Discursos Bento XVI 13522

ENCONTRO COM A POPULAÇÃO Praça Torre di Berta, Sansepolcro Domingo, 13 de Maio de 2012

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Queridos irmãos e irmãs!

É-me grato estar em Sansepolcro e unir-me a vós em acção de graças a Deus pelo Milénio de fundação da Cidade, pelos prodígios de graça e por todos os benefícios que, ao longo de dez séculos, a Providência dispensou. Nesta Praça histórica, repitamos as palavras do Salmo responsorial de hoje: «Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele fez maravilhas... Aclamai o Senhor, terra inteira exultai de alegria e cantai hinos» (
Ps 97).

Queridos amigos de Sansepolcro, saúdo todos vós com afecto. Estou grato por este acolhimento. Não obstante o mau tempo, o nosso coração está repleto de luz, calor e alegria. Saúdo a todos, iniciando pelo Arcebispo D. Riccardo Fontana; saúdo também os sacerdotes, as pessoas consagradas e os fiéis leigos que se dedicam activamente ao apostolado. Dirijo um pensamento deferente às Autoridades civis e militares, especialmente à Presidente da Câmara Municipal, doutora Daniela Frullani, à qual agradeço as amáveis palavras que me transmitiu.

Há mil anos, os santos peregrinos Arcano e Egídio, perante as grandes transformações desse tempo, empreenderam o caminho rumo à Terra Santa em busca da verdade e do sentido da vida. Ao regressarem, trouxeram consigo não só as pedras recolhidas no monte Sião, mas a ideia especial que tinham elaborado na Terra de Jesus: construir no Alto Vale do Tibre a civitas hominis segundo a imagem de Jerusalém, cujo nome evoca justiça e paz. Um projecto que recorda a grande visão da história de Santo Agostinho na obra «A Cidade de Deus». Quando os Godos de Alarico entraram em Roma e o mundo pagão acusou o Deus dos Cristãos de não ter salvado a Cidade caput mundi, o Santo Bispo de Hipona explicou o que devemos esperar de Deus, a justa relação entre esfera política e religiosa. Ele vê na história a presença de dois amores: o «amor-próprio», que leva até à indiferença para com Deus e o próximo, e o «amor de Deus», que leva à plena liberdade pelos outros e a edificar uma cidade do homem governada pela justiça e pela paz (cf. A Cidade de Deus, XIV, 28).

Certamente, esta visão não era desconhecida aos fundadores de Sansepolcro. Eles projectaram um modelo de cidade estruturado e cheio de esperança no futuro, no qual os discípulos de Cristo eram chamados a ser o motor da sociedade na promoção da paz, através da prática da justiça. O seu desafio corajoso tornou-se realidade, com a perseverança de um caminho que, graças ao apoio primeiro do carisma benedetino e depois dos monges Camaldulenses, continuou por gerações. Foi necessário assumir um grande compromisso para fundar uma comunidade monástica e a seguir, à volta da Igreja abacial, a vossa cidade. Não foi apenas um projecto que marcou a urbanística da Aldeia de Sansepolcro, porque a própria colocação da Catedral tem um forte significado simbólico: é o ponto de referência, a partir do qual cada um pode orientar-se no caminho, mas sobretudo na vida; constitui um forte apelo a olhar para as alturas, a sair da quotidianidade, dirigir o olhar para o Céu, numa tensão constante para os valores espirituais e a comunhão com Deus, que não é alheio ao quotidiano, mas orienta-o e fá-lo viver de forma ainda mais intensa. Esta perspectiva é válida ainda hoje, para recuperar o entusiasmo da procura do «verdadeiro», para sentir a vida como um caminho que aproxima do «autêntico» e do «justo».

Queridos amigos, o ideal dos vossos fundadores chegou até aos nossos dias e constitui não só o eixo da identidade de Sansepolcro e da Igreja diocesana, mas também um desafio a conservar e promover o pensamento cristão, que está na origem desta Cidade. A celebração do Milénio é a ocasião para fazer uma reflexão que constitui, ao mesmo tempo, caminho interior no percurso da fé e compromisso a redescobrir as raízes cristãs, a fim de que os valores evangélicos continuem a fecundar as consciências e a história quotidiana de todos vós. Hoje, é fundamental que o serviço da Igreja no mundo se expresse através de fiéis leigos iluminados, capazes de agir na cidade do homem, com a vontade de servir independentemente do interesse privado e das visões particulares. O bem comum conta mais do que o bem do indivíduo, e cabe também aos cristãos contribuir para o nascimento de uma nova ética pública. A figura magnífica do novo beato Giuseppe Toniolo no-lo recorda. Os cristãos, sobretudo os jovens, são chamados a contrapor à desconfiança em relação ao empenho nos âmbitos político e social, o compromisso e o amor pela responsabilidade, animados pela caridade evangélica, que exige o não- fechamento em si mesmos, mas o cuidado do próximo. Aos jovens dirijo o convite a saber pensar em grande: tende a coragem de ousar! Estais preparados para dar novo sabor à sociedade civil inteira, com o sal da honestidade e do altruísmo abnegado. É necessário encontrar de novo motivações fortes para servir o bem dos cidadãos.

Esta antiga Aldeia deve enfrentar o desafio de harmonizar a redescoberta da sua identidade milenária com o acolhimento e a inclusão de culturas e sensibilidades diversas. São Paulo ensina-nos que a Igreja, mas também toda a sociedade, são como o corpo humano, onde cada membro é diferente do outro, mas todos contribuem para o bem do organismo (cf. 1Co 12,12-26). Dou graças a Deus porque a vossa Comunidade diocesana desenvolveu ao longo dos séculos uma abertura missionária fervorosa, como é testemunhado pela geminação com o Patriarcado Latino de Jerusalém. Tomei conhecimento com prazer que ela produziu frutos de colaboração e obras de caridade a favor dos irmãos mais necessitados na Terra Santa. Os antigos vínculos incentivaram os vossos antepassados a construir aqui uma cópia em pedra do Santo Sepulcro de Jerusalém, para tornar sólida a identidade dos habitantes e para manter viva a devoção e a oração pela Cidade Santa. Este vínculo continua e faz com que tudo o que diz respeito à Terra Santa seja sentido por vós como realidade que vos envolve; assim como em Jerusalém, o vosso nome e a presença de peregrinos da Diocese, tornaram activas as relações fraternas. A este respeito, estou convicto de que vos abrireis a novas perspectivas de solidariedade, proporcionando um impulso apostólico renovado ao serviço do Evangelho. Este será um dos resultados mais significativos das celebrações do jubileu da vossa Cidade.

Quero mencionar mais uma vez a Catedral, onde contemplei a beleza do «Sagrada Face». Esta Basílica é o lugar de louvor a Deus de toda a Cidade, a sede da harmonia reencontrada entre os momentos do culto e a vida cívica, o ponto de referência para a pacificação dos espíritos. E assim como os vossos padres souberam construir o maravilhoso templo de pedra, a fim de que seja sinal e apelo à comunhão de vida, cabe a vós tornar visível e crível o significado do edifício sagrado, vivendo em paz na comunidade eclesial e civil. Em pleno Renascimento, os «Biturgensi» pediram ao pintor Durante Alberti para representar Belém na Igreja matriz, a fim de que ninguém se esqueça que Deus está connosco, na pobreza do presépio. Conscientes do passado e atentos ao presente, mas também projectados para o futuro, vós cristãos da diocese de Arezzo-Cortona-Sansepolcro sabeis que o progresso espiritual das vossas comunidades eclesiais e a promoção do bem comum das comunidades civis requerem um empenho cada vez mais vital no território para uma inclusão das vossas paróquias e associações. Que o caminho percorrido e a fé que vos anima vos dê coragem e vigor para continuar. Ao olhar para o vosso rico património espiritual, sê uma Igreja viva ao serviço do Evangelho! Uma Igreja amistosa e generosa, que com o seu testemunho possa tornar presente o amor de Deus por cada ser humano, especialmente pelos sofredores e os necessitados.

Que a Virgem Santa, venerada especialmente neste mês de Maio, vele sobre cada um de vós e apoie os vossos esforços para um futuro melhor. Ó Maria, Rainha da Paz, escuta a nossa oração: torna-nos testemunhas do teu Filho Jesus e artífice incansável de justiça e de paz. Amém! Obrigado!



NO FINAL DA PROJECÇÃO DO FILME «MARIA DE NAZARÉ» Sala Clementina Quarta-feira, 16 de Maio de 2012

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Queridos amigos!

Obrigado a todos vós por este momento que convida a reflectir através das imagens e dos diálogos do filme «Maria de Nazaré». Agradeço em particular à RAI com a sua directora-geral, senhora Lorenza Lei, e aos demais representantes, assim como à «Lux Vide», com a família Bernabei e o grupo de produção.

Dirijo um cordial agradecimento ao director do Bayerischer Rundfunk, professor Gerhard Fuchs, ao produtor Martin Choroba, àTellux-Film-Gesellschaft de Munique, assim como a todos os que colaboraram, aos actores presentes e ao grupo dos operadores de câmara, por esta apresentação no Palácio Apostólico.

Agradeço também aos representantes da Telecinco da Espanha.

Não é fácil caracterizar a figura de uma mãe, porque contém uma riqueza de vida dificilmente descritível; e é ainda mais difícil se se trata de Maria de Nazaré, uma mulher que é Mãe de Jesus, do Filho de Deus feito homem.

Baseastes o filme sobre três figuras femininas, que cruzam as suas vidas, mas que fazem escolhas profundamente diversas. Herodíade permanece fechada em si mesma, no seu mundo, não consegue erguer o olhar para ler os sinais de Deus e não abandona o mal. Maria Madalena experimenta uma vicissitude mais complexa: é conquistada pelo fascínio de uma vida fácil, baseada nos objectos, e usa vários meios para alcançar as suas finalidades, é posta diante da sua vida e aqui o encontro com Jesus abre-lhe o coração, muda a sua existência. Mas o centro é Maria de Nazaré, nela encontra-se a riqueza de uma vida que foi um «Eis-me» a Deus: é uma mãe que desejaria ter sempre consigo o próprio Filho, mas sabe que Ele é de Deus; tem uma fé e um amor tão grandes que aceita que ele parta e cumpra a sua missão; é um repetir o «Eis-me» a Deus desde a Anunciação até à Cruz.

Três experiências, um paradigma de como se pode organizar a vida: sobre o egoísmo, sobre o fechamento em si mesmo e sobre as coisas materiais, deixando-se guiar pelo mal; ou sobre o sentido da presença de um Deus que veio e permanece no meio de nós e que nos espera com bondade se erramos e nos pede que o sigamos, que confiemos n’Ele. Maria de Nazaré é a mulher do «Eis-me» pleno e total à vontade divina, e neste «sim», repetido também diante do sofrimento da perda do Filho, encontra a bem-aventurança plena e profunda. Obrigado a todos por esta noite agradável!



AOS BISPOS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA DAS REGIÕES XIV E XV POR OCASIÃO DA «VISITA AD LIMINA APOSTOLORUM» Sexta-feira, 18 de Maio de 2012

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Prezados Irmãos Bispos!

Saúdo todos vós com afecto fraterno no Senhor. O nosso encontro hodierno conclui a série de visitas quinquenais ad limina Apostolorum dos Bispos dos Estados Unidos da América. Como sabeis, ao longo dos últimos seis meses desejei meditar convosco e com os vossos Irmãos Bispos sobre alguns desafios espirituais e culturais urgentes que se apresentam à Igreja no vosso país, que está a desempenhar a tarefa da nova evangelização.

É-me particularmente grato que este nosso encontro se realize na presença dos Bispos das várias Igrejas Orientais presentes nos Estados Unidos, uma vez que vós e os vossos fiéis encarnais de maneira singular a riqueza étnica, cultural e espiritual da comunidade católica americana, tanto do passado como do presente. Historicamente, a Igreja na América lutou para reconhecer e incorporar esta diversidade, e conseguiu, não sem dificuldade, forjar uma comunhão em Cristo e na fé apostólica, reflectindo a catolicidade que constitui uma marca indefectível da Igreja. Nesta comunhão, que encontra a sua fonte e o seu modelo no mistério do Deus Uno e Trino (cf. Lumen gentium
LG 4), a unidade e a diversidade são constantemente reconciliadas e corroboradas como sinal e sacramento da vocação última e do destino de toda a família humana.

Através dos nossos encontros, vós e os vossos Irmãos Bispos falastes insistentemente a respeito da importância de preservar, fomentar e promover esta dádiva da unidade católica como uma condição essencial para o cumprimento da missão da Igreja no vosso país. Neste discurso conclusivo, gostaria simplesmente de abordar dois pontos específicos, recorrentes nos nossos debates e que, juntamente convosco, considero cruciais para o exercício do vosso ministério de orientação do rebanho de Cristo, no meio das dificuldades e das oportunidades do momento presente.

Gostaria de começar elogiando os vossos esforços incessantes, segundo as melhores tradições da Igreja na América, para responder ao fenómeno duradouro da imigração no vosso país. A comunidade católica nos Estados Unidos continua, com grande generosidade, a receber vagas de novos imigrantes, a oferecer-lhes cuidados pastorais e assistência caritativa, bem como a promover modos de regularizar a sua situação, especialmente no que se refere à unificação das famílias. Um sinal particular disto é o compromisso de longa data da parte dos Bispos americanos em prol da reforma da imigração. Claramente, esta é uma questão difícil e complexa sob os pontos de vista civil e político, assim como social e económico, mas acima de tudo humano. Assim, ela constitui uma profunda preocupação para a Igreja, uma vez que exige a garantia de um tratamento justo e da salvaguarda da dignidade humana dos imigrantes.

Também nos nossos dias, a Igreja na América é chamada a abraçar, incorporar e cultivar o rico património de fé e cultura presente nos numerosos grupos de imigrantes na América, incluindo não só os pertencentes aos vossos próprios ritos, mas também o número crescente de católicos hispânicos, asiáticos e africanos. A exigente tarefa pastoral de promover uma comunhão de culturas no seio das vossas Igrejas locais deve ser considerada de importância particular no exercício do vosso ministério ao serviço da unidade (cf. Directório do ministério pastoral dos Bispos, n. 63). Esta diaconia de comunhão requer mais do que o simples respeito pela diversidade linguística, a promoção de tradições saudáveis e a oferta de programas e serviços sociais, hoje tão necessários. Ela exige também o compromisso permanente na pregação, na catequese e na actividade pastoral destinada a inspirar em todos os fiéis um sentido mais profunda da sua comunhão na fé apostólica e da sua responsabilidade pela missão da Igreja nos Estados Unidos. Também não se pode subestimar o significado deste desafio: a promessa imensa e as energias vibrantes de uma nova geração de católicos estão à espera de ser veiculadas para a renovação da vida da Igreja e para a reconstituição do tecido da sociedade americana.

Este compromisso de promoção da unidade católica é necessário não só para enfrentar os desafios positivos da nova evangelização, mas inclusive para contrastar as forças de desagregação no seio da Igreja, que representam um obstáculo cada vez mais grave para a sua missão nos Estados Unidos. Aprecio os esforços levados a cabo para encorajar os fiéis, individualmente e na variedade das associações católicas, a ir em frente juntos, falando em uníssono ao abordar as problemáticas urgentes do momento presente. Aqui, eu gostaria de reiterar o apelo sincero que dirigi aos católicos americanos durante a minha Visita Pastoral: «Só poderemos prosseguir, se juntos fixarmos o olhar em Cristo», e assim abraçarmos «aquela verdadeira renovação espiritual desejada pelo Concílio, a única renovação que pode revigorar a Igreja na santidade e na unidade indispensáveis para a proclamação eficaz do Evangelho no mundo de hoje» (Homilia na Catedral de São Patrício, Nova Iorque, 19 de Abril de 2008).

Durante os nossos diálogos, muitos de vós falaram sobre a vossa preocupação de construir relações de amizade, cooperação e confiança cada vez mais vigorosas com os vossos sacerdotes. Exorto-vos, também no tempo presente, a permanecerdes particularmente próximos dos homens e das mulheres, nas vossas Igrejas locais, que estão comprometidos no seguimento cada vez mais perfeito de Cristo, abraçando generosamente os conselhos evangélicos. Desejo confirmar a minha profunda gratidão pelo exemplo de fidelidade e abnegação oferecido por muitas mulheres consagradas no vosso país, e unir-me a elas em oração a fim de que este momento de discernimento produza frutos espirituais para a revitalização e o fortalecimento das suas comunidades, em fidelidade a Cristo e à Igreja, assim como aos seus carismas de fundação. A necessidade urgente, no nosso tempo, de um testemunho credível e atraente do poder redentor e transformador do Evangelho faz com que seja essencial resgatar o sentido da dignidade e beleza sublimes da vida consagrada, rezar pelas vocações religiosas e promovê-las de forma concreta, fortalecendo os canais já existentes para a comunicação e a cooperação, especialmente através do trabalho do Vigário ou do Delegado para os Religiosos, em cada Diocese.

Amados Irmãos Bispos, faço votos a fim de que o Ano da Fé, que terá início no dia 12 de Outubro do corrente ano, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, desperte o desejo da parte de toda a comunidade católica na América, de voltar a apropriar-se com alegria e gratidão do tesouro inestimável da nossa fé. Com o debilitamento progressivo dos valores cristãos tradicionais e a ameaça de um tempo em que a nossa fidelidade ao Evangelho nos possa custar caro, a verdade de Cristo deve não só ser entendida, articulada e defendida, mas também proposta com alegria e confiança como a chave da autêntica realização humana e do bem-estar da sociedade no seu conjunto.

Agora, na conclusão destes encontros, uno-me de bom grado a todos vós, dando graças ao Deus Todo-Poderoso pelos sinais de vitalidade e esperança renovadas com que Ele tem abençoado a Igreja nos Estados Unidos da América. Ao mesmo tempo peço-lhe que vos confirme, assim como os vossos Irmãos Bispos, na missão delicada de guiar a comunidade católica no vosso país pelas veredas da unidade, da verdade e da caridade, enquanto ela enfrenta os desafios do futuro. Segundo as palavras de uma antiga oração, peçamos ao Senhor que oriente os nossos corações, bem como os do nosso povo, a fim de que à grei nunca falte a obediência aos seus pastores, nem aos pastores o cuidado pelo seu rebanho (cf. Sacramentarium Veronense, Missa de Natale Episcoporum). É com grande afecto que vos recomendo, assim como o clero, os religiosos e os fiéis leigos confiados aos vossos cuidados pastorais, à intercessão amorosa de Maria Imaculada, Padroeira dos Estados Unidos, enquanto vos concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica em penhor de alegria e de paz no Senhor.



ENCONTRO COM OS REPRESENTANTES DO MOVIMENTO ECLESIAL DE COMPROMISSO CULTURAL, DA FEDERAÇÃO DOS ORGANISMOS CRISTÃOS DE SERVIÇO

INTERNACIONAL VOLUNTÁRIO E DO MOVIMENTO CRISTÃO DE TRABALHADORES Sábado, 19 de Maio de 2012

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Sala Paulo VI





Prezados irmãos e irmãs!

É-me grato receber-vos hoje de manhã neste encontro que vê reunidos o Movimento Eclesial de Compromisso Cultural, a Federação dos Organismos Cristãos de Serviço Internacional Voluntário e o Movimento Cristão de Trabalhadores. Saúdo com afecto os Irmãos no Episcopado que vos ajudam e vos orientam, os Dirigentes e os Responsáveis, os Assistentes eclesiásticos e todos os sócios e simpatizantes. Este ano, as vossas associações festejam os aniversários de fundação: oitenta anos o Movimento Eclesial de Compromisso Cultural; quarenta anos a Federação dos Organismos Cristãos de Serviço Internacional Voluntário e o Movimento Cristão de Trabalhadores. E estas três realidades são devedoras à obra sábia do Servo de Deus Paulo vi que, como Assistente nacional, contribuiu para os primeiros passos do Movimento dos licenciados da Acção católica em 1932 e, como Pontífice, para o reconhecimento da Federação dos Organismos Cristãos de Voluntariado e para o nascimento do Movimento Cristão de Trabalhadores, em 1972. Ao meu Venerado Predecessor dirijamos a nossa recordação reconhecida pelo impulso que conferiu a estas importantes associações eclesiais.

Os aniversários são ocasião propícia para reconsiderar o próprio carisma com gratidão e também com um olhar crítico, atento às origens históricas e aos novos sinais dos tempos. Cultura, voluntariado e trabalho constituem um trinómio indissolúvel do compromisso quotidiano do laicado católico, que pretende tornar incisiva a pertença a Cristo e à Igreja, tanto no âmbito particular como na esfera pública da sociedade. O fiel leigo põe-se propriamente em jogo, quando toca um ou mais destes âmbitos e, no serviço cultural, na acção solidária com quantos estão em necessidade e no trabalho, se esforça por promover a dignidade humana. Estes três âmbitos estão vinculados por um denominador comum: o dom de si. O compromisso cultural, sobretudo o escolar e universitário, destinado à formação das gerações vindouras, não limita efectivamente à transmissão de noções técnicas e teóricas, mas exige o dom de si com a palavra e o exemplo. O voluntariado, recurso insubstituível da sociedade, exige não tanto dar coisas, mas dar-se a si mesmo como ajuda concreta aos mais necessitados. Finalmente, o trabalho não é apenas um instrumento de lucro individual, mas um momento no qual manifestar as próprias capacidades, dedicando-se com espírito de serviço à actividade profissional, quer ela seja de tipo operário, agrícola, científico ou de outro género.

Mas para vós tudo isto tem uma conotação particular, a cristã: a vossa obra deve ser animada pela caridade; isto significa aprender a ver com os olhos de Cristo e oferecer ao próximo muito mais que as coisas necessárias externamente, conceder-lhe o olhar, o gesto de amor do qual ele tem necessidade. Isto nasce do amor que provém de Deus, o Qual nos amou primeiro; nasce do encontro íntimo com Ele (cf. Deus caritas est ). No discurso de despedida dos anciãos de Éfeso, são Paulo recorda uma verdade expressa por Jesus: «A felicidade está mais em dar do que em receber» (
Ac 20,35). Caros amigos, é a lógica do dom, uma lógica com frequência desprezada, que vós valorizais e testemunhais: conceder o próprio tempo, as habilidades e competências, a instrução, a profissionalidade; em síntese, prestar atenção ao outro, sem esperar retribuição neste mundo; e agradeço-vos este grande testemunho. Agindo assim, não só se faz o bem ao próximo, mas também se descobre a felicidade profunda, segundo a lógica de Cristo, que se entregou totalmente a Si mesmo.

A família é o primeiro lugar onde se vive a experiência do amor gratuito; e quando isto não se verifica, a família desnatura-se, entra em crise. O que se vive em família, o doar-se sem reservas pelo bem do próximo constitui um momento educativo fundamental para aprender a viver como cristão também a relação com a cultura, o voluntariado e o trabalho. Na Encíclica Caritas in veritate desejei ampliar o modelo familiar da lógica da gratuidade e do dom a uma dimensão universal. Com efeito, a justiça sozinha não é suficiente. Para que haja uma justiça verdadeira, é necessário aquele «suplemento» que só a gratuidade e a solidariedade podem dar: «A solidariedade consiste primariamente em que todos se sintam responsáveis por todos e, por conseguinte, não pode ser delegada só ao Estado. Se, no passado, era possível pensar que havia necessidade primeiro de procurar a justiça e que a gratuidade intervinha depois como um complemento, hoje é preciso afirmar que, sem a gratuidade, não se consegue sequer realizar a justiça» (n. 38). A gratuidade não se adquire no mercado, nem pode ser prescrevida por lei. E todavia, tanto a economia como a política têm necessidade da gratuidade, de pessoas capazes de um dom recíproco (cf. ibid., n. 39).

O encontro hodierno põe em evidência dois elementos: a vossa afirmação da necessidade de continuar a percorrer o caminho do Evangelho, na fidelidade à doutrina social da Igreja e na lealdade aos Pastores; é o meu encorajamento, o encorajamento do Papa, que vos convida a prosseguir com constância no compromisso a favor dos irmãos. Deste compromisso faz parte também a tarefa de evidenciar as injustiças e de testemunhar os valores sobre os quais se fundamenta a dignidade da pessoa, promovendo as formas de solidariedade que favorecem o bem comum. O Movimento eclesial de compromisso cultural, à luz da sua história, é chamado a desempenhar um serviço renovado no mundo da cultura, marcado por desafios urgentes e complexos, para a difusão do humanismo cristão: razão e fé são aliadas no caminho rumo à Verdade. A Federação dos organismos cristãos de serviço internacional voluntário continue a confiar sobretudo na força da caridade que deriva de Deus, assumindo o seu compromisso contra todas as formas de pobreza e de exclusão, em benefício das populações mais desfavorecidas. Saiba o Movimento Cristão de Trabalhadores levar luz e esperança cristã ao mundo do trabalho, para alcançar também uma justiça social cada vez maior. Além disso, tenha sempre em vista o mundo juvenil que, hoje mais do que nunca, procura caminhos de compromisso que saibam conjugar ideais e firmeza.

Estimados amigos, faço votos a cada um de vós, para que continueis com alegria no compromisso pessoal e associativo, testemunhando o Evangelho do dom e da gratuidade. Invoco sobre vós a intercessão materna da Virgem Maria, enquanto vos concedo de coração a Bênção Apostólica, que estendo a todos os sócios e aos familiares. Obrigado pelo vosso compromisso, pela vossa presença!




NO FINAL DO ALMOÇO OFERECIDO AO COLÉGIO CARDINALÍCIO Sala Ducal Segunda-feira, 21 de Maio de 2012

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Eminências
Amados Irmãos

Neste momento, a minha palavra só pode ser de agradecimento. Antes de tudo, acção de graças ao Senhor pelos muitos anos que me concedeu: anos com numerosos dias de alegria, momentos maravilhosos, mas também com noites obscuras. Mas em retrospectiva compreende-se que as noites também eram necessárias e boas, motivo de acção de graças.

Hoje, a expressão Ecclesia militans está um pouco fora de moda, mas na realidade podemos compreender cada vez melhor que é verdadeira, contém em si mesma a verdade. Vemos como o mal quer dominar no mundo e que é necessário travar uma luta contra o mal. Vemos como o faz de muitos modos cruentos, com diversas formas de violência, mas também com a máscara do bem e, precisamente assim, destruindo os fundamentos morais da sociedade.

S. Agostinho disse que toda a história é uma luta entre dois amores: amor-próprio até ao desprezo de Deus; e amor a Deus até ao desprezo de si mesmo, no martírio. Nós vivemos esta luta, e nesta luta é muito importante ter amigos. E no que me diz respeito, estou circundado pelos amigos do Colégio cardinalício: são os meus amigos e sinto-me em casa, sinto-me seguro nesta companhia de grandes amigos, que estão comigo e, todos juntos, com o Senhor.

Obrigado por esta amizade! Obrigado, Eminência, por tudo aquilo que fez para este momento, hoje, e por tudo o que faz sempre. Obrigado a vós pela comunhão das alegrias e das dores. Vamos em frente, o Senhor disse: coragem, Eu venci o mundo. Estamos no clube do Senhor, portanto no clube vitorioso. Obrigado a todos vós! O Senhor abençoe todos vós. E brindemos!



À ASSEMBLEIA GERAL DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA Quinta-feira, 24 de Maio de 2012

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Sala do Sínodo



Venerados e dilectos Irmãos

É um momento de graça este vosso anual reunir-vos em Assembleia, na qual viveis uma profunda experiência de confronto, de partilha e de discernimento para o caminho comum, animado pelo Espírito do Senhor ressuscitado; trata-se de um momento de graça que manifesta a natureza da Igreja. Agradeço ao Cardeal Angelo Bagnasco as amáveis palavras com que me recebeu, fazendo-se intérprete dos vossos sentimentos: dirijo a Vossa Eminência os melhores votos pela sua confirmação na presidência da Conferência Episcopal Italiana. O afecto colegial que vos anima alimente cada vez mais a vossa colaboração ao serviço da comunhão eclesial e do bem comum da Nação italiana, na diálogo frutuoso com as suas instituições civis. Neste novo quinquênio, continuai juntos a renovação eclesial que vos foi confiada pelo Concílio Ecuménico Vaticano II; o cinquentenário aniversário do seu início, que celebraremos no Outono, seja motivo para aprofundar os seus textos, condição para uma recepção dinâmica e fiel. «O que mais importa ao Concílio Ecuménico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz», afirmava o Beato Papa João XXIII no discurso de abertura. E vale a pena meditar e ler estas palavras. O Papa exortava os Padres a aprofundar e apresentar esta doutrina perene, em continuidade com a tradição milenária da Igreja: «transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios», mas de modo novo, «de forma a responder às exigências do nosso tempo» (Discurso de solene abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, 11 de Outubro de 1962). Com esta chave de leitura e de aplicação — na perspectiva não certamente de uma hermenêutica inaceitável da descontinuidade e da ruptura, mas de uma hermenêutica da continuidade e da reforma — ouvir o Concílio e fazer nossas as suas indicações respeitáveis constitui o caminho para identificar as modalidades com que a Igreja pode oferecer uma resposta significativa às grandes transformações sociais e culturais do nosso tempo, que têm consequências visíveis também na dimensão religiosa.

Com efeito, a racionalidade científica e a cultura técnica não tendem só para uniformizar o mundo, mas muitas vezes ultrapassam os respectivos âmbitos específicos, na pretensão de delinear o perímetro das certezas da razão, unicamente com o critério empírico das próprias conquistas. Assim o poder das capacidades humanas acaba por ser considerado a medida do agir, separado de qualquer norma moral. Precisamente neste contexto não deixa de sobressair, às vezes de maneira confusa, uma exigência singular e crescente de espiritualidade e de sobrenatural, sinal de uma inquietação que habita no coração do homem que não se abre ao horizonte transcendente de Deus. Esta situação de secularismo caracteriza sobretudo as sociedades de antiga tradição cristã e corrói aquele tecido cultural que, até recentemente, era uma referência unificadora, capaz de abranger toda a existência humana e de cadenciar os seus momentos mais significativos, desde o nascimento até à passagem para a vida eterna. O património espiritual e moral em que o Ocidente afunda as suas raízes e que constitui a sua linfa vital, hoje já não é compreendido no seu valor profundo, a tal ponto que já não se sente a instância de verdade. Assim, também uma terra fecunda corre o risco de se tornar deserto inospitaleiro, e a boa semente, de ser sufocada, pisada e perdida.

Um sinal disto é a diminuição da prática religiosa, visível na participação na Liturgia eucarística e, ainda mais, no Sacramento da Penitência. Muitos baptizados perderam a identidade e a pertença: não conhecem os conteúdos essenciais da fé, ou pensam que a podem cultivar prescindindo da mediação eclesial. E enquanto muitos olham duvidosos para as verdades ensinadas pela Igreja, outros reduzem o Reino de Deus a alguns grandes valores, que certamente têm a ver com o Evangelho, mas que ainda não dizem respeito ao âmago da fé cristã. O Reino de Deus é dom que nos transcende. Como afirmava o Beato João Paulo II, «o Reino de Deus não é um conceito, uma doutrina, um programa sujeito a livre elaboração, mas é acima de tudo uma Pessoa, que tem o nome e o rosto de Jesus de Nazaré, imagem do Deus invisível» (João Paulo II, Carta Encíclica Redemptoris missio [7 de Dezembro de 1990], n. 18). Infelizmente, é mesmo Deus quem permanece excluído do horizonte de muitas pessoas; e quando não encontra indiferença, fechamento ou rejeição, contudo deseja-se relegar o discurso sobre Deus para o âmbito subjectivo, reduzido a uma questão íntima e particular, marginalizado pela consciência pública. O coração da crise que fere a Europa, que é crise espiritual e moral, passa por este abandono, por esta malograda abertura ao Transcendente: o homem pretende ter uma identidade completa simplesmente em si mesmo.

Neste contexto, como podemos corresponder à responsabilidade que nos foi confiada pelo Senhor? Como podemos semear com confiança a Palavra de Deus, para que cada um possa encontrar a verdade de si mesmo, a sua autenticidade e esperança? Estamos conscientes de que não são suficientes novos métodos de anúncio evangélico ou de obra pastoral, para fazer com que a proposta cristã possa encontrar mais acolhimento e partilha. Na preparação do Vaticano ii, a interrogação predominante à qual a Assembleia conciliar tencionava oferecer uma resposta era: «Igreja, o que dizes de ti mesma?». Aprofundando esta pergunta os Padres conciliares foram, por assim dizer, reconduzidos ao cerne da resposta: tratava-se de recomeçar a partir de Deus, celebrado, professado e testemunhado. Com efeito, exteriormente por acaso, mas de modo fundamental não por acaso, a primeira Constituição aprovada foi sobre a Sagrada Liturgia: o culto divino orienta o homem rumo à Cidade futura e restitui a Deus o seu primado, plasma a Igreja, convocada incessantemente pela Palavra, e mostra ao mundo a fecundidade do encontro com Deus. Por nossa vez, embora tenhamos que cultivar um olhar reconhecido pelo crescimento do trigo bom também num terreno que se apresenta muitas vezes árido, sentimos que a nossa situação exige um impulso renovado, que aposte naquilo que é essencial da fé e da vida cristã. Numa época em que, para muitos, Deus se tornou o grande Desconhecido e Jesus simplesmente um grande personagem do passado, não haverá um relançamento da obra missionária sem a renovação da qualidade da nossa fé e da nossa oração; não seremos capazes de oferecer respostas adequadas, sem um acolhimento renovado do dom da Graça; não saberemos conquistar os homens para o Evangelho, se nós mesmos não formos os primeiros a viver uma profunda experiência de Deus.

Estimados Irmãos, a nossa tarefa primária, verdadeira e singular consiste em comprometer a vida no que vale e permanece, naquilo que é realmente fiável, necessário e último. Os homens vivem de Deus, d’Aquele que, muitas vezes inconscientemente ou apenas às apalpadelas, procuram dar um significado pleno à existência: nós temos a tarefa de O anunciar e mostrar, de orientar rumo ao seu encontro. Mas é sempre importante recordar-nos que a primeira condição para falar de Deus é falar com Deus, tornando-nos cada vez mais homens de Deus, alimentados por uma vida de oração intensa e plasmados pela sua Graça. Depois de um caminho de busca ofegante mas sincera da Verdade, Santo Agostinho finalmente conseguiu encontrá-la em Deus. Então, deu-se conta de um aspecto singular que encheu o seu coração de admiração e de júbilo: compreendeu que ao longo de todo o seu caminho, era a Verdade que estava à sua procura e que já o tinha encontrado. Gostaria de dizer a cada um: deixemo-nos encontrar e arrebatar por Deus, para ajudar cada pessoa que encontramos a ser alcançada pela Verdade. É da relação com Ele que nasce a nossa comunhão e é gerada a comunidade eclesial, que abrange todos os tempos e todos os lugares, para constituir o único Povo de Deus.

Foi por isto que desejei proclamar um Ano da Fé, que começará no dia 11 de Outubro próximo, para redescobrir e voltar a acolher esta dádiva preciosa que é a fé, para conhecer de maneira mais profunda as verdades que constituem a linfa da nossa vida, para levar o homem de hoje, muitas vezes distraído, a um renovado encontro com Jesus Cristo, «Caminho, Verdade e Vida».

No meio de transformações que abrangiam amplas camadas da humanidade, o Servo de Deus Paulo vi indicava claramente como tarefa da Igreja «chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação» (Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi [8 de Dezembro de 1975], n. 19). Aqui gostaria de recordar que, por ocasião da primeira viagem como Pontífice à sua terra natal, o Beato João Paulo II visitou um bairro industrial de Cracóvia, concebido como uma espécie de «cidade sem Deus». Só a obstinação dos operários tinha levado a erigir ali primeiro uma cruz, e depois uma igreja. Naqueles sinais, o Papa reconheceu o início daquela que ele, pela primeira vez, definiu «nova evangelização», explicando que «a evangelização do novo milénio deve referir-se à doutrina do Concílio Vaticano II. Deve ser, como ensina este Concílio, obra comum dos Bispos, dos sacerdotes, dos religiosos e dos leigos, obra dos pais e dos jovens». E concluiu: «Construístes a igreja; edificai a vossa vida com o Evangelho!» (Homilia no Santuário da Santa Cruz, Mogila, 9 de Junho de 1979).

Estimados Irmãos no Episcopado, a missão antiga e nova que está à nossa frente consiste em introduzir os homens e as mulheres do nosso tempo na relação com Deus, em ajudá-los a abrir a mente e o coração àquele Deus que os procura e quer aproximar-se deles, orientá-los para compreender que cumprir a sua vontade não é um limite à liberdade, mas significa ser verdadeiramente livre, realizar o bem autêntico da vida. Deus é o garante, não o concorrente da nossa felicidade, e onde entra o Evangelho — e portanto a amizade de Cristo — o homem experimenta que é objecto de um amor que purifica, conforta e renova, tornando-o capaz de amar e de servir o homem com amor divino.

Como salienta oportunamente o tema principal desta vossa Assembleia, a nova evangelização tem necessidade de adultos que sejam «maduros na fé e testemunhas de humanidade». A atenção ao mundo dos adultos manifesta a vossa consciência acerca do papel decisivo de quantos são chamados, nos vários âmbitos de vida, a assumir uma responsabilidade educativa em relação às novas gerações. Vigiai e trabalhai para que a comunidade cristã saiba formar pessoas adultas na fé, porque encontraram Jesus Cristo, que se tornou o ponto de referência fundamental da sua vida; pessoas que o conhecem, porque o amam; e que o amam porque o conheceram; pessoas capazes de oferecer motivos de vida sólidos e credíveis. Ao longo deste caminho formativo é particularmente importante — vinte anos depois da sua publicação — o Catecismo da Igreja Católica, subsídio inestimável para um conhecimento orgânico e completo dos conteúdos da fé e para orientar rumo ao encontro com Cristo. Também graças a este instrumento, possa o consenso de fé tornar-se critério de inteligência e de acção, que abranja toda a existência.

Dado que nos encontramos na novena de Pentecostes, gostaria de concluir estas reflexões com uma oração ao Espírito Santo:

Espírito de Vida, que nos primórdios
pairáveis sobre o abismo,
ajudai a humanidade do nosso tempo a compreender
que a exclusão de Deus a leva
a perder-se no deserto do mundo,
e que somente onde entra a fé florescem a dignidade e a liberdade
e toda a sociedade se edifica
na justiça.

Espírito de Pentecostes, que fazeis da Igreja um único Corpo,
restituí-nos, a nós baptizados, a uma experiência autêntica de comunhão;
tornai-nos sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo,
comunidade de santos que vive ao serviço da caridade.

Espírito Santo, que habilitais
para a missão,
concedei-nos reconhecer que,
inclusive no nosso tempo,
muitas pessoas estão à procura
da verdade sobre a sua existência
e sobre o mundo.

Tornai-nos colaboradores
da sua alegria, com o anúncio
do Evangelho de Jesus Cristo,
grão de trigo de Deus, que torna bom o terreno da vida e assegura
a abundância da colheita.
Amém!




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