Discursos Bento XVI 17611

AOS BISPOS INDIANOS DE RITO LATINO EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Sexta-feira, 17 de Junho de 2011

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Sala do Consistório




Queridos Irmãos Bispos!

1318 É com prazer que dou as boas-vindas a todos vós por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum, momento privilegiado no qual reforçar os vínculos de fraternidade e comunhão entre a Sé de Pedro e as Igrejas particulares que guiais. Desejo agradecer ao Arcebispo Malayappan Chinnappa os sentimentos cordiais que expressou em vosso nome e de quantos apascentais como pastores. Dirijo as minhas afectuosas saudações aos sacerdotes, religiosos, religiosas e a todos os fiéis leigos que estão confiados ao vosso cuidado pastoral. Peço que lhe garanta a minha solicitude e as minhas orações.

Continuando esta reflexão sobre a vida da Igreja na Índia, desejo dirigir-vos algumas palavras, queridos irmãos Bispos, sobre a vossa responsabilidade pelo clero, os religiosos e as religiosas do país. Com a imposição das mãos e a invocação do Espírito Santo, sois chamados a presidir ao povo de Deus como Pastores e a ensinar, santificar e governar as Igrejas locais. Fazeis isto através da pregação do Evangelho, da celebração dos Sacramentos e da solicitude pela santidade e a acção pastoral eficaz do clero. Através deles sois capazes de alcançar com mais eficácia os religiosos e os leigos que estão confiados ao vosso cuidado. Sois chamados também a governar na caridade, através de uma vigilância prudente, nas vossas capacidades legislativa, executiva e judiciária (cf. Código de Direito Canónico
CIC 384-394). Por conseguinte, nesta tarefa delicada e exigente, o Bispo, como pastor e pai, deve unir e plasmar o seu rebanho numa única família na qual todos, conscientes dos seus direitos, desejam viver e agir em comunhão de caridade (cf. Christus Dominus CD 16). Promover o carisma da unidade, que é um poderoso testemunho da unicidade de Deus e um sinal da Igreja una, santa, católica e apostólica, é uma das mais importantes responsabilidades do Bispo. Nas várias tarefas que exigem a vossa atenção devota, queridos Bispos, reconheceis a presença do Espírito do Senhor que é activo no seio da Igreja. O Espírito, prometido a todos no Baptismo e derramado sobre o povo de Deus para guiar e santificar na Confirmação, aspira a unir todos os cristãos nos vínculos de fé, esperança e caridade. Através do vosso ministério, sois chamados a confirmar os membros do povo que Deus escolheu como próprio, a servi-lo e a edificá-lo como um único templo, uma morada digna para o Espírito, quer sejam jovens ou velhos, homens ou mulheres, ricos ou pobres. O Senhor, derramando o seu sangue, resgatou homens de todas as tribos e línguas, povos e nações (cf. Ap. Ap 5,9). Portanto, encorajo-vos a permanecer ao serviço da unidade e, guiando com o exemplo, a conduzir os homens que apascentais a uma comunhão, fraternidade e paz mais profundas.

Uma das formas com a qual a comunhão da Igreja se manifesta mais claramente a é a relação particularmente importante que existe entre vós e os vossos sacerdotes, quer diocesanos quer religiosos, que compartilham e exercem convosco o único sacerdócio de Cristo. Juntos, nas vossas Dioceses, formais um corpo sacerdotal e uma só família, do qual sois pais (cf. Christus Dominus CD 29). Por conseguinte, deveis apoiar os vossos sacerdotes, vossos colaboradores mais próximos, e estar mais atentos às suas exigências e aspirações, demonstrando solicitude pelo seu bem-estar espiritual, intelectual e material. Eles, por sua vez, como filhos e colaboradores, são chamados a respeitar a vossa autoridade, trabalhando com alegria, humildade e dedicação total para o bem da Igreja, mas sempre sob a vossa guia. Os vínculos de amor fraterno e de solicitude recíproca que promoveis com os vossos sacerdotes tornar-se-ão a base para superar qualquer conflito e promoverão condições mais propícias para o serviço aos membros do povo do Senhor, edificando-os espiritualmente, levando-os a conhecer os seus valores e a assumir a dignidade que lhes é própria como filhos de Deus. Além disso, o testemunho de amor e serviço recíproco entre vós e os vossos sacerdotes — sem levar em consideração a casta ou a etnia, mas focando a atenção no amor de Deus, na difusão do Evangelho e na santificação da Igreja — é muito desejado pelo povo que servis. Eles olham para vós e para os vossos sacerdotes como para um modelo de santidade, amizade e harmonia que fala aos seus corações e ensina através do exemplo a viver o novo mandamento do amor.

Os religiosos e as religiosas também olham para vós como guia e apoio. O testemunho do vosso profundo amor a Jesus Cristo e a sua Igreja servirão para os inspirar enquanto se dedicam com pobreza, castidade e obediência absolutas à vida para a qual foram chamados. Serão confirmados nas suas devoções altruístas através da vossa fé, do vosso exemplo e da vossa confiança em Deus. Deste modo, em comunhão com eles, dareis um testemunho cada vez maior aos homens e mulheres do nosso tempo de que, enquanto a aparência deste mundo passa (cf. 1Co 7,31), quem cumpre a vontade de Deus, permanece para sempre (cf. Jn 2,17).

O testemunho brilhante da vida consagrada é certamente um tesouro, não apenas para os que receberam a graça desta vocação, mas também para a Igreja inteira. Através de uma cooperação estreita com os superiores religiosos, continuai a assegurar que os membros dos institutos religiosos nas vossas dioceses vivam os seus carismas especiais na plenitude e em harmonia com os sacerdotes e os fiéis leigos. Além de garantir que recebam uma sólida base humana, espiritual e teológica, verificai que recebam uma formação permanente que os ajude a amadurecer em todos os aspectos da vida consagrada. Devido à contribuição singular oferecida por todos os religiosos, homens e mulheres, contemplativos e activos, para a missão da Igreja, e ao seu papel como protagonistas da evangelização através da oração e da súplica, da educação, da assistência médica, da caridade e outros apostolados, certamente os seus carismas continuarão a confirmar a comunidade eclesial inteira e a enriquecer a sociedade em geral. De forma especial, desejo expressar o apreço da Igreja pelas numerosas religiosas da Igreja na Índia, que testemunham a sua santidade, vitalidade e esperança. Oferecem orações incontáveis e desempenham inumeráveis obras boas, muitas vezes escondidas, mas apesar disso, de grande valor para a edificação do Reino de Deus. Peço-vos que encorajeis nas suas vocações e convideis jovens mulheres a tomar em consideração uma semelhante vida de realização através do amor a Deus e ao serviço aos outros.

Com estas reflexões, queridos irmãos Bispos, expresso a minha estima e o meu afecto fraterno. Invocando sobre todos vós a intercessão materna de Maria, Mãe da Igreja, e assegurando-vos as minhas orações por vós e por quantos foram confiados à vossa solicitude pastoral, concedo de bom grado a minha Bênção Apostólica como penhor de graça e de paz no Senhor.



VISITA PASTORAL À DIOCESE DE SAN MARINO-MONTEFELTRO


ENCONTRO OFICIAL COM OS MEMBROS DO GOVERNO, DO CONGRESSO E DO CORPO DIPLOMÁTICO Domingo, 19 de Junho de 2011

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Sala do Conselho Grande e Geral do Palácio Público

República de San Marino





Sereníssimos Capitães-Regentes
Ilustres Senhores e Senhoras!

Agradeço-vos sentidamente o vosso acolhimento; em particular expresso o meu agradecimento aos Capitães-Regentes, também pelas gentis palavras que me dirigiram. Saúdo os Membros do Governo e do Congresso, assim como o Corpo diplomático e todas as outras Autoridades aqui reunidas. Ao dirigir-me a vós, abraço idealmente todo o povo de San Marino. Desde o seu nascer, esta República manteve relações amistosas com a Sé Apostólica, e nos últimos tempos elas foram-se intensificando e consolidando; a minha presença aqui, no coração desta antiga República, expressa e confirma esta amizade.

Há mais de dezassete séculos, um grupo de fiéis, conquistados para o Evangelho pela pregação do diácono Marino e pelo seu testemunho de santidade, agregou-se em volta dele para dar vida a uma nova comunidade. Recolhendo esta herança preciosa, os samarineses permaneceram sempre fiéis aos valores da fé cristã, ancorando firmemente neles a própria convivência pacífica, segundo critérios de democracia e de solidariedade. Ao longo dos séculos, os vossos pais, conscientes destas raízes cristãs, souberam fazer frutificar o grande património moral e cultural que por sua vez tinham recebido, dando vida a um povo laborioso e livre que, apesar da exiguidade do território, não deixou de oferecer às populações circunvizinhas da Península italiana e ao mundo inteiro uma contribuição específica de civilização, orientada para a convivência pacífica e para o respeito recíproco.

Dirigindo-me hoje a vós, alegro-me pelo vosso apego a este património de valores e exorto-vos a conservá-lo e a valorizá-lo, porque ele está na base da vossa identidade mais profunda, uma identidade que pede às populações e às instituições samarineses para ser assumida plenamente. Graças a ela, pode-se construir uma sociedade atenta ao verdadeiro bem da pessoa humana, à sua dignidade e liberdade, e capaz de salvaguardar o direito de cada povo a viver em paz. São estes os pontos firmes da laicidade sadia, no âmbito da qual devem agir as instituições civis, no seu constante compromisso em defesa do bem comum. A Igreja, respeitadora da legítima autonomia da qual o poder civil deve gozar, colabora com ele ao serviço do homem, na defesa dos seus direitos fundamentais, daquelas instâncias éticas que estão inscritas na sua própria natureza. Por isso a Igreja se compromete a fim de que as legislações civis promovam e tutelem sempre a vida humana, desde a concepção até ao seu fim natural. Além disso, pede para a família o devido reconhecimento e um apoio concreto. De facto, sabemos bem como no actual contexto a instituição familiar é posta em questão, quase na tentativa de não reconhecer o seu valor irrenunciável. Quem sofre as consequências disto são as camadas sociais mais débeis, especialmente as jovens gerações, vulneráveis e por isso facilmente expostas à desorientação, a situações de automarginalização e à escravidão das dependências. Por vezes as realidades educativas encontram dificuldade em dar aos jovens respostas adequadas e, faltando o apoio familiar, eles vêem-se com frequência excluídos de uma normal inserção no tecido social. Também por isso é importante reconhecer que a família, do modo como Deus a constituiu, é o sujeito principal que pode favorecer um crescimento harmonioso e fazer maturar pessoas livres e responsáveis, formadas nos valores profundos e perenes.

Na situação de dificuldades económicas em que se encontra também a Comunidade Samarinesa, no contexto italiano e internacional, a minha palavra deseja ser de encorajamento. Sabemos que os anos sucessivos ao segundo conflito mundial foram um tempo de restrições económicas, que obrigaram milhares de concidadãos vossos a emigrar. Veio depois uma época de prosperidade, na esteira do desenvolvimento do comércio e do turismo, sobretudo no Verão estimulado pela proximidade do mar adriático. Nesta fase de relativa abundância verifica-se com frequência uma certa desorientação do sentido cristão da vida e dos valores fundamentais. Contudo, a sociedade Samarinesa manifesta ainda uma boa vitalidade e conserva as suas melhores energias; disto dão prova as numerosas iniciativas caritativas e de voluntariado às quais se dedicam muitos dos vossos concidadãos. Gostaria de recordar também os numerosos missionários samarineses, leigos e religiosos, que nos últimos decénios deixaram esta terra para levar o Evangelho de Cristo a várias partes do mundo. Não faltam portanto as forças positivas que permitirão que a vossa Comunidade enfrente e supere a actual situação de dificuldade. A este propósito, faço votos por que a questão dos trabalhadores fronteiriços, que vêem em perigo o seu emprego, se possa resolver tendo em consideração o direito ao trabalho e à tutela das famílias.

Também na República de San Marino, a actual situação de crise leva a reprojectar o caminho e torna-se ocasião de discernimento (cf. Enc. Caritas in veritate ); de facto, ela coloca todo o tecido social face à impelente exigência de enfrentar os problemas com coragem e sentido de responsabilidade, com generosidade e dedicação, fazendo referência àquele amor pela liberdade que distingue o vosso povo. A este propósito, gostaria de vos repetir as palavras dirigidas pelo Beato João XXIII aos Regentes da República de San Marino, durante uma sua visita oficial junto da Santa Sé: «O amor da liberdade — dizia o meu Predecessor — orgulha-se entre vós de requintadas raízes cristãs, e os vossos pais, compreendendo o verdadeiro significado, ensinaram-vos a nunca separar o seu nome do de Deus, que é o seu insubstituível fundamento» (Discorsi, Messaggi, Colloqui del Santo Padre Giovanni XXIII, 1, 341-343; AAS 60 [1959], 423-424). Esta admoestação conserva ainda hoje o seu valor perene: a liberdade que as instituições estão chamadas a promover e a defender a nível social, manifesta outra maior e profunda, a liberdade do Espírito de Deus, cuja presença vivificadora no coração do homem confere à vontade a capacidade de se orientar e determinar pelo bem. Como afirma o apóstolo Paulo: «Porque Deus é que produz em nós o querer e o operar segundo o Seu beneplácito» (
Ph 2,13). E Santo Agostinho, comentando este trecho, ressalta: «É certo que somos nós quem queremos, quando queremos; mas é Ele quem faz com que queiramos o bem», é Deus, e acrescenta: «Pelo Senhor serão orientados os passos do homem, e o homem quererá seguir o seu caminho» (De gratia et libero arbitrio, 16, 32).

Portanto, compete a vós, ilustres Senhores e Senhoras, a tarefa de construir a cidade terrena na devida autonomia e no respeito daqueles princípios humanos e espirituais aos quais cada cidadão está chamado a aderir com toda a responsabilidade da própria consciência pessoal; e, ao mesmo tempo, o dever de continuar a trabalhar activamente por construir uma comunidade fundada nos valores partilhados. Sereníssimos Capitães-Regentes e ilustres Autoridades da República de San Marino, expresso de coração os votos de que toda a vossa Comunidade, na partilha dos valores civis e com as suas específicas peculiaridades culturais e religiosas, possa escrever uma nova e nobre página de história e se torne cada vez mais uma terra na qual prosperem a solidariedade e a paz. Com estes sentimentos confio este amado povo à intercessão materna de Nossa Senhora das Graças e de coração concedo a todos e a cada um a Bênção Apostólica.



ENCONTRO COM OS JOVENS DA DIOCESE DE SAN MARINO-MONTEFELTRO Domingo, 19 de Junho de 2011

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Praça Vittorio Emanuele - Pennabilli




Estimados jovens

Estou muito feliz por me encontrar hoje no meio de vós e convosco! Sinto toda a vossa alegria e o entusiasmo que caracterizam a vossa idade. Saúdo e agradeço ao vosso Bispo, D. Luigi Negri, as amáveis palavras de acolhimento, e o vosso amigo que se fez intérprete dos pensamentos e dos sentimentos de todos, formulando algumas perguntas muitos sérias e importantes. Faço votos a fim de que, durante esta minha exposição, se encontrem também os elementos para dar as respostas a estas interrogações. Saúdo com afecto os Sacerdotes, as Religiosas e os animadores que partilham convosco o caminho da fé e da amizade; e, naturalmente, também os vossos pais, que se alegram por vos ver crescer fortes no bem.

O nosso encontro aqui em Pennabilli, diante desta Catedral, coração da Diocese, e nesta praça, remete-nos com o pensamento aos numerosos e diferentes encontros de Jesus, que nos são narrados pelos Evangelhos. Hoje, gostaria de evocar o célebre episódio em que o Senhor estava a caminho e um indivíduo — um jovem — correu ao seu encontro e, ajoelhando-se, formulou-lhe esta pergunta: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» (
Mc 10,17). Nós, hoje, talvez não digamos assim, mas o sentido desta interrogação é precisamente este: que devo fazer, como devo viver para viver realmente, para encontrar a vida? Portanto, dentro desta interrogação podemos ver encerrada a ampla e diversificada experiência humana, que se abre à busca do significado, do profundo sentido da vida: como viver, por que viver? Com efeito, a «vida eterna» à qual se refere àquele jovem do Evangelho não indica somente a vida depois da morte, não quer saber unicamente como chegar ao Céu. Ele quer saber: como devo viver agora, para possuir desde já a vida que depois pode ser também eterna. Por conseguinte, em tal pergunta este jovem manifesta a exigência de que a existência quotidiana encontre um sentido, encontre a plenitude, encontra a verdade. O homem não pode viver sem esta busca da verdade sobre si mesmo — o que sou eu, pelo que devo viver? — verdade que leve a abrir o horizonte e a ir além daquilo que é material, não para fugir da realidade, mas para a viver de modo ainda mais verdadeiro, mais rico de sentido e de esperança, e não só na superficialidade. E penso que esta — eu vi-o e ouvi-o nas palavras do vosso amigo — é também a vossa experiência. As grandes interrogações que trazemos dentro de nós permanecem sempre, renascem sempre de novo: quem somos, de onde vimos, por quem vivemos? E estas questões constituem o sinal mais alto da transcendência do ser humano e da capacidade que temos de não nos determos na superfície das coisas. E é precisamente olhando para nós mesmos com verdade, sinceridade e coragem, que intuímos a beleza, mas também a precariedade da vida, e sentimos uma insatisfação, uma inquietação que nenhuma realidade concreta consegue cumular. No final, todas as promessas se demonstram com frequência insuficientes.

Prezados amigos, convido-vos a tomar consciência desta inquietação sadia a positiva, a não ter medo de formular as perguntas fundamentais sobre o sentido e o valor da vida. Não vos limiteis às respostas parciais, imediatas, certamente mais fáceis no momento e mais cómodas, que podem proporcionar algum momento de felicidade, de exaltação e de inebriamento, mas que não vos trazem a verdadeira alegria de viver, aquela que nasce de quantos constroem — como diz Jesus — não na areia, mas na rocha sólida. Então, aprendei a meditar, a ler de modo não superficial, mas em profundidade a vossa experiência humana: descobrireis, com admiração e alegria, que o vosso coração é uma janela aberta para o infinito! Esta é a grandeza do homem, e também a sua dificuldade. Uma das ilusões produzidas ao longo da história foi pensar que o progresso técnico-científico, de forma absoluta, teria podido dar respostas e soluções a todos os problemas da humanidade. E vemos que não é assim. Na realidade, mesmo que isto tivesse sido possível, nada e ninguém poderia anular as interrogações mais profundas sobre o significado da vida e da morte, sobre o significado do sofrimento, de tudo, porque estas interrogações estão inscritas na alma humana, no nosso coração, e ultrapassam a esfera das necessidades. Mesmo na era do progresso científico e tecnológico — que nos ofereceu tanto! — o homem permanece um ser que deseja mais, mais que a comodidade e o bem-estar, permanece um ser aberto à verdade inteira da sua existência, que não pode deter-se diante das coisas materiais, mas abre-se a um horizonte muito mais vasto. Vós experimentais tudo isto continuamente, todas as vezes que vos perguntais: mas por quê? Quando contemplais um pôr-do-sol, ou uma música comove o vosso coração e a vossa mente; quando experimentais o que quer dizer amar verdadeiramente; quando sentis com vigor o sentido da justiça e da verdade; e quando sentis também a falta de justiça, de verdade e de felicidade.

Queridos jovens, a experiência humana constitui uma realidade que nos irmana a todos, mas a ela podem ser atribuídos diversos níveis de significado. E é aqui que se decide de que modo orientar a própria vida e que se escolhe a quem confiá-la, a quem confiar-se. O risco é sempre o de permanecer prisioneiro no mundo das coisas, do imediato, do relativo, do útil, perdendo a sensibilidade por aquilo que se refere à nossa dimensão espiritual. Não se trata de modo algum de desprezar o uso da razão, ou de rejeitar o progresso científico; pelo contrário, trata-se antes de compreender que cada um de nós não é feito apenas de uma dimensão «horizontal», mas inclui também a «vertical». Os dados científicos e os instrumentos tecnológicos não podem substituir-se ao mundo da vida, aos horizontes de significado e de liberdade, à riqueza dos relacionamentos de amizade e de amor.

Caros jovens, é precisamente na abertura à verdade inteira acerca de nós, de nós mesmos e do mundo, que entrevemos a iniciativa de Deus no que se nos refere. Ele vem ao encontro de cada homem e lhe faz conhecer o mistério do seu amor. No Senhor Jesus, que morreu e ressuscitou por nós, e que nos infundiu o Espírito Santo, tornamo-nos mesmo partícipes da vida do próprio Deus, pertencemos à família de Deus. Nele, em Cristo, podeis encontrar as respostas às interrogações que acompanham o vosso caminho, não de modo superficial e fácil, mas caminhando com Jesus, vivendo com Jesus. O encontro com Cristo não se resolve na adesão a uma doutrina, a uma filosofia, mas aquilo que Ele vos propõe consiste em compartilhar a sua própria vida e deste modo aprender a viver, aprender o que é o homem, o que sou eu. Àquele jovem, que lhe tinha perguntado o que devia fazer para alcançar a vida eterna, ou seja, para viver verdadeiramente, Jesus responde convidando-o a desapegar-se dos seus bens, e acrescenta: «Vem e segue-me!» (Mc 10,21). A palavra de Cristo mostra que a vossa vida encontra significado no mistério de Deus, que é Amor: um Amor exigente, profundo, que vai além da superficialidade! O que seria da vossa vida, sem este amor? Deus cuida do homem desde a criação até ao fim dos tempos, quando completar o seu desígnio de salvação. No Senhor ressuscitado temos a certeza da nossa esperança! O próprio Cristo, que desceu até à mansão dos mortes e ressuscitou, é a esperança em pessoa, é a Palavra definitiva pronunciada sobre a nossa história, é uma palavra positiva.

Não tenhais medo de enfrentar as situações difíceis, os momentos de crise e as provações da vida, porque o Senhor vos acompanha, está convosco! Encorajo-vos a crescer na amizade com Ele, através da leitura frequente do Evangelho e de toda a Sagrada Escritura, da participação fiel na Eucaristia como encontro pessoal com Cristo, do compromisso no âmbito da comunidade eclesial, de um caminho com um guia espiritual válido. Transformados pelo Espírito Santo, podereis experimentar a liberdade autêntica, que é tal quando está orientada para o bem. Deste modo a vossa vida, animada por uma busca contínua da face do Senhor e da vontade sincera de vos doardes a vós mesmos, será para muitos dos vossos coetâneos um sinal, uma exortação eloquente a fazer com que o desejo de plenitude que subsiste em todos nós se realize finalmente no encontro com o Senhor Jesus. Permiti que o mistério de Cristo ilumine toda a vossa pessoa! Então, podereis levar aos vários ambientes aquela novidade que pode mudar os relacionamentos, as instituições e as estruturas, para edificar um mundo mais justo e solidário, animado pela busca do bem comum. Não cedais a lógicas individualistas e egoístas! Que vos conforte o testemunho de muitos jovens que alcançaram a meta da santidade: pensai em santa Teresa do Menino Jesus, em são Domingos Sávio, em santa Maria Goretti, no beato Pier Giorgio Frassati, no beato Alberto Marvelli — que é desta terra! — e em muitos outros, que nós não conhecemos, mas que viveram o seu tempo na luz e na força do Evangelho, e encontraram a resposta: como viver, o que devo fazer para viver.

Na conclusão deste encontro, quero confiar cada um de vós à Virgem Maria, Mãe da Igreja. Como Ela, possais pronunciar e renovar o vosso «sim» e enaltecer sempre o Senhor com a vossa vida, porque Ele vos dá palavras de vida eterna! Ânimo, então, amados jovens e amadas jovens, no vosso caminho de fé e de vida cristã, também eu estou sempre próximo de vós e vos acompanho com a minha Bênção! Obrigado pela vossa atenção!






AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA DA REUNIÃO DAS OBRAS DE AJUDA ÀS IGREJAS ORIENTAIS (ROACO) Sexta-feira, 24 de Junho de 2011

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Sala Clementina




Senhor Cardeal
Beatitude
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Prezados Membros e Amigos da Roaco

Desejo manifestar a cada um de vós as cordiais boas-vindas, e é de bom grado que retribuo, com todos os melhores votos, as amáveis palavras de homenagem que me dirigiu o Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais e Presidente da Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais, acompanhado pelo Arcebispo Secretário, pelo Subsecretário e pelos Colaboradores eclesiásticos e leigos do Dicastério. Dirijo uma saudação fraterna ao novo Patriarca maronita, Sua Beatitude Bechara Boutros Raï, e estendo o meu pensamento aos demais Prelados, aos Representantes das Agências internacionais e da Universidade de Belém, assim como aos Benfeitores aqui congregados. Agradeço a todos a cooperação generosa para o mandato de caridade universal que o Senhor Jesus confia incessantemente ao Bispo de Roma como Sucessor do Bem-Aventurado Apóstolo Pedro.

Ontem celebramos a Solenidade do Corpo e Sangue do Senhor. A Procissão eucarística, à qual presidi desde a Catedral lateranense até à Basílica de Santa Maria Maior, contém sempre um apelo à amada Cidade de Roma e a toda a Comunidade católica, de permanecer e percorrer os caminhos não fáceis da história, entre as grandes pobrezas espirituais e materiais do mundo, para oferecer a caridade de Cristo e da Igreja, que brota do Mistério pascal, Mistério de amor e de dádiva total que gera a vida. A caridade «jamais acabará» (
1Co 13,8), afirma o Apóstolo Paulo, e é capaz de transformar os corações e o mundo com a força de Deus, semeando e despertando em toda a parte a solidariedade, a comunhão e a paz. Trata-se de dons confiados às nossas mãos frágeis, mas o seu desenvolvimento é seguro, porque o poder de Deus age precisamente na debilidade, se soubermos abrir-nos à sua força, se formos discípulos autênticos que procuram ser-lhe fiéis (cf. 2Co 12,10).

Estimados amigos da Roaco, nunca esqueçais a dimensão eucarística da vossa finalidade, para vos manterdes constantemente no movimento da caridade eclesial. Ele deseja chegar, de modo muito especial à Terra Santa, mas inclusive a todo o Médio Oriente, para promover a presença cristã nessa terra. Peço-vos que façais tudo o que vos for possível — inclusive suscitando o interesse das Autoridades públicas com as quais entrais em contacto a nível internacional — a fim de que no Oriente, onde nasceram, os Pastores e os fiéis de Cristo possam permanecer não como «estrangeiros», mas sim como «concidadãos» (Ep 2,19), que dão testemunho de Jesus Cristo, como o fizeram antes deles os Santos do passado, também eles filhos das Igrejas orientais. O Oriente é justamente a sua pátria terrestre. É ali que, ainda hoje, eles são chamados a promover — sem qualquer distinção — o bem de todos mediante a sua fé. Uma igual dignidade e uma liberdade real devem ser reconhecidas a todas as pessoas que professam esta fé, permitindo assim uma colaboração ecuménica e inter-religiosa mais fecunda.

Estou-vos grato pelas vossas reflexões acerca das mudanças que se estão a verificar nos países do Norte de África e no Médio Oriente, que constituem uma fonte de ansiedade para o mundo inteiro. Através das comunicações recebidas ultimamente da parte do Cardeal-Patriarca copto-católico e do Patriarca maronita, assim como do Representante pontifício em Jerusalém e do Guardião da Terra Santa, a Congregação e as Agências poderão tomar conhecimento da situação local para a Igreja e o povo dessa região, tão importante para a paz e a estabilidade no mundo. O Papa deseja manifestar a sua proximidade, também através de vós, em relação àqueles que estão a sofrer e a quantos procuram desesperadamente fugir, aumentando deste modo o fluxo migratório, que muitas vezes permanece sem qualquer esperança. Rezo a fim de que a necessária assistência de emergência se ponha depressa em acção, mas sobretudo para que todas as formas possíveis de mediação sejam exploradas, de tal forma que a violência possa cessar e a harmonia social e a coexistência pacífica se restabeleçam em toda a parte, no respeito pelos direitos dos indivíduos, mas também das comunidades em geral. A oração e a reflexão fervorosas ajudar-nos-ão, ao mesmo tempo, a interpretar os sinais emergentes do presente período de labuta e de lágrimas: que o Senhor da história as transforme sempre em benefício do bem comum.

A Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos, celebrada no passado mês de Outubro no Vaticano e na qual participaram alguns de vós, levou os irmãos e as irmãs do Oriente ainda mais decididamente ao coração da Igreja, fazendo com que entrevejam os sinais de novidade do tempo hodierno. Mas imediatamente depois daquela assembleia, a violência absurda atingiu ferozmente pessoas inermes (cf. Angelus de 1 de Novembro de 2010) na Catedral sírio-católica de Bagdad e, nos meses seguintes, em vários outros lugares. Esta dor sentida por Cristo pode servir de ajuda para o crescimento da boa semente e dar frutos ainda mais fecundos, se Deus quiser. Por isso, confio à boa vontade dos membros da Roaco aquilo que se evidenciou durante o Sínodo e também o precioso património espiritual, constituído pelo cálice da paixão de numerosos cristãos, como ponto de referência para um serviço inteligente e generoso, que comece a partir dos últimos sem excluir ninguém, e meça sempre a sua autenticidade pela medida do Mistério eucarístico.

Caros amigos, sob a guia dos seus Pastores generosos e também com o vosso apoio insubstituível, as Igrejas Orientais católicas conseguirão confirmar sempre a comunhão com a Sé Apostólica, ciosamente conservada ao longo dos séculos, e oferecer uma contribuição original para a nova evangelização, tanto na sua pátria como na diáspora crescente. Deposito estes bons votos sob a salvaguarda da Santíssima Mãe de Deus e do Precursor de Cristo, são João Baptista, na solenidade litúrgica do seu nascimento. Aproxima-se também a solenidade dos santos Apóstolos Pedro e Paulo: naquele dia darei graças ao Bom Pastor, como recordou o Cardeal Sandri, no sexagésimo aniversário da minha Ordenação sacerdotal. Estou muito reconhecido pelas apreciadas orações e felicitações, que me ofereceis. Peço-vos que compartilheis a minha súplica ao «Senhor da messe» (cf. Mt 9,38), a fim de que conceda à Igreja e ao mundo numerosos e fervorosos trabalhadores do Evangelho. E como sinal do meu carinho, estou deveras feliz por conceder a minha confortadora Bênção Apostólica a cada um de vós, a quantos vos são queridos e inclusive às comunidades que vos foram confiadas.



AOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO DOS SANTOS PEDRO E PAULO Sábado, 25 de Junho de 2011

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Basílica Vaticana, Altar da Cátedra



Prezados amigos

da Associação dos Santos Pedro e Paulo

Saúdo-vos com alegria e afecto! É com prazer que me encontro convosco, enquanto estais reunidos por ocasião do quadragésimo aniversário da vossa associação: uma celebração feliz, que convida a dar graças, antes de tudo ao Senhor, e ao amado Servo de Deus Paulo VI, que fez muito para renovar também o ambiente do Vaticano, em conformidade com as exigências contemporâneas. Saúdo de modo particular o Presidente, Doutor Calvino Gasparini, e agradeço-lhe as suas amáveis palavras; saúdo o Assistente espiritual, Mons. Joseph Murphy, os demais responsáveis e todos os sócios, assim como os ex-Assistentes, entre os quais o Cardeal Coppa, que nos honra com a sua presença, e o Cardeal Bertone que, quando era um jovem sacerdote, foi ajudante formador da então Guarda Palatina. Junto do altar do Senhor e do túmulo de São Pedro, façamos neste momento uma homenagem especial em recordação de todos aqueles que, ao longo destes quarenta anos, se sucederam na guia da associação e que, com dedicação, fazem parte da mesma. A quantos de entre eles deixaram este mundo, o Senhor conceda a sua paz e a bem-aventurança do seu Reino.

Também na minha alma, ao encontrar-me convosco, predomina o sentimento de reconhecimento, e é dirigido a vós, pelo serviço que ofereceis, sobretudo pelo amor e pelo espírito de fé com que o desempenhais. Vós dedicais uma parte do vosso tempo, harmonizando-o com os compromissos de família e subtraindo-o com frequência ao lazer, para vir ao Vaticano e colaborar para a boa ordem das celebrações. Além disso, dais vida a numerosas iniciativas caritativas, em colaboração com as Irmãs Filhas da Caridade e com as Missionárias da Caridade. Tais compromissos exigem uma profunda motivação, que deve ser sempre renovada, graças a uma vida espiritual intensa. Para ajudar os outros a rezar, é necessário conservar o coração orientado para Deus; a fim de chamar a sua atenção para o respeito pelos lugares santos e as coisas santas, é preciso ter em si mesmos o sentido cristão da sacralidade; para ajudar o próximo com um amor verdadeiramente cristão, devemos ter uma alma humilde e um olhar de fé. A vossa atitude, muitas vezes sem palavras, constitui uma indicação, um exemplo e uma evocação, e como tal ela possui também um valor educativo.

Naturalmente, o pressuposto de tudo isto é a vossa formação pessoal; e desejo dizer-vos que é precisamente por ela, assim como por tudo aquilo que levais a cabo, que vos estou grato de maneira particular. A Associação dos Santos Pedro e Paulo, bem como cada uma das associações autenticamente eclesiais, propõe-se antes de tudo a formação dos seus sócios, jamais em substituição nem em alternativa às paróquias, mas sempre de forma complementar em relação às mesmas.

Por isso, é-me grato saber que vos encontrais bem inseridos nas vossas comunidades paroquiais, e que educais os vossos filhos para o sentido da paróquia. Ao mesmo tempo, sinto-me feliz pelo facto de que a Associação é, na medida certa, exigente ao prever ocasiões formativas específicas para quantos desejam tornar-se sócios efectivos, e que oferece regularmente momentos oportunos para a promoção da perseverança. Dirijo um pensamento especial precisamente àqueles que, hoje de manhã, pronunciaram a solene Promessa de fidelidade; formulo-lhes votos a fim de que tenham sempre a alegria de se sentir discípulos de Cristo na Igreja, e exorto-os a dar um bom testemunho do Evangelho em todos os âmbitos da sua vida. Ainda nesta mesma perspectiva, apoiei desde o início o programa de dar vida a um grupo juvenil. Saúdo os jovens com afecto especial, enquanto os encorajo a seguir o exemplo do beato Pier Giorgio Frassati, amando a Deus com todo o coração, saboreando a beleza da amizade cristã e servindo Cristo com grande discrição nos irmãos mais pobres.

Estimados amigos, agradeço-vos também os bons votos, e principalmente as orações, por ocasião do meu sexagésimo aniversário de Sacerdócio. O dom que me quisestes oferecer, uma bonita casula, recorda-me que sou sempre, em primeiro lugar, Sacerdote de Cristo, e convida-me inclusive a lembrar-me de vós quando celebro o Sacrifício redentor. Obrigado de coração! Enfim, quero confiar-vos todos à Virgem Maria. Sei que na vossa Associação Ela é venerada com o título de Virgo Fidelis. Hoje mais que nunca há necessidade de fidelidade! Vivemos numa sociedade que perdeu este valor. Exaltam-se muito a atitude à mudança, a «mobilidade» e a «flexibilidade», por motivos económicos e organizativos, também legítimos. Mas a qualidade de um relacionamento humano vê-se da fidelidade! A Sagrada Escritura mostra-nos que Deus é fiel. Com a sua graça e a ajuda de Maria, sede portanto fiéis a Cristo e à Igreja, prontos para suportar com humildade e paciência o preço que isto exige.

A Virgo Fidelis obtenha para vós a paz nas vossas famílias, e faço votos para que dela nasçam vocações cristãs autênticas, para o Matrimónio, para o Sacerdócio e para a Vida consagrada. Por isso, asseguro-vos uma recordação especial na oração, enquanto de coração vos abençoo a todos, bem como aos vossos entes queridos.




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