Discursos Bento XVI 9651

À SENHORA GENEVIÈVE D. TSEGAH NOVA EMBAIXADORA DO GANA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 9 de Junho de 2011

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POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

Sala Clementina


Excelência

Ao dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e ao aceitar as Cartas Credenciais com as quais Vossa Excelência é designada Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República do Gana junto da Santa Sé, desejo antes de tudo manifestar-lhe a minha gratidão por ter transmitido a calorosa saudação da parte do seu Presidente, Sua Excelência o Senhor John Evans Atta Mills, e peço-lhe que tenha a amabilidade de retribuir, transmitindo-lhe os meus bons votos, bem como o meu apreço pelas relações cordiais existentes entre a Santa Sé e o seu país.

É amplamente reconhecido que Gana tem conseguido superar determinados obstáculos em vista de alcançar um constante progresso económico, social e político nos últimos tempos. Sem dúvida, a realização de eleições regulares e pacíficas dá crédito tanto ao povo como aos líderes políticos do seu país. Também o estabelecimento da harmonia étnica, com a contribuição das comunidades cristãs locais e também da Igreja católica, foi um factor importante para a criação de condições de paz, de estabilidade e de maior desenvolvimento social para todos os seus cidadãos. Faço votos a fim de que este processo seja coroado pelo resultado positivo da consulta constitucional permanente, de tal maneira que o quadro legislativo e administrativo da Nação consiga consolidar uma cultura de participação responsável e activa no desenvolvimento do país, na liberdade, na justiça e na solidariedade.

Verifiquei também o clima de liberdade religiosa que se desfruta em Gana. Uma sociedade democrática que fomenta a liberdade de religião e a liberdade de culto, e que aprecia a presença de instituições religiosas que se esforçam por sobressair acima dos interesses políticos e, ao contrário, se sentem motivadas pela fé e pelos valores morais, compreende que há muito a ganhar através de tais liberdades, em vista do crescimento positivo de todas as instituições nacionais. Com efeito, os países que agem deste modo podem obter muitos benefícios de tais instituições, inspirando-se na sabedoria que se encontra nas várias tradições religiosas, especialmente quando os cidadãos são confrontados por interrogações para as quais a ciência e a tecnologia oferecem poucas ou nenhumas respostas. Efectivamente, aqui os interesses seculares e religiosos encontram um terreno comum e conseguem desenvolver-se juntos, mediante a combinação das exigências do progresso macroeconómico e do saber científico, com a sabedoria perene da religião e a sua compreensão do homem e da sociedade. Todos podem beneficiar de tal cooperação, num mundo cada vez mais incerto a propósito das suas opções morais e frequentemente impelido para interesses limitados e para o egoísmo.

Excelência, a sua terra foi abençoada por recursos naturais que agora estão a trazer a prosperidade à sua população. É deveras desejável que, através da solidariedade social, o lucro obtido da exploração correcta de tais recursos contribua para o desenvolvimento económico sustentável do seu povo. No entanto, que isto se realize prestando a devida atenção àqueles que são muito mais pobres, ou incapazes de prover às suas famílias sem qualquer culpa pessoal. Neste sentido, que o seu país possa servir de exemplo, ao definir instrumentos eficazes de solidariedade (cf. Centesimus annus
CA 16), para o autêntico enriquecimento de todos os membros da sociedade.

Vossa Excelência mencionou também o trabalho levado a cabo pela Igreja católica em Gana, nos campos da educação, da assistência médica e de outros serviços sociais. Motivada pelo amor a Cristo, e agindo com base na dignidade humana compartilhada por todos os membros da família humana, a Igreja deseja contribuir de numerosas maneiras para o bem da sociedade, de forma especial nos campos que Vossa Excelência mencionou. Ela colabora de boa vontade com as autoridades civis, onde quer que seja capaz de cumprir sem impedimentos a missão que lhe é própria, à luz dos valores evangélicos.

Enfim, Excelência, formulo-lhe os melhores votos de bom êxito na sua missão como Embaixadora da República de Gana junto da Santa Sé, garanto-lhe a cooperação de boa vontade da parte dos vários Departamentos da Cúria Romana. Possa Deus Todo-Poderoso derramar sobre o povo de Gana abundantes e duradouras Bênçãos de harmonia, prosperidade e paz!




AO SENHOR GEORGE ROBERT FURNESS TROUP NOVO EMBAIXADOR DA NOVA ZELÂNDIA Quinta-feira, 9 de Junho de 2011

9661 JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

Sala Clementina




Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano hoje e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Nova Zelândia junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelas amáveis saudações que me transmitiu da parte do Governador-Geral Senhor Anand Satyanand, e peço-lhe que tenha a amabilidade de lhe assegurar os meus bons votos e as minhas orações pelo bem-estar da Nação.

Aproveito esta oportunidade para manifestar mais uma vez a minha solidariedade para com todos aqueles que ainda sofrem por causa do sismo devastador que atingiu Christchurch no dia 22 do passado mês de Fevereiro. Consciente do considerável trabalho de reconstrução, em que Vossa Excelência e os seus concidadãos vos encontrais empenhados, estou persuadido de que a impressionante manifestação de generosidade e os inúmeros gestos de caridade e de bondade que foram demonstrados a seguir a esta calamidade hão-de contribuir em grande medida para enfrentar os desafios materiais e morais da imensa tarefa que se vos apresenta.

No seu discurso, Vossa Excelência referiu-se amavelmente às relações de cordialidade existentes entre a Santa Sé e a Nova Zelândia. Mediante a sua presença na comunidade internacional, a Santa Sé procura promover valores universais que estejam radicados na mensagem evangélica da dignidade conferida por Deus a cada homem e mulher, a unidade da família humana e a necessidade de que a justiça e a solidariedade governem as relações entre os indivíduos, as comunidades e as nações. Estes valores estão profundamente inscritos na cultura que deu vida às instituições políticas e legais da Nova Zelândia. Uma pedra miliar de tal herança permanece o respeito pelos direitos da liberdade de religião e de culto, para o benefício de todos. Estes direitos, inseridos nas tradições legais que herdastes, são próprios de cada pessoa, porque inerentes à humanidade comum de todos nós. Através da promoção de tais liberdades, a sociedade prepara-se melhor para enfrentar os profundos desafios políticos e sociais, de maneira consoante com as aspirações mais intrínsecas da humanidade.

Em virtude da sua posição geográfica, o seu país pode contribuir para o desenvolvimento das nações menores, mais distantes e dotadas de menos recursos. Alguns dos países vizinhos, inclusive os pequenos Estados insulares em fase de desenvolvimento, consideram a Nova Zelândia um exemplo de estabilidade política, de legalidade e de elevados padrões económicos e sociais. E olham para vós também como fonte de assistência, encorajamento e apoio para o desenvolvimento das próprias instituições. Isto confere ao seu país uma especial responsabilidade moral. Fiel às suas melhores tradições, a Nova Zelândia é chamada a utilizar a sua posição de influência para promover a paz e a estabilidade na região, encorajando instituições democráticas maduras e estáveis, e fomentando direitos humanos autênticos e um desenvolvimento económico sustentável. A aspiração pelo desenvolvimento apresenta uma série de desafios importantes em relação ao meio ambiente, alguns dos quais com sérias consequências para o bem-estar da população e da sua subsistência, de forma particular para os pobres. Gostaria de encorajar o trabalho que se está a realizar para promover modelos de desenvolvimento, nos planos nacional e internacional, que reflictam uma ecologia autenticamente humana, que sejam economicamente sustentáveis, em conformidade com o cumprimento do nosso dever de administradores da criação (cf. Caritas in veritate Caritas in veritate, 48 e 51).

A Igreja católica no seu país, constituída por populações antigas e novas, das vossas ilhas, procura desempenhar o papel que lhe compete na formação de uma sociedade verdadeiramente multicultural, dotada de um sentido de respeito mútuo e de propósitos e solidariedade compartilhados, para a paz e a prosperidade de todos. Ela deseja servir o bem comum, fazendo com que a sabedoria espiritual e moral da fé determinem as importantes questões éticas contemporâneas. De maneira particular, a Igreja deseja nutrir sempre o maior respeito por toda a pessoa humana, defendendo o direito inalienável à vida, desde o momento da concepção até à morte natural, promovendo um ambiente familiar estável e fomentando a educação.

A propósito desta última questão, a Igreja deu sempre uma grande ênfase à educação dos jovens, reconhecendo-a como um elemento essencial na preparação e no desenvolvimento dos indivíduos para o bem, a fim de que eles possam assumir o próprio lugar na sociedade. Além de buscar a excelência nos estudos académicos, no desporto e nas artes, as escolas católicas preocupam-se sobretudo com a formação moral e espiritual dos seus alunos. A atracção duradoura das instituições educativas caracterizadas pelos seus valores autenticamente cristãos demonstra que os pais aspiram incessamente por fazer com que os seus filhos sejam preparados para a vida da melhor maneira possível, num ambiente sadio que faça sobressair o que há de melhor nos jovens, que se prepararam para enfrentar os desafios da vida. Estou persuadido que o seu governo continuará a apoiar os pais no seu papel de educadores primários dos próprios filhos, assegurando que o sistema de educação assente na fé permanecerá acessível para aqueles que desejam valer-se do mesmo, para o bem dos seus filhos e da sociedade em geral.

Enfim, Senhor Embaixador, permita-se aproveitar esta oportunidade para reiterar os meus melhores votos, no momento em que Vossa Excelência assume a sua missão, e de lhe garantir que a Cúria Romana permanecerá pronta a assisti-lo. Sobre a sua pessoa, a sua família e todo o povo da Nova Zelândia, invoco cordialmente as abundantes Bênçãos de Deus.



A SEIS NOVOS EMBAIXADORES ACREDITADOS JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 9 de Junho de 2011

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Sala Clementina



Senhora e Senhores Embaixadores

É com alegria que vos recebo esta manhã no Palácio Apostólico para a apresentação das Cartas que vos acreditam como Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários dos vossos respectivos países junto da Santa Sé: Moldova, Guiné Equatorial, Belize, República Árabe da Síria, Gana e Nova Zelândia. Agradeço-vos as amáveis palavras que me transmitistes da parte dos respectivos Chefes de Estado. Peço-vos que transmitais, em contrapartida, as minhas deferentes saudações e os meus votos obsequiosos pelas suas pessoas e pela alta missão que desempenham ao serviço dos respectivos países e povos. Desejo saudar também através de vós todas as autoridades civis e religiosas das vossas Nações, assim como todos os vossos concidadãos. As minhas preces e os meus pensamentos dirigem-se, naturalmente, inclusive às comunidades católicas presentes nos vossos países.

Dado que tenho a oportunidade de me encontrar com cada um de vós, desejo agora falar de maneira mais geral. Os primeiros seis meses deste ano foram caracterizados por inúmeras tragédias que atingiram a natureza, a técnica e as populações. A entidade de tais catástrofes interpela-nos. A prioridade deve ser dada ao homem, e é bom recordá-lo. O homem, ao qual Deus confiou a boa gestão da natureza, não pode ser dominado pela técnica e tornar-se sujeito da mesma. Esta tomada de consciência deve levar os Estados a reflectir juntos sobre o futuro do planeta, a curto prazo, considerando a sua responsabilidade pela nossa vida e pelas tecnologias. A ecologia humana é uma necessidade imperativa. A adopção, em tudo, de um modo de viver respeitoso do meio ambiente e o apoio à pesquisa e à exploração de energias adequadas que salvaguardem o património da criação e não comportem riscos para o homem, devem ser prioridades políticas e económicas. Neste sentido, parece necessário rever totalmente a nossa abordagem da natureza. Ela não é apenas um espaço explorável ou lúdico. É o lugar onde nasce o homem, de certa forma, a sua «casa». Ela é fundamental para nós. A mudança de mentalidade neste âmbito, aliás, as obrigações que isto comporta, deve permitir que se chegue rapidamente a uma arte de viver juntos que respeite a aliança entre o homem e a natureza, sem a qual a família humana corre o risco de desaparecer. Portanto, é preciso realizar uma reflexão séria e propor soluções específicas e sustentáveis. Todos os governantes devem comprometer-se na salvaguarda da natureza e contribuir para que ela desempenhe o seu papel essencial para a sobrevivência da humanidade. As Nações Unidas parecem-me ser o contexto natural para tal reflexão, que não deverá ser ofuscada por interesses políticos e financeiros cegamente partidários, de modo a privilegiar a solidariedade em relação ao interesse particular.

Além disso, é necessário interrogar-se sobre o lugar justo que a técnica deve ocupar. Os prodígios de que ela é capaz caminham a par e passo com calamidades sociais e ecológicas. Estendendo o aspecto relacional do trabalho ao planeta inteiro, a técnica imprime à globalização um ritmo particularmente acelerado. Ora, o fundamento do dinamismo do progresso corresponde ao homem que trabalha, e não à técnica, que é apenas uma criação humana. Apostar tudo nela, ou pensar que ela é o agente exclusivo do progresso ou da felicidade leva a uma coisificação do homem, que termina na cegueira e na infelicidade, quando este lhe atribui e delega poderes que ela não tem. É suficiente constatar os «danos» do progresso e os perigos que a humanidade corre devido a uma técnica omnipotente e em última análise incontrolada. A técnica que domina o homem priva-o da sua humanidade. O orgulho que ela gera fez surgir nas nossas sociedades um economismo intratável e um certo hedonismo, que determina os comportamentos de modo subjectivo e egoísta. O debilitar-se da primazia do humano comporta um extravio existencial e uma perda do sentido da vida. Com efeito, a visão do homem e das coisas sem uma referência à transcendência erradica o homem da terra e, fundamentalmente, debilita a sua própria identidade. Portanto, é urgente conseguir conjugar a técnica com uma forte dimensão ética, porque a capacidade que o homem tem de transformar, num certo sentido, o mundo por meio do seu trabalho, realiza-se sempre a partir do primeiro dom original das coisas, feito por Deus (João Paulo II, Centesimus annus
CA 37). A técnica deve ajudar a natureza a expandir-se segundo a vontade do Criador. Trabalhando deste modo, o investigador e o cientista aderem ao desígnio de Deus, que desejou que o homem fosse o ápice e o administrador da criação. As soluções alicerçadas neste fundamento protegerão a vida do homem e a sua vulnerabilidade, assim como os direitos das gerações presentes e futuras. E a humanidade poderá continuar a beneficiar dos progressos que o homem, por meio da sua inteligência, consegue realizar.

Conscientes do risco que a humanidade corre diante de uma técnica vista como uma «resposta» mais eficaz que o voluntarismo político ou o paciente esforço educativo para civilizar os costumes, os governos devem promover um humanismo respeitador da dimensão espiritual e religiosa do homem. Pois, a dignidade da pessoa humana não se altera com o flutuar das opiniões. O respeito pela sua aspiração à justiça e à paz permite a construção de uma sociedade que se promove a si mesma, quando sustém a família ou quando rejeita, por exemplo, o primado exclusivo das finanças. Um país vive da plenitude da vida dos cidadãos que o compõem, quando cada um está consciente das próprias responsabilidades e pode fazer valer as suas convicções. Além disso, a propensão natural para a verdade e para o bem constitui a fonte de um dinamismo que gera a vontade de colaborar para realizar o bem comum. Desta forma, a vida social pode enriquecer-se constantemente, integrando a diversidade cultural e religiosa através da partilha de valores, fonte de fraternidade e de comunhão. Devendo considerar a vida na sociedade principalmente como uma realidade de ordem espiritual, os responsáveis políticos têm a missão de guiar os povos para a harmonia humana e para a sabedoria, tão desejadas, que devem culminar na liberdade religiosa, rosto autêntico da paz.

Excelências, no momento em que iniciais a vossa missão junto da Santa Sé, desejo assegurar-vos que encontrareis sempre junto dos meus colaboradores a escuta atenta e a ajuda de que podereis ter necessidade. Sobre vós, as vossas famílias, os membros das respectivas Missões diplomáticas e todas as Nações que representais, invoco a abundância das Bênçãos divinas.



AOS MEMBROS DA PONTIFÍCIA ACADEMIA ECLESIÁSTICA Sexta-feira, 10 de Junho de 2011

10611 Sala do Consistório




Venerado Irmão no Episcopado
Queridos Sacerdotes

Sinto-me feliz por me encontrar também este ano com a comunidade dos Alunos da Pontifícia Academia Eclesiástica. Saúdo o Presidente, D. Beniamino Stella, e agradeço-lhe as gentis palavras com que interpretou também os vossos sentimentos. Saúdo com afecto todos vós, que vos preparais para desempenhar um particular ministério na Igreja.

A diplomacia pontifícia, como é comummente chamada, conta uma longuíssima tradição e a sua actividade tem contribuído de modo relevante para plasmar, na era moderna, a própria fisionomia das relações diplomáticas entre os Estados. No conceito tradicional, já próprio do mundo antigo, o enviado, o embaixador, é essencialmente aquele que foi investido do cargo de levar de modo influente a palavra do Soberano e, por isso, pode representá-lo e tratar em seu nome. A solenidade do cerimonial, as honras tradicionalmente prestadas à pessoa do enviado, que assumiam características religiosas, são, na realidade, um tributo prestado àquele que representa e à mensagem do qual se torna intérprete. O respeito em relação ao enviado constitui uma das formas mais altas de reconhecimento, da parte de uma autoridade soberana, do direito a existir, num nível de igual dignidade, de sujeitos distintos de si. Por conseguinte, acolher um enviado como interlocutor, receber a sua palavra, significa lançar as bases da possibilidade de uma coexistência pacífica. Trata-se de um papel delicado, que exige, por parte do enviado, a capacidade de pronunciar uma determinada palavra de modo ao mesmo tempo fiel, o mais possível respeitadora da sensibilidade e da opinião do próximo, e eficaz. Consiste nisto a verdadeira habilidade do diplomata e não, como por vezes erradamente se pensa, na astúcia ou naqueles comportamentos que significam ao contrário degenerações da prática diplomática. Lealdade, coerência e humanidade profunda são as virtudes fundamentais de qualquer enviado, o qual está chamado a pôr não só o seu trabalho e as suas qualidades, mas, de certa forma, toda a pessoa ao serviço de uma palavra que não é a sua.

As rápidas transformações da nossa época deram de modo profundo nova forma à figura e ao papel dos representantes diplomáticos; a sua missão permanece contudo essencialmente a mesma: ser o intermediário de uma comunicação correcta entre aqueles que exercem a função do governo e, por conseguinte, instrumento de construção da comunhão possível entre os povos e da consolidação entre eles de relações pacíficas e solidárias.

Como se situam, em tudo isto, a pessoa e a acção do diplomata da Santa Sé que, obviamente, apresenta aspectos totalmente específicos? Ele, em primeiro lugar — como foi várias vezes ressaltado — é um sacerdote, um bispo, um homem que já escolheu viver ao serviço de uma Palavra que não é a sua. De facto, ele é um servo da Palavra de Deus, foi investido, como cada sacerdote, de uma missão que não pode ser desempenhada a meio tempo, mas que exige que ele seja, com toda a sua vida, uma ressonância da mensagem que lhe está confiada, a do Evangelho. E é precisamente com base nesta identidade sacerdotal, bem clara e vivida de modo profundo, que se insere, com certa naturalidade, a tarefa específica de se fazer portador da palavra do Papa, do horizonte universal do seu ministério e da sua caridade pastoral, em relação às Igrejas particulares e às instituições nas quais é legitimamente exercida a soberania no âmbito estatal ou das organizações internacionais.

No desempenho de tal missão, o diplomata da Santa Sé está chamado a fazer frutificar todos os seus dotes humanos e sobrenaturais. Compreende-se bem como, no exercício de um ministério tão delicado, a cura para a própria vida espiritual, a prática das virtudes humanas e a formação de uma sólida cultura caminhem a par e passo e se apoiem reciprocamente. São dimensões que permitem manter um profundo equilíbrio interior, num trabalho que exige, entre outras coisas, capacidade de abertura ao próximo, imparcialidade de juízo, distância crítica das opiniões pessoais, sacrifício, paciência, constância e por vezes também determinação no diálogo em relação a todos. Por outro lado, o serviço à pessoa do Sucessor de Pedro, que Cristo constituiu como princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade da fé e da comunhão (cf. Conc. Vat. I, Pastor Aeternus, Denz.
DS 1821 Denz. 1821 (3051); Cons. Vat. II, Lumen gentium LG 18), consente viver em referência constante e profunda com a catolicidade da Igreja. E onde há abertura à objectividade da catolicidade, ali também se encontra o princípio de autêntica personalização: a vida empregue ao serviço do Papa e da comunhão eclesial é, sob este perfil, extremamente enriquecedora.

Queridos Alunos da Pontifícia Academia Eclesiástica, ao partilhar convosco estes pensamentos exorto-vos a comprometer-vos profundamente no caminho da vossa formação; e, neste momento, penso com particular reconhecimento nos Núncios, Delegados Apostólicos, Observadores Permanentes e em todos aqueles que prestam serviço nas Representações Pontifícias espalhadas pelo mundo. De bom grado vos concedo, assim como ao Presidente, aos seus colaboradores e à comunidade das Irmãs Franciscanas Missionárias do Menino Jesus, a Bênção Apostólica.




AOS REPRESENTANTES DE VÁRIAS ETNIAS DE CIGANOS DA EUROPA POR OCASIÃO DO QUINTO ANIVERSÁRIO DO MARTÍRIO DO BEATO ZEFERINO GIMÉNEZ MALLA

Sala Paulo VI Sábado, 11 de Junho de 2011

11611

Venerados Irmãos
Prezados irmãos e irmãs

O Del si tumentsa!
[O Senhor esteja convosco!].

É para mim uma grande alegria encontrar-me convosco e dar-vos as cordiais boas-vindas, por ocasião da vossa peregrinação ao túmulo do Apóstolo Pedro. Estou grato ao Arcebispo D. Antonio Maria Vegliò, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, pelas palavras que me dirigiu também em vosso nome e por ter organizado este evento. Faço extensiva a expressão do meu agradecimento inclusive à Fundação «Migrantes», da Conferência Episcopal Italiana, à Diocese de Roma e à Comunidade de Santo Egídio, por terem colaborado para realizar esta peregrinação e por quanto levam a cabo quotidianamente para o vosso acolhimento e integração. Dirijo um «obrigado» particular a vós, que oferecestes os vossos testemunhos, verdadeiramente significativos.

Viestes a Roma de todas as regiões da Europa, para manifestar a vossa fé e o vosso amor a Cristo, à Igreja — que é uma casa para todos vós — e ao Papa. Em 1965, o Servo de Deus Paulo VI dirigiu aos Ciganos estas palavras inesquecíveis: «Na Igreja, não vos encontrais à margem mas, sob certos aspectos, no centro, no coração. Vós estais no coração da Igreja». Também eu vos repito hoje carinhosamente: vós estais na Igreja! Sois uma amada porção do Povo de Deus peregrino e recordais-nos que «não temos aqui uma cidade permanente, mas estamos em busca da futura» (
He 13,14). Também a vós chegou a mensagem de salvação, à qual respondestes com fé e esperança, enriquecendo a comunidade eclesial de fiéis leigos, sacerdotes, diáconos, religiosas e religiosos ciganos. O vosso povo ofereceu à Igreja o Beato Zeferino Giménez Malla, de quem celebramos o sesquicentenário do nascimento e o septuagésimo quinto aniversário do martírio. A amizade com o Senhor fez deste Mártir uma testemunha autêntica da fé e da caridade. Com a mesma intensidade com a qual adorava a Deus e descobria a sua presença em cada pessoa e em cada acontecimento, o Beato Zeferino amava a Igreja e os seus Pastores. Terciário franciscano, permaneceu fiel ao seu ser cigano, à história e à identidade da sua própria etnia. Tendo casado segundo a tradição dos ciganos, juntamente com a esposa decidiu corroborar o vínculo na Igreja, mediante o sacramento do Matrimónio. A sua profunda religiosidade encontrava expressão na participação diária na Santa Missa e na recitação do Rosário. Precisamente o Terço, que conservava sempre no bolso, tornou-se causa da sua detenção e fez do Beato Zeferino um autêntico «mártir do Rosário», porque não permitiu que lho tirassem da mão nem sequer em ponto de morte. Hoje, o Beato Zeferino convida-vos a seguir o seu exemplo e indica-vos o caminho: a dedicação à oração e de modo particular ao Rosário, o amor pela Eucaristia e pelos demais Sacramentos, a observância dos mandamentos, a honestidade, a caridade e a generosidade para com o próximo, especialmente os pobres; isto fortalecer-vos-á perante o risco que as seitas ou outros grupos ponham em perigo a vossa comunhão com a Igreja.

A vossa história é complexa e, nalgumas épocas, dolorosa. Sois um povo que, ao longo dos séculos passados, não viveu ideologias nacionalistas, não aspirou por possuir uma terra nem por dominar outras populações. Permanecestes sem pátria e considerastes idealmente todo o Continente como a vossa casa. Todavia, persistem problemas graves e preocupantes, como as relações muitas vezes difíceis com as sociedades em que viveis. Infelizmente, ao longo dos séculos conhecestes o sabor amargo do não-acolhimento e, por vezes, da perseguição, como aconteceu durante a segunda guerra mundial: milhares de mulheres, homens e crianças foram barbaramente mortos nos campos de extermínio. Foi — como vós dizeis — o Porrájmos, a «Grande Devoração», um drama ainda pouco reconhecido e cujas proporções se calculam com dificuldade, mas que as vossas famílias trazem impressas no coração. Durante a minha visita ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, no dia 28 de Maio de 2006, rezei pelas vítimas da perseguição e inclinei-me diante da lápide em língua romani, que recorda as vossas vítimas. A consciência europeia não pode esquecer tanta dor! Nunca mais o vosso povo seja objecto de vexações, de rejeição e de desprezo! Quanto a vós, procurai sempre a justiça, a legalidade e a reconciliação, e esforçai-vos por não serdes jamais causa do sofrimento dos outros!

Hoje, graças a Deus, a situação está a mudar: novas oportunidades abrem-se à nossa frente, enquanto adquiris uma renovada consciência. Ao longo do tempo, criastes uma cultura com expressões significativas, como a música e o canto, que enriqueceram a Europa. Muitas etnias já não são nómades, mas procuram a estabilidade, com novas expectativas diante da vida. A Igreja caminha convosco e convida-vos a viver em conformidade com as exigências comprometedoras do Evangelho, confiando na força de Cristo, em vista de um futuro melhor. Também a Europa, que reduz as fronteiras e considera riqueza a diversidade dos povos e das culturas, vos oferece renovadas possibilidades. Prezados amigos, convido-vos a escrever juntos uma nova página de história para o vosso povo e para a Europa! A busca de uma morada e de um trabalho dignos, e de instrução para os vossos filhos, são as bases sobre as quais é preciso construir aquela integração da qual haveis de haurir benefícios para vós e para toda a sociedade. Oferecei também vós a vossa colaboração concreta e leal, a fim de que as vossas famílias se insiram dignamente no tecido civil europeu! Numerosos entre vós são as crianças e os jovens que desejam instruir-se e viver com os outros e como os outros. Olho para eles com carinho especial, convencido de que os vossos filhos têm direito a uma vida melhor. O seu bem seja a vossa maior aspiração! Conservai a dignidade e o valor das vossas famílias, pequenas igrejas domésticas, a fim de que sejam verdadeiras escolas de humanidade (cf. Gaudium et spes GS 52). Por sua vez, as instituições devem esforçar-se por acompanhar adequadamente este caminho.

Enfim, também vós sois chamados a participar de forma concreta na missão evangelizadora da Igreja, promovendo a obra pastoral nas vossas comunidades. A presença no meio de vós de sacerdotes, diáconos e pessoas consagradas, que pertencem às vossas etnias, constitui um dom de Deus e um sinal positivo do diálogo das Igrejas particulares com o vosso povo, que é necessário sustentar e desenvolver. Tende confiança e prestai ouvidos a estes vossos irmãos e irmãs, e juntos oferecei-lhes o coerente e jubiloso anúncio do amor de Deus pelo povo cigano, assim como por todos os povos! A Igreja deseja que todos os homens se reconheçam filhos do mesmo Pai e membros da mesma família humana. Estamos na Vigília de Pentecostes, quando o Senhor efundiu o seu Espírito sobre os Apóstolos, que começaram a anunciar o Evangelho nas línguas de todos os povos. O Espírito Santo derrame os seus dons em abundância sobre todos vós, as vossas famílias e comunidades espalhadas pelo mundo, tornando-vos testemunhas generosas de Cristo Ressuscitado. Maria Santíssima, tão querida ao vosso povo, e que vós invocais como «Amari Devleskeridej», «Nossa Mãe de Deus», vos acompanhe pelos caminhos do mundo, e o Beato Zeferino vos sustente com a sua intercessão.

Agradeço de coração a todos vós, que viestes aqui à Sé de Pedro para manifestar a vossa fé e o vosso amor pela Igreja e pelo Papa. O Beato Zeferino seja para todos vós exemplo de uma existência vivida para Cristo e para a Igreja, na observância dos mandamentos e no amor ao próximo. O Papa está próximo de cada um de vós e recorda-vos nas suas preces. O Senhor vos abençoe, bem como às vossas comunidades, às vossas famílias e ao vosso futuro. O Senhor vos conceda saúde e sorte. Permanecei com Deus!

Obrigado! E feliz Pentecostes a todos vós!





NA ABERTURA DO CONGRESSO ANUAL DA DIOCESE DE ROMA Segunda-feira, 13 de Junho de 2011

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Basílica de São João de Latrão




Prezados irmãos e irmãs

É com o ânimo grato ao Senhor que nos encontramos nesta Basílica de São João de Latrão, para a inauguração do Congresso diocesano anual. Demos graças a Deus, que nos permite, esta tarde, fazer a nossa experiência da primeira comunidade cristã, que «tinha um só coração e uma só alma» (
Ac 4,32). Agradeço ao Cardeal Vigário as palavras que, com tanta gentileza e amabilidade, pronunciou em nome de todos, e dirijo a cada um a minha saudação mais cordial, assegurando a minha oração por vós e por aqueles que não podem estar aqui para participar nesta importante etapa da vida da nossa Diocese, de modo particular por quantos vivem momentos de sofrimento físico ou espiritual.

Foi com prazer que tomei conhecimento de que durante este ano pastoral começastes a pôr em prática as indicações derivadas do Congresso do ano passado, e estou convicto de que também no futuro cada comunidade, sobretudo paroquial, continuará a comprometer-se por cuidar cada vez melhor, com a ajuda oferecida pela Diocese, a celebração da Eucaristia, especialmente a dominical, preparando adequadamente os agentes da pastoral e empenhando-se a fim de que o Mistério do altar seja vivido cada vez mais como nascente da qual haurir a força para um testemunho incisivo da caridade, que renove o tecido social da nossa cidade.

O tema desta nova etapa da averiguação pastoral, «A alegria de gerar a fé na Igreja de Roma — A Iniciação cristã», vincula-se ao caminho já percorrido. Com efeito, a nossa Diocese está comprometida há vários anos a meditar sobre a transmissão da fé. Volta-me ao pensamento o facto de que, precisamente nesta Basílica, numa intervenção durante o Sínodo romano, citei algumas palavras que Hans Urs von Balthasar me tinha escrito numa breve carta: «A fé não deve ser pressuposta, mas proposta». É precisamente assim. A fé não se conserva por si só neste mundo, não se transmite automaticamente ao coração do homem, mas deve ser sempre anunciada. E o anúncio da fé, por sua vez, para ser eficaz, deve começar a partir de um coração que crê, que espera e que ama, um coração que adora Cristo e acredita na força do Espírito Santo! Foi assim que aconteceu desde o princípio, como no-lo recorda o episódio bíblico escolhido para iluminar esta averiguação pastoral. Ele foi tirado do segundo capítulo dos Actos dos Apóstolos, onde são Lucas, imediatamente depois de ter narrado o acontecimento da descida do Espírito Santo no Pentecostes, cita o primeiro discurso que são Pedro dirigiu a todos. A profissão de fé inserida na conclusão do discurso — «Este Jesus, que vós crucificastes, Deus constituiu-o Senhor e Cristo» (Ac 2,36) — é o alegre anúncio que a Igreja, há séculos, não cessa de repetir a cada homem.

Ao ouvirem aquele anúncio — lemos ainda nos Actos dos Apóstolos — todos «se emocionaram até ao íntimo do coração» (2, 37). Esta reacção foi gerada, indubitavelmente, pela graça de Deus: todos compreenderam que esta proclamação realizava as promessas e levava a desejar a cada um a conversão e o perdão dos próprios pecados. As palavras de Pedro não se limitavam a um simples anúncio de acontecimentos, mas demonstravam o seu significado, vinculando a vicissitude de Jesus às promessas de Deus, às expectativas de Israel e, portanto, às de cada homem. A população de Jerusalém compreendeu que a ressurreição de Jesus era, e ainda é, capaz de iluminar a existência humana. E com efeito, foi a partir deste acontecimento que surgiu uma renovada compreensão da dignidade do homem e do seu destino eterno, do relacionamento entre homem e mulher, do significado derradeiro da dor, do compromisso na construção da sociedade. A resposta da fé nasce quando o homem descobre, através da graça de Deus, que crer significa encontrar a vida verdadeira, a «vida plena». Um dos grandes Padres da Igreja, Santo Hilário de Poitiers, escreveu que se tornou crente no momento em que compreendeu, ouvindo o Evangelho, que para uma vida verdadeiramente feliz eram insuficientes tanto a posse como a tranquila usufruição das coisas, e que havia algo mais importante e precioso: o conhecimento da verdade e a plenitude do amor conferidos por Cristo (cf. De Trinitate 1, 2).

Estimados amigos, a Igreja, cada um de nós, deve anunciar ao mundo esta alegre notícia, que Jesus é o Senhor, Aquele em quem a proximidade e o amor de Deus por todos os homens e mulheres, e pela humanidade inteira, se fizeram carne. Este anúncio deve ressoar novamente nas regiões de antiga tradição cristã. O beato João Paulo II falou acerca da necessidade de uma nova evangelização dirigida a quantos, embora já tenham ouvido falar da fé, não apreciam, já não conhecem a beleza do Cristianismo mas, ao contrário, às vezes chegam mesmo a considerá-lo um obstáculo para alcançar a felicidade. Por isso, hoje desejo reiterar aquilo que eu disse aos jovens na Jornada Mundial da Juventude, em Köln: «A felicidade que buscais, a felicidade que tendes o direito de saborear, tem um nome, tem um rosto: o de Jesus de Nazaré, escondido na Eucaristia»!

Se os homens se esquecem de Deus é também porque muitas vezes reduzem a pessoa de Jesus a um homem sábio, debilitando ou até negando a sua divindade. Este modo de pensar impede a compreensão da novidade radical do Cristianismo, porque se Jesus não é o único Filho do Pai, então nem sequer Deus veio para visitar a história do homem, pois só temos ideias humanas de Deus. A encarnação, ao contrário, pertence ao coração do Evangelho! Por conseguinte, seja incrementado o compromisso a favor de uma renovada fase de evangelização, que constitui a tarefa não só de alguns, mas de todos os membros da Igreja. A evangelização faz-nos descobrir que Deus está próximo: Deus é-nos mostrado. Não é porventura, nesta hora da história, esta a missão que o Senhor nos confia: anunciar a novidade permanente do Evangelho, como Pedro e Paulo, quando chegaram à nossa cidade? Não devemos também nós, hoje, mostrar a beleza e o bom senso da fé, levar a luz de Deus ao homem do nosso tempo, com coragem, convicção e alegria? Ainda existem numerosas pessoas que não encontraram o Senhor: elas devem receber uma especial atenção pastoral. Além das crianças e dos adolescentes de famílias cristãs que pedem para percorrer os itinerários da iniciação cristã, existem adultos que ainda não receberam o Baptismo, ou que se afastaram da fé e da Igreja. Trata-se de uma atenção pastoral, hoje mais urgente do que nunca, que exige o nosso compromisso confiante, sustentados pela certeza de que a graça de Deus age sempre, inclusive nos dias de hoje, no coração do homem. Eu mesmo tenho a alegria de baptizar todos os anos, durante a Vigília pascal, alguns jovens e adultos, e de os inserrir assim no Corpo de Cristo, na comunhão com o Senhor, e deste modo na comunhão com o amor de Deus.

Mas quem é o mensageiro deste alegre anúncio? Certamente, cada baptizado. São-no, sobretudo, os pais, aos quais compete a tarefa de pedir o Baptismo para os próprios filhos. Como é grande este dom, que a liturgia denomina «porta da nossa salvação, início da vida em Cristo, fonte da nova humanidade» (Prefácio do Baptismo)! Todos os pais e todas as mães são chamados a cooperar com Deus na transmissão do dom inestimável da vida, mas também a dar a conhecer Aquele que é a Vida, e a vida não é realmente transmitida, se não se conhecem também o fundamento e a fonte perene da vida. Queridos pais, a Igreja, como mãe atenciosa, tenciona sustentar-vos nesta vossa tarefa fundamental. Desde a infância, os filhos têm necessidade de Deus, uma vez que o homem, desde o princípio, precisa de Deus, e eles têm a capacidade de compreender a Sua grandeza; sabem apreciar o valor da oração — do facto de falar com este Deus — e dos ritos, assim como intuir a diferença entre o bem e o mal. Então, sabei acompanhá-los na fé, neste conhecimento de Deus, nesta amizade com Deus, neste conhecimento da diferença entre o bem e o mal. Acompanhai-os na fé desde a idade mais tenra.

Além disso, como cultivar o germe da vida eterna, na medida em que o filho cresce? São Cipriano recorda-nos: «Ninguém pode ter Deus como Pai, se não tiver a Igreja como Mãe». E é por isso que não dizemos meu Pai, mas sim Pai nosso, porque só somos filhos no «nós» da Igreja, dos irmãos e das irmãs, somos filhos. Desde sempre, a comunidade cristã tem acompanhado a formação das crianças e dos jovens, ajudando-os não só a compreender com a inteligência as verdades da fé, mas também a viver experiências de oração, de caridade e de fraternidade. A palavra da fé corre o risco de permanecer muda, se não encontrar uma comunidade que a ponha em prática, tornando-a viva e atraente, como experiência da realidade da verdadeira vida. Ainda hoje os oradores, os acampamentos de Verão, as pequenas e grandes experiências de serviço constituem uma ajuda preciosa para os adolescentes que realizam o caminho da iniciação cristã, para amadurecer um compromisso de vida coerente. Portanto, encorajo-vos a percorrer este caminho que leva a descobrir o Evangelho não como uma utopia, mas sim como a forma plena e real da existência. Tudo isto deve ser proposto em particular àqueles que se preparam para receber o sacramento da Crisma, a fim de que a dádiva do Espírito Santo confirme a alegria de terem sido gerados como filhos de Deus. Por conseguinte, convido-vos a dedicar-vos com paixão à redescoberta deste Sacramento, a fim de que quantos já foram baptizados possam receber como dom de Deus o selo da fé, tornando-se assim plenamente testemunhas de Cristo.

Para que tudo seja eficaz e dê fruto, é necessário que o conhecimento de Jesus aumente e se prolongue para além da celebração dos Sacramentos. Esta é a tarefa da catequese, como já recordava o beato João Paulo II, que escreveu: «A especificidade da catequese, distinta do primeiro anúncio do Evangelho que suscita a conversão, visa o duplo objectivo de fazer amadurecer a fé inicial e de educar o verdadeiro discípulo de Cristo, mediante um conhecimento mais aprofundado e sistemático da Pessoa e da mensagem de nosso Senhor Jesus Cristo» (Exortação Apostólica Catechesi tradendae CTR 19). A catequese é uma obra eclesial e, portanto, é necessário que os catequistas ensinem e dêem testemunho da fé da Igreja, e não de uma sua interpretação. Foi precisamente por este motivo que se elaborou o Catecismo da Igreja Católica, que esta tarde confio idealmente a todos vós, a fim de que a Igreja de Roma possa comprometer-se com renovada alegria na educação para a fé. A estrutura do Catecismo deriva da experiência do catecumenato da Igreja dos primeiros séculos e retoma os elementos fundamentais que fazem de uma pessoa um cristão: a fé, os Sacramentos, os mandamentos e o Pai-Nosso.

Por tudo isto, é necessário educar também para o silêncio e para a interioridade. Estou convicto de que nas paróquias de Roma os itinerários de iniciação cristã educarão para a oração, a fim de que ela permeie a vida e ajude a encontrar a Verdade que habita o nosso coração. E encontramo-la realmente no diálogo pessoal com Deus. Além disso, a fidelidade à fé da Igreja deve conjugar-se com uma «criatividade catequética» que tenha em consideração o contexto, a cultura e a idade dos destinatários. O património de história e de arte que Roma conserva constitui um caminho ulterior para aproximar as pessoas à fé: aqui em Roma, muitas coisas nos falam da realidade da fé. Convido todos a valorizarem a catequese deste «caminho da beleza» que conduz rumo Àquele que é, segundo santo Agostinho, a Beleza tanto antiga quanto nova.

Caros irmãos e irmãs, desejo agradecer-vos o vosso serviço generoso e precioso nesta fascinante obra de evangelização e de catequese. Não tenhais medo de vos comprometer pelo Evangelho! Não obstante as dificuldades que haveis de encontrar, ao conciliar as exigências familiares e do mundo do trabalho com aquelas das comunidades onde desempenhais a vossa missão, tende sempre confiança na ajuda da Virgem Maria, Estrela da Evangelização. Também o beato João Paulo II, que até ao fim se prodigalizou para anunciar o Evangelho na nossa cidade e amou com carinho especial os jovens, intercede por nós junto do Pai. Enquanto vos asseguro a minha oração constante, concedo-vos a todos do íntimo do coração a Bênção Apostólica. Obrigado pela vossa atenção!




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