Discursos Bento XVI 26512

AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO PROMOVIDO PELO MOVIMENTO DA RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO Sábado, 26 de Maio de 2012

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Praça de São Pedro



Prezados irmãos e irmãs

É com grande alegria que vos recebo por ocasião do quadragésimo aniversário de nascimento na Itália da Renovação no Espírito Santo, expressão do mais vasto movimento de renovação carismática que atravessou a Igreja católica a seguir ao Concílio Ecuménico Vaticano II. Saúdo todos vós com afecto, a começar pelo Presidente Nacional, a quem agradeço as bonitas palavras, cheias de Espírito, que me foram dirigidas em nome de todos vós. Saúdo o Conselheiro espiritual, os membros da Comissão e do Conselho, os responsáveis e os animadores dos grupos e das comunidades disseminados pela Itália. Esta vossa peregrinação, que vos oferece a oportunidade de vos deter em oração diante do túmulo de são Pedro, fortaleça a vossa fé e vos faça crescer no testemunho cristão e, guiados pelo Espírito Santo, enfrentai sem receio as tarefas exigentes da nova evangelização.

Estou feliz por me encontrar convosco na vigília do Pentecostes, solenidade fundamental para a Igreja e tão significativa para o vosso Movimento, e exorto-vos a acolher o amor de Deus que se nos comunica mediante o dom do Espírito Santo, princípio unificador da Igreja. Ao longo destas décadas — quarenta anos — esforçastes-vos por oferecer a vossa contribuição específica para a propagação do Reino de Deus e para a edificação da comunidade cristã, alimentando a comunhão com o Sucessor de Pedro, com os Pastores e com toda a Igreja. Confirmastes de vários modos a primazia de Deus, a quem dirigimos sempre e sumamente a nossa adoração. E procurastes propor esta experiência às novas gerações, mostrando a alegria da vida nova no Espírito, através de uma vasta obra de formação e de múltiplas actividades ligadas à nova evangelização e à missio ad gentes. Assim, a vossa obra apostólica contribuiu para a prosperidade da vida espiritual no tecido eclesial e social italiano, mediante caminhos de conversão que levaram muitas pessoas a serem purificadas profundamente pelo amor de Deus, e numerosas famílias a superarem momentos de crise. Nos vossos grupos não faltaram jovens que responderam generosamente à vocação de especial consagração a Deus no sacerdócio ou na vida consagrada. Por tudo isto dou graças a vós e ao Senhor!

Estimados amigos, continuai a dar testemunho da alegria da fé em Cristo, da beleza de ser discípulos de Cristo, do poder de amor que o seu Evangelho emana na história, assim como da graça incomparável que cada fiel pode experimentar na Igreja, mediante a prática santificadora dos Sacramentos e o exercício humilde e desinteressado dos carismas que, como afirma são Paulo, devem ser utilizados sempre para o bem comum. Não cedais à tentação da mediocridade e do hábito! Cultivai no espírito aspirações elevadas e generosas! Fazei vossos os pensamentos, os sentimentos e os gestos de Jesus! Sim, o Senhor chama cada um de vós a ser colaborador incansável do seu desígnio de salvação, que transforma os corações; tem necessidade também de vós para fazer das vossas famílias, das vossas comunidades e das vossas cidades lugares de amor e de esperança.

Na sociedade contemporânea vivemos uma situação precária sob certos aspectos, caracterizada pela insegurança e pela fragmentariedade das escolhas. Muitas vezes faltam pontos de referência válidos, nos quais inspirar a própria existência. Portanto, torna-se cada vez mais importante construir o edifício da vida e o conjunto dos relacionamentos sociais sobre a rocha estável da Palavra de Deus, deixando-nos guiar pelo Magistério da Igreja. Compreende-se sempre mais o valor determinante da afirmação de Jesus, que diz: «Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edifica a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha» (
Mt 7,24-25).

O Senhor está connosco, age com a força do seu Espírito. Convida-nos a crescer na confiança e no abandono à sua vontade, na fidelidade à nossa vocação e no compromisso por nos tornarmos adultos na fé, na esperança e na caridade. Segundo o Evangelho, adulto não é aquele que não se encontra submetido a ninguém e que não tem necessidade de ninguém. Adulto, ou seja, maduro e responsável, só pode ser aquele que se faz pequeno, humilde e servo diante de Deus, e que não segue simplesmente os ventos do tempo. Por isso, é necessário formar as consciências à luz da Palavra de Deus e assim conferir-lhes firmeza e maturidade autêntica; Palavra de Deus, da qual todos os projectos eclesiais e humanos obtêm sentido e impulso, também no que se refere à edificação da cidade terrena (cf. Sl Ps 127,1). É preciso renovar a alma das instituições e fecundar a história com sementes de vida nova.

Hoje, os fiéis são chamados a dar um testemunho de fé convicto, sincero e crível, em estreita sintonia com o compromisso da caridade. Com efeito, através da caridade também pessoas distantes ou indiferentes à Mensagem do Evangelho conseguem aproximar-se da verdade e converter-se ao amor misericordioso do Pai celeste. A este propósito, manifesto apreço por tudo o que fazeis para propagar uma «cultura do Pentecostes» nos ambientes sociais, propondo uma animação espiritual com iniciativas a favor de quantos sofrem devido a situações de dificuldade e de marginalização. Penso de modo particular na vossa obra em benefício do renascimento espiritual e material dos prisioneiros e dos ex-presos; penso ainda no «Pólo de excelência da promoção humana e da solidariedade Mario e Luigi Sturzo», em Caltagirone, assim como no «Centro Internacional para a Família» em Nazaré, cuja primeira pedra tive a alegria de benzer. Dai continuidade ao vosso compromisso em prol da família, lugar imprescindível de educação para o amor e para o sacrifício pessoal.

Caros amigos da Renovação no Espírito Santo! Não vos canseis de vos dirigir ao Céu: o mundo precisa da oração. São necessários homens e mulheres que sintam atracção pelo Céu na sua vida, que façam do louvor ao Senhor um estilo de vida nova. E sede cristãos jubilosos! Confio todos vós a Maria Santíssima, presente no Cenáculo na manifestação do Pentecostes. Perseverai com Ela na oração e caminhai orientados pela luz do Espírito Santo, vivendo e proclamando o anúncio de Cristo. Acompanhe-vos a Bênção Apostólica, que com afecto vos concedo, alargando-a a todos os seguidores e aos vossos familiares. Obrigado!



VIGÍLIA MARIANA NA CONCLUSÃO DO MÊS DE MAIO Quinta-feira, 31 de Maio de 2012

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Gruta de Lourdes, Jardins do Vaticano





Amados irmãos e irmãs

Sinto-me sempre muito feliz por participar nesta vigília mariana no Vaticano, um momento que, também com a presença de muitas pessoas, tem sempre um carácter íntimo e familiar. O mês que a devoção dos fiéis dedica de modo totalmente particular ao culto da Mãe de Deus termina com a festa litúrgica que recorda o «segundo mistério gozoso»: a visita de Maria à parente Isabel. Este acontecimento é caracterizado pela alegria expressa mediante as palavras com as quais a Virgem Santa glorifica o Todo-Poderoso pelas maravilhas que Ele realizou, considerando a humildade da sua serva: «A minha alma glorifica ao Senhor e o meu Espírito se alegra em Deus, meu Salvador» (
Lc 1,46). O Magnificat é o cântico de louvor que se eleva da humanidade redimida pela misericórdia divina, eleva-se todo o povo de Deus; ao mesmo tempo, é o hino que denuncia a ilusão daqueles que se se julgam senhores da história e árbitros do seu destino.

Ao contrário, Maria pôs Deus no centro da própria vida, abandonando-se à sua vontade com confiança, em atitude de docilidade humilde ao seu desígnio de amor. Por causa desta sua pobreza de espírito e humildade de coração, foi escolhida para ser o templo que traz em si o Verbo, o Deus feito homem. Portanto, dela é figura a «Filha de Sião», que o profeta Sofonias convida a alegrar-se, a exultar de júbilo (cf. Sf So 3,14).

Estimados amigos, esta noite queremos dirigir o nosso olhar para Maria, com renovado carinho filial. Todos devemos aprender sempre da nossa Mãe celeste: a sua fé exorta-nos a olhar para além das aparências e a acreditar firmemente que as dificuldades quotidianas preparam uma primavera que já teve início em Cristo ressuscitado. Do Coração Imaculado de Maria desejamos haurir esta noite com confiança renovada, para nos deixarmos contagiar pela sua alegria, que encontra a nascente mais profunda no Senhor. A alegria, fruto do Espírito Santo, é o distintivo fundamental do cristão: ela funda-se na esperança de Deus, tira força da oração incessante e permite enfrentar as tribulações com tranquilidade. São Paulo recorda-nos: «Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração» (Rm 12,12). Estas palavras do apóstolo são como que um eco ao Magnificat de Maria e exortam-nos a reproduzir em nós mesmos, na vida de todos os dias, os sentimentos de alegria na fé, próprios do cântico mariano.

Gostaria de desejar a todos e a cada um de vós, caros irmãos e irmãs, venerados Senhores Cardeais, Bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e fiéis todos, que este júbilo espiritual, transbordado do Coração cheio de gratidão da Mãe de Cristo e nossa Mãe, seja no final deste mês de Maio mais consolidada no nosso espírito, na nossa vida pessoal e familiar, em cada ambiente, especialmente na vida desta família que, aqui no Vaticano, serve a Igreja universal. Obrigado a todos!



VISITA PASTORAL À ARQUIDIOCESE DE MILÃO E VII ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS

(1-3 DE JUNHO DE 2012)


ENCONTRO COM A POPULAÇÃO Praça do Duomo, Milão Sexta-feira, 1º de Junho de 2012

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Senhor Presidente da Câmara Municipal
Ilustres Autoridades
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Estimados irmãos e irmãs da Arquidiocese de Milão!

Saúdo cordialmente todos vós aqui congregados, tão numerosos, assim como quantos acompanham este acontecimento através da rádio ou da televisão. Obrigado pela vossa hospitalidade calorosa! Agradeço ao Senhor Presidente da Câmara Municipal as amáveis expressões de boas-vindas que me dirigiu em nome da comunidade civil. Saúdo com deferência o Representante do Governo, o Presidente da Região, o Presidente da Província, assim como os demais Representantes das Instituições civis e militares, enquanto manifesto o meu apreço pela colaboração oferecida para os diversos momentos desta Visita. Obrigado, Eminência, pela cordial saudação!

Sinto-me muito feliz por estar hoje no meio de vós e por isso dou graças a Deus, que me oferece a oportunidade de visitar a vossa ilustre Cidade. O meu primeiro encontro com os milaneses tem lugar nesta Praça da Catedral, coração de Milão, onde sobressai o imponente monumento símbolo da Cidade. Com a sua selva de pináculos, ele convida a olhar para o alto, para Deus. Precisamente tal impulso rumo ao Céu caracterizou sempre Milão permitindo-lhe, ao longo do tempo, responder fecundamente à sua vocação: ser uma encruzilhada — Mediolanum — de povos e de culturas. Deste modo, a cidade soube conjugar sabiamente o orgulho pela própria identidade com a capacidade de acolher toda a contribuição positiva que, ao longo da história, lhe foi oferecido. Ainda hoje, Milão é chamada a redescobrir este seu papel positivo, anunciador de desenvolvimento e de paz para toda a Itália. Dirijo o meu «obrigado» cordial ao Pastor desta Arquidiocese, Cardeal Angelo Scola, pela hospitalidade e pelas palavras que me dirigiu em nome de toda a Comunidade diocesana; juntamente com ele, saúdo os Bispos Auxiliares e aqueles que o precederam nesta Cátedra gloriosa e antiga, Cardeal Dionigi Tettamanzi e Cardeal Carlo Maria Martini.

Dirijo uma saudação particular aos Representantes das famílias — provenientes do mundo inteiro — que participam no vii Encontro mundial. Em seguida, dirijo uma saudação afectuosa a quantos têm necessidade de ajuda e de conforto, a quantos se encontram angustiados por várias preocupações: às pessoas sozinhas ou em dificuldade, aos desempregados, aos enfermos, aos prisioneiros e a quantos vivem desprovidos de uma casa ou do que lhes é indispensável para viver uma vida digna. Não falte a nenhum destes nossos irmãos e irmãs o interesse solidário e constante da colectividade. A este propósito, sinto-me feliz por aquilo que a Diocese de Milão realizou e continua a levar a cabo, para ir concretamente ao encontro das necessidades das famílias mais atingidas pela crise económico-financeira, e por se ter preparado de maneira activa, juntamente com toda a Igreja e a sociedade civil na Itália, para socorrer as populações vítimas dos terramotos que se verificaram na Emília Romagna, que estão no nosso coração e também na nossa oração, e a favor das quais convido mais uma vez todos a uma solidariedade generosa.

O vii Encontro mundial das famílias oferece-me a ocasião propiciadora de visitar a vossa Cidade e de renovar os laços estreitos e constantes que vinculam a comunidade ambrosiana à Igreja de Roma e ao Sucessor de Pedro. Como se sabe, santo Ambrósio provinha de uma família romana, e manteve sempre vivo o seu vínculo com a Cidade Eterna e com a Igreja de Roma, manifestando e elogiando a primazia do Bispo que a preside. Em Pedro — afirmava ele — «encontram-se o fundamento da Igreja e o magistério da disciplina» (De virginitate, 16, 105); e ainda esta famosa declaração: «Onde está Pedro, ali está a Igreja» (Explanatio Psalmi 40, 30, 5). A sabedoria pastoral e o magistério de Ambrósio sobre a ortodoxia da fé a sobre a vida cristã deixarão um sinal indelével na Igreja universal e, de maneira particular, caracterizarão a Igreja de Milão, que nunca deixou de cultivar a sua memória e de conservar o seu espírito. A Igreja ambrosiana, conservando as prerrogativas do seu rito e as expressões próprias da única fé, é chamada a viver em plenitude a catolicidade da Igreja una, a testemunhá-la e a contribuir para a enriquecer.

O profundo sentido eclesial e o afecto sincero de comunhão com o Sucessor de Pedro fazem parte integrante da riqueza e da identidade da vossa Igreja ao longo de todo o seu caminho, enquanto se manifestam de maneira luminosa nas figuras dos grandes Pastores que a guiaram. Antes de tudo, são Carlos Borromeu, filho da vossa terra. Como disso o Servo de Deus Paulo vi, ele foi «um plasmador da consciência e do costume do povo» (Discurso aos milaneses, 18 de Março de 1968); e foi-o principalmente mediante a aplicação ampla, tenaz e rigorosa das reformas tridentinas, com a criação de instituições renovadoras, a começar pelos Seminários, e com a sua caridade pastoral incondicional, arraigada numa profunda união com Deus, acompanhada por uma austeridade de vida exemplar. No entanto, juntamente com os santos Ambrósio e Carlos, desejo recordar também outros Pastores excelentes, mais próximos de nós, que enriqueceram a Igreja de Milão com a santidade e a doutrina: o Beato Cardeal Andrea Carlo Ferrari, apóstolo da catequese e dos oratórios, além de promotor da renovação social em sentido cristão; o Beato Alfredo Ildefonso Schuster, o «Cardeal da oração», Pastor incansável, até à consumação total de si mesmo pelos seus fiéis. Além disso, desejo recordar ainda dois Arcebispos de Milão que depois se tornaram Pontífices: Achille Ratti, Papa Pio XI: à sua determinação devem-se a conclusão positiva da chamada «Questão Romana» e a constituição do Estado da Cidade do Vaticano; e o Servo de Deus Giovanni Battista Montini, Paulo VI, bom e sábio que, com perícia, soube guiar e levar a bom termo o Concílio Vaticano II. Na Igreja ambrosiana amadureceram inclusive frutos espirituais particularmente significativos para a nossa época. Entre todos, hoje desejo recordar — precisamente pensando nas famílias — santa Gianna Beretta Molla, esposa e mãe, mulher comprometida no âmbito eclesial e civil, que fez resplandecer a beleza e a alegria da fé, da esperança e da caridade.

Prezados amigos, a vossa história é riquíssima de cultura e de fé. Esta riqueza fortaleceu a arte, a música, a literatura, a cultura, a indústria, a política, o desporto e as iniciativas de solidariedade de Milão e de toda a Arquidiocese. Agora compete a vós, herdeiros de um passado glorioso e de um património espiritual de valor inestimável, comprometer-vos para transmitir às gerações vindouras a chama de uma tradição tão luminosa. Sabeis bem quanto é urgente inserir o fermento evangélico no contexto cultural contemporâneo. A fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado por nós, vivo no meio de nós, deve animar todo o tecido da vida pessoal e comunitária, particular e pública, de maneira a permitir um «bem-estar» estável e autêntico, a partir da família, que deve ser redescoberta como património principal da humanidade, coeficiente e sinal de uma cultura verdadeira e sólida a favor do homem. A identidade singular de Milão não a deve isolar, nem separar, encerrando-a em si mesma. Pelo contrário, conservando a linfa das suas raízes e os traços característicos da sua história, ela é chamada a olhar para o futuro com esperança, cultivando um vínculo íntimo e propulsor com a vida de toda Itália e da Europa. Na clara distinção das funções e das finalidades, a Milão positivamente «laica» e a Milão da fé são chamadas a concorrer para o bem comum.

Prezados irmãos e irmãs, mais uma vez obrigado pela vossa hospitalidade! Confio-vos à salvaguarda da Virgem Maria, que do pináculo mais elevado da Catedral vela maternalmente, dia e noite, sobre esta Cidade. A todos vós, que estreito num grande abraço, concedo a minha afectuosa Bênção.

Obrigado!


CONCERTO EM HONRA E DAS DELEGAÇÕES OFICIAIS DO ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS Sexta-feira, 1° de Junho de 2012

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Teatro "Scala" de Milão

Senhores Cardeais
Ilustres Autoridades
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Presbiterado
Estimadas Delegações do VII Encontro Mundial das Famílias

Neste lugar histórico, gostaria de recordar antes de tudo um acontecimento: era o dia 11 de Maio de 1946 e Arturo Toscanini ergueu a batuta para dirigir um concerto memorável na Scala reconstruída depois dos horrores da guerra. Narra-se que o grande Maestro, assim que chegou a Milão, veio imediatamente a este teatro e no centro da sala começou a bater as mãos para verificar se tinha conservado intacta a acústica proverbial e, ouvindo que era perfeita, exclamou: «É a Scala, é sempre a minha Scala!». Em tais palavras, «É a Scala!» está encerrado o sentido deste lugar, templo da Ópera, ponto de referência musical e cultural não só para Milão e para a Itália, mas para o mundo inteiro. E a Scala está ligada a Milão de modo profundo, é uma das suas maiores glórias, e eu quis recordar aquele mês de Maio de 1946 porque a reconstrução da Scala foi um sinal de esperança para a retomada da vida de toda a Cidade, depois das destruições da guerra. Então, para mim é uma honra estar aqui juntamente com todos vós e ter vivido, mediante este concerto maravilhoso, um momento de elevação do espírito. Estou grato ao Presidente da Câmara Municipal, Advogado Giuliano Pisapia; ao Superintendente, Doutor Stéphane Lissner, também por ter dado início a este evento; mas sobretudo à Orquestra e ao Coro do Teatro alla Scala; aos quatro Solistas e ao maestro Daniel Barenboim pela interpretação intensa e extasiante de uma das obras-primas absolutas da história da música. A elaboração da Nona Sinfonia de Ludwig van Beethoven foi longa e complicada, mas já a partir das célebres primeiras dezasseis notas do primeiro movimento, cria-se um clima de expectativa de algo grandioso, e a espera não é desiludida.

Não obstante siga essencialmente as formas e a linguagem tradicional da Sinfonia clássica, Beethoven faz sentir algo de novo já a partir da amplitude sem precedentes de todos os movimentos da obra, que se confirma com a parte final introduzida por uma dissonância terrível, da qual se separa o recitativo com estas palavras famosas: «Ó, amigos, não estes tons; entoemos outros mais agradáveis e jubilosos», palavras que num certo sentido «viram a página» e introduzem o tema principal do Hino à Alegria. Com a sua música, Beethoven desenha uma visão ideal de humanidade: «A alegria concreta na fraternidade e no amor recíproco, sob o olhar paterno de Deus» (Luigi Della Croce). A alegria que Beethoven canta não é uma alegria propriamente cristã, mas é o júbilo da convivência fraterna dos povos, da vitória sobre o egoísmo, desejo de que o caminho da humanidade seja caracterizado pelo amor, quase um convite que ele dirige a todos, para além de qualquer barreira e convicção.

Sobre este concerto, que devia ser uma festa jubilosa por ocasião deste encontro de pessoas provenientes de quase todas as nações do mundo, paira a sombra do terramoto que causou grande sofrimento a numerosos habitantes do nosso país. As palavras retomadas pelo Hino à alegria, de Schiller, ressoam vazias para nós, aliás, não parecem ser verdadeiras. Não experimentamos de modo algum as centelhas divinas do Elísio. Não estamos inebriados de fogo mas, ao contrário, paralisados pela dor diante de tanta e incompreensível destruição, que ceifou vidas humanas, que privou muitos da própria casa e lar. Até a hipótese de que por cima do céu estrelado deve habitar um Pai bom nos parece discutível. O Pai bom está sozinho acima do céu estrelado? A sua bondade não chega até nós aqui em baixo? Procuramos um Deus que não domina à distância, mas que entre na nossa vida e no nosso sofrimento.

Nesta hora, as palavras de Beethoven, «Amigos, não estes tons...», gostaríamos de as relacionar precisamente com as de Schiller. Não estes tons! Não temos necessidade de um discurso irreal de um Deus distante e de uma fraternidade não exigente. Estamos à procura do Deus próximo. Buscamos uma fraternidade que, no meio dos sofrimentos, ampara o outro e assim o ajude a ir em frente. Depois deste concerto muitos participarão na adoração eucarística — ao Deus que se inseriu nos nossos sofrimentos e continua a fazê-lo. Ao Deus que sofre connosco e por nós, e assim tornou os homens e as mulheres capazes de compartilhar o sofrimento do próximo e de o transformar em amor. É precisamente a isto que nos sentimos chamados por este concerto.

Obrigado, então, mais uma vez à Orquestra e ao Coro do Teatro alla Scala, aos Solistas e a quantos tornaram possível este acontecimento. Obrigado ao Maestro Daniel Barenboim, também porque com a escolha da Nona Sinfonia de Beethoven nos permite lançar uma mensagem com a música que confirme o valor fundamental da solidariedade, da fraternidade e da paz. E parece-me que esta mensagem é preciosa também para a família, porque é na família que se experimenta pela primeira vez que a pessoa humana não é criada para viver fechada em si mesma, mas em relação com os outros; é na família que compreendemos como a realização de nós mesmos não consiste em nos colocarmos no centro, guiados pelo egoísmo, mas em doarmo-nos; é em família que se começa a acender no coração a luz da paz, a fim de que ilumine este nosso mundo. E obrigado a todos vós pelo momento que vivemos juntos. Obrigado de coração!



CELEBRAÇÃO DA HORA MÉDIA - MEDITAÇÃO Catedral de Milão Sábado, 2 de Junho de 2012

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Amados Irmãos e Irmãs!

Recolhamo-nos em oração, respondendo ao convite do Hino ambrosiano da Hora Terça: «É a hora terça. O Senhor Jesus sobe ultrajado à cruz». É uma referência clara à obediência amorosa de Jesus à vontade do Pai. O mistério pascal deu início a um tempo novo: a morte e a ressurreição de Cristo recriam a inocência da humanidade e nela fazem brotar a alegria. De facto, o hino prossegue: «Daqui inicia a época da salvação de Cristo — Hinc iam beata tempora coepere Christi gratia». Reunimo-nos na Basílica-Catedral, nesta Sé, que é deveras o coração de Milão. Daqui o pensamento alarga-se à vastíssima Arquidiocese ambrosiana, que nos séculos e também em tempos recentes deu à Igreja homens insignes na santidade de vida e no ministério, como santo Ambrósio e são Carlos, e alguns Pontífices de relevância ímpar, como Pio XI e o Servo de Deus Paulo VI, e os Beatos Cardeais Andrea Carlo Ferrari e Alfredo Ildefonso Schuster.

Sinto-me feliz por estes momentos convosco! Dirijo um afectuoso pensamento de saudação a todos e a cada um em particular, e gostaria de o fazer chegar de modo especial a quantos estão doentes ou são muito idosos. Saúdo com profunda cordialidade o vosso Arcebispo, Cardeal Angelo Scola, e agradeço-lhe as suas amáveis palavras; saúdo com afecto os vossos Pastores eméritos, Cardeais Carlo Maria Martini e Dionigi Tettamanzi, com os outros Cardeais e Bispos presentes.

Vivemos neste momento o mistério da Igreja na sua expressão mais alta, a da oração litúrgica. Os nossos lábios, os nossos corações e as nossas mentes, na oração eclesial, fazem-se intérpretes das necessidades e dos anseios de toda a humanidade. Com as palavras do Salmo 118 suplicámos ao Senhor em nome de todos os homens: «Inclinai o meu coração para os vossos preceitos... Venham sobre mim, Senhor, as vossas graças». A oração quotidiana da Liturgia das Horas constitui uma tarefa essencial do ministério ordenado na Igreja. Também através do Ofício divino, que prolonga no dia o mistério central da Eucaristia, os presbíteros estão unidos de modo particular ao Senhor Jesus, vivo e activo no tempo. O Sacerdócio: que dom precioso! Vós, queridos Seminaristas que vos preparais para o receber, aprendei a apreciá-lo desde já e vivei com compromisso o tempo precioso no Seminário! O Arcebispo Montini, durante as Ordenações de 1958 dizia quanto segue nesta Catedral: «Começa a vida sacerdotal: um poema, um drama, um mistério novo... fonte de meditação perpétua... sempre objecto de redescoberta e de admiração; [o Sacerdócio] — disse — é sempre novidade e beleza para quem a ele dedica o pensamento amoroso... é reconhecimento da acção de Deus em nós» (Homilia para a Ordenação de 46 Sacerdotes, 21 de Junho de 1958).

Se Cristo, para edificar a sua Igreja, se entrega nas mãos do sacerdote, este por sua vez deve entregar-se a Ele sem reservas: o amor ao Senhor Jesus é a alma e a razão do ministério sacerdotal, assim como foi a premissa para que Ele entregasse a Pedro a missão de apascentar o próprio rebanho: «Simão... tu amas-Me mais do que estes?... Apascenta as minhas ovelhas (
Jn 21,15)». O Concílio Vaticano ii recordou que Jesus «permanece sempre o princípio e a fonte da unidade de vida dos presbíteros. Os sacerdotes, portanto, alcançarão a unidade da sua vida unindo-se a Cristo no conhecimento da vontade do Pai e na doação de si mesmos pelo rebanho que lhes é confiado. Fazendo assim as vezes do Bom Pastor, encontrarão no próprio exercício da caridade pastoral o vínculo da perfeição sacerdotal, que conduz à unidade de vida e de acção» (Decr. Presbyterorum Ordinis PO 14). Precisamente sobre esta questão se expressou: nas diversas ocupações, de hora em hora, como encontrar a unidade da vida, a unidade do ser sacerdote precisamente desta fonte de amizade profunda com Jesus, do ser interior juntamente com Ele. E não há oposição entre o bem da pessoa do sacerdote e a sua missão: aliás, a caridade pastoral é um elemento unificador de vida que começa a partir de uma relação cada vez mais íntima com Cristo na oração para viver o dom total de si mesmo pelo rebanho, de modo que o Povo de Deus cresça na comunhão com Deus e seja manifestação da comunhão da Santíssima Trindade. Com efeito, cada uma das nossas acções tem como finalidade conduzir os fiéis à união com o Senhor e deste modo fazer crescer a comunhão eclesial para a salvação do mundo. Os três elementos: união pessoal com Deus, bem da Igreja, bem da humanidade na sua totalidade, não são coisas distintas ou opostas, mas uma sinfonia da fé vivida.

Sinal luminoso desta caridade pastoral e de um coração indiviso são o celibato sacerdotal e a virgindade consagrada. Cantámos no hino de santo Ambrósio: «Se em ti nasce o Filho de Deus, conservas a vida sem culpas». «Acolher Cristo Christum suscipere» é um tema que recorre com muita frequência na pregação do Santo Bispo de Milão; cito um excerto do seu Comentário a são Lucas: «Quem acolhe Cristo no íntimo da sua casa é saciado com as maiores alegrias» (Expos. Evangelii sec. Lucam, v, 16). O Senhor Jesus foi a sua grande atracção, o tema principal da sua reflexão e pregação, e sobretudo a palavra de um amor vivo e confiante. Sem dúvida, o amor a Jesus é válido para todos os cristãos, mas adquire um significado singular para o sacerdote celibatário e para quem respondeu à vocação à vida consagrada: só e sempre em Cristo se encontram a nascente e o modelo para repetir quotidianamente o «sim» à vontade de Deus. «Com que vínculos Cristo é retido?» — perguntava santo Ambrósio, que com intensidade surpreendente pregou e cultivou a virgindade na Igreja, promovendo também a dignidade da mulher. À pergunta citada respondia: «Não com nós de cordas, mas com os vínculos do amor e com o afecto da alma» (De virginitate, 13, 77). E precisamente num célebre sermão às virgens ele disse: «Cristo é tudo para nós: se desejares curar as tuas feridas, Ele é médico; se estás angustiado pelo ardor da febre, Ele é fonte; se estás oprimido pela culpa, Ele é justiça; se precisas de ajuda, Ele é poder; se tens medo da morte, Ele é vida; se desejas o paraíso, Ele é o caminho; se tens horror às trevas, Ele é luz; se estás em busca de comida, Ele é alimento» (Ibid., 16, 99).

Queridos Irmãos e Irmãs consagrados, agradeço-vos o vosso testemunho e encorajo-vos: olhai para o futuro com confiança, contando com a fidelidade de Deus, que nunca faltará, e o poder da sua graça, capaz de realizar sempre novas maravilhas, também em nós e connosco. As antífonas da segunda salmodia deste sábado levaram-nos a contemplar o mistério da Virgem Maria. De facto, nela podemos reconhecer o «género de vida virginal e pobre que Cristo Senhor escolheu para si e que a sua Virgem Mãe abraçou» (Lumen gentium LG 46), uma vida em obediência total à vontade de Deus.

O hino recordou-nos ainda as palavras de Jesus na Cruz: «Da glória do seu patíbulo, Jesus fala à Virgem: “Mulher, eis o teu filho”; “João, eis a tua mãe”». Maria, Mãe de Cristo, difunde e prolonga também em nós a sua maternidade divina, para que o ministério da Palavra e dos Sacramentos, a vida de contemplação e a actividade apostólica nas múltiplas formas perseverem, sem fraqueza e com coragem, ao serviço de Deus e para a edificação da sua Igreja.

Neste momento, apraz-me dar graças a Deus pela multidão de sacerdotes ambrosianos, de religiosos e religiosas que empregaram as suas energias ao serviço do Evangelho, chegando por vezes até ao extremo sacrifício da vida. Alguns deles foram propostos ao culto e à imitação dos fiéis também em tempos recentes: os Beatos sacerdotes Luigi Talamoni, Luigi Biraghi, Luigi Monza, Carlo Gnocchi, Serafino Morazzone; os Beatos religiosos Giovanni Mazzucconi, Luigi Monti e Clemente Vismara; e as religiosas Maria Anna Sala e Enrichetta Alfieri. Pela sua comum intercessão peçamos confiantes ao Dador de todos os dons que torne sempre fecundo o ministério dos sacerdotes, fortaleça o testemunho das pessoas consagradas, para mostrar ao mundo a beleza da doação a Cristo e à Igreja, e renove as famílias cristãs segundo o desígnio de Deus, para que sejam lugares de graça e de santidade, terreno fértil para as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Amém. Obrigado!



ENCONTRO COM OS CRISMANDOS Estádio "Meazza", San Siro Sábado, 2 de Junho de 2012

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Queridos jovens e moças!

É para mim uma grande alegria poder encontrar-me convosco durante a minha visita à vossa Cidade. Neste famoso estádio de futebol, hoje sois vós os protagonistas! Saúdo o vosso Arcebispo, Cardeal Angelo Scola, e agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu. Agradeço também a Pe. Samuele Marelli. Saúdo o vosso amigo que, em nome de todos vós, me deu as boas-vindas. Sinto-me feliz por saudar os Vigários episcopais que, em nome do Arcebispo, vos administraram ou administrarão a Crisma. Um obrigado particular à Fundação dos Oratórios Milaneses que organizou este encontro, aos vossos sacerdotes, a todos os catequistas, aos educadores, aos padrinhos e madrinhas, e a quantos em cada uma das comunidades paroquiais se fizeram vossos companheiros de viagem e vos testemunharam a fé em Jesus Cristo morto, ressuscitado e vivo.

Vós, queridos jovens, estais a preparar-vos para receber o Sacramento da Confirmação, ou já o recebestes há pouco tempo. Sei que fizestes um bom percurso formativo, chamado este ano «O espectáculo do Espírito». Ajudados por este itinerário, com diversas etapas, aprendestes a reconhecer as coisas maravilhosas que o Espírito Santo fez e faz na vossa vida e em quantos dizem «sim» ao Evangelho de Jesus Cristo. Descobristes o grande valor do Baptismo, o primeiro dos sacramentos, a porta de entrada para a vida cristã. Vós recebeste-lo graças aos vossos pais, que juntamente com os padrinhos, em vosso nome, professaram o Credo e se comprometeram a educar-vos na fé. Esta foi para vós — assim como para mim, há muito tempo! — uma graça imensa. A partir daquele momento, renascidos da água e do Espírito Santo, começastes a fazer parte da família dos filhos de Deus, tornastes-vos cristãos, membros da Igreja.

Agora sois grandes, e podeis vós próprios dizer o vosso «sim» pessoal a Deus, um «sim» livre e consciente. O sacramento da Crisma confirma o Baptismo e efunde sobre vós o Espírito Santo em abundância. Agora vós mesmos, cheios de gratidão, tendes a possibilidade de acolher os seus grandes dons que vos hão-de ajudar, no caminho da vida, a tornar-vos testemunhas fiéis e corajosas de Jesus. Os dons do Espírito são realidades maravilhosas, que vos permitem formar-vos como cristãos, viver o Evangelho e ser membros activos da comunidade. Recordo brevemente estes dons, dos quais já nos fala o profeta Isaías e depois Jesus:

— o primeiro dom é a sabedoria, que vos faz descobrir como o Senhor é bom e grande e, como diz a palavra, dá à vossa vida sabor pleno, para que sejais, como dizia Jesus, «sal da terra»;

— depois o dom do intelecto, para que possais compreender em profundidade a Palavra de Deus e a verdade da fé;

— em seguida o dom do conselho, que vos guiará na descoberta do projecto de Deus sobre a vossa vida, a vida de cada um de vós;

— o dom da fortaleza, para vencer as tentações do mal e praticar sempre o bem, mesmo quando custa sacrifício;

— em seguida, o dom da ciência, não ciência no sentido técnico, como é ensinada na Universidade, mas ciência no sentido mais profundo, que ensina a encontrar na criação os sinais, as marcas de Deus, a compreender como Deus fala em todos os tempos e como fala a mim, e a animar com o Evangelho o trabalho de cada dia; compreender que há uma profundidade e compreendê-la e desta forma dar sabor ao trabalho, até ao que é difícil;

— outro dom é o da piedade, que mantém viva no coração a chama do amor ao nosso Pai que está no céu, de modo a rezar a Ele todos os dias com confiança e ternura de filhos amados; a não esquecer a realidade fundamental do mundo e da minha vida: que Deus existe e me conhece e espera a minha resposta ao seu projecto;

— e finalmente o sétimo e último dom é o temor de Deus — falámos há pouco do temor — temor de Deus não significa medo, mas sentir por Ele um respeito profundo, o respeito da vontade de Deus que é o verdadeiro desígnio da minha vida e o caminho através do qual a vida pessoal e comunitária pode ser boa; e hoje, com todas as crises que existem no mundo, vemos como é importante que cada um respeite esta vontade de Deus impressa nos nossos corações e segundo a qual devemos viver; e assim este temor de Deus é desejo de praticar o bem, de praticar a verdade, de fazer a vontade de Deus.

Queridos jovens e moças, toda a vida cristã é um caminho, é como percorrer um carreiro que leva a um monte — portanto nem sempre é fácil, mas subir a um monte é algo muito agradável — em companhia de Jesus; com estes dons preciosos a vossa amizade com Ele tornar-se-á ainda mais verdadeira e mais estreita. Ela alimenta-se continuamente no sacramento da Eucaristia, no qual recebemos o seu Corpo e o seu Sangue. Por isto vos convido a participar sempre com alegria e fidelidade na Missa dominical, quando toda a comunidade se reúne para rezar, ouvir a Palavra de Deus e participar no Sacrifício eucarístico em conjunto. E recebei também o Sacramento da Penitência, na Confissão: é um encontro com Jesus que perdoa os nossos pecados e nos ajuda a praticar o bem; receber o dom, recomeçar de novo é um grande dom na vida, saber que sou livre, que posso recomeçar, que tudo é perdoado. Não falte depois a vossa oração pessoal de cada dia. Aprendei a dialogar com o Senhor, confiai n'Ele, dizei-lhe as alegrias e as preocupações, e pedi-lhe iluminação e apoio para o vosso caminho.

Queridos amigos, vós sois privilegiados porque nas vossas paróquias há os oratórios, um grande dom da Diocese de Milão. O oratório, como diz a palavra, é um lugar onde se reza, mas também onde se está juntos na alegria da fé, onde se faz catequese, se joga, se organizam actividades de serviço e de outros géneros, diria, onde se aprende a viver. Sede frequentadores assíduos do vosso oratório, para amadurecer cada vez mais no conhecimento e no seguimento do Senhor! Estes sete dons do Espírito Santo crescem precisamente na comunidade onde se leva a vida na verdade, com Deus. Em família, sede obedientes aos pais, ouvi as indicações que vos dão, para crescer como Jesus «em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens» (
Lc 2,51-52). Por fim, não sejais indolentes, mas jovens e moças comprometidos, em particular no estudo, em vista da vida futura: é o vosso dever quotidiano e uma grande oportunidade que tendes para crescer e para preparar o futuro. Sede disponíveis e generosos com os outros, vencendo as tentações de vos pôr a vós próprios no centro, porque o egoísmo é inimigo da verdadeira alegria. Se apreciardes agora a beleza de fazer parte da comunidade de Jesus, podereis também vós dar a vossa contribuição para a fazer crescer e sabereis convidar os outros a fazer parte dela. Permiti-me dizer-vos também que o Senhor, todos os dias, também hoje, vos chama a coisas grandiosas. Sede abertos ao que vos sugere e se vos chamar a segui-lo no caminho do sacerdócio ou da vida consagrada, não lhe digais não! Seria uma ociosidade errada! Jesus encher-vos-á o coração para toda a vida!

Queridos jovens, queridas moças, digo-vos com força: tendei para ideais nobres: todos podem alcançar uma medida alta, não só alguns! Sede santos! Mas é possível ser santo na vossa idade? Respondo-vos: certamente! Diz isto também santo Ambrósio, grande santo da vossa Cidade, numa das suas obras, onde escreve: «Cada idade é madura para Cristo» (De virginitate, 40). E demonstra-o sobretudo o testemunho de tantos Santos vossos coetâneos, como Domenico Savio, ou Maria Goretti. A santidade é o caminho normal do cristão: não está reservada a poucos eleitos, mas está aberta a todos. Naturalmente, com a luz e a força do Espírito Santo, que não nos faltará se estendermos as nossas mãos e abrirmos o nosso coração! E com a guia da nossa Mãe. Quem é a nossa Mãe? É a Mãe de Jesus, Maria. A ela Jesus nos confiou a todos, antes de morrer na cruz. Então a Virgem Maria conserve sempre a beleza do vosso «sim» a Jesus, seu Filho, o grande e fiel Amigo da vossa vida. Assim seja!




Discursos Bento XVI 26512