Discursos Bento XVI 61120

CERIMÓNIA DE BOAS VINDAS Aeroporto Internacional de Santiago de Compostela Sábado, 6 de Novembro de 2010

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Altezas Reais
Distintas Autoridades nacionais, autónomas e locais
Senhor Arcebispode Santiago de Compostela
Senhor Cardeal Presidente da Conferência Episcopal Espanhola
Senhores Cardeaise Irmãos no Episcopado
Prezados irmãos e irmãs
Queridos amigos!

Muito obrigado, Alteza, pelas deferentes palavras que me dirigiu em nome de todos e que são o eco profundo dos sentimentos de afecto para com o Sucessor de Pedro dos filhos e filhas desta nobre terra.

Saúdo cordialmente quantos estão aqui presentes e todos os que se unem a nós através dos meios de comunicação social, agradecendo também a quantos colaboraram generosamente, a partir dos diversos âmbitos eclesiais e civis, para que esta breve mas intensa viagem a Santiago de Compostela e a Barcelona seja frutuosa.

No mais íntimo do seu ser, o homeme está sempre a caminho, está em busca da verdade. A Igreja participa desse anseio profundo do ser humano e ela mesma se põe a caminho, acompanhando o homem que anseia pela plenitude do seu próprio ser. Ao mesmo tempo, a Igreja realiza o seu caminho interior, aquele que a conduz através da fé, da esperança e do amor, a tornar-se transparência de Cristo para o mundo. É esta a sua missão e o seu caminho: ser cada vez mais, no meio dos homens, presença de Cristo, «o qual para nós foi feito, por Deus, sabedoria, justiça, santificação e redenção» (
1Co 1,30). Por isso, também eu me pus a caminho para confirmar na fé os meus irmãos (cf. Lc 22,32).

Venho como peregrino, neste Ano Santo Compostelano e trago no coração o mesmo amor a Cristo que movia o Apóstolo Paulo a empreender as suas viagens, desejando chegar também à Espanha (cf. Rm 15,22-29). Desta forma, desejo unir-me a esta longa plêiade de homens e mulheres que, ao longo dos séculos, chegaram a Compostela de todas as partes da Península Ibérica e da Europa, e também do mundo inteiro, para se pôr aos pés de São Tiago e deixar-se transformar pelo testemunho da sua fé. Eles, com as suas pegadas e cheios de esperança, foram criando um caminho de cultura, oração, misericórdia e conversão, que plasmou igrejas e hospitais, asilos, pontes e mosteiros. Deste modo, a Espanha e a Europa foram desenvolvendo uma fisionomia espiritual marcada de modo indelével pelo Evangelho.

Precisamente como mensageiro e testemunha do Evangelho, irei também a Barcelona, para estimular a fé do seu povo acolhedor e dinâmico. Uma fé semeada já no alvorecer do cristianismo, e que foi germinando e crescendo ao calor de numerosos exemplos de santidade, dando origem a tantas instituições de beneficência, cultura e educação. Fé que inspirou o genial arquitecto Antoni Gaudí a empreender nessa cidade, com o fervor e a colaboração de muitos, a maravilha que é o templo da Sagrada Família. Terei a honra de dedicar esse templo, no qual se reflecte toda a grandeza do espírito humano que se abre a Deus.

Sinto profunda alegria ao estar de novo na Espanha, que deu ao mundo uma plêiade de grandes santos, fundadores e poetas, como Inácio de Loyola, Teresa de Jesus, João da Cruz, Francisco Xavier, entre muitos outros; que no século XX suscitou novas instituições, grupos e comunidades de vida cristã e de acção apostólica e, nos últimos decénios, caminha em concórdia e unidade, liberdade e paz, olhando para o futuro com esperança e responsabilidade. Movida pelo seu rico património de valores humanos e espirituais, procura de igual modo superar as dificuldades e oferecer a sua solidariedade à comunidade internacional.

Estes contributos e iniciativas da vossa grande história, e também de hoje, juntamente com o significado destes lugares da vossa formosa geografia que visitarei nesta ocasião, estimulam-me a alargar o meu pensamento a todos os povos da Espanha e da Europa. Como o Servo de Deus João Paulo II, que de Compostela exortou o velho Continente a dar novo vigor às suas raízes cristãs, também eu desejo convidar a Espanha e a Europa a edificar o seu presente e a projectar o seu futuro partindo da verdade autêntica do homem, da liberdade que respeita essa verdade e nunca a fere, e da justiça para todos, começando pelos mais pobres e desamparados. Uma Espanha e uma Europa preocupadas pelas necessidades não só materiais dos homens, mas também morais e sociais, espirituais e religiosas, porque todas elas são exigências genuínas do único homem e só assim se trabalha eficaz, íntegra e fecundamente pelo seu bem.

Queridos amigos, reitero-vos o meu agradecimento pelas vossas amáveis boas-vindas e pela vossa presença neste aeroporto. Renovo o meu carinho aos amadíssimos filhos da Galiza, da Catalunha e dos demais povos da Espanha. Ao recomendar à intercessão de São Tiago Apóstolo a minha presença entre vós, suplico a Deus que as suas bênçãos cheguem a todos. Muito obrigado!




VISITA À CATEDRAL DE SANTIAGO DE COMPOSTELA Sábado, 6 de novembro de 2010

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Senhores Cardeais
Queridos Irmãos no Episcopado
Distintas Autoridades
Queridos sacerdotes, seminaristas,
religiosos e religiosas
Amados irmãos e irmãs
Queridos amigos!

Agradeço a D. Julián Barrio Barrio, Arcebispo de Santiago de Compostela, as amáveis palavras que acaba de me dirigir às quais retribuo agradecido, saudando todos com afecto no Senhor e agradecendo-vos a vossa presença neste lugar tão significativo.

Peregrinar não é simplesmente visitar um lugar qualquer para admirar os seus tesouros da natureza, arte e história. Peregrinar significa, aliás, sair de nós próprios para ir ao encontro de Deus lá onde Ele se manifestou, onde a graça divina se mostrou com particular esplendor e produziu abundantes frutos de conversão e de santidade entre os crentes. Os cristãos peregrinam, antes de tudo, aos lugares ligados à paixão, morte e ressurreição do Senhor, a Terra Santa. Depois a Roma, cidade do martírio de Pedro e Paulo, e também a Compostela que, ligada à memória de Santiago, recebe peregrinos de todo o mundo, desejosos de fortalecer o seu espírito com o testemunho de fé e de amor do Apóstolo.

Neste Ano Santo Compostelano, como Sucessor de Pedro, também eu quis peregrinar à Casa do Senhor São Tiago, que se prepara para celebrar o oitavo centenário da sua consagração, para confirmar a vossa fé e avivar a vossa esperança, e para confiar à intercessão do Apóstolo os vossos anseios, fadigas e trabalhos pelo Evangelho. Ao abraçar a sua venerada imagem, pedi também por todos os filhos da Igreja, que tem a sua origem no mistério de comunhão que é Deus. Mediante a fé, somos introduzidos no mistério de amor que é a Santíssima Trindade. Somos, de certa forma, abraçados por Deus, transformados pelo seu amor. A Igreja é esse abraço de Deus no qual os homens aprendem também a abraçar os seus irmãos, descobrindo neles a imagem e semelhança divina, que constitui a verdade mais profunda do seu ser, e que é a origem da liberdade genuína.

Há uma relação estreita e necessária entre verdade e liberdade. A busca honesta da verdade, a aspiração por ela, é a condição para uma autêntica liberdade. Uma sem a outra não pode viver. A Igreja, que deseja servir com todas as suas forças a pessoa humana e a sua dignidade, está ao serviço de ambas, da verdade e da liberdade. Não pode renunciar a elas, porque está em questão o ser humano, porque as move o amor ao homem, «que é a única criatura na terra querida por Deus por si mesma» (Gaudium et spes
GS 24), e porque sem essa aspiração pela verdade, justiça e liberdade, o homem perder-se-ia.

Deixai que de Compostela, coração espiritual da Galiza e, ao mesmo tempo, escola de universalidade sem confins, eu exorte todos os fiéis desta querida Arquidiocese, e os da Igreja na Espanha, a viver iluminados pela verdade de Cristo, confessando a fé com alegria, coerência e simplicidade, em casa, no trabalho e no compromisso como cidadãos.

Que a alegria de vos sentirdes filhos queridos de Deus vos leve também a um amor cada vez mais profundo à Igreja, cooperando com ela no seu trabalho de levar Cristo a todos os homens. Pedi ao Dono da messe, que muitos jovens se consagrem a esta missão no ministério sacerdotal e na vida consagrada: hoje, como sempre, vale a pena dedicar a vida a propor a novidade do Evangelho.

Não quero concluir sem felicitar e agradecer primeiro aos católicos espanhóis a generosidade com que apoiam tantas instituições de caridade e de promoção humana. Não deixeis de apoiar essas obras, que beneficiam toda a sociedade, e cuja eficácia se manifestou de modo especial na actual crise económica, assim como por ocasião das graves calamidades naturais que afectaram os vários países.

Com estes sentimentos, peço ao Altíssimo que conceda a todos a coragem que teve São Tiago para ser testemunha de Cristo Ressuscitado, e assim permaneçais fiéis aos caminhos da santidade e vos empenheis pela glória de Deus e pelo bem dos irmãos mais desamparados. Muito obrigado.



VISITA À OBRA BENÉFICO-SOCIAL NEN DÉU Barcelona Domingo, 7 de Novembro de 2010

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Senhor Cardeal
Arcebispo de Barcelona
Queridos Irmãos no Episcopado
Amados sacerdotes, diáconos
religiosas e religiosos
Distintas Autoridades
Amigos todos

Sinto uma grande alegria por poder estar com todas as pessoas que fazem parte desta mais que centenária Obra Benéfico-Social do Nen Déu. Agradeço ao Cardeal Lluís Martínez Sistach, Arcebispo de Barcelona, à Irmã Rosário, Superiora da Comunidade, às crianças Antonio e María del Mar, que tomaram a palavra, assim como a quantos cantaram de maneira tão maravilhosa, as cordiais boas-vindas que me reservaram.

Estou grato também aos presentes, de modo particular aos membros do Padroado da Obra, à Madre-Geral e às Religiosas Franciscanas dos Sagrados Corações, às crianças, jovens e adultos acolhidos nesta instituição, aos seus pais e demais familiares, assim como aos profissionais e voluntários que aqui exercem o seu trabalho benemérito.

Gostaria, de igual modo, de expressar o meu reconhecimento às Autoridades, convidando-as a prodigalizar-se para que os serviços sociais alcancem sempre os mais necessitados, e a quantos sustentam com o seu apoio generoso entidades assistenciais de iniciativa particular, como esta Escola de Educação Especial do Nen Déu. Nestes momentos, em que muitos lares enfrentam sérias dificuldades económicas, nós discípulos de Cristo temos de multiplicar os gestos concretos de solidariedade concreta e constante, mostrando assim que a caridade é o elemento distintivo da nossa condição cristã.

Com a dedicação da Basílica da Sagrada Família, hoje de manhã ressaltou-se que o templo é sinal do verdadeiro santuário de Deus no meio dos homens. Agora, quero frisar o modo como, com o esforço desta e de outras análogas instituições eclesiais, à qual se acrescentará a nova Residência à qual desejastes dar o nome do Papa, é evidente que para o cristão cada homem é um autêntico santuário de Deus, que deve ser tratado com o máximo respeito e carinho, sobretudo quando se encontra em necessidade. Assim, a Igreja quer tornar uma realidade as palavras do Senhor no Evangelho: «Garanto-vos que todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes» (
Mt 25,40). Nesta terra, estas palavras de Cristo impeliram muitos filhos da Igreja a dedicar as suas vidas ao ensinamento, à beneficência ou ao cuidado dos enfermos e portadores de deficiência. Inspirados no seu exemplo, peço-vos que continueis a socorrer os mais pequeninos e necessitados, oferecendo-lhes o melhor de vós mesmos.

No cuidado pelos mais frágeis, contribuíram em grande medida os formidáveis progressos no campo da saúde ao longo das últimas décadas, os quais foram acompanhados pela crescente convicção da importância de um esmerado tratamento humano para o bom êxito do processo terapêutico. Por isso, é imprescindível que os novos desenvolvimentos tecnológicos no campo médico nunca sejam em detrimento do respeito pela vida e pela dignidade humana, de modo que quantos padecem enfermidades ou deficiências psíquicas ou físicas possam receber sempre aquele amor e atenções que os leve a sentir-se valorizados como pessoas nas suas necessidades concretas.

Queridas crianças e jovens, despeço-me de vós dando graças a Deus pelas vossas vidas, tão preciosas aos seus olhos, e assegurando-vos que ocupais um lugar muito importante no coração do Papa. Rezo por vós todos os dias, e peço-vos que me ajudeis com a vossa oração a cumprir fielmente a missão que Cristo me confiou. Não me esqueço, tão-pouco, de orar por aqueles que desempenham o serviço a quantos sofrem, trabalhando incansavelmente para que as pessoas portadoras de deficiência possam ocupar o lugar que lhes compete na sociedade e não sejam marginalizadas por causa das suas limitações. A este propósito, gostaria de reconhecer de maneira especial o testemunho fiel dos sacerdotes e visitantes dos enfermos nas suas casas, nos hospitais ou noutras instituições especializadas. Eles encarnam este importante ministério de consolação diante das fragilidades da nossa condição, que a Igreja procura desempenhar com os mesmos sentimentos do Bom Samaritano (cf. Lc 10,29-37).

Por intercessão de Nossa Senhora das Mercês e da Beata Madre Carmen do Menino Jesus, que Deus abençoe quantos fazem parte da grande família desta esplêndida Obra, assim como os vossos entes queridos e aqueles que cooperam com esta instituição e com outras semelhantes. Que disto seja penhor a Bênção apostólica, que concedo cordialmente a todos.




CERIMÓNIA DE DESPEDIDA Aeroporto Internacional de Barcelona Domingo, 7 de Novembro de 2010

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Majestade
Senhor Cardeal Arcebispo de Barcelona
Senhor Cardeal Presidente da Conferência Episcopal Espanhola
Senhores Cardeais e Irmãos no Episcopado
Senhor Presidente do Governo
Ilustres Autoridades nacionais, regionais e locais
Queridos irmãos e irmãs
Amigos todos

Muito obrigado. Gostaria que estas breves palavras pudessem sintetizar os sentimentos de gratidão que tenho no coração no momento em que termino a minha visita a Santiago de Compostela e a Barcelona. Muito obrigado, Majestades, por estarem aqui presentes. Agradeço as amáveis palavras que Vossa Majestade teve a bondade de me dirigir e que são a expressão do afecto deste nobre povo pelo Sucessor de Pedro. Do mesmo modo, quero manifestar os meus cordiais agradecimentos às autoridade que nos acompanham, aos Senhores Arcebispos de Santiago de Compostela e de Barcelona, ao Episcopado espanhol e às numerosas pessoas que, sem poupar sacrifícios, colaboraram para que esta viagem terminasse com bom êxito. Agradeço calorosamente a todos as constantes e agradáveis atenções que nestes dias tiveram com o Papa, e que põem em relevo a hospitalidade e o acolhimento que caracterizam o povo destas terras, tão próximo do meu coração.

Em Compostela quis unir-me como um peregrino qualquer às numerosas pessoas de Espanha, da Europa e de outros países do mundo, que visitam o túmulo do Apóstolo para fortalecer a própria fé e receber o perdão e a paz. Além disso, como Sucessor de Pedro, vim para confirmar os meus irmãos na fé. Esta fé que nos alvores do cristianismo alcançou estas terras e se enraizou tão profundamente que forjou o espírito, os costumes, a arte e a personalidade do seu povo. Preservar e alimentar este rico património espiritual, é expressão não só do amor de um país em relação à sua história e à sua cultura, mas também um caminho privilegiado para transmitir às novas gerações aqueles valores fundamentais tão necessários para edificar um futuro de convivência harmónica e solidária.

Os caminhos que atravessavam a Europa para alcançar Santiago eram muito diferentes entre eles, cada um com a sua língua e as suas peculiaridades, porém a fé era a mesma. Havia uma linguagem comum, o Evangelho de Cristo. Em qualquer lugar, o peregrino podia sentir-se em casa. Além das diferenças nacionais, tinha a consciência de ser membro de uma grande família, à qual pertenciam outros peregrinos e populações que encontrava no seu caminho. Que esta fé alcance novo vigor neste Continente, e se converta numa fonte de inspiração, que faça crescer a solidariedade e o espírito de serviço em relação a todos, especialmente às populações e aos países mais necessitados.

Em Barcelona, tive a imensa alegria de dedicar a Basílica da Sagrada Família, que Gaudí concebeu como um louvor em pedra a Deus, e visitei também uma significativa instituição eclesial de carácter benéfico e social. Parecem, na hodierna Barcelona, dois símbolos da fecundidade da mesma fé, que marcou também o coração deste povo e que, através da caridade e da beleza do mistério de Deus, contribui para a criação de uma sociedade mais digna do homem. Com efeito, a beleza, a santidade e o amor de Deus fazem com que o homem viva no mundo com esperança.

Regresso a Roma tendo visitado só dois lugares da vossa bonita geografia. Sem dúvida, com a oração e o pensamento, desejei abraçar todos os espanhóis, sem excepção, e tantos outros que vivem entre vós, sem terem nascido aqui. Levo todos no meu coração e rezo por todos, especialmente pelos que sofrem, confiando-os à protecção materna de Maria Santíssima, tão venerada e invocada na Galiza, na Catalunha e nas outras regiões da Espanha. Peço-lhe também que obtenha para vós do Altíssimo abundantes dons celestiais, que vos ajudem a viver como uma família, guiados pela luz da fé. Concedo-vos a minha bênção em nome do Senhor. Com a sua ajuda, ver-nos-emos em Madrid no próximo ano, para celebrar a Jornada Mundial da Juventude. Adeus!






AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO COMITÉ PARA OS CONGRESSOS EUCARÍSTICOS INTERNACIONAIS Sala Clementina

Quinta-feira, 11 de Novembro de 2010

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Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Amados irmãos e irmãs

É-me grato receber-vos, na conclusão dos trabalhos da Assembleia Plenária do Pontifício Comité para os Congressos Eucarísticos Internacionais. Saúdo cordialmente cada um de vós, de modo particular o Presidente, Arcebispo D. Piero Marini, a quem agradeço as amáveis expressões com que introduziu este nosso encontro. Saúdo os Delegados nacionais das Conferências Episcopais e, de modo especial, a Delegação irlandesa, chefiada por D. Diarmuid Martin, Arcebispo de Dublim, cidade onde terá lugar o próximo Congresso Eucarístico Internacional, em Junho de 2012. A vossa Assembleia dedicou grande atenção a este acontecimento, que se insere também no programa de renovação da Igreja na Irlanda. O tema: «A Eucaristia, comunhão com Cristo e entre nós», recorda a centralidade do Mistério eucarístico para o crescimento da vida de fé e para todo o autêntico caminho de renovação eclesial. Enquanto peregrina sobre a terra, a Igreja é sacramento de unidade dos homens com Deus e entre si mesmos (cf. Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium
LG 1). Para esta finalidade, ela recebeu a Palavra e os Sacramentos, sobretudo a Eucaristia, da qual «vive e cresce continuamente» (ibid., n. 26) e na qual, ao mesmo tempo, se exprime a si mesma.

O dom de Cristo e do seu Espírito, que recebemos na Eucaristia, realiza com plenitude superabundante os anseios de unidade fraterna inseridos no coração humano e, ao mesmo tempo, eleva-os muito acima da simples experiência de convivência humana. Mediante a comunhão no Corpo de Cristo, a Igreja torna-se cada vez mais ela mesma: mistério de unidade «vertical» e «horizontal» para todo o género humano. Aos germes de desagregação, que a experiência quotidiana mostra tão arraigados na humanidade, por causa do pecado, opõe-se a força geradora de unidade do Corpo de Cristo. Formando continuamente a Igreja, a Eucaristia cria também comunhão entre os homens.

Caríssimos, algumas felizes circunstâncias tornam ainda mais significativos os trabalhos por vós levados a cabo nestes dias e os encontros futuros. A presente Assembleia realiza-se — como D. Marini já nos disse — no cinquentenário do Congresso Eucarístico de Munique, que assinalou uma mudança na compreensão destes eventos eclesiais, elaborando a ideia de «statio orbis», que sucessivamente seria retomada pelo Ritual romano De sacra Communione et de cultu Mysterii eucharistici extra Missam. Nessa Assembleia, como pôde recordar também D. Marini, eu tive a alegria de participar pessoalmente e, como jovem professor de teologia, de ver também desenvolver-se este conceito. Além disso o Congresso de Dublim, de 2012, terá um cariz jubilar; com efeito, será o 50º Congresso, e realizar-se-á outrossim cinquenta anos depois da inauguração do Concílio Ecuménico Vaticano II, ao qual o tema faz referência explícita, evocando o capítulo 7 da Constituição dogmática Lumen gentium.

Os Congressos Eucarísticos Internacionais já contam uma longa história no interior da Igreja. Mediante a forma característica da «statio orbis», eles põem em evidência a dimensão universal de tal celebração: efectivamente, trata-se sempre de uma festa de fé ao redor de Cristo Eucarístico, Cristo do sacrifício supremo pela humanidade, na qual participam não apenas fiéis de uma Igreja particular ou de uma nação mas, na medida do possível, de várias regiões do Orbe. É a Igreja que se reúne ao redor do seu Senhor e do seu Deus. A este propósito, é importante o papel dos Delegados nacionais. Eles são chamados a sensibilizar as respectivas Igrejas para a realização do Congresso, principalmente no período da sua preparação, a fim de que dele brotem frutos de vida e de comunhão.

A tarefa dos Congressos Eucarísticos Internacionais, sobretudo no contexto contemporâneo, consiste também em oferecer uma contribuição peculiar para a nova evangelização, promovendo a evangelização mistagógica (cf. Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis, 64), que se realiza na escola da Igreja em oração, a partir da liturgia e através da liturgia. Todavia, cada Congresso tem em si também um sopro evangelizador, num sentido mais estritamente missionário, a tal ponto que o binómio Eucaristia-missão começou a fazer parte das linhas-guia propostas pela Santa Sé. Deste modo a Mesa eucarística, mesa do sacrifício e da comunhão, chega a representar o centro difusor do fermento do Evangelho, a força propulsora para a construção da sociedade humana e o penhor do Reino que há-de vir. A missão da Igreja encontra-se em continuidade com a missão de Cristo: «Assim como o Pai me enviou a mim, também Eu vos envio a vós» (Jn 20,21). Além disso, a Eucaristia é o principal ponto de ligação desta continuidade missionária entre Deus Pai, o Filho encarnado e a Igreja que caminha na história, orientada pelo Espírito Santo.

Finalmente, uma indicação litúrgico-pastoral. Uma vez que a celebração eucarística constitui o centro e o ápice de todas as diversas manifestações e formas de piedade, é importante que cada Congresso eucarístico saiba envolver e integrar, em conformidade com o espírito da reforma conciliar, todas as expressões do culto eucarístico «extra missam», que mergulham as suas raízes na devoção popular, assim como as associações de fiéis que, a vários títulos, encontram inspiração na Eucaristia. Todas as devoções eucarísticas, recomendadas e encorajadas inclusive pela Encíclica Ecclesia de Eucharistia (nn. 10 e 47-52) e pela Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis, devem ser harmonizadas segundo uma eclesiologia eucarística orientada para a comunhão. Também neste sentido, os Congressos Eucarísticos Internacionais constituem uma ajuda para a renovação permanente da vida eucarística da Igreja.

Caros irmãos e irmãs, o apostolado eucarístico ao qual dedicais os vossos esforços é muito precioso. Perseverai nele com empenhamento e paixão, animando e difundindo a devoção eucarística em todas as suas expressões. Na Eucaristia está contido o tesouro da Igreja, ou seja, o próprio Cristo, que na Cruz se imolou pela salvação da humanidade. Acompanho o vosso apreciado serviço com a certeza das minhas preces, por intecessão de Maria Santíssima, e com a Bênção apostólica, que de coração vos concedo a vós, aos vossos entes queridos e aos vossos colaboradores.






AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (REGIONAL CENTRO OESTE) EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Segunda-feira, 15 de Novembro de 2010


Queridos Irmãos Bispos,

Estou feliz por vos dar as boas-vindas na ocasião da vossa visita ad Limina. Viestes à cidade onde Pedro, por último, cumpriu a sua missão de evangelização e deu testemunho de Cristo até à efusão do seu próprio sangue; viestes ver e saudar o Sucessor de Pedro. Deste modo fortaleceis os fundamentos apostólicos da Igreja no vosso país e expressais visivelmente a vossa comunhão com todos os demais membros do Colégio episcopal e com o próprio Pontífice romano (cf. Pastores gregis ). Deste teor são as amáveis palavras que o Senhor Arcebispo de Brasília, Dom João Braz, me dirigiu em vosso nome e que agradeço, enquanto vos asseguro do meu cordial afeto e das minhas orações por vós e por todas as pessoas confiadas aos vossos cuidados pastorais.

Com a visita do Regional Centro Oeste, se encerra este ciclo de encontros dos Prelados brasileiros com o Papa que se iniciou há mais de um ano. Por uma feliz coincidência, na data do discurso que dirigi ao primeiro grupo de Bispos era a vossa Festa Nacional da Independência, enquanto o último discurso que hoje pronuncio tem lugar justamente no dia em que se recorda a proclamação da República no Brasil. Aproveito o fato para sublinhar uma vez mais a importância da ação evangelizadora da Igreja na construção da identidade brasileira. Como bem sabeis, a atual sociedade secularizada exige dos cristãos um renovado testemunho de vida para que o anúncio do Evangelho seja acolhido como aquilo que é: a Boa Notícia da ação salvífica de Deus que vem ao encontro do homem.

1214 Neste sentido, há quase 60 anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é um ponto de referência da sociedade brasileira, propondo-se sempre mais e acima de tudo como um lugar onde se vive a caridade. Com efeito, o primeiro testemunho que se espera dos anunciadores da Palavra de Deus é o da caridade recíproca: «Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jn 13,32). A vossa, como aliás as demais Conferências Episcopais, nasceu como concreta aplicação do afeto colegial dos Bispos em comunhão hierárquica com o Sucessor de Pedro, para ser um instrumento de comunhão afetiva e efetiva entre todos os membros, e de eficaz colaboração com o Pastor de cada Igreja particular na tríplice função de ensinar, santificar e governar as ovelhas do próprio rebanho.

Ora, a Conferência Episcopal apresenta-se como uma das formas, encontradas sob a guia do Espírito Santo, que consente exercitar conjunta e harmoniosamente algumas funções pastorais para o bem dos fiéis e de todos os cidadãos dum determinado território (cf. Código de Direito Canônico, CIC 447). De fato, uma cooperação sempre mais estreita e concorde com os seus irmãos no ministério ajuda os Bispos a cumprir melhor o seu mandato (cf. Christus Dominus CD 37), sem abdicar da responsabilidade primeira de apascentar como pastor próprio, ordinário e imediato sua Igreja particular (cf. Motu próprio Apostolos suos, 10), fazendo-a ouvir a voz de Jesus Cristo, que “é o mesmo, ontem, hoje e sempre” (He 13,8).

Assim sendo, a Conferência Episcopal promove a união de esforços e de intenções dos Bispos, tornando-se um instrumento para que possam compartilhar as suas fatigas; deve, porém, evitar de colocar-se como uma realidade paralela ou substitutiva do ministério de cada um dos Bispos, ou seja, não mudando a sua relação com a respectiva Igreja particular e com o Colégio Episcopal, nem constituindo um intermediário entre o Bispo e a Sé de Pedro.

Entretanto, no fiel exercício da função doutrinal que vos corresponde, quando vos reunis nas vossas Assembléias, queridos Bispos, deveis sobretudo estudar os meios mais eficazes para fazer chegar oportunamente o magistério universal ao povo que vos foi confiado. Essa função doutrinal será desempenhada nos termos indicados por meu venerado predecessor, o Papa João Paulo II, no Motu Próprio “Apostolos suos”, também ao abordar as novas questões emergentes, para depois poder orientar a consciência dos homens para encontrarem a reta solução para os novos problemas suscitados pelas transformações sociais e culturais.

De modo especial, alguns temas recomendam hoje uma ação conjunta dos Bispos: a promoção e a tutela da fé e da moral, a tradução dos livros litúrgicos, a promoção e formação das vocações de especial consagração, elaboração de subsídios para a catequese, o compromisso ecumênico, as relações com as autoridades civis, a defesa da vida humana, desde a concepção até a morte natural, a santidade da família e do matrimônio entre homem e mulher, o direito dos pais a educar seus filhos, a liberdade religiosa, os outros direitos humanos, a paz e a justiça social.

Ao mesmo tempo, é necessário lembrar que os assessores e as estruturas da Conferência Episcopal existem para o serviço aos Bispos, não para substituí-los. Trata-se, em definitiva, de buscar que a Conferência Episcopal, com seus organismos, funcione sempre mais como órgão propulsor da solicitude pastoral dos Bispos, cuja preocupação primária deve ser a salvação das almas, que é, aliás, a missão fundamental da Igreja.

Queridos irmãos, no final do nosso encontro, gostaria de vos convidar a olhar para o futuro com os olhos de Cristo, depondo n’Ele a vossa esperança, pois «a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5). Reiterando o meu profundo afeto pelo povo brasileiro, confio o Brasil à intercessão materna da Virgem Maria, Nossa Senhora Aparecida, modelo de todos os discípulos: Ela vos conduza pelos caminhos de seu Filho. E, lembrando cada um dos Prelados brasileiros que, durante estes últimos catorze meses, passaram por aqui em visita ad Limina e também aqueles que não puderam vir por problemas de saúde, de todo o coração concedo-vos, assim como aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos catequistas e a todos os vossos diocesanos, a Bênção Apostólica.






A UM GRUPO DE PROFESSORES DE ESQUI ITALIANOS Sala Clementina

Segunda-feira, 15 de Novembro de 2010






Senhor Ministro
Gentis Senhoras e Senhores!

1215 Sinto-me feliz por apresentar a todos vós a minha cordial saudação. Dirijo um pensamento deferente ao Ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado Italiano, Franco Frattini, que quis participar nesta Audiência, sendo ele mesmo parte do numeroso grupo de professores de esqui. Agradeço-lhe as gentis palavras que me dirigiu em nome de todos e aproveito a ocasião para lhe expressar a minha sentida gratidão pelo seu empenho a fim de que numerosos católicos, feridos recentemente em Bagdad, fossem acolhidos imediatamente na Itália. Obrigado. A vossa presença sugere-me duas breves reflexões, sobre o valor respectivamente do desporto e do ambiente natural.

A actividade desportiva insere-se nos meios que concorrem para o desenvolvimento harmonioso da pessoa e do seu aperfeiçoamento moral (cf. Conc. Vat. II, Dec. Gravissimum educationis
GE 4). Também o vosso compromisso como «Professores de esqui» contribui para estimular algumas capacidades, por exemplo a constância em perseguir os objectivos, o respeito das regras, a tenacidade para enfrentar e superar as dificuldades. Praticado com paixão e sentido ético, o desporto, além de exercer uma competição sadia, torna-se escola para aprender e aprofundar os valores humanos e cristãos. De facto, ele ensina a harmonizar dimensões importantes da pessoa humana, favorecendo o seu desenvolvimento integral. Mediante a actividade desportiva, a pessoa compreende melhor que o seu corpo não pode ser considerado um objecto, mas que, através da corporeidade, se expressa a si mesma e entra em relação com os outros. Desta forma, o equilíbrio entre a dimensão física e espiritual leva a não idolatrar o corpo, mas a respeitá-lo, a não fazer dele um instrumento que deve ser incrementado a qualquer preço, utilizando até meios ilícitos.

Outro aspecto que gostaria de mencionar é sugerido pelo facto de que o esqui se pratica imerso no ambiente das montanhas, o qual, de modo especial, nos faz sentir pequenos, nos restitui a justa dimensão do nosso ser criaturas, nos torna capazes de nos interrogarmos acerca do sentido da criação, de olharmos para o alto, de nos abrirmos ao Criador. Penso em quantas vezes, subindo a um monte para depois o descer esquiando, ou praticando o esqui de fundo, se vos abriram panoramas que, de modo espontâneo, elevam o espírito e convidam a levantar o olhar não só exterior, mas também o do coração. Contemplando a criação o homem reconhece a grandeza de Deus, fonte última do próprio ser e do universo. Não se deve esquecer que a relação com a criação constitui um elemento importante para o desenvolvimento da identidade humana e nem sequer o pecado do homem eliminou a sua tarefa de ser guardião do mundo. Também a actividade desportiva pode ser concebida e vivida como parte desta responsabilidade. Os progressos no âmbito científico e tecnológico dão ao homem a possibilidade de intervir e manipular a natureza, mas o risco, sempre à espreita, é de se querer substituir ao Criador e reduzir a criação quase a um produto a ser usado e consumido. Qual é, ao contrário, a atitude justa a assumir? Certamente é a de um profundo sentimento de gratidão e reconhecimento, mas também de responsabilidade na conservação e no cultivo da obra de Deus (cf. Gn 2,15). A actividade desportiva ajuda a perseguir estes objectivos incidindo no mesmo estilo de vida, que é orientado para o equilíbrio, a autodisciplina e o respeito. Em particular para vós, depois, o contacto com a natureza é motivo para cultivar um profundo amor pela criação de Deus.

À luz destas reflexões, o vosso papel é relevante quer para uma sadia formação desportiva, quer para uma educação para o respeito pelo meio ambiente. Trata-se portanto de uma tarefa que se deve actuar de modo não isolado, mas de acordo com as famílias, sobretudo quando os vossos alunos são menores, e em colaboração com a escola e com outras realidades educativas. É de igual modo importante o vosso testemunho de fiéis leigos que, também no contexto da actividade desportiva, sabem dar a justa centralidade aos momentos fundamentais para a vida de fé, sobretudo para a santificação do domingo como dia do Senhor.

Queridos amigos, agradeço-vos a vossa cordial visita e, enquanto vos desejo o melhor sucesso para a actividade profissional e desportiva, garanto-vos a minha oração e de coração abençoo todos vós, os vossos familiares e alunos.





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