Discursos Bento XVI 25921

CERIMÓNIA DE DESPEDIDA Aeroporto de Lahr Domingo, 25 de Setembro de 2011

25921

Ilustre e amado Presidente Federal,
Distintos Representantes do Governo Federal,
do Land Baden Württemberg e dos Municípios,
Amados Irmãos no Episcopado,
Gentis Senhoras e Senhores!

Antes de deixar a Alemanha, sinto o dever de agradecer pelos dias, cheios de emoções e ricos de acontecimentos, passados na nossa pátria.

A minha gratidão a Vossa Excelência, Senhor Presidente Federal Wulff, que, em Berlim, me acolheu em nome do povo alemão e agora, no momento da despedida, de novo me honrou com as suas amáveis palavras. Agradeço aos Representantes do Governo Federal e dos Governos dos Länder que vieram a esta cerimónia de despedida. Um cordial obrigado ao Arcebispo de Friburgo, D. Zollitsch, que me acompanhou durante toda a visita. De bom grado estendo os meus agradecimentos também ao Arcebispo de Berlim, D. Woelki, e ao Bispo de Erfurt, D. Wanke, que me demonstraram igualmente a sua fraterna hospitalidade, bem como a todo o Episcopado alemão. Por fim, dirijo um agradecimento particular a quantos, nos bastidores, prepararam estes quatro dias, assegurando o seu decurso livre de impedimentos: às instituições municipais, às forças da ordem, aos serviços sanitários, aos responsáveis dos transportes públicos, e também aos numerosos voluntários. Agradeço a todos por estes dias estupendos, por tantos encontros pessoais e pelos inumeráveis sinais de atenção e de estima que me manifestaram.

Na capital federal de Berlim, tive a ocasião particular de falar diante dos parlamentares no Deutscher Bundestag, expondo-lhes algumas reflexões sobre os fundamentos intelectuais do estado de direito. De bom grado volto com o pensamento também aos frutuosos colóquios com o Presidente Federal e a Senhora Chanceler sobre a actual situação do povo alemão e da comunidade internacional. Tocou-me de modo particular o acolhimento cordial e o entusiasmo de tantas pessoas em Berlim.

No País da Reforma, naturalmente o ecumenismo constituiu um dos pontos centrais da visita. Quero aqui destacar o encontro com os representantes da «Igreja Evangélica na Alemanha» no ex-convento agostiniano de Erfurt. Sinto-me profundamente agradecido pela partilha fraterna e a oração em comum. Muito particular foi o encontro com os cristãos ortodoxos e ortodoxos orientais, como também com os judeus e os muçulmanos.

Obviamente esta visita era dirigida de modo particular aos católicos em Berlim, Erfurt, Eichsfeld e Friburgo. Recordo com prazer as celebrações litúrgicas comuns, a alegria de ouvir juntos a Palavra de Deus e de rezar e cantar unidos – e isto sobretudo nas partes do País onde, por decénios, se tentou remover a religião da vida das pessoas. Isto enche-me de confiança quanto ao futuro da Igreja e do cristianismo na Alemanha. Como já sucedeu durante as visitas precedentes, pôde-se experimentar a multidão de pessoas que aqui testemunham a própria fé e tornam presente a sua força transformadora no mundo actual.

Por fim, fiquei muito feliz por me encontrar de novo, depois da impressionante Jornada Mundial da Juventude em Madrid, também em Friburgo, com tantos jovens ontem, na vigília da juventude. Desejo encorajar a Igreja na Alemanha a continuar, com força e confiança, o caminho da fé, que faz as pessoas voltarem às raízes, ao núcleo essencial da Boa Nova de Cristo. Haverá – e já existem – comunidades pequenas de crentes que, com o seu entusiasmo, difundem raios de luz na sociedade pluralista, fazendo a outros curiosos de procurar a luz que dá vida em abundância. «Não há nada de mais belo que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele» (Homilia no início solene do Ministério Petrino, 24 de Abril de 2005). A partir desta experiência, cresce a certeza: «Onde há Deus, há futuro». Onde Deus está presente, há esperança e abrem-se perspectivas novas e, frequentemente, inesperadas que vão para além do hoje e das coisas efémeras. Neste sentido, acompanho em pensamento e na oração o caminho da Igreja na Alemanha.

Cheio de experiências e recordações destes dias na minha pátria, que levo profundamente gravadas em mim, regresso agora a Roma. Com a certeza das minhas orações por todos vós e por um futuro feliz para o nosso País em paz e liberdade, despeço-me com um cordial «Vergelt’s Gott» [Que Deus vos pague]. Deus vos abençoe a todos!




SAUDAÇÃO AOS FUNCIONÁRIOS DAS VILAS PONTIFÍCIAS Castel Gandolfo Quarta-feira, 28 de Setembro de 2011

28911

Estimados irmãos e irmãs

Chegamos à conclusão da temporada de Verão em Castel Gandolfo. Também este ano tenho o prazer de me encontrar convosco, para saudar todos vós juntos e para vos manifestar o meu reconhecimento pelo precioso serviço que desempenhastes e pelo que continuareis a realizar com competência na manutenção desta morada. Na pessoa do Director, Doutor Saverio Petrillo, que com a sua tradicional amabilidade se fez intérprete dos sentimentos de todos, agradeço à inteira comunidade de trabalho que cuida do Palácio e das Vilas Pontifícias.

Neste lugar vive-se em contacto contínuo com a natureza e num clima de silêncio. Estou feliz por esta circunstância para recordar que ambos nos aproximam de Deus: a natureza, enquanto obra-prima saída das mãos do Criador; o silêncio, que nos permite pensar e meditar sem distracções sobre o que é essencial na nossa existência. Romano Guardini afirmava: «Somente no silêncio chego diante de Deus e só no silêncio me conheço a mim mesmo». Num ambiente como este, é mais fácil encontrar-nos a nós mesmos, ouvindo a voz interior, diria a presença de Deus, que dá sentido profundo à nossa vida.

Habitando aqui em Castel Gandolfo, vivi durante estes meses momentos tranquilos de estudo, de oração e de descanso. Também as Audiências gerais, na moldura mais familiar do pátio do Palácio ou da praça diante dele, foram realizadas regularmente graças à vossa colaboração sempre atenta. O Senhor recompense cada um com a abundância dos seus dons e vos conserve na paz, a vós e às vossas famílias. Em particular, agradeço-vos porque me acompanhastes com o apoio da vossa oração, e esta ajuda não me faltará depois da minha partida daqui.

O cristão distingue-se essencialmente pela oração e a caridade. Caros amigos, convido-vos a continuar a exercê-las na vossa vida, dando testemunho da vossa fé. Tanto a oração como a caridade nos permitem manter sempre fixo o nosso olhar em Deus, em benefício dos irmãos: a relação com o Senhor, na oração, alimenta o nosso espírito e permite-nos ser ainda mais generosos e abertos na caridade aos necessitados.

Enquanto também eu vos asseguro a recordação nas minhas orações, desejo-vos todo o bem para a vida familiar, para o trabalho quotidiano e para o andamento escolar das crianças e dos adolescentes. Penso inclusive na formação cristã: convido os jovens a participarem com empenhamento no catecismo, e também os adultos e aproveitarem sempre as ocasiões de formação. Confio todos vós à salvaguarda da Virgem Maria e, do íntimo do coração, a cada um de vós aqui presentes e aos vossos entes queridos, concedo uma especial Bênção Apostólica.



ÀS AUTORIDADES CIVIS E MILITARES E ÀS COMUNIDADES RELIGIOSAS DE CASTEL GANDOLFO, 29 de Setembro de 2011

29911

Prezados irmãos e irmãs

Está prestes a concluir-se também este ano o período de Verão que habitualmente transcorro nesta amável e hospitaleira localidade, que me é tão querida. Também neste Verão, Castel Gandolfo abriu as suas portas aos numerosos peregrinos e visitantes que vieram para encontrar o Papa e rezar juntamente com ele, especialmente aos domingos, para o tradicional encontro do Angelus, e não poucas vezes às quartas-feiras para a Audiência geral. Nestes meses pude admirar, mais uma vez, a solicitude e a generosa obra de numerosas pessoas comprometidas em garantir a assistência necessária, tanto a mim como aos meus colaboradores, mas também aos hóspedes e aos peregrinos que vieram visitar-me. Por tudo isto, desejo manifestar o meu profundo reconhecimento a cada um de vós, que tornastes possível a minha tranquila permanência aqui.

Saúdo com afecto fraterno, antes de tudo, o Bispo de Albano Laziale, D. Marcello Semeraro, e estou-lhe grato pela atenção que sempre me dedica. Saúdo o Pároco e a Comunidade paroquial de Castel Gandolfo, juntamente com as Comunidades religiosas e laicais, masculinas e femininas, presentes no território. Durante estes meses, senti a sua proximidade espiritual e agradeço-lhes de coração, enquanto faço votos a todos a fim de que correspondam com renovada generosidade ao chamamento de Deus, dedicando as próprias energias ao serviço do Evangelho.

Depois, dirijo uma deferente saudação ao Senhor Presidente da Câmara municipal e aos componentes da Administração do Município. Obrigado pela vossa atenção e por tudo aquilo que realizastes por mim e pelos meus colaboradores durante estes meses. Caros Administradores, através de vós agradeço e saúdo toda a população da cidade, com um pensamento especial para as pessoas idosas e enfermas, às quais asseguro com carinho a minha recordação orante.

Agora, dirijo-me aos responsáveis e aos funcionários dos diversos Serviços do Governatorato: ao Corpo da Gendarmaria, à «Floreria», aos Serviços técnicos, aos Serviços da saúde, assim como à Guarda Suíça Pontifícia. Dilectos amigos, exprimo a minha sincera estima e o meu grande apreço pelo trabalho que realizastes quotidianamente, garantindo assistência e segurança no interior do Palácio Apostólico e das Vilas Pontifícias. Depois, manifesto a minha gratidão aos funcionários e aos agentes das diversas Forças da Ordem italianas, pela sua colaboração assídua, bem como aos oficiais e aviadores do 31º Esquadrão da Aeronáutica Militar. Se tudo se realizou na tranquilidade e na serenidade, deve-se sem dúvida também à vossa presença e ao vosso serviço qualificado.

Estimados irmãos e irmãs, manifesto a todos o meu profundo reconhecimento. Mais uma vez, obrigado pela vossa presença neste encontro, de modo especial a quantos se fizeram intérpretes dos vossos sentimentos. Quanto a mim, asseguro-vos que não deixarei de rezar por cada um de vós e por todas as vossas intenções, enquanto vos peço que vos recordeis de mim nas vossas preces. O Senhor, rico de bondade e de misericórdia, que nunca faz faltar a sua ajuda àqueles que confiam nele, seja sempre o vosso sustentáculo. Sobre vós vele com a salvaguarda materna a Virgem Maria, que no mês de Outubro invocaremos de modo especial com a recitação do santo Rosário. Que Ela vos acompanhe, bem como às vossas famílias, em cada momento. Com estes sentimentos, abençoo-vos com afecto, juntamente com os vossos familiares e com todas as pessoas que vos são queridas.




AOS BISPOS DA INDONÉSIA EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»

Sala do Consistório
Sexta-feira, 7 de Outubro de 2011



Amados Irmãos Bispos

É-me grato dar-vos as calorosas boas-vindas fraternas por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum, uma oportunidade privilegiada para dar graças a Deus pelo dom da comunhão existente na única Igreja de Cristo, e um momento para aprofundar os nossos laços de unidade na fé apostólica. Desejo agradecer a D. Situmorang as amáveis palavras que proferiu em vosso nome e no de quantos foram confiados aos vossos cuidados pastorais. Dirijo as minhas cordiais saudações aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e aos leigos confiados aos vossos cuidados pastorais. Peço-vos que lhes assegureis as minhas preces pela sua santificação e bem-estar.

A mensagem cristã de salvação, de perdão e de amor tem sido anunciada no vosso país desde há séculos. Com efeito, o impulso missionário permanece essencial para a vida da Igreja, e encontra expressão não só na pregação do Evangelho, mas também no testemunho da caridade cristã (cf. Ad gentes AGD 2). A este propósito, aprecio os esforços intensos feitos por numerosos indivíduos e organismos, em nome da Igreja, para transmitir a compaixão amorosa de Deus a inúmeros membros da sociedade indonésia. Esta é a característica principal de cada movimento, obra e expressão da Igreja, em todas as suas iniciativas sacramentais, caritativas, educativas e sociais, de tal forma que, em tudo, os seus membros possam esforçar-se por tornar conhecido e amado o Deus Uno e Trino, e de fazer que ele seja amado através de Jesus Cristo. Isto não só contribuirá para a vitalidade espiritual da Igreja, que cresce em confiança mediante o testemunho humilde e intrépido; e também fortalecerá a sociedade indonésia, promovendo os valores apreciados pelos vossos compatriotas: a tolerância, a unidade e a justiça para todos os cidadãos. Convenientemente, a Constituição da Indonésia garante o direito fundamental à liberdade de praticar a própria religião. A liberdade de viver e de anunciar o Evangelho nunca pode ser dada por certo e deve ser sempre justa e pacientemente fomentada. Nem a liberdade religiosa é apenas um direito a ser livres de constrangimentos externos. É inclusive um direito a ser autêntica e plenamente católicos, a pôr em prática a própria fé, a edificar a Igreja e a contribuir para o bem comum, proclamando o Evangelho como uma Boa Nova para todos e convidando todos à intimidade com o Deus da misericórdia e da compaixão, que se tornou manifesto em Jesus Cristo.

1376 Nas vossas dioceses, uma parte significativa da obra caritativa e educativa é levada a cabo sob a égide de religiosos e religiosas. A sua consagração a Cristo e a sua vida de oração profunda e de sacrifício genuíno continuam a enriquecer a Igreja e a tornar a presença de Deus visível e concreta na vossa nação. Desejo manifestar a minha gratidão aos numerosos sacerdotes, religiosos e religiosas que glorificam o Senhor através de inúmeras obras boas que beneficiam os seus irmãos e irmãs na Indonésia. O seu trabalho é uma expressão indispensável do compromisso da Igreja em prol da humanidade e, em particular, dos mais necessitados. É por este motivo que vos peço, amados Irmãos Bispos, que continueis a assegurar que a formação e a educação recebida pelos seminaristas, pelos religiosos e pelas religiosas seja sempre adequada à missão que lhes for confiada. No meio das crescentes complexidades do nosso mundo e da rápida transformação da sociedade indonésia, a necessidade de religiosos e de religiosas bem preparados é ainda mais urgente. Em sintonia com os seus Superiores locais, certificai-vos que eles recebam quanto lhes é necessário para levar uma vida cheia de sabedoria e entendimento espirituais, e para produzir fruto em toda a obra de bem (cf. Col 1,9-10).

Só vos posso encorajar nos vossos esforços contínuos em vista de promover e manter o diálogo inter-religioso na vossa nação. O vosso país, tão rico na sua diversidade cultural e dotado de uma grande população, é pátria de um número significativo de seguidores de várias tradições religiosas. Deste modo, o povo da Indonésia encontra-se numa boa posição para oferecer contribuições importantes em vista da busca da paz e da compreensão entre os povos do mundo inteiro. A vossa participação neste grandioso empreendimento é decisiva, e portanto exorto-vos, prezados Irmãos, a assegurar que quantos se encontram sob os vossos cuidados pastorais saibam que, como cristãos, têm o dever de ser agentes de paz, perseverança e caridade. A Igreja é chamada a seguir o seu Mestre divino, que congrega tudo em Si, e a dar testemunho daquela paz que só Ele pode oferecer. Este é o fruto precioso da caridade n’Aquele que, sofrendo injustamente, entregou a própria vida e nos ensinou a responder em todas as situações com o perdão, a misericórdia e o amor na verdade. Quantos crêem em Cristo, radicados na caridade, devem comprometer-se no diálogo com as demais religiões, respeitando as diferenças mútuas. Os esforços conjuntos para a edificação da sociedade serão de grande valor, se revigorarem as amizades e ultrapassarem os mal-entendidos e a desconfiança. Estou persuadido de que vós e os sacerdotes, religiosos e leigos das vossas Dioceses continuarão a oferecer um testemunho da imagem e semelhança de Deus em cada homem, mulher e criança, independentemente da sua fé, encorajando todos a permanecerem abertos ao diálogo, no serviço à paz e à harmonia. Realizando tudo quanto for possível para garantir que os direitos das minorias no vosso país sejam respeitados, promovereis a causa da tolerância e da harmonia recíprocas, tanto no vosso país como alhures.

Estimados Irmãos Bispos, com estes pensamentos renovo-vos os meus sentimentos de afecto e de estima. O vosso país é composto por milhares de ilhas; também a Igreja que está na Indonésia é formada por milhares de comunidades cristãs, «ilhas de presença de Cristo». Estai sempre unidos na fé, esperança e amor entre vós e com o Sucessor de Pedro. Confio todos vós à intercessão de Maria, Mãe da Igreja. Enquanto vos garanto as minhas preces, para vós e para quantos foram confiados aos vossos cuidados pastorais, é de bom grado que vos concedo a Bênção Apostólica, em penhor de graça e paz no Senhor.



VISITA PASTORAL A LAMEZIA TERME E A SERRA SAN BRUNO


ENCONTRO COM A POPULAÇÃO DE SERRA SAN BRUNO Domingo, 9 de Outubro de 2011

9101
Praça de Santo Estêvão, diante da Cartuxa de Serra San Bruno

Domingo, 9 de Outubro de 2011



Senhor Presidente da Câmara Municipal
Venerado Irmão no Episcopado
Distintas Autoridades
Prezados amigos de Serra San Bruno!

Estou feliz por poder encontrar-me convosco, antes de entrar na Cartuxa, onde realizarei a segunda parte desta minha Visita pastoral à Calábria. Saúdo todos vós com carinho e agradeço-vos a calorosa hospitalidade; em particular, agradeço ao Arcebispo de Catanzaro-Squillace, D. Vincenzo Bertolone, e ao Presidente da Câmara Municipal, Dr. Bruno Rosi, as amáveis palavras que me dirigiu. É verdade, duas Visitas próximas do Sucessor de Pedro são um privilégio para a vossa comunidade civil. Mas sobretudo, como justamente disse ainda o Presidente da Câmara Municipal, um grande privilégio é aquele de ter no vosso território esta «cidadela» do espírito, que é a Cartuxa. A própria presença da comunidade monástica, com a sua longa história que remonta a São Bruno, constitui uma evocação constante a Deus, uma abertura para o Céu e um convite a recordar que nós somos irmãos em Cristo.

Os mosteiros têm uma função muito preciosa, diria indispensável, no mundo. Se na idade média eles eram centros de saneamento dos territórios pantanosos, hoje servem para «sanear» o meio ambiente num outro sentido: com efeito, às vezes o clima que se respira nas nossas sociedades não é saudável, porque está poluído por uma mentalidade que não é cristã, e nem sequer humana, porque está dominada por interesses económicos, preocupada unicamente com as realidades terrenas e carentes de uma dimensão espiritual. Neste clima não só Deus é marginalizado, mas inclusive o próximo, e as pessoas não se comprometem a favor do bem comum. O mosteiro, ao contrário, é modelo de uma sociedade que põe no centro Deus e o relacionamento fraterno. Temos muita necessidade disto também na nossa época.

Estimados amigos de Serra San Bruno, o privilégio de terdes próximo a Cartuxa constitui para vós também uma responsabilidade: valorizai a grandiosa tradição espiritual deste lugar e procurai pô-la em prática na vossa vida quotidiana. A Virgem Maria e São Bruno vos protejam sempre. Do íntimo do coração, abençoo todos vós e as vossas famílias.



AOS PREFEITOS DAS PROVÍNCIAS DA ITÁLIA

14101
Sala Clementina

Sexta-feira, 14 de Outubro de 2011



Senhor Ministro
Ilustres Prefeitos

Estou feliz por me encontrar convosco, de modo particular neste ano em que — como foi recordado — se celebra o sesquicentenário da unidade da Itália, e dirijo a todos a minha saudação deferente e cordial, bem consciente da importância da função prefeitoral na articulação do Estado italiano. Dirijo uma saudação especial ao Senhor Ministro do Interior, Dep. Roberto Maroni, agradecendo-lhe as amáveis expressões que me quis dirigir, interpretando os sentimentos de todos. Vós vindes das Províncias da Península inteira, onde são incontáveis os testemunhos da presença do Cristianismo, que ao longo dos séculos fecundou a cultura italiana, suscitando uma civilização rica de valores universais. Com efeito, em toda a parte é possível observar os vestígios que a fé cristã imprimiu nos costumes do povo italiano, dando vida a tradições religiosas e culturais nobres e arraigadas, e a um património artístico singular no mundo.

Portadora de uma mensagem de salvação válida para o homem de todos os tempos, a Igreja católica está bem radicada e é vigorosa, de modo minucioso, no território italiano. Trata-se de uma realidade viva e vivificante, como o fermento de que fala o Evangelho (cf.
Mt 13,33); uma presença significativa, caracterizada pela proximidade às pessoas, para compreender quais são as suas necessidades mais profundas, na lógica da disponibilidade para o serviço. São numerosas as exigências e as expectativas às quais devem corresponder o anúncio do Evangelho e as iniciativas da solidariedade fraterna. Quanto mais urgentes são as necessidades, tanto mais a presença da Igreja se esforça por ser solícita e rica de frutos. No respeito pelas autonomias e competências legítimas, a Comunidade eclesial considera seu mandato específico dirigir-se ao homem em todos os seus contextos: na vida cultural, no trabalho, nos serviços e no tempo livre. Consciente de que «todos dependem de todos», como escrevia o beato João Paulo II (Sollicitudo rei socialis SRS 38), ela deseja construir, juntamente com os outros protagonistas institucionais e as várias realidades territoriais, uma sólida plataforma de virtudes morais, sobre a qual edificar uma convivência à medida do homem. Nesta sua missão, a Igreja sabe que pode contar com a colaboração concreta e cordial dos Prefeitos, que desempenham funções de impulso e de coesão social e de garantia dos direitos civis, constituindo um importante ponto de referência para os vários componentes territoriais. A este propósito, ao sublinhar com grande prazer as relações de proximidade estreita e de cooperação profícua que as Prefeituras mantêm com as Dioceses e com as Paróquias, desejo encorajar cada um a continuar no sulco deste entendimento mútuo, no interesse dos cidadãos e do bem comum.

Ilustres Prefeitos, sei que vos esforçais por desempenhar o vosso ofício importante e o vosso serviço qualificado à Nação com dedicação sincera às Instituições e, ao mesmo tempo, com atenção às exigências das entidades locais e diversificadas problemáticas empresariais, familiares e pessoais. Com efeito, a figura do Prefeito é vista pela opinião pública cada vez mais como um ponto de referência territorial para a solução dos problemas sociais e como instância de mediação e de garantia dos serviços públicos essenciais. Na vossa responsabilidade, a nível provincial, em relação à ordem e à segurança pública, sois postos como referências unitárias e principais promotores e garantes do critério de colaboração leal num sistema pluralista. A este propósito, não esqueçais que «a administração pública, a qualquer nível [...] como instrumento do Estado, tem por finalidade servir os cidadãos… O papel de quem trabalha na administração pública não se deve conceber como algo impessoal e burocrático, mas como uma ajuda diligente aos cidadãos, desempenhado com espírito de serviço» (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 412).

Além disso, a vossa delicada função institucional constitui como que uma defesa para as categorias mais frágeis, e torna-se ainda mais complexo e gravoso devido às presentes circunstâncias de incerteza social e económica. Não desanimeis perante as dificuldades e incompreensões, mas permanecei sempre prontos para abordar as questões que vos são confiadas, com grande sentido de dever e prudência, sem jamais faltar ao respeito pela verdade e à coragem da defesa dos bens supremos. A este propósito, dirijo-me espontaneamente com o pensamento à luminosa figura de santo Ambrósio, vosso padroeiro celeste, que inesperadamente — como sabeis — foi chamado ao Episcopado, e assim teve que abandonar uma brilhante carreira de alto funcionário público; e ainda não era baptizado! Este santo Bispo admirava e amava o Império romano, que ele tinha servido leal e generosamente até aos 35 anos de idade, antes de ser escolhido como Pastor da Igreja ambrosiana. Tal consideração pela Autoridade legítima, cultivada desde a juventude, saiu fortalecida da graça do Baptismo, a tal ponto que ele amava apaixonadamente a Igreja, não apenas na sua riqueza espiritual de verdade e de vida, mas inclusive na realidade dos seus Organismos e dos homens que a compõem, de modo especial os pobres e os últimos. Num certo sentido, ele soube transferir para o exercício do ministério pastoral as características substanciais daquele habitus, que o distinguiu e o expôs à admiração de muitas pessoas, como funcionário civil integérrimo. Por outro lado, quando se tornou Bispo, soube indicar aos responsáveis das Instituições civis aqueles valores cristãos que dão novo vigor e renovado esplendor à obra de quantos estão comprometidos na vida pública.

No seu comentário ao Evangelho de são Lucas, santo Ambrósio afirma: «A instituição do poder civil deriva tão bem de Deus, que quantos o exercem são inclusive ministros de Deus» (In Lc 4,29). Por isso, também a função civil é tão eminente e insigne que chega a revestir um carácter quase «sagrado»; portanto, ela exige que seja exercida com grande dignidade e com um profundo sentido de responsabilidade. Este santo Bispo e Doutor da Igreja, animado por grande amor e respeito, tanto pelas Instituições estatais como pelas eclesiais, constitui um exemplo extraordinário de rectidão, especialmente pela sua lealdade à lei e a firmeza contra as injustiças e as opressões, assim como pela sua parrésia, con a qual exortava também os poderosos, e a todos ensinava os princípios da liberdade autêntica e do serviço. Ele escrevia: «O Apóstolo [Paulo] ensinou-me o que vai mais além da própria liberdade, ou seja, que servir também é liberdade. “Embora fosse livre da sujeição a qualquer pessoa, fiz-me servo de todos” [1 Cor 9, 19]… Portanto, para o sábio servir também é liberdade» (Ep 7,23-24).

1378 Inclusive vós, como altos representantes do Estado, no exercício das vossas responsabilidades, sois chamados a unir respeitabilidade e profissionalidade, sobretudo nos momentos de tensão e de contrastes. O testemunho de santo Ambrósio vos sirva de estímulo e de encorajamento, a fim de que o vosso trabalho possa estar todos os dias ao serviço da justiça, da paz, da liberdade e do bem comum. Deus não deixará de secundar os vossos esforços, enriquecendo-os com frutos abundantes, para uma difusão cada vez mais ampla e minuciosa da civilização do amor. Com estes bons votos, e para a sua confirmação, invoco sobre todos vós a Bênção do Todo-Poderoso. Obrigado!


AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PROMOVIDO PELA FUNDAÇÃO CENTESIMUS ANNUS PRO PONTIFICE

Sala Clementina
Sábado, 15 de Outubro de 2011



Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos irmãos e irmãs!

Sinto-me muito feliz por vos receber por ocasião do Congresso anual da Fundação Centesimus Annus pro Pontifice, que vos viu reunidos para dois dias de estudo sobre o tema da relação entre família e empresa. Agradeço ao Presidente, Dr. Domingo Sugranyes Bickel, as gentis palavras que me dirigiu, e saúdo cordialmente todos vós. Celebra-se este ano — como foi recordado — o 20º aniversário da Encíclica Centesimus annus, do Beato João Paulo II, publicada no centenário da Rerum novarum, e no trigésimo aniversário da Exortação apostólica Familiaris consortio. Esta dúplice celebração torna ainda mais actual e oportuno o vosso tema. Nestes 120 anos de desenvolvimento da doutrina social da Igreja aconteceram no mundo grandes mudanças, que nem sequer eram imagináveis na época da histórica Encíclica do Papa Leão XIII. Contudo, com a mudança das condições externas não mudou o património interno do Magistério social, que promove sempre a pessoa humana e a família, no seu contexto de vida, e também da empresa.

O Concílio Vaticano II falou da família em termos de igreja doméstica, de «santuário intocável» no qual a pessoa amadurece nos afectos, na solidariedade, na espiritualidade. Também a economia com as suas leis deve considerar sempre o interesse e a salvaguarda desta célula primária da sociedade; a própria palavra «economia» na sua origem etimológica contém uma chamada à importância da família: oikia e nomos, a lei da casa.

Na Exortação apostólica Familiaris consortio o Beato João Paulo II indicou para a instituição familiar quatro tarefas, que gostaria de mencionar brevemente: a formação de uma comunidade de pessoas; o serviço à vida; a participação social; e a participação eclesial. Todas estas são funções em cuja base está o amor, e é nele que a família educa e forma. «O amor — afirmava o venerado Pontífice — entre o homem e a mulher no matrimónio e, de forma derivada e ampla, o amor entre os membros da mesma família — entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, entre parentes e familiares — é animado e impelido por um dinamismo interior e incessante, que conduz a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar» (n. 18). Do mesmo modo, o amor está na base do serviço à vida, fundado na cooperação que a família oferece à continuidade da criação, à procriação do homem feito à imagem e semelhança de Deus.

É de igual modo na família que se aprende como a justa atitude que se deve assumir no âmbito da sociedade, também no mundo do trabalho, da economia, da empresa, deve ser guiada pela caritas, na lógica da gratuidade, da solidariedade e da responsabilidade de uns pelos outros. «As relações entre os membros da comunidade familiar — escreve ainda o Beato João Paulo II — são inspiradas e guiadas pela lei da “gratuidade” que, respeitando e favorecendo em todos e em cada um a dignidade pessoal como único título de valor, se torna acolhimento cordial, encontro e diálogo, disponibilidade desinteressada, serviço generoso, solidariedade profunda» (n. 43). Nesta perspectiva a família, de mero objecto, torna-se sujeito activo e capaz de recordar o «rosto humano» que o mundo da economia deve ter. Se isto é válido para a sociedade em geral, assume um realce ainda maior na comunidade eclesial. De facto, a família ocupa também um lugar de relevo na evangelização, como recordei recentemente em Ancona: ela não é simplesmente destinatária da acção pastoral, mas é sua protagonista, chamada a participar na evangelização de maneira própria e original, pondo ao serviço da Igreja e da sociedade o seu ser e agir, como comunhão íntima de vida e de amor (cf. Exort. ap. Familiaris consortio, 50). Família e trabalho são lugares privilegiados para a realização da vocação do homem, que colabora na obra criadora de Deus no hoje.

Como realçastes nos vossos trabalhos, na difícil situação que estamos a viver, infelizmente assistimos a uma crise do trabalho e da economia que é acompanhada por uma crise da família: conflitos conjugais, geracionais, entre tempos da família e para o trabalho, a crise do desemprego, criam uma situação complexa de dificuldades que influencia o próprio viver social. Por isso, é necessária uma nova síntese harmoniosa entre família e trabalho, para a qual a doutrina social da Igreja pode oferecer a sua preciosa contribuição. Na Encíclica Caritas in veritate eu quis ressaltar como o modelo familiar da lógica do amor, da gratuidade e da doação deve ser ampliado a uma dimensão universal. A justiça comutativa — «dar para receber» — e a distributiva — «dar por dever» — não são suficientes na vida social. Para que haja verdadeira justiça é necessário acrescentar a gratuidade e a solidariedade. «A solidariedade consiste primariamente em que todos se sintam responsáveis por todos e, por conseguinte, não pode ser delegada só ao Estado. Se, no passado, era possível pensar que havia necessidade primeiro de procurar a justiça e que a gratuidade intervinha depois como um complemento, hoje é preciso afirmar que, sem a gratuidade, não se consegue sequer realizar a justiça... Neste caso, caridade na verdade significa que é preciso dar forma e organização àquelas iniciativas económicas que, embora sem negar o lucro, pretendem ir mais além da lógica da troca de equivalentes e do lucro como fim em si mesmo» (n. 38. «O mercado da gratuidade não existe, tal como não se podem estabelecer por lei comportamentos gratuitos, e todavia tanto o mercado como a política precisam de pessoas abertas ao dom recíproco» (n. 39). Não é tarefa da Igreja definir os caminhos para enfrentar a crise actual. Contudo, os cristãos têm o dever de denunciar os males, testemunhar e manter vivos os valores sobre os quais se funda a dignidade da pessoa, e promover as formas de solidariedade que favorecem o bem comum, para que a humanidade se torne cada vez mais família de Deus.

Queridos amigos, faço votos por que estas reflexões que emergiram do vosso Congresso vos ajudem a assumir cada vez mais activamente o vosso papel na difusão e na aplicação da doutrina social da Igreja, sem esquecer que «o desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração, cristãos movidos pela consciência de que o amor cheio de verdade — caritas in veritate — do qual procede o desenvolvimento autêntico, não o produzimos nós, mas é-nos dado» (n. 79). Com estes votos, ao confiar-vos à intercessão da Virgem Maria, concedo de coração a todos vós e aos vossos entes queridos uma especial Bênção Apostólica.



NO CONGRESSO INTERNACIONAL ORGANIZADO PELO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO, Sábado, 15 de Outubro de 2011

15101
Discursos Bento XVI 25921