Discursos Bento XVI 28611

MENSAGEM À DELEGAÇÃO DO PATRIARCADO ECUMÉNICO DE CONSTANTINOPLA, 28 de Junho de 2011

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Queridos Irmãos em Cristo!

Sede bem-vindos a Roma por ocasião da Festa dos Padroeiros desta Igreja, os Santos Apóstolos Pedro e Paulo. É-me particularmente grato saudar-vos com as palavras que São Paulo dirigia aos cristãos desta cidade: «O Deus da paz esteja com todos vós» (
Rm 15,32). Agradeço de coração ao Venerado irmão, o Patriarca Ecuménico Sua Santidade Bartolomeu i e ao Santo Sínodo do Patriarcado Ecuménico que quiseram enviar-vos, queridos Irmãos, como seus representantes para participar aqui connosco nesta solene celebração.

O Senhor Jesus Cristo, que depois da sua ressurreição apareceu aos seus discípulos, conferiu-lhes a tarefa de ser testemunhas do Evangelho de Salvação. Os Apóstolos cumpriram fielmente esta missão, testemunhando até ao sacrifício cruento da vida a fé em Cristo Salvador e o amor a Deus Pai. Nesta cidade de Roma os Apóstolos Pedro e Paulo enfrentaram o martírio e desde então os seus túmulos são objecto de veneração. A vossa participação nesta nossa Festa, assim como a presença de representantes nossos em Constantinopla para a Festa do Apóstolo André, expressa a amizade e a fraternidade autêntica que une a Igreja de Roma e o Patriarcado Ecuménico, vínculos que estão solidamente fundados naquela fé recebida do testemunho dos Apóstolos. A profunda proximidade espiritual que sentimos todas as vezes que nos encontramos é para mim motivo de profunda alegria e gratidão a Deus. Mas ao mesmo tempo a comunhão não completa que já nos une deve crescer até alcançar a plena unidade visível.

Seguimos com grande atenção o trabalho da Comissão mista para o diálogo teológico entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa no seu conjunto. A um olhar meramente humano, poderíamos ter a impressão de que o diálogo teológico procede com dificuldade. Na realidade, o ritmo do diálogo está ligado à complexidade dos temas em debate, que exigem um extraordinário compromisso de estudo, reflexão e abertura recíproca. Somos chamados a continuar juntos na caridade este caminho, invocando do Espírito Santo luz e inspiração, na certeza de que ele quer conduzir-nos ao cumprimento pleno da vontade de Cristo: que todos sejam um (Jn 17,21). Estou particularmente grato a todos os membros da Comissão mista e em particular aos Co-Presidentes, Sua Eminência o Metropolita de Pergamo Ioannis e Sua Eminência o Cardeal Kurt Koch, pela sua incansável dedicação, paciência e competência.

Num contexto histórico de violências, indiferença e egoísmo, muitos homens e mulheres do nosso tempo sentem-se desorientados. É precisamente com o testemunho comum da verdade do Evangelho que poderemos ajudar o homem do nosso tempo a reencontrar o caminho que o leva à verdade. De facto, a busca da verdade, é sempre também busca da justiça e da paz, e é com grande alegria que constato o grande compromisso com que Sua Santidade Bartolomeu se prodigaliza sobre estes temas. Em união de intenções, e recordando o bonito exemplo do meu predecessor, o Beato João Paulo II, quis convidar os irmãos cristãos, os representantes das outras tradições religiosas do mundo e personalidades do mundo da cultura e da ciência, a participar no próximo dia 27 de Outubro na cidade de Assis a um Dia de reflexão, diálogo e oração pela paz e pela justiça no mundo, que terá como tema «Peregrinos na verdade, peregrinos na paz». O caminhar juntos pelas estradas da cidade de São Francisco será o sinal da vontade de continuar a percorrer o caminho do diálogo e da fraternidade. Eminência, queridos membros da Delegação, agradecendo-vos mais uma vez pela vossa presença em Roma nesta solene circunstância, peço-vos que leveis a minha saudação ao venerado irmão o Patriarca Bartolomeu I, ao Santo Sínodo, ao clero e a todos os fiéis do Patriarcado Ecuménico, garantindo-lhes o afecto e a solidariedade da Igreja de Roma, que hoje está em festa pelos seus Santos fundadores.

Vaticano, 28 de Junho de 2011.


BENTO PP. XVI






POR OCASIÃO DA ENTREGA DO «PRÉMIO RATZINGER» Quinta-feira, 30 de Junho de 2011

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Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
Ilustres Senhores e Senhoras!

Gostaria de expressar antes de tudo a minha alegria e gratidão pelo facto de que, com a entrega do seu primeiro prémio teológico, a Fundação que tem o meu nome dá reconhecimento público à obra realizada no espaço de toda uma vida por dois grandes teólogos, e a um teólogo da geração mais jovem dá um sinal de encorajamento para progredir no caminho empreendido. Ao Professor González de Cardedal liga-me um caminho comum de muitos decénios. Ambos iniciámos com são Boaventura e por ele nos deixamos indicar o rumo. Numa longa vida de estudioso, o Professor González tratou todos os grandes temas da teologia, e isto não simplesmente reflectindo sobre eles ou falando à mesa, mas sempre confrontada com o drama do nosso tempo, vivendo e sofrendo também de modo totalmente pessoal as grandes questões da fé e com elas as questões do homem de hoje. Deste modo, a palavra da fé não é uma coisa do passado; nas suas obras ela torna-se deveras nossa contemporânea. O Professor Simonetti abriu-nos de modo novo o mundo dos Padres. Precisamente mostrando-nos, sob o ponto de vista histórico, com exactidão e solicitude o que os Padres dizem, eles tornam-se pessoas nossas contemporâneas, que falam connosco. O Padre Maximilian Heim foi eleito recentemente Abade de Heiligenkreutz perto de Viena — um mosteiro rico de tradição — assumindo com isto a tarefa de tornar actual uma grande história e de a conduzir para o futuro. Nisto, espero que a obra sobre a minha teologia, que ele nos doou, lhe possa ser útil e que a Abadia de Heiligenkreutz possa, neste nosso tempo, desenvolver ulteriormente a teologia monástica, que sempre acompanhou a universitária, formando com ela o conjunto da teologia ocidental.

Contudo, não é tarefa minha proferir aqui uma laudatio dos premiados, que já foi feita de modo competente pelo Cardeal Ruini. Mas talvez a entrega do prémio ofereça a ocasião para nos dedicarmos por um momento à questão fundamental do que é verdadeiramente a «teologia». A teologia é ciência da fé, diz-nos a tradição. Mas aqui surge imediatamente a pergunta: isto é deveras possível? Ou não é em si uma contradição? Porventura ciência não é o contrário de fé? Não deixa a fé de ser fé, quando se torna ciência? E não deixa a ciência de ser ciência quando está ordenada ou até subordinada à fé? Tais questões, que já para a teologia medieval representavam um sério problema, com o moderno conceito de ciência tornaram-se ainda mais impelentes, à primeira vista até sem solução. Compreende-se assim por que, na era moderna, a teologia em vastos âmbitos se retirou primariamente no campo da história, a fim de demonstrar aqui a sua séria cientificidade. É preciso reconhecer, com gratidão, que com isto foram realizadas obras grandiosas, e a mensagem cristã recebeu nova luz, capaz de tornar visível a sua riqueza íntima. Contudo, se a teologia se retira totalmente no passado, hoje deixa a fé às escuras. Numa segunda fase concentrámo-nos depois na prática, para mostrar como a teologia, em ligação com a psicologia e a sociologia, é uma ciência útil que dá indicações concretas para a vida. Também isto é importante, mas se o fundamento da teologia, a fé, não se torna contemporaneamente objecto do pensamento, se a prática for referida só a si mesma, ou se vive unicamente dos empréstimos das ciências humanas, então a prática torna-se vazia e desprovida de fundamento.

Por conseguinte, estes caminhos não são suficientes. Por mais úteis e importantes que sejam, eles tornar-se-iam subterfúgios, se a verdadeira pergunta permanecesse sem resposta. Ela reza: é verdade aquilo em que cremos, ou não? Na teologia está em jogo a questão acerca da verdade; ela é o seu fundamento último e essencial. Aqui uma expressão de Tertuliano pode fazer-nos dar aqui um passo em frente; ele escreve que Cristo não disse: Eu sou o costume, mas: Eu sou a verdade — non consuetudo sed veritas (Virg. 1, 1). Christian Gnilka mostrou que o conceito consuetudo pode significar as religiões pagãs que, segundo a natureza, não eram fé, mas «costume»: faz-se aquilo que sempre se fez; observam-se as formas cultuais tradicionais e espera-se permanecer assim na justa relação com o âmbito misterioso do divino. O aspecto revolucionário do cristianismo na antiguidade foi precisamente a ruptura com o «costume» por amor à verdade. Tertuliano fala aqui sobretudo com base no Evangelho de são João, no qual se encontra também a outra interpretação fundamental da fé cristã, que se expressa na designação de Cristo como Logos.Se Cristo é o Logos, a verdade, o homem deve corresponder-lhe com o seu próprio logos, com a sua razão. Para chegar a Cristo, ele deve estar no caminho da verdade. Deve abrir-se ao Logos, à Razão criadora, da qual deriva a sua própria razão e para a qual ela o remete. Daqui compreende-se que a fé cristã, pela sua própria natureza, devia suscitar a teologia, interrogar-se sobre o bom senso da fé, mesmo se naturalmente o conceito de razão e de ciência abraçam muitas dimensões, e assim a natureza concreta no nexo entre fé e razão devia e deve ser sempre de novo investigada.

Portanto, por mais claro que se apresente no cristianismo, o vínculo fundamental entre Logos, verdade e fé — a forma concreta deste vínculo suscitou e suscita sempre novas perguntas. É claro que neste momento esta pergunta, que ocupou e ocupará todas as gerações, não pode ser tratada em particular, nem sequer de modo geral. Gostaria apenas de tentar propor uma pequeníssima nota. São Boaventura, no prólogo ao seu Comentário às Sentenças falou de dúplice uso da razão — de um uso que é irreconciliável com a natureza da fé. Existe, assim se diz, a violentia rationis, o despotismo da razão, que se faz juiz supremo e último de tudo. Este tipo de uso da razão é certamente impossível no âmbito da fé. Que quer dizer Boaventura com isto? Uma expressão do Salmo 95, 9 pode mostrar-nos do que se trata. Aqui Deus diz ao seu povo: «No deserto... os vossos pais tentaram-me. Puseram-me à prova mesmo tendo visto as minhas obras». Menciona-se aqui um dúplice encontro com Deus: eles «viram». Mas isto para eles não é suficiente. Eles põem Deus «à prova». Desejam submetê-lo a uma experimentação. Ele é, por assim dizer, submetido a um interrogatório e deve sujeitar-se a um procedimento de prova experimental. Esta modalidade de uso da razão, na era moderna, alcançou o ápice do seu desenvolvimento no âmbito das ciências naturais. A razão experimental hoje é considerada como a única forma de racionalidade declarada científica. O que não pode ser cientificamente provado ou falsificado é excluído do âmbito científico. Com esta orientação foram realizadas obras grandiosas, como sabemos; que ela seja justa e necessária no âmbito do conhecimento da natureza e das suas leis, ninguém pretenderá pô-lo seriamente em dúvida. Contudo existe um limite para este uso da razão: Deus não é um objecto da experimentação humana. Ele é Sujeito e manifesta-se unicamente na relação de pessoa a pessoa: isto faz parte da essência da pessoa.

Nesta perspectiva Boaventura menciona um segundo uso da razão, que é válido para o âmbito «pessoal», para as grandes questões do próprio ser homens. O amor quer conhecer melhor aquele que ama. O amor, o amor verdadeiro, não torna cegos, mas videntes. Dele faz parte precisamente a sede de conhecimento, de um verdadeiro conhecimento do outro. Por isso, os Padres da Igreja encontraram os precursores e os mensageiros do cristianismo — fora do mundo da revelação de Israel — não no âmbito da religião habitual, mas nos homens em busca de Deus, em busca da verdade, nos «filósofos»: em pessoas que estavam sequiosas da verdade e por conseguinte estavam no caminho rumo a Deus. Quando não há este uso da razão, então as grandes questões da humanidade são postas fora do âmbito da razão e são deixadas à irracionalidade. Por isto é tão importante uma teologia autêntica. A fé recta orienta a razão para a abertura ao divino, para que ela, guiada pelo amor à verdade, possa conhecer Deus mais de perto. A iniciativa para este caminho encontra-se junto de Deus, que colocou no coração do homem a busca do seu Rosto. Portanto, faz parte da teologia, por um lado a humildade que se deixa «tocar» por Deus, por outro a disciplina que se liga à ordem da razão, que preserva o amor da cegueira e que ajuda a desenvolver a sua força visiva.

Estou bem ciente de que com tudo isto não foi dada uma resposta à questão acerca da possibilidade e da tarefa da recta teologia, mas foi apenas ressaltada a grandeza do desafio ínsito na natureza da teologia. Contudo é precisamente deste desafio que o homem precisa, porque ele estimula-nos a abrir a nossa razão interrogando-nos acerca da própria verdade, acerca do rosto de Deus. Por isso estamos gratos aos premiados que mostraram na sua obra que a razão, caminhando pela pista traçada pela fé, não é uma razão alienada, mas é a razão que responde à sua altíssima vocação. Obrigado.






AOS ARCEBISPOS METROPOLITANOS QUE RECEBERAM O PÁLIO, Quinta-feira, 30 de Junho de 2011

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Sala Paulo VI




Amados irmãos e irmãs!

Estão ainda vivos na mente e no coração de todos nós os sentimentos e as emoções que vivemos ontem na Basílica Vaticana, por ocasião da celebração da solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, na qual tive a alegria de impor o Pálio a vós, Arcebispos Metropolitanos nomeados durante o último ano. O encontro hodierno, simples e familiar, oferece-me a oportunidade de prolongar o clima de comunhão eclesial e de renovar a minha cordial saudação a vós, dilectos Irmãos no Episcopado, assim como aos vossos familiares e às personalidades que quiseram participar nesta feliz celebração. Abranjo com o meu pensamento afectuoso as vossas Igrejas particulares, que recordo na oração, a fim de que sejam animadas por um impulso apostólico constante.

Dirijo-me em primeiro lugar a vós, queridos Pastores de duas Dioceses italianas. Saúdo Vossa Excelência, D. Cesare Nosiglia, Arcebispo de Turim, e Vossa Excelência, D. Vincenzo Bertolone, Arcebispo de Catanzaro-Squillace. O Senhor vos abençoe sempre e vos ajude, no vosso ministério episcopal quotidiano, a fazer com que as Comunidades que vos foram confiadas cresçam unidas e missionárias, concordes na caridade, firmes na esperança e ricas de dinamismo da fé.

Nesta festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, estou feliz por receber os peregrinos de língua francesa, vindos a Roma por ocasião da imposição do Pálio aos novos Arcebispos Metropolitanos. Dirijo as minhas cordiais saudações a D. Antoine Ganyé, Arcebispo de Cotonou no Benim, a D. Paul Ouédraogo, Arcebispo de Bobo-Dioulasso no Burkina Faso, a D. Jean-Pierre Tafunga Mbayo, Arcebispo de Lubumbashi, na República Democrática do Congo, a D. Gérard Lacroix, Arcebispo de Québec, no Canadá, e a D. Pierre-Marie Carré, Arcebispo de Montpellier, na França. Aos bispos, aos sacerdotes e a todos os fiéis dos vossos países, transmiti as minhas cordiais saudações e a certeza da minha proximidade espiritual. Vós, que recebestes o Pálio, sinal litúrgico que exprime o laço de comunhão que vos une de modo particular ao Sucessor de Pedro, sede testemunhas jubilosas e fiéis do amor do Senhor, que procura reunir os seus filhos na unidade de uma única família! Deus vos abençoe!

Estendo as minhas saudações cheias de afecto aos Arcebispos Metropolitanos aos quais ontem impus o Pálio: a D. James Peter Sartain, Arcebispo de Seattle, nos Estados Unidos da América; a D. Gustavo Garcia-Siller, Arcebispo de San Antonio, nos Estados Unidos da América; a D. Jose Serofia Palma, Arcebispo de Cebu, nas Filipinas; a D. Thaddeus Cho Hwan-kil, Arcebispo de Daegu, na Coreia; a D. Jude Ruwa’ichi, Arcebispo de Mwanza, na Tanzânia; a D. William Slattery, Arcebispo de Pretória, na África do Sul; a D. Paul S. Coackley, Arcebispo de Oklahoma City, nos Estados Unidos da América; a D. Rémi Joseph Gustave Sainte-Marie, Arcebispo de Lilongwe, no Malavi; a D. José Horacio Gómez, Arcebispo de Los Angeles, nos Estados Unidos da América; a D. Thumma Bala, Arcebispo de Hyderabad, na Índia; a D. Augustine Obiora Akubeze, Arcebispo de Benin City, na Nigéria; a D. Charles Henry Dufour, Arcebispo de Kingston, na Jamaica; a D. George Stack, Arcebispo de Cardiff, no País de Gales; e a D. Sergio Lasam Utleg, Arcebispo de Tuguegarao, nas Filipinas. Acolho também os seus familiares, os amigos e os fiéis das suas respectivas Arquidioceses, que vieram a Roma para rezar com eles e compartilhar a sua alegria. O Pálio é recebido das mãos do Sucessor de Pedro e trazido pelos Arcebispos como sinal de comunhão na fé e no amor, e do governo do povo de Deus. Além disso, recorda aos chefes do rebanho as próprias responsabilidades de Pastores, em conformidade com o Coração de Jesus. A todos vós concedo de coração a minha Bênção Apostólica, como penhor de paz e de alegria no Senhor.

Saúdo com carinho os Senhores Arcebispos de língua espanhola e quantos os acompanharam para esta significativa cerimónia da imposição do Pálio, que os distingue como Arcebispos Metropolitanos. Saúdo em particular o Arcebispo de Bogotá, D. Rubén Salazar Gómez; de Quito, D. Fausto Gabriel Trávez Trávez; de Guatemala, D. Óscar Julio Vian Morales; de Manizales, D. Gonzalo Restrepo Restrepo; de Paraná, D. Juan Alberto Puiggari; de Barranquilla, D. Jairo Jaramillo Monsalve; de Santiago do Chile, D. Ricardo Ezzati Andrello; de Concepción, D. Fernando Natalio Chomali Garib; e de Cali, D. Darío de Jesús Monsalve Mejía. Se o Pálio lhes recorda a sua especial responsabilidade em relação às Igrejas sufragâneas e o seu particular vínculo de unidade com a Sé de Pedro, exige-se de vós que os acompanhais uma maior proximidade na oração e a colaboração no ministério que lhes foi confiado. Invocando a salvaguarda da Santíssima Virgem Maria, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva a todos os Pastores e fiéis destas Igrejas particulares na Colômbia, Equador, Guatemala, Argentina e Chile.

Saúdo com grande afecto os Metropolitas de Angola e do Brasil que ontem receberam o Pálio, insígnia litúrgica que exprime uma singular união das suas arquidioceses com a Sé de Pedro: Dom Luis Maria Pérez de Onraita, de Malanje; Dom José Manuel Imbamba, de Saurimo; Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, de São Salvador da Bahia; Dom Pedro Brito Guimarães, de Palmas; Dom Jacinto Bergmann, de Pelotas; Dom Hélio Adelar Rubert, de Santa Maria; Dom Pedro Ercílio Simão, de Passo Fundo; Dom Dimas Lara Barbosa, de Campo Grande; e Dom Sérgio da Rocha, de Brasília. O Senhor Jesus, que vos escolheu como Pastores do seu rebanho, vos ampare no vosso ministério quotidiano e vos torne fiéis anunciadores do Evangelho com a força do Espírito Santo. Dou também as boas-vindas aos familiares e amigos, e aos fiéis das respectivas Igrejas particulares que vos acompanharam até Roma. Asseguro a todos vós e vossas comunidades arquidiocesanas a minha recordação diária na oração e, do íntimo do coração, concedo a Bênção Apostólica.

Dirijo a minha cordial saudação a D. Zbignev Stankevics, Arcebispo de Riga, e a quantos o acompanham, formulando os melhores votos para um ministério profícuo.

Dirijo uma saudação cordial ao Arcebispo de Maribor, D. Marjan Turnšek, e aos eslovenos que o acompanharam, desejando-lhe um ministério fecundo e concedendo a todos a Bênção Apostólica.

Caros amigos, demos graças ao Senhor que, na sua bondade infinita, não deixa de conceder Pastores à sua Igreja. A vós, estimados Arcebispos Metropolitanos, asseguro a minha proximidade espiritual e o meu apoio orante ao vosso serviço pastoral, cujo requisito necessário é o amor a Cristo, a Quem nada deve ser anteposto. São Cipriano, Bispo de Cartago, no seu Tratado sobre o Pai-Nosso, afirma: «Absolutamente nada antepor a Cristo, porque nem sequer Ele preferiu algo a nós. Vontade de estarmos inseparavelmente unidos ao seu amor, permanecermos ao lado da sua cruz com coragem e dar-lhe um testemunho firme». Prezados Irmãos, vele sempre sobre vós e vos sustente a Virgem Maria, Regina Apostolorum, e vos acompanhe a minha Bênção, que de coração renovo a cada um de vós, aos vossos entes queridos e a quantos estão confiados aos vossos cuidados episcopais.






AOS PARTICIPANTES NA XXXVII CONFERÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA (FAO) Sexta-feira, 1 de Julho de 2011

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Senhor Presidente
Senhores Ministros
Senhor Director-Geral
Ilustres Senhores, Gentis Senhoras

1. Estou particularmente feliz por acolher todos vós, que participais na XXXVII Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, prosseguindo uma longa e grata tradição iniciada há sessenta anos com o estabelecimento da FAO em Roma.

Através de Vossa Excelência, Senhor Presidente, desejo agradecer às numerosas Delegações governamentais que quiseram estar presentes neste encontro, testemunhando a universalidade efectiva da FAO. Gostaria, também, de renovar o apoio da Santa Sé à louvável e insubstituível actividade da Organização, confirmando o compromisso da Igreja Católica de colaborar com os vossos esforços para responder às necessidades reais de tantos dos nossos irmãos e irmãs em humanidade.

Aproveito esta ocasião para saudar o director-geral, Senhor Jacques Diouf, que com competência e dedicação tornou a FAO capaz de enfrentar os problemas e as crises determinadas pelas variáveis realidades globais que abrangeram, também de modo dramático, o seu campo de acção específico.

Ao director-geral eleito, Senhor José Graziano da Silva, ofereço os meus votos sinceros de sucesso pela sua obra futura, com o desejo de que a FAO possa responder cada vez mais e melhor às expectativas dos seus Estados membros e proporcionar soluções concretas a quantos sofrem por causa da fome e da subalimentação.

2. Os vossos trabalhos têm indicado políticas e estratégias capazes de contribuir para a importante recuperação do sector agrícola, dos níveis de produção alimentar e do desenvolvimento mais geral das áreas rurais. O momento de crise que investe actualmente todos os aspectos da realidade económica e social exige, de facto, todos os esforços para colaborar para a eliminação da pobreza, primeiro passo para libertar da fome milhões de homens, mulheres e crianças que não têm o pão de cada dia. Uma reflexão completa, no entanto, impõe que se encontrem as causas de tal situação sem se limitar aos níveis de produção, à demanda crescente de alimentos ou à instabilidade dos preços: factores que, embora sejam importantes, correm o risco de levar a uma leitura do drama da fome em chave exclusivamente técnica.

A pobreza, o subdesenvolvimento e, portanto, a fome são com frequência resultado de atitudes egoístas que, partindo do coração do homem, se manifestam no seu agir social, nas mudanças económicas, nas condições de mercado, na falta de acesso ao alimento e traduzem-se na negação do direito primário de cada pessoa a nutrir-se e, portanto, a ser libertada da fome. Como podemos ignorar o facto de que também o alimento se tornou objecto de especulações e está ligado aos andamentos de um mercado financeiro que, privado de regras certas e pobre de princípios morais, parece pegado ao único objectivo do lucro? A alimentação é uma condição que diz respeito ao direito fundamental à vida. Garanti-la significa também agir directamente e sem demora sobre aqueles factores que, no sector agrícola, pesam de modo negativo sobre a capacidade de trabalho, mecanismos de distribuição e mercado internacional. E isso apesar da presença de uma produção alimentar global que, segundo a FAO e especialistas influentes, é capaz de alimentar a população mundial.

3. O quadro internacional e as recorrentes apreensões determinadas pela instabilidade e pelo aumento dos preços requerem respostas concretas e necessariamente unitárias para conseguir resultados que singularmente os Estados não podem garantir. Isso significa fazer da solidariedade um critério essencial para toda a acção política e estratégica, a fim de tornar a actividade internacional e as suas diversas regras instrumentos de serviço efectivo a toda a família humana e, em particular, aos últimos. É, portanto, urgente um modelo de desenvolvimento que considere não somente a amplitude económica das necessidades ou a confiabilidade das estratégias a perseguir, mas também a dimensão humana de cada iniciativa, e seja capaz de realizar uma fraternidade autêntica (cf. Caritas in veritate ), levando em consideração o apelo ético de «alimentar os famintos», que pertence ao sentimento de compaixão e de humanidade inscrito no coração de cada pessoa e que a Igreja inseriu entre as obras de misericórdia. Em tal perspectiva, as instituições da Comunidade internacional são chamadas a agir em coerência com o seu mandato para sustentar os valores próprios da dignidade humana, eliminando atitudes de fechamento e sem deixar espaço a instâncias particulares que se fazem passar por interesses gerais.

4. Também a FAO é chamada a renovar a própria estrutura, libertando-a de obstáculos que a distanciam do objectivo indicado pela sua Constituição, de garantir o crescimento nutricional, a disponibilidade da produção alimentar, o desenvolvimento das áreas rurais, bem como assegurar à humanidade a libertação da fome (cf. FAO, Constituição, Preâmbulo). Neste compromisso, torna-se essencial uma plena sintonia da Organização com os Governos na orientação e apoio às iniciativas, especialmente na conjuntura actual, em que se vê reduzir a disponibilidade de recursos económico-financeiros enquanto o número de famintos no mundo não diminui segundo os objectivos esperados.

5. O meu pensamento dirige-se agora à situação dos milhões de crianças, que são as primeiras vítimas desta tragédia, condenadas a uma morte precoce, a um atraso no seu desenvolvimento físico e psíquico ou forçadas a formas de exploração para receber um mínimo de alimento. A atenção às jovens gerações pode ser uma forma para combater o abandono das áreas rurais e do trabalho agrícola, de modo a consentir que comunidades inteiras, cuja sobrevivência é ameaçada pela fome, olhem com mais confiança para o futuro. Deve-se, de facto, constatar que, não obstante os compromissos assumidos e as consequentes obrigações, a assistência e os auxílios concretos se limitam frequentemente às emergências, esquecendo-se que uma concepção coerente de desenvolvimento deve ser capaz de planear um futuro para cada pessoa, família e comunidade, favorecendo objectivos a longo prazo.

Por isso, devem ser apoiadas as iniciativas que se gostariam de tomar também a nível de Comunidade internacional para redescobrir o valor da sociedade familiar rural e apoiar o seu papel central para alcançar uma segurança alimentar estável. De facto, no mundo rural, o núcleo familiar tradicional está empenhado em promover a produção agrícola mediante a sábia transmissão de pais para filhos não só de sistemas de cultivo ou da conservação e distribuição de alimentos, mas também de estilos de vida, de princípios educativos, de cultura, de religiosidade, de concepção da sacralidade da pessoa em todas as fases da sua existência. A família rural é um modelo não só de trabalho, mas de vida e de expressão concreta da solidariedade, onde se confirma o papel essencial da mulher.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores!

6. O objectivo da segurança alimentar é uma exigência autenticamente humana, disto estamos conscientes. Garanti-la às gerações presentes e às que virão também significa proteger os recursos naturais de uma exploração frenética, pois a corrida ao consumo e ao desperdício parece ignorar qualquer atenção ao património genético e às diversidades biológicas, tão importantes para as actividades agrícolas. Mas a ideia de uma apropriação exclusiva de tais recursos está em contraste com a chamada de Deus aos homens e mulheres a fim de que ao «cultivar e guardar» a terra (cf.
Gn 2,8-17) promovam o uso participado dos bens da Criação, objectivo que as actividades multilaterais e as regras internacionais certamente podem ajudar a alcançar.

Neste momento em que os muitos problemas que atingem a actividade agrícola se acrescentam às novas oportunidades para contribuir para o alívio do drama da fome, vós podeis agir para que, através da garantia de uma alimentação adequada aos necessitados, cada pessoa possa crescer segundo a sua verdadeira dimensão de criatura feita à imagem de Deus.

São estes os votos que desejo manifestar, enquanto sobre todos vós e o vosso trabalho invoco a abundância das Bênçãos divinas.




PALAVRAS NO FINAL DO ALMOÇO OFERECIDO PELO COLÉGIO CARDINALÍCIO POR OCASIÃO DO SEU SEXAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DE ORDENAÇÃO SACERDOTAL

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Sala Ducal do Palácio Apostólico

Sexta-feira 1 de Julho de 2011




Amados Irmãos

«Ecce quam bonum et quam iucundum habitare fratres in unum» (
Ps 133,1): neste momento, estas palavras do Salmo são para mim uma realidade viva. Vejamos como é bom que os irmãos permaneçam unidos e vivam juntos a alegria do sacerdócio, do facto de serem chamados à vinha do Senhor. Gostaria de lhe agradecer de todo o coração, cardeal decano, as suas palavras comovedoras e confortantes, e sobretudo também o dom que me ofereceu, porque assim o nosso «estar juntos» se amplia aos pobres de Roma. Não somos só nós que comemos, aqui connosco estão aqueles pobres que têm necessidade da nossa ajuda e da nossa assistência, do nosso amor, que se realiza concretamente na possibilidade de comer, de viver bem, enquanto podemos, queremos agir neste sentido, e este é um sinal importante para mim, porque nesta hora solene nós não estamos sozinhos; connosco encontram-se os pobres de Roma, que são particularmente amados pelo Senhor.

Fratres in unum: a experiência da fraternidade é uma realidade interna ao sacerdócio, porque nunca somos ordenados sozinhos, mas somos inseridos num presbitério, ou como bispos no colégio episcopal; assim o «nós» da Igreja é acompanhado e manifesta-se nesta hora. Esta é uma hora de gratidão pela guia do Senhor, por tudo aquilo que me concedeu e perdoou ao longo destes anos, mas também um momento de memória. Em 1951 o mundo era totalmente diferente: não havia a televisão nem a internet, não havia o computador nem o telemóvel. O mundo do qual nós vimos parece realmente pré-histórico; e, sobretudo, as nossas cidades estavam assoladas, e economia destruída, havia uma grande pobreza material e espiritual, mas também uma forte energia e vontade de reconstruir esse país, de o renovar principalmente na Comunidade europeia, sobre o fundamento da nossa fé, e de nos inserirmos na grande Igreja de Cristo, que é o Povo de Deus e que nos guia rumo ao mundo de Deus. Assim, naquele momento começamos com grande entusiasmo e com alegria. Depois, chegou a hora do Concílio Vaticano II, onde todas aquelas esperanças que tínhamos pareciam realizar-se; em seguida, o momento da revolução cultural de 68, anos difíceis em que a barca do Senhor parecia cheia de água, quase a ponto de afundar; e todavia o Senhor, que naquele instante parecia dormir, estava presente e guiou-nos para a frente. Eram os anos em que trabalhei ao lado do beato Papa João Paulo II: inesquecíveis! E depois, enfim, a hora totalmente inesperada de 19 de Abril de 2005, quando o Senhor me chamou para um novo compromisso e, só com confiança na sua força, abandonando-me a Ele, pude pronunciar o «sim» daquele momento.

Durante estes sessenta anos, quase tudo mudou, mas a fidelidade do Senhor permaneceu. Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre: e esta é a nossa certeza, que nos indica o caminho para o futuro. O momento da memória, o instante da gratidão é também a hora da esperança: In te Domine speravi, non confundar in aeternum.

Dou graças ao Senhor neste momento pela sua guia. Obrigado a todos vós pela companhia fraterna, o Senhor abençoe todos vós. Estou grato pelo dom e por toda a colaboração. Com a ajuda do Senhor, vamos em frente!





Discursos Bento XVI 28611