Discursos Bento XVI 20250

AO SENHOR LNVSANTSEREN ORGIL, NOVO EMBAIXADOR DA MONGÓLIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 20 de Maio de 2010

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Excelência!

Estou feliz por o receber no Vaticano e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Mongólia junto da Santa Sé. Estou-lhe profundamente grato pelas saudações que me transmitiu em nome do Presidente Tsakhia Elbegdorj e peço-lhe que lhe comunique os meus fervorosos bons votos por ele e por todos os seus concidadãos. No momento em que a sua nação celebra o vigésimo aniversário da sua passagem à democracia, expresso a minha confiança de que o enorme progresso realizado nestes anos continue a gerar frutos na consolidação da ordem social que promove o bem comum dos seus cidadãos, apoiando simultaneamente as suasaspirações legítimas para o futuro.

Senhor Embaixador, aproveito também esta ocasião para expressar a minha solidariedade e solicitude pelos numerosos indivíduos e famílias que, no ano passado, sofreram por causa do Inverno rigoroso e dos efeitos das chuvas torrenciais e das inundações. Como Vossa Excelência justamente observou, questões ambientais, de modo especial aquelas relacionadas com as mudanças climáticas, são problemas globais e precisam de ser enfrentadas a nível global.

Como Vossa Excelência notou, o estabelecimento de relações diplomáticas entre a Mongólia e a Santa Sé, que teve lugar depois das grandes mudanças sociais e políticas de há duas décadas, são um sinal do compromisso da sua nação a favor de um intercâmbio enriquecedor dentro de uma comunidade internacional mais ampla. A religião e a cultura, como expressões correlacionadas das mais profundas aspirações espirituais da nossa humanidade comum, naturalmente servem como incentivo para o diálogo e a cooperação entre os povos ao serviço da paz e do desenvolvimento genuíno. O desenvolvimento humano autêntico, com efeito, precisa de ter em consideração todas as dimensões da pessoa, e assim aspirar aos bens mais altos que respeitam a natureza espiritual do homem e o seu destino último (cf. Caritas in veritate ). Por esta razão, desejo exprimir o meu apreço pelo constante apoio do Governo para garantir a liberdade religiosa. A criação de uma comissão, encarregada da correcta aplicação da lei e da protecção dos direitos de consciência e da prática livre da religião, constitui um reconhecimento da importância dos grupos religiosos no tecido social e do seu potencial na promoção de um futuro harmonioso e próspero.

Senhor Embaixador, aproveito esta ocasião para lhe garantir o desejo dos cidadãos católicos da Mongólia de contribuir para o bem comum através da participação total na vida da nação. A missão primária da Igreja é pregar o Evangelho de Jesus Cristo. Em fidelidade à mensagem libertadora do Evangelho, ela tenta contribuir também para o progresso da comunidade inteira. É nisso que se inspiram os esforços da comunidade católica para cooperar com o Governo e com as pessoas de boa vontade, trabalhando para superar todos os tipos de problemas sociais. A Igreja também está interessada em desempenhar o seu papel na obra de formação intelectual e humana, sobretudo através da educação dos jovens nos valores do respeito, da solidariedade e na solicitude para com os menos afortunados. Deste modo, ela esforça-se por servir o seu Senhor, demonstrando solicitude caridosa para com os necessitados e pelo bem da família humana inteira.

Senhor Embaixador, transmito-lhe os meus fervorosos bons votos pela sua missão, e garanto-lhe a disponibilidade dos departamentos da Santa Sé para o assistir no cumprimento das suas altas responsabilidades. Estou convicto de que a sua representação ajudará a fortalecer as boas relações existentes entre a Santa Sé e a Mongólia. Sobre Vossa Excelência, a sua família e toda a população da sua nação, invoco cordialmente copiosas bênçãos divinas.



POR OCASIÃO DO CONCERTO OFERECIDO PELA SUA SANTIDADE KIRILL I NO CONTEXTO DAS "JORNADAS DA CULTURA E DA ESPIRITUALIDADE RUSSA NO VATICANO" Quinta-feira, 20 de Maio de 2010

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Venerados Irmãos
Ilustres Senhores e Senhoras
Estimados irmãos e irmãs

Há pouco ouvimos, numa sublime melodia, as palavras do Salmo 135, que interpretam bem os nossos sentimentos de louvor e de gratidão ao Senhor, assim como a nossa intensa alegria interior por este momento de encontro e de amizade com os amados Irmãos do Patriarcado de Moscovo. Por ocasião do meu aniversário e do quinto aniversário da minha eleição a Sucessor de Pedro, Sua Santidade Kirill I, Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias quis oferecer-me, juntamente com as amáveis palavras da sua Mensagem, este extraordinário momento musical, apresentado pelo Metropolita Hilarion de Volololamsk, Presidente do Departamento das Relações Exteriores do Patriarcado de Moscovo e autor da Sinfonia que acaba de ser executada.

Por isso, a minha profunda gratidão dirige-se em primeiro lugar a Sua Santidade Kirill. Transmito-lhe a minha saudação mais fraterna e cordial, expressando sentidamente os bons votos por que o louvor ao Senhor e o compromisso pelo progresso da paz e da concórdia entre os povos nos irmanem cada vez mais e nos façam crescer na sintonia das intenções e na harmonia das obras. Portanto, agradeço do íntimo do coração ao Metropolita Hilarion a saudação que gentilmente me dirigiu e o seu constante compromisso ecuménico, congratulando-me com Ele pela sua criatividade artística, que pudemos apreciar. Juntamente com ele, saúdo com viva simpatia a Delegação do Patriarcado de Moscovo e os ilustres representantes do Governo da Federação Russa. Dirijo a minha cordial saudação aos Senhores Cardeais e aos Bispos aqui presentes, de modo particular ao Senhor Cardeal Walter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e a D. Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura que, juntamente com os respectivos Dicastérios e em estreita colaboração com os representantes do Patriarcado, organizaram as "Jornadas da cultura e da espiritualidade russa no Vaticano". Além disso, saúdo os ilustres Embaixadores, as distintas Autoridades e todos vós, queridos amigos, irmãos e irmãs, de modo particular as comunidades russas presentes em Roma e na Itália, que participam neste momento de alegria e de festa.

Para corroborar esta ocasião de modo verdadeiramente extraordinário foi chamada a música, a música da Rússia de ontem e de hoje, o que nos foi proposto com grande maestria pela Orquestra Nacional Russa, dirigida pelo maestro Carlo Ponti, pelo Coro Sinodal de Moscovo, pela Capela das Trompas de Pietroburgo. Dirijo um profundo agradecimento a todos os artistas pelo talento, o compromisso e a paixão com que propõem à atenção do mundo inteiro as obras-primas da tradição musical russa. Nestas obras, das quais hoje ouvimos uma prova significativa, está presente de modo profundo a alma do povo russo e com ela a fé cristã, que encontram uma expressão extraordinária precisamente na Liturgia divina e no canto litúrgico que sempre a acompanha. Com efeito, existe um vínculo estreito e originário entre a música russa e o canto litúrgico: é na liturgia e da liturgia que quase se desprende e tem início uma boa parte da criatividade artística dos músicos russos, para dar vida a obras-primas que mereceriam um maior conhecimento no mundo ocidental. Hoje tivemos a alegria de ouvir alguns trechos de grandes artistas russos dos séculos XIX e XX, como Mussorgsky e Rimsky-Korsakov, Tchaikovsky e Rachmaninov. Tais compositores, e de modo particular este último, souberam valorizar o rico património musical-litúrgico da tradição russa, voltando a elaborá-lo e a harmonizá-lo com motivos e experiências musicais do Ocidente e mais próximos da modernidade. Na minha opinião, é neste sulco que se deve colocar a obra do Metropolita Hilarion.

Portanto, na música já se antecipa e de certa forma se realiza o confronto, o diálogo e a sinergia entre Oriente e Ocidente, assim como entre tradição e modernidade. O Venerável João PauloII pensava precisamente numa visão unitária e harmoniosa da Europa quando, repropondo a imagem, sugerida por Viatcheslav Ivanovitch Ivanov, dos "dois pulmões" com que é necessário voltar a respirar, desejava uma nova consciência das profundas raízes culturais e religiosas comuns do continente europeu, sem as quais a Europa de hoje ficaria como que desprovida de uma alma e, de qualquer modo, marcada por uma visão redutiva e parcial. Foi precisamente para reflectir de modo mais aprofundado sobre estas problemáticas que ontem teve lugar o Congresso, organizado pelo Patriarcado de Moscovo e pelos Pontifícios Conselhos para a Promoção da Unidade dos Cristãos e para a Cultura, sobre o tema: "Ortodoxos e católicos na Europa hoje. As raízes cristãs e o património cultural comum do Oriente e do Ocidente".

Como pude afirmar várias vezes, a cultura contemporânea, e particularmente a europeia, corre o risco da amnésia, do esquecimento e portanto do abandono do extraordinário património suscitado e inspirado pela fé cristã, que constitui a base essencial da cultura europeia, e não só dela. Com efeito, as raízes cristãs da Europa são constituídas pela vida religiosa e pelo testemunho de muitas gerações de crentes, mas também pelo inestimável património cultural e artístico, orgulho e recurso precioso dos povos e dos países em que a fé cristã, nas suas diversas expressões, dialogou com a cultura e as artes, animando-as, inspirando-as e promovendo como nunca a criatividade e o génio humano. Também hoje, estas raízes são vivas e fecundas, no Oriente e no Ocidente e podem, aliás devem inspirar um novo humanismo, uma nova estação de autêntico progresso humano, para responder eficazmente aos numerosos e por vezes cruciais desafios que as nossas comunidades cristãs e as nossas sociedades se encontram a enfrentar, sendo o primeiro de todos a secularização, que não só impele a prescindir de Deus e do seu desígnio, mas acaba por negar a própria dignidade humana, em vista de uma sociedade regulada unicamente por interesses egoístas.

Voltemos a fazer com que a Europa respire a plenos pulmões, a dar uma nova alma não só aos crentes, mas a todos os povos do Continente, a promover a confiança e a esperança, arraigando-as na experiência milenária de fé cristã! Neste momento, não pode faltar o testemunho coerente, generoso e corajoso dos crentes, a fim de que possamos olhar juntos para o futuro comum, como para um porvir em que a liberdade e a dignidade de cada homem e de cada mulher sejam reconhecidas como valor fundamental e seja valorizada a abertura ao Transcendente, a experiência de fé como dimensão constitutiva da pessoa.

No trecho de Mussorgsky, intitulado O anjo proclamou, ouvimos as palavras dirigidas pelo Anjo a Maria, e portanto também a nós: "Ó povos, alegrai-vos!". O motivo da alegria é claro: Cristo ressuscitou do sepulcro "e ressuscitou os mortos". Prezados irmãos e irmãs, é a alegria de Cristo ressuscitado que nos anima, encoraja e sustém no nosso caminho de fé e de testemunho cristão para oferecer verdadeira alegria e sólida esperança ao mundo, para dar válidos motivos de confiança à humanidade, aos povos da Europa, que de bom grado confio à intercessão materna e poderosa da Virgem Maria. Renovo o meu agradecimento ao Patriarca Kirill, ao Metropolita Hilarion, aos representantes russos, à orquesta, aos coros, aos organizadores e a todos os presentes. Sobre todos vós e vossos entes queridos, desçam as abundantes bênçãos do Senhor.



À PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS LEIGOS Sala do Consistório Sexta-feira, 21 de Maio de 2010

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Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos irmãos e irmãs!

É com alegria que vos recebo a todos, Membros e Consultores, participantes na XXIV Assembleia plenária do Pontifício Conselho para os Leigos. Dirijo uma cordial saudação ao Presidente, Cardeal Stanislaw Rylko, agradecendo-lhe as gentis palavras que me dirigiu, ao Secretário, D. Josef Clemens, e a todos os presentes. A própria composição do vosso Conselho, no qual, ao lado dos Pastores, trabalha uma maioria de fiéis leigos provenientes do mundo inteiro e das mais variadas situações e experiências, oferece uma imagem significativa da comunidade orgânica que é a Igreja, na qual o sacerdócio comum, próprio dos fiéis baptizados, e o sacerdócio ordenado afundam as raízes no único sacerdócio de Cristo, segundo modalidades essencialmente diversas, mas ordenadas uma para a outra. Tendo chegado quase ao final do Ano sacerdotal, sentimo-nos testemunhas ainda mais gratas pela surpreendente e generosa doação e dedicação de tantos homens "conquistados" por Cristo e configurados com Ele no sacerdócio ordenado. Dia após dia, eles acompanham o caminho dos christifideles laici, proclamando a Palavra de Deus, comunicando o seu perdão e a reconciliação com Ele, chamando à oração e oferecendo como alimento o Corpo e o Sangue do Senhor. É deste mistério de comunhão que os fiéis leigos tiram a energia profunda para ser testemunhas de Cristo em toda a realidade e consistência da sua vida, em todas as suas actividades e ambientes.

O tema desta vossa Assembleia: "Testemunhas de Cristo na comunidade política", assume uma particular importância. Certamente não faz parte da missão da Igreja a formação técnica dos políticos. De facto, existem para esta finalidade várias instituições. É sua missão, contudo, "proferir um juízo moral mesmo em matérias que dizem respeito à ordem política, quando os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exijam, empregando todos e só aqueles meios que sejam conformes ao Evangelho e de harmonia com o bem comum, segundo a diversidade dos tempos e das situações" (Gaudium et spes
GS 76). A Igreja concentra-se particularmente em educar os discípulos de Cristo, para que sejam cada vez mais testemunhas da sua Presença, em toda a parte. Compete aos fiéis leigos mostrar concretamente na vida pessoal e familiar, na vida social, cultural e política, que a fé permite ler de maneira renovada e profunda a realidade e transformá-la; que a esperança cristã alarga o horizonte limitado do homem e o projecta para a verdadeira altura do seu ser, para Deus; que a caridade na verdade é a força mais eficaz, capaz de mudar o mundo; que o Evangelho é garantia de liberdade e mensagem de libertação; que os princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja como a dignidade da pessoa humana, a subsidiariedade e a solidariedade são de grande actualidade e valor para a promoção de novos caminhos de desenvolvimento ao serviço de cada homem e de todos os homens. Compete ainda aos fiéis leigos participar activamente na vida política, de modo sempre coerente com os ensinamentos da Igreja, partilhando razões bem fundadas e grandes ideais na dialéctica democrática e na pesquisa de um amplo consenso com todos os que se preocupam com a defesa da vida e da liberdade, a preservação da verdade e do bem da família, a solidariedade com os necessitados e a busca necessária do bem comum. Os cristãos não procuram a hegemonia política ou cultural mas, onde quer que se empenhem, são movidos pela certeza que Cristo é a pedra angular de todas as construções humanas (cf. Congr. para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre algumas questões relativas ao empenho e ao comportamento dos católicos na vida política, 24 de Novembro de 2002).

Retomando a expressão dos meus Predecessores, posso também eu afirmar que a política é um âmbito muito importante da prática da caridade. Ela chama os cristãos a um forte compromisso pela cidadania, pela construção de uma vida recta nas nações, assim como a uma presença eficaz nas sedes e nos programas da comunidade internacional. Há necessidade de políticos autenticamente cristãos, mas antes ainda de fiéis leigos que sejam testemunhas de Cristo e do Evangelho na comunidade civil e política. Esta exigência deve estar muito presente nos percursos educativos das comunidades eclesiais e exige novas formas de acompanhamento e de apoio por parte dos Pastores. A pertença dos cristãos às associações dos fiéis, aos movimentos eclesiais e às novas comunidades, pode ser uma boa escola para estes discípulos e testemunhas, apoiados pela riqueza carismática, comunitária, educativa e missionária própria destas realidades.

Trata-se de um desafio exigente. Os tempos que estamos a viver põem-nos diante de grandes e complexos problemas, e a questão social tornou-se, ao mesmo tempo, antropológica. Decaíram os paradigmas ideológicos que pretendiam, num passado recente, ser a resposta "científica" a esta questão. O difundir-se de um relativismo cultural confuso e de individualismo utilitarista e hedonista enfraquece a democracia e favorece o domínio dos poderes fortes. É preciso recuperar e revigorar uma sabedoria política autêntica; ser exigente no que se refere à própria competência; servir-se criticamente das pesquisas das ciências humanas; enfrentar a realidade em todos os seus aspectos, indo além de qualquer reducionismo ideológico ou pretensão utópica; mostrar-se aberto a todo o diálogo e colaboração autênticos, tendo presente que a política é também uma complexa arte de equilíbrio entre ideais e interesses, mas sem jamais esquecer que a contribuição dos cristãos só é decisiva se a inteligência da fé se torna inteligência da realidade, chave de juízo e de transformação. É necessária uma verdadeira "revolução do amor". As novas gerações têm diante de si grandes exigências e desafios na sua vida pessoal e social. O vosso Pontifício Conselho segue-os com particular solicitude, sobretudo através das Jornadas Mundiais da Juventude, que há 25 anos produzem ricos frutos apostólicos entre os jovens. Entre eles está também o do compromisso social e político, o qual se funda não em ideologias ou interesses de parte, mas na escolha de servir o homem e o bem comum, à luz do Evangelho.

Queridos amigos, enquanto invoco do Senhor abundantes frutos para os trabalhos desta vossa Assembleia e para a vossa actividade quotidiana, confio cada um de vós, as vossas famílias e comunidades à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, Estrela da nova evangelização, e de coração vos concedo a Bênção Apostólica.

AOS MEMBROS DAS PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS

Sexta-feira, 21 de Maio de 2010


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Estimados irmãos e irmãs!

1128 Sede bem-vindos! Dirijo a minha cordial saudação ao Cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, a quem agradeço as amáveis palavras, ao Secretário, D. Robert Sarah, ao Secretário Adjunto, D. Piergiuseppe Vacchelli, Presidente das Pontifícias Obras Missionárias, a todos os colaboradores do Dicastério e, de maneira particular, aos Directores Nacionais das Pontifícias Obras Missionárias, vindos a Roma de todas as Igrejas para a Assembleia Ordinária anual do Conselho Superior.

Estou particularmente grato a esta Congregação à qual o Concílio Ecuménico Vaticano II, em sintonia com o acto constitutivo com que foi fundada em 1622, confirmou a tarefa de "regular e coordenar, no mundo inteiro, tanto a obra missionária como a cooperação missionária" (Decreto Ad gentes
AGD 29). A missão da evangelização é imensa, especialmente nesta nossa época, em que a humanidade sofre uma certa falta de pensamento reflexivo e sapiencial (cf. Caritas in veritate Caritas in veritate, 19 e 31) e se difunde um humanismo que exclui Deus (cf. ibid., n. 78). Por isso, é ainda mais urgente e necessário iluminar os novos problemas que sobressaem com a luz do Evangelho que não muda. Com efeito, estamos convencidos de que o Senhor Jesus Cristo, testemunha fiel do amor do Pai, "com a sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira" (ibid., n. 1). No início do meu ministério como Sucessor do Apóstolo Pedro afirmei com vigor: "Nós existimos para mostrar Deus aos homens. E só onde se vê Deus, começa verdadeiramente a vida. Só quando encontramos em Cristo o Deus vivo, nós conhecemos o que é a vida... Não há nada mais belo do que ser alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada mais belo do que conhecê-lo e comunicar aos outros a sua amizade" (Homilia no início do ministério petrino, 24 de Abril de 2005). A pregação do Evangelho é um serviço inestimável que a Igreja pode oferecer à humanidade inteira, que caminha na história. Provenientes das dioceses de todo o mundo, vós sois um sinal eloquente e vivo da catolicidade da Igreja, que se concretiza na abertura universal da missão apostólica, "até aos confins da terra" (Ac 1,8), "até ao fim do mundo" (Mt 28,20), para que nenhum povo ou ambiente sejam privados da luz e da graça de Cristo. Este é o sentido, a trajectória histórica, a missão e a esperança da Igreja.

A missão de anunciar o Evangelho a todos os povos é juízo crítico sobre as transformações planetárias que estão mudar substancialmente a cultura da humanidade. Presente e activa nas fronteiras geográficas e antropológicas, a Igreja é portadora de uma mensagem que se insere na história, onde proclama os valores inalienáveis da pessoa, com o anúncio e o testemunho do plano salvífico de Deus, que se tornou visível e concreto em Cristo. A pregação do Evangelho é a chamada à liberdade dos filhos de Deus, inclusive para a construção de uma sociedade mais justa e solidária e para nos preparar para a vida eterna. Quem participa na missão de Cristo, inevitavelmente deve enfrentar tribulações, contrastes e sofrimentos, porque se debate com as resistências e os poderes deste mundo. Quanto a nós, como o Apóstolo Paulo, só dispomos como armas, da palavra de Cristo e da sua Cruz (cf. 1Co 1,22-25). A missão ad gentes exige que a Igreja e os missionários aceitem as consequências do seu ministério: a pobreza evangélica, que lhes confere a liberdade de pregar o Evangelho com coragem e sinceridade; a não-violência, pela qual eles respondem ao mal com o bem (cf. Mt 5,38-42 Rm 12,17-21); a disponibilidade a oferecer a própria vida em nome de Cristo e por amor aos homens.

Assim como o Apóstolo Paulo demonstrava a autenticidade do seu apostolado com as perseguições, as feridas e as tribulações padecidas (cf. 2Cor 2Co 6-7), também a perseguição é prova da autenticidade da nossa missão apostólica. Mas é importante recordar que o Evangelho ""toma corpo" nas consciências e nos corações humanos, expandindo-se na história. Em tudo isto, é o Espírito Santo que dá a vida" (João Paulo II, Encíclica Dominum et vivificantem DEV 64), e a Igreja e os missionários são por Ele tornados idóneos para cumprir a missão que lhes foi confiada (cf. ibid., n. 25). É o Espírito Santo (cf. 1Co 14) que une e preserva a Igreja, infundindo-lhe a força para se difundir e cumulando os discípulos de Cristo com uma riqueza superabundante de carismas. É do Espírito Santo que a Igreja recebe a autoridade do anúncio e do ministério apostólico. Por isso, desejo confirmar com vigor aquilo que eu já disse a propósito do desenvolvimento (cf. Caritas in veritate ), ou seja, que a evangelização tem necessidade de cristãos com os braços erguidos para Deus em gesto de oração, cristãos impelidos pela consciência de que a conversão do mundo a Cristo não é produzida por nós, mas nos é conferida. Na verdade, a celebração do Ano sacerdotal ajudou-nos a adquirir maior consciência de que a obra missionária exige uma união cada vez mais profunda com Aquele que é o Enviado de Deus, Pai para a salvação de todos; requer a partilha daquele "novo estilo de vida" inaugurado pelo Senhor Jesus, que foi feito próprio pelos Apóstolos (cf. Discurso aos participantes na Assembleia Plenária da Congregação para o Clero, 16 de Março de 2009).

Caros amigos, volto a dirigir o meu agradecimento a todos vós, das Pontifícias Obras Missionárias, que estais comprometidos de diversos modos a manter despertada a consciência missionária das Igrejas particulares, impelindo-as a uma participação mais activa na missio ad gentes, com a formação e o envio de missionários e missionárias, e a ajuda solidária às jovens Igrejas. Um sentido obrigado também pela hospitalidade e a formação de presbíteros, de religiosas, de seminaristas e de leigos nos Pontifícios Colégios da Congregação. Enquanto confio o vosso serviço eclesial à salvaguarda de Maria Santíssima, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, abençoo todos vós de coração.

AO PRIMEIRO-MINISTRO DA REPÚBLICA DA BULGÁRIA

POR OCASIÃO DA MEMÓRIA LITÚRGICA DOS SANTOS CIRILO E METÓDIO Sábado, 22 de Maio de 2010



Senhor Primeiro-Ministro
Deputados Membros do Governo e distintas Autoridades
Veneráveis Irmãos da Igreja ortodoxa e da Igreja católica!

Estou feliz por poder apresentar as cordiais boas-vindas a cada um de vós, Deputados Membros da Delegação Oficial, vindos a Roma na grata circunstância da memória litúrgica dos Santos Cirilo e Metódio. A vossa presença, que testemunha as raízes cristas do Povo búlgaro, oferece a ocasião propicia para confirmar a minha estima por esta querida Nação e permite-nos reforçar a nossa amizade, confirmada pela devoção aos dois santos Irmãos de Tessalónica.

Através de uma incansável obra de evangelização, realizada com verdadeiro fervor apostólico, os Santos Cirilo e Metódio enraizaram providencialmente o cristianismo na alma do Povo búlgaro, de modo que ele ainda está ancorado naqueles valores evangélicos, que sempre reforçam a identidade e enriquecem a cultura de uma nação. De facto, o Evangelho não enfraquece quanto se encontra de autentico nas diversas tradições culturais; pelo contrário, precisamente porque a fé em Cristo nos mostra o esplendor da Verdade, ela oferece ao homem a capacidade de reconhecer o bem verdadeiro e ajuda-o a realizá-lo na própria vida e no contexto social. Por isso, com razão pode-se afirmar que os Santos Cirilo e Metódio contribuíram significativamente para modelar a humanidade e a fisionomia espiritual do Povo búlgaro, inserindo-o na comum tradição cultural crista.

1129 No caminho de plena integração com as outras Nações europeias, a Bulgária é portanto chamada a promover e testemunhar aquelas raízes cristas que derivam dos ensinamentos dos Santos Cirilo e Metódio, ainda hoje actuais e necessários como nunca; ou seja, é chamada a manter-se fiel e a conservar o precioso património que une entre eles quantos, quer ortodoxos quer católicos, professam a mesma fé dos Apóstolos e estão unidos pelo Baptismo comum. Como cristãos, temos o dever de conservar e reforçar o vinculo intrínseco que existe entre o Evangelho e as nossas respectivas identidades culturais; como discípulos do Senhor, no respeito recíproco pelas diversas tradições eclesiais, somos chamados ao testemunho comum da nossa fé em Cristo, em nome de quem obtemos a salvação.

Faço votos de coração por que este nosso encontro possa ser para todos vós, aqui presentes, e para as realidades eclesiais e civis que representais, motivo de relacionamentos fraternos e solidários cada vez mais intensos. Com estes sentimentos, encorajo o Povo búlgaro a perseverar no propósito de edificar uma sociedade fundada na justiça e na paz; para isso, garanto a minha oração e a minha proximidade espiritual. Renovo a Vossa Excelência, Senhor Primeiro-Ministro, e a cada um de vós, a minha benevolente saudação, com a qual quero alcançar também todos os cidadãos do vosso amado pais.



PALAVRAS

A UMA DELEGAÇÃO DA EX-REPÚBLICA JUGOSLAVA

DA MACEDÓNIA POR OCASIÃO DA MEMÓRIA LITÚRGICA DOS SANTOS CIRILO E METÓDIO Sábado, 22 de Maio de 2010

Senhor Presidente do Parlamento
Deputados Membros do Governo e distintas Autoridades
Veneráveis Irmãos da Igreja ortodoxa e da Igreja católica!

Estou feliz por vos receber e exprimir ao Senhor, doador de toda a graça, a alegria e o reconhecimento por este momento em que nos reunimos para O evocar por intercessão dos Santos Cirilo e Metódio, padroeiros celestes do vosso povo e da Europa inteira, na peregrinação anual que realizais a Roma para venerar as relíquias de São Cirilo.

O meu amado predecessor, o venerável João Paulo II, na Encíclica Slavorum Apostoli, quis recordar a todos que, graças ao ensinamento e aos frutos do Concílio Vaticano II, hoje nós podemos olhar de um modo novo para a obra dos dois Santos Irmãos de Tessalónica, "dos quais já nos separam mais de onze séculos; e, ainda, na sua vida e actividade apostólica fazer a leitura dos conteúdos que a sapiente Providência divina aí inscreveu, a fim de serem revelados no nosso tempo com uma nova plenitude e darem novos frutos" (n. 3). Foram deveras abundantes, no seu tempo, os frutos da evangelização de Cirilo e Metódio. Eles conheceram sofrimentos, privações e hostilidades, mas suportaram tudo com fé inabalável e esperança invencível em Deus. Foi com esta força que se dedicaram aos povos a eles confiados, conservando os textos da Escritura, indispensáveis para a celebração da sagrada Liturgia, por eles traduzidos na língua paleoeslava, escritos num novo alfabeto e sucessivamente aprovados pela autoridade da Igreja. Nas provações e nas alegrias, eles sentiram-se sempre acompanhados por Deus e experimentaram quotidianamente o seu amor e o dos irmãos. Também nós compreendemos cada vez mais que quando nos sentimos amados pelo Senhor e sabemos corresponder a este amor, somos envolvidos e guiados pela sua graça em cada uma das nossas actividades e em todas as nossas acções. Segundo a efusão dos múltiplos dons do Espírito Santo, quanto mais soubermos amar e nos doarmos aos outros, tanto mais o próprio Espírito pode vir em ajuda da nossa fragilidade, indicando-nos novos caminhos para o nosso agir.

Segundo a tradição, Metódio permaneceu até ao fim fiel às palavras que o irmão Cirilo lhe tinha dito antes de morrer: "Meu irmão, nós partilhávamos a mesma sorte, premindo o arado pelo mesmo sulco; eu agora vou cair no campo, ao terminar a minha jornada. Mas vê lá, não abandones a tua actividade de ensino..." (Ibid., n. 6). Queridos irmãos e irmãs, juntos coloquemos a mão no arado e continuemos a trabalhar no mesmo sulco que Deus, na sua providência, indicou aos Santos Cirilo e Metódio. O Senhor abençoe o vosso trabalho ao serviço do bem comum e da vossa Nação inteira, e derrame com abundância sobre ela os dons do seu Espírito de unidade e de paz.

AOS MEMBROS DA FUNDAÇÃO CENTESIMUS ANNUS

– PRO PONTIFICE Sala Clementina

Sábado, 22 de Maio de 2010


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
1130 no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres e prezados amigos!

É-me grato saudar-vos, por ocasião do congresso de estudo promovido pela Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice. Saúdo o Cardeal Attilio Nicora, D. Cláudio Maria Celli e os demais Prelados e Sacerdotes presentes. Dirijo um pensamento especial ao Presidente, Dr. Domingo Sugranyes Bickel, a quem agradeço as amáveis palavras, e a vós, estimados Conselheiros e Sócios da Fundação, que quisestes fazer-me uma visita juntamente com os vossos familiares.

Apraz-me saber que o vosso encontro põe no centro da reflexão a relação entre "desenvolvimento, progresso e bem comum". Com efeito, hoje mais do que nunca, a família humana pode crescer como sociedade livre, de povos livres, quando a globalização é orientada pela solidariedade e pelo bem comum, assim como pela relativa justiça social, que encontram na mensagem de Cristo e da Igreja uma nascente preciosa. Com efeito, a crise e as dificuldades de que no presente sofrem as relações internacionais, os Estados, a sociedade e a economia, são em grande medida devidas à falta de confiança e de uma adequada inspiração de solidariedade criativa e dinâmica, orientada para o bem comum, que leve a relacionamentos autenticamente humanos de amizade, de solidariedade e de reciprocidade, também "dentro" da actividade económica. O bem comum é a finalidade que dá sentido ao progresso e ao desenvolvimento que, caso contrário, se limitariam unicamente à produção de bens materiais; eles são necessários, mas sem a orientação para o bem comum terminam por prevalecer o consumismo, o desperdício, a pobreza e os desequilíbrios; factores negativos para o progresso e para o desenvolvimento.

Como foi relevado na Encíclica Caritas in veritate, um dos maiores riscos no mundo contemporâneo é que "à real interdependência dos homens e dos povos, não corresponda a interacção ética das consciências e das inteligências, da qual possa resultar um desenvolvimento verdadeiramente humano" (n. 9). Esta interacção, por exemplo, parece demasiado frágil naqueles governantes que, diante de renovados episódios de especulações irresponsáveis em relação aos países mais frágeis, não reagem com adequadas decisões de governo das finanças. A política deve ter o primado sobre as finanças e a ética deve orientar todas as actividades.

Sem o ponto de referência representado pelo bem comum universal, não se pode dizer que existe um verdadeiro ethos mundial e a correspondente vontade de o viver, com adequadas instituições. Então, é decisivo que sejam identificados aqueles bens aos quais todos os povos devem aceder em vista da sua realização humana. E isto não de qualquer maneira, mas de um modo ordenado e harmonioso. Com efeito, o bem comum é composto por vários bens: por bens materiais, cognitivos, institucionais e por bens morais e espirituais, estes últimos superiores, aos quais os primeiros devem ser subordinados. O compromisso pelo bem comum da família dos povos, como de cada sociedade, exige portanto o cuidar e o valer-se de um conjunto de instituições que estruturam jurídica, civil, política e culturalmente o viver social mundial, de tal modo que assuma a forma de pólis, de cidade do homem (cf. ibid., n. 7). Por conseguinte, deve-se assegurar que a ordem económico-produtiva seja socialmente responsável e à medida do homem, com uma acção conjunta e unitária a vários níveis, também no plano internacional (cf. ibid., nn. 57 e 67). De igual modo, dever-ser-á incentivar a consolidação de sistemas constitucionais, jurídicos e administrativos nos países que ainda não gozam dos mesmos de maneira integral. Portanto, além das ajudas económicas deve haver também as que se destinam a revigorar as garantias próprias do Estado de direito, um sistema de ordem pública justa e eficaz, no pleno respeito pelos direitos humanos, assim como instituições verdadeiramente democráticas e participativas (cf. ibid., n. 41).

No entanto, aquilo que é fundamental e prioritário em vista do desenvolvimento de toda a família dos povos, é o esforço em vista de reconhecer a autêntica escala dos bens-valores. Somente graças a uma correcta hierarquia dos bens comuns é possível compreender que tipo de desenvolvimento deve ser promovido. O desenvolvimento integral dos povos, finalidade fulcral do bem comum universal, não é dado apenas pela difusão do empresariado (cf. ibidem), dos bens materiais e cognitivos, como a casa e a instrução, das escolhas disponíveis. Ele é dado de maneira especial pelo incremento daquelas escolhas positivas que são possíveis quando existe a noção de um bem humano integral, quando existe um telos, uma finalidade sob cuja luz o desenvolvimento é pensado e desejado. A noção de desenvolvimento humano integral pressupõe coordenadas específicas, como a subsidiariedade e a solidariedade, assim como a interdependência entre Estado, sociedade e mercado. Numa sociedade mundial, composta por numerosos povos e religiões diferentes, o bem comum e o desenvolvimento integral devem ser alcançados mediante a contribuição de todos. Nisto, as religiões são decisivas, especialmente quando ensinam a fraternidade e a paz, porque nos educam a reservar espaço para Deus e a estar abertos ao Transcendente, nas nossas sociedades marcadas pela secularização. A exclusão das religiões do âmbito público, como por outro lado o fundamentalismo religioso, impedem o encontro entre as pessoas e a sua colaboração para o progresso da humanidade; a vida da sociedade empobrece-se de motivações e a política assume um rosto opressor e agressivo (cf. ibid., n. 56).

Estimados amigos, a visão cristã do desenvolvimento, do progresso e do bem comum, como sobressai na Doutrina Social da Igreja, corresponde às expectativas mais profundas do homem, e o vosso compromisso de aprofundá-la e difundi-la constitui uma contribuição válida para edificar a "civilização do amor". Por isso, manifesto-vos o meu reconhecimento e os meus bons votos, enquanto vos abençoo a todos de coração.

Discursos Bento XVI 20250