Discursos Bento XVI 15101

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Sala Paulo VI




Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Queridos amigos!

Aceitei de bom grado o convite do Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização para estar presente com todos vós esta tarde, pelo menos por um breve momento, e sobretudo amanhã para a Celebração Eucarística. Agradeço a D. Fisichella as palavras de saudação que me dirigiu em vosso nome, e alegro-me por vos ver tão numerosos. Sei que estais aqui em representação de muitos outros que, como vós, se dedicam à não fácil tarefa da nova evangelização. Saúdo também quantos estão a seguir este acontecimento através dos meios de comunicação que permitem que tantos novos evangelizadores estejam em ligação contemporaneamente, mesmo encontrando-se em diversas partes do mundo.

Escolhestes como frase-guia para a vossa reflexão de hoje a expressão: «A Palavra de Deus cresce e difunde-se». Várias vezes o evangelista Lucas utiliza esta fórmula no Livro dos Actos dos Apóstolos; em várias circunstâncias, ele afirma, de facto, que «a Palavra de Deus crescia e difundia-se» (cf.
Ac 6,7 Ac 12,24). Mas no tema desta jornada vós modificastes dois verbos para evidenciar um aspecto importante da fé: a certeza consciente de que a Palavra de Deus está sempre viva, em cada momento da história, até aos nossos dias, porque a Igreja a actualiza através da sua fiel transmissão, da celebração dos Sacramentos e do testemunho dos crentes. Por isso a nossa história está em total continuidade com a da primeira Comunidade cristã, vive da mesma linfa vital.

Mas que terreno encontra a Palavra de Deus? Como naquela época, também hoje pode encontrar fechamentos e rejeições, modos de pensar e de viver que estão distantes da busca de Deus e da verdade. O homem contemporâneo está com frequência confundido e não consegue encontrar resposta para tantas interrogações que agitam a sua mente em relação ao sentido da vida e às questões que habitam no fundo do seu coração. O homem não pode eludir estas perguntas que dizem respeito ao significado de si e da realidade, não pode viver numa só dimensão! Ao contrário, com frequência, é afastado da busca do essencial na vida, e é-lhe proposta uma felicidade efémera, que satisfaz por um momento, mas em pouco tempo causa tristeza e insatisfação.

Contudo, não obstante esta condição do homem contemporâneo, podemos ainda afirmar com certeza, como no início do Cristianismo, que a Palavra de Deus continua a crescer e a difundir-se. Por que razão? Gostaria de mencionar pelo menos três motivos. O primeiro é que a força da Palavra não depende antes de tudo da nossa acção, dos nossos meios, do nosso «fazer», mas de Deus, que esconde o seu poder sob os sinais da debilidade, que se torna presente na brisa ligeira da manhã (cf. 1R 19,12), que se revela no madeiro da Cruz. Devemos crer sempre no poder humilde da Palavra de Deus e deixar que Deus aja! O segundo motivo é porque a semente da Palavra, como narra a parábola evangélica do Semeador, cai também hoje num terreno bom que a acolhe e produz fruto (cf. Mt 13,3-9). E os novos evangelizadores fazem parte deste campo que permite que o Evangelho cresça em abundância e transforme a própria vida e a de outros. No mundo, apesar do mal fazer mais barulho, continua a haver terreno bom. O terceiro motivo é que o anúncio do Evangelho chegou deveras aos confins do mundo e, até entre a indiferença, a incompreensão e a perseguição, muitos continuam também hoje, com coragem, a abrir o coração e a mente para aceitar o convite de Cristo a encontrá-l’O e a tornar-se seus discípulos. Não fazem barulho, mas são como o grão de mostarda que se torna árvore, o fermento que faz levedar a massa, o grão de trigo que se parte para dar origem à espiga. Tudo isto, se por um lado dá conforto e esperança porque mostra o incessante fermento missionário que anima a Igreja, por outro deve levar todos a um renovado sentido de responsabilidade em relação à Palavra de Deus e à difusão do Evangelho.

O Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, que instituí no ano passado, é um instrumento precioso para identificar as grandes questões que se movem nos diversos sectores da sociedade e da cultura contemporânea. Ele está chamado a oferecer uma ajuda especial à Igreja na sua missão sobretudo no âmbito daqueles países de antiga tradição cristã que parecem ter-se tornado indiferentes, ou até hostis à Palavra de Deus. O mundo de hoje precisa de pessoas que anunciem e testemunhem que é Cristo quem nos ensina a arte de viver, o caminho da verdadeira felicidade, porque é Ele mesmo o caminho da vida; pessoas que tenham elas mesmas, antes de tudo, o olhar fixo em Jesus, o Filho de Deus: a palavra do anúncio deve estar sempre imersa numa relação profunda com Ele, numa vida intensa de oração. O mundo de hoje precisa de pessoas que falem com Deus, para poder falar de Deus. E devemos também recordar sempre que Jesus não remiu o mundo com bonitas palavras ou meios vistosos, mas com o sofrimento e com a sua morte. A lei do grão de trigo que morre na terra é válida também hoje; não podemos dar vida a outros, sem dar a nossa vida: «Quem perder a própria vida por causa de Mim ou do Evangelho, salvá-la-á», diz-nos o Senhor (Mc 8,35). Vendo todos vós e conhecendo o grande esmero com que cada um se dedica ao serviço da missão, estou convencido de que os novos evangelizadores se multiplicarão cada vez mais para dar vida a uma verdadeira transformação da qual o mundo de hoje tem necessidade. Só através de homens e mulheres plasmados pela presença de Deus, a Palavra de Deus continuará o seu caminho no mundo dando os seus frutos.

1380 Queridos amigos, ser evangelizadores não é um privilégio, mas um compromisso que provém da fé. À pergunta que o Senhor dirige aos cristãos: «Quem enviarei e quem irá por mim?», respondei com a mesma coragem e a mesma confiança do Profeta: «Eis-me, Senhor, envia-me» (Is 6,8). Peço que vos deixeis plasmar pela graça de Deus e correspondais docilmente à acção do Espírito do Ressuscitado. Sede sinais de esperança, capazes de olhar para o futuro com a certeza que provém do Senhor Jesus, o qual venceu a morte e nos doou a vida eterna. Comunicai a todos a alegria da fé com o entusiasmo que provém do ser movidos pelo Espírito Santo, porque Ele renova todas as coisas (cf. Ap 21,5), confiando na promessa feita por Jesus à Igreja: «E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt 28,20).

No final deste dia peçamos também a protecção da Virgem Maria, Estrela da nova evangelização, enquanto acompanho de coração cada um de vós e a vossa obra com a Bênção Apostólica. Obrigado.



AO ARCEBISPO-MOR SUA BEATITUDE GEORGE ALENCHERRY E UMA DELEGAÇÃO DA IGREJA SÍRIO-MALABAR

Sala Clementina
Segunda-feira, 17 de Outubro de 2011





Beatitude

É-me grato cumprimentá-lo assim como aos membros do Sínodo Permanente da Igreja Sírio-Malabar que vieram a Roma expressando desta forma a comunhão com o Sucessor de Pedro e agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu em seu nome e no deles. Esta visita é uma das mais importantes, pois se realiza não muito tempo depois da sua eleição como arcebispo-mor. Ao vir aqui, oferece um sinal eloquente da comunhão hierárquica que expressou formalmente na recente carta que me enviou solicitando a confirmação da sua eleição.

O seu antecessor, o saudoso cardeal Varkey Vithayathil, deixou uma herança sobre a qual certamente Sua Excelência e os seus irmãos bispos querem edificar. Neste contexto, desejo recordar o exemplo dos dois santos padroeiros da Igreja sírio-malabar, santa Afonsa Muttathupadathu e o beato Kuriakose Elias Chavara, beatificados pelo beato João Paulo II durante a sua visita a Kerala há vinte e cinco anos. Depois, em 2008, tive a graça de canonizar santa Afonsa. A Igreja sírio-malabar em Kerala continua a gozar do respeito da comunidade local pelo seu trabalho no âmbito da educação e pelas suas instituições sociais e caritativas ao serviço de toda a comunidade. Estou ciente de que a vida dos cristãos foi complicada por causa da desconfiança de natureza sectária e até da violência, mas quero exortar-vos a continuar a trabalhar nesta área com as pessoas de boa vontade de todas as religiões para manter a paz e a harmonia na região, para o bem da Igreja e de cada cidadão.

No seio da própria Igreja, existem sinais encorajadores de vocações ao sacerdócio e à vida religiosa, que vos ajudarão a manter o compromisso pastoral. É necessário ter presente os desafios pastorais constantes na formação do clero e dos religiosos, na vida familiar cristã e na solicitude pastoral dos fiéis. Louvo-vos pelos esforços realizados para manter a firmeza das vossas estruturas familiares, a qualidade da educação católica e da catequese em todos os níveis, assim como a obra pastoral em prol dos jovens. Encorajo-vos também a continuar a vossa obra bem sucedida a favor da promoção das vocações entre os jovens.

Na fidelidade ao Evangelho e à graça derramada sobre nós por Cristo nosso Senhor, vós e os vossos fiéis prosperaram na vossa terra e no estrangeiro em união com a Igreja universal. Promovendo a vossa tradição litúrgica autêntica, os vossos fiéis foram alimentados com a Palavra e o sacramento, em conformidade com o que foi transmitido pelos vossos pais na fé. Também estou ciente das iniciativas pastorais em prol dos católicos sírio-malabares espalhados por todo o mundo. Como fiz durante a vossa visita ad limina, em Abril, permiti que vos encoraje novamente nesta tarefa importante, especialmente no que diz respeito ao vosso compromisso pastoral em relação aos católicos sírio-malabares que vivem no estrangeiro, peço-vos que o façais pensando sempre na exigência essencial de cooperação com os bispos católicos e com os pastores de outros ritos. Beatitude, queridos irmãos bispos, com estas breves reflexões confio-vos à intercessão de são Tomás, grande apóstolo da Índia, de santa Afonsa e do beato Kuriakose. Asseguro-vos o meu afecto e oração e de bom grado concedo-vos, bem como ao clero, aos religiosos e a quantos estão confiados ao vosso cuidado, a minha Bênção Apostólica como penhor de graça e paz no Senhor Jesus Cristo.



POR OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO DO NOVO CENTRO DE ACOLHIMENTO PARA OS PEREGRINOS AUSTRALIANOS Domus Austrália, Roma

Quarta-feira, 19 de Outubro de 2011



Eminência
1381 Queridos Irmãos Bispos
Excelências
Ilustres convidados
Senhoras e Senhores

É-me grato estar convosco durante estas celebrações que marcam a abertura da Domus Australia, Centro de acolhimento para os peregrinos australianos em Roma. Nesta ocasião, recordo com particular gratidão a calorosa hospitalidade que me foi reservada quando visitei o vosso país para a Jornada Mundial da Juventude em 2008, e agora tenho a ocasião de vos retribuir dando as boas-vindas a todos vós a Roma.

Agradeço ao Cardeal Pell ter-me convidado para vos acompanhar esta tarde e as suas amáveis palavras. Agradeço também ao coro da Catedral de Santa Maria os cantos de louvor elevados a Deus. Além de saudar os meus Irmãos Bispos em visita ad limina, desejo cumprimentar Sua Excelência Timothy Fischer, Embaixador da Austrália junto da Santa Sé e os outros Embaixadores presentes. Tenho o prazer de cumprimentar o Reitor da Domus, Pe. Anthony Denton, o Senhor Gabriel Griffa e toda a sua equipe. Estou feliz também por saudar toda a população da Austrália e tomar conhecimento do apoio e da assistência que muitos deles oferecem em prol deste projecto que, juntamente com a sua nova Embaixada, criou um pequeno recanto da Austrália na antiga cidade de Roma. Possa a Domus ser abençoada pela passagem de numerosos peregrinos!

Há cerca de um ano, a primeira santa da Austrália, Mary MacKillop, foi elevada às honras dos altares e uno-me a todos vós para agradecer a Deus as numerosas bênçãos que já derramou sobre a Igreja no vosso país, graças ao seu exemplo. Rezo a fim de que ela continue a inspirar numerosos australianos a seguir os seus passos, levando uma vida de santidade, ao serviço de Deus e do próximo.

O Senhor enviou os seus apóstolos pelo mundo inteiro para anunciar a Boa Nova a todas as criaturas (cf.
Mc 16,15). O evento desta tarde fala de forma eloquente dos frutos das obras dos missionários, através dos quais o Evangelho se espalhou até às regiões mais remotas do mundo, lançou raízes e deu à luz uma comunidade cristã viva e próspera. Como todas as comunidades cristãs, a Igreja na Austrália está ciente de percorrer um caminho cujo destino último se encontra além deste mundo: como disse são Paulo: «Nós, porém, somos cidadãos do Céu» (Ph 3,20). Transcorremos a nossa vida terrena a caminho rumo àquela meta última, em que «aquilo que nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem, Deus preparou para aqueles que O amam» (1Co 2,9). Aqui na terra, a longa tradição de peregrinação da Igreja pelos lugares sagrados serve para nos recordar que estamos a caminho do céu. Chama a nossa atenção para a vocação à santidade, aproxima-nos cada vez mais do Senhor e fortalece-nos com o alimento espiritual para a nossa viagem.

Muitas gerações de peregrinos vieram a Roma de todos os cantos do mundo cristão, a fim de venerar os túmulos dos santos Pedro e Paulo e aprofundar deste modo a sua comunhão com a única Igreja de Cristo, fundada sobre os Apóstolos. Desta forma, fortalecem as raízes da sua fé e, como sabemos, as raízes são a fonte da alimentação que dá a vida. Neste sentido, os peregrinos a Roma deveriam sentir-se sempre em casa, e a Domus Australia desempenhará um papel importante na edificação de uma casa para os peregrinos australianos na cidade dos apóstolos. Todavia, as raízes são apenas uma parte da história. Segundo um ditado atribuído a um grande poeta do meu país, Johann Wolfgang von Goethe, existem duas coisas que as crianças deveriam receber dos seus pais: raízes e asas. Inclusive da nossa santa mãe Igreja recebemos quer as raízes quer as asas: a fé dos apóstolos, transmitida de geração em geração, e a graça do Espírito Santo, legada sobretudo através dos Sacramentos da Igreja. Os peregrinos que estiveram nesta cidade regressam para os seus países renovados, revigorados na fé e elevados pelo Espírito Santo no caminho para frente e rumo às alturas, até chegar à sua morada celeste.

Hoje rezo para que os peregrinos que passarem por esta casa possam regressar para os seus lares com uma fé mais firme, uma esperança mais jubilosa e um amor mais ardente ao Senhor, prontos para se comprometerem com novo zelo na tarefa de testemunhar Cristo no mundo onde vivem e trabalham. Rezo também para que a sua visita à Sé de Pedro possa aprofundar o seu amor pela Igreja universal e uni-los mais intimamente ao Sucessor de Pedro, encarregado de alimentar e reunir o único rebanho do Senhor de todos os cantos do mundo. Confiando todos eles e todos vós à intercessão de Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos e a santa Mary MacKillop, concedo-vos de bom grado a minha Bênção Apostólica como penhor das alegrias que nos esperam na nossa morada eterna.



AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA AUSTRÁLIA POR OCASIÃO DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Quinta-feira, 20 de Outubro de 2011

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Amados Irmãos Bispos

É-me grato dar-vos as calorosas boas-vindas, por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum. Esta peregrinação aos túmulos dos Santos Pedro e Paulo oferece-vos uma importante oportunidade para fortalecer os vínculos de comunhão na única Igreja de Cristo. Por conseguinte, este momento constitui uma ocasião privilegiada para confirmarmos a nossa unidade e o nosso afecto fraterno, que deve sempre caracterizar as relações no Colégio dos Bispos, com e sob o Sucessor de Pedro. Desejo agradecer ao Arcebispo Wilson as suas amáveis palavras, proferidas no vosso nome. Transmito as minhas cordiais saudações aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e aos fiéis leigos da Austrália, enquanto vos peço que lhes assegureis as minhas preces pela sua paz, prosperidade e bem-estar espiritual.

Como Vossa Excelência salientou no seu discurso, a Igreja que está na Austrália foi marcada por dois momentos de graça especiais, nos últimos anos. Em primeiro lugar, a Jornada Mundial da Juventude foi abençoada com um grande sucesso e, juntamente convosco, vi como o Espírito Santo suscitou os jovens reunidos no solo da vossa pátria, provenientes do mundo inteiro. Através dos vossos relatórios também tomei conhecimento da continuação do impacto daquela celebração. Não apenas Sidney mas inclusive as Dioceses de todo o país receberam os jovens católicos do mundo, que foram para lá a fim de aprofundar a sua fé em Jesus Cristo, juntamente com as suas irmãs e irmãos australianos. O vosso clero e os vossos fiéis viram e experimentaram a vitalidade juvenil da Igreja, à qual todos nós pertencemos, e a relevância perene da Boa Nova, que deve ser proclamada novamente a cada geração. Compreendo que uma das consequências predominantes de tal acontecimento ainda deve ser vista no número de jovens que se encontram numa fase de discernimento da própria vocação ao sacerdócio e à vida religiosa. O Espírito Santo nunca cessa de despertar nos jovens corações o desejo de santidade e o zelo apostólico. Portanto, devíeis continuar a promover este apego radical à Pessoa de Jesus Cristo, cuja atracção os inspira a oferecer completamente a própria vida a Ele e ao serviço do Evangelho na Igreja. Assistindo-os, haveis de ajudar também outros jovens a ponderar seriamente sobre a possibilidade de uma vida no sacerdócio ou na vida religiosa. Ao agirdes deste modo, haveis de fortalecer um amor semelhante e uma fidelidade convicta no meio daqueles homens e mulheres que já responderam ao chamamento do Senhor.

A canonização, no ano passado, de Maria da Cruz MacKillop constitui outro grande evento na vida da Igreja na Austrália. Com efeito, ela é um exemplo de santidade e de dedicação aos australianos e à Igreja no mundo inteiro, de maneira especial às religiosas e a todas as pessoas comprometidas no campo da educação dos jovens. Em circunstâncias que muitas vezes eram desafiadoras, Santa Maria permaneceu firme, como mãe espiritual amorosa para as mulheres e as crianças confiadas aos seus cuidados, uma mestra inovativa dos jovens e um modelo enérgico de guia para quantos se preocupavam com a excelência no campo educativo. Ela é justamente considerada pelos seus concidadãos australianos como um exemplo de bondade pessoal, digna de imitação. Agora Santa Maria é elevada no seio da Igreja pela sua abertura às moções do Espírito Santo e pelo seu zelo em prol do bem das almas, que levou muitas outras pessoas a seguir os seus passos. A sua fé vigorosa, traduzida em obras dedicadas e pacientes, foi a sua dádiva à Austrália; a sua vida de santidade constitui um dom maravilhoso do vosso país à Igreja e ao mundo. Que o seu exemplo e as suas orações inspirem as decisões dos pais, dos religiosos, dos professores e de outras pessoas interessadas no bem das crianças, na sua salvaguarda contra o mal e numa sua educação sólida, em vista de um futuro feliz e próspero.

A resposta corajosa de Santa Maria MacKillop às dificuldades que teve de enfrentar ao longo da sua vida pode inspirar também os católicos de hoje, que se confrontam com a nova evangelização e com os sérios desafios para a propagação do Evangelho na sociedade em geral. Todos os membros da Igreja têm necessidade de ser formados na sua fé, a partir de uma catequese sólida para as crianças, e da educação religiosa oferecida nas vossas escolas católicas, até incluir os necessários programas catequéticos destinados aos adultos. O clero e os religiosos também devem ser assistidos e animados mediante a formação permanente e uma profunda vida espiritual, num mundo que se seculariza rapidamente ao seu redor. É urgente assegurar que quantos foram confiados aos vossos cuidados compreendam, abracem e proponham a sua fé católica aos outros de maneira inteligente e de bom grado. Desta forma vós, o vosso clero e o vosso povo explicareis a razão da vossa fé mediante a palavra e o exemplo de modo convincente e atraente. Vendo o vosso testemunho, as pessoas de boa vontade responderão naturalmente à verdade, à bondade e à esperança que encarnais.

Verdadeiramente, o vosso fardo pastoral tornou-se ainda mais pesado devido aos pecados e erros cometidos no passado por outras pessoas, lamentavelmente inclusive por parte de alguns clérigos e religiosos; no entanto, agora tendes a tarefa de continuar a emendar os erros do passado, com honestidade e abertura, a fim de edificar com humildade e determinação um futuro melhor para todos os interessados. Portanto, encorajo-vos a continuar a ser pastores de almas que, juntamente com o vosso clero, estejam sempre preparados dar um passo ulterior no amor e na verdade, para o bem das consciências do rebanho que vos foi confiado (cf.
Mt 5,41), procurando preservá-lo na santidade, educá-lo com humildade e orientá-lo de maneira irrepreensível pelos caminhos da fé católica.

Finalmente, como Bispos, estais conscientes do vosso especial dever de cuidar da celebração da Liturgia. A nova tradução do Missal Romano, que constitui o fruto de uma cooperação notável entre a Santa Sé, Bispos e peritos do mundo inteiro, tenciona enriquecer e aprofundar o sacrifício de louvor oferecido a Deus por parte do seu povo. Ajudai o vosso clero a acolher e apreciar aquilo que já foi realizado, de tal modo que ele mesmo, por sua vez, possa assistir os fiéis, enquanto todos se adaptam à nova tradução. Como bem sabemos, a sagrada liturgia e as suas formas estão profundamente inscritas no coração de cada católico. Envidai todos os esforços para ajudar os catequistas e músicos, nas suas respectivas preparações, a fazer da celebração do Rito Romano nas vossas Dioceses um momento de maiores graça e beleza, digno do Senhor e espiritualmente enriquecedor para todos. Deste modo, como em todos os vossos esforços pastorais, podereis guiar a Igreja na Austrália rumo à sua pátria celestial, sob o sinal do Cruzeiro do Sul.

Estimados Irmãos Bispos, é com estes pensamentos que vos renovo os meus sentimentos de afecto e de estima, e que confio todos vós à intercessão de Santa Maria MacKillop. Enquanto vos asseguro as minhas preces, por vós e por quantos foram confiados aos vossos cuidados, é com prazer que vos concedo a minha Bênção apostólica, como penhor de graça e paz no Senhor. Obrigado!



AO SENHOR JOSEPH WETERINGS, NOVO EMBAIXADOR DO REINO DOS PAÍSES BAIXOS Sexta-feira, 21 de Outubro de 2011

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JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS




Excelência

Ao recebê-lo no Vaticano e ao aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino dos Países Baixos junto da Santa Sé, desejo em primeiro lugar expressar-lhe gratidão por me ter transmitido a cordial saudação de Sua Majestade a Rainha Beatriz e peço-lhe gentilmente que lhe retribua e transmita, por sua vez, os meus bons votos, assim como o meu apreço pelas relações cordiais entre a Santa Sé e o seu país.

As relações bilaterais entre um Estado-Nação e a Santa Sé são claramente diferentes daquelas entre Estados-Nações. A Santa Sé não é uma potência económica ou militar. Todavia, como o próprio Senhor Embaixador apontou, a sua voz moral exerce uma influência considerável no mundo. Entre os motivos disto, está o facto de que a posição moral da Santa Sé não é prejudicada pelos interesses políticos ou económicos de um Estado-Nação, nem pelos interesses eleitorais de um partido político. A sua contribuição em prol da diplomacia internacional consiste sobretudo em articular os princípios éticos que deveriam nortear a ordem social e política, em vista de chamar a atenção para a necessidade de agir a fim de remediar as violações destes princípios. Evidentemente, faz isto sob um ponto de vista da fé cristã, mas como observei no meu recente discurso ao Parlamento alemão, o cristianismo sempre realçou a razão e a natureza como fontes das normas sobre as quais o Estado de direito deveria ser edificado (cf. Discurso ao Bundestag, 22 de Setembro de 2011). Portanto, o diálogo diplomático em que a Santa Sé está comprometida é conduzido num terreno que não é confessional nem pragmático, mas com base nos princípios universalmente aplicáveis que são tão reais quanto os elementos físicos do ambiente natural.

Actuando como a voz dos que não a têm e defendendo os direitos dos indefesos, inclusive os pobres, doentes, nascituros, idosos e membros de grupos minoritários que sofrem uma discriminação injusta, a Igreja procura sempre promover a justiça natural como é seu dever e direito fazer. Mesmo reconhecendo com humildade que os seus membros nem sempre estão à altura dos altos padrões morais que propõe, a Igreja não pode deixar de continuar a exortar todos, inclusive os seus membros, a procurar fazer tudo de acordo com a justiça e a justa razão e a opor-se a tudo o que lhe é contrário.

Portanto, não tenho dúvidas de que a Santa Sé e o Reino dos Países Baixos têm muitos âmbitos de interesse comum. Embaixador, o Senhor falou sobre a necessidade de promover a paz mundial através da resolução justa de conflitos e da oposição à proliferação das armas de destruição de massa. Vossa Excelência sublinhou a necessidade de incentivar o desenvolvimento e a auto-suficiência nos países emergentes. Mencionou a resposta generosa do povo holandês quando é necessária uma ajuda humanitária no mundo. Falou também sobre a necessidade de defender a dignidade humana. Estas e muitas outras áreas de política internacional continuarão a oferecer oportunidades de intercâmbios frutuosos entre o seu país e a Santa Sé.

Animam-me as suas palavras sobre a intenção do Governo holandês de promover a liberdade de religião que, como Vossa Excelência sabe, é uma questão de interesse particular para a Santa Sé neste momento. A liberdade de religião está ameaçada não só pelas restrições legais nalgumas regiões do mundo, mas também por uma mentalidade anti-religiosa em numerosas sociedades, mesmo naquelas onde ela goza da protecção jurídica. Por conseguinte, é desejável que o seu Governo esteja vigilante para que a liberdade de religião e de culto continue a ser protegida e promovida quer no país quer no estrangeiro.

Da mesma forma tranquilizam-me as medidas que o Governo holandês tomou para desencorajar o abuso de drogas e a prostituição. Embora a sua Nação tenha sido uma defensora da liberdade de escolha dos indivíduos, estas devem ser desencorajadas se prejudicarem os que as fazem ou outras pessoas, para o bem de cada um e da sociedade em geral. A doutrina social católica, como se sabe, dá grande ênfase ao bem comum, assim como ao bem integral dos indivíduos; além disso, é necessário ter o cuidado de discernir se os direitos sentidos estão na verdade de acordo com os princípios naturais que mencionei anteriormente.

Excelência, com estes sentimentos formulo-lhe os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão diplomática, e garanto-lhe que receberá sempre da parte dos vários departamentos da Cúria Romana a disponibilidade a oferecer-lhe ajuda e apoio no cumprimento dos seus deveres. Invoco de coração as abundantes Bênçãos de Deus sobre o Senhor Embaixador, sobre a sua família e sobre toda a população do Reino dos Países Baixos.





AOS PARTICIPANTES DO ENCONTRO INTERNACIONAL DOS ORDINARIADOS MILITARES Sala Clementina Sábado, 22 de Outubro de 2011

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Senhores Cardeais
venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
queridos amigos!

Estou feliz por vos receber por ocasião do sexto Congresso Internacional dos Ordinariados militares e do terceiro Curso Internacional de formação dos Capelães militares em direito humanitário, promovidos conjuntamente pela Congregação para os Bispos e pelo Pontifício Conselho «Justiça e Paz». Ao transmitir a minha saudação a todos, agradeço ao Cardeal Marc Ouellet as gentis expressões que me dirigiu também em vosso nome.

Estas vossas iniciativas assumem uma importância particular porque se inserem — como foi dito — no contexto do 25º aniversário da Constituição Apostólica Spirituali militum curae, promulgada pelo beato João Paulo II, do qual exactamente hoje celebramos a memória litúrgica. Mediante tal medida legislativa, desejou-se oferecer aos Ordinariados Militares a possibilidade de realizar uma acção pastoral cada vez mais adequada e bem organizada para uma porção importante do Povo de Deus, isto é, os militares e as suas famílias, com as suas instituições como os quartéis, as escolas militares e os hospitais. Após 25 anos daquele Documento, é preciso realçar que os Ordinariados Militares demonstraram ter adquirido em geral um estilo cada vez mais evangélico, adaptando as estruturas pastorais às necessidades urgentes da nova evangelização.

Nestes dias de estudo, propondes-vos recuperar idealmente o caminho histórico e jurídico dos Ordinariados Militares, a sua missão eclesial como é delineada pela Spirituali militum curae, indicando as trajectórias comuns da pastoral a favor dos militares e aprofundando os problemas mais actuais. Ao expressar o meu mais cordial encorajamento, desejo chamar à vossa atenção para a exigência de garantir aos homens e mulheres das Forças Armadas uma assistência espiritual que corresponda a todas as necessidades de uma vida cristã missionária e coerente. Trata-se de formar cristãos que tenham uma fé profunda, vivam uma prática religiosa convicta e sejam testemunhas autênticas de Cristo no próprio ambiente. Para alcançar esta finalidade, é preciso que os Bispos e os Capelães militares se sintam responsáveis pelo anúncio do Evangelho e pela administração dos Sacramentos onde quer que estejam os militares e as suas famílias.

Se o desafio dos Ordinariados Militares é evangelizar o mundo castrense, tornando possível o encontro com Jesus Cristo e a santidade de vida à qual todos os homens são chamados, parece evidente que os sacerdotes, comprometidos neste ministério, devem ter uma formação humana e espiritual sólida, um cuidado constante pela própria vida interior e, ao mesmo tempo, estar disponíveis à escuta e ao diálogo, para poder conhecer as dificuldades pessoais e ambientais das pessoas que lhes foram confiadas. De facto, elas necessitam de um apoio contínuo no seu itinerário de fé, pois a dimensão religiosa desempenha um papel especial inclusive na vida de um militar. A razão pela qual existem os Ordinariados militares, isto é, a assistência espiritual aos fiéis nas Forças Armadas e de Polícia, refere-se à solicitude com que a Igreja quis oferecer aos militares e às suas famílias todos os meios salvíficos para lhes facilitar não só o cuidado pastoral comum, mas também o apoio específico do qual necessitam a fim de desempenhar a sua missão com o estilo da caridade cristã. Com efeito, a vida militar de um cristão deve estar relacionada com o primeiro e maior dos mandamentos, do amor ao próximo e a Deus, porque o militar cristão é chamado a realizar uma síntese pela qual seja possível ser também militar por amor, cumprindo o ministerium pacis inter arma.

Em particular, penso no exercício da caridade no soldado que socorre as vítimas dos terramotos e das inundações, assim como os prófugos, pondo à disposição dos mais débeis a própria coragem e competência. Penso no exercício da caridade no soldado empenhado em desactivar as minas, com risco e perigo pessoais, nas áreas que foram teatro de guerra, e no soldado que, no âmbito das missões de paz, patrulha cidades e territórios a fim de que os irmãos não se matem uns aos outros. Há tantos homens e mulheres uniformizados cheios de fé em Jesus, que amam a verdade, querem promover a paz e se empenham como verdadeiros discípulos de Cristo a servir a própria nação, favorecendo a promoção dos direitos humanos fundamentais dos povos.

Neste contexto insere-se a relação entre direito humanitário e os Capelães militares, porque uma colaboração activa entre organizações humanitárias e responsáveis religiosos produz energias fecundas que aliviam as asperezas dos conflitos. É evidente a todos o modo como nas dilacerações devastadoras produzidas pelas guerras, a dignidade humana é ultrajada e a paz é transtornada. Todavia, só a dinâmica do direito não basta para restabelecer o equilíbrio perdido; é preciso percorrer o caminho da reconciliação e do perdão. Assim escreveu o Beato João Paulo II na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002, depois dos atentados trágicos de 11 de Setembro de 2001: «A verdadeira paz é fruto da justiça, virtude moral e garantia legal que vela sobre o pleno respeito de direitos e deveres e a equitativa distribuição de benefícios e encargos. Mas, como a justiça humana é sempre frágil e imperfeita, porque exposta como tal às limitações e aos egoísmos pessoais e de grupo, ela deve ser exercida e de certa maneira completada com o perdão que cura as feridas e restabelece em profundidade as relações humanas transtornadas» (n. 3).

Queridos amigos, também à luz destas considerações, as motivações pastorais que estão na base da identidade do Ordinariado Militar são de grande actualidade. A obra de evangelização no mundo militar requer uma assunção crescente de responsabilidade, a fim de que também neste âmbito haja um anúncio sempre novo, convicto e jubiloso de Jesus Cristo, única esperança de vida e paz para a humanidade. De facto, Ele disse: «Sem mim nada podeis fazer» (
Jn 15,5). A vossa missão particular, o vosso ministério zeloso bem como o dos vossos colaboradores, presbíteros e diáconos, favoreçam uma renovação geral dos corações, pressuposto daquela paz universal à qual o mundo inteiro aspira. Com tais sentimentos, garanto-vos a minha oração e acompanho-vos com a minha Bênção que concedo de coração a todos vós e a quantos estão confiados aos vossos cuidados pastorais.





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