Discursos Bento XVI 25910


DISCURSO DE AGRADECIMENTO

À COMUNIDADE DE CASTEL GANDOLFO

PELOS VÁRIOS SERVIÇOS DURANTE O PERÍODO DE SUA PERMANÊNCIA DE VERÃO Castel Gandolfo, 27 de Setembro de 2010



Prezados irmãos e irmãs

Antes de me despedir de Castel Gandolfo, no final do período de Verão, é-me grato encontrar-me com todos vós, que representais as comunidades eclesial e civil desta vila amena que me é tão querida, onde a Providência me concede transcorrer todos os anos uma permanência tranquila e profícua.

1184 Em primeiro lugar, dirijo a minha saudação fraterna e cordial ao Bispo de Albano, D. Marcello Semeraro, extensiva a toda a Diocese, que acompanho com carinho especial e orante na sua vida de fé e de testemunho cristão. Depois, saúdo o Pároco de Castel Gandolfo e a comunidade paroquial, juntamente com os vários Institutos religiosos masculinos e femininos que aqui vivem e trabalham para servir com alegria o Evangelho e os irmãos.

Dirijo uma saudação deferente ao Senhor Presidente da Câmara Municipal e aos componentes da Administração municipal, manifestando mais uma vez o meu sincero reconhecimento pela contribuição indispensável que eles oferecem no âmbito da sua competência, a fim de que Castel Gandolfo possa receber de maneira adequada os numerosos peregrinos que vêm aqui de todas as partes do mundo. Através de vós, desejo transmitir aos vossos concidadãos o meu profundo apreço pela conhecida cortesia e pela atenção cuidadosa com que me circundam e acompanham a minha actividade ao serviço da Igreja universal.

Além disso, gostaria de agradecer cordialmente aos dirigentes e a todos os adidos aos diversos serviços do Governatorato, começando pelo Corpo da Gendarmaria, a «Floreria», as direcções dos Serviços médicos e dos Serviços técnicos, assim como a Pontifícia Guarda Suíça. Estimados amigos, dirijo a todos vós um «obrigado» especial pela solicitude e profissionalidade com que vos prodigalizastes para vir ao encontro das minhas exigências pessoais, dos meus colaboradores e de quantos, durante os meses de Verão, vieram ao Castelo para me visitar. A cada um de vós e às vossas famílias, asseguro uma recordação constante na oração. Em seguida, dirijo um pensamento de sincera gratidão aos funcionários e aos agentes das diversas Forças da Ordem italianas, pelo seu trabalho pontual e eficaz, assim como aos oficiais e aviadores do 31º esquadrão da Aeronáutica militar. Dou graças a Deus e estou grato a todos vós, porque tudo se realizou sempre na ordem e na tranquilidade.

Ao despedir-me de vós, é-me grato confiar à vossa consideração a figura de São Vicente de Paulo, cuja memória celebramos no dia de hoje. Este apóstolo da caridade, tão querido ao povo cristão e conhecido especialmente através das Religiosas por ele fundadas, foi proclamado pelo Papa Leão XIII «padroeiro universal de todas as obras de caridade espalhadas pelo mundo inteiro». Mediante a sua incessante obra apostólica, ele fez com que o Evangelho se tornasse cada vez mais um farol luminoso de esperança e de amor para o homem do seu tempo e, de modo particular, para os mais pobres no corpo e no espírito. O seu exemplo de virtude e a sua intercessão suscitem nas vossas comunidades e em cada um de vós um renovado compromisso de solidariedade, de tal forma que os esforços de cada um cooperem para a edificação do bem comum.

Acompanho estes votos cordiais com a certeza da minha recordação ao Senhor, para que assista todos vós e vossas famílias com a sua graça e vos cumule de copiosas bênçãos. Dilectos amigos, agradeço-vos mais uma vez e abençoo-vos de coração.



DISCURSO DE AGRADECIMENTO

AOS FUNCIONÁRIOS DAS VILAS PONTIFÍCIAS

DE CASTEL GANDOLFO PELOS VÁRIOS SERVIÇOS DURANTE O PERÍODO DE SUA PERMANÊNCIA DE VERÃO Quarta-feira, 29 de Setembro de 2010



Queridos irmãos e irmãs!

Antes de me despedir de Castel Gandolfo, ao concluir a minha estadia de Verão, apraz-me receber-vos para esta visita de despedida, que me oferece a oportunidade de exprimir a cada um de vós o meu sincero reconhecimento pelo trabalho que realizastes aqui e de me congratular de modo particular pelo ânimo que inspira este vosso serviço.

Agradeço ao Director, Dr. Saverio Petrillo, as gentis palavras que me dirigiu e os sentimentos que, em nome de todos, me manifestou. Estou feliz por renovar, nesta ocasião, a expressão do meu apreço pela competência e o zelo que o senhor, prezado Director, juntamente com todo o pessoal, dedica ao Palácio e às Vilas Pontifícias. O Senhor recompense cada um com abundantes dons celestiais e abençoe a vós e as vossas famílias. Obrigado a todos, porque também neste Verão, me acompanhastes com a oração e o vosso intenso trabalho. Estivestes sempre próximos de mim e por isso estou-vos grato.

Continuai, queridos amigos, a oferecer o testemunho quotidiano da vossa fé, sobretudo colocando-vos em dócil escuta da Palavra de Deus. Hoje, na liturgia, celebramos três excelsos Mensageiros desta Palavra que ilumina, orienta, defende, consola e socorre: os santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, enviados por Deus, com missões específicas, nos momentos particulares da história da salvação. Cada cristão é chamado a acolher e viver todos os dias, com simplicidade e alegria, a Palavra de verdade que o Senhor nos comunicou. Durante os séculos a Igreja conheceu figuras maravilhosas de fiéis discípulos de Cristo que se nutriram assiduamente e com amor da Sagrada Escritura, depositando profunda confiança nela. Amanhã celebraremos a memória de São Jerónimo, um Padre da Igreja que pôs a Bíblia no centro da própria vida: traduziu-a na língua latina. Comentou-a nas suas obras. Este eminente doutor da Igreja advertia que «ignorar as Escrituras é ignorar Cristo» (Commento ad Isaia, prol.). Portanto, é fundamental que cada cristão viva em contacto e em diálogo pessoal com a Palavra de Deus, que a Sagrada Escritura nos doa, lendo-a não como palavra do passado mas como Palavra viva, que se dirige hoje a nós e nos interpela.

Caríssimos, garanto-vos uma recordação constante na oração, a fim de que cada um possa conhecer e assimilar cada vez mais profundamente a Palavra de Deus, estímulo e fonte da vida cristã para todas as situações e pessoas. A Virgem Santa é modelo desta escuta obediente: aprendei dela! O Senhor vos conceda dias felizes e santos; o Espírito Santo enriqueça com os seus dons as vossas famílias.

1185 Agora, em sinal de amizade, concedo-vos de coração, a vós aqui presentes e a quantos vos são queridos, uma especial Bênção Apostólica.




Outubro de 2010


SAUDAÇÃO NO FINAL DO CONCERTO DA ORQUESTRA E CORO DA ACADEMIA NACIONAL DE SANTA CECÍLIA Sala Paulo VI, 1 de Outubro de 2010



Venerados Irmãos
Ilustres Senhores e Senhoras
Queridos irmãos e irmãs!

Desejo antes de tudo dirigir o meu sentido agradecimento ao ENI, na pessoa do Presidente, Prof. Roberto Poli, que gentilmente introduziu esta tarde. Há já tempos o ENI tinha-se oferecido para organizar um concerto em concomitância com os trabalhos de restauro das fachadas laterais da Basílica de São Pedro. Depois de ter realizado a memorável limpeza da fachada central, admirada por milhões de peregrinos durante o Jubileu do ano 2000, esta ulterior, grande obra está em plena actuação: ao entrar no Vaticano pelo «Arco delle Campane» ou pelo «Petriano», permanece-se admirados — olhando para a parte já terminada — pelo aspecto do travertino, que se mostra como nunca o vimos, quase macio como veludo. Também este é um grande trabalho «de orquestra», e todos os que o dirigem e quantos, com mestria e fadiga o executam merecem um aplauso!

E assim o ENI pensou num concerto — talvez para compensar os rumores que inevitavelmente estes trabalhos produzem! Por isso foram chamados a Orquestra e o Coro da Academia Nacional de Santa Cecília, ou seja duas instituições que, pela sua história, pela qualidade da sua arte e do som tipicamente «italiano», representam Roma e a Itália no panorama musical mundial. Gostaria de apresentar as minhas congratulações a todos os Orquestrais e Coristas, com os votos de que se possam renovar sempre no espírito, para dar vida — como esta tarde — a obras imortais. Em particular, expresso vivo apreço ao Regente Neeme Järvi, ao pianista Andrea Lucchesini e ao Maestro do Coro Ciro Visco. Uma saudação especial também ao grupo de pobres, assistidos pela Caritas diocesana, que eu quis convidar para viver connosco este momento de alegria.

E agora uma breve reflexão sobre a música que ouvimos: uma sinfonia de Haydn, do grupo das «Londrinas», chamada «Surpresa», o «mit dem Paukenschlag» pelo característico uso do címbalo no segundo tempo; a Fantasia coral de Beethoven, um trecho bastante atípico como género no panorama beethoveniano, mas que mostra sinteticamente as possibilidades expressivas da música solista, orquestral e coral: e, colocada no meio, a Cecília, virgem romana de Arvo Pärt. As duas obras de Haydn e de Beethoven fizeram ressoar toda a riqueza e vigor da música sinfónica do período clássico e romântico: com ela o génio humano compete em criatividade com a natureza, dá vida a harmonias várias e multiformes, onde também a voz humana participa desta linguagem, que é como um reflexo da grande sinfonia cósmica. Esta forma é característica sobretudo do período romântico e romântico tardio, mas vai além, representa uma dimensão universal da arte, um modo de conceber o homem e o seu lugar no mundo.

Ao contrário a obra de Pärt, mesmo servindo-se também ela de um instrumento semelhante, uma orquestra sinfónica e um coro, quer dar voz a outra realidade, que não pertence ao mundo natural: dá voz ao testemunho da fé em Cristo, que numa palavra se diz «martírio». É interessante que este testemunho seja personificado precisamente por santa Cecília: uma mártir que é também a padroeira da música e do canto.

1186 Portanto é preciso congratular-se também com quem organizou o programa do concerto, porque a combinação deste trabalho sobre santa Cecília com as obras de Haydn e de Beethoven oferece um contraste rico de significado, que convida a reflectir. O texto do martírio da santa e o particular estilo que o interpreta em chave musical, parecem representar o lugar e a tarefa da fé no universo: no meio das forças vitais da natureza, que estão em volta do homem e também dentro dele, a fé é uma força diferente, que responde a uma palavra profunda, «que saiu do silêncio», como diria Santo Inácio de Antioquia. A palavra da fé precisa de um grande silêncio interior, para ouvir e obedecer a uma voz que está além do visível e do tangível. Esta voz fala também através dos fenómenos da natureza, porque foi o poder que criou e que governa o universo; mas para o reconhecer é preciso um coração humilde e obediente — como nos ensina também a santa da qual hoje celebramos a memória: segue-a no caminho do testemunho, da oferenda de si mesmos por amor, como fez Cecília. Então a obra de arte mais bela, a obra-prima do ser humano é cada um dos seus gestos de amor autêntico, do mais pequeno — no martírio quotidiano — até ao extremo sacrifício. Aqui a própria vida torna-se um cântico: uma antecipação daquela sinfonia que cantaremos juntos no Paraíso. Obrigado de novo e uma boa tarde.





VISITA PASTORAL A PALERMO


ENCONTRO COM OS SACERDOTES, OS RELIGIOSOS, AS RELIGIOSAS E OS SEMINARISTAS 3 de Outubro de 2010

31010

Catedral de Palermo

Domingo, 3 de Outubro de 2010




Venerados Irmãos no Episcopado! Queridos irmãos e irmãs!

Nesta minha visita pastoral na vossa terra não podia faltar o encontro convosco. Obrigado pelo vosso acolhimento! Gostei do paralelismo, nas palavras do Arcebispo, entre a beleza da Catedral e a do edifício de «pedras vivas» que sois vós. Sim, neste breve mas intenso momento convosco posso admirar o rosto da Igreja, na variedade dos seus dons. E, como Sucessor de Pedro, tenho a alegria de vos confirmar na única fé e na profunda comunhão que o Senhor Jesus nos adquiriu. Expresso a minha gratidão a D. Paolo Romeo, e faço-a extensiva ao Bispo Auxiliar. A vós, queridos presbíteros desta Arquidiocese e de todas as Dioceses da Sicília, a vós, queridos diáconos e seminaristas, e a vós religiosos, religiosas e leigos consagrados, dirijo a minha saudação mais cordial, e gostaria de a fazer chegar a todos os irmãos e irmãs da Sicília, de modo especial aos que estão doentes e são muito idosos.

A adoração eucarística, que tivemos a graça e a alegria de partilhar, revelou-nos e fez-nos sentir o profundo significado do que somos: membros do Corpo de Cristo que é a Igreja. Prostrado diante de Jesus, aqui no meio de vós, eu pedi-lhe que inflamasse os vossos corações com a sua caridade, de modo que sejais assimilados a Ele e possais imitá-lo na mais completa e generosa doação à Igreja e aos irmãos.

Queridos sacerdotes, gostaria de me dirigir antes de tudo a vós. Sei que trabalhais com zelo e inteligência, sem poupar energias. O Senhor Jesus, ao qual consagrastes a vida, está convosco! Sede sempre homens de oração, para serdes também mestres de oração. Os vossos dias sejam ritmados pelos tempos da adoração, durante os quais, a exemplo de Jesus, vos detendes em diálogo regenerador com o Pai. Não é fácil manter-se fiéis a estes encontros quotidianos com o Senhor, sobretudo hoje que o ritmo da vida se tornou frenético e as ocupações absorvem sempre mais tempo. Contudo devemos convencer-nos: o momento da oração é fundamental: nela, age com mais eficácia a graça divina, dando fecundidade ao ministério. Temos muitas preocupações, mas se não estamos interiormente em comunhão com Deus nada podemos dar nem sequer aos outros. Devemos destinar o tempo necessário para «estar com ele» (cf.
Mc 3,14).

O Concílio Vaticano II afirma em relação aos sacerdotes: «É no culto eucarístico ou sinapse que eles exercem sobretudo o seu ministério sagrado» (Const. dogm. Lumen gentium LG 28). A Eucaristia é a fonte e o ápice de toda a vida cristã. Amados irmãos sacerdotes, podemos dizer que também é assim para nós, para a nossa vida sacerdotal? Que atenção dedicamos na nossa preparação para a santa Missa, na sua celebração, no estar em adoração? As nossas igrejas são deveras «casa de Deus», onde a sua presença atrai o povo, que infelizmente hoje sente com frequência a ausência de Deus?

O sacerdote encontra sempre, e de modo imutável, a fonte da própria identidade em Cristo Sacerdote. Não é o mundo quem estabelece o seu estatuto, segundo as necessidades e as concepções dos papéis sociais. O sacerdote está marcado pelo sigilo do Sacerdócio de Cristo, para participar na sua função de único Mediador e Redentor. Em virtude deste vínculo fundamental, abre-se ao sacerdote o enorme campo do serviço das almas, para a sua salvação em Cristo e na Igreja. Um serviço que deve ser completamente inspirado pela caridade de Cristo. Deus quer que todos os homens sejam salvos, que ninguém se perca. O santo Cura d’Ars dizia: «O sacerdote deve estar sempre pronto para responder às necessidades das almas. Ele não é para si, é para vós». O sacerdote é para os fiéis: anima-os e ampara-os na prática do sacerdócio comum dos baptizados, no seu caminho de fé, no cultivo da esperança, na vivência da caridade, no amor de Cristo. Queridos sacerdotes, dedicai sempre uma particular atenção também ao mundo juvenil. Como disse nesta terra o Venerável João Paulo II, abri de par em par as portas das vossas paróquias aos jovens, para que possam abrir as portas da seu coração a Cristo! Que nunca as encontrem fechadas!

O sacerdote não pode permanecer distante das preocupações quotidianas do Povo de Deus; aliás, deve estar muito próximo, mas como sacerdote, sempre na perspectiva da salvação e do Reino de Deus. Ele é testemunha e dispensador de uma vida diversa da terrena (cf. Decr. Presbyterorum ordinis PO 3). Ele é portador de uma esperança forte, de uma «esperança certa», a de Cristo, com a qual enfrentar o presente, mesmo se muitas vezes é cansativo (cf. Enc. Spe salvi ). É essencial para a Igreja que a identidade do sacerdote seja salvaguardada, com a sua dimensão «vertical». A vida e a personalidade de São João Maria Vianney, mas também de tantos Santos da vossa terra, como santo Aníbal Maria di Francia, o beato Giacomo Cusmano ou o beato Francesco Spoto, são disto uma demonstração particularmente ilumanante e vigorosa.

A Igreja de Palermo recordou recentemente o aniversário do bárbaro assassínio de Pe. Giuseppe Puglisi, pertencente a este presbitério, assassinado pela máfia. Ele tinha um coração que ardia de autêntica caridade pastoral; no seu zelante ministério deu amplo espaço à educação dos jovens e dos adolescentes, e juntamente comprometeu-se para que cada família cristã vivesse a vocação fundamental de primeira educadora da fé dos filhos. O mesmo povo confiado aos seus cuidados pastorais pôde dessedentar-se na riqueza espiritual deste bom pastor, do qual está em curso a causa de Beatificação. Exorto-vos a conservar viva memória do seu fecundo testemunho sacerdotal imitando o seu exemplo heróico.

Com grande afecto dirijo-me também a vós, que em várias formas e institutos viveis a consagração a Deus em Cristo e na Igreja. Um pensamento especial aos monges e às monjas de clausura, cujo serviço de oração é tão precioso para a Comunidade eclesial. Queridos irmãos e irmãs, continuai a seguir Jesus sem compromissos, como é proposto no Evangelho, dando assim testemunho da beleza de ser cristãos de modo radical. Compete em particular a vós manter viva nos baptizados a consciência das exigências fundamentais do Evangelho. De facto, a vossa própria presença e o vosso estilo infundem à Comunidade eclesial um precioso impulso rumo à «medida alta» da vocação cristã; aliás, poderíamos dizer que a vossa existência constitui como que uma pregação, bastante eloquente, mesmo se muitas vezes é silenciosa. O vosso, caríssimos, é um género de vida antigo e sempre novo, não obstante a diminuição do número e das forças. Mas tende confiança: os nossos tempos não são os de Deus e da sua providência. É necessário rezar e crescer na santidade pessoal e comunitária. O Senhor depois provê!

Com afecto de predilecção saúdo a vós, queridos seminaristas e exorto-vos a responder com generosidade à chamada do Senhor e às expectativas do Povo de Deus, crescendo na identificação com Cristo, o Sumo Sacerdote, preparando-vos para a missão com uma sólida formação humana, espiritual, teológica e cultural. O Seminário é muito precioso para o vosso futuro, porque, através de uma experiência completa e de um trabalho paciente, conduz-vos a ser pastores de almas e mestres de fé, ministros dos santos mistérios e portadores da caridade de Cristo. Vivei com empenho este tempo de graça e conservai no coração a alegria e o impulso do primeiro momento da chamada e do vosso «sim», quando, respondendo à voz misteriosa de Cristo, fizestes uma mudança decisiva na vossa vida. Sede dóceis às directrizes dos superiores e dos responsáveis do vosso crescimento em Cristo, e aprendei d’Ele o amor por todos os filhos de Deus e da Igreja.

Queridos irmãos e irmãs, enquanto agradeço mais uma vez o vosso afecto, garanto-vos a minha recordação na oração, para que prossigais com renovado impulso e com forte esperança o caminho de fiel adesão a Cristo e de generoso serviço à Igreja. Assista-vos sempre a Virgem Maria, nossa Mãe; protejam-vos santa Rosalia e todos os Santos padroeiros desta terra da Sicília; e acompanhe-vos também a Bênção Apostólica, que concedo de coração a vós e às vossas comunidades.


ENCONTRO COM OS JOVENS

31020

Praça Politeama de Palermo

Domingo, 3 de Outubro de 2010


Queridos jovens
e caras famílias da Sicília!

Saúdo-vos com muito afecto e alegria! Obrigado pela vossa alegria e fé! Este encontro convosco é o último da minha visita de hoje a Palermo, mas num certo sentido é o central; com efeito, é o evento que ofereceu o motivo para me convidar: o vosso encontro regional de jovens e famílias. Portanto, devo iniciar por ele, por este acontecimento; e faço-o antes de tudo agradecendo a D. Mario Russotto, Bispo de Caltanissetta, delegado para a pastoral juvenil e familiar a nível regional, e depois aos dois jovens, Giorgia e David. Queridos amigos, a vossa foi mais que uma saudação: foi uma partilha de fé e esperança. Agradeço-vos de coração. O Bispo de Roma vai a todos os lugares para confirmar os cristãos na fé, mas volta para a sua casa confirmado pela vossa fé, alegria e esperança!

Portanto, jovens e famílias. Devemos assumir seriamente esta aproximação, este estar juntos, que não pode ser só ocasional, ou funcional. Tem um sentido, um valor humano, cristão e eclesial. Gostaria de começar não por um raciocínio, mas por um testemunho, uma história vivida e actualíssima. Penso que todos vós sabeis que sábado 25 de Setembro passado, em Roma, uma jovem italiana chamada Chiara Badano foi proclamada beata. Convido-vos a conhecê-la: a sua vida foi breve, mas é uma mensagem maravilhosa. Chiara nasceu em 1971 e morreu em 1990, devido a uma doença incurável. Dezanove anos cheios de vida, amor e fé. Os dois últimos anos, cheios também de dor mas sempre no amor e na luz, uma luz que irradiava ao seu redor e que vinha de dentro: do seu coração cheio de Deus! Como é possível isto? Como pode uma jovem de 17, 18 anos viver um sofrimento assim, humanamente sem esperança, difundindo amor, serenidade, paz e fé? É evidente que se trata de uma graça de Deus, mas esta graça também foi preparada e acompanhada pela colaboração humana: da própria Chiara certamente, mas também dos seus pais e amigos.

Antes de tudo os pais, a família. Hoje gostaria de evidenciar isto de modo particular. Os pais da beata Chiara Badano estão vivos, estavam em Roma para a beatificação — eu mesmo encontrei-me com eles — e sou testemunha do facto fundamental, que explica tudo: a filha era repleta da luz de Deus! E esta luz, que vem da fé e do amor, acenderam-na eles em primeiro lugar: o pai e a mãe acenderam na alma da filha a chama da fé, e ajudaram Chiara a mantê-la acesa sempre, inclusive nos momentos difíceis do crescimento e, sobretudo, na grande e longa provação do sofrimento, assim como aconteceu à Venerável Maria Carmelina Leone, morta aos 17 anos. Esta, queridos amigos, é a primeira mensagem que quero deixar-vos: a relação entre os pais e os filhos — sabeis — é fundamental; mas não só por uma justa tradição — sei que ela é muito sentida pelos sicilianos. É algo mais, que o próprio Jesus nos ensinou: é a chama da fé que se transmite de geração em geração; a chama que está presente também no rito do Baptismo, quando o sacerdote diz: «Recebei a luz de Cristo... sinal pascal... chama que deveis alimentar sempre».

A família é fundamental porque ali se desenvolve na alma humana a primeira percepção do sentido da vida. Brota na relação com a mãe e com o pai, os quais não são donos da vida dos filhos, mas os primeiros colaboradores de Deus para a transmissão da vida e da fé. Aconteceu de modo exemplar e extraordinário na família da beata Chiara Badano; mas isto ocorre em muitas famílias. Também na Sicília há testemunhos maravilhosos de jovens crescidos como plantas boas, viçosas, depois de terem germinado na família, com a graça do Senhor e a colaboração humana. Penso na beata Pina Suriano, nas veneráveis Maria Carmelina Leone e Maria Magno Magro, grandes educadoras; nos servos de Deus Rosario Livatino, Mario Giuseppe Restivo e em tantos jovens que conheceis! Com frequência a sua acção não faz notícia, porque o mal faz mais barulho, mas eles são a força e o futuro da Sicília! A imagem da árvore é muito significativa para representar o homem. A Bíblia utiliza-a, por exemplo, nos Salmos. O Salmo 1 diz: Feliz o homem que medita a lei do Senhor, «é como a árvore plantada à beira das correntes, que dá o seu fruto na estação própria» (v. 3). Estas «correntes» de água podem ser o «rio» da tradição, o «rio» da fé do qual se tira a seiva vital. Queridos jovens da Sicília, sede árvores que afundam as próprias raízes no «rio» do bem! Não tenhais medo de contrastar o mal! Juntos sereis como uma floresta que cresce, talvez silenciosa, mas capaz de produzir fruto, dar vida e renovar de modo profundo a vossa terra! Não cedais às sugestões da máfia, que é um caminho de morte, incompatível com o Evangelho, como muitas vezes os nossos bispos disseram e dizem!

O apóstolo Paulo retoma esta imagem na Carta aos Colossenses, na qual exorta os cristãos a permanecer «enraizados e edificados n’Ele, firmes na fé» (cf. 2, 7). Vós, jovens, sabeis que estas palavras são o tema da minha Mensagem para a Jornada Mundial da Juventude do próximo ano em Madrid. A imagem da árvore diz que cada um de nós precisa de um terreno fértil para afundar as próprias raízes, de um terreno rico de substâncias nutritivas que façam a pessoa crescer: são os valores, mas sobretudo são o amor e a fé, o conhecimento do verdadeiro rosto de Deus, a consciência que Ele nos ama infinita, fiel e pacientemente, até dar a vida por nós. Neste sentido a família é «pequena Igreja», porque transmite Deus, o amor de Cristo, através do sacramento do Matrimónio. O amor divino que uniu o homem e a mulher, e que os tornou pais, é capaz de suscitar no coração dos filhos o germe da fé, isto é, a luz do sentido profundo da vida.

E eis-nos diante de outro ponto importante, que menciono brevemente: a família, para ser «pequena Igreja», deve viver bem inserida na «grande Igreja», ou seja, na família de Deus que Cristo veio formar. Também disto a beata Chiara Badano nos dá testemunho, como todos os jovens santos e beatos: juntamente com a família de origem, a grande família da Igreja é fundamental, encontrada e experimentada na comunidade paroquial, na diocese; para a beata Pina Suriano foi a Acção Católica — amplamente presente nesta terra — para a beata Chiara Badano, o Movimento dos Focolares; com efeito, também os movimentos e as associações eclesiais não servem a si mesmos, mas a Cristo e à Igreja.

Queridos amigos! Conheço as vossas dificuldades no contexto social actual, que são as dificuldades dos jovens e das famílias de hoje, em particular do sul da Itália. E conheço também o empenho com o qual procurais reagir e enfrentar estes problemas, apoiados pelos vossos sacerdotes, que são para vós autênticos pais e irmãos na fé, como foi Pe. Pino Puglisi. Dou graças a Deus por vos ter encontrado, porque onde há jovens e famílias que escolhem o caminho do Evangelho, há esperança. E vós sois sinal de esperança não só para a Sicília, mas para toda a Itália. Mostrei-vos um testemunho de santidade, e vós oferecestes-me o vosso: os rostos de muitos jovens desta terra que amaram Cristo com radicalidade evangélica; os vossos próprios rostos, como um mosaico! Eis o maior dom que recebemos: ser Igreja, ser sinal e instrumento de unidade em Cristo, paz e liberdade verdadeira. Ninguém pode tirar-nos esta alegria! Ninguém pode tirar-nos esta força! Coragem, queridos jovens e famílias da Sicília! Sede santos! Na escola de Maria, nossa Mãe, colocai-vos plenamente à disposição de Deus, deixai-vos plasmar pela sua Palavra e pelo seu Espírito, e sereis ainda, e cada vez mais, sal e luz desta vossa terra amada. Obrigado!






AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (REGIONAL NORTE 1-NOROESTE) EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Segunda-feira, 4 de Outubro de 2010



Caros Irmãos no Episcopado

É com muita satisfação que vos dou as boas-vindas, Pastores dos Regionais Norte 1 e Noroeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por ocasião da vossa visita ad Limina Apostolorum. Agradeço a Dom Moacyr Grechi pelas suas amáveis palavras e pelos sentimentos expressos em vosso nome, ao mesmo tempo em que asseguro que vos tenho presente diariamente nas minhas orações, pedindo ao Céu que sustente e torne fecundos os esforços que fazeis – muitas vezes carecendo de meios adequados – para levar a Boa Nova de Jesus a todos os cantos da floresta amazônica, conscientes de que “Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).

Deus pode realizar esta salvação por vias extraordinárias que somente Ele conhece. Entretanto, se o seu Filho veio, foi precisamente para nos revelar, pela sua palavra e pela sua vida, os caminhos ordinários da salvação; e Ele mandou-nos transmitir aos outros essa revelação, com a sua própria autoridade. Sendo assim, não podemos furtar-nos a este pensamento: os homens poderão salvar-se por outras vias, graças à misericórdia de Deus, se não lhes anunciar o Evangelho; mas poderei eu salvar-me se por negligência, medo, vergonha ou por seguir idéias falsas, deixar de o anunciar?

Por vezes deparamos com esta objeção: impor uma verdade, ainda que seja a verdade do Evangelho, impor uma via, ainda que seja a salvação, não pode ser senão uma violência à liberdade religiosa. Apraz-me transcrever a reposta pertinente e elucidativa que lhe deu o Papa Paulo VI: “É claro que seria certamente um erro impor qualquer coisa à consciência dos nossos irmãos. Mas propor a essa consciência a verdade evangélica e a salvação em Jesus Cristo, com absoluta clareza e com todo o respeito pelas opções livres que essa consciência fará – e isso, sem pressões coercitivas, sem persuasões desonestas e sem aliciá-la com estímulos menos retos – longe de ser um atentado à liberdade religiosa, é uma homenagem a essa liberdade, à qual é proporcionado o escolher uma via que mesmo os não crentes reputam nobre e exaltante. (…) Esta maneira respeitosa de propor Cristo e o seu Reino, mais do que um direito, é um dever do evangelizador. E é também um direito dos homens seus irmãos receber dele o anúncio da Boa Nova da salvação” (Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 80).

“Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (1Co 9,16) exclamava o Apóstolo das gentes. O desejo de anunciar o Evangelho nasce de um coração enamorado por Jesus, que anela ardentemente que mais pessoas possam receber o convite e participar no banquete das Bodas do Filho de Deus (cf. Mt 22,8-10). De fato, a missão é o desbordar da chama de amor que se inflama no coração do ser humano, que, ao abrir-se à verdade do Evangelho e deixar-se transformar por ela, passa a viver a sua vida – como dizia São Paulo – “na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim” (Ga 2,20). Conseqüentemente, o chamado à missão não é algo destinado exclusivamente a um restrito grupo de membros da Igreja, mas um imperativo dirigido a cada batizado, um elemento essencial da sua vocação. Como afirmou o Concílio Vaticano II: a “vocação cristã é, por sua própria natureza, vocação ao apostolado” (Decr. Apostolicam actuositatem AA 2). Neste sentido, um dos compromissos centrais da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, que tive a alegria de iniciar em Aparecida, em 2007, foi o de despertar nos cristãos a consciência de discípulos e missionários, resgatando a dimensão missionária da Igreja ao convocar uma “Missão Continental”.

1189 Ao pensar nos desafios que esta proposta de renovação missionária supõe para vós, Prelados brasileiros, vem-me a mente a figura do Beato José de Anchieta. Com efeito a sua incansável e generosíssima atividade apostólica, não isenta de graves perigos, que fez com que a Palavra de Deus se propagasse tanto entre os índios quanto entre os portugueses – razão pela qual desde o momento de sua morte recebeu o epíteto de Apóstolo do Brasil – pode servir de modelo para ajudar as vossas Igrejas particulares a encontrar os caminhos para empreender a formação dos discípulos missionários no espírito da Conferência de Aparecida (cf. Documento de Aparecida, 275).

Contudo, os desafios do contexto atual poderiam conduzir a uma visão reducionista do conceito de missão. Esta não pode ser limitada a uma simples busca de novas técnicas e formas que tornem a Igreja mais atrativa e capaz de vencer a concorrência com outros grupos religiosos ou com ideologias relativistas. A Igreja não trabalha para si: está ao serviço de Jesus Cristo; existe para fazer que a Boa Nova seja acessível para todas as pessoas. A Igreja é católica justamente porque convida todo o ser humano a experimentar a nova existência em Cristo. A missão, portanto, nada mais é que a conseqüência natural da própria essência da Igreja, um serviço do ministério da união que Cristo quis operar no seu corpo crucificado.

Isso deve levar a refletir que o esmorecimento do espírito missionário talvez não se deva tanto a limitações e carências nas formas externas da ação missionária tradicional quanto ao esquecimento de que a missão deve alimentar-se de um núcleo mais profundo. Esse núcleo é a Eucaristia. Esta, como presença do amor humano-divino de Jesus Cristo, supõe continuamente o passo de Jesus aos homens que serão seus membros, que serão eles mesmos Eucaristia. Em suma, para que a Missão Continental seja realmente eficaz, esta deve partir da Eucaristia e conduzir para a Eucaristia.

Amados irmãos, ao retornardes às vossas dioceses e prelazias, peço-vos que transmitais aos vossos sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas, catequistas e fiéis, a saudação afetuosa do Papa, que em todos pensa e por todos ora com grande afeto e firme esperança. À intercessão do Beato José de Anchieta, que encontrava no Sacrário o segredo da sua eficácia apostólica, confio as vossas pessoas, as vossas intenções e propósitos pastorais, para que o nome de Cristo esteja sempre presente no coração e nos lábios de cada brasileiro. Com estes sentimentos vos acompanham a minha prece e a minha Bênção Apostólica.







Discursos Bento XVI 25910