando estas características distintivas de uma educação romana em todos os aspectos do seu programa de formação, o Colégio continuará a formar pastores sábios e generosos, capazes de transmitir a fé católica na sua integridade, levando a misericórdia infinita de Cristo aos mais frágeis e àqueles que se perderam, e permitindo que os católicos da América sejam fermento do Evangelho na vida social, política e cultural da sua nação.

Estimados Irmãos, rezo a fim de que durante estes dias sejais renovados na dádiva do Espírito Santo, que recebestes no dia da vossa ordenação. Na capela do Colégio, dedicada à Bem-Aventurada Virgem Maria, sob o título da Imaculada Conceição, Nossa Senhora é representada em companhia de quatro modelos e padroeiros extraordinários da vida e do ministério presbiteral: São Gregório Magno, São Pio X, São João Maria Vianney e São Vicente de Paulo. Durante este Ano sacerdotal, estes grandes santos continuem a velar sobre os estudantes que rezam diariamente no meio deles; que eles orientem e sustentem o vosso ministério, intercedendo pelos sacerdotes dos Estados Unidos. Com cordiais bons votos pela fecundidade espiritual dos próximos dias e com grande afecto no Senhor, concedo-vos a minha Bênção Apostólica, que de bom grado torno extensiva a todos os ex-alunos e amigos do Pontifício Colégio Norte-Americano.




AO CORPO DIPLOMÁTICO ACREDITADO JUNTO DA SANTA SÉ PARA A TROCA DE BONS VOTOS DE INÍCIO DE ANO Sala Régia

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Segunda-feira, 11 de Janeiro de 2010

Excelências,

Senhoras e Senhores,

Este encontro tradicional ao início do ano, duas semanas depois da celebração do nascimento do Verbo encarnado, é para mim uma grande alegria. Como proclamámos na liturgia, «no mistério do seu nascimento, Aquele que, por sua natureza, era invisível tornou-Se visível aos nossos olhos. Gerado desde toda a eternidade, começou a existir no tempo, para renovar em Si a natureza decaída e restaurar o universo» (Prefácio do Natal II). Deste modo, no Natal, contemplámos o mistério de Deus e o da criação: pelo anúncio dos Anjos aos pastores, chegou-nos a boa nova da salvação do homem e da renovação de todo o universo. Por este motivo, na Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz deste ano, convidei todas as pessoas de boa vontade – precisamente aquelas a quem os Anjos prometeram a paz – a protegerem a criação. E, no mesmo espírito, tenho a alegria de saudar cada um de vós, nomeadamente aqueles que pela primeira vez tomam parte nesta cerimónia. Agradeço-vos vivamente os votos de que se fez intérprete o vosso decano, Senhor Embaixador Alejandro Valladares Lanza, e renovo-vos a expressão do meu grande apreço pela missão que desempenhais junto da Santa Sé. Por vosso intermédio, desejo fazer chegar cordiais cumprimentos e votos de paz e prosperidade às Autoridades e a todos os habitantes dos países que dignamente representais. O meu pensamento abraça também todas as outras nações da terra: o Sucessor de Pedro mantém aberta a sua porta para todos, e com todos deseja tecer relações que contribuam para o progresso da família humana. Desde há algumas semanas, a Santa Sé e a Federação da Rússia estabeleceram relações diplomáticas plenas, motivo este que me dá profunda satisfação. Do mesmo modo, revestiu-se grande significado a visita que me fez recentemente o Presidente da República Socialista do Vietname, país caro ao meu coração, onde a Igreja está a celebrar sua presença plurissecular com um Ano Jubilar. Neste espírito de abertura, recebi, ao longo do ano 2009, numerosas personalidades políticas vindas de diversos países; também eu visitei alguns deles, sendo minha intenção continuar, na medida do possível, a fazê-lo no futuro.

A Igreja está aberta a todos, porque, em Deus, existe para os outros. Por isso compartilha intensamente a sorte da humanidade, que, neste ano há pouco iniciado, aparece ainda marcada pela crise dramática que atingiu a economia mundial, provocando uma instabilidade social grave e generalizada. Na encíclica Caritas in veritate, convidei a procurar as raízes profundas desta situação: em última análise, encontram-se numa mentalidade egoísta e materialista corrente, esquecida dos limites inerentes a toda a criatura. Hoje queria sublinhar que esta mentalidade ameaça igualmente a criação. Provavelmente cada um de nós poderia citar um exemplo dos danos que a mesma provoca ao ambiente nos quatro ângulos da terra. Cito um, dentre muitos outros, na história recente da Europa: há vinte anos, quando caiu o muro de Berlim e quando desabaram os regimes materialistas e ateus que durante vários decénios tinham dominado uma parte deste continente, não se pôde porventura medir as feridas profundas que um sistema económico sem referências assentes na verdade do homem infligira não só à dignidade e liberdade das pessoas e dos povos, mas também à natureza, com a poluição do solo, das águas e do ar? A negação de Deus desfigura a liberdade da pessoa humana, mas devasta também a criação. Daqui resulta que a salvaguarda da criação não visa tanto responder a uma exigência estética, como sobretudo a uma exigência moral, porque a natureza exprime um desígnio de amor e de verdade que nos precede e que vem de Deus.

Por este motivo, compartilho a preocupação crescente causada pelas resistências de ordem económica e política na luta contra a degradação do ambiente. Trata-se de dificuldades que se puderam constatar ainda ultimamente, por ocasião da XV Sessão da Conferência dos Estados membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, que teve lugar em Copenhaga de 7 a 18 de Dezembro passado. Espero que no decurso deste ano, primeiro em Bona e depois no México, seja possível chegar a um acordo para enfrentar de maneira eficaz esta questão. Trata-se de uma aposta tanto mais importante quanto em jogo está o próprio destino de algumas nações, nomeadamente alguns Estados insulares.

Mas convém que esta atenção e este empenho pelo ambiente apareçam devidamente ordenados no conjunto dos grandes desafios que se colocam à humanidade. Se se quer construir uma paz verdadeira, como se poderia separar ou mesmo contrapor a protecção do ambiente e a da vida humana, incluindo a vida antes de nascer? É no respeito da pessoa humana por ela mesma que se manifesta o seu sentido da responsabilidade pela criação. Porque, como ensina São Tomás de Aquino, o homem representa o que há de mais nobre no universo (cf. Summa Theologiae, I, q. 29, a. 3). Além disso, como recordei na recente Cimeira Mundial da FAO sobre a Segurança Alimentar, «a terra é capaz de alimentar suficientemente todos os seus habitantes» (Discurso de 16 de Novembro de 2009, n. 2), desde que o egoísmo não leve ao açambarcamento por alguns dos bens destinados a todos.

Queria sublinhar ainda que a salvaguarda da criação implica uma gestão correcta dos recursos naturais dos países e, em primeiro lugar, daqueles que se encontram economicamente desfavorecidos. Penso no continente africano, que tive a alegria de visitar por ocasião da minha viagem aos Camarões e a Angola no passado mês de Março, e ao qual foram consagrados os trabalhos da recente Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos. Os Padres Sinodais assinalaram, com preocupação, a erosão e a desertificação de amplas extensões de terra cultivável, por causa da exploração selvagem e da poluição do ambiente (cf. Propositio 22). Na África, como noutros lados, é necessário adoptar opções políticas e económicas capazes de assegurar «formas de produção agrícola e industrial que respeitem a ordem da criação e satisfaçam as necessidades primárias de todos» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2010, n. 10).

Por outro lado, como esquecer que a luta pelo acesso aos recursos naturais é uma das causas de vários conflitos, nomeadamente na África, sendo a fonte de um risco permanente também noutros casos? Esta é mais uma razão que me leva a repetir com vigor que, para cultivar a paz, é preciso proteger a criação. Em diversas partes, há ainda vastas extensões, por exemplo no Afeganistão ou em alguns países da América Latina, onde infelizmente a agricultura está ainda ligada à produção de droga, constituindo aquela uma fonte não indiferente de emprego e subsistência. Se se quer a paz, é preciso preservar a criação pela reconversão de tais actividades, e eu queria pedir, uma vez mais, à comunidade internacional que não se resigne com o tráfico da droga nem com os graves problemas morais e sociais que a mesma gera.

Sim, Senhoras e Senhores, a protecção da criação é um factor importante de paz e de justiça. De entre os numerosos desafios que lança, um dos mais graves é o do aumento das despesas militares e também o da manutenção e desenvolvimento dos arsenais nucleares. Enormes recursos económicos são absorvidos por tais finalidades, quando poderiam ser destinados para o desenvolvimento dos povos, sobretudo dos mais pobres. Por este motivo, espero firmemente que, por ocasião da Conferência para o exame do Tratado de Não-Proliferação das Armas Nucleares, que se realizará no próximo mês de Maio em Nova Iorque, sejam tomadas decisões eficazes em ordem a um desarmamento progressivo, que vise libertar o mundo das armas nucleares. Alargando mais o horizonte, deploro que a produção e a exportação das armas contribuam para perpetuar conflitos e violências, como no Darfour, na Somália ou na República Democrática do Congo. À incapacidade das partes directamente implicadas para saírem da espiral de violência e sofrimento gerada por estes conflitos, junta-se a aparente impotência dos outros países e das organizações internacionais para restabelecerem a paz, sem contar a indiferença quase resignada da opinião pública mundial. Não há necessidade de sublinhar quanto tais conflitos danifiquem e degradem o ambiente. Enfim, como não mencionar o terrorismo, que põe em perigo tantas vidas inocentes e provoca uma difusa ansiedade? Nesta solene ocasião, queria renovar o apelo que lancei no dia um de Janeiro, por ocasião da oração do Angelus, a quantos fazem parte de grupos armados, sejam eles quais forem, para que abandonem o caminho da violência e abram seu coração à alegria da paz.

1058 As graves violências que acabo de evocar, associadas aos flagelos da pobreza e da fome e também às catástrofes naturais e à destruição do ambiente, contribuem para engrossar as fileiras daqueles que abandonam as suas próprias terras. Face a tal êxodo, desejo exortar as Autoridades civis a diversos títulos nele interessadas para que trabalhem com justiça, solidariedade e clarividência. De modo particular, queria mencionar aqui os cristãos do Médio Oriente. Afrontados de diversas maneiras, mesmo até no exercício da sua liberdade religiosa, deixam a terra de seus pais, onde se desenvolveu a Igreja dos primeiros séculos. A fim de lhes dar apoio e fazer sentir a solidariedade dos seus irmãos na fé, convoquei para o próximo Outono a Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos.

Senhoras e Senhores Embaixadores, até agora limitei-me a evocar alguns aspectos ligados com a problemática do ambiente. Contudo as raízes da situação, que está à vista de todos, são de ordem moral e a questão deve ser enfrentada no quadro de um grande esforço de educação, para promover uma real mudança das mentalidades e estabelecer novos modos de vida. A comunidade dos crentes pode e quer participar nisso, mas, para o fazer, precisa que o seu papel público seja reconhecido. Infelizmente em certos países, sobretudo ocidentais, difundiu-se nos meios políticos e culturais, bem como nos mass media, um sentimento de pouca consideração e por vezes de hostilidade, para não dizer menosprezo, para com a religião, particularmente a religião cristã. É claro que, se se considera o relativismo como um elemento constitutivo essencial da democracia, corre-se o risco de conceber a laicidade apenas em termos de exclusão ou, mais exactamente, de recusa da importância social do facto religioso. Mas uma tal perspectiva gera confronto e divisão, prejudica a paz, perturba a ecologia humana e, rejeitando por princípio atitudes diversas da sua, torna-se uma estrada sem saída. Por isso, é urgente definir uma laicidade positiva, aberta, que, fundada sobre uma justa autonomia da ordem temporal e da ordem espiritual, favoreça uma sã cooperação e um espírito de responsabilidade compartilhada. Nesta perspectiva, penso na Europa, que, com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, abriu uma nova fase do seu processo de integração, que a Santa Sé continuará a seguir com respeito e benévola atenção. Notando com satisfação que o Tratado prevê que a União Europeia mantenha com as Igrejas um diálogo «aberto, transparente e regular» (art. 17), faço votos de que a Europa, na construção do seu futuro, saiba sempre beber nas fontes da sua própria identidade cristã. Como afirmei no passado mês de Setembro durante a minha viagem apostólica pela República Checa, tal identidade tem um papel insubstituível «na formação da consciência de cada geração e na promoção de um consenso ético de base que é útil para todas as pessoas que chamam a este continente “minha casa”» (Encontro com as Autoridades Políticas e Civis e com o Corpo Diplomático, 26 de Setembro de 2009).

Prosseguindo a nossa reflexão, é necessário evidenciar a complexidade da problemática do ambiente; poder-se-ia dizer que se trata de um prisma plurifacetado. As criaturas são diferentes umas das outras e podem ser protegidas ou, pelo contrário, colocadas em perigo de diversas maneiras, como no-lo demonstra a experiência diária. Um destes ataques provém das leis ou dos projectos que, em nome da luta contra a discriminação, atentam contra o fundamento biológico da diferença entre os sexos. Refiro-me, por exemplo, a países europeus ou do continente americano. «Se tiras a liberdade, tiras a dignidade»: diz São Columbano (Epist. n. 4 ad Attela, in S. Columbani Opera, Dublim, 1957, p. 34). Todavia a liberdade não pode ser absoluta, porque o homem não é Deus, mas imagem de Deus, sua criatura. Para o homem, o caminho a seguir não pode ser fixado pelo que é arbitrário ou apetecível, mas deve, antes, consistir na correspondência à estrutura querida pelo Criador.

A salvaguarda da criação comporta ainda outros desafios, aos quais se pode responder apenas com a solidariedade internacional. Penso nas catástrofes naturais, que semearam mortes, sofrimentos e destruições, durante o ano passado, nas Filipinas, no Vietname, no Laus, no Camboja e na ilha de Taipé. Como não recordar também a Indonésia e, mais perto de nós, a região dos Abruzos, feridas por terramotos devastadores? Perante tais acontecimentos, não deve jamais faltar uma generosa assistência, porque está em jogo a própria vida das criaturas de Deus. Mas, além da solidariedade, a preservação da criação tem necessidade também da concórdia e da estabilidade dos Estados. Quando surgirem divergências e hostilidades entre estes últimos, para defender a paz, devem seguir com tenacidade o caminho de um diálogo construtivo. Foi o que aconteceu há vinte e cinco anos com o Tratado de Paz e Amizade entre a Argentina e o Chile, concluído graças à mediação da Sé Apostólica. O mesmo trouxe abundantes frutos de cooperação e de prosperidade, que de certa maneira beneficiaram toda a América Latina. Nesta mesma região do mundo, vejo com alegria a aproximação que a Colômbia e o Equador estão a realizar depois de vários meses de tensão. Mais perto de nós, alegra-me o entendimento concluído entre a Croácia e a Eslovénia a propósito da arbitragem relativa à sua fronteira marítima e terrestre. Sinto-me feliz igualmente com o Acordo entre a Arménia e a Turquia em ordem à retoma das relações diplomáticas, e espero também que, através do diálogo, melhorem as relações entre todos os países do Cáucaso meridional. Durante a minha peregrinação à Terra Santa, convidei instantemente os Israelitas e os Palestinianos a dialogarem e a respeitarem os direitos uns dos outros. Uma vez mais, elevo a minha voz pedindo que seja universalmente reconhecido o direito que tem o Estado de Israel a existir e gozar de paz e segurança nas fronteiras internacionalmente reconhecidas. E que de igual modo seja reconhecido o direito do Povo Palestiniano a uma pátria soberana e independente, a viver com dignidade e a deslocar-se livremente. Além disso, queria pedir o apoio de todos para que se protejam a identidade e o carácter sagrado de Jerusalém, a sua herança cultural e religiosa, cujo valor é universal. Só assim poderá esta cidade única, santa e atribulada ser sinal e antecipação da paz que Deus deseja para toda a família humana. Por amor do diálogo e da paz, que salvaguardam a criação, exorto os governantes e os cidadãos do Iraque a superarem as divisões, a tentação da violência e a intolerância, para construírem juntos o futuro do seu país. Também as comunidades cristãs querem prestar a sua colaboração, mas para isso é preciso que lhes seja assegurado respeito, segurança e liberdade. O Paquistão foi também duramente fustigado pela violência nestes últimos meses, e alguns episódios visaram directamente a minoria cristã. Peço que se faça o possível para que tais agressões não se repitam mais e que os cristãos possam sentir-se plenamente integrados na vida do seu país. Falando de violências contra os cristãos, não posso, por outro lado, deixar de mencionar o deplorável atentado de que acaba de ser vítima a comunidade copta egípcia nestes últimos dias, precisamente quando ela festejava o Natal. Relativamente ao Irão, espero que, através do diálogo e da colaboração, se encontrem soluções compartilhadas, tanto a nível nacional como no plano internacional. Ao Líbano, que superou uma longa crise política, desejo que prossiga pelo caminho da concórdia. Espero que as Honduras, depois de um tempo de incerteza e agitação, se encaminhe novamente para uma normalidade política e social. E desejo que venha a suceder o mesmo na Guiné e em Madagascar, com a ajuda efectiva e desinteressada da comunidade internacional.

Senhoras e Senhores Embaixadores, no termo deste rápido giro de horizonte, que, por causa da sua brevidade, não pode mencionar todas as situações que mereceriam ser referidas, voltam-me à mente as palavras do Apóstolo Paulo, segundo o qual «toda a criatura geme ainda agora e sofre» e «também nós gememos interiormente» (
Rm 8,20-23). Sim, há tanto sofrimento na humanidade e o egoísmo humano danifica a criação de muitas maneiras. É por isso que a expectativa da salvação, que diz respeito a toda a criação, aparece ainda mais intensa e está presente no coração de todos, crentes e descrentes. A Igreja indica que a resposta a esta aspiração é Cristo, «primogénito de toda a criatura, porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra» (Col 1,15-16). Fixando n’Ele o meu olhar, exorto todas as pessoas de boa vontade a trabalharem, com confiança e generosidade, pela dignidade e a liberdade do homem. Que a luz e a força de Jesus nos ajudem a respeitar a ecologia humana, cientes de que esta beneficiará a ecologia ambiental, porque o livro da natureza é único e indivisível. Poderemos assim consolidar a paz para as gerações actual e futuras. Um Ano feliz para todos!







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