Discursos Bento XVI 14111

AOS ADMINISTRADORES DA REGIÃO DO LÁCIO E DO MUNICÍPIO E DA PROVÍNCIA DE ROMA Sala Clementina Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2011

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Ilustres Senhores e Senhoras

Dando continuidade a uma feliz tradição, também este ano tenho a agradável ocasião de me encontrar com os representantes das instituições da Região do Lácio, do Município e da Província de Roma. Agradeço à Dep. Renata Polverini, Presidente da Junta Regional do Lácio, ao Dep. Giovanni Alemanno, Presidente da Câmara Municipal de Roma, e ao Dep. Nicola Zingaretti, Presidente da Província da Roma, as amáveis palavras que me dirigiram em nome de todos. Retribuo os cordiais bons votos para o novo ano, tanto a vós, como aos cidadãos de Roma e da Província e aos habitantes do Lácio, aos quais me sinto particularmente vinculado como Bispo desta Cidade, Sucessor de Pedro.

A vocação singular de Roma, centro do catolicismo e capital do Estado italiano, exige que a nossa vida seja um exemplo de fecunda e profícua colaboração entre as instituições públicas e a Comunidade eclesial. Tal colaboração, no respeito pelas competências recíprocas, hoje é particularmente urgente para os novos desafios que se apresentam no horizonte. A Igreja, em especial mediante a obra dos fiéis leigos e das associações de inspiração católica, deseja continuar a oferecer a própria contribuição para a promoção do bem comum e de um progresso autenticamente humano.

Célula originária da sociedade é a família, fundada sobre o matrimónio entre o homem e a mulher. É na família que os filhos aprendem os valores humanos e cristãos que permitem uma convivência construtiva e pacífica. É na família que se aprendem a solidariedade entre as gerações, o respeito pelas regras, o perdão e o acolhimento do outro. É no próprio lar que os jovens, sentindo o carinho dos pais, descobrem o que é o amor e aprendem a amar. Por conseguinte, a família deve ser apoiada por políticas orgânicas que não se limitem a propor soluções aos problemas contingentes, mas tenham como finalidade a sua consolidação e o desenvolvimento, e sejam acompanhadas por uma adequada obra educativa. Por vezes, infelizmente, verificam-se graves situações de violência e amplificam-se aspectos de crise da família, causados pelas rápidas transformações sociais e culturais. Também a aprovação de formas de união que desnaturam a essência e a finalidade da família, acaba por penalizar quantos, não sem dificuldade, se comprometem a viver vínculos afectivos estáveis, juridicamente garantidos e reconhecidos de forma pública. Nesta perspectiva, a Igreja é favorável a todas aquelas iniciativas que visam educar os jovens a viver o amor na lógica do dom de si, com uma visão alta e oblativa da sexualidade. Para tal finalidade é necessária uma convergência educativa entre os vários componentes da sociedade, a fim de que o amor humano não seja reduzido a um objecto de consumo, mas possa ser sentido e vivido como experiência fundamental que dá sentido e finalidade à existência.

O doar-se recíproco dos cônjuges implica a abertura à geração: com efeito, o desejo da paternidade e da maternidade está inscrito no coração do homem. Muitos casais gostariam de receber o dom de novos filhos, mas são impelidos a esperar. Por isso, é necessário apoiar concretamente a maternidade, como também garantir às mulheres que desempenham uma profissão, a possibilidade de conciliar família e trabalho. Com efeito, demasiadas vezes elas são postas na necessidade de escolher um dos dois. O desenvolvimento de políticas de ajuda adequadas, como também de estruturas destinadas à infância como as creches, também aquelas geridas por famílias, pode contribuir para fazer com que o filho não seja visto como um problema, mas sim como um dom e uma grande alegria. Além disso, dado que «a abertura à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento» (Caritas in veritate ), o elevado número de abortos que são praticados na nossa Região não pode deixar-nos indiferentes. Através de numerosas «Casas-família», dos «Centros de Ajuda à Vida» e de outras iniciativas análogas, a comunidade cristã está comprometida em acompanhar e oferecer ajuda às mulheres que têm dificuldade de acolher uma nova vida. As instituições públicas saibam oferecer o seu apoio, a fim de que os consultores familiares estejam em condições de ajudar as mulheres a superar as causas que podem induzir à interrupção da gravidez. A este propósito, exprimo o meu apreço pela lei em vigor na Região do Lácio, que prevê o chamado «quociente familiar» e considera o filho concebido como componente da família, e faço votos a fim de que tal normativa seja plenamente aplicada. Estou feliz pelo facto de que a cidade de Roma já assumiu o seu compromisso neste sentido.

Na outra extremidade da vida, o envelhecimento da população apresenta novos problemas. Os idosos são uma grande riqueza para a sociedade. Os seus conhecimentos, a sua experiência e a sua sabedoria constituem um património para os jovens, que têm necessidade de mestres de vida. Embora muitos idosos possam contar com o apoio e a proximidade da própria família, contudo aumenta o número daqueles que estão sozinhos e têm necessidade de assistência médico-sanitária. Também na nossa Região, a Igreja esteve sempre próxima daqueles que se encontram em condições de fragilidade por causa da idade ou da saúde precária. Enquanto me alegro pela sinergia existente com as grandes realidades católicas no âmbito da saúde — como, por exemplo, no campo da infância, entre o Hospital «Bambin Gesù» e as instituições públicas — formulo votos para que tais estruturas possam continuar a colaborar com as entidades locais em vista de assegurar o seu serviço a quantos a elas recorrem, e renovo o convite a promover uma cultura que respeite a vida até ao seu termo natural, na consciência de que «a medida da humanidade se determina essencialmente na relação com o sofrimento e com quantos sofrem» (Encíclica Spe salvi ).

Nestes últimos tempos, a serenidade das nossas famílias está ameaçada pela crise económica, grave e persistente, e muitas famílias não conseguem mais garantir um teor de vida suficiente aos seus próprios filhos. Através da Cáritas, as nossas paróquias prodigalizam-se para ir ao encontro destes núcleos familiares, aliviando na medida do possível as necessidades e enfrentando as exigências primárias. Espero que possam ser tomadas disposições destinadas a ajudar as famílias de baixo rendimento, particularmente as numerosas, que demasiadas vezes são penalizadas. A isto acrescenta-se um problema cada dia mais dramático. Refiro-me à grave questão do trabalho. Em particular aos jovens que, depois de anos de preparação, não encontram ocasiões de trabalho nem possibilidades de inserção social e de programação do próprio futuro, sentindo-se muitas vezes decepcionados e tentados a rejeitar a própria sociedade. O prolongar-se de situações semelhantes provoca tensões sociais, que são exploradas pelas organizações criminosas para propor actividades ilícitas. Por conseguinte é urgente que, apesar deste momento difícil, se envidem todos os esforços para promover políticas de trabalho que possam garantir uma ocupação e uma subsistência digna, condição indispensável para dar vida a novas famílias.

Ilustres Autoridades, são múltiplos os problemas que exigem uma solução. O vosso compromisso de administradores, que se esforçam por colaborar em conjunto para o bem da comunidade, saiba ter sempre em consideração o homem como uma finalidade, a fim de que ele possa viver de maneira autenticamente humana. Portanto, como Bispo desta cidade gostaria de vos convidar a encontrar na Palavra de Deus a fonte de inspiração para a vossa obra política e social, «à procura do verdadeiro bem de todos, no respeito e promoção da dignidade de cada pessoa» (Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, 101). Asseguro-vos a minha lembrança na oração, sobretudo por aqueles que hoje começam o serviço ao bem comum, e enquanto invoco sobre o vosso compromisso a salvaguarda materna da Virgem Maria, Salus Populi Romani, concedo-vos de coração a minha Bênção, que de bom grado faço extensiva aos habitantes de Roma, da sua Província e de todo o Lácio.


A UMA DELEGAÇÃO ECUMÉNICA DA FINLÂNDIA POR OCASIÃO DA FESTA DE SANTO HENRIQUE Sábado, 15 de Janeiro de 2011

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Excelências!
Queridos amigos da Finlândia!

Dou-vos com grande alegria as boas-vindas por ocasião da vossa anual peregrinação ecuménica a Roma para celebrar a festa de santo Henrique, padroeiro da vossa amada terra. Todos os anos, nesta época, a vossa tradicional peregrinação confirma as relações sinceras, amistosas e colaborativas que se instauraram entre luteranos e católicos assim como, em geral, entre todos os cristãos no vosso país.

Mesmo se ainda não alcançamos o objectivo do movimento ecuménico, ou seja, a plena unidade da fé, no diálogo maturaram muitos elementos de sintonia e proximidade, que nos fortalecem no desejo geral de cumprir a vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, «para que todos sejam um só» (
Jn 17,21). Um resultado digno de atenção, alcançado recentemente, foi o relatório conclusivo sobre o tema da justificação na vida da Igreja. Este relatório foi redigido pelo grupo de diálogo católico-lutrerano nórdico na Finlândia e na Suécia, cujos membros se puderam encontrar no ano passado. Na teologia e na fé tudo está relacionado e portanto uma compreensão mais profunda da justificação ajudar-nos-á também a compreender melhor juntos a natureza da Igreja e, como foi mencionado por Vossa Excelência, o ministério episcopal e, deste modo, encontrar a unidade da Igreja de forma concreta e ser também mais capazes, como observei, de expor a fé aos homens de hoje que se interrogam, e fazer com que ela seja mais compreensível para eles, para que vejam que Ele é a resposta, que Cristo é o redentor de todos nós. Deste modo, permanece viva também a nossa esperança de que, sob a guia do Espírito Santo, muitas pessoas empenhadas em âmbito ecuménico, competentes e zelosas dêem a sua contribuição para a realização desta grande tarefa ecuménica e, sempre guiados pelo Espírito Santo, possam ir em frente.

Dito isto, subentende-se que a eficiência dos nossos esforços não pode brotar só do estudo e do debate, mas depende sobretudo da nossa oração constante, da nossa vida conforme com a vontade de Deus, porque o ecumenismo não é acção nossa mas fruto da obra de Deus.

Ao mesmo tempo, todos estamos conscientes do facto que, nos últimos anos, o caminho ecuménico se tornou, sob alguns pontos de vista, mais difícil, certamente mais exigente. Serão expressas questões relativas ao método ecuménico e às conquistas dos anos transcorridos, assim como às incertezas do futuro, aos problemas do nosso tempo com a fé em geral. Nesta luz, a vossa peregrinação anual a Roma para a festa de santo Henrique permanece um acontecimento importante, um sinal e um encorajamento para os nossos esforços ecuménicos, para a nossa certeza que devemos caminhar juntos e que Cristo é o caminho para a humanidade. A vossa peregrinação ajuda-nos a olhar para trás com alegria, para quanto foi obtido até agora e a olhar para o futuro com o desejo de assumirmos um compromisso pleno de responsabilidade e fé. Por ocasião da vossa visita, todos desejamos fortalecer a nossa certeza de que o Espírito Santo, que desperta, acompanha e até hoje tornou fecundo o movimento ecuménico, prossiga assim também no futuro.

Espero com firmeza que a vossa visita a Roma fortaleça a futura colaboração entre luteranos e católicos, entre todos os cristãos na Finlândia. Em vista da iminente Semana de oração pela unidade dos cristãos queremos rezar para que o espírito de verdade nos conduza a um amor e a uma fraternidade ainda maiores. Deus vos conceda as suas abundantes bênçãos neste novo ano que há pouco teve início.






AOS FUNCIONÁRIOS E AGENTES DO INSPECTORADO DE SEGURANÇA PÚBLICA NO VATICANO Sala Clementina Sábado, 15 de Janeiro de 2011

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Senhor Chefe da Polícia
Senhor Dirigente
Prezados Funcionários e Agentes

É com alegria que vos recebo, segundo a feliz tradição, para o recíproco intercâmbio de bons votos no início do novo ano. Transmito a cada um as minhas cordiais boas-vindas e a minha saudação afectuosa, que de bom grado faço extensiva às respectivas famílias e aos vossos colegas que não puderam participar neste encontro, porque estão empenhados no serviço quotidiano para garantir a segurança na praça de São Pedro, nos arredores e noutras áreas de pertinência do Vaticano. Desejo transmitir uma saudação de bons votos ao Director-Geral, Dr. Raffaele Aiello, que há poucas semanas chefia o vosso Inspectorado. Agradeço-lhe as amáveis expressões que me dirigiu, também em nome dos presentes e dos representantes daquelas estruturas centrais e periféricas do Ministério do Interior que cooperam convosco, em espírito de serviço e de solícita disponibilidade. Dirijo, outrossim, a minha deferente saudação ao Dr. Antonio Manganelli, Chefe da Polícia, ao Prefeito Salvatore Festa, aos demais Funcionários e Dirigentes, assim como aos Capelães, renovando inclusive em nome dos meus colaboradores a profunda gratidão pela obra preciosa realizada por este Inspectorado de segurança pública.

Aproveito esta oportunidade para manifestar o meu sincero apreço pelo compromisso e a profissionalidade com que os funcionários e os agentes da Polícia de Estado, como «anjos da guarda», velam dia e noite sobre o Vaticano, garantindo a necessária segurança e colocando-se ao serviço dos peregrinos. Esta obra de vigilância, que vós levais a cabo com diligência e solicitude, em vista da tutela da ordem pública, é certamente considerável e delicada: às vezes ela exige muita paciência, perseverança, sacrifício e disponibilidade à escuta. Trata-se de um serviço mais útil do que nunca para a realização tranquila e segura das manifestações espirituais e religiosas que têm lugar especialmente na praça de São Pedro. A vossa presença significativa no coração da cristandade, aonde multidões de fiéis chegam incessantemente para encontrar o Sucessor de Pedro e para visitar os túmulos dos Apóstolos, suscite sempre mais em cada um de vós o propósito de reavivar a dimensão espiritual da vida, como também o compromisso a aprofundar a vossa fé cristã, dando testemunho da mesma com alegria através de um procedimento coerente.

No período de Natal, há pouco terminado, a liturgia convidava-nos a acolher o Verbo que, desde o princípio, está no seio do Pai e que Ele nos concedeu, revelando o seu rosto numa Criança. Ele é o Eterno que entra no tempo e que o enche com a sua plenitude; trata-se da luz que ilumina e esclarece quantos se encontram nas trevas; é o Filho de Deus que traz a salvação à humanidade. Acolhamo-la sempre com confiança e alegria! Quem no-lo apresenta é a Virgem Maria. Como Mãe zelosa, Ela vela sobre nós. Implorai com frequência a sua intercessão materna e confiai-lhe o ano de 2011 que há pouco teve início, a fim de que seja para todos um tempo de esperança e de paz.

Com estes sentimentos, invoco sobre vós e sobre o vosso trabalho a abundância das dádivas celestiais, enquanto de coração vos concedo uma especial Bênção apostólica, que de bom grado faço extensiva às vossas famílias e aos vossos entes queridos.



À COMUNIDADE DO PONTIFÍCIO INSTITUTO ECLESIÁSTICO POLACO DE ROMA POR OCASIÃO DO PRIMEIRO CENTENÁRIO DE FUNDAÇÃO

17111 Sala Clementina
Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2011



Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Prezados Irmãos e Irmãs!

É com alegria que vos recebo no Palácio Apostólico e que vos dou as minhas mais cordiais boas-vindas. Saúdo o Monsenhor Reitor e toda a comunidade do Pontifício Instituto Eclesiástico Polaco, assim como os hóspedes. Estou grato de maneira particular ao Cardeal Zenon Grocholewski pelas significativas palavras que me dirigiu em nome de todos os presentes.

Aquilo que vos trouxe aqui, para encontrar o Sucessor de Pedro e ser confirmados na fé e na vossa pertença à Igreja é uma feliz circunstância, que vós justamente valorizais em grande medida: o centenário de fundação desta benemérita Instituição. Tendo sido criada a partir da intuição iluminada e da iniciativa admirável de são Józef Sebastian Pelczar, então bispo de Przemysl, começou a sua história já durante o pontificado de são Pio X, a quem foi apresentado o programa de fundação. No dia 13 de Maio de 1909 este mesmo Papa aprovou o pedido dos bispos polacos e a 19 de Março de 1910, com o decreto Religioso Polonae Gentis, foi erigido o Hospício polaco. Foi solenemente inaugurado em 13 de Novembro de 1910, por Monsenhor Sapieha, que em seguida se tornaria Cardeal Arcebispo de Cracóvia. Assim, ao longo dos anos, o Instituto pôde beneficiar da solicitude e do carinho dos diversos Pontífices, entre os quais recordamos, mais próximos de nós, o Servo de Deus Paulo VI e, naturalmente, o futuro Beato, Venerável Servo de Deus João Paulo II, que o visitou em 1980 e teve a possibilidade de ressaltar o seu grande significado para a Igreja e para o povo polaco.

Celebrar o primeiro centenário desta importante Instituição constitui uma válida exortação à memória obrigatória e reconhecida daqueles que lhe deram início com fé, coragem e esforço; ao mesmo tempo, uma exortação à responsabilidade de dar continuidade no presente às finalidades originárias, adaptando-as oportunamente às novas situações. Acima de tudo, é necessário assumir o compromisso de manter viva a alma da instituição: a sua alma religiosa e eclesial, que corresponde ao desígnio divino providencial de oferecer a sacerdotes polacos um ambiente idóneo para o estudo e a fraternidade, durante o seu período de formação em Roma.

Deste Instituto pontifício, que foi testemunha de numerosos acontecimentos significativos para a Igreja na Polónia, agora fazeis parte vós, caros Sacerdotes estudantes que, vindos ao coração da cristandade, desejais seriamente aprofundar a vossa preparação intelectual e espiritual, para desempenhar do melhor modo todas as tarefas de responsabilidade que vos forem gradualmente confiadas pelos vossos Bispos para o serviço do Povo de Deus. Sentis-vos como «pedras vivas», uma parte importante desta história que hoje exige também a vossa resposta pessoal e incisiva, oferecendo a vossa contribuição generosa, como a ofereceu durante o Concílio Vaticano II, o inesquecível Primaz da Polónia, Cardeal Stefan Wyszynski, que precisamente no Instituto polaco teve a oportunidade de preparar a celebração do Milénio do Baptismo da Polónia e a histórica Mensagem de reconciliação que os Bispos polacos transmitiram aos Prelados alemães, com as famosas palavras: «Perdoemos e peçamos perdão».

A Igreja tem necessidade de sacerdotes bem preparados, ricos daquela sabedoria que se adquire na amizade com o Senhor Jesus, alimentando-se constantemente na Mesa eucarística e na fonte inesgotável do seu Evangelho. Destas duas nascentes insubstituíveis, sabei haurir a ajuda contínua e a inspiração necessária para a vossa vida e o vosso ministério, para um amor sincero à Verdade, que hoje sois chamados a aprofundar também através do estudo e da investigação científica e que no futuro podereis compartilhar com muitas pessoas. A busca da Verdade para vós que, como presbíteros, viveis esta experiência romana peculiar, é estimulada e enriquecida pela proximidade à Sé Apostólica, à qual compete um serviço específico e universal à comunhão na verdade e na caridade. Permanecer unidos a Pedro, no coração da Igreja, significa reconhecer, cheios de gratidão, que vos encontrais no interior de uma história de salvação plurissecular e fecunda que, por uma graça multiforme, vos alcançou e à qual sois chamados a participar de maneira concreta a fim de que, como árvore frondosa, produza os seus frutos preciosos. O amor e a devoção à figura de Pedro vos leve a servir generosamente a comunhão de toda a Igreja católica e das vossas Igrejas particulares para que, como uma única e grande família, todos possam aprender a reconhecer em Jesus, Caminho, Verdade e Vida, o Rosto do Pai misericordioso, pois Ele quer que nenhum dos seus filhos se perca.

Venerados e queridos Irmãos, confio-vos todos à Virgem Maria, tão amada pelo povo polaco. Invocai-a sempre como Mãe do vosso sacerdócio, a fim de que vos acompanhe pelo caminho da vida e atraia sobre o vosso ministério presente e futuro a abundância dos dons do Espírito Santo. Maria vos ajude a perseverar com jubilosa fidelidade na graça e no compromisso de seguir Jesus, e nutrir constantemente uma dedicação fecunda ao vosso trabalho quotidiano e àqueles que o Senhor colocar ao vosso lado.

Concedo-vos a todos de coração, assim como aos vossos familiares e a quantos vos são queridos, uma especial Bênção apostólica. Louvado seja Jesus Cristo!






AOS MEMBROS DO CAMINHO NEOCATECUMENAL Sala Paulo VI Segunda-feira, 17 de Janeiro 2011

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Estimados amigos

É-me grato receber-vos e dar-vos as minhas cordiais boas-vindas. Saúdo de modo particular Kiko Argüello e Carmen Hernández, iniciadores do Caminho Neocatecumenal, bem como Pe. Mario Pezzi, enquanto lhes agradeço as palavras de saudação e de apresentação que me dirigiram. Saúdo com profundo afecto todos vós aqui presentes: sacerdotes, seminaristas, famílias e membros do Caminho. Dou graças ao Senhor porque nos oferece a oportunidade deste encontro, em que vós renovais o vosso vínculo com o Sucessor de Pedro, acolhendo novamente o mandato que Cristo Ressuscitado deu aos discípulos: «Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda a criatura» (
Mc 16,15).

Desde há mais de quarenta anos, o Caminho Neocatecumenal contribui para reavivar e consolidar a iniciação cristã nas dioceses e nas paróquias, favorecendo uma redescoberta gradual e radical das riquezas do Baptismo, ajudando a saborear a vida divina, a vida celeste que o Senhor inaugurou com a sua encarnação vindo ao meio de nós, nascendo como um nós. Este dom de Deus para a sua Igreja põe-se «ao serviço do Bispo como uma das modalidades de prática diocesana da iniciação cristã e da educação permanente na fé» (Estatuto, art. 1 § 2). Como vos recordava o meu predecessor, Servo de Deus Paulo VI, no primeiro encontro realizado convosco em 1974, tal serviço «poderá renovar nas comunidades cristãs de hoje aqueles efeitos de maturidade e de aprofundamento, que na Igreja primitiva eram realizados a partir do período de preparação para o baptismo» (Insegnamenti di Paolo VI, XII [1974], 406).

Nos últimos anos foi empreendido com benefício o processo de redacção do Estatuto do Caminho Neocatecumenal que, depois de um côngruo período de validade «ad experimentum», recebeu a sua aprovação definitiva em Junho de 2008. Outro passo significativo foi dado nestes dias com a aprovação, por obra dos competentes Dicastérios da Santa Sé, do «Directório catequético do Caminho Neocatecumenal». Mediante estas confirmações eclesiais, o Senhor corrobora hoje e confia-vos novamente este instrumento precioso que é o Caminho, de tal modo que, em obediência filial à Santa Sé e aos Pastores da Igreja, possais contribuir com novos impulso e fervor, para a redescoberta radical e jubilosa do dom do Baptismo e oferecer a vossa contribuição original para a causa da nova evangelização. A Igreja reconheceu no Caminho Neocatecumenal um dom particular, suscitado pelo Espírito Santo: como tal, ele tende naturalmente a inserir-se na grande harmonia do Corpo eclesial. Nesta luz, exorto-vos a procurar sempre uma profunda comunhão com os Pastores e com todos os componentes das Igrejas particulares e dos contextos eclesiais, bastante diversificados, em que sois chamados a agir. Com efeito, a comunhão fraterna entre os discípulos de Jesus é o primeiro e maior testemunho em nome de Jesus Cristo.

Estou particularmente feliz por enviar hoje, para várias regiões do mundo, mais de duzentas novas famílias, que se tornaram disponíveis com grande generosidade e partem para a missão, unindo-se idealmente às cerca de seiscentas que já trabalham nos cinco Continentes. Amadas famílias, a fé que recebestes como dom seja aquela luz posta sobre o candelabro, capaz de indicar aos homens o caminho do Céu. Com o mesmo sentimento, enviarei treze novas «missiones ad gentes», que serão chamadas a realizar uma nova presença eclesial em ambientes muito secularizados de vários países, ou em lugares aonde a mensagem de Cristo ainda não chegou. Possais sentir sempre ao vosso lado a presença viva do Senhor Ressuscitado, o acompanhamento de muitos irmãos, assim como a oração do Papa, que está convosco!

Saúdo com afecto os Presbíteros, provenientes dos Seminários diocesanos «Redemptoris Mater» da Europa, e os mais de dois mil Seminaristas aqui presentes. Caríssimos, vós sois um sinal especial e eloquente dos frutos de bem que podem nascer da redescoberta da graça do próprio Baptismo. Nós olhamos para vós com esperança particular: sede sacerdotes apaixonados por Cristo e pela sua Igreja, capazes de transmitir ao mundo a alegria de ter encontrado o Senhor e de poder estar ao seu serviço.

Saúdo inclusive os catequistas itinerantes e aqueles das Comunidades neocatecumenais de Roma e do Lácio e, com carinho especial, as «communitates in missionem». Vós abandonastes, por assim dizer, as seguranças das vossas comunidades de origem e partistes para lugares mais distantes e incómodos, aceitando ser enviados para ajudar paróquias em dificuldade e para ir em busca da ovelha perdida e para a restituir ao aprisco de Cristo. Nos sofrimentos ou na aridez que podeis experimentar, vós sentis que estais unidos ao sofrimento de Cristo na cruz, bem como ao seu desejo de alcançar muitos irmãos distantes da fé e da verdade, para os levar novamente à casa do Pai.

Como escrevi na Exortação Apostólica Verbum Domini, «a missão da Igreja não pode ser considerada como realidade facultativa ou suplementar da vida eclesial. Trata-se de deixar que o Espírito Santo nos assimile ao próprio Cristo […] de modo a comunicar a Palavra com a vida inteira» (n. 93). Todo o Povo de Deus é um povo «enviado», e o anúncio do Evangelho constitui um compromisso de todos os cristãos, como consequência do Baptismo (cf. ibid., n. 94). Convido-vos a meditar sobre a Exortação Verbum Domini, ponderando de maneira particular onde, na terceira parte do Documento, se fala sobre «A missão da Igreja: anunciar a palavra de Deus ao mundo» (cf. nn. 90-98). Caros amigos, sintamo-nos partícipes no anseio de salvação do Senhor Jesus, na missão que Ele confia a toda a Igreja. A Bem-Aventurada Virgem Maria, que inspirou o vosso Caminho e que vos concedeu a Família de Nazaré como modelo das vossas comunidades, vos permita viver a vossa fé em humildade, simplicidade e louvor, interceda por todos vós e vos acompanhe na vossa missão. Vos sustente também a minha Bênção, que de coração vos concedo, bem como a todos os membros do Caminho Neocatecumenal espalhados pelo mundo.




AOS DIRIGENTES E AGENTES DO COMANDO DE POLÍCIA DE ROMA Sala das Bênçãos Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2011

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Ilustre Senhor
Comandante da Polícia
Gentis Dirigentes e Funcionários
Prezados Agentes e Empregados
civis da Polícia de Estado

Estou verdadeiramente feliz por este encontro convosco e dou-vos as boas-vindas à Casa de Pedro, desta vez não para o serviço, mas para nos vermos, falarmos e cumprimentarmos de modo mais familiar! Saúdo em particular o Senhor Comandante da Polícia, agradecendo-lhe as suas amáveis palavras, assim como os outros Dirigentes e o Capelão. Dirijo uma cordial saudação aos vossos familiares, especialmente aos vossos filhos!

Antes de tudo, desejo agradecer-vos todo o trabalho que levais a cabo a favor da cidade de Roma, da qual sou o Bispo, para que a sua vida progrida na ordem e na segurança. Manifesto o meu reconhecimento também pelo compromisso suplementar que muitas vezes as minhas actividades exigem de vós! A época em que vivemos está permeada de profundas transformações. Também Roma, que justamente é chamada «cidade eterna», mudou muito e desenvolve-se; experimentamo-lo todos os dias, e vós sois testemunhas privilegiadas disto. Por vezes, estas mudanças geram um sentido de insegurança, em primeiro lugar devido à precariedade social e económica, contudo aumentada também por um certo debilitamento da percepção dos princípios éticos sobre os quais se fundamenta o direito e das atitudes morais pessoais, que sempre dão vigor a tais ordenamentos.

Com todas as suas novas esperanças e possibilidades, o nosso mundo é permeado, ao mesmo tempo, pela impressão de que o consenso moral esvaece e que, por conseguinte, as estruturas que estão na base da convivência já não conseguem funcionar plenamente. Portanto, muitos sentem a tentação de pensar que, no final, as forças mobilizadas para a defesa da sociedade civil estão destinadas ao malogro. Diante desta tentação nós, de modo particular nós que somos cristãos, temos a responsabilidade de encontrar uma renovada determinação na profissão da fé e no cumprimento do bem, para continuar com coragem a estar próximos dos homens nas suas alegrias e nos seus sofrimentos, tanto nas horas felizes como nos momentos obscuros da existência terrena.

Nos nossos dias, dá-se grande importância à dimensão subjectiva da existência. Por um lado, isto é um bem, porque permite colocar o homem e a sua dignidade no centro da consideração, tanto no pensamento como na evolução histórica. No entanto, nunca devemos esquecer que o homem encontra a sua profundíssima dignidade no olhar amoroso de Deus, na referência a Ele. A atenção à dimensão subjectiva constitui também um bem, quando se põe em evidência o valor da consciência humana. Mas aqui encontramos um grave risco, porque no pensamento moderno se tem desenvolvido uma visão redutiva da consciência, segundo a qual não existem referências objectivas na determinação daquilo que é válido e verdadeiro, mas é cada indivíduo que, com as suas intuições e as suas experiências, constitui o parâmetro de medida; portanto, cada qual possui a sua verdade, a sua moral. A consequência mais evidente é que a religião e a moral tendem a ser confinadas ao âmbito do sujeito, do particular: ou seja, a fé com os seus valores e os seus comportamentos já não teriam direito a ocupar um lugar na vida pública e civil. Por conseguinte, se por um lado na sociedade se dá grande importância ao pluralismo e à tolerância, por outro, a religião tende a ser progressivamente marginalizada e considerada irrelevante e num certo sentido, alheia ao mundo civil, como se tivesse que limitar a sua influência sobre a vida do homem.

Ao contrário, para nós cristãos, o verdadeiro significado da «consciência» é a capacidade que o homem tem de reconhecer a verdade e, antes ainda, a possibilidade de ouvir o seu apelo, de a procurar e encontrar. É necessário que o homem saiba abrirse à verdade e ao bem, para os poder acolher de modo livre e consciente. De resto, a pessoa humana é expressão de um desígnio de amor e de verdade: Deus «programou-a», por assim dizer, com a sua interioridade e a sua consciência, a fim de que ela possa haurir daí as orientações para se conservar e para se cultivar a si mesma e a sociedade humana.

Os novos desafios que se apresentam no horizonte exigem que Deus e o homem voltem a encontrar-se, que a sociedade e as instituições públicas reencontrem a sua «alma», as suas raízes espirituais e morais, para dar uma nova consistência aos valores éticos e jurídicos de referência e, portanto, à acção concreta. A fé cristã e a Igreja nunca cessam de oferecer a própria contribuição para a promoção do bem comum e de um progresso autenticamente humano. O próprio serviço religioso e de assistência espiritual que, em virtude das disposições normativas em vigor, o Estado e a Igreja se comprometem a oferecer inclusive aos funcionários da Polícia de Estado, dá testemunho da fecundidade perene deste encontro.

Hoje a vocação singular da cidade de Roma exige que vós, oficiais públicos, ofereçais um bom exemplo de interacção positiva e profícua entre laicidade sadia e fé cristã. Com efeito, a eficácia do vosso serviço é o fruto da combinação entre a profissionalidade e a qualidade humana, entre a actualização dos meios e dos sistemas de segurança e a bagagem de dotes humanos como a paciência, a perseverança no bem, o sacrifício e a disponibilidade da escuta. Tudo isto, bem harmonizado, beneficia os cidadãos, especialmente as pessoas em dificuldade. Sabei considerar sempre o homem como o fim, para que todos possam viver de maneira autenticamente humana. Como Bispo desta cidade, gostaria de vos convidar a ler e meditar a Palavra de Deus, para encontrar nela a fonte e o critério de inspiração para o vosso trabalho.

Estimados amigos, quando vos encontrais em serviço pelas ruas de Roma, ou nos vossos escritórios, pensai que o vosso Bispo, o Papa, reza por vós, que ele vos quer bem! Agradeço-vos a visita e confio todos vós à salvaguarda de Maria Santíssima e do Arcanjo São Miguel, vosso padroeiro celestial, enquanto concedo de coração a todos vós e ao vosso compromisso uma especial Bênção apostólica.




Discursos Bento XVI 14111