Discursos Bento XVI 1391

1391 Um capítulo importante nesta frutuosa história conjunta foi escrito com o Acordo assinado entre a Santa Sé e o Governo Brasileiro, em 2008. Tal Acordo, longe de ser uma fonte de privilégios para a Igreja ou supor uma afronta à laicidade do Estado, visa apenas dar um caráter oficial e juridicamente reconhecido da independência e colaboração entre estas duas realidades. Inspirada pelas palavras do seu Divino Fundador, que mandou dar «a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus» (Mt 22,21), a Igreja exprimiu assim a sua posição no Concílio Vaticano II: «No domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autônomas; mas, embora por títulos diversos, ambas servem a vocação pessoal e social dos mesmos homens» (Const. Gaudium et spes GS 76). A Igreja espera que o Estado, por sua vez, reconheça que uma sã laicidade não deve considerar a religião como um simples sentimento individual que se pode relegar ao âmbito privado, mas como uma realidade que, ao estar também organizada em estruturas visíveis, necessita de ver reconhecida a sua presença comunitária pública.

Por isso cabe ao Estado garantir a possibilidade do livre exercício de culto de cada confissão religiosa, bem como as suas atividades culturais, educativas e caritativas, sempre que isso não esteja em contraste com a ordem moral e pública. Ora, a contribuição da Igreja não se limita a concretas iniciativas assistenciais, humanitárias, educativas, etc., mas tem em vista, sobretudo, o crescimento ético da sociedade, impulsionado pelas múltiplas manifestações de abertura ao transcendente e por meio da formação de consciências sensíveis ao cumprimento dos deveres de solidariedade. Portanto o Acordo assinado entre o Brasil e a Santa Sé é a garantia que possibilita à comunidade eclesial desenvolver todas as suas potencialidades em benefício de cada pessoa humana e de toda a sociedade brasileira.

Dentre estes campos de mútua colaboração, apraz-me salientar aqui, Senhor Embaixador, o da educação, para o qual a Igreja contribui com inúmeras instituições educativas, cujo prestígio é reconhecido por toda a sociedade. Com efeito, o papel da educação não pode se reduzir a uma mera transmissão de conhecimentos e habilidades que visam à formação de um profissional; mas deve abarcar todos os aspectos da pessoa, desde a sua faceta social até ao anelo de transcendência. Por esta razão, é conveniente reafirmar que o ensino religioso confessional nas escolas públicas, tal como foi confirmado no referido Acordo de 2008, longe de significar que o Estado assume ou impõe um determinado credo religioso, indica o reconhecimento da religião como um valor necessário para a formação integral da pessoa. E o ensino em questão não pode se reduzir a uma genérica sociologia das religiões, porque não existe uma religião genérica, aconfessional. Assim o ensino religioso confessional nas escolas públicas além de não ferir a laicidade do Estado, garante o direito dos pais a escolher a educação de seus filhos, contribuindo desse modo para a promoção do bem comum.

Enfim, no campo da justiça social, o Governo brasileiro sabe que pode contar com a Igreja como um parceiro privilegiado em todas as suas iniciativas que visam a erradicação da fome e da miséria. A Igreja «não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado, mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça» (Encíclica Deus caritas est ), pelo que a ela sempre se mostrará feliz em auxiliar na assistência aos mais necessitados, ajudando-lhes a livrar-se da sua situação de indigência, pobreza e exclusão.

Senhor Embaixador, ao concluir este encontro, renovo-lhe os meus votos de bom êxito na sua missão. No desempenho da mesma, estarão sempre à sua disposição os vários Dicastérios que formam a Cúria Romana. De Deus Onipotente, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, invoco as maiores Bênçãos para a sua pessoa, para os que lhe são caros e para a República Federativa do Brasil, que Vossa Excelência tem a honra, a partir de agora, de representar junto da Santa Sé.




AO SENHOR JOSEPH TEBAH-KLAH, NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DA COSTA DO MARFIM JUNTO DA SANTA SÉ, Sexta-feira, 4 de Novembro de 2011

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POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Senhor Embaixador!

É com prazer que recebo Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Costa do Marfim junto da Santa Sé. Expresso-lhe os meus agradecimentos pelas cordiais saudações que acaba de me dirigir em nome de Sua Excelência o Dr. Alassane Dramane Ouattara, Presidente da República. Ficar-lhe-ia grato se se dignasse transmitir-lhe os bons votos que formulo pela sua pessoa e pelo cumprimento do seu alto cargo ao serviço da sua nação. Peço desde já ao Príncipe da Paz para que o guie e apoie nos seus esforços por progredir pelos caminhos de uma paz duradoura, a fim de que todos os habitantes da terra marfinense possam levar uma vida calma e digna, serena e feliz. Através de Vossa Excelência, gostaria de garantir a todo o povo marfinense a minha estima.

Vossa Excelência acaba de recordar a vontade firme dos responsáveis do seu país de não poupar esforço algum para alcançar uma reconciliação nacional e uma unidade social sólida e verdadeira. A este propósito, congratulo-me pela criação da Comissão Diálogo-Verdade-Reconciliação. Que ela seja diligente em todas as suas actividades e trabalhe com total imparcialidade! Foi com grande preocupação que segui o andamento dramático da crise pós-eleitoral que o seu país viveu. Ela causou prejuízos à coesão social e levou a divisões que ainda persistem. Para o bem de todos os seus habitantes, possa a Costa do Marfim comprometer-se com determinação no caminho da concórdia, da promoção da dignidade humana e reencontrar a unidade nacional! O Salmo 133 diz: «Como é bom, como é agradável viverem os irmãos em unidade!» (v. 1). É este caminho de reconciliação que é preciso empreender, pois a África e o mundo olham para vós com atenção e confiança.

A grave crise que a Costa do Marfim acabou de atravessar, deu origem também a graves violações dos direitos do homem, e a numerosas perdas de vidas humanas. Eis por que encorajo o seu país a promover todas as iniciativas que conduzem à paz e à justiça. Não se deve ter receio de dizer a verdade sobre os crimes e todos os danos cometidos contra os direitos das pessoas. Viver juntos só será possível e harmonioso através da busca da verdade e da justiça. E este viver juntos exige o respeito dos direitos inalienáveis do outro que é, de facto, outro eu mesmo, e requer também o reconhecimento e o respeito do carácter sagrado de todas as vidas humanas. Pois qualquer vida provém de Deus e é sagrada devido à sua origem divina. Deste modo, a perda de uma vida humana, qualquer que seja — pequena ou grande, rica ou pobre — é sempre um drama, sobretudo quando o homem é responsável por ela.

Senhor Embaixador, gostaria de encorajar os responsáveis do seu país a comprometerem-se com resolução no caminho de uma governação transparente e equitativa, e congratulo-me pelo código de boa conduta dos membros do governo, que foi adoptado na primeira quinzena do mês de Agosto passado. Para realizar o bem comum, são necessários o rigor, a justiça e a transparência na gestão dos assuntos públicos. Compete aos representantes políticos fazer o possível para que as riquezas do país sejam um benefício equitativo para todos os cidadãos.

Como em numerosos países africanos, na Costa do Marfim há diversidade de religiões e de etnias. Trata-se de uma grande riqueza. Viver juntos deve ser sempre ardentemente desejado e encorajado. Como escrevi na minha primeira Encíclica: «O Estado não pode impor a religião, mas deve garantir a liberdade da mesma e a paz entre os aderentes das diversas religiões; por sua vez, a Igreja como expressão social da fé cristã tem a sua independência e vive, assente na fé, a sua forma comunitária, que o Estado deve respeitar. As duas esferas são distintas, mas sempre em recíproca relação» (Deus caritas est ). Com efeito, é indispensável o bom funcionamento das escolas e de outras instituições de carácter educativo. Que seria do futuro e do progresso de uma nação sem instituições educativas fortes nas quais se ensina e promove os valores morais, intelectuais, humanos e espirituais? Estou certo de que este canteiro educativo já é uma das prioridades para construir a Costa do Marfim de amanhã, que espero seja dinâmica e próspera, pacífica e responsável.

Por sua vez, a Igreja participa com a sua especificidade no esforço de reconstrução. Ela não pretende substituir-se ao Estado, mas pode, através das suas numerosas instituições nos campos da educação e da saúde, contribuir para o alívio e a cura da alma, e esta ajuda muitas vezes é mais necessária do que o apoio material, sobretudo quando é preciso curar as feridas do corpo e da alma. Através de Vossa Excelência, saúdo os Bispos e os fiéis do seu amado país.

Vossa Excelência acaba de inaugurar oficialmente as suas funções junto da Santa Sé. Aliás, elas coincidem com o quadragésimo aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre o seu país e a Santa Sé. Formulo os meus melhores votos pelo feliz cumprimento da sua missão. Tenha a certeza de que poderá contar sempre com a atenção e compreensão cordiais dos meus colaboradores. Ao invocar a intercessão da Virgem Maria, peço ao Senhor que conceda generosas bênçãos a Vossa Excelência, a sua família e colaboradores, assim como aos dirigentes e ao povo marfinense.




AO SENHOR REINHARD SCHWEPPE NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA, Segunda-feira, 7 de Novembro de 2011

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JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS




Excelência
Ilustre Senhor Embaixador

É para mim uma alegria dar-lhe as boas-vindas por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Federal da Alemanha junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu e peço-lhe, Excelência, que transmita ao Presidente Federal, à Chanceler Federal e aos membros do Governo Federal o meu sincero agradecimento. Ao mesmo tempo, desejo garantir a todos os concidadãos alemães o meu profundo afecto e a minha benevolência. Temos ainda perante os olhos, de forma viva, as imagens jubilosas da minha viagem à Alemanha, em Setembro passado. As numerosas demonstrações de simpatia e de estima que me foram reservadas nas várias etapas da minha visita a Berlim, Erfurt, Etzelbach e Friburgo, superaram consideravelmente as expectativas. Em toda a parte, pude constatar como as pessoas anseiam pela verdade. Nós cristãos temos que testemunhar a verdade, a fim de lhe dar uma forma na vida pessoal, familiar e social.

A visita oficial de um Papa a Alemanha pode ser a ocasião para reflectir sobre o tipo de serviço a Igreja católica e a Santa Sé pode oferecer numa sociedade pluralista, como está presente na nossa pátria. Muitos contemporâneos acreditam que a influência do Cristianismo, como também de outras religiões, consiste em modelar uma determinada cultura e um certo estilo de vida na sociedade. Um grupo de crentes marca, através do próprio comportamento, algumas formas de vida social, que são adoptadas por outras pessoas, imprimindo deste modo na sociedade um carácter específico. Embora esta ideia não seja errada, todavia não é exaustiva da visão que a Igreja católica tem de si mesma. Sem dúvida, a Igreja é inclusive uma comunidade cultural e influencia deste modo as sociedades nas quais se encontra presente. Contudo, está convencida de não ter criado apenas aspectos culturais comuns de diferentes formas nos vários países, e de ter sido por sua vez moldada pelas suas tradições. Além disso, a Igreja católica está consciente de conhecer, através da sua fé, a verdade sobre o homem enquanto tal e portanto de ter o dever de intervir a favor dos valores que são válidos para os seres humanos, independentemente das várias culturas. Distingue entre a especificidade da sua fé e as verdades da razão, às quais a fé abre os olhos e o homem enquanto homem pode ter acesso independentemente desta fé. Felizmente, um patrocínio fundamental de todos os valores humanos universais tornou-se direito positivo na nossa Constituição de 1949 e nas declarações sobre os direitos do homem após a segunda guerra mundial, porque algumas pessoas, depois dos horrores da ditadura, reconheceram a sua validade universal, baseada na verdade antropológica, e transformaram-na na legislatura vigente. Hoje, debate-se de novo sobre os valores fundamentais do ser humano, quando se aborda o tema da dignidade do homem enquanto tal. Neste contexto a Igreja, além do âmbito da sua fé, considera seu dever defender, na totalidade da sociedade, a verdade e os valores, nos quais está em jogo a dignidade do homem. Portanto, citando um ponto particularmente importante, não temos o direito de julgar se um indivíduo é «já pessoa», ou «ainda pessoa», e ainda menos cabe a nós manipular o homem e querer, por assim dizer, criá-lo. Uma sociedade só é verdadeiramente humana quando protege sem reservas e respeita a dignidade de cada pessoa desde a concepção até ao momento da sua morte natural. Todavia, se decidisse «rejeitar» os membros que mais necessitam de tutela, impedir aos homens de ser homens, comportar-se-ia de maneira profundamente inumana e também de modo não verdadeiro em relação à igualdade — evidente para todas as pessoas de boa vontade — da dignidade de todos os seres humanos, em todas as fases da vida. Se a Santa Sé intervém no campo legislativo no que concerne às questões fundamentais da dignidade humana, que actualmente se apresentam em numerosos âmbitos da existência pré-natal do homem, não o faz a fim de impor a fé de forma indirecta, mas para defender valores que para todos são fundamentalmente inteligíveis como verdade da existência, não obstante interesses de outra natureza tentem ofuscar esta reflexão de várias formas.

Neste ponto, gostaria de abordar outro aspecto preocupante que, ao que parece, se propaga através de tendências materialistas e hedonistas sobretudo nos países do chamado mundo ocidental, ou seja, a discriminação sexual das mulheres. Cada pessoa, homem e mulher, está destinada a existir para o próximo. Uma relação que não respeita o facto de que o homem e a mulher têm a mesma dignidade, constitui um crime grave contra a humanidade. Já chegou o momento de limitar de forma enérgica a prostituição, assim como a ampla circulação de material com conteúdo erótico ou pornográfico, inclusive na Internet. A Santa Sé espera que o compromisso da Igreja católica na Alemanha contra estes males seja assumido de forma mais decisiva e clara.

No que diz respeito aos longos anos de relações cordiais entre a Alemanha e a Santa Sé, podemos observar em geral numerosos resultados positivos. É um bem que a Igreja católica na Alemanha tenha excelente possibilidade de acção, que possa anunciar o Evangelho livremente e ajudar as pessoas no âmbito de muitas estruturas caritativas e sociais. Estou verdadeiramente grato pelo apoio concreto oferecido a esta obra por parte das Instituições federais, regionais e municipais. Entre os vários aspectos de uma colaboração positiva e apreciável entre o Estado e a Igreja católica desejo citar, por exemplo, a tutela do direito eclesiástico do trabalho por parte do direito estatal, assim como o apoio oferecido às escolas e instituições católicas no âmbito caritativo, cuja obra serve, afinal de contas, para o bem-estar de todos os cidadãos.

Estimado Embaixador, desejo-lhe um bom início de missão diplomática e muito sucesso nesta tarefa. Ao mesmo tempo, garanto-lhe o apoio e a disponibilidade dos representantes da Cúria Romana no cumprimento dos seus deveres. Invoco de coração sobre a sua pessoa, a sua esposa, os seus colaboradores e as suas colaboradoras na Embaixada da República Federal da Alemanha junto da Santa Sé, a protecção constante de Deus e as suas Bênçãos abundantes.




NA ATRIBUIÇÃO DA CIDADANIA HONORÁRIA DE NAZ-SCIAVES

Sala Paulo VI
1393 Quarta-feira, 9 de Novembro de 2011



Estimado e querido Senhor
Presidente da Câmara Municipal
Queridos irmãos no sacerdócio
Amados amigos de Naz-Sciaves

Posso dizer apenas de coração «Vergelt’s Gott» [Deus vos recompense] pela grande honra de ser agora cidadão honorário do vosso Município, e portanto de ser, por assim dizer, entre vós um de casa, também sob um ponto de vista legal e anagráfico. Graças ao bonito quadro que oferecestes, posso «passear» sempre no vosso Município e também deste modo sentir-me em casa, inclusive se receio não ter a possibilidade de lá voltar mais uma vez pessoalmente, mas de poder ver Naz-Sciaves só do alto. Contudo, com o coração estou convosco e sinto-me deveras feliz por este dom que me fizestes.

O Tirol do Sul é uma terra especial e está impresso no meu coração através do que contava a minha mãe. Eu próprio não pude conhecer a bisavó e a avó: a avó morreu quando eu tinha três anos; contudo, muitas narrações dela permaneceram, sobretudo permaneceu o facto que, toda a vida, dentro de si teve saudades do Tirol do Sul e interiormente nunca se inseriu deveras na Baviera. Durante a sua última doença disse: «Se pudesse ter um balde de água da minha terra, certamente eu sarava!». Já não tinha cura, mas viveu das «águas» da sua pátria, e com isto teve uma vida difícil, mas ao mesmo tempo cheia e rica.

Vem-me à memória, a este propósito, mais outra pequena história. Quando era jovem, a minha mãe trabalhou numa família de Kufstein; ali tinha encontrado uma amiga, que depois se casou com um padeiro e que eu mesmo, quando era pequeno, conheci. Gostava muito dela, e a amiga dizia-lhe muitas vezes: «Mariedl, deves saber uma coisa: o Tirol foi feito pelos anjos!». A nossa mãe conservou isto como uma espécie de testamento e assim transmitiu-o também a nós. Ela, dentro de si, estava convencida de que era assim. E depois, em 1940, quando eu tinha 13 anos, pela primeira vez eu e os meus dois irmãos demos um passeio de bicicleta e fomos ao Tirol do Norte e pudemos ver que era deveras assim: que tinha sido feito pelos anjos. Depois, um decénio mais tarde fui também ao Tirol do Sul e pude ver aquela particular proximidade de Deus que se expressa na beleza destas terras. Mas não se tornou tão bonito só graças à Criação, mas porque os homens responderam ao Criador: se pensamos nos campanários góticos, nas bonitas casas, na gentileza e cordialidade das pessoas, na bonita música, sabemos que os homens responderam, e na colaboração — entre o Criador, os seus anjos e os homens — tornou-se uma terra muito bonita, uma terra extraordinariamente lindíssima. E sinto-me orgulhoso e feliz por lhe pertencer, de uma ou de outra forma.

Neste momento, os meus votos são por que ela permaneça assim. Vossa Excelência, Senhor Presidente da Câmara Municipal, falou da igreja que se encontra sempre no centro da cidade e é expressão da comunhão que mantém unidas as pessoas e, ao mesmo tempo, também sinal de abertura: abre a comunidade além do vale em direcção a toda a cristandade, ao mundo, e faz assumir responsabilidades juntos. Por conseguinte, faço votos por que permaneça assim; que a natureza, a criação e o ser dos homens se juntem numa única harmonia; que a fé seja portadora de alegria e ajude a superar também situações difíceis: a bisavó foi embora dali, penso, porque a casa estava ameaçada pela água; que nasça a força para manter esta terra sempre e de novo — cada geração deve recomeçar — bonita como é, bonita dentro; e que, portanto, possa permanecer uma pátria que ajude as pessoas a viver uma maneira justa de ser homens.

«Vergelt’s Gott» [Deus vos recompense] por tudo e a bênção de Deus desça sobre todos vós!




AOS MEMBROS DA «ISRAEL RELIGIOUS COUNCIL» Quinta-feira, 10 de Novembro de 2011

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Sala dos Papas


Beatitudes
Excelências
Queridos amigos

É um grande prazer receber-vos, membros da Israeli Religious Council, como representantes das comunidades religiosas existentes na Terra Santa, e agradeço-vos as amáveis palavras que me foram dirigidas em nome de todos os presentes.

Nesta época difícil, o diálogo entre as diferentes religiões é cada vez mais importante para estabelecer um clima de respeito mútuo e de compreensão, capaz de promover amizade e firme confiança recíprocas. Isto é urgente para os líderes religiosos da Terra Santa que, mesmo vivendo segundo as nossas tradições num lugar cheio de memórias sagradas, são quotidianamente postos à prova pelas dificuldades do viver juntos em harmonia.

Como observei no meu recente encontro com os líderes religiosos em Assis, hoje encontramo-nos perante dois tipos de violências: por um lado, o uso da violência em nome da religião e, por outro, a violência que é consequência da negação de Deus, que muitas vezes caracteriza a vida da sociedade moderna. Nesta situação, como líderes religiosos somos chamados a reafirmar que a relação do homem com Deus vivida rectamente é uma força de paz. Esta é uma verdade que se deve tornar cada vez mais visível no mundo em que vivemos juntos todos os dias.

Portanto, desejo encorajar-vos a promover um clima de confiança e de diálogo entre os líderes e os membros de todas as tradições religiosas presentes na Terra Santa. Compartilhamos a grave responsabilidade de educar os membros das nossas respectivas comunidades religiosas, a fim de cultivar uma compreensão recíproca mais profunda e de desenvolver uma abertura em vista de uma cooperação com pessoas de tradições religiosas diferentes das nossas. Infelizmente, a realidade do nosso mundo é muitas vezes fragmentária e imperfeita, inclusive na Terra Santa. Todos nós somos chamados a comprometer-nos de novo em prol da promoção de uma justiça e de uma dignidade maiores, a fim de enriquecer o nosso mundo e proporcionar-lhe uma dimensão plenamente humana. A justiça, juntamente com a verdade, o amor e a liberdade, constitui uma exigência fundamental para paz sólida e duradoura no mundo. O movimento para a reconciliação exige coragem e clarividência, assim como a confiança no facto que será o próprio Deus quem nos indicará o caminho. Não podemos alcançar os nossos objectivos se Deus não nos dá a força para o fazer.

Quando, em Maio de 2009, visitei Jerusalém, detive-me diante do Muro ocidental e, na oração inserida entre as pedras do Muro, pedi a Deus a paz para a Terra Santa. Escrevi: «Deus de todos os tempos, na minha visita a Jerusalém, “Cidade da Paz”, pátria espiritual comum de judeus, cristãos e muçulmanos, apresento-vos as alegrias, as esperanças e as aspirações, as provações, os sofrimentos e a dor de todo o vosso povo no mundo inteiro. Deus de Abraão, Isaac e Jacob, ouvi o clamor dos aflitos, dos amedrontados e dos desesperados; enviai a vossa paz sobre esta Terra Santa, sobre o Médio Oriente e sobre toda a família humana; estimulai os corações de todos aqueles que invocam o vosso nome, a percorrer humildemente o caminho da justiça e da compaixão. “O Senhor é bom para aqueles que nele confiam, para a alma que O procura” (
Lm 3,25)!»

Que o Senhor possa ouvir hoje a minha oração por Jerusalém e encher o vosso coração de alegria durante a vossa visita a Roma. Que ele possa ouvir a oração de todos os homens e mulheres que lhe pedem a paz em Jerusalém. Com efeito, nunca deixemos de rezar pela paz na Terra Santa, com confiança em Deus, que é a nossa paz e a nossa consolação! Confiando a vós e a quantos representais ao cuidado misericordioso do Todo-Poderoso, de bom grado invoco sobre todos as Bênçãos divinas de alegria e de paz.





AOS VOLUNTÁRIOS CATÓLICOS EUROPEUS PARTICIPANTES NO CONGRESSO ORGANIZADO PELO PONTIFÍCIO CONSELHO «COR UNUM» Sexta-feira, 11 de Novembro de 2011

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Sala Clementina



Eminências
Amados Irmãos Bispos
Dilectos amigos

Estou grato pela oportunidade de vos saudar, no momento em que vos reunis sob o patrocínio do Pontifício Conselho «Cor Unum» neste Ano Europeu do Voluntariado.

Permiti que eu comece agradecendo ao Cardeal Robert Sarah as amáveis palavras que me dirigiu em vosso nome. Também gostaria de manifestar a minha profunda gratidão e, por extensão, aos milhões de voluntários católicos que contribuem, regular e generosamente, para a missão caritativa da Igreja no mundo inteiro. No momento presente, caracterizado por crises e incertezas, o vosso compromisso constitui um motivo de confiança, pois demonstra que a bondade existe e continua a prosperar no meio de nós. A fé de todos os católicos é certamente fortalecida quando eles se dão conta de todo o bem que se realiza em nome de Cristo (cf. Fm
Phm 6).

Para os cristãos, o trabalho de voluntariado não é meramente uma expressão de boa vontade, porque se fundamenta na experiência pessoal de Cristo. Ele foi o primeiro que serviu a humanidade, e livremente entregou a sua vida para o bem de todos. Este dom não se baseava nos nossos méritos. Isto ensina-nos que Deus se oferece a Si mesmo a nós. Mais ainda: Deus Caritas est — Deus é amor, para citar uma frase da Primeira Carta de São João (4, 8), que utilizei como título da minha primeira Carta Encíclica. A experiência do amor generoso de Deus desafia-nos e liberta-nos para que adoptemos esta mesma atitude em relação aos nossos irmãos e irmãs: «Recebestes de graça, dai também de graça» (Mt 10,8). Experimentamos isto de maneira especial na Eucaristia, quando o Filho de Deus, na fracção do pão, une a dimensão vertical do seu dom divino com a dimensão horizontal do nosso serviço aos irmãos e às irmãs.

Que a graça de Cristo nos possa ajudar a descobrir em nós o anseio humano de solidariedade e de vocação fundamental para o amor. A sua graça aperfeiçoa, fortalece e eleva esta vocação e permite-nos servir o próximo sem recompensa, satisfação ou compensação algum. Vemos aqui algo da grandeza da nossa vocação humana: servir o próximo com a mesma liberdade e generosidade que caracteriza o próprio Deus. Tornamo-nos também instrumentos visíveis do seu amor num mundo que ainda anseia profundamente por aquele amor no âmbito da pobreza, solidão, marginalização e ignorância que vemos ao nosso redor.

Certamente, o trabalho dos voluntários católicos não pode atender todas as necessidades, mas isto não nos desanima. Nem nos deveríamos deixar seduzir pelas ideologias que querem transformar o mundo segundo uma visão puramente humana. O pouco que poderemos fazer a fim de aliviar as necessidades humanas pode ser considerado como uma boa semente que brotará originando muitos frutos. É um sinal da presença e do amor de Cristo que, como a árvore do Evangelho, cresce para dar abrigo, protecção e força a todos aqueles que precisam dela.

Esta é a natureza do testemunho que vós, com toda a humildade e convicção, ofereceis à sociedade civil. Não obstante, seja dever da autoridade pública reconhecer e apreciar este contributo sem o deturpar, o vosso papel como cristãos consiste em participar activamente na vida da sociedade, procurando torná-la cada vez mais humana, cada vez mais caracterizada pela liberdade, justiça e solidariedade autênticas.

O nosso encontro de hoje realiza-se na memória litúrgica de são Martinho de Tours. Frequentemente representado enquanto reparte o manto com um pobre, Martinho tornou-se modelo de caridade em toda a Europa e, de facto, no mundo inteiro. Hoje, o trabalho de voluntariado na qualidade de serviço de caridade tornou-se um elemento da nossa cultura moderna universalmente reconhecido. Todavia, as suas origens são ainda visíveis na particular solicitude cristã pela tutela, sem discriminação, da dignidade da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus. Se estas raízes espirituais forem negadas ou obscurecidas e os critérios da nossa colaboração se tornarem meramente utilitaristas, o que há de mais característico no serviço que ofereceis corre o risco de se perder, em detrimento da sociedade na sua globalidade.

1396 Queridos amigos, desejo concluir encorajando os jovens a descobrir no trabalho de voluntariado um modo para incrementar o próprio amor oblativo que conceda à vida o seu significativo mais profundo. Os jovens reagem rapidamente à vocação de amor. Ajudemo-los a escutar Cristo que faz ouvir a sua chamada no seu coração e os atrai para si. Não devemos ter medo de lhes apresentar um desafio radical que transforma a vida, ajudando-os a compreender que os nossos corações servem para amar e para ser amados. É ao doar a nós mesmo que vivemos a vida em toda a sua plenitude.

Com estes sentimentos, agradeço novamente a todos vós e a quantos representais. Peço a Deus para vigiar sobre as vossas numerosas obras de serviço e torná-las cada vez mais fecundas espiritualmente para o bem da Igreja e do mundo inteiro. Concedo de bom grado a vós e aos voluntários a minha Bênção Apostólica.




AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE AS ESTAMINAIS PROMOVIDO PELO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A CULTURA

Sábado, 12 de Novembro de 2011



Eminência
Queridos Irmãos Bispos
Excelências
Distintos Convidados
Queridos Amigos

Desejo agradecer ao Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, as suas amáveis palavras e por ter promovido esta Conferência Internacional sobre as Células estaminais adultas: a ciência e o futuro do homem e da cultura. Agradeço ao Arcebispo Zygmunt Zimowski, Presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde, e ao Bispo Ignacio Carrasco de Paula, Presidente da Pontifícia Academia para a Vida, pela sua contribuição para este esforço particular. Dirijo uma palavra especial de gratidão aos numerosos benfeitores, cujo apoio permitiu este evento. A este respeito, gostaria de manifestar o apreço da Santa Sé pelo trabalho desempenhado por várias instituições a fim de promover iniciativas de carácter cultural e formativo de apoio à investigação de alto nível sobre as células estaminais adultas e estudar as implicações culturais, éticas e antropológicas relativas ao seu uso.

A pesquisa científica oferece uma oportunidade única para explorar as maravilhas do universo, a complexidade da natureza e a beleza peculiar do universo, inclusive a vida humana. Todavia, visto que os seres humanos possuem uma alma imortal e são criados à imagem e semelhança de Deus, existem dimensões da existência humana que estão além do que as ciências naturais são capazes de determinar. Se estes limites forem excedidos, corre-se o sério risco de que a dignidade única e a inviolabilidade da vida humana possam ser sujeitas a considerações puramente utilitaristas. No entanto se, pelo contrário, estes limites forem devidamente respeitados, a ciência pode dar uma contribuição notável para a promoção e a protecção da dignidade do homem: com efeito, nisto consiste a sua utilidade autêntica. O homem, o agente da pesquisa científica, por vezes, na sua natureza biológica, será o objecto desta investigação. Apesar de tudo, a sua dignidade transcendente dá-lhe o direito de permanecer sempre o beneficiário final da investigação científica e de nunca ser reduzido a seu instrumento.

Neste sentido, os benefícios potenciais da investigação sobre as células estaminais adultas são consideráveis, pois dá a possibilidade de curar doenças crónicas degenerativas reparando o tecido danificado e restabelecendo a sua capacidade de se regenerar. A melhoria que estas terapias prometem seria um significativo passo em frente na ciência médica, oferecendo uma nova esperança aos doentes e às suas famílias. Naturalmente, por esta razão, a Igreja encoraja aqueles que conduzem e apoiam pesquisas deste tipo, obviamente desde que sejam realizadas tendo em conta o bem integral da pessoa humana e o bem comum da sociedade.

1397 Esta condição é fundamental. A mentalidade pragmática que muitas vezes influencia a tomada de decisões no mundo de hoje está sempre pronta para aprovar qualquer instrumento disponível para alcançar o objectivo desejado, apesar das amplas evidências das consequências desastrosas desta maneira de pensar. Quando o objectivo estabelecido é tanto desejável quanto a descoberta de uma cura para as doenças degenerativas, os cientistas e os políticos sentem-se tentados a ignorar todas as objecções éticas e a prosseguir com qualquer pesquisa que ofereça a perspectiva de sucesso. Aqueles que defendem a pesquisa sobre as células estaminais embrionárias com a esperança de conseguir este resultado cometem o erro grave de negar o direito inalienável à vida de todos os seres humanos desde a concepção até à morte natural. A destruição de uma só vida humana nunca pode ser justificada em termos do benefício que poderia presumivelmente ser alcançado por outra. Todavia, em geral, as questões éticas não surgem quando as células estaminais são retiradas dos tecidos de um organismo adulto, do sangue do cordão umbilical no momento do nascimento ou dos fetos que morreram por causas naturais (cf. Congregação para a Doutrina da Fé, instrução Dignitas Personae, n. 32)

Por conseguinte o diálogo entre ciência e ética é de grande importância para garantir que os progressos médicos nunca sejam realizados pagando um preço humano inaceitável. A Igreja contribui para este diálogo ajudando a formar as consciência de acordo com a recta razão e à luz da verdade revelada. Ao fazer isso, procura não obstacular o progresso científico mas, ao contrário, orientá-lo numa direcção que seja verdadeiramente fecunda e benéfica para a humanidade. Com efeito, a Igreja está convencida de que tudo o que é humano, inclusive a pesquisa científica, «não só é acolhido e respeitado pela fé, mas é através dela purificada, elevada e aperfeiçoada» (ibidem, n. 7). Deste forma, a ciência pode ser ajudada a servir o bem comum da humanidade inteira, com especial atenção para os mais débeis e os mais vulneráveis.

Ao chamar a atenção para as necessidades dos indefesos, a Igreja não pensa apenas nos nascituros, mas também naqueles que não têm fácil acesso a tratamentos médicos dispendiosos. A doença não é selectiva com as pessoas e a justiça exige que seja feito qualquer esforço a fim de que todos os que dela necessitam possam beneficiar dos resultados da pesquisa científica, independentemente das suas possibilidades económicas. Além das considerações meramente éticas, é necessário enfrentar questões sociais, económicas e políticas para garantir que os progressos da ciência médica estejam a passo com uma oferta de serviços de saúde justa e equitativa. Neste sentido, a Igreja é capaz de oferecer assistência concreta através do seu vasto apostolado médico, activo em numeroso países do mundo, e destinado com uma preocupação especial às necessidades dos pobres do mundo. Queridos amigos, ao concluir as minhas observações, desejo garantir-vos a minha recordação especial na oração e confiar à intercessão de Maria, Salus infirmorum, todos vós que trabalhais tão assiduamente para levar curas e esperança aos que sofrem. Rezo a fim de que o vosso empenho na pesquisa sobre as células estaminais adultas dê abundantes bênçãos para o futuro do homem e enriquecimento autêntico à sua cultura. Concedo de bom grado e de coração a minha Bênção Apostólica a vós, às vossas famílias, aos vossos colaboradores e a todos os enfermos que beneficiam da vossa generosa competência e dos resultados do vosso trabalho. Muito obrigado!





Discursos Bento XVI 1391