Discursos Bento XVI 27110

AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DAS FILIPINAS EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Sala do Consistório

Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010




Queridos Irmãos Bispos

1221 É-me grato dar a todos vós as calorosas boas-vindas por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum.Agradeço ao Cardeal Gaudencio Rosales as amáveis palavras que me dirigiu em vosso nome e asseguro as minhas orações e bons votos por vós e por todos os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais. A vossa presença em Roma fortalece os vínculos de comunhão entre a comunidade católica nas Filipinas e a Sé de Pedro, uma comunhão que remonta há mais de quatro séculos, a partir da primeira oferta do Sacrifício Eucarístico no vosso litoral. Dado que esta comunhão de fé e de sacramento alimentou o vosso povo por muitas gerações, rezo para que possa continuar a servir como fermento na cultura mais ampla, de modo que as actuais e futuras gerações de filipinos continuem a receber a jubilosa mensagem do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Para ser tal fermento, a Igreja deve procurar encontrar sempre a sua voz peculiar, pois é graças à proclamação que o Evangelho gera frutos capazes de transformar a vida (cf.
Mc 16,15-16). Esta voz expressa-se no testemunho moral e espiritual da vida dos crentes e também no testemunho público oferecido pelos bispos, primeiros mestres da Igreja, e por todos aqueles que desempenham um papel no anúncio da fé aos outros. Graças à clara exposição evangélica da verdade sobre Deus e o homem, gerações de diligentes sacerdotes, religiosos e leigos filipinos promoveram uma ordem social cada vez mais justa. Por vezes, esta tarefa de divulgação diz respeito a questões relevantes para a esfera política. Isto não surpreende porque a comunidade política e a Igreja, embora justamente distintas, estão apesar disso ambas ao serviço do desenvolvimento integral de cada ser humano e da sociedade na sua totalidade. Por sua vez, a Igreja contribui da melhor forma possível para a edificação de uma ordem social justa e caritativa quando «pregando a verdade evangélica e iluminando todos os sectores da actividade humana com a sua doutrina e com o testemunho dado pelos cristãos, respeita e promove também a liberdade política e a responsabilidade dos cidadãos» (Gaudium et spes GS 76).

Contemporaneamente, o ministério profético da Igreja requer que ela seja livre de «pregar a fé e ensinar a própria doutrina social... e dar o próprio juízo moral, também sobre as situações que dizem respeito à ordem política, quando isto é exigido pelos direitos fundamentais da pessoa e pela salvação das almas» (Ibid.). À luz desta tarefa profética, peço a Igreja nas Filipinas que procure desempenhar o seu papel no apoio à vida humana desde a concepção até à morte natural e na defesa da integridade do matrimónio e da família. Nestes âmbitos, estais a promover aquelas verdades sobre a pessoa humana e sobre a sociedade que não derivam só da revelação divina, mas também do direito natural, uma ordem acessível à razão humana e que portanto oferece uma base para o diálogo e o discernimento mais profundos por parte de todas as pessoas de boa vontade. Observo também com prazer o empenho da Igreja na abolição da pena de morte no vosso país.

Uma das áreas específicas em que a Igreja deve encontrar sempre a sua voz peculiar é a das comunicações sociais e dos mass media. A tarefa de toda a comunidade católica consiste em transmitir uma visão de fé e de virtude repleta de esperança, de modo que os filipinos possam encontrar encorajamento e guia ao longo do caminho rumo a uma vida plena em Cristo. Uma voz unificada e positiva deve ser apresentada ao público através dos meios de comunicações, antigos e novos, de maneira que a mensagem evangélica possa ter um impacto ainda mais forte sobre a população nacional. É importante que os leigos católicos, peritos de comunicação social, desempenhem o papel que lhes compete na apresentação da mensagem cristã de forma persuasiva e atraente. Se o Evangelho de Cristo deve ser um fermento para a sociedade filipina, então toda a comunidade católica deve estar atenta à força da verdade proclamada com amor.

Um terceiro aspecto relativo à missão da Igreja de proclamar a palavra vivificadora de Deus é o seu compromisso nos assuntos económicas e sociais, especialmente em relação aos mais pobres e frágeis da sociedade. Durante o Segundo Conselho Plenário das Filipinas, a Igreja no vosso país manifestou especial interesse em dedicar-se plenamente à assistência aos pobres. É confortador observar que este empreendimento deu frutos com instituições caritativas católicas activamente comprometidas em todo o país. Todavia, muitos dos vossos concidadãos permanecem desempregados, sem uma educação adequada ou serviços básicos e, portanto, as vossas declarações proféticas e a vossa acção caritativa em prol dos pobres continuam a ser muito apreciadas. Além deste esforço, estais justamente preocupados que exista um empenho constante na luta à corrupção, porque o crescimento de uma economia justa e sustentável só será possível quando se tiver uma aplicação clara e coerente do estado de direito em todo o território.

Queridos Irmãos Bispos, como o meu predecessor João Paulo II observou justamente: «Vós sois Pastores de um povo apaixonado por Maria» (14 de Janeiro de 1995). Que a sua vontade de transmitir ao mundo a Palavra que é Jesus Cristo seja para vós uma inspiração constante no vosso ministério apostólico. Sobre todos vós, os sacerdotes, os religiosos e os fiéis leigos das vossas Dioceses, invoco cordialmente a minha Bênção Apostólica como penhor de paz e alegria.





AO SENHOR GÁBOR GYORIVÁNYI NOVO EMBAIXADOR DA HUNGRIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 2 de Dezembro de 2010

21210

Senhor Embaixador

É com alegria que lhe dou as boas vindas neste solene momento em que apresenta as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Hungria junto da Santa Sé e agradeço-lhe as suas amáveis palavras. Tenho o prazer de corresponder às saudações que me transmitiu da parte do Senhor Presidente, o Dr. Pál Schmitt, e do Governo. Ao mesmo tempo peço-lhe que assegure os seus concidadãos do meu sincero afecto e benevolência.

Depois da retomada das relações diplomáticas entre a Santa Sé e a República da Hungria em 1990, foi possível desenvolver uma nova confiança num diálogo activo e construtivo com a Igreja Católica. Contemporaneamente alimento a esperança que as feridas profundas daquela visão materialista do homem, que se tinha apoderado dos corações e da comunidade dos cidadãos do seu país por cerca de 45 anos, possa continuar a restabelecer-se num clima de paz, liberdade e respeito da dignidade do homem.

A fé cristã faz parte sem dúvida dos pilares fundamentais da história da Hungria. Quando, no longínquo ano 1000, o jovem príncipe húngaro Estêvão recebeu a coroa real que lhe foi enviada pelo Papa Silvestre ii, isto foi também acompanhado pelo mandato de dar à fé em Jesus Cristo espaço e pátria naquela terra. A piedade pessoal, o sentido de justiça e as virtudes humanas deste grande rei são um alto ponto de referência que serve de estímulo e imperativo, hoje como outrora, para aqueles que desempenham um papel de governo ou têm uma responsabilidade semelhante. Sem dúvida não se espera que o Estado imponha uma determinada religião; aliás ele deveria garantir a liberdade de revelar e praticar a fé. Todavia, política e fé cristã estão relacionadas. Sem dúvida a fé tem a sua específica natureza como encontro com o Deus vivo que nos abre novos horizontes além do próprio âmbito da razão. Mas contemporaneamente é uma força purificadora mesmo para a razão, permitindo-lhe desempenhar da melhor forma a sua tarefa e ver melhor o que lhe é intrínseco. Não se trata de impor normas ou formas de comportamentos àqueles que não compartilham a fé. Trata-se simplesmente da purificação da razão, que quer contribuir para fazer com que o que é bom e justo possa, aqui e agora, ser reconhecido e também, a seguir, realizado (cf. Encíclica Deus Caritas est ).

Nos últimos anos, pouco mais de vinte, a partir da queda da cortina de ferro, evento no qual a Hungria desempenhou um papel considerável, o seu país ocupou um lugar importante na comunidade dos povos. Há já seis anos a Hungria é também membro da União Europeia. Portanto dá uma contribuição importante ao conjunto de vozes dos Estados da Europa. No início do próximo ano a Hungria assumirá pela primeira vez a Presidência do Conselho da União Europeia. Ela é chamada a ser sobretudo mediadora entre Oriente e Ocidente. Já a Sagrada Coroa, herança do rei Estêvão, na ligação da coroa graeca circular com a coroa latina colocada sob forma de arco em cima dela — ambas mostram a imagem de Cristo e são coroadas pela cruz — demonstra como o Oriente e o Ocidente deveriam apoiar-se e enriquecer-se reciprocamente a partir do património espiritual e cultural e da viva profissão da fé. Podemos também considerar tudo isto como um leitmotiv para o seu país.

A Santa Sé nota com interesse os esforços das autoridades políticas na elaboração de uma modificação da Constituição. Foi manifestada a intenção de querer fazer referência, no preâmbulo, à herança do Cristianismo. É também desejável que a nova Constituição seja inspirada nos valores cristãos, especialmente no que diz respeito ao papel do matrimónio e da família na sociedade e à salvaguarda da vida.

O matrimónio e a família constituem um fundamento decisivo para um desenvolvimento saudável da sociedade civil, dos países e dos povos. O matrimónio como forma de ordenamento básico da relação entre homem e mulher e, contemporaneamente, como célula edificante da comunidade estatal foi-se plasmando também a partir da fé bíblica. Deste modo, o matrimónio deu à Europa a sua singular fisionomia e o seu humanismo, também e precisamente porque foi necessário aprender e conseguir continuamente a característica de fidelidade e de renúncia por ele traçada. A Europa já não seria Europa se esta célula básica da construção social desaparece-se ou fosse de modo substancial transformada. Todos sabemos quanto hoje estão em perigo o matrimónio e a família — por um lado por causa da destruição dos seus valores mais íntimos de estabilidade e indissolubilidade, devido a uma crescente liberalização do direito de divórcio e dos costumes, cada vez mais difundida, à convivência entre homem e mulher sem a forma jurídica e a proteção do matrimónio, por outro lado devido a vários tipos de uniões que não têm nenhum fundamento na história da cultura e do direito na Europa. A Igreja não pode aprovar iniciativas legislativas que envolvem uma valorização de modelos alternativos da vida de casal e da família. Eles contribuem para o enfraquecimento dos princípios do direito natural e assim para a relativização da legislação na sua totalidade, mas também do conhecimento dos valores na sociedade.

«A sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos torna irmãos» (Enciclica, Caritas in veritate ). A razão é capaz de garantir a igualdade entre os homens e de estabelecer uma convivência cívica, mas afinal não consegue edificar a fraternidade. Isto tem origem numa vocação supranatural de Deus, o qual criou os homens por amor e nos ensinou através de Jesus Cristo o que é a caridade fraterna. A fraternidade é, num certo sentido, outra face da liberdade e da igualdade. Ela leva o homem ao altruísmo, ao sentido cívico, ao cuidado para com os outros. Com efeito, a pessoa humana, só se encontra a si mesma quando supera a mentalidade focalizada nas próprias exigências e se projecta numa atitude do dom gratuito e da solidariedade autêntica, que responde melhor à sua vocação comunitária.

A Igreja Católica, assim como as outras comunidades religiosas, desempenha um papel não insignificante na sociedade húngara. Ela empenha-se amplamente com as suas instituições no campo da educação escolar e da cultura, mas também da assistência social, e deste modo contribui para a construção moral, verdadeiramente útil ao seu país. A Igreja espera poder continuar, com o apoio do Estado, a desempenhar e intensificar tal serviço para o bem dos homens e para o desenvolvimento do seu país. A colaboração entre Estado e Igreja Católica neste âmbito cresça também no futuro e traga bem-estar para todos.

Ilustre Senhor Embaixador, no início do seu nobre encargo permita-me que lhe formule os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão e ao mesmo tempo garanto-lhe a colaboração e o apoio dos meus colaboradores. Maria Santíssima, a Magna Domina Hungarorum, estenda a sua mão protectora sobre o seu país. De coração invoco abundantes bênçãos divinas sobre Vossa Excelência, a sua família, o Séquito desta Missão Diplomática e todo o povo da Hungria.






AO SENHOR FERNANDO FELIPE SÁNCHEZ CAMPOS NOVO EMBAIXADOR DA COSTA RICA JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 3 de Dezembro de 2010

31210

Senhor Embaixador

Ao receber de Vossa Excelência as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Costa Rica junto da Santa Sé, agradeço-lhe profundamente as deferentes palavras, assim como as amáveis saudações que me transmitiu da parte da Presidente da República, Senhora Doutora Laura Chinchilla Miranda à qual retribuo com os meus melhores votos para que possa levar a cabo um serviço frutuoso em prol desta querida Nação, tão ligada à Sé Apostólica por estreitas e cordiais relações, assim como por uma devoção especial dos costa-riquenhos ao Sucessor de Pedro.

A sua presença neste acto solene, Excelência, reaviva no meu coração os sentimentos de afecto e benevolência pelo amado povo costa-riquenho que, no passado dia 2 de Agosto, comemorou com grande alegria 375 anos da descoberta da veneranda imagem de Nossa Senhora dos Anjos, sua Padroeira celestial. Ao unir-me à sua acção de graças ao Omnipotente nesta feliz circunstância, não tenho dúvida que o Ano Jubilar que se está celebrando dará abundantes frutos de vida cristã, sendo também uma singular oportunidade para agradecer à Virgem as graças obtidas e elevar uma súplica por todas as necessidades deste nobre país, que deseja continuar a percorrer, sob a protecção da Mãe de Deus, os caminhos da compreensão recíproca e da concórdia, num clima de autêntica fraternidade e de benévola solidariedade.

Na sua Pátria, merecedora da especial atenção da Santa Sé, onde a beleza se torna montanha e planície, rio e mar, brisa e vento que dá ímpeto a um povo hospitaleiro e orgulhoso das suas tradições, não poderia ser de outra maneira; um povo que há séculos acolheu a semente evangélica e a viu germinar com vigor em inúmeras iniciativas educativas, de saúde e de promoção humana. Por isso, os filhos da sua Pátria sabem bem que, em Cristo, o filho de Deus, o homem pode encontrar sempre a força para lutar contra a pobreza, a violência doméstica, o desemprego e a corrupção, procurando a justiça social, o bem comum e o progresso integral das pessoas. Ninguém pode sentir-se excluído do alcance desta altas metas. Neste contexto, a Autoridade pública deve ser a primeira a procurar o que traz benefício para todos, actuando principalmente como uma força moral capaz de fortalecer a liberdade e o sentido de responsabilidade de cada um. E tudo isto, sem prejudicar os valores fundamentais que estruturam a dignidade inviolável da pessoa, começando pela firme salvaguarda da vida humana. A tal propósito, tenho o prazer de recordar que foi precisamente no seu país que se assinou o Pacto de São José, em que se reconhece expressamente o valor da vida humana desde a sua concepção. Portanto, é desejável que a Costa Rica não viole os direitos do nasciturus com leis que legitimem a fecundação in vitro e o aborto.

Recentemente, surgiu o desejo de plasmar num novo e solene acordo jurídico a longa trajectória de colaboração recíproca, independência sadia e respeito mútuo entre a Santa Sé e a C0sta Rica, fortalecendo assim ainda mais as profícuas relações existentes entre a Igreja e o Estado na sua Pátria. Realizar os objectivos de interesse comum, fixando pormenorizadamente os direitos e as obrigações das partes signatárias, servirá para continuar a garantir de maneira estável e mais conforme com as circunstâncias históricas actuais, o seu já tradicional e fecundo entendimentos, em vista do bem maior da vida religiosa e civil da Nação e em benefício daquelas pessoas que são objecto das mesmas preocupações.

Por ocasião deste encontro, queria assegurar-lhe, Senhor Embaixador que nestes dias nas orações me recordei de modo especial da Costa Rica, devido às dolorosas consequências das chuvas torrenciais que atingiram o seu país. Também roguei a Deus para que a sua Pátria não deixe de lavrar os caminhos que a colocam perante a comunidade internacional como um ponto de referência para a paz. Por isso, é importante quantos estão à frente do seu destino não vacilem em recusar com firmeza a impunidade, a delinquência juvenil, o trabalho infantil, a injustiça e o narcotráfico, impulsionando medidas tão importantes como segurança civil, a adequada formação das crianças e dos jovens, a devida atenção aos presos, a eficaz assistência no campo da saúde a todos, especialmente aos mais necessitados e aos idosos, assim como os planos que permitam à população obter uma habitação e um emprego digno. Além disso, é fundamental que as novas gerações tenham a convicção de que os conflitos não se vencem simplesmente com a força, mas dirigindo os corações em direcção ao bem e à verdade, acabando com a miséria e o analfabetismo, fortalecendo o Estado de direito e dando vigor à independência e à eficácia dos tribunais de justiça. Para a ampliação deste horizonte muito contribuirá o fortalecimento na sociedade daquele pilar tão fundamental e irrenunciável constituído pela estabilidade e pela união da família, instituição que está sofrendo, talvez mais que qualquer outra, o ataque das amplas e rápidas transformações da sociedade e da cultura e que, todavia, não pode perder a sua verdadeira identidade, pois é chamada a ser viveiro de virtudes humanas e cristãs, onde os filhos possam aprender dos pais de forma natural a respeitar-se e compreender-se, a amadurecer como pessoas, crentes e cidadãos exemplares. Por conseguinte, nada do que favorece, tutela e apoia a família fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher será vão. Neste sentido, a Igreja não se cansará de encorajar especialmente os jovens, a fim de que descubram a beleza e a grandeza que comporta o servir fiel e generosamente o amor matrimonial e a transmissão da vida.

A defesa da paz será favorecida também pela tutela do meio ambiente, pois são duas realidades intimamente ligadas entre si. A tal propósito, a Costa Rica, porta-bandeira da amizade e do bom entendimento entre as Nações, distinguiu-se também pela preservação do meio ambiente e pela procura de um equilíbrio entre o desenvolvimento humano e a conservação dos recursos. Isto implica uma reflexão conjunta e responsável sobre este tema tão importante, a favor «daquela aliança entre o ser humano e o meio ambiente, que deve ser espelho do amor criador de Deus, a partir do qual provimos e rumo ao qual somos a caminho» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2008, n. 7). Com este objectivo, encorajo todos os costa-riquenhos a continuar a fortalecer tudo o que favorece um autêntico desenvolvimento humano, em harmonia com a criação, evitando interesses impuros e desprovidos de clarividência sobre um tema tão importante.

Ao concluir, desejo expressar-lhe, Senhor Embaixador, os meus melhores votos para a missão que hoje inicia. Garanto-lhe que encontrará sempre junto dos meus colaboradores o apoio necessário. Com estes sentimentos, coloco sob o olhar de Nossa Senhora dos Anjos, tão venerada na sua terra e em toda a América Central, as autoridades e o amado povo costa-riquenho, suplicando-lhe que apoie também com o seu amor materno todos os filhos da sua Pátria, para que, edificando-se no seu rico património espiritual, possam contribuir para uma solidariedade cada vez maior entre as pessoas e entre os povos. Como penhor de abundantes dons divinos, sobre Vossa Excelência, a sua família e os seus colaboradores, invoco a Bênção Apostólica.






À PLENÁRIA DA COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL Sala do Consistório Sexta-feira, 3 de Dezembro de 2010

31220

Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustres Professores e estimados colaboradores!

É com alegria que vos recebo, no final dos trabalhos da vossa Sessão Plenária anual. Desejo antes de tudo expressar um sentido agradecimento pelas palavras de homenagem que, em nome de todos, Vossa Eminência, Senhor Cardeal, como Presidente da Comissão Teológica Internacional, me quis dirigir. Os trabalhos deste oitavo «quinquénio» da Comissão, como Vossa Eminência recordou, enfrentam os seguintes temas: a teologia e a sua metodologia; a questão do único Deus em relação com as três religiões monoteístas; a integração da Doutrina social da Igreja no contexto mais amplo da Doutrina cristã.

«De facto, o amor de Cristo possui-nos; e nós sabemos bem que um morreu por todos, portanto todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem já não vivam para si, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por eles» (
2Co 5,14-15). Como não sentir também nossa esta bonita reacção do apóstolo Paulo ao seu encontro com Cristo ressuscitado? Precisamente esta experiência está na base de três importantes temas que aprofundastes na vossa Sessão Plenária que acabastes de concluir.

Quem descobriu o amor de Deus, infundido pelo Espírito Santo nos nossos corações, deseja conhecer melhor Aquele pelo qual é amado e que ama. Conhecimento e amor apoiam-se reciprocamente. Como afirmaram os Padres da Igreja, todo aquele que ama Deus é estimulado a tornar-se teólogo, mesmo se nem sempre profissionalmente. Poder estudar de modo profissional o próprio Deus e poder falar — contemplari et contemplata docere (São Tomás de Aquino, Super Sent., lib. 3 d. 35 q. 1 a. 3 qc. 1 arg 3) — é um grande privilégio. A vossa reflexão sobre a visão cristã de Deus poderá ser uma contribuição preciosa quer para a vida dos fiéis quer para o nosso diálogo com os crentes de outras religiões e também com os não crentes. De facto a própria palavra «teo-logia» revela este aspecto comunicativo do vosso trabalho — na teologia procuramos, através do «logos», comunicar o que «vimos e ouvimos» (1Jn 1,3). Mas sabemos bem que a palavra «logos» possui um significado muito mais amplo, que inclui também o sentido de «ratio», «razão». E este facto conduz-nos a um segundo ponto bastante importante. Podemos pensar em Deus e comunicar o que pensamos porque Ele nos dotou de uma razão em harmonia com a sua natureza. Não é por acaso que o Evangelho de João começa com a afirmação «No princípio era o Logos... e o Logos era Deus» (Jn 1,1). Acolher este Logos — este pensamento divino — é por fim também uma contribuição para a paz no mundo. De facto, conhecer Deus na sua verdadeira natureza é também o modo seguro para garantir a paz. Um Deus que não fosse percebido como fonte de perdão não poderia ser luz no caminho da paz.

Dado que o homem tende sempre a relacionar os seus conhecimentos uns com os outros, também o conhecimento de Deus se organiza de modo sistemático. Mas nenhum sistema teológico pode subsistir se não estiver permeado do amor do seu divino «Objecto», se não for sempre alimentado pelo diálogo — quer do acolhimento na mente quer no coração do teólogo — com o Logos divino, Criador e Redentor. Além disso nenhuma teologia é tal se não estiver integrada na vida e se não for reflexão da Igreja através do tempo e do espaço. Sim, é verdade que, para ser científica, a teologia deve argumentar de modo racional, mas também deve ser fiel à natureza da fé eclesial: centrada em Deus, radicada na oração, numa comunhão com os outros discípulos do Senhor garantida pela comunhão com o Sucessor de Pedro e com todo o Colégio episcopal.

Este acolhimento e transmissão do Logos tem também como consequência que a própria racionalidade da teologia ajuda a purificar a razão humana libertando-a de certos preconceitos e ideias que podem exercer uma forte influência no pensamento de todas as épocas. Por outro lado, é preciso relevar que a teologia vive sempre em continuidade e em diálogo com os crentes e com os teólogos que vieram antes de nós: dado que a comunhão eclesial é diacrónica, também a teologia o é. O teólogo nunca começa de zero, mas considera como mestres os Padres e os teólogos de toda a tradição cristã. Radicada na Sagrada Escritura, lida com os Padres e com os Doutores, a teologia pode ser escola de santidade, como nos testemunhou o beato John Henry Newman. Fazer descobrir o valor permanente da riqueza transmitida do passado não é uma contribuição de pouco valor da teologia ao conjunto das ciências.

Cristo morreu por todos, mesmo se nem todos o sabem ou o aceitam. Tendo recebido o amor de Deus, como poderíamos não amar aqueles pelos quais Cristo deu a própria vida? «Ele deu a sua vida por nós; portanto nós devemos dar a nossa vida pelos irmãos» (1Jn 3,16).Tudo isto nos leva ao serviço dos outros no nome de Cristo; por outras palavras, o compromisso social dos cristãos deriva necessariamente da manifestação do amor divino. Contemplação de Deus revelado e caridade pelo próximo não se podem separar, mesmo se são vividos segundo carismas diversos. Num mundo que com frequência aprecia muitos dons do Cristianismo — como por exemplo a ideia de igualdade democrática, filha do monoteísmo evangélico — sem compreender a raíz dos próprios ideais, é particularmente importante mostrar que os frutos morrem se a raíz da árvore for cortada. De facto, não há justiça sem verdade, e a justiça não se desenvolve plenamente se o seu horizonte se limita ao mundo material. Para nós, cristãos, a solidariedade social tem sempre uma perspectiva de eternidade.

Queridos amigos teólogos, o nosso encontro de hoje manifesta de modo precioso e singular a unidade indispensável que deve reinar entre teólogos e Pastores. Não se pode ser teólogos em solidão: os teólogos precisam do ministério dos Pastores da Igreja, assim como o Magistério precisa de teólogos que realizam até ao fim o seu serviço, com toda a ascese que isto exige. Através da vossa Comissão, desejo agradecer portanto a todos os teólogos e encorajá-los a ter fé no grande valor do seu empenho. Ao apresentar-vos os meus votos pelo vosso trabalho, concedo-vos com afecto a minha Bênção.





ATO DE VENERAÇÃO À IMACULADA NA PRAÇA DE ESPANHA

Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria

Quarta-feira, 8 de Dezembro de 2010




Amados irmãos e irmãs!

Também este ano marcamos encontro aqui, na Praça de Espanha, para prestar homenagem à Virgem Imaculada, por ocasião da sua festa solene. A todos vós, que viestes em grande número, assim como a quantos participam através da rádio e da televisão, dirijo a minha saudação cordial. Estamos reunidos em volta deste monumento histórico, que hoje está circundado de flores, sinal do amor e da devoção do povo romano à Mãe de Jesus. E o dom mais bonito, e a ela agradável, que oferecemos é a nossa oração, a que trazemos no coração e que confiamos à sua intercessão. São invocações de agradecimento e de súplica: acção de graças pelo dom da fé e por todo o bem que quotidianamente recebemos de Deus; e súplica pelas diversas necessidades, pela família, pela saúde, pelo trabalho, por todas as dificuldades que a vida nos faz encontrar.

1225 Mas quando vimos aqui, especialmente nesta celebração de 8 de Dezembro, é muito mais importante o que recebemos de Maria, em relação ao que lhe oferecemos. De facto, ela transmite-nos uma mensagem destinada a cada um de nós, à cidade de Roma e ao mundo inteiro. Também eu, que sou o Bispo desta Cidade, venho aqui para me pôr à escuta, não só para mim, mas para todos. E que nos diz Maria? Ela fala-nos com a Palavra de Deus, que se fez carne no seu seio. A sua «mensagem» mais não é que Jesus, Ele que é toda a sua vida. É graças a Ele e por Ele que ela é a Imaculada. E como Filho de Deus fez-se homem por nós, de modo que também ela, a Mãe, foi preservada do pecado para nós, para todos, como antecipação da salvação de Deus para cada homem. Assim Maria diz-nos que todos somos chamados a abrir-nos à acção do Espírito Santo para podermos chegar, no nosso destino final, a ser imaculados, plena e definitivamente livres do mal. Diz-nos isto com a sua própria santidade, com um olhar cheio de esperança e de compaixão, que evoca palavras como estas: «Não temas, filho, Deus ama-te; ama-te pessoalmente; pensou-te antes que tu viesses ao mundo e chamou-te à existência para te encher de amor e de vida; e por isto veio ao teu encontro, fez-se como tu, tornou-se Jesus, Deus-Homem, em tudo semelhante a ti, excepto no pecado; entregou-Se a Si mesmo até à morte de cruz, e assim «deu-te uma vida nova, livre, santa e imaculada» (cf. Ef Ep 1,3-5).

É esta mensagem que Maria nos transmite, e quando venho aqui, nesta Festa, admiro-me, porque a sinto dirigida a toda a Cidade, a todos os homens e mulheres que vivem em Roma: também a quem não pensa nisto, a quem hoje não recorda nem sequer que é a Festa da Imaculada; a quem se sente só e abandonado. O olhar de Maria é o olhar de Deus sobre cada um. Ela olha com o mesmo amor do Pai e abençoa-nos. Comporta-se como nossa «advogada» — e assim invocamo-la na Salve, Regina: «Advocata nostra». Mesmo se todos falassem mal de nós, ela, a Mãe, falaria bem, porque o seu Coração imaculado está sintonizado com a misericórdia de Deus. Assim ela vê a Cidade: não como um aglomerado anónimo, mas como uma constelação na qual Deus conhece todos pessoalmente pelo nome, um por um, e nos chama a resplandecer com a sua luz. E aqueles que aos olhos do mundo são os primeiros, para Deus são os últimos; os que são pequeninos, para Deus são grandes. A Mãe olha para nós como Deus olhou para ela, humilde jovem de Nazaré, insignificante aos olhos do mundo, mas escolhida e preciosa para Deus. Reconhece em cada um a semelhança com o seu Filho Jesus, mesmo se nós somos tão diferentes! Mas quem mais do que ela conhece o poder da Graça divina? Quem melhor do que ela sabe que nada é impossível para Deus, capaz até de tirar o bem do mal?

Eis, queridos irmãos e irmãs, a mensagem que recebemos aqui, aos pés de Maria Imaculada. É uma mensagem de confiança para cada pessoa desta Cidade e do mundo inteiro. Uma mensagem de esperança não feita de palavras, mas da sua própria história: ela, uma mulher da nossa estirpe, que deu à luz o Filho de Deus e partilhou toda a sua existência com Ele! E hoje diz-nos: este é também o teu destino, o vosso, o destino de todos: ser santos como o nosso Pai, ser imaculados como o nosso Irmão Jesus Cristo, ser filhos amados, todos adoptados para formar uma grande família, sem confins de nacionalidade, cor, língua, porque um só é Deus, Pai de todos os homens.

Obrigado, ó Mãe Imaculada, por estares sempre connosco! Vela sempre sobre a nossa Cidade: conforta os doentes, encoraja os jovens, ampara as famílias. Infunde a força para rejeitar o mal, em todas as suas formas, e escolher o bem, mesmo quando é difícil e obriga a ir contra a corrente. Dá-nos a alegria de nos sentirmos amados por Deus, abençoados por Ele, predestinados a ser seus filhos.

Virgem Imaculada, nossa Mãe dulcíssima, intercede por nós!




AO SENHOR SURESH PRASAD PRADHAN, NOVO EMBAIXADOR DO NEPAL JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010






Senhor Embaixador

Ao receber e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador da República Federal Democrática do Nepal junto da Santa Sé, desejo expressar-lhe a minha satisfação pelas cordiais relações que continuamos a manter. Agradeço as amáveis saudações que me dirigiu da parte do Presidente, Senhor Ram Baran Yadav, e peço-lhe que lhe transmita os meus votos cordiais, bem como a todo o povo da República Federal Democrática do Nepal.

Nos últimos anos assistimos a muitas transformações na vossa nação, pois os responsáveis do Nepal tentaram traçar uma nova rota política, em benefício do povo da nação. A este propósito, entre as tarefas mais importantes encontramos a redacção de uma nova Constituição. Confirmar as garantias legais dos direitos civis e políticos, mas também de natureza económica, social e cultural, é sem dúvida uma das tarefas mais difíceis e delicadas na vida política de cada nação. Por conseguinte, a Santa Sé espera que, uma vez ultrapassadas as dificuldades actuais, a Assembleia constituinte consiga completar a sua obra e contribuir deste modo para garantir um futuro estável, harmonioso e próspero.

A Santa Sé nota com prazer as expressões de empenho perante os ideais democráticos e as normas contidas nos acordos ad interim actualmente em vigor no seu país. Eles incluem o desejo de promover uma democracia multipartidária competitiva, liberdade civil e direitos humanos fundamentais, concessão do direito de voto, liberdade de imprensa, poder judiciário independente e Estado de direito. Sabemos que ainda há muito a fazer para consolidar estas boas intenções, mas a expressão pública deste compromisso da parte dos responsáveis do Nepal já promete bem.


Discursos Bento XVI 27110