Discursos Bento XVI 13910

AOS PRELADOS DE RECENTE NOMEAÇÃO QUE PARTICIPAM NO ENCONTRO PROMOVIDO PELA CONGREGAÇÃO PARA OS BISPOS Sala dos Suíços do Palácio Pontifício de Castel Gandolfo

Segunda-feira, 13 de Setembro de 2010

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Caríssimos Irmãos no Episcopado!

Estou muito feliz por me encontrar convosco, Bispos de recente nomeação, provenientes de vários países do mundo e reunidos em Roma para o congresso anual promovido pela Congregação para os Bispos. Agradeço ao Cardeal Marc Ouellet as amáveis palavras que me dirigiu também em nome de todos vós; e desejo formular-lhe especiais bons votos no início do seu serviço como Prefeito deste Dicastério: venerado Irmão, estou feliz que Vossa Eminência começa com esta bonita experiência de comunhão eclesial entre os novos Pastores das diversas Igrejas particulares. Saúdo de modo cordial também o Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, e manifesto o meu reconhecimento a quantos colaboram para a organização deste encontro.

Segundo uma tradição muito significativa, vós realizastes em primeiro lugar uma peregrinação ao túmulo do Apóstolo Pedro, que se conformou com Cristo Mestre e Pastor, até à morte, e morte de cruz. A este propósito, são esclarecedoras algumas expressões de S. Tomás de Aquino, que podem constituir um verdadeiro programa de vida para cada Bispo. Comentando a expressão de Jesus no Evangelho de João: «O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas», S. Tomás observa: «Ele consagra-lhes a sua pessoa, no exercício da autoridade e da caridade. Ambas são necessárias: que elas lhe obedeçam e que Ele as ame. Com efeito, a primeira sem a segunda não é suficiente» (Exp. sobre
Jn 10,3). A Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium esclarece: «O Bispo, enviado pelo Pai de família a governar a sua família, tenha diante dos olhos o exemplo do Bom Pastor, que veio para servir e não para ser servido (cf. Mt 20,28 Mc 10,45) e para dar a própria vida pelas ovelhas (cf. Jn 10,11). Escolhido dentre os homens e sujeito às fraquezas humanas, pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram (cf. Hb He 5,1-2). Não se recuse a ouvir os súbditos, de quem cuida como verdadeiros filhos e a quem exorta a que cooperem activamente consigo. Tendo que prestar contas a Deus pelas suas almas (cf. Hb He 13,17) ele deve, com a oração, a pregação e todas as obras de caridade, ter cuidado tanto deles como daqueles que ainda não pertencem ao único rebanho, os quais ele deve considerar como se lhe tivessem sido confiados pelo Senhor. Devendo, como o Apóstolo Paulo, dar-se a todos, esteja sempre pronto para a todos evangelizar» (n. 27).

A missão do Bispo não pode ser entendida com a mentalidade da eficiência e da eficácia, pelo que é necessário prestar atenção primariamente àquilo que deve ser levado a cabo, mas é preciso ter sempre em consideração a dimensão ontológica, que se encontra na base da dimensão funcional. Com efeito, o Bispo, pela autoridade de Cristo que o reveste, quando está sentado na sua Cátedra é colocado «acima» e «diante» da comunidade, enquanto ele é «para» a comunidade, à qual dedica a sua solicitude pastoral (cf. João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores gregis ). A Regra pastoral do Papa São Gregório Magno, que poderia ser considerada o primeiro «directório» para os Bispos da história da Igreja, define o governo pastoral como «a arte das artes» (i, 1.4), e esclarece que a potestade de governo «é bem regida por quantos, com ela, sabem opor-se às culpas, e com ela sabem ser iguais aos outros... e dominam os vícios, não os irmãos» (II, 6).

Fazem ponderar as palavras explicativas do rito da entrega do anel, na liturgia da Ordenação episcopal: «Recebe o anel, sinal de fidelidade e, na integridade da fé e na pureza da vida, tutela a Santa Igreja, Esposa de Cristo». A Igreja é «Esposa de Cristo» e o Bispo é o «guardião» (episkopos) deste mistério. Portanto, o anel é um sinal de fidelidade: trata-se da fidelidade à Igreja e à pureza da sua fé. Por conseguinte, ao Bispo é confiada uma aliança nupcial: a da Igreja com Cristo. São significativas as palavras que lemos no Evangelho de São João: «O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, exulta de alegria ao ouvir a voz do esposo» (3, 29). O conceito de «conservar» não quer dizer apenas manter aquilo que já foi estabelecido — embora este elemento nunca possa faltar — mas na sua essência inclui também o aspecto dinâmico, ou seja, uma tendência perpétua e concreta ao aperfeiçoamento, em plena harmonia e em adaptação contínua às novas exigências derivadas do desenvolvimento e do progresso do organismo vivo, que é a comunidade.

São grandes as responsabilidades de um Bispo para o bem da diocese, mas também da sociedade em geral. Ele é chamado a ser «forte, decidido, justo e tranquilo» (Congregação para os Bispos, Directório para o ministério pastoral dos Bispos «Apostolorum successores», n. 44), para um discernimento sapiencial das pessoas, das realidades e dos acontecimentos, exigido pela sua tarefa de ser «pai, irmão e amigo» (cf. ibid., nn. 76-77) ao longo do caminho cristão e humano. Trata-se de uma profunda perspectiva de fé, e não simplesmente humana, administrativa ou de cunho sociológico, aquela em que se insere o ministério do Bispo, que não é um mero governante, nem um burocrata ou um simples moderador e organizador da vida diocesana. São a paternidade e a fraternidade em Cristo que conferem ao Superior a capacidade de criar um clima de confiança, de acolhimento e de afecto, mas inclusive de franqueza e de justiça. A este propósito, são particularmente esclarecedoras as palavras de uma antiga oração de Santo Aelredo de Rievaulx, Abade: «Tu, dócil Senhor, puseste alguém como eu à frente da tua família, das ovelhas do teu aprisco (…) para que se pudesse manifestar a tua misericórdia e revelar a tua sabedoria. Aprouve à tua benevolência governar bem a tua família mediante um homem assim, de tal forma que se se pudesse ver a sublimidade da tua força, e não a do homem, para que não se venha a gloriar-se o sábio na sua sabedoria, nem o justo na sua justiça, nem o forte na sua força, pois quando eles governam bem o teu povo, és Tu que o manténs, e não eles. E portanto não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória» (Speculum caritatis, PL CXCV).

Estimados Irmãos, enquanto vos confio estas breves reflexões, invoco a salvaguarda maternal de Maria Santíssima, Regina Apostolorum, e concedo de coração a cada um de vós, aos vossos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos seminaristas e aos fiéis das vossas dioceses uma especial Bênção apostólica.



VIAGEM APOSTÓLICA AO REINO UNIDO

(16-19 DE SETEMBRO DE 2010)


ENTREVISTA DURANTE O VOO RUMO AO REINO UNIDO Quinta-feira, 16 de Setembro de 2010

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Pe. Federico Lombardi: Santidade, bem-vindo entre nós e obrigado pela sua disponibilidade. Temos um grupo de 70 jornalistas, aqui presentes, das diversas partes do mundo. Naturalmente alguns vêm de propósito do Reino Unido para se unirem a este nosso grupo já na viagem. Como de costume os colegas apresentaram várias perguntas nos dias passados que lhe propomos para esta primeira conversação, no início de uma viagem muito desejada e empenhativa, que esperamos seja muito boa. Eu escolhi algumas perguntas, entre as que foram propostas, e faço-las em italiano para não o cansar demasiado.

Durante a preparação desta viagem houve debates e posições contrárias. Na tradição passada do país houve fortes posições anticatólicas. Está preocupado pelo andamento desta viagem?

Santo Padre: Em primeiro lugar, bom dia e boa viagem para todos nós. Devo dizer que não estou preocupado, porque quando fui à França foi dito que seria o país mais anticlerical, com fortes correntes anticlericais e com um mínimo de fiéis, quando fui à República Checa foi dito que seria o país mais arreligioso da Europa e também o mais anticlerical. Assim todos os países ocidentais têm, cada um no seu modo específico, segundo a sua própria história, fortes correntes anticlericais e anticatólicas, mas têm sempre também uma forte presença de fé. Na França e na República Checa vi e vivi um caloroso acolhimento por parte da comunidade católica, uma forte atenção por parte de agnósticos que, contudo, estão em busca, desejam conhecer, encontrar os valores que levam a humanidade em frente e foram muito atentos para poder ouvir de mim também algo neste sentido, e a tolerância e o respeito de quantos são anticatólicos. Naturalmente a Grã-Bretanha tem a sua história de anticatolicismo, é óbvio, mas é também um país com uma grande história de tolerância. Tenho a certeza de que, por um lado, haverá acolhimento positivo dos católicos, dos crentes em geral, atenção da parte de quantos procuram o modo de ir em frente neste nosso tempo, respeito e tolerância recíproca onde há um anticatolicismo. Vou em frente com grande coragem e com alegria.


Pe. Federico Lombardi: O Reino Unido, como muitas outros Estados ocidentais — é um tema que já abordou na primeira resposta — é considerado um país secular. Há um forte movimento de ateísmo, até com motivações culturais. Mas há também sinais de que a fé religiosa, em particular em Jesus Cristo, é viva a nível pessoal. Que pode significar isto para católicos e anglicanos? Pode-se fazer algo para tornar a Igreja, como instituição, mais credível e atraente para todos?

Santo Padre: Diria que uma Igreja que procura sobretudo ser atraente já estaria num caminho errado, porque a Igreja não trabalha para si, não trabalha para aumentar os próprios números e, assim, o próprio poder. A Igreja está ao serviço de um Outro: não serve a si mesma, para ser um corpo forte, mas serve para tornar acessível o anúncio de Jesus Cristo, as grandes verdades e as grandes forças de amor, de reconciliação que apareceu nesta figura e que provém sempre da presença de Jesus Cristo. Neste sentido a Igreja não procura tornar-se atraente, mas deve ser transparente para Jesus Cristo e, na medida em que não é para si mesma, como corpo forte, poderosa no mundo, que pretende ter poder, mas faz-se simplesmente voz de um Outro, torna-se realmente transparência para a grande figura de Cristo e para as grandes verdades que ele trouxe à humanidade. A força do amor, neste momento ouve-se, aceita-se. A Igreja não deveria considerar-se a si mesma, mas ajudar a considerar o Outro e ela própria ver e falar do Outro e pelo Outro. Parece-me que neste sentido também anglicanos e católicos têm a simples e idêntica tarefa, a mesma direcção a tomar. Se anglicanos e católicos juntos virem que não servem a si mesmos, mas que são instrumentos para Cristo, amigos do Esposo, como diz São João, se ambos executarem a prioridade de Cristo e não de si mesmos, então também caminham juntos, porque a prioridade de Cristo os irmana e já não são concorrentes onde cada um procura o maior número, mas estão unidos no compromisso pela verdade de Cristo que entra neste mundo e assim encontram-se também reciprocamente num ecumenismo verdadeiro e fecundo.

Pe. Federico Lombardi: Como se sabe e como foi frisado por sondagens recentes, o escândalo dos abusos sexuais abalou a confiança dos fiéis na Igreja. Como pensa poder contribuir para restabelecer esta confiança?

Santo Padre: Em primeiro lugar, devo dizer que estas revelações foram para mim um choque, não apenas uma grande tristeza. É difícil compreender como esta perversão do ministério sacerdotal tenha sido possível. O sacerdote no momento da ordenação, preparado durante anos para este momento, diz o seu sim a Cristo para ser a sua voz, os seus lábios, a sua mão e servir com toda a existência, para que o Bom Pastor, que ama, ajuda e guia para a verdade esteja presente no mundo. É difícil de compreender como pode um homem que fez e disse isto cair depois nesta perversão. É uma grande tristeza, é triste também que a autoridade da Igreja não tenha sido suficientemente vigilante nem rápida, decidida, em tomar as medidas necessárias. Por tudo isto estamos num momento de penitência, de humildade, e de renovada sinceridade, como escrevi aos bispos irlandeses. Parece-me que devemos agora realizar precisamente um tempo de penitência, um tempo de humildade, renovar e reaprender uma absoluta sinceridade. Em relação às vítimas, diria, são importantes três aspectos. O primeiro interesse são as vítimas: como podemos reparar. Que podemos fazer para ajudar estas pessoas a superar este trauma, a reencontrar a vida, a voltar também a ter confiança na mensagem de Cristo. Cura, empenho pelas vítimas é a primeira prioridade, com ajudas materiais, psicológicas, espirituais. Segundo, é o problema das pessoas culpadas: a justa pena é excluí-las de qualquer possibilidade de contacto com os jovens, porque sabemos que se trata de uma doença e a livre vontade não funciona onde há esta doença. Portanto, devemos proteger estas pessoas contra si mesmas e encontrar o modo de as ajudar, de as proteger contra si mesmas e de as excluir de qualquer contacto com os jovens. O terceiro aspecto é a prevenção na educação, na escolha dos candidatos para o sacerdócio: estar muito atentos para que, segundo as possibilidades humanas, sejam excluídos casos futuros. E neste momento gostaria de agradecer também ao Episcopado britânico a sua atenção, a sua colaboração quer com a sé de São Pedro, quer com os órgãos públicos, e a atenção pelas vítimas e pelo direito parece-me que o episcopado britânico fez e continua a fazer um grande trabalho e por isto lhe estou muito grato.

Pe. Federico Lombardi: A figura do cardeal Newman é muito significativa para Vossa Santidade: pelo cardeal Newman, faz a excepção de presidir a sua beatificação. Pensa que a sua recordação possa ajudar a superar as divisões entre anglicanos e católicos? E quais os aspectos da sua personalidade que deseja evidenciar?

Santo Padre: O cardeal Newman é sobretudo, por um lado, um homem moderno, que viveu todo o problema da modernidade, viveu também o problema do agnosticismo, da impossibilidade de conhecer Deus, de crer; um homem que durante toda a sua vida esteve a caminho, no caminho de se deixar transformar pela verdade, numa sua busca de grande sinceridade e de grande disponibilidade para conhecer melhor e encontrar, aceitar o caminho para a vida verdadeira. Esta modernidade interior do seu ser e da sua vida implica a modernidade da sua fé; não é uma fé em fórmulas de um tempo passado, é uma fé de forma muito pessoal, vivida, sofrida, encontrada num longo caminho de renovação e de conversões. É um homem de grande cultura que, por um lado participa na nossa cultura céptica de hoje, na questão se podemos compreender algo de certo sobre a verdade do homem, do ser ou não ser, e como podemos chegar à convergência das probabilidades. Um homem que, por outro lado, com uma grande cultura do conhecimento dos Padres da Igreja, estudou e renovou a génesis interna da fé, reconheceu assim a sua figura e a sua construção interior. É um homem de grande espiritualidade, de grande humanismo, um homem de oração, de uma relação profunda com Deus e de uma relação pessoal e por isso também de uma relação profunda com os outros homens do seu e do nosso tempo. Por conseguinte, indicaria estes três elementos: modernidade da sua existência, com todas as dúvidas e problemas do nosso ser hoje; grande cultura, conhecimento dos grandes tesouros da cultura da humanidade, disponibilidade para a busca permanente, de renovação permanente; e espiritualidade: vida espiritual, vida com Deus, conferem a este homem uma excepcional grandeza para o nosso tempo. Por isso, é uma figura de Doutor da Igreja para nós, para todos e também uma ponte entre anglicanos e católicos.

Pe. Federico Lombardi: Esta visita é considerada com a categoria de visita de Estado, assim foi qualificada. Que significa isto para as relações entre a Santa Sé e o Reino Unido? Há pontos importantes de sintonia, em particular olhando para os grandes desafios do momento actual?

Santo Padre: Estou muito grato a Sua Majestade, a rainha Isabel II, que quis dar a ela a categoria de uma visita de Estado e que expressou o carácter público desta visita e também a responsabilidade comum entre política e religião para o futuro do continente e para o futuro da humanidade. A grande e comum responsabilidade para que os valores que criam justiça e política e que provêm da religião caminhem juntas no nosso tempo. Naturalmente, este facto que juridicamente se trata de uma visita de Estado, não faz dela um facto político, porque se o Papa é Chefe de Estado, isto é apenas um instrumento para garantir a independência do seu anúncio e o carácter público do seu trabalho de pastor. Neste sentido, também a visita de Estado permanece substancial e essencialmente uma visita pastoral, ou seja, na responsabilidade da fé para a qual o Sumo Pontífice, o Papa, existe. Naturalmente, este carácter de visita de Estado coloca no centro da atenção as coincidências entre o interesse da política e da religião. A política substancialmente é criada para garantir justiça e com a justiça, a liberdade: mas a justiça é um valor moral, um valor religioso e deste modo a fé, o anúncio do Evangelho relaciona-se com o ponto «justiça», com a política e aqui surgem também os interesses comuns. A Grã-Bretanha tem uma grande experiência e actividade na luta contra os males deste tempo, contra a miséria, a pobreza, as doenças, a droga, a escravidão do homem, o abuso do homem... todas estas lutas são também as finalidades da fé, porque são finalidades da humanização do homem, para que seja restituída a imagem de Deus contra as destruições e as devastações. Uma segunda tarefa comum é o empenho pela paz no mundo e a capacidade de viver a paz, a educação para a paz. Criar as virtudes que tornam o homem capaz de paz. E, finalmente, um elemento essencial da paz é o diálogo das religiões, a tolerância, a abertura de um ao outro e esta é a finalidade profunda quer da Grã-Bretanha, como sociedade, quer da fé católica, de abrir os corações, de abrir ao diálogo, e desta forma abrir à verdade e ao caminho comum da humanidade e ao reencontro dos valores que são o fundamento do nosso humanismo.


ENCONTRO COM AS AUTORIDADES NA CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS Palácio Real de Holyroodhouse - Edimburgo Quinta-feira, 16 de Setembro de 2010

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Majestade!

Obrigado pelo seu gentil convite para realizar uma visita oficial ao Reino Unido e pelas suas cordiais palavras de saudação em nome do povo britânico. Ao agradecer Vossa Majestade, permita que eu faça as minhas saudações extensivas a todo o povo do Reino Unido e aperte com amizade a mão de cada um.

É com grande prazer que inicio a minha viagem saudando os Membros da Família Real, agradecendo em particular a Sua Alteza Real o Duque de Edimburgo as gentis palavras de boas-vindas que me dirigiu no aeroporto. Expresso a minha gratidão ao actual e aos precedentes governos de Vossa Majestade e a quantos colaboraram com eles para tornar possível esta ocasião, entre os quais o Lorde Patten e o precedente Secretário de Estado Murphy. Gostaria também de me congratular com profundo apreço pelo trabalho desempenhado pelo «All-Parliamentary Group on the Holy See», que muito contribuiu para o fortalecimento das relações amistosas que existem entre a Santa Sé e o Reino Unido.

Ao dar início à visita ao Reino Unido na histórica Capital da Escócia, saúdo de modo especial o Primeiro-Ministro Salmond e os representantes do Parlamento escocês. Assim como as Assembleias de Gales e da Irlanda do Norte, possa também o Parlamento escocês crescer no seu ser expressão das nobres tradições e da distinta cultura dos escoceses e comprometer-se para servir os seus interesses melhores em espírito de solidariedade e de solicitude em relação ao bem comum.

O nome Holyroodhouse, residência oficial de Vossa Majestade na Escócia, recorda a «Santa Cruz» e faz voltar o olhar para as profundas raízes cristãs que ainda estão presentes em todos os aspectos da vida britânica. Os monarcas da Inglaterra e da Escócia eram cristãos desde os primeiríssimos tempos e incluem extraordinários Santos como Eduardo o Confessor e Margarida da Escócia. Como se sabe, muitos deles exerceram conscienciosamente os seus deveres soberanos à luz do Evangelho, modelando desta forma a nação no bem a nível mais profundo. Isto deu origem a que a mensagem cristã se tornasse parte integral da língua, do pensamento e da cultura dos povos destas ilhas por mais de um milénio. O respeito dos vossos antepassados pela verdade e pela justiça, pela clemência e pela caridade cheguem até vós por uma fé que permanece uma força poderosa para o bem no vosso reino, com grande benefício de igual modo para cristãos e não-cristãos.

Encontramos muitos exemplos desta força para o bem ao longo de toda a história da Grã-Bretanha. Até em tempos relativamente recentes, através de figuras como William Wilberforce e David Livingstone, a Grã-Bretanha interveio directamente para pôr fim ao tráfico internacional dos escravos. Inspirados pela fé, mulheres como Florence Nightingale serviram os pobres e os doentes, estabelecendo novos padrões na assistência no campo da saúde que sucessivamente foram imitados em toda a parte. John Henry Newman, cuja beatificação celebrarei daqui a pouco, foi um dos muitos cristãos britânicos da sua época cuja bondade, eloquência e acção foram uma honra para os próprios concidadãos e concidadãs. Eles e muitos outros como eles foram estimulados por uma fé profunda, nascida e crescida nestas ilhas.

Também na nossa época podemos recordar como a Grã-Bretanha e os seus chefes se opuseram a uma tirania nazista que tinha no ânimo desenraizar Deus da sociedade e negava a muitos a nossa comum humanidade, sobretudo aos judeus, que eram considerados como não dignos de viver. Além disso, desejo recordar a atitude do regime em relação aos pastores cristãos e aos religiosos que proclamaram a verdade no amor; opuseram-se aos nazistas e pagaram com a própria vida a sua oposição. Enquanto reflectimos sobre os motes do extremismo ateu do século XX, jamais podemos esquecer como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública conduz em última análise a uma visão incompleta do homem e da sociedade, e portanto a «uma visão redutiva da pessoa e do seu destino» (Caritas in veritate ).

Há sessenta e cinco anos a Grã-Bretanha desempenhou um papel fundamental no forjamento do consenso internacional do pós-guerra, o que favoreceu a fundação das Nações Unidas e deu início a um período de paz e de prosperidade na Europa, desconhecido até àquele momento. Nos anos mais recentes a comunidade internacional seguiu de perto os acontecimentos na Irlanda do Norte, os quais levaram à assinatura do Acordo da Sexta-feira Santa e à devolução de poderes à Assembleia da Irlanda do Norte. O governo de Vossa Majestade e o da Irlanda, juntamente com os representantes políticos, religiosos e civis da Irlanda do Norte, apoiaram o nascimento de uma resolução pacífica do conflito local. Encorajo quantos estão envolvidos a prosseguir corajosamente juntos o caminho pela senda traçada rumo a uma paz justa e duradoura.

Foi o governo e o povo quem forjou as ideias que ainda hoje têm um impacto que supera em grande medida as ilhas britânicas. Isto impõe-lhes um dever particular de agir com sabedoria para o bem comum. Do mesmo modo, dado que as suas opiniões alcançam uma audiência tão ampla, os meios de comunicação britânicos têm uma responsabilidade maior do que outros e uma oportunidade mais ampla para promover a paz das nações, o progresso integral dos povos e a difusão de direitos humanos autênticos. Que todos os britânicos continuem a viver os valores da honestidade, do respeito e do equilíbrio que lhes conquistaram a estima e a admiração de muitos.

Hoje o Reino Unido esforça-se por ser uma sociedade moderna e multicultural. Nesta estimulante tarefa, possa manter sempre o respeito daqueles valores tradicionais e das expressões culturais que as formas mais agressivas de secularismo já não estimam, nem toleram. Não se permita que seja obscurecido o fundamento cristão que está na base das suas liberdades; e possa aquele património, que sempre serviu bem a nação, plasmar constantemente o exemplo do seu governo e do seu povo em relação aos dois biliões de membros do Commonwealth, assim como da grande família de nações anglófonas em todo o mundo.

Deus abençoe Vossa Majestade e todas as pessoas do Seu Reino.

Obrigado.



ENCONTRO COM O MUNDO DA EDUCAÇÃO CATÓLICA St. Mary’s University College de Twickenham Sexta-feira, 17 de Setembro de 2010

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1. Discurso do Santo Padre aos professores e religiosos

2. Discurso do Santo Padre aos alunos das Escolas Católicas
DISCURSO


AOS PROFESSORES E RELIGIOSOS Capela do St. Mary’s University College de Twickenham



Excelentíssimo Secretário de Estado para a Educação
Bispo Stack
Dr. Naylor
Reverendos Padres
Irmãos e Irmãs em Cristo

É-me grato ter esta oportunidade de prestar honra à notável contribuição que os religiosos e as religiosas ofereceram nesta terra à nobre tarefa da educação. Agradeço aos jovens os bonitos cânticos e à Irmã Theresa as palavras que pronunciou. A ela e a todos aqueles que, homens e mulheres, têm dedicado a sua vida para ensinar os jovens, desejo manifestar os meus sentimentos de profundo apreço. Vós formais novas gerações não só no conhecimento da fé, mas em cada aspecto daquilo que significa viver como cidadãos maduros e responsáveis no mundo contemporâneo.

Como sabeis, a tarefa do professor não consiste unicamente em comunicar informações ou em oferecer uma preparação técnica em vista de proporcionar benefícios económicos para a sociedade; a educação não é, nem deve ser considerada puramente utilitarista. Ela diz respeito sobretudo à formação da pessoa humana, à sua preparação para viver plenamente a própria vida — em poucas palavras, refere-se à educação para a sabedoria. E a verdadeira sabedoria é inseparável do conhecimento do Criador, porque «nós estamos nas suas mãos, nós e as nossas palavras, toda a nossa inteligência e a nossa habilidade» (
Sg 7,16).

Esta dimensão transcendente do estudo e do ensino era, claramente, compreendida pelos monges que contribuíram em tão grande medida para a evangelização destas ilhas. Refiro-me aos Beneditinos, que acompanharam Santo Agostinho na sua missão na Inglaterra, aos discípulos de São Columba, que propagaram a fé na Escócia e na Inglaterra do Norte, a São David e aos seus Companheiros no país de Gales. Dado que a busca de Deus que se insere no âmago da vocação monástica exige um compromisso concreto nos meios através dos quais ele se dá a conhecer — a sua criação e a sua palavra revelada — era simplesmente natural que o mosteiro dispusesse de uma biblioteca e de uma escola (cf. Discurso aos representantes do mundo da cultura no «Collège des Bernardins» em Paris, 12 de Setembro de 2008).

O compromisso dos monges, de aprender o caminho ao longo do qual encontrar a Palavra encarnada de Deus, lançou os fundamentos da nossa cultura e civilização ocidentais.

Olhando ao meu redor hoje, vejo muitos religiosos de vida apostólica, cujo carisma abrange a educação dos jovens. Isto oferece-me a oportunidade de dar graças a Deus pela vida e pela obra da Venerável Mary Ward, nativa desta terra, cuja visão pioneira de vida religiosa apostólica para as mulheres produziu muitos frutos. Eu mesmo, quando era jovem, fui educado pelas «Damas inglesas» e tenho em relação a elas uma profunda dívida de gratidão. Muitos de vós pertencem a Ordens dedicadas ao ensino, que levaram a luz do Evangelho para terras longínquas, como parte da grandiosa obra missionária da Igreja e também por este motivo dou graças e bendigo o Senhor.

Muitas vezes iniciastes as fundações a fim de contribuir para a educação, muito antes que o Estado assumisse uma responsabilidade para este serviço vital em benefício do indivíduo e da sociedade. Dado que as funções relativas à Igreja e ao Estado no campo da educação continuam a evoluir, jamais deveis esquecer que os religiosos têm uma contribuição singular para oferecer neste apostolado, que consiste principalmente em dar testemunho do amor a Cristo, Sumo Mestre, através da vida consagrada e da fidelidade. Além disso, a presença dos religiosos nas escolas católicas é uma forte referência ao cunho católico, debatido em grande medida, que necessariamente deve permear todos os aspectos da vida escolar. Isto leva a ponderar sobre a evidente exigência de que o conteúdo do ensino esteja sempre em conformidade com a doutrina da Igreja. Isto significa que a vida de fé deve ser a força motriz na base de todas as actividades na escola, de tal forma que a missão da Igreja possa ser eficazmente servida e os jovens consigam descobrir a alegria de entrar no «ser para os outros» de Cristo (cf. Spe salvi ).

Antes de concluir, desejo acrescentar uma palavra especial para aqueles cujo compromisso consiste em fazer com que as nossas escolas garantam um ambiente seguro para as crianças e os jovens. A nossa responsabilidade em relação a quantos nos são confiados para a sua formação cristã exige-o. Além disso, a vida de fé só pode ser cultivada de maneira eficaz, quando a atmosfera predominante for de uma confiança respeitadora e afectuosa. Estou persuadido de que isto pode continuar a ser um sinal distintivo das escolas católicas neste país.

Caros irmãos e irmãs, é com estes sentimentos que vos convido à oração.

Venerado Irmão Stack, gostaria de lhe pedir que aceite como presente, na posição de presidente do departamento dos Governadores da Saint Mary University e em nome do Colégio, este mosaico da Bem-Aventurada Virgem Maria.



ENCONTRO COM OS ALUNOS DAS ESCOLAS CATÓLICAS BRITÂNICAS Campo desportivo do Saint Mary’s University College

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Estimados irmãos e irmãs em Cristo
Amados jovens amigos

Em primeiro lugar, desejo dizer-vos como me sinto feliz por estar hoje aqui no meio de vós! Transmito as minhas cordiais saudações a todos vós, vindos à «Saint Mary’s University» das escolas e dos colégios católicos do Reino Unido, bem como a quantos nos acompanham pela televisão ou pela internet. Estou grato ao bispo McMahon, pelas suas cordiais boas-vindas, ao coro e à banda pela bonita música que acabaram de executar, dando início à nossa celebração. Agradeço às senhoras Bellot e Elaine as amáveis palavras que me dirigiram em nome de todos os jovens aqui presentes. Em vista dos próximos Jogos Olímpicos, foi um prazer inaugurar esta Fundação desportiva, intitulada a João Paulo II, e rezo a fim de que todos aqueles que a frequentarão glorifiquem a Deus através das suas actividades desportivas, e daqui também possam haurir benefícios para si mesmos e para os outros.

Não se apresenta com frequência a um Papa — na verdade, nem sequer a qualquer outra pessoa — a oportunidade de falar contemporaneamente aos estudantes de todas as escolas católicas da Inglaterra, do país de Gales e da Escócia. E dado que agora disponho desta possibilidade, há algo que realmente faço questão de vos dizer. Tenho a esperança de que entre vós, que vos encontrais hoje aqui para me ouvir, haja alguns futuros santos do século XXI. O que Deus mais deseja para cada um de vós é que vos torneis santos. Ele ama-vos muito mais do que podeis imaginar, e deseja o máximo para vós. E para vós, o melhor que existe é crescer em santidade.

Talvez alguns de vós nunca tenham pensado nisto antes. Talvez alguns pensem que ser santos não lhes diz respeito. Permiti-me explicar-vos o que eu quero dizer com isto. Quando somos jovens, costumamos pensar nas pessoas que amamos e admiramos, nas pessoas que gostaríamos de imitar. Poderia tratar-se de alguém que encontramos na nossa vida quotidiana e pelas quais temos grande estima. Ou então poderia ser uma pessoa famosa. Vivemos numa cultura da celebridade, e os jovens são muitas vezes encorajados a ter como modelo figuras do mundo do desporto ou do espectáculo. Gostaria de vos dirigir esta pergunta: quais são as qualidades que vedes nos outros e que vós mesmos quereríeis possuir em maior medida? Que tipo de pessoa realmente gostaríeis de ser?

Quando vos convido a tornar-vos santos, peço-vos que não vos contenteis com opções secundárias. Peço-vos que não busqueis uma finalidade limitada, ignorando todas as outras. Ter dinheiro torna possível ser generoso e fazer o bem no mundo, mas só isto não é suficiente para tornar a pessoa feliz. Ser grandemente dotado em algumas actividades ou profissões é algo positivo, mas jamais poderá satisfazer-nos, enquanto não apostarmos em algo ainda maior. Poderá tornar-nos famosos, mas não nos fará felizes. A felicidade é algo que todos nós desejamos, mas uma das grandes tragédias deste mundo é que muitos não a conseguem encontrar, porque a procuram nos lugares errados. A solução é muito simples: a verdadeira felicidade deve ser procurada em Deus. Temos necessidade da coragem de depositar as nossas esperanças mais profundas unicamente em Deus: não no dinheiro, numa carreira, no sucesso mundano ou nos nossos relacionamentos com os outros, mas em Deus. Só Ele pode satisfazer a necessidade mais profunda do nosso coração!

Deus ama-nos com uma profundidade e intensidade que dificilmente podemos imaginar, e também nos convida a responder a este amor. Todos vós sabeis o que acontece quando vos encontrais com alguém interessante e atraente, como desejais ser amigos daquela pessoa. E vós esperais sempre que aquela pessoa também vos julgue interessantes e atraentes, e que deseje estreitar amizade convosco. Deus deseja a vossa amizade. E, quando entrais em amizade com Deus, tudo começa a mudar na vossa vida. Na medida em que O conheceis melhor, compreendeis que desejais reflectir na vossa vida algo da sua bondade infinita. Sois atraídos pela prática da virtude. Começais a ver a avidez e o egoísmo, bem como todos os demais pecados, por aquilo que eles realmente são, tendências destruidoras e perigosas que causam um profundo sofrimento e um grande prejuízo, e assim procurais evitar cair vós mesmos nesta armadilha. Começais a sentir compaixão por aqueles que se encontram em dificuldade e desejais fazer algo para os ajudar. Quereis ir ao encontro dos pobres e dos famintos, confortar os enfermos, ser bons e generosos. Quando estas realidades começarem a ser importantes para vós, já vos encontrareis plenamente encaminhados pela vereda da santidade.

Nas vossas escolas existe sempre um horizonte mais vasto, acima e além de cada uma das matérias do vosso estudo e das várias capacidades que vós ides adquirindo. Todo o trabalho que levais a cabo está inserido no contexto do crescimento na amizade com Deus, e é de tal amizade que flui todo aquele trabalho. Deste modo, aprendeis não só a ser bons estudantes, mas bons cidadãos e boas pessoas. Na medida em que progredis no vosso percurso escolar, tendes que fazer escolhas a propósito das matérias do vosso estudo e começar a especializar-vos para aquilo que no futuro haveis de fazer na vida. Isto é correcto e oportuno. Porém, recordai que cada matéria que vós estudais está inserida num horizonte mais amplo. Nunca vos reduzais a um horizonte limitado. O mundo tem necessidade de bons cientistas, mas uma perspectiva científica tornar-se-á particularmente restrita, se ignorar as dimensões ética e religiosa da vida, do mesmo modo como se tornará angusta, se rejeitar a contribuição legítima da ciência para a nossa compreensão do mundo. Temos necessidade de bons historiadores, filósofos e economistas, mas se a percepção que eles oferecem a respeito da vida humana, no contexto do seu campo específico, estiver centrada numa perspectiva demasiado limitada, eles podem desviar-nos seriamente.

Uma boa escola oferece uma formação completa para toda a pessoa. E uma boa escola católica, acima e além disto, deveria ajudar os seus estudantes a tornar-se santos. Sei que existem muitos não-católicos que estudam nas escolas católicas na Grã-Bretanha, e desejo dirigir-me a todos eles com as minhas palavras hodiernas. Rezo a fim de que também vós vos sintais encorajados a pôr em prática as virtudes e a crescer no conhecimento e na amizade com Deus, juntamente com os vossos companheiros católicos. Vós sois para eles a referência ao horizonte mais vasto que existe fora da escola, e indubitavelmente o respeito e a amizade pelos membros de outras tradições religiosas devem estar entre as virtudes que se aprendem numa escola católica. Formulo votos também para que desejeis compartilhar, com todas as pessoas que encontrais, os valores e os ensinamentos que recebestes através da formação cristã.

Caros amigos, agradeço-vos a vossa atenção, prometo que rezo por vós peço-vos que também vós oreis por mim. Espero poder encontrar muitos de vós no próximo mês de Agosto, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em Madrid. Até lá, que Deus abençoe todos vós!



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