Discursos Bento XVI 7512

AOS NOVOS RECRUTAS DA GUARDA SUÍÇA PONTIFÍCIA, E SEUS FAMILIARES, POR OCASIÃO DO JURAMENTO Sala Clementina Segunda-feira, 7 de Maio de 2012

7512


Senhor Comandante
Monsenhor Capelão
Estimados oficiais
e membros da Guarda Suíça, ilustres hóspedes
Queridos irmãos e irmãs!

Desejo dirigir a todos vós uma cordial saudação. Em particular dou as boas-vindas aos recrutas, que hoje estão circundados pelos seus pais, parentes e amigos; assim como aos Representantes das Autoridades suíças, que vieram para esta feliz circunstância. Vós, queridos Guardas, tendes o privilégio de trabalhar durante alguns anos no centro da cristandade e de viver na «Cidade Eterna». Os vossos familiares, e quantos quiseram partilhar convosco estes dias de festa, associaram a sua participação na cerimónia de juramento a uma peregrinação aos Túmulos dos Apóstolos. A todos desejo que façam aqui em Roma a singular experiência da universalidade da Igreja e fortaleçam e aprofundem a fé, sobretudo com os momentos de oração e com os encontros que caracterizam estes dias.

As funções que a Guarda Suíça desempenha constituem um serviço directo ao Sumo Pontífice e à Sé Apostólica. Por conseguinte, é motivo de profundo apreço o facto de que jovens escolham consagrar alguns anos da sua existência em total disponibilidade ao Sucessor de Pedro e aos seus colaboradores. O vosso trabalho insere-se no sulco de uma indiscutível fidelidade ao Papa, que se tornou heróica por ocasião do «Saque de Roma» de 1527 quando, a 6 de Maio, os vossos predecessores sacrificaram a sua vida. O serviço peculiar da Guarda Suíça não podia naquela época, assim como também hoje, realizar-se sem aquelas características que distinguem cada componente do Corpo: firmeza na fé católica, fidelidade e amor à Igreja de Jesus Cristo, diligência e perseverança nas tarefas quotidianas pequenas e grandes, coragem e humildade, altruísmo e disponibilidade. O vosso coração deve estar cheio destas virtudes, quando prestais o serviço de honra e de segurança no Vaticano.

Prestai atenção uns aos outros, para vos apoiardes no trabalho quotidiano e para vos edificardes reciprocamente, e conservai o estilo de caridade evangélica em relação às pessoas que todos os dias encontrais. Na Sagrada Escritura o convite ao amor ao próximo está relacionado com o mandamento de amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (cf.
Mc 12,29-31). Para dar amor aos irmãos é necessário obtê-lo da fornalha da caridade divina, graças a pausas prolongadas de oração, à escuta constante da Palavra de Deus, e a uma existência totalmente centrada no mistério da Eucaristia.

Por conseguinte, o segredo da eficácia do vosso trabalho aqui no Vaticano, assim como de qualquer vosso projecto é a referência constante a Cristo. Este é também o testemunho de não poucos dos vossos predecessores, que se distinguiram não só no desempenho do seu trabalho, mas também no compromisso de vida cristã. Alguns foram chamados a seguir o Senhor no caminho do sacerdócio ou da vida consagrada, e responderam com prontidão e entusiasmo. Outros, ao contrário, coroaram felizmente a sua vocação conjugal com o sacramento do Matrimónio. Dou graças a Deus, fonte de todo o bem, pelos diversos dons e pelas várias missões que vos confia, e rezo para que também vós, que iniciais o vosso serviço, possais responder plenamente à chamada de Cristo, seguindo-o com generosidade fiel.

Queridos amigos! Aproveitai o tempo que transcorreis aqui em Roma, para crescer na amizade com Cristo, para amar cada vez mais a sua Igreja e para caminhar rumo à meta de cada vida verdadeiramente cristã: a santidade.

Ajude-vos a Virgem Maria, que honramos de modo especial no mês de Maio, a experimentar sempre mais aquela profunda comunhão com Deus, que para nós crentes começa na terra e será completada no Céu. De facto, somos chamados, como recorda são Paulo, a ser «concidadãos dos santos e membros da casa de Deus» (Ep 2,19). Com estes sentimentos, garanto-vos a minha recordação constante na oração e de coração concedo a cada um de vós a Bênção Apostólica.



A UMA DELEGAÇÃO DO CONGRESSO JUDAICO LATINO-AMERICANO Quinta-feira, 10 de Maio de 2012

10512
Sala dos Papas

Queridos amigos judeus!

É com prazer que dou as boas-vindas a esta delegação do Congresso Judaico Latino-Americano. O nosso encontro é particularmente significativo, pois sois o primeiro grupo que representa organizações e comunidades judaicas na América Latina, que recebo aqui no Vaticano. Em toda a América Latina, especialmente na Argentina e no Brasil, existem comunidades judaicas dinâmicas, que vivem juntamente com uma grande maioria de católicos. A partir dos anos do Concílio Vaticano ii, as relações entre judeus e católicos fortaleceram-se também na vossa região, e existem diversas iniciativas que continuam a intensificar a amizade recíproca.

Como sabeis, no próximo mês de Outubro celebrar-se-á o cinquentenário do início do Concílio Vaticano II, cuja Declaração Nostra Aetate continua a ser a base e o guia nos nossos esforços para promover maiores compreensão, respeito e cooperação entre as nossas duas comunidades. Esta Declaração não só tomou uma posição firme contra qualquer forma de anti-semitismo, mas sentou também os alicerces para uma nova valorização teológica da relação da Igreja com o judaísmo, e manifestou a sua confiança no facto de que a apreciação da herança espiritual compartilhada pelos cristãos e judeus levaria à uma compreensão e estima recíproca cada vez maior (n. 4).

Ao considerar os progressos realizados nos últimos cinquenta anos de relações entre judeus e católicos no mundo inteiro, não podemos deixar de dar graças ao Omnipotente por este sinal evidente da sua bondade e providência. Com o crescimento da confiança, do respeito e da boa vontade, grupos que inicialmente se relacionavam com uma certa desconfiança, gradualmente tornaram-se parceiros confiáveis e amigos, inclusive bons amigos, capazes de enfrentar juntos as crises e de superar os conflitos de maneira positiva. Certamente, há ainda muito para fazer a fim de superar os obstáculos do passado, promover melhor as relações entre as nossas duas comunidades, e responder aos desafios que os crentes enfrentam cada vez mais no mundo actual. Contudo, o facto de estarmos comprometidos a percorrer juntos o caminho do diálogo, da reconciliação e da cooperação, é uma razão para dar graças.

Queridos amigos, num mundo cada vez mais ameaçado pela perda dos valores espirituais e morais, que são os que podem garantir o respeito da dignidade humana e a paz duradoura, um diálogo sincero e respeitoso entre religiões e culturas é crucial para o futuro da nossa família humana. Espero que esta visita de hoje seja fonte de encorajamento e confiança renovada no momento de enfrentar o desafio de construir os vínculos de amizade e de colaboração cada vez mais fortes, e dar testemunho profético da força da verdade de Deus, da justiça e do amor reconciliador, para o bem de toda a humanidade.

Com estes sentimentos, queridos amigos, peço ao três vezes Santo que abençoe a vós e às vossas famílias com abundantes dons espirituais e guie os vossos passos ao longo do caminho da paz. Shalom elichém.





AOS MEMBROS DO PONTIFÍCIO COLÉGIO ESPANHOL SÃO JOSÉ EM ROMA, 10 de Maio de 2012

10522
Sala Clementina

Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
Querido senhor reitor superiores,
religiosas e estudantes
do Pontifício Colégio Espanhol São José em Roma

É para mim motivo de alegria receber-vos por ocasião da comemoração do cinquentenário da sede actual do Pontifício Colégio Espanhol de São José, e precisamente na memória litúrgica de são João de Ávila, padroeiro do clero secular espanhol, que proximamente declararei Doutor da Igreja universal. Saúdo o Senhor Cardeal Antonio María Rouco Varela, Arcebispo de Madrid e Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, ao qual agradeço as amáveis palavras, assim como aos Senhores Arcebispos membros do Padroado, ao senhor reitor, aos formadores, às religiosas e a vós, queridos estudantes.

Este aniversário marca uma etapa importante no âmbito do já longo itinerário deste Colégio, iniciado no final do século XIX, quando o beato Manuel Domingo y Sol, fundador da Fraternidade dos Sacerdotes Operários Diocesanos, empreendeu a aventura de criar um Colégio em Roma, com a bênção do meu venerado predecessor, Leão XIII, e com o interesse do Episcopado espanhol.

Milhares de seminaristas e sacerdotes, que serviram a Igreja na Espanha com profundo amor e fidelidade à sua missão, passaram pelo vosso Colégio. A formação específica dos sacerdotes foi sempre uma das maiores prioridades da Igreja. Enviados a Roma a fim de aprofundar os vossos estudos sacerdotais, deveis pensar sobretudo, não tanto no vosso bem pessoal, mas no serviço ao povo santo de Deus, que necessita de pastores capazes de se entregar ao bonito serviço de santificação dos fiéis com grande preparação e competência.

Contudo, recordai-vos que o sacerdote renova a sua vida e adquire força para o seu ministério da contemplação da Palavra divina e do diálogo intenso com o Senhor. Está consciente de que não poderá levar os seus irmãos a Cristo, nem encontrá-lo nos pobres e nos enfermos, se não O descobrir antes na oração fervorosa e constante. É necessário promover a relação pessoal com Aquele que depois se anuncia, celebra e comunica. Aqui encontra-se o fundamento da espiritualidade sacerdotal, até chegar a ser sinal transparente e testemunho vivo do Bom Pastor. O itinerário da formação sacerdotal é também uma escola de comunhão missionária: com o Sucessor de Pedro, o bispo e o próprio presbitério, e sempre ao serviço da Igreja particular e universal.

Queridos sacerdotes, que a vida e a doutrina do Santo Mestre João de Ávila iluminem e apoiem a vossa estadia no Pontifício Colégio Espanhol São José. O seu conhecimento profundo da Sagrada Escritura, dos santos Padres, dos concílios, das fontes litúrgicas e da teologia saudável, juntamente com o seu amor fiel e filial pela Igreja, tornou-o um autêntico renovador, numa época difícil da história da Igreja. Precisamente por isso, foi um «espírito clarividente e vigoroso, que acrescentou à denúncia dos males, à sugestão de soluções canónicas, uma escola de intensa espiritualidade» (Paulo VI, Homilia durante a canonização de são Ávila, 31 de Maio de 1970).

O ensino central do Apóstolo da Andaluzia é o mistério de Cristo, Sacerdote e Bom Pastor, vivido em sintonia com os sentimentos do Senhor, à imitação de são Paulo (cf.
Ph 2,5). «Neste espelho sacerdotal tem que se olhar o sacerdote para se conformar com Ele nas aspirações e nas orações» (Tratado sobre o sacerdócio, 10). O sacerdócio requer essencialmente a sua ajuda e amizade: «Esta comunicação do Senhor com o sacerdote... é uma relação entre amigos», disse o Santo (Ibid, 9).

Portanto, animados pelas virtudes e pelo exemplo de são João de Ávila, convido-vos a exercer o vosso ministério presbiteral com o mesmo fervor apostólico que o caracterizava, com a sua própria austeridade de vida, assim como com o mesmo afecto filial que sentia pela santíssima Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes.

Com o afectuoso título «Mater clementissima» foram numerosos os estudantes que a Ela confiaram a sua vocação, os seus estudos, os seus anseios e projectos mais nobres, como também as suas tristezas e preocupações. Não deixeis de invocá-la todos os dias, nem vos canseis de repetir o seu nome com devoção. Escutai são João de Ávila, o qual exortava os sacerdotes a imitá-la: «Olhemo-nos, padres, da cabeça aos pés, alma e corpo, e ver-nos-emos semelhantes à Virgem Maria, que com as suas palavras trouxe Deus no seu ventre... E o sacerdote trá-lo com as palavras da consagração» (I Pregação com os sacerdotes). A mãe de Cristo é o exemplo daquele amor que impele a dar a vida pelo Reino de Deus, sem esperar nada em troca.

Que, sob a protecção de Nossa Senhora, a comunidade do Pontifício Colégio Espanhol em Roma possa continuar a alcançar os seus objectivos de aprofundamento e actualização dos estudos eclesiásticos, no clima de profunda comunhão presbiteral e grande rigor científico que o distingue, a fim de realizar, desde já, a fraternidade íntima exigida pelo Concílio Vaticano II «em virtude da comunidade sagrada de ordenação e missão» (Lumen gentium LG 28). Deste modo, formar-se-ão pastores que, como reflexo da vida de Deus Amor, uno e trino, servirão os seus irmãos com rectidão de intenções e dedicação total, promovendo a unidade da Igreja e o bem de toda a sociedade humana.

Com estes votos, concedo uma Bênção Apostólica especial, que com prazer estendo aos vossos familiares, às comunidades de origem e a quantos colaboram no vosso itinerário de formação durante a vossa estada em Roma. Obrigado!





AOS MEMBROS DAS PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS Sexta-feira, 11 de Maio de 2012

11522
Sala Clementina


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio prezados irmãos e irmãs

Dirijo a todos vós a minha cordial saudação, a começar pelo Senhor Cardeal Fernando Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, a quem agradeço as amáveis expressões e as informações a respeito da actividade das Pontifícias Obras Missionárias. Dirijo o meu pensamento grato ao Secretário, D. Savio Hon Tai-Fai, ao Secretário Adjunto, D. Piergiuseppe Vacchelli, Presidente das Pontifícias Obras Missionárias, aos Directores Nacionais e a todos os colaboradores, assim como a quantos prestam o seu serviço generoso no Dicastério. Neste momento eu e todos vós dirigimos o pensamento a Padre Massimo Cenci, Subsecretário, falecido repentinamente. O Senhor o recompense por todo o trabalho por ele levado a cabo na missão e ao serviço da Santa Sé.

O encontro hodierno realiza-se no contexto da Assembleia anual do Conselho Superior das Pontifícias Obras Missionárias, ao qual está confiada a cooperação missionária de todas as Igreja do mundo.

A evangelização, que sempre tem carácter de urgência, nesta época impele a Igreja a agir com um passo ainda mais rápido ao longo dos caminhos do mundo, para levar cada homem ao conhecimento de Cristo. Com efeito somente na Verdade, que é o próprio Cristo, a humanidade pode descobrir o sentido da existência, encontrar a salvação e prosperar na justiça e na paz. Cada homem, cada povo tem direito a receber o Evangelho da verdade. Nesta perspectiva, o vosso compromisso por celebrar o Ano da Fé, já próximo, para fortalecer o empenhamento de propagação do Reino de Deus e de conhecimento da fé cristã adquire um significado particular. Isto exige, da parte daqueles que já encontraram Jesus Cristo, «uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo» (Carta Apostólica Porta Fidei, 6). Com efeito, as comunidades cristãs «têm necessidade de ouvir de novo a voz do Esposo, que as convida à conversão, desafia-as a ousarem coisas novas e chama-as a comprometerem-se na grande obra da “nova evangelização”» (João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa, 23). Jesus, o Verbo Encarnado, constitui sempre o centro do anúncio, o ponto de referência para o seguimento e para a própria metodologia da missão evangelizadora, porque Ele é o rosto humano de Deus, que quer encontrar cada homem e cada mulher, para os fazer entrar em comunhão com Ele, no seu amor. Percorrer as estradas do mundo para proclamar o Evangelho a todos os povos da terra e para os guiar ao encontro do Senhor (cf. Carta Apostólica Porta Fidei, 7), exige então que o anunciador mantenha uma relação pessoal e quotidiana com Cristo, que O conheça e O ame profundamente.

Hoje a missão tem necessidade de renovar a confiança na acção de Deus; precisa de uma oração mais intensa, a fim de que venha a nós o seu Reino, para que seja feita a sua vontade, assim na terra como no Céu. É necessário invocar luz e força do Espírito Santo, e comprometer-se com determinação e generosidade para inaugurar, num certo sentido, «um novo tempo de anúncio do Evangelho... porque, depois de dois mil anos, uma grande parte da família humana ainda não reconhece Cristo, mas também porque a situação em que a própria Igreja e o mundo se encontram, no limiar do novo milénio, está particularmente modificada quanto à crença religiosa» (João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Asia ). Portanto, é com muito prazer que encorajo o projecto da Congregação para a Evangelização dos Povos e das Pontifícias Obras Missionárias, em apoio ao Ano da Fé. Tal projecto prevê uma campanha mundial que, através da recitação do Santo Rosário, acompanhe a obra de evangelização no mundo e, para numerosos baptizados, a redescoberta e o aprofundamento da fé.

Caros amigos vós sabeis bem que, não poucas vezes, o anúncio do Evangelho comporta dificuldades e sofrimentos; com efeito, o crescimento do Reino de Deus no mundo verifica-se, não raro, à custa do sangue dos seus servos. Nesta fase de mudanças económicas, culturais e políticas, onde muitas vezes o ser humano se sente só, à mercê da angústia e do desespero, os mensageiros do Evangelho, embora sejam anunciadores de esperança e de paz, continuam a ser perseguidos como o seu Mestre e Senhor. Mas não obstante os problemas e a trágica realidade da perseguição, a Igreja não desanima, e permanece fiel ao mandato do seu Senhor, na consciência de que «como sempre na história cristã, os “mártires”, isto é as testemunhas, são numerosas e indispensáveis no caminho do Evangelho» (João Paulo II, Redemptoris missio
RMi 45). A mensagem de Cristo, tanto hoje como ontem, não pode adaptar-se à lógica deste mundo, porque é profecia e libertação, é semente de uma humanidade renovada que cresce, e só no fim dos tempos alcançará a sua plena realização.

A vós é confiada, de maneira particular, a tarefa de apoiar os ministros do Evangelho, ajudando-os a «conservar a alegria de evangelizar, mesmo que seja preciso semear com lágrimas!» (cf. Paulo VI, Exortação Apostólica Evangeli nuntiandi, 80). O vosso compromisso peculiar é também manter viva a vocação missionária de todos os discípulos de Cristo, para que todos, em conformidade com o carisma recebido do Espírito Santo, possam participar na missão universal confiada pelo Ressuscitado à sua Igreja. A vossa obra de animação e formação missionária faz parte do cerne da cura pastoral, porque a missio ad gentes constitui o paradigma de toda a obra apostólica da Igreja. Sede expressão cada vez mais visível e concreta da comunhão de pessoas e de meios entre as Igrejas que, como vasos comunicantes, vivem a mesma vocação e tensão missionárias, e em cada recanto da terra trabalham para semear o Verbo de Verdade em todos os povos e culturas. Estou certo de que continuareis a comprometer-vos, a fim de que as Igrejas locais assumam, cada vez mais generosamente, a sua parte de responsabilidade na missão universal da Igreja.

Acompanhe-vos neste serviço a Virgem Santíssima, Rainha das Missões, e sustente cada um dos vossos esforços de promoção da consciência e de colaboração missionária. Com estes bons votos, que tenho sempre presentes nas minhas orações, agradeço-vos, bem como a quantos cooperam para a causa da evangelização e, de coração, concedo a cada um a Bênção Apostólica.



NO FINAL DO CONCERTO OFERECIDO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ITALIANA POR OCASIÃO DO VII ANIVERSÁRIO DE PONTIFICADO Sala Paulo VI

Sexta-feira, 11 de Maio de 2012

11532

Senhor Presidente da República
Senhores Cardeais
Ilustres Ministros e Autoridades
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Gentis Senhores e Senhoras

Dirijo uma profunda e deferente saudação ao Presidente da República italiana, Ilustre Senhor Giorgio Napolitano, e à sua gentil Senhora, e manifesto o meu sincero agradecimento pelas palavras cordiais, pelos dons de um violino e de uma partitura valiosa, e por este Concerto de música sacra de dois grandes autores italianos; trata-se de sinais que manifestam, mais uma vez, o vínculo entre o Sucessor de Pedro e esta amada Nação. Uma saudação ao Presidente do Conselho, Senador Mario Monti, e a todas as Autoridades. Um agradecimento sincero à Orquestra e ao Coro do Teatro da Ópera de Roma, às duas Sopranos, e sobretudo ao Maestro Riccardo Muti pela intensa interpretação e execução. A sensibilidade do Maestro Muti pela música sacra é conhecida, assim como o seu compromisso a fim de que seja mais conhecido este rico repertório que exprime musicalmente a fé da Igreja. Também por isto tenho o prazer de lhe conferir uma honorificência pontifícia. Expresso gratidão ao Município de Cremona, ao Centro de Musicologia «Walter Stauffer» e à Fundação «Antonio Stradivari — La Triennale» por ter posto à disposição das primeiras partes da Orquestra alguns instrumentos antigos e preciosos das próprias colecções.

Antonio Vivaldi é um grande representante da tradição musical veneziana. Dele, quem não conhece pelo menos as Quatro Estações? Mas ainda é pouco conhecida a sua produção sacra, que ocupa um lugar significativo na sua obra, e é de grande valor, sobretudo porque manifesta a sua fé. O Magnificat que ouvimos é o canto de louvor de Maria e de todos os humildes de coração, que reconhecem e celebram com alegria e gratidão a obra de Deus na própria vida e na história; de Deus, que tem um «estilo» diferente daquele do homem, porque se põe da parte dos últimos para infundir esperança. E a música de Vivaldi expressa o louvor, a exultação, a acção de graças e também a admiração diante da obra de Deus, com uma extraordinária riqueza de sentimentos: do solene coral no início, em que é toda a Igreja que louva ao Senhor, ao jubiloso «Et exultavit», ao lindíssimo momento coral do «Et misericordia» no qual se detém com harmonias audazes, ricas de modulações repentinas, para nos convidar a meditar acerca da misericórdia de Deus, que é fiel e se estende por todas as gerações.

Com as duas peças sacras de Giuseppe Verdi, que nós ouvimos, a tonalidade muda: encontramo-nos diante da dor de Maria aos pés da Cruz: Stabat Mater Dolorosa. Dado que tinha indagado e expresso o drama de muitas personagens nas suas obras, aqui o grande operista italiano delineia o da Virgem que olha para o seu Filho na Cruz. A música torna-se essencial, quase se «agarra» às palavras para expressar do modo mais intenso possível o seu conteúdo, numa vasta gama de sentimentos. É suficiente pensar no dolente sentido de «piedade» com que tem início a Sequência, no dramático «Pro peccatis suae gentis», no sussurrado «dum emisit spiritum», às invocações corais repletas de emoção, mas também de tranquilidade, dirigidas a Maria, «fons amoris», para que possamos participar na sua dor materna e fazer arder o nosso coração de amor a Cristo, até à estrofe final, súplica intensa e poderosa a Deus para que seja concedida à alma a glória do Paraíso, aspiração derradeira da humanidade.

Inclusive o Te Deum é uma sequência de contrastes, mas a atenção de Verdi ao texto sagrado é minuciosa, a ponto de oferecer uma sua leitura diferente da tradição. Ele não vê tanto o canto das vitórias ou das coroações mas, como escreve, uma sequência de situações: a exultação inicial — «Te Deum», «Sanctus» — a contemplação do Cristo encarnado que liberta e abre o Reino dos Céus, a invocação ao «Judex venturus», para que tenha misericórdia, e finalmente o brado reiterado pela soprano e pelo coro, «In te, Domine speravi» con que se encerra a peça, quase como um pedido do próprio Verdi para ter esperança e luz na última fase da vida (cf. Giuseppe Verdi, Carta a Giovanni Tebaldini, 1 de Março de 1896). Aquelas que ouvimos esta tarde são as últimas duas peças escritas pelo compositor, não destinadas à publicação, mas escritas unicamente para ele mesmo; aliás, teria desejado ser sepultado com a partitura do Te Deum.

Caros amigos, faço votos a fim de que esta tarde possamos repetir a Deus, com fé: em Vós, Senhor, deposito com alegria a minha esperança, fazei com que vos ame com a vossa Santa Mãe para que à minha alma, no final do caminho, seja concedida a glória do Paraíso. Ao Senhor Presidente da República italiana, às solistas, aos complexos do Teatro da Ópera de Roma, ao Maestro Muti, aos organizadores e a todos os presentes, de novo obrigado! O Senhor vos abençoe, bem como os vossos entes queridos. Obrigado de coração!



VISITA PASTORAL A AREZZO, LA VERNA E SANSEPOLCRO

(13 DE MAIO DE 2012)


VISITA AO SANTUÁRIO DE LA VERNA Domingo, 13 de Maio de 2012

13512
Queridos Frades Menores
Estimadas filhas da Santa Madre Clara
Queridos irmãos e irmãs
O Senhor vos conceda a paz!

Contemplar a Cruz de Cristo! Subimos como peregrinos ao Sasso Spicco de La Verna onde «dois anos antes da sua morte» (Celano, Primeira Vida, III, 94: FF, 484) são Francisco teve impressas no seu corpo as chagas da paixão gloriosa de Cristo. O seu caminho de discípulo levou-o a uma união tão profunda com o Senhor que partilhou também os sinais exteriores do supremo acto de amor da Cruz. Um caminho iniciado em São Damião diante do Crucifixo contemplado com a mente e o coração. A meditação contínua da Cruz, neste lugar sagrado, foi caminho de santificação para tantos cristãos que, ao longo de oito séculos, aqui se ajoelharam para rezar no silêncio e no recolhimento.

A Cruz gloriosa resume os sofrimentos do mundo, mas é sobretudo sinal tangível do amor, medida da bondade de Deus em relação ao homem. Neste lugar também nós somos chamados a recuperar a dimensão sobrenatural da vida, a dirigir o olhar para além do que é contingente, para voltar a confiar-nos completamente ao Senhor, com o coração livre e em júbilo perfeito, contemplando o Crucificado para que nos atinja com o seu amor.

Altíssimo, omnipotente, bom Senhor, vossos são o louvor, a glória e a honra et omne benedictione» (Cântico do Irmão Sol: FF 263). Só deixando-se iluminar pela luz do amor de Deus, o homem e a natureza inteira podem ser resgatados, a beleza pode finalmente reflectir o esplendor do rosto de Cristo, como a lua reflecte o sol. Jorrando da Cruz gloriosa, o Sangue do Crucificado volta a vivificar os ossos áridos do Adão que está em nós, para que cada um encontre a alegria de se encaminhar rumo à santidade, de subir ao alto, rumo a Deus. Deste lugar abençoado, uno-me à oração de todos os franciscanos e franciscanas da terra: «Nós vos adoramos ó Cristo e vos bendizemos aqui e em todas as igrejas que estão no mundo, porque com a vossa santa cruz remistes o mundo».

Arrebatados pelo amor de Cristo! Não se vem a La Verna sem se deixar guiar pela oração de são Francisco do absorbeat, que reza: «Nós vos imploramos, ó Senhor, a fervorosa e doce força do teu amor arrebate a minha mente de todas as coisas que estão debaixo do céu, para que eu morra por amor do meu amor» (Oração «absorbeat», 1: FF 277). A contemplação do Crucificado é obra da mente, mas não consegue libertar-se para o alto sem o apoio, sem a força do amor. Neste mesmo lugar, frei Boaventura de Bagnoregio, insigne filho de são Francisco, projectou o seu Itinerarium mentis in Deum indicando-nos o caminho a ser percorrido para a meta na qual encontrar Deus. Este grande Doutor da Igreja comunica-nos a sua experiência, convidando-nos à oração. Antes de tudo, a mente deve estar orientada para a Paixão do Senhor, porque é o sacrifício da Cruz que elimina os nossos pecados, uma falta que só pode ser preenchida com o amor de Deus: «Exorto o leitor — escreve — antes de tudo ao gemido da oração por Cristo crucificado, cujo sangue lava as manchas das nossas culpas» (Itinerarium mentis in Deum, Pref. 4). Mas para que seja eficaz, a nossa oração precisa de lágrimas, ou seja, do envolvimento interior, do nosso amor que responda ao amor de Deus. E depois é necessária aquela admiratio, que são Boaventura vê nos humildes do Evangelho, capazes de admiração diante da obra salvífica de Cristo. E precisamente a humildade é a porta de qualquer virtude. De facto, não é com o orgulho intelectual da busca fechada em si mesma que é possível alcançar Deus, mas com a humildade, segundo uma célebre expressão de são Boaventura: «Não pense [o homem] que é suficiente a leitura sem a unção, a especulação sem a devoção, a busca sem a admiração, a consideração sem a exultação, a obra sem a piedade, a ciência sem a caridade, a inteligência sem a humildade, o estudo sem a graça divina, o espelho sem a sabedoria divinamente inspirada» (Ibidem).

A contemplação do Crucificado tem uma eficácia extraordinária, porque nos faz passar da ordem das coisas pensadas, à experiência vivida; da salvação esperada, à prática bem-aventurada. São Boaventura afirma: «Aquele que olha atentamente [para o Crucificado]... realiza com ele a páscoa, ou seja, a passagem» (Ibid., VII, 2). É este o centro da experiência de La Verna, da experiência que aqui fez o Pobrezinho de Assis. Neste Monte Sagrado, são Francisco vive em si mesmo a unidade profunda entre sequela, imitatio e conformatio Christi. E assim diz também a nós que não é suficiente declarar-nos cristãos para sermos cristãos, nem sequer procurarmos fazer obras boas. É necessário conformar-se com Jesus, com um lento, progressivo compromisso de transformação do próprio ser, à imagem do Senhor, para que, por graça divina, cada membro do Corpo d’Ele, que é a Igreja, mostre a semelhança necessária com a Cabeça, Cristo Senhor. E também neste caminho se começa — como nos ensinam os mestres medievais no seguimento do grande Agostinho — a partir do conhecimento de si mesmos, da humildade de olhar com sinceridade para o próprio íntimo.

Levar o amor de Cristo! Quantos peregrinos subiram e sobem a este Monte Sagrado para contemplar o Amor de Deus crucificado e para se deixar arrebatar por Ele. Quantos peregrinos subiram em busca de Deus, que é a verdadeira razão pela qual a Igreja existe: servir de ponte entre Deus e o homem. E aqui encontramos também a vós, filhos e filhas de são Francisco. Recorda-vos sempre de que a vida consagrada tem a tarefa específica de testemunhar, com a palavra e com o exemplo de uma vida segundo os conselhos evangélicos, a história fascinante de amor entre Deus e a humanidade, que atravessa a história.

A Idade Média franciscana deixou uma marca indelével nesta vossa Igreja de Arezzo. As repetidas travessias do Pobrezinho de Assis e o seu prolongar-se no vosso território são um tesouro precioso. A vicissitude de La Verna foi única e fundamental, devido à singularidade dos estigmas impressos no corpo do seráfico Padre Francisco, mas também à história colectiva dos seus frades e do vosso povo, que ainda redescobre, junto do Sasso Spicco, a centralidade de Cristo na vida do crente. Montauto de Anghiari, Le Celle de Cortona e as Ermidas de Montecasale e de Cerbaiolo, mas também outros lugares menores do franciscanismo na Toscana, continuam a marcar a identidade das Comunidades de Arezzo, Cortona e Sansepolcro. Tantas luzes iluminaram estas terras, como santa Margarida de Cortona, figura pouco conhecida de penitente franciscana, capaz de reviver em si mesma com extraordinária vivacidade o carisma do Pobrezinho de Assis, unindo a contemplação do Crucificado com a caridade pelos últimos. O amor a Deus e ao próximo continua a animar a obra preciosa dos franciscanos na vossa Comunidade eclesial. A profissão dos conselhos evangélicos é uma via-mestra para viver a caridade de Cristo. Neste lugar abençoado, peço ao Senhor que continue a enviar operários para a sua vinha e, sobretudo aos jovens, dirijo o urgente convite, para que todo aquele que é chamado por Deus responda com generosidade e tenha a coragem de se entregar à vida consagrada e ao sacerdócio ministerial.

Fiz-me peregrino a La Verna, como Sucessor de Pedro, e gostaria que cada um de nós voltasse a ouvir a pergunta de Jesus a Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?... Apascenta os Meus cordeiros» (
Jn 21,15). É o amor a Cristo que está na base da vida do Pastor, assim como da do consagrado; um amor que não receia o compromisso nem a fadiga. Levai este amor ao homem do nosso tempo, muitas vezes fechado no seu individualismo; sede sinal da misericórdia imensa de Deus. A piedade sacerdotal ensina aos sacerdotes a viver aquilo que se celebra, repartir a própria vida com quem encontramos: na partilha do sofrimento, na atenção aos problemas, no acompanhamento do caminho de fé.

Agradeço ao Ministro-Geral José Carballo as suas gentis palavras, a toda a Família franciscana e a todos vós. Perseverai, como o vosso Santo Padre, na imitação de Cristo, para que todos os que se encontrarem convosco encontrem são Francisco e encontrando são Francisco, encontrem o Senhor.



Discursos Bento XVI 7512