Discursos Bento XVI 1215


AOS PARTICIPANTES DA PLENÁRIA

DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS Sala Clementina

Quinta-feira, 18 de Novembro de 2010




Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Amados irmãos e irmãs!

É para mim uma grande alegria encontrar-me convosco por ocasião da Plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, durante a qual reflectis sobre o tema: «Rumo a uma nova etapa do diálogo ecuménico». Ao dirigir a cada um de vós a minha cordial saudação, desejo agradecer de modo particular ao Presidente D. Kurt Koch, também as calorosas expressões com que interpretou os vossos sentimentos.

1216 Ontem, como recordou D. Koch, celebrastes, com um solene Acto comemorativo, o cinquentenário da instituição do vosso Conselho. A 5 de Junho de 1960, na vigília do Concílio Vaticano II, que indicou o empenho ecuménico essencial para a Igreja, o beato João XXIII criou o Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos, denominado depois, em 1988, Pontifício Conselho. Foi um acto que constituiu um marco para o caminho ecuménico da Igreja católica. No decorrer de cinquenta anos muito caminho foi percorrido. Desejo expressar profunda gratidão a quantos prestaram o seu serviço no Pontifício Conselho, recordando em primeiro lugar os Presidentes que se sucederam: os Cardeais Augustin Bea, Johannes Willebrands, Edward Idris Cassidy; é-me particularmente grato recordar o Cardeal Walter Kasper, que guiou o Conselho, com competência e paixão, nos últimos onze anos. Agradeço aos membros e consultores, oficiais e colaboradores, a quantos contribuíram para realizar os diálogos teológicos e os encontros ecuménicos e a quantos rezaram ao Senhor pelo dom da unidade visível entre os cristãos. São cinquenta anos ao longo dos quais se adquiriu um conhecimento mais verdadeiro e uma estima maior pelas Igrejas e Comunidades eclesiais, superando preconceitos sedimentados pela história; cresceu-se no diálogo teológico, mas também da caridade; desenvolveram-se várias formas de colaboração, entre as quais, além das formas de defesa da vida, da salvaguarda da criação e da luta contra a injustiça, foi importante e frutuosa a colaboração no campo das traduções ecuménicas da Sagrada Escritura.

Depois, nestes últimos anos o Pontifício Conselho comprometeu-se, entre outras coisas, num amplo projecto, chamado Harvest Project, para traçar um primeiro balanço das metas alcançadas nos diálogos teológicos com as principais Comunidades eclesiais desde o Concílio Vaticano II. Trata-se de um trabalho precioso que ressaltou quer as áreas de convergência, quer aquelas nas quais é necessário continuar a aprofundar a reflexão. Dando graças a Deus pelos frutos já colhidos, encorajo-vos a prosseguir o vosso empenho na promoção de uma correcta recepção dos resultados alcançados e a fazer conhecer com exactidão o estado actual da pesquisa teológica ao serviço do caminho rumo à unidade. Hoje há quem pensa que este caminho, sobretudo no Ocidente, tenha perdido o seu impulso; sente-se, então, a urgência de despertar o interesse ecuménico e de dar uma nova incisividade aos diálogos. Depois, apresentam-se desafios inéditos; as novas interpretações antropológicas e éticas, a formação ecuménica das novas gerações, a ulterior fragmentação do cenário ecuménico. É essencial tomar consciência destas mudanças e encontrar os caminhos para proceder de modo eficaz à luz da vontade do Senhor: «para que todos sejam um» (
Jn 17,21).

Também com as Igrejas Ortodoxas e com as Antigas Igrejas Orientais, com as quais existem «vínculos estreitíssimos» (Unitatis redintegratio UR 15), a Igreja católica prossegue com paixão o diálogo, procurando aprofundar de modo sério e rigoroso o comum património teológico, litúrgico e espiritual, e enfrentar com serenidade e empenho os elementos que ainda nos dividem. Com os Ortodoxos chegamos a alcançar um ponto crucial de confronto e de reflexão: o papel do Bispo de Roma na comunhão da Igreja. E a questão eclesiológica está também no centro do diálogo com as Antigas Igrejas Orientais: não obstante muitos séculos de incompreensão e de distância, verificou-se, com alegria, que se conservou um precioso património comum.

Queridos amigos, também na presença de novas situações problemáticas ou de pontos difíceis para o diálogo, a meta do caminho ecuménico permanece imutável, assim como o empenho firme em persegui-la. Não se trata contudo de um empenho segundo categorias, por assim dizer, nas quais entram em jogo a habilidade de negociar ou a maior capacidade de encontrar compromissos, pelos quais poderíamos esperar, como bons mediadores que, depois de um certo tempo, se alcancem acordos aceitáveis para todos. A acção ecuménica tem um dúplice movimento. Por um lado a pesquisa convicta, apaixonada e tenaz para encontrar toda a unidade na verdade, descobrir modelos de unidade, iluminar oposições e pontos obscuros a fim de alcançar a unidade. E isto no necessário diálogo teológico, mas sobretudo na oração e na penitência, naquele ecumenismo espiritual que constitui o coração palpitante de todo o caminho: a unidade dos cristãos é e permanece a oração, habita na oração. Por outro lado, mais um movimento activo, que surge da firme consciência de que nós não conhecemos o momento da realização da unidade entre todos os discípulos de Cristo e não o podemos conhecer, porque a unidade não a «fazemos nós», é Deus quem a «faz»: vem do alto, da unidade do Pai com o Filho no diálogo de amor que é o Espírito Santo; é um participar na unidade divina. E isto não deve fazer diminuir o nosso empenho, aliás, deve tornar-nos cada vez mais atentos a captar os sinais dos tempos do Senhor, sabendo reconhecer com gratidão aquilo que já nos une e trabalhando para que se consolide e cresça. No final, também no caminho ecuménico, trata-se de deixar a Deus o que é unicamente seu e de explorar, com seriedade, constância e dedicação, o que é nossa tarefa, tendo em consideração que fazem parte do nosso compromisso os binómios agir e sofrer, actividade e paciência, cansaço e alegria.

Invoquemos confiantes o Espírito Santo, para que guie o nosso caminho e cada um sinta com renovado vigor o apelo a trabalhar pela causa ecuménica. Encorajo todos vós a prosseguir na vossa obra; é uma ajuda que prestais ao Bispo de Roma no cumprimento da sua missão ao serviço da unidade. Em sinal de afecto e de gratidão, concedo-vos de coração a minha Bênção Apostólica.











CONSISTÓRIO ORDINÁRIO PÚBLICO PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS CARDEAIS


AOS NOVOS CARDEAIS, SEUS FAMILIARES E PEREGRINOS VINDOS PARA O CONSISTÓRIO Sala Paulo VI

Segunda-feira, 22 de Novembro de 2010




Senhores Cardeais
Amados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Estimados amigos

1217 Ainda estão vivos na mente e no coração de todos nós os sentimentos e as emoções, que vivemos ontem e anteontem, por ocasião da criação de vinte e quatro novos Cardeais. Foram momentos de oração fervorosa e de profunda comunhão, que hoje desejamos prolongar com a alma repleta de gratidão ao Senhor, que nos concedeu a alegria de viver uma nova página da história da Igreja. Portanto, é-me grato receber-vos também hoje, neste encontro simples e familiar, e dirigir a minha cordial saudação aos neopurpurados, assim como aos seus parentes, amigos e a quantos os acompanham nesta circunstância tão solene e importante.

Saúdo-vos em primeiro lugar a vós, dilectos Cardeais italianos! Saúdo-o, Senhor Cardeal Angelo Amato, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos; saúdo-o, Senhor Cardeal Francesco Monterisi, Arcipreste da Basílica papal de São Paulo fora dos Muros; saúdo-o, Senhor Cardeal Fortunato Baldelli, Penitenziário-Mor; saúdo-o, Senhor Cardeal Paolo Sardi, Vice-Camerlengo da Santa Igreja Romana; saúdo-o, Senhor Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero; saúdo-o, Senhor Cardeal Velasio De Paolis, Presidente da Prefeitura dos Assuntos Económicos da Santa Sé; saúdo-o, Senhor Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura; saúdo-o, Senhor Cardeal Paolo Romeo, Arcebispo de Palermo; saúdo-o, Senhor Cardeal Elio Sgreccia, ex-Presidente da Pontifícia Academia para a Vida; e saúdo-o, Senhor Cardeal Domenico Bartolucci, ex-Maestro Director da Pontifícia Capela Musical. Prezados e venerados Irmãos, através de vós a Igreja que está na Itália enriquece o Colégio cardinalício com ulteriores sabedoria pastoral e entusiasmo apostólico. Estendo de bom grado a minha cordial saudação a quantos, juntamente convosco, compartilham a alegria deste momento e exorto-vos a assegurar o apoio da sua oração, a fim de que possais perseverar fielmente nas respectivas funções, em benefício do Evangelho e de todo o povo cristão.

Dirijo a minha cordial saudação aos neocardeais francófonos: o Patriarca de Alexandria dos Coptas, Senhor Cardeal Antonios Naguib; o Presidente do Pontifício Conselho «Cor Unum», Senhor Cardeal Robert Sarah; e o Arcebispo de Kinshasa, Senhor Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya. Saúdo também com alegria os seus entes queridos e todas as pessoas que os acompanham nestes dias de festa que vivemos. Caros amigos, estas celebrações exortam-nos a ampliar o nosso olhar às dimensões da Igreja universal. Convido-vos a orar pelos novos Cardeais a fim de que, em comunhão com o Sucessor de Pedro, trabalhem eficazmente pela unidade e pela santidade de todo o Povo de Deus. E vós mesmos, sede testemunhas fervorosas do Evangelho, para restituir ao mundo a esperança de que ele tem necessidade e em vista de contribuir em toda a parte para o estabelecimento da paz e da fraternidade.

Dirijo uma cordial saudação aos Prelados de expressão inglesa que tive a alegria de elevar à dignidade de Cardeais durante o Consistório de sábado passado. Senhor Cardeal Raymond Leo Burke, Prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica; Senhor Cardeal Medardo Joseph Mazombwe, Arcebispo Emérito de Lusaka (Zâmbia); Senhor Cardeal Donald William Wuerl, Arcebispo de Washington (EUA); e Senhor Cardeal Albert Malcolm Ranjith Patabendige Don, Arcebispo de Colombo (Sri Lanka).

Dou também as boas-vindas aos membros das respectivas famílias e aos seus amigos, assim como a todos os fiéis que os acompanharam a Roma.

O Colégio cardinalício, cuja origem está vinculada ao antigo Clero da Igreja romana, tem a função de eleger o Sucessor de Pedro e de o aconselhar em questões de maior importância. Quer nos departamentos da Cúria romana, quer nos seus ministérios nas Igrejas locais do mundo inteiro, os Cardeais são chamados a participar de maneira especial na solicitude do Papa pela Igreja universal. Tradicionalmente, a cor viva do seu hábito representa um sinal do seu compromisso na defesa do rebanho de Cristo até ao derramamento do próprio sangue. No momento em que os novos Cardeais aceitam o peso do seu múnus, estou persuadido de que serão ajudados pelas vossas orações constantes e pela vossa cooperação nos seus esforços em vista de edificar o Corpo de Cristo na unidade, santidade e paz.

Transmito uma saudação especial aos neocardeais de língua alemã. Começo pelo Senhor Cardeal Kurt Koch, a quem saúdo de todo o coração, juntamente com os seus parentes, amigos e hóspedes provenientes da Suíça, sobretudo os representantes da Diocese de Basileia, onde ele trabalhou como Bispo durante muitos anos, assim como os Representantes do Conselho Federal e dos Cantões. Permanecei unidos a ele em oração e ajudai-o na sua importante tarefa em prol da Igreja universal e como colaborador do Papa ao serviço da unidade dos cristãos.

É com alegria que dou as boas-vindas também ao Senhor Cardeal Reinhard Marx e à sua família, aos hóspedes e aos peregrinos da Arquidiocese de München und Freising, aos Bispos, aos colaboradores nas várias instituições episcopais, aos representantes da política e da vida pública, e aos fiéis da Diocese de Trier e da sua Diocesi natal de Paderborn. Enfim, saúdo cordialmente o Senhor Cardeal Walter Brandmüller, os seus parentes e amigos de Roma, Augsburg e Bamberg. Queridos amigos, os Cardeais participam de maneira particular na solicitude do Sucessor de Pedro pela Igreja universal. Sinal disto é o vermelho luminoso da púrpura, que põe em evidência o facto de que devem ser eles que protegem e defendem a grei de Cristo até às extremas consequências, até ao derramamento do próprio sangue.

Acompanhai-os no cumprimento dos respectivos múnus com a vossa oração e compromisso a favor da Igreja.

Saúdo carinhosamente os novos Cardeais de língua espanhola, acompanhados dos respectivos familiares e de muitos Bispos, sacerdotes, religiosos e leigos vindos especialmente do Equador e da Espanha. A Igreja no Equador alegra-se pelo Senhor Cardeal Raúl Eduardo Vela Chiriboga, Arzebispo Emérito de Quito que, com zelo e dedicação exemplares, desempenhou inclusive o seu ministério episcopal em Guayaquil, Azogues, e como Bispo Ordinário Militar. Também a Igreja que peregrina na Espanha se congratula pelo Senhor Cardeal José Manuel Estepa Llaurens, Arcebispo Emérito Castrense, que prestou um serviço precioso participando na redacção do Catecismo da Igreja Católica. Convido-vos todos a acompanhar com a vossa oração e proximidade espiritual os novos membros do Colégio cardinalício para que, impelidos por um amor intenso a Cristo e unidos em estreita comunhão com o Sucessor de Pedro, continuem a servir a Igreja com fidelidade.

Saúdo o Senhor Cardeal Raymundo Damasceno Assis, aqui circundado de pessoas amigas, congratulando-se por verem sua pessoa mais intimamente associada ao ministério do Papa. A vossa presença me recorda as horas de íntima alegria e grande esperança eclesial vividas em Aparecida, durante a minha inesquecível visita ao Brasil que, sobretudo naquele dia, se alargava a todo o Continente Latino-Americano e Caribenho, com o seu episcopado lá reunido em comunhão de fé, esperança e amor, sob o olhar maternal de Maria, em torno do Sucessor de Pedro. Hoje convosco, reitero a minha confiança afetuosa ao Senhor Cardeal Arcebispo de Aparecida e peço a Nossa Senhora que a todos vos proteja e assista, iluminando de esperança a vossa caminhada, em união com o Pastor e amigo, para instaurar todas as coisas em Cristo.

Dirijo a minha saudação ao Senhor Cardeal Kazimierz Nycz e aos seus hóspedes. A nomeação cardinalícia obriga à solicitude não só pela Igreja local, mas pela sorte da Igreja universal, assim como à íntima colaboração com o Papa no cumprimento do múnus petrino. Por isso, imploro para ele todas as graças necessárias e peço a todos vós a oração constante pela luz e o poder do Espírito Santo, Espírito de sabedoria e conselho. Deus vos abençoe!

Dilectos e venerados Irmãos, que começastes a fazer parte do Colégio cardinalício! Renovo a cada um de vós os meus bons votos mais cordiais. O vosso ministério enriquece-se com um ulterior compromisso de ajuda ao Sucessor de Pedro, no seu serviço universal à Igreja. Tenho muita confiança em vós, nas vossas preces e na vossa ajuda preciosa. Com estima fraterna, encorajo-vos a dar continuidade à vossa missão espiritual e apostólica, que conheceu uma etapa muito importante. Mantende o vosso olhar fixo em Cristo, haurindo dele todas as graças e alívio espiritual, segundo o exemplo luminoso dos Santos Cardeais, intrépidos servidores da Igreja que, ao longo dos séculos, deram glória a Deus mediante o exercício heróico das virtudes e de uma fidelidade tenaz ao Evangelho. Invoco sobre vós e sobre os presentes, a salvaguarda materna da Virgem Maria, Mãe da Igreja, e da mártir Santa Cecília, cuja memória hoje celebramos. A Padroeira da música e do belo canto acompanhe e sustente o vosso compromisso de ser, na Igreja, ouvintes atentos das várias vozes, para tornar mais profunda a unidade dos corações. Com estes sentimentos concedo-vos, a vós e a todos os presentes, uma particular Bênção apostólica.






DISCURSO DO PAPA XVI À FEDERAÇÃO ITALIANA DOS SEMANAIS CATÓLICOS Sala Clementina Sexta-feira, 26 de Novembro de 2010

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Prezados irmãos e irmãs!

Estou feliz por me encontrar convosco, por ocasião da Assembleia da Federação Italiana dos Semanais Católicos. Dirijo a minha cordial saudação a Mons. Mariano Crociata, Secretário da Conferência Episcopal Italiana, aos Prelados e Sacerdotes presentes, bem como a Padre Giorgio Zucchelli, Presidente da Federação, a quem agradeço as amáveis palavras. Saúdo todos vós, Dirigentes e colaboradores dos 188 jornais católicos representados na Federação; de modo particular, o Director da Agência sir e o Director do diário «Avvenire». Estou grato por este encontro, com o qual vós manifestais a vossa fidelidade à Igreja e ao seu magistério; agradeço-vos também o apoio que continuais a oferecer para a colecta do Óbolo de São Pedro e para as iniciativas benéficas promovidas e sustentadas pela Santa Sé.

A Federação Italiana dos Semanais Católicos reúne as publicações semanais diocesanas e os vários órgãos de imprensa de inspiração católica de toda a península itálica. Ela surgiu em 1966 para responder à exigência de desenvolver sinergias e colaborações, destinadas a favorecer a preciosa tarefa de fazer conhecer a vida, a actividade e o ensinamento da Igreja. Criando canais de comunicação entre os diversos organismos de imprensa locais, espalhados por toda a Itália, desejou-se responder à exigência de promover a colaboração e dar uma certa organicidade às várias potencialidades intelectuais e criativas, precisamente para aumentar a eficácia e a incisividade do anúncio da mensagem evangélica. Esta é a função peculiar dos jornais de inspiração católica: anunciar a Boa Nova através da narração dos acontecimentos concretos que são vividos pelas comunidades cristãs e das situações reais em que elas mesmas estão inseridas. Como uma pequena quantidade de fermento, misturado com a farinha, faz levedar toda a massa, assim também a Igreja, presente na sociedade, faz crescer e amadurecer aquilo que nela existe de verdadeiro, de bom e de belo; quanto a vós, tendes a tarefa de prestar contas desta presença, que promove e fortalece aquilo que é autenticamente humano e que transmite ao homem de hoje a mensagem de verdade e de esperança do Senhor Jesus.

Como bem sabeis, no contexto da pós-modernidade em que vivemos, um dos desafios culturais mais importantes diz respeito ao modo de entender a verdade. A cultura predominante, aquela que é mais difundida no areópago mediático, assume em relação à verdade uma atitude céptica e relativista, considerando-a como simples opinião e, por conseguinte, legitimando como compatíveis e legítimas muitas «verdades». Mas o desejo que existe no coração do homem dá testemunho da impossibilidade de se contentar com verdades parciais; por isso, a pessoa humana «tende para uma verdade superior, que seja capaz de explicar o sentido da vida; trata-se, por conseguinte, de algo que não pode encontrar êxito senão no absoluto» (João Paulo II, Encíclica Fides et ratio
FR 33). A verdade, da qual o homem tem sede, é uma pessoa: o Senhor Jesus. No encontro com esta Verdade, ao conhecê-la e amá-la, nós encontramos a paz autêntica e a felicidade genuína. A missão da Igreja consiste em criar as condições para que se realize este encontro do homem com Cristo. Colaborando para esta tarefa, os órgãos de informação são chamados a servir a verdade com coragem, em vista de ajudar a opinião pública a observar e a interpretar a realidade a partir de um ponto de vista evangélico. Trata-se de apresentar as razões da fé que, enquanto tais, vão além de qualquer visão ideológica e têm pleno direito de cidadania no debate público. É desta exigência que nasce o vosso compromisso constante de dar voz a um ponto de vista que reflicta o pensamento católico em todas as questões éticas e sociais.

Estimados amigos, a importância da vossa presença é testemunhada pela difusão minuciosa dos jornais por vós representados. Esta difusão passa através do instrumento do papel impresso que, precisamente pela sua simplicidade, continua a ser uma caixa de ressonância eficaz daquilo que acontece no interior das diversas realidades diocesanas. Por isso, exorto-vos a dar continuidade ao vosso serviço de informação a respeito das vicissitudes que marcam o caminho das comunidades, da sua vida quotidiana e das numerosas iniciativas caritativas e benéficas que elas promovem. Continuai a ser jornais do povo, que procuram favorecer um diálogo autêntico entre os vários componentes sociais, academias de confronto e de debate leal entre diversas opiniões. Deste modo os jornais católicos, enquanto cumprem a importante tarefa de informar, realizam ao mesmo tempo uma insubstituível função formativa, promovendo uma inteligência evangélica da realidade complexa, assim como a educação de consciências críticas e cristãs. Com isto, vós respondeis também ao apelo da Conferência episcopal italiana, que pôs no centro do compromisso pastoral da próxima década o desafio educativo, a necessidade de dar ao povo cristão uma formação sólida e robusta.

Caros irmãos e irmãs, cada cristão, através do sacramento do Baptismo, torna-se templo do Espírito Santo e, imerso na morte e na ressurreição do Senhor, é consagrado a Ele e pertence-lhe. Também vós, para cumprir a vossa importante tarefa, tendes de cultivar em primeiro lugar um vínculo constante e profundo com Cristo; somente a profunda comunhão com Ele vos tornará capazes de transmitir o anúncio da Salvação ao homem contemporâneo! Na laboriosidade e dedicação ao vosso trabalho quotidiano sabei dar testemunho da vossa fé, o grande dom gratuito da vocação cristã. Continuai a manter-vos na comunhão eclesial com os vossos Pastores, de maneira a poderdes colaborar com eles como directores, redactores e administradores de semanais católicos, na missão evangelizadora da Igreja.

Ao despedir-me de vós, gostaria de vos assegurar a minha recordação em sufrágio do saudoso Mons. Franco Peradotto, falecido recentemente, primeiro presidente da Federação Italiana dos Semanais Católicos e, durante muito tempo, director da «Voce del Popolo» de Turim. Enquanto confio a Federação e o vosso trabalho à intercessão celestial da Virgem Maria e de São Francisco de Sales, concedo-vos de coração, a vós e a todos os vossos colaboradores, a Bênção apostólica.




AOS SUPERIORES E SUPERIORAS-GERAIS Sala Clementina Sexta-feira 26 de Novembre de 2010

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Caríssimos Irmãos e Irmãs!

Sinto-me feliz por me encontrar convosco por ocasião da Assembleia semestral da União dos Superiores-Gerais, que estais a celebrar, em continuidade com a de Maio passado, sobre o tema da vida consagrada na Europa. Saúdo o Presidente, Pe. Pascual Chávez — ao qual agradeço as palavras que me dirigiu — assim como ao Conselho Executivo; dirijo uma saudação particular à Comissão Directiva da União Internacional das Superioras-Gerais e aos numerosos Superiores-Gerais. Abranjo com o meu pensamento todos os vossos irmãos e irmãs espalhados pelo mundo, sobretudo quantos sofrem para testemunhar o Evangelho. Desejo expressar profundo agradecimento pelo que fazeis na Igreja e com a Igreja a favor da evangelização e do homem. Penso nas numerosas actividades pastorais nas paróquias, nos santuários e nos centros de culto, para a catequese e a formação cristã das crianças, dos jovens e dos adultos, manifestando a vossa paixão por Cristo e pela humanidade. Penso no grande trabalho no campo educativo, nas universidades e nas escolas; nas numerosas obras sociais, através das quais ides ao encontro dos irmãos mais necessitados com o mesmo amor de Deus. Penso também no testemunho, por vezes arriscado, de vida evangélica nas missões ad gentes, em circunstâncias muitas vezes difíceis.

As vossas duas últimas Assembleias foram dedicadas a considerar o futuro da vida consagrada na Europa. Isto significou a reconsideração do próprio sentido da vossa vocação, que inclui, antes de tudo, procurar Deus, quaerere Deum: sois por vocação pesquisadores de Deus. A esta busca consagrais as melhores energias da vossa vida. Passais das situações secundárias às essenciais, àquilo que é verdadeiramente importante; procurais o definitivo, buscais Deus, conservando o olhar fixo nele. Como os primeiros monges, cultivais uma orientação escatológica: por detrás do provisório procurais o que permanece, aquilo que não passa (cf. Discurso no «Collège des Bernardins», Paris, 12 de Setembro de 2008). Procurais Deus nos irmãos de hábito que Ele vos deu, com os quais compartilhais a mesma vida e missão. Buscais Deus nos homens e nas mulheres do nosso tempo, para junto dos quais sois enviados para lhes oferecer, com a vida e a palavra, o dom do Evangelho. Procurais Deus particularmente nos pobres, primeiros destinatários da Boa Notícia (cf.
Lc 4,18). Buscais Deus na Igreja, onde o Senhor se faz presente, sobretudo na Eucaristia e nos outros Sacramentos, e na sua Palavra, que é via mestra para a busca de Deus, introduz-nos no diálogo com Ele e revela-nos o seu verdadeiro rosto. Sede sempre apaixonados investigadores e testemunhas de Deus!

A profunda renovação da vida consagrada começa a partir da centralidade da Palavra de Deus, e mais concretamente do Evangelho, regra suprema para todos vós, como afirma o Concílio Vaticano ii no Decreto Perfectae caritatis (cf. n. 2) e como compreenderam bem os vossos Fundadores: a vida consagrada é uma planta rica de ramos que afunda as suas raízes no Evangelho. Demonstra-o a história dos vossos Institutos, em que a vontade firme de viver a Mensagem de Cristo e de configurar a própria vida com ela foi e permanece o critério fundamental do discernimento vocacional e do vosso discernimento pessoal e comunitário. O Evangelho vivido quotidianamente é o elemento que confere fascínio e beleza à vida consagrada e que vos apresenta ao mundo como uma alternativa confiável. É disto que tem necessidade a sociedade contemporânea, é isto que a Igreja espera de vós: que sejais um Evangelho vivo.

Outro aspecto fundamental da vida consagrada, que eu gostaria de ressaltar, é a fraternidade: «Confessio Trinitatis» (cf. João Paulo II, Exortação Apostólica Vita consecrata VC 41) e parábola da Igreja-comunhão. Com efeito, através dela passa o testemunho da vossa consagração. A vida fraterna é um dos aspectos que os jovens mais procuram, quando se aproximam da vossa vida; trata-se de um elemento profético importante, que ofereceis numa sociedade fortemente individualista. Conheço os esforços que realizais neste campo, como também as dificuldades que a vida comunitária comporta. Há necessidade de um discernimento sério e constante para ouvir aquilo que o Espírito diz à comunidade (cf. Ap 2,7), para reconhecer quanto vem do Senhor e quanto lhe é contrário (cf. Vita consecrata VC 73). Sem o discernimento, acompanhado pela oração e pela reflexão, a vida consagrada corre o perigo de se acomodar nos critérios deste mundo: o individualismo, o consumismo e o materialismo; critérios que fazem esmorecer a fraternidade e levam a própria vida consagrada a perder o seu fascínio e a sua incisividade. Sede mestres de discernimento, a fim de que os vossos irmãos e irmãs de hábito assumam este habitus e as vossas comunidades sejam um sinal eloquente para o mundo de hoje. Vós, que exerceis o serviço da autoridade, e que desempenhais tarefas de chefia e de programação do futuro dos vossos Institutos religiosos, recordais que uma parte importante da animação espiritual e do governo consiste na busca comum dos meios para favorecer a comunhão, a comunicação mútua, a cordialidade e a verdade nos relacionamentos recíprocos.

Um último elemento que eu gostaria de pôr em evidência é a missão. A missão é o modo de ser da Igreja e, nela, da vida consagrada; faz parte da vossa identidade; impele-vos a anunciar o Evangelho a todos, sem confins. Sustentada por uma vigorosa experiência de Deus, por uma formação sólida e pela vida fraterna em comunidade, a missão é uma chave para compreender e revitalizar a vida consagrada. Ide pois, e em fidelidade criativa, fazei vosso o desafio da nova evangelização. Renovai a vossa presença nos areópagos de hoje, em vista de anunciar, como São Paulo fez em Atenas, o Deus «desconhecido» (cf. Discurso no «Collège des Bernardins»).

Estimados Superiores-Gerais, o momento actual apresenta para muitos Institutos o dado da diminuição numérica, de maneira particular na Europa. Porém, as dificuldades não devem fazer-nos esquecer que a vida consagrada encontra a sua origem no Senhor: é desejada por Ele para a edificação e a santidade da sua Igreja e, por conseguinte, a própria Igreja nunca ficará desprovida dela. Enquanto vos encorajo a caminhar na fé e na esperança, peço-vos um renovado compromisso na pastoral vocacional e na formação inicial e permanente. Confio-vos à Bem-Aventurada Virgem Maria, aos vossos Santos Fundadores e Padroeiros, enquanto de coração vos concedo a minha Bênção apostólica, que faço extensiva às vossas Famílias religiosas.






AO SENHOR HIDEKAZU YAMAGUCHI, NOVO EMBAIXADOR DO JAPÃO JUNTO DA SANTA SÉ Biblioteca Particular do Santo Padre

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Sabato, 27 Novembre 2010




Excelência

É-me grato recebê-lo e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Japão junto da Santa Sé. Agradeço as amáveis saudações que me dirigiu da parte de Sua Majestade o imperador. Por minha vez, peço que lhe transmita os meus votos cordiais e a certeza da minha oração pela sua saúde e dos membros da família imperial. Estou feliz por saudar também o governo e todo o povo do Japão. A Santa Sé felicita-se pelas excelentes relações que sempre manteve com o seu país desde o seu estabelecimento há quase 60 anos. Elas foram constantemente distintas pela cordialidade e a compreensão mútua. Através dos bons ofícios de Vossa Excelência, gostaria de assegurar a Sua Majestade imperial, assim como ao seu governo, o compromisso da Santa Sé na continuação e no fortalecimento destas relações.

Desde que entrou na Organização das Nações Unidas, o Japão foi um protagonista importante no cenário regional e internacional, contribuindo de maneira significativa para a expansão da paz, da democracia e dos direitos do homem no Extremo Oriente e muito além, de modo particular nos países em vias de desenvolvimento. A Santa Sé, por intermédio das suas missões diplomáticas presentes em tais Estados, observou com satisfação o financiamento concedido pelo seu país para o desenvolvimento e outras formas de assistência. As repercussões sobre os beneficiários são imediatas, é verdade, mas constitui certamente uma pedra angular essencial para a instauração de uma paz sólida e da prosperidade no concerto das nações do mundo. Trabalhando assim pela edificação da unidade da família humana, mediante a cooperação internacional o seu país ajudará a construir uma economia mundial em que cada um ocupe o lugar que lhe é devido e poderá aproveitar, como nunca, dos recursos mundiais. Permita-me encorajar o seu governo a continuar a sua política de cooperação para o desenvolvimento, de modo especial nos campos que dizem respeito aos mais pobres e frágeis.

Este ano celebra-se o 65º aniversário do trágico bombardeamento atómico das populações de Hiroshima e de Nagasaki. A recordação deste episódio sombrio da história da humanidade torna-se cada ano mais doloroso, na medida em que desaparecem aqueles que foram testemunhas de tal horror. Esta tragédia recorda-nos com insistência como é necessário perseverar nos esforços em benefício da não-proliferação das armas nucleares e para o desarmamento. A arma nuclear permanece uma fonte de preocupação principal. A sua posse e o risco do seu uso eventual suscitam tensões e uma desconfiança em numerosas regiões do mundo. A sua nação, Senhor Embaixador, deve ser citada como exemplo pelo seu apoio constante à busca de soluções políticas que permitam não só impedir a proliferação de armas nucleares, mas também evitar que a guerra não seja considerada um meio de resolução dos conflitos entre as nações e entre os povos.

Compartilhando com o Japão esta solicitude por um mundo sem armas nucleares, a Santa Sé encoraja todas as nações a instaurar pacientemente os vínculos económicos e políticos da paz para que se elevem como uma fortaleza contra todo o pretexto de recurso às armas e permitam promover o desenvolvimento humano integral de todos os povos (cf. Audiência geral, 5 de Maio de 2010). Uma parte das quantias dedicadas às armas poderia ser utilizada para programas de desenvolvimento económico e social, de educação e de saúde. Isto contribuiria sem dúvida para a estabilidade interior dos países e entre os povos (cf. Caritas in veritate ). Pois bem, neste período de instabilidade dos mercados e do emprego, a necessidade de encontrar financiamentos seguros para o desenvolvimento permanece uma preocupação constante.

As dificuldades ligadas à actual recessão económica mundial não poupam país algum. Apesar disto, o lugar do Japão na economia internacional permanece muito importante e, devido à mundialização crescente do sistema comercial e do movimento de capitais, que é uma realidade, as decisões tomadas pelo seu governo continuarão a ter um impacto muito além das suas fronteiras. Possam todos os povos de boa vontade ver na actual crise económica mundial uma «ocasião de discernimento e elaboração de uma nova planificação» (Caritas in veritate ), caracterizada pela caridade na verdade, pela solidariedade e por um compromisso em favor de uma esfera económica orientada de maneira ética (cf. ibid., n. 36).

Excelência, o seu país goza da liberdade de consciência e da liberdade de culto desde há muitos anos, e assim a Igreja católica no Japão tem a possibilidade de viver em paz e fraternidade com todos. Os seus membros são livres não só de se empenhar na cultura e na sociedade japonesas, mas também de desempenhar um papel vivo e activo no Japão contemporâneo, em particular através das suas universidades, escolas, hospitais e instituições caritativas, que ela põe de bom grado ao serviço de toda a comunidade. Ultimamente, estas instituições tiveram a alegria de responder de igual modo às necessidades das populações migrantes que chegaram ao Japão, e cuja situação exige certamente uma atenção prudente e uma ajuda concreta da parte de toda a sociedade.

Além disso, sublinho que os membros da Igreja católica no Japão estão comprometidos desde há muito tempo num diálogo aberto e respeitoso com as demais religiões, especialmente aquelas que mergulham as suas raízes na sua nação. A Igreja sempre promoveu o respeito pela pessoa humana na sua integridade e na sua dimensão espiritual, como um elemento essencial, comum a todas as culturas, que se manifesta na busca pessoal do sagrado e na prática religiosa. «Deus é o garante do verdadeiro desenvolvimento do homem, já que, criando-o à sua imagem, fundamenta de igual forma a sua dignidade transcendente e alimenta o seu anseio constitutivo de “ser mais”» (Ibid., n. 29). Gostaria de assegurar ao povo japonês a alta consideração que a Igreja católica reserva ao diálogo inter-religioso, comprometendo-se firmemente por encorajar a confiança mútua, a compreensão e a amizade, no interesse de toda a família humana.

Enfim, Senhor Embaixador, permita-me que lhe formule os meus melhores votos, acompanhados da minha oração pelo bom êxito da sua missão, e lhe garanta que os diferentes departamentos da Cúria romana estão prontos para o coadjuvar no exercício das suas funções. Sobre Vossa Excelência, a sua família e o nobre povo do Japão, inovoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus.







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