Discursos Bento XVI 1226

1226 Como sabe, Excelência, os cristãos no seu país são mais de um milhão, mas os católicos são poucos. Todavia, a Igreja católica através das suas instituições, procura dar uma contribuição significativa para o bem-estar de todos os cidadãos. A agência caritativa da Igreja Caritas administra vários projectos nas áreas mais pobres e cuida dos refugiados.

Estimulada pelo amor de Jesus Cristo (cf.
2Co 5,14-15), a Igreja está sempre pronta e desejosa de fazer tudo o que for possível para ajudar os necessitados, independentemente da sua raça, cor da pele e credo.

Não obstante a Igreja católica possa fazer remontar os seus primeiros contactos com o Nepal aos séculos xvii exviii, nos últimos setenta anos foi particularmente activa ao serviço das pessoas através dos seus hospitais, das organizações assistenciais e das escolas. Observo com prazer a liberdade com que estas instituições actuam e o respeito com o qual são consideradas. É desejável que o seu Governo continue a apoiar a presença da Igreja nos campos da saúde e da educação e a garantir que os direitos humanos em geral e a liberdade religiosa em particular sejam devidamente respeitados.

Em oposição à longa tradição de tolerância do povo nepalês, nos últimos anos verificaram-se alguns casos deploráveis de violência contra a vida de católicos, mas também prejuízos às propriedades da Igreja. Desejo manifestar a esperança de que prevaleça um espírito de tolerância e que a cooperação para o bem geral e a reconciliação através do diálogo sejam fortalecidas e continuem a caracterizar as relações fraternas entre católicos e nepaleses e os seus concidadãos de outras religiões.

Por fim, Senhor Embaixador, confio no facto de que as relações cordiais já existentes entre a Santa Sé e o Nepal possam ajudar a promover esta fraternidade e este respeito e diálogo. Formulando os meus bons votos para o início da sua missão de Embaixador junto da Santa Sé, garanto-lhe a disponibilidade da Cúria Romana para o apoiar no exercício do seu alto cargo. Sobre Vossa Excelência e todo o povo do Nepal, invoco as abundantes Bênçãos divinas.






AO SENHOR ROYSON MABUKU MUKWENA, NOVO EMBAIXADOR DA ZÂMBIA JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010



Excelência

É-me grato recebê-lo e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Zâmbia junto da Santa Sé. Agradeço as saudações que me dirigiu da parte do Presidente Rupiah Bwezani Banda. Tenho o prazer de retribuir esta amável atenção e peço-lhe que lhe transmita os meus votos cordiais e a certeza das minhas orações pela sua pessoa e pelo amado povo da Zâmbia.

A Santa Sé considera as próprias relações diplomáticas com o seu país como um instrumento importante a fim de alcançar uma cooperação recíproca para o bem material, moral e espiritual de todos os zambianos. Com efeito, com a cooperação de homens e mulheres de boa vontade em África, a Igreja actua pela promoção de um equilíbrio social, legal e moral entre os membros da família humana. Graças às suas várias obras caritativas, de desenvolvimento e social, ela promove um exercício equilibrado dos direitos e deveres dos indivíduos e da sociedade na sua totalidade. A Igreja procura chamar a atenção para necessidade de justiça, solidariedade e harmonia, sempre com uma especial solicitude para com os membros mais pobres e frágeis da sociedade. Portanto, a Igreja está orgulhosa do exemplo de mulheres e homens cristãos que honram o próprio país e as suas instituições, procurando de forma altruísta o bem comum e ensinando o próximo a fazer o mesmo, para além dos interesses locais, regionais e étnicos.

É fonte de especial satisfação que as leis da Zâmbia continuem a respeitar e defender a dignidade de cada vida humana desde a concepção. Fortes influências, muitas das quais externas à África, tentam pôr limites ao direito à vida, considerando-o como um obstáculo à liberdade dos outros. Todavia, por sua vez, a Igreja afirma que o direito à vida dos inocentes é inviolável e deve ter a precedência sobre todos os outros direitos presumíveis. Fazendo isto, ela chama a atenção para um princípio moral objectivo, enraizado na lei natural, cujo conteúdo é acessível à razão humana e não está sujeito a escolhas políticas ou ao consenso social (cf. Discurso aos Representantes da Sociedade Britânica, Londres, 17 de Setembro de 2010). É fortemente desejável, Senhor Embaixador, que a Zâmbia continue a promover o devido respeito pelos direitos de cada ser humano sem excepção, em harmonia com o dever de tutelar a vida desde a concepção até à morte natural, como um autêntico país cristão.

1227 No que diz respeito à questão do desenvolvimento económico, no seu país, actualmente aparecem sinais encorajadores de melhoramento, de forma especial no sector agrícola. Com o crescimento económico, tornaram-se disponíveis fundos para importantes projectos agrícolas, sobretudo em relação ao crescimento de condições adequadas no campo da saúde. A nação está a alcançar progressos significativos nesta área, como demonstram as taxas mais baixas de mortalidade infantil e materna e outras áreas relativas à saúde. Para o progresso cultural, social e económico do seu país são indispensáveis também melhorias nas infra-estruturas, na disponibilidade de habitações adequadas, na luta contra a corrupção e no aumento de oportunidades educativas. Paralelamente, é preciso prestar sempre a devida atenção às necessidades dos menos afortunados. É desejável encorajar uma estrutura económica diversificada, mas também o aumento do número das pequenas empresas, porque «ao lado dos macroprojectos servem os microprojectos e, sobretudo serve a mobilização real de todos os sujeitos da sociedade civil» (Caritas in veritate ).

Observo com prazer que a Igreja no seu país contribui positivamente para os campos da educação, do desenvolvimento e da assistência médica, especialmente na luta contra a malária e o vih/sida. Tenha a certeza, que a Igreja continuará a empenhar-se activamente na promoção da saúde da população, dando forte ênfase à prevenção através da educação. Melhorias a longo prazo no campo da saúde conseguirão ser alcançadas graças à formação na responsabilidade moral e na solidariedade, e sobretudo através da fidelidade no matrimónio. Desta forma, a Igreja trabalha para encorajar um sentido maior de integridade individual e a edificação de uma sociedade que tenha verdadeiramente a peito a vida, a família e a mais vasta comunidade.

Permita-me concluir estas observações de boas-vindas, formulando os meus bons votos e as minhas orações pela Zâmbia e pelo seu povo. No início da sua missão, Senhor Embaixador, garanto-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estarão prontos para o coadjuvar. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todos os cidadãos da Zambia, invoco de coração as abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.






AO SENHOR O MIQUEL ÁNGEL CANTURRI MONTANYA NOVO EMBAIXADOR DE ANDORRA JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010




Senhor Embaixador!

Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência e por o acreditar como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Principado de Andorra junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu e ao retribuir, desejo transmitir por seu intermédio as minhas saudações cordiais aos dois co-Príncipes, o Arcebispo de Urgel e o Presidente da República francesa. Através de Vossa Excelência, saúdo também o Governo, as Autoridades e a população de Andorra.

O Principado, que remonta a Carlos Magno, é administrado pelo Paréage. O co-senhorio aprovado pela Santa Sé nessa época, que se tornou co-soberania e que Vossa Excelência evocou no seu discurso, é o feliz resultado de uma evolução histórica considerando os interesses legítimos do povo de Andorra que lhe garantem a soberania. Este sistema original e único no seu género permite que a população viva em paz, longe dos conflitos. Sem dúvida, a solução institucional encontrada pelo seu país não pode ser transposta alhures, mas convém tirar dela uma lição. A harmonia é possível no interior das nações e entre os povos. A inventiva jurídica e a boa vontade permitem muitas vezes resolver numerosos problemas que infelizmente surgem entre os povos, e favorecem a concórdia internacional tão desejada.

Neste contexto, desejo ressaltar a excelência das relações entre o Principado e a Santa Sé. Estas relações, que se colocam numa continuidade histórica de entendimento e apoio — Vossa Excelência ressaltou que a Santa Sé sempre apoiou Andorra todas as vezes que a sua soberania esteve em perigo consolidaram-se — ulteriormente pelo estabelecimento de relações diplomáticas e depois, há dois anos, mediante a assinatura de um acordo bilateral. Este acordo é o resultado e a expressão de uma colaboração sadia e leal entre a Igreja e o Estado que, a diversos títulos, estão ao serviço da vocação pessoal e social das pessoas humanas. Ontem como hoje, as relações cordiais entre a Igreja e Andorra servem as mesmas pessoas de modo mais eficaz para benefício de todos. Tal acordo é uma pedra suplementar oferecida para a consolidação das relações entre o Principado e a Igreja.

Senhor Embaixador, nas palavras que me dirigiu mencionou a recente evolução demográfica do seu país. Ela demonstra a atracção que ele exerce sobre as jovens gerações. Trata-se sobretudo de jovens andorranos que regressam ao seu país. Por outro lado, a sua nação acolhe também novas populações. Esta abertura exige uma necessária tomada de consciência e uma responsabilização da parte das instituições e de cada um. De facto, a harmonia social que poderia ser desequilibrada, está ligada não só a um quadro legislativo justo e adequado, mas também à qualidade moral de cada cidadão, pois «a solidariedade apresenta-se sob dois aspectos complementares: o do princípio social e o da virtude moral» (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 109).

A solidariedade eleva-se ao nível de virtude social quando se pode apoiar quer em estruturas de solidariedade, quer também na determinação firme e perseverante de cada pessoa a trabalhar pelo bem comum, porque todos nós somos responsáveis por todos. A virtude moral, por sua vez, exprime-se através de decisões e de leis que são conformes com os princípios éticos. Estes consolidam a democracia e permitem que os andorranos vivam segundo os valores positivos milenários, impregnados do cristianismo, e cultivem e preservem a sua identidade tão marcada.

1228 Para suscitar o sentido permanente da solidariedade, que acabo de evocar, a educação dos jovens é certamente o melhor caminho. Seja qual for o seu nível de responsabilidade, encorajo cada um a dar provas de criatividade neste âmbito, a investir os meios necessários, e a semear generosamente para o porvir, com a preocupação de lhe angariar as bases éticas necessárias. Com a educação, convém dar também à família o apoio que merece. Célula base da sociedade, a família cumpre a sua missão quando é encorajada e promovida pelos poderes públicos como primeiro lugar de aprendizagem da vida em sociedade. Ao proporcionar a todos os componentes da família a ajuda necessária, ela facilitará eficazmente a harmonia e a unidade social. A Igreja pode dar uma contribuição positiva para a consolidação da família, fragilizada pela cultura contemporânea.

Por ocasião da minha recente viagem a Barcelona, senti-me feliz por ver a presença de uma bela delegação do seu país. Esses fiéis de todas as idades, mas sobretudo jovens, foram manifestar a sua afeição ao Sucessor de Pedro. Gostaria de lhes agradecer esta presença calorosa e retribuir-lhes a visita, sem abusar do seu intermédio, na próxima Jornada Mundial da Juventude.

Aproveito a ocasião deste encontro, Senhor Embaixador, para saudar calorosamente, por seu intermédio, o Arcebispo e os seus colaboradores, assim como todos os fiéis católicos que vivem no seu país. Que eles conservem a preocupação de testemunhar Cristo e, em harmonia com todos os andorranos, de construir uma vida social na qual cada um possa encontrar os caminhos de um desenvolvimento pessoal e colectivo! Eles darão testemunho também da fecundidade actual da Palavra de Deus.

No momento em que inicia a sua nobre missão de representação junto da Santa Sé, apresento-lhe, Senhor Embaixador, os meus melhores votos pelo cumprimento da sua missão. Tenha a certeza de que encontrará sempre junto dos meus colaboradores o acolhimento e a compreensão de que poderá ter necessidade. O povo de Andorra tem uma veneração particular pela Virgem Maria, a Virgen de Meritxell, Padroeira do co-Principado cuja festa nacional se celebra a 8 de Setembro, Solenidade mariana. Confio as Autoridades do seu país e toda a população à sua protecção materna. Sobre Vossa Excelência, sua família e colaboradores, e sobre todo o povo andorrano e seus dirigentes, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.






À SENHORA VIVIANE FOCK TAVE, NOVA EMBAIXADORA DE SEYCHELLES JUNTO DA SANTA SÉ Sala Clementina

Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010




Senhora Embaixadora!

É com prazer que recebo Vossa Excelência esta manhã no momento em que apresenta as Cartas que a acreditam como Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República de Seychelles junto da Santa Sé. Agradeço-lhe ter-me transmitido as saudações de Sua Excelência o Senhor James Alix Michel, Presidente da República, o qual tive a honra de receber durante a sua recente visita à Santa Sé. Ficar-lhe-ia muito reconhecido pela amabilidade de lhe expressar a minha gratidão pela cordialidade manifestada por ocasião do nosso encontro. Através de Vossa Excelência, saúdo igualmente as autoridades, os diferentes responsáveis políticos e todo o povo de Seychelles.

O seu país continua a progredir e a afirmar-se no caminho da paz, da prosperidade e da estabilidade. Sem dúvida alguma, isto é o resultado dos esforços persistentes e da contribuição generosa de todas as esferas políticas e sociais, dos sectores públicos e privados. Sinto-me feliz por felicitar o Governo e o povo de Seychelles por ter superado o desafio da crise económica mundial, constatado por uma retomada do turismo e dos investimentos estrangeiros directos, por um relançamento da economia nacional, oferecendo um espaço orçamental favorável à redução da dívida e às despesas prioritárias.

Contudo, a liberalização da economia, preservando as compras sociais, é uma transformação que não se pode realizar sem uma mudança das mentalidades: trata-se, portanto, de acompanhar esta evolução para antecipar os seus efeitos nem sempre refreáveis no tempo, dando uma base ética necessária e jogando a carta da responsabilidade: «Todos têm o direito de participar na vida económica e o dever de contribuir, segundo as suas capacidades, para o progresso do seu país e de toda a família humana» (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 333).

A programação do desenvolvimento económico deve considerar também muito atentamente a necessidade de respeitar a integridade e os ritmos da natureza, pois os recursos naturais são limitados e sem dúvida não renováveis. A solução do problema ecológico exige que a actividade económica respeite antes de tudo o meio ambiente, conciliando as suas exigências com as da protecção ambiental «a fim de fortalecer a aliança entre o ser humano e o meio ambiente» (Caritas in veritate ). Neste âmbito, aprecio sobretudo a iniciativa do Governo para restaurar e preservar a barreira coralina. Ela é a primeira linha de defesa contra a elevação do nível do oceano, e é também um habitat importante para a criação de peixes — contributo principal em proteínas do país. Fornece também entradas e empregos nos sectores da pesca e do turismo. Portanto, é necessário que os consumidores e os agentes de actividades industriais desenvolvam uma responsabilidade maior nos seus comportamentos.

1229 Fazer crescer a responsabilidade de todos leva também a uma cooperação activa e eficaz para o respeito e a protecção da dignidade humana face a qualquer tentativa de propor dela imagens redutivas e deformadas, ou de instrumentalização da pessoa. O turismo internacional, factor importante de desenvolvimento económico e de crescimento cultural, pode transformar-se em ocasião de exploração e de degradação moral (cf. Caritas in veritate ). Só o reconhecimento da dignidade humana torna possível o crescimento comum e pessoal de todos (cf. Tg Jc 2,1-9).

Para favorecer este desenvolvimento humano integral e reforçar também a solidariedade intrageracional, é necessário proteger a família. Promovida e apoiada pelo Estado e pela sociedade, a família desempenha um papel totalmente original e insubstituível na educação dos filhos. Com a família, a sua nação continuará a construir o seu futuro dando uma formação apropriada às suas jovens gerações que seja capaz de transcender os limites nos quais por vezes se pretenderia encerrá-los e proporcionando-lhe os meios concretos para lutar contra os males sociais, sobretudo o desemprego e a droga. Deste ponto de vista, realço e encorajo mais uma vez os esforços promovidos há muito tempo para realizar um sistema educativo de qualidade. Convém apoiar também os mais desfavorecidos e lutar contra a corrupção garantindo uma igualdade objectiva diante da lei entre as diversas classes sociais.

Por seu lado, a Igreja local deseja continuar a dar à sua nação uma contribuição específica, assim como apoiar a família, a educação e a formação dos jovens e o desenvolvimento humano integral de cada pessoa. Tal desenvolvimento inclui um crescimento espiritual e não só material, cujo critério de orientação se encontra na força activa da caridade na verdade (cf. Caritas in veritate ). A busca espiritual que habita no coração de Seychelles encontra em Cristo o seu sentido e a sua plenitude; ela dinamiza toda a sociedade, com a capacidade de insuflar a força da reconciliação a fim de promover a justiça e a fraternidade, e para construir a prosperidade e a paz. Para esta finalidade, encorajo o prosseguimento desta colaboração e desejo saudar calorosamente, por seu intermédio, o Bispo de Porto Vitória e os seus colaboradores, assim como todos os fiéis católicos presentes no seu país.

No momento em que inicia a sua nobre missão de representação junto da Santa Sé, desejo renovar a expressão da minha satisfação pelas excelentes relações existentes entre a República de Seychelles e a Santa Sé, e dirijo-lhe, Senhora Embaixadora, os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão. Tenha a certeza de que encontrará sempre junto dos meus colaboradores o acolhimento e a compreensão dos quais poderá ter necessidade. Sobre Vossa Excelência, sua família e colaboradores, assim como sobre o Povo de Seychelles e seus dirigentes, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.






A CINCO NOVOS EMBAIXADORES JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO COLETIVA DAS CARTAS CREDENCIAIS Sala Clementina

Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010




Senhora e Senhores Embaixadores!

É para mim uma alegria receber-vos esta manhã no Palácio Apostólico para a apresentação das Cartas que vos acreditam como Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários dos vossos respectivos países junto da Santa Sé: Nepal, Zâmbia, Principado de Andorra, República de Seichelles e Mali. Acabastes de me dirigir palavras gentis da parte dos vossos respectivos Chefes de Estado que vos agradeço. Ficar-vos-ia grato se lhes transmitísseis as minhas deferentes saudações e os meus votos respeitosos pelas suas pessoas e pela alta missão que eles realizam ao serviço do seus país e do seu povo. Por vosso intermédio, desejo igualmente saudar todas as autoridades civis e religiosas das vossas nações, assim como todos os vossos compatriotas. As minhas orações e pensamentos dirigem-se naturalmente também às comunidades católicas presentes nos vossos países. Ao viver o Evangelho, elas preocupam-se por dar testemunho de um espírito de colaboração fraterna.

Excelências, gostaria de vos falar da fraternidade humana. A ela foi feito apelo de modo urgente durante todo este ano para ajudar o Haiti, martirizado primeiro por um tremor de terra e depois pela cólera. Outras tragédias atingiram infelizmente outros países durante este ano. Os vossos países, a comunidade internacional e o mundo associativo responderam aos apelos mais urgentes à ajuda, a qual seria bom continuar e intensificar. Por sua vez, e através das suas diferentes instituições, a Igreja dá uma contribuição pluriforme, a qual prolongará no tempo.

O bonito ideal de fraternidade, que se encontra no brasão nacional de numerosos países, encontrou no desenvolvimento do pensamento filosófico e político uma ressonância menor em relação a outros ideais como a liberdade, a igualdade, o progresso ou a unidade. Trata-se de um princípio que em grande parte permaneceu letra morta nas sociedades políticas modernas e contemporâneas, sobretudo devido à influência exercida pelas ideologias individualistas ou colectivistas (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 390). Como sabeis, a fraternidade tem um significado particular para os cristãos, devido ao desígnio de amor fraterno de Deus, por conseguinte de fraternidade, revelado por Cristo. Por outro lado, na minha última encíclica Caritas in veritate, tratei amplamente este tema indispensável para uma coabitação humana harmoniosa.

Para viver dignamente, todo o ser humano precisa de respeito; ele tem também necessidade de que lhe seja feita justiça e que os seus direitos sejam reconhecidos concretamente: de facto, a pessoa precisa também de fraternidade. Isto é verdadeiro não só nas relações de proximidade, mas de igual modo em escala planetária. Mas, se o processo de mundialização que está a decorrer aproxima os seres humanos uns aos outros, contudo não os torna irmãos. Trata-se neste caso de uma problemática maior pois, como realçava o meu predecessor Papa Paulo VI, o subdesenvolvimento tem como causa profunda, a falta de fraternidade (cf. Populorum progressio PP 66).

1230 A razão humana deve, de igual modo, reconhecer a igualdade de todos os homens e a necessidade de limitar as desigualdades excessivas entre eles, mas revela-se incapaz de instituir a fraternidade. Ela é um dom sobrenatural. Por sua vez, a Igreja vê a realização da fraternidade humana na terra como uma vocação contida no desígnio criador de Deus do qual ela deseja ser, cada vez mais fielmente, artífice quer a nível universal quer local, como já se verifica nos países que representais junto da Santa Sé.

Se, ao desempenhar a missão especificamente espiritual que Cristo lhe confiou, a Igreja suscita entre os seus discípulos uma proximidade particular, ela deseja contudo dar a sua contribuição, sincera e forte, para a formação de uma comunidade mais fraterna entre todos os seres humanos. Eis por que ela não age à maneira de um lobby, preocupado unicamente com os seus interesses, mas abre-se, sob o olhar d’Aquele que é o Criador de todos os homens, querendo honrar a dignidade de todos e de cada um. Por conseguinte, ela esforça-se por colocar o amor e a paz na base dos numerosos vínculos humanos que unem as pessoas umas às outras, como Deus quis na sua sabedoria criadora.

Na vida quotidiana, a fraternidade encontra uma expressão concreta na gratuidade e no respeito. Eles são chamados a manifestar-se em todos os espaços da actividade humana, inclusive na actividade económica. A identidade profunda do homem, o seu estar-em-relação, expressa-se também na sua actividade económica que é um dos terrenos de maior cooperação entre os homens. Através da minha última Encíclica, desejei realçar o facto de que a economia é um lugar no qual a doação também é possível e até necessária (cf. Caritas in veritate ).

Em definitivo, qualquer forma de doação é um sinal da presença de Deus, porque leva à descoberta fundamental que na origem tudo é doado. Esta tomada de consciência não torna as conquistas do homem menos belas, mas liberta-as da primeira de todas as servidões, a de pretender criar-se a si mesmo. Ao contrário, no reconhecimento do que lhe foi doado, o homem pode abrir-se à acção de graças e compreender que ele está chamado a desenvolver-se, não contra ou ao lado dos outros, mas com e em comunhão com eles.

Contudo, se a fraternidade vivida entre os homens pode encontrar um eco positivo a nível da «eficácia social», não se deve esquecer que ela não é um meio, mas um fim em si mesma (cf. Caritas in veritate ). A Igreja crê em Cristo que nos revela que Deus é amor (cf.
Jn 4,8). Ela está também convencida de que a todos os que crêem na caridade divina, Deus dá a certeza de que «o caminho do amor está aberto a todos os homens e que o esforço que tende a instaurar uma fraternidade universal não é vão» (Gaudium et spes GS 38).

Como diplomatas, interessais-vos sem dúvida alguma de modo particular pelos diferentes aspectos da vida político-social que acabo de abordar. Excelências, durante a vossa missão junto da Sé Apostólica, tereis a possibilidade de descobrir mais directamente as acções e as preocupações da Igreja em todos os continentes. Encontrareis junto dos meus colaboradores uma atenção gentil. Sobre Vossas Excelências, os vossos familiares, os membros das vossas Missões diplomáticas e sobre todas as nações que representais, invoco a abundância das Bênçãos divinas.






AO SENHOR MUNIB A. YOUNAN PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO LUTERANA MUNDIAL Sala Clementina

Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010




Queridos amigos luteranos

Estou feliz por saudar os representantes da Federação Luterana Mundial na ocasião da vossa visita oficial a Roma. Transmito os meus melhores e cordiais votos ao Bispo Munib Younan e ao Reverendo Martin Junge pelas suas respectivas eleições a Presidente e Secretário-Geral, juntamente com as minhas orações para o seu mandato de serviço.

Há cinco anos, no início do meu pontificado, tive a alegria de receber os vossos predecessores e manifestar a esperança que os laços estreitos e o diálogo intenso que caracterizaram as relações ecuménicas entre católicos e luteranos possam continuar a dar abundantes frutos. Com gratidão podemos valorizar os numerosos e significativos frutos produzidos durante décadas de debate bilateral. Com a ajuda de Deus foi possível eliminar lenta e pacientemente as barreiras e criar laços visíveis de unidade através do diálogo teológico e da cooperação efectiva, especialmente a nível das comunidades locais.

1231 O ano passado marcou o décimo aniversário da assinatura da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, que demonstrou um passo significativo ao longo do difícil caminho para restabelecer a plena unidade entre os cristãos e um estímulo para um ulterior diálogo ecuménico. Nestes anos que conduzem ao quinto centenário dos eventos de 1517, católicos e luteranos são chamados a reflectir novamente sobre onde o percurso em direcção à unidade nos conduziu e a suplicar a guia e a ajuda do Senhor para o futuro. Nesta ocasião, noto com prazer que a Comissão Internacional Luterano—Católica Romana sobre a Unidade está a preparar um texto conjunto que documentará o que luteranos e católicos neste momento são conjuntamente capazes de argumentar relativamente às suas estreitas relações depois de cerca de cinco séculos de separação. A fim de esclarecer mais o entendimento da Igreja, que é actualmente o principal objectivo do diálogo ecuménico, a Comissão está a estudar o seguinte tema: Baptismo e Comunhão crescente da Igreja. Espero que estas actividades ecuménicas criem novas oportunidades a fim de que católicos e luteranos se aproximem nas suas vidas, no testemunho do Evangelho, e nos seus esforços para levar a luz de Cristo a todos os níveis da sociedade.

Nestes dias de jubilosa preparação para a celebração do Natal, confiemo-nos uns aos outros, e a nossa busca comum da unidade dos cristãos ao Senhor, que é Ele próprio a novidade autêntica que ultrapassa todas as nossa expectativas humanas (cf. Ireneu, Adv. Haer.,IV, 34, 1).

Que a paz e a alegria deste período do Natal esteja com todos vós!






AO SENHOR FRANCESCO MARIA GRECO, NOVO EMBAIXADOR DA ITÁLIA JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 17 de Dezembro de 2010

17120

Senhor Embaixador!

Estou feliz por receber as Cartas com as quais o Presidente da República Italiana o acredita como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto da Santa Sé. Ao agradecer-lhe as nobres expressões que me dirigiu, o meu pensamento estende-se ao Chefe de Estado, às Autoridades e a todo o querido Povo italiano. Continuamente tenho a ocasião de constatar como é forte a consciência dos vínculos particulares entre a Sé de Pedro e a Itália, que encontram expressão significativa quer na atenção que as Autoridades civis prestam ao Sucessor do Príncipe dos Apóstolos e à Santa Sé, quer no afecto que a população da Itália me demonstra com tanto entusiasmo aqui em Roma e durante as viagens que realizo no País, como aconteceu recentemente durante a minha visita a Palermo. Gostaria de garantir que a minha oração acompanha de perto as vicissitudes alegres e tristes da Itália, pela qual peço ao Doador de todo o bem para que lhe conserve o tesouro precioso da fé cristã e lhe conceda os dons da concórdia e da prosperidade.

Nesta feliz circunstância apresento-lhe, juntamente com a minha cordial saudação de boas-vindas, votos fervorosos pela missão exigente que assume hoje oficialmente. De facto, a Embaixada da Itália junto da Santa Sé — cuja prestigiosa sede, ligada também à memória de São Carlos Borromeu, pude visitar há dois anos — constitui um importante ponto de referência para as relações de colaboração intensa que existem entre a Santa Sé e a Itália, não só sob o ponto de vista bilateral, mas inclusive no mais amplo contexto da vida internacional. Além disso, a Representação diplomática, da qual Vossa Excelência assume a direcção, oferece um contributo válido para o desenvolvimento de relações harmoniosas entre a comunidade civil e a eclesial no País, e presta serviços preciosos ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé. Estou convicto de que sob a sua direcção esta actividade intensa prosseguirá com impulso renovado, e desde já exprimo a Vossa Ex.cia e aos seus colaboradores o meu vivo reconhecimento.

Como recordou, iniciaram as celebrações para o 150º aniversário da unidade da Itália, ocasião para uma reflexão não só comemorativa mas também de carácter programático, muito oportuna na difícil fase histórica actual, nacional e internacional. Estou feliz porque também os Pastores e os vários componentes da Comunidade eclesial estão activamente envolvidos na evocação do processo de unificação da Nação, iniciado em 1861.

Um dos aspectos mais relevantes daquele longo caminho, às vezes cansativo e contrastado, que conduziu à hodierna fisionomia do Estado italiano, é constituído pela busca de uma correcta distinção e de formas justas de colaboração entre a comunidade civil e a religiosa, exigência que é mais sentida num país como a Itália, cuja história e cultura estão tão profundamente marcadas pela Igreja católica e em cuja capital tem a sua sede episcopal o Chefe visível desta Comunidade, difundida em todo o mundo. Estas características, que há séculos fazem parte do património histórico e cultural da Itália, não podem ser negadas, esquecidas ou marginalizadas; a experiência destes 150 anos ensina que quando se tentou fazê-lo, causaram-se desequilíbrios perigosos e fracturas dolorosas na vida social do País.

A este propósito, Vossa Excelência oportunamente evocou a importância dos Pactos Lateranenses e do Acordo de Vila Madama, que fixam as coordenadas de um equilíbrio justo de relações, do qual beneficiam tanto a Sé Apostólica como o Estado e a Igreja na Itália. Com efeito, o Tratado de Latrão, configurando o Estado da Cidade do Vaticano e prevendo uma série de imunidades pessoais e reais, determinou as condições para garantir ao Pontífice e à Santa Sé plena soberania e independência, para a tutela da sua missão universal. Por sua vez, o Acordo de modificação da Concordata visa fundamentalmente garantir o pleno exercício da liberdade religiosa, isto é, daquele direito que, histórica e objectivamente, é o primeiro entre os fundamentais da pessoa humana. Portanto, é de grande importância observar e, ao mesmo tempo, desenvolver o texto e o espírito daqueles Acordos e os que derivaram deles, recordando que garantiram e podem ainda assegurar uma convivência serena da sociedade italiana.

Os pactos internacionais são são expressão de uma vontade da Igreja ou da Santa Sé de obter poder, privilégios ou posições de vantagem económica ou social, nem se pretende com eles ultrapassar a fronteira do âmbito que é próprio da missão entregue pelo Divino Fundador à sua comunidade na terra. Ao contrário, tais acordos têm o seu fundamento na justa vontade por parte do Estado de garantir aos indivíduos e à Igreja o pleno exercício da liberdade religiosa, direito que tem uma dimensão não só pessoal, porque «a própria natureza social do homem exige que ele manifeste externamente os actos internos da religião de modo comunitário» (Conc. Ecum. Vat. II, Decl. Dignitatis humanae
DH 3). A liberdade religiosa, portanto, é um direito do indivíduo, da família, dos grupos religiosos e da Igreja (cf. ibid., 4-5.13), e o Estado é chamado a tutelar não só os direitos dos crentes à liberdade de consciência e de religião, mas também o papel legítimo da religião e das comunidades religiosas na esfera pública.

O recto exercício e o correspondente reconhecimento deste direito permitem que a sociedade faça uso dos recursos morais e da generosa actividade dos crentes. Por conseguinte, não se pode pensar em alcançar o autêntico progresso social, percorrendo o caminho da marginalização ou até da rejeição explícita do factor religioso, como actualmente se pretende fazer com várias modalidades. Uma delas, por exemplo, é a tentativa de eliminar a exposição dos símbolos religiosos dos lugares públicos, principalmente o Crucifixo, que certamente é o emblema por excelência da fé cristã, mas ao mesmo tempo, fala a todos os homens de boa vontade e, como tal, não é factor que discrimina. Desejo exprimir o meu apreço ao Governo italiano que, a este propósito, agiu em conformidade com uma visão correcta da laicidade e à luz da sua história, cultura e tradição, encontrando nisso o apoio positivo inclusive de outras Nações europeias.

Enquanto nalgumas sociedades subsistem tentativas de marginalizar a dimensão religiosa, as crónicas recentes testemunham-nos como nos nossos dias se realizam abertas violações da liberdade religiosa. Diante desta realidade dolorosa, a sociedade italiana e as suas Autoridades demonstraram uma sensibilidade particular pelo destino dessas minorias cristãs que, por causa da própria fé, sofrem violências, são discriminadas ou obrigadas a uma emigração forçada da sua pátria. Desejo que possa crescer em toda a parte a consciência desta problemática e, consequentemente, sejam intensificados os esforços para ver realizado, em todos os lugares e por todos, o pleno respeito pela liberdade religiosa. Estou convicto de que ao empenho por parte da Santa Sé neste sentido não faltará o apoio da Itália em âmbito internacional.

Senhor Embaixador, ao concluir as minhas reflexões, desejo garantir-lhe, para o cumprimento da elevada missão que lhe foi confiada, que pode contar com o meu apoio e dos meus colaboradores. Invoco sobre este início, sobretudo, a protecção da Mãe de Deus, tão amada e venerada em toda a Península, e dos Padroeiros da Nação, santos Francisco de Assis e Catarina de Sena, e concedo de coração a Vossa Excelência, à sua família, aos seus colaboradores e ao amado Povo italiano, a Bênção Apostólica.







Discursos Bento XVI 1226