Discursos Bento XVI 1419

1419 Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Estimados irmãos e irmãs

É-me grato receber-vos por ocasião da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para a Família, na celebração de um dúplice XXX aniversário: da Exortação Apostólica Familiaris consortio, publicada no dia 22 de Novembro de 1981, pelo beato João Paulo II, e do próprio Dicastério, por ele instituído a 9 de Maio precedente com o Motu Proprio Familia a Deo instituta, como sinal da importância a atribuir à pastoral familiar no mundo e, ao mesmo tempo, instrumento eficaz para ajudar a promovê-la a todos os níveis (cf. João Paulo II, Familiaris consortio
FC 73). Dirijo a minha saudação cordial ao Cardeal Ennio Antonelli, agradecendo-lhe as palavras com que introduziu o nosso encontro, assim como ao Monsenhor Secretário, aos demais colaboradores e a todos vós aqui reunidos.

A nova evangelização depende em grande parte da igreja doméstica (cf. ibid., n. 65). No nosso tempo, assim como em épocas passadas, o eclipse de Deus, a difusão de ideologias contrárias à família e a degradação da ética sexual parecem estar ligadas entre si. E assim como o eclipse de Deus e a crise da família estão inter-relacionadas, do mesmo modo a nova evangelização é inseparável da família cristã. Com efeito, a família é o caminho da Igreja, porque é «espaço humano» do encontro com Cristo. Os cônjuges «não só “recebem” o amor de Cristo, tornando-se comunidade “salva”, mas também são chamados a “transmitir” aos irmãos o mesmo amor de Cristo, tornando-se assim comunidade “salvadora”» (Ibid., n. 49). A família fundada sobre o sacramento do Matrimónio é realização particular da Igreja, comunidade salva e salvadora, evangelizada e evangelizadora. Como a Igreja, também ela é chamada a receber, irradiar e manifestar no mundo o amor e a presença de Cristo. O acolhimento e a transmissão do amor divino realizam-se na dedicação recíproca dos cônjuges, na procriação generosa e responsável, no cuidado e na educação dos filhos, no trabalho e nos relacionamentos sociais, na atenção aos necessitados, na participação nas actividades eclesiais e no compromisso civil. Na medida em que, ao longo de um caminho de conversão permanente sustentado pela graça de Deus, a família cristã consegue viver o amor como comunhão e serviço, como dom recíproco e abertura a todos, reflecte no mundo o esplendor de Cristo e a beleza da Trindade divina. Santo Agostinho tem uma frase célebre: «Immo vero vides Trinitatem, si caritatem vides», «Pois bem, sim, tu vês a Trindade se vires a caridade» (De Trinitate, VIII, 8). E a família é um dos lugares fundamentais onde se vive e se educa para o amor, para a caridade.

No sulco dos meus Predecessores, também eu exortei várias vezes os esposos cristãos a evangelizar, quer com o testemunho da vida, quer com a participação nas actividades pastorais. Fi-lo inclusive recentemente, em Ancona, por ocasião do encerramento do Congresso Eucarístico Nacional italiano. Ali desejei encontrar-me com os casais e os sacerdotes. Com efeito, os dois Sacramentos chamados «do serviço da comunhão» (cf. CIC CIC 1 CIC 534), Ordem Sagrada e Matrimónio, devem ser referidos à única nascente eucarística. «De facto, estes dois estados de vida têm a mesma raíz no amor de Cristo, que se doa a si mesmo para a salvação da humanidade; estão chamados a uma missão comum: testemunhar e tornar presente este amor ao serviço da comunidade, para a edificação do Povo de Deus (...) Esta perspectiva permite, antes de tudo, que se supere uma visão limitada da família, que a considera como mera destinatária da acção pastoral. [...] A família é riqueza para os esposos, bem insubstituível para os filhos, fundamento indispensável da sociedade, comunidade vital para o caminho da Igreja» (Discurso aos Sacerdotes e às Famílias, 11 de Setembro de 2011). Em virtude disto, «a família é lugar privilegiado de educação humana e cristã e permanece, para esta finalidade, a melhor aliada do ministério sacerdotal [...] Nenhuma vocação é uma questão particular, muito menos a do matrimónio, porque o seu horizonte é a Igreja inteira» (Ibidem).

Existem âmbitos em que é particularmente urgente o protagonismo das famílias cristãs, em colaboração com os presbíteros e sob a orientação dos Bispos: a educação de crianças, adolescentes e jovens para o amor, entendido como dom de si e comunhão; a preparação dos noivos para a vida matrimonial, com um itinerário de fé; a formação dos cônjuges, especialmente dos casais jovens; as experiências associativas, com finalidades caritativas, educativas e de compromisso civil; a pastoral das famílias para as famílias, dirigida a todo o arco da vida, valorizando o tempo do trabalho e da festa.

Caros amigos, preparemo-nos para o VII Encontro Mundial das Famílias, que terá lugar em Milão de 30 de Maio a 3 de Junho de 2012. Será para mim e para todos nós uma grande alegria encontrar-nos, rezar e fazer festa com as famílias que vierem do mundo inteiro, acompanhadas dos seus Pastores. Agradeço à Igreja ambrosiana o grandioso esforço realizado até agora e quanto fará nos próximos meses. Convido as famílias de Milão e da Lombardia a abrir as portas das suas casas para receber os peregrinos que vierem do mundo inteiro. Na hospitalidade experimentarão alegria e entusiasmo: é bom fazer conhecimento e amizade, descrever uns aos outros a vida de família e a experiência de fé com ela ligada. Na minha carta de convocação do Encontro de Milão, eu pedia «um adequado percurso de preparação eclesial e cultural», a fim de que este acontecimento seja fecundo e envolva concretamente as comunidades cristãs no mundo inteiro. Agradeço a quantos já tomaram iniciativas neste sentido e convido aqueles que ainda não o fizeram a aproveitarem os próximos meses. O vosso Dicastério ocupou-se de redigir um subsídio precioso, com catequeses sobre o tema «A família: o trabalho e a festa»; além disso, formulou para as paróquias, as associações e os movimentos uma proposta de «semana da família», e são desejáveis outras iniciativas.

Obrigado ainda pela vossa visita e pelo trabalho que realizais a favor das famílias e ao serviço do Evangelho. Certifico-vos que me recordo de vós na oração e concedo-vos de coração, bem como aos vossos entes queridos, uma especial Bênção Apostólica.



À PONTIFÍCIA COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL Sala dos Papas Sexta-feira, 2 de Dezembro de 2011

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Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustres Professores e Professoras
Estimados Colaboradores

É uma grande alegria para mim, poder receber-vos no encerramento da Sessão Plenária anual da Comissão Teológica Internacional. Gostaria de manifestar, antes de tudo, um sentido agradecimento pelas palavras que o Senhor Cardeal William Levada, como Presidente da Comissão, quis dirigir-me em nome de todos vós.

Este ano, os trabalhos desta Sessão coincidiram com a primeira semana de Advento, ocasião que nos faz recordar como cada teólogo é chamado a tornar-se homem do Advento, expectativa vigilante, que ilumina os caminhos da inteligência da Palavra que se fez carne. Podemos dizer que o conhecimento do Deus verdadeiro tende para aquela «hora» que nos é desconhecida, e dela se alimenta constantemente, na qual o Senhor há-de voltar. Portanto, manter acordada a vigilância e vivificar a esperança da expectativa não são uma tarefa secundária para um pensamento teológico recto, que encontra a sua razão na Pessoa d’Aquele que vem ao nosso encontro e ilumina o nosso conhecimento da salvação.

Hoje, é-me grato meditar brevemente convosco sobre três temas que a Comissão Teológica Internacional está a estudar nos últimos anos. O primeiro, como foi dito, diz respeito à questão fundamental para cada reflexão teológica: a questão de Deus e, em particular, a compreensão do monoteísmo. A partir deste vasto horizonte doutrinal, aprofundastes também um tema de carácter eclesial: o significado da Doutrina social da Igreja, dedicando depois especial atenção a uma temática que actualmente é de grande actualidade para o pensar teológico sobre Deus: a questão do próprio status da teologia hoje, nas suas perspectivas, nos seus princípios e critérios.

Por detrás da profissão da fé cristã no único Deus encontra-se a profissão de fé quotidiana do povo de Israel: «Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor» (
Dt 6,4). O cumprimento inaudito da livre disposição do amor de Deus para com todos os homens realizou-se na encarnação do Filho em Jesus Cristo. Em tal Revelação da intimidade de Deus e da profundidade do seu vínculo de amor com o homem, o monoteísmo do único Deus iluminou-se com uma luz completamente nova: a luz trinitária. E no mistério trinitário ilumina-se inclusive a fraternidade entre os homens. A teologia cristã, juntamente com a vida dos fiéis, deve restituir a evidência feliz e cristalina ao impacto da Revelação trinitária sobre a nossa comunidade. Não obstante os conflitos étnicos e religiosos no mundo tornem mais difícil aceitar a singularidade do pensar cristão de Deus e do humanismo que é por ele inspirado, os homens podem reconhecer no Nome de Jesus Cristo a verdade de Deus Pai, em relação à qual o Espírito Santo suscita todos os gemidos da criatura (cf. Rm 8). Em fecundo diálogo com a filosofia, a teologia pode ajudar os fiéis a tomar consciência e a testemunhar que o monoteísmo trinitário nos mostra a verdadeira Face de Deus, e este monoteísmo não é fonte de violência, mas força de paz pessoal e universal.

O ponto de partida de cada teologia cristã é o acolhimento desta Revelação divina: o acolhimento pessoal do Verbo que se fez carne, a escuta da Palavra de Deus na Escritura. A partir desta base, a teologia ajuda a inteligência crente da fé e a sua transmissão. No entanto, toda a história da Igreja demonstra que o reconhecimento do ponto de partida não é suficiente para alcançar a unidade na fé. Toda a leitura da Bíblia nos coloca, necessariamente, num dado contexto de leitura, e o único contexto em que o crente pode estar em plena comunhão com Cristo é a Igreja e a sua Tradição viva. Temos que viver sempre de novo a experiência dos primeiros discípulos, que «perseveravam na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fracção do pão e nas orações» (Ac 2,42). Nesta perspectiva, a Comissão estudou os princípios e os critérios segundo os quais uma teologia pode ser católica, e meditou também sobre a contribuição actual da teologia. É importante recordar que a teologia católica, sempre atenta ao vínculo entre fé e razão, desempenhou um papel histórico no nascimento da Universidade. Uma teologia verdadeiramente católica, com os dois movimentos, «intellectus quaerens fidem et fides quaerens intellectum», é hoje necessária como nunca, para tornar possível uma sinfonia das ciências e para evitar as derivas violentas de uma religiosidade que se opõe à razão, e de uma razão que se opõe à religião.

Além disso, a Comissão Teológica estuda a relação entre a Doutrina Social da Igreja e o conjunto da Doutrina cristã. O compromisso social da Igreja não é somente algo de humano, nem se resolve numa teoria social. A transformação da sociedade, realizada pelos cristãos ao longo dos séculos, constitui uma resposta à vinda do Filho de Deus ao mundo: o esplendor de tal Verdade e Caridade ilumina todas as culturas e sociedades. São João afirma: «Nisto temos conhecido o amor: no facto de que Ele (Jesus) deu a sua vida por nós. Portanto, também nós devemos dar a nossa vida pelos nossos irmãos» (1Jn 3,16). Os discípulos de Cristo Redentor sabem que sem a atenção ao próximo, o perdão e o amor também pelos inimigos, nenhuma comunidade humana pode viver em paz; e isto começa na primeira e fundamental sociedade, que é a família. Na colaboração necessária a favor do bem comum, inclusive com quantos não compartilham a nossa fé, temos que tornar presentes os verdadeiros e profundos motivos religiosos do nosso compromisso social, assim como esperamos que os outros nos manifestem as suas motivações, a fim de que a colaboração se realize com clareza. Quem tiver compreendido os fundamentos do agir social cristão, poderá então encontrar nos mesmos também um estímulo para ter em consideração a própria fé em Jesus Cristo.

Caros amigos, o nosso encontro confirma de modo significativo quanto a Igreja precisa da reflexão competente e fiel dos teólogos a respeito do mistério do Deus de Jesus Cristo e da sua Igreja. Sem uma reflexão teológica sadia e vigorosa, a Igreja correria o risco de não expressar plenamente a harmonia entre fé e razão. Ao mesmo tempo, sem a vivência fiel da comunhão com a Igreja e a adesão ao seu Magistério, como espaço vital da própria existência, a teologia não conseguiria explicar de modo adequado a razão do dom da fé.

Transmitindo, por vosso intermédio, os bons votos e o encorajamento a todos os irmãos e irmãs teólogos, espalhados pelos vários contextos eclesiais, invoco sobre vós a intercessão de Maria, Mulher do Advento e Mãe do Verbo encarnado, que é para nós, no seu gesto de conservar a Palavra no próprio coração, paradigma da recta teologia, o modelo sublime do verdadeiro conhecimento do Filho de Deus. Ela, Estrela da Esperança, oriente e salvaguarde o trabalho precioso que levais a cabo em prol e em nome da Igreja. É com estes sentimentos de gratidão que vos renovo a minha Bênção Apostólica. Obrigado!




AOS PARTICIPANTES NO TERCEIRO CONGRESSO MUNDIAL DE PASTORAL PARA OS ESTUDANTES INTERNACIONAIS

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Sala do Consistório

Sexta-feira, 2 de Dezembro de 2011




Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Prezados estudantes
Dilectos irmãos e irmãs

Estou feliz por vos receber, por ocasião do III Congresso Mundial de Pastoral para os Estudantes Internacionais, organizado pelo Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. Saúdo e agradeço ao Presidente, D. Antonio Maria Vegliò, as expressões com as quais introduziu este encontro. Saúdo também os Superiores e os Oficiais do Dicastério e cada um de vós, aqui vindos de diversas regiões do mundo, sobretudo dos países de maior afluência dos estudantes internacionais. Desejo manifestar-vos o meu apreço pelo compromisso realizado a fim de que as jovens gerações recebam orientação e sustento para aperfeiçoar a sua formação, enfrentando os desafios do mundo globalizado e secularizado. Dirijo uma saudação particular aos estudantes universitários aqui presentes, com os bons votos a fim de que, depois de terem sido destinatários desta especial solicitude pastoral, se tornem por sua vez protagonistas na missão da Igreja.

Observo com grande interesse o tema que escolhestes para o Congresso: «Estudantes internacionais e encontro das culturas». O encontro das culturas é uma realidade fundamental na nossa época e para o futuro da humanidade e da Igreja. O homem e a mulher não podem alcançar um nível de vida verdadeira e plenamente humano, a não ser precisamente mediante a cultura (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Gaudium et spes
GS 53); e a Igreja está atenta à centralidade da pessoa humana, quer como artífice da actividade cultural, quer como seu derradeiro destinatário. Hoje como nunca, a abertura recíproca entre as culturas é terreno privilegiado para o diálogo entre quantos estão comprometidos na busca de um humanismo autêntico. Portanto, o encontro das culturas no campo universitário deve ser encorajado e sustentado, tendo como fundamento os princípios humanos e cristãos, os valores universais, a fim de que ajude a fazer crescer uma nova geração capaz de diálogo e de discernimento, comprometida em difundir o respeito e a colaboração para a paz e o desenvolvimento. Com efeito, com a sua formação intelectual, cultural e espiritual, os estudantes internacionais têm a potencialidade de se tornar artífices e protagonistas de um mundo com um rosto mais humano. Desejo vivamente que haja válidos programas nos planos continental e mundial, para oferecer esta oportunidade a muitos jovens.

Por causa da carência de uma formação qualificada e de estruturas adequadas na própria terra, como também das tensões sociais e políticas, e graças às ajudas económicas para o estudo no estrangeiro, os estudantes internacionais constituem uma realidade em aumento no interior do grande fenómeno migratório. Portanto, é importante oferecer-lhes uma preparação intelectual, cultural e espiritual sadia e equilibrada, para que não sejam vítimas da «fuga de cérebros», mas formem uma categoria social e culturalmente relevante na perspectiva do seu regresso como futuros responsáveis nos países de origem, e contribuam para constituir «pontes» culturais, sociais e espirituais com os países de acolhimento. As universidades e as instituições católicas de educação superior são chamadas a tornar-se «laboratórios de humanidade», oferecendo programas e cursos que estimulem os jovens estudantes na busca não só de uma qualificação profissional, mas também da resposta à exigência de felicidade, de sentido e de plenitude, que se encontra no coração do homem.

O mundo universitário constitui para a Igreja um campo privilegiado para a evangelização. Como ressaltei na Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado do próximo ano, os ateneus de inspiração cristã, quando se mantêm fiéis à identidade que lhes é própria, tornam-se lugares de testemunho, onde Jesus Cristo pode ser encontrado e conhecido, onde se pode experimentar a sua presença, que reconcilia, tranquiliza e infunde esperança renovada. A difusão de ideologias «frágeis» nos diversos campos da sociedade estimula os cristãos a um novo impulso no campo intelectual, com a finalidade de encorajar as jovens gerações na busca e na descoberta da verdade a respeito do homem e de Deus. A vida do beato John Henry Newman, tão ligada ao contexto académico, confirma a importância e a beleza de promover um ambiente educativo no qual a formação intelectual, a dimensão ética e o compromisso religioso progridam juntas. Por conseguinte, a pastoral universitária é oferecida aos jovens como ajuda, a fim de que a comunhão com Cristo os leve a compreender o mistério mais profundo do homem e da história. Além disso, o encontro entre os universitários ajuda a descobrir e a valorizar o tesouro escondido em cada estudante internacional, considerando a sua presença como um factor de enriquecimento humano, cultural e espiritual. Proveniente de culturas diversas, mas pertencendo à única Igreja de Cristo, os jovens cristãos podem demonstrar que o Evangelho é Palavra de esperança e de salvação para os homens de todos os povos e culturas, de todas as idades e épocas, como desejei reiterar também na minha recente Exortação Apostólica pós-sinodal Africae munus (cf. nn. 134 e 138).

Caros jovens estudantes, encorajo-vos a aproveitar o tempo dos vossos estudos para crescer no conhecimento e no amor de Cristo, enquanto percorreis o vosso itinerário de formação intelectual e cultural. Conservando o vosso património de sabedoria e de fé, na experiência da vossa formação cultural no estrangeiro, podereis contar com uma preciosa oportunidade de universalidade, de fraternidade e inclusive de transmissão do Evangelho. Faço votos de todo o bem para os trabalhos do vosso Congresso e asseguro-vos a minha oração. Confio a Maria, Mãe de Jesus, o compromisso e os propósitos generosos de quantos se ocupam dos migrantes, em especial dos estudantes internacionais, e de coração concedo a todos a Bênção Apostólica.



A UM ENCONTRO DO ADVENTO ORGANIZADO PELA TELEVISÃO BÁVARA BAYERISHER RUNDFUNK Sexta-feira, 2 de Dezembro de 2011

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Sala Clementina




Eminência, Excelências!
Caros Senhoras e Senhores!
Estimados Amigos!

No final deste momento de Advento aqui, no Palácio Apostólico, gostaria de vos dirigir algumas palavras. Antes de tudo, transmito um cordial agradecimento a quantos tornaram possível este encontro. Agradeço ao senhor Hans Berger juntamente com o seu Ensemble e ao «Coro Montini» a apresentação do «Oratório natalício dos Alpes», que me comoveu profundamente. Obrigado de coração. Agradeço também à Radiotelevisão Bávara, representada pelo senhor Mandlik e pela senhora Sigrid Esslinger, a projecção do filme sobre o Advento e o Natal nos Pré-Alpes bávaros. Todos vós trouxestes um pouco dos costumes e do sentido da vida tipicamente bávara à casa do Papa: só posso dizer-vos de coração «O Senhor vos recompense» por este dom.

Espero que também os nossos amigos italianos tenham sentido a alegria desta inculturação da fé nas nossas terras, particularmente Vossa Eminência [dirigindo-se ao cardeal Bertone], no dia do seu aniversário. Entre nós, como foi dito, o Advento é chamado «tempo silencioso» — staade Zeit. A natureza faz uma pausa; a terra cobre-se de neve; não se pode trabalhar nos campos, fora; necessariamente todos estão dentro de casa. O silêncio da casa torna-se, pela fé, expectativa do Senhor, alegria da sua presença. Desta forma nasceram todas estas melodias e tradições que tornam um pouco — como foi dito também hoje — «o céu presente sobre a terra». Tempo silencioso, tempo de silêncio. Hoje com frequência o Advento é exactamente o contrário: tempo de uma actividade desenfreada — compras, vendas, preparativos de Natal, grandes almoços, etc. Inclusive entre nós. Mas, como vistes, as tradições populares da fé não desapareceram, aliás, renovaram-se, aprofundaram-se e actualizaram-se. Assim, elas criam ilhas para a alma, ilhas de silêncio, de fé, ilhas para o Senhor, no nosso tempo, e isto parece-me muito importante. Devemos agradecer a quantos o fazem: nas famílias, nas igrejas, com grupos mais ou menos profissionais, mas todos fazem o mesmo: tornar presente a realidade da fé nas nossas casas, no nosso tempo. Esperamos que também no futuro esta força da fé, a sua visibilidade, permaneça e ajude a ir em frente, como o Advento deseja, rumo ao Senhor.

Mais uma vez obrigado de todo o coração e «Deus vos recompense» por tudo!



PALAVRAS POR OCASIÃO DA ILUMINAÇÃO - VIA WEB - DA ÁRVORE DE NATAL DE GUBBIO Sala dos "Foconi"

Quarta-feira, 7 de Dezembro de 2011

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Prezados habitantes de Gubbio!
Queridos amigos!

Aceitei de bom grado o convite para acender a grande Árvore de Natal que todos os anos se eleva na cidade de Gubbio. Agradeço ao Comité organizador e, em particular, ao Bispo D. Ceccobelli as palavras que me dirigiu em nome da cidade e da diocese eugubina. Saúdo todos vós que estais na Praça de Gubbio ou sintonizados através da televisão!

Antes de acender as luzes da Árvore, gostaria de expressar um simples voto triplo.

Esta grande Árvore de Natal foi colocada nas encostas do Monte Ingino em cujo ápice, como recordava o Bispo, está situada também a Basílica do Padroeiro de Gubbio, santo Ubaldo. Observando-o, o nosso olhar é impelido de modo natural para o alto, rumo ao Céu, em direcção ao mundo de Deus.

Então, o primeiro voto é que o nosso olhar, da mente e do coração, não se detenha apenas no horizonte deste nosso mundo, nos bens materiais, mas seja como esta árvore, saiba elevar-se, dirigir-se a Deus. Ele nunca se esquece de nós mas pede que também nós não nos esqueçamos d’Ele!

O Evangelho diz-nos que na noite do santo Natal uma luz envolveu os pastores (cf.
Lc 2,9-11), anunciando-lhes uma grande alegria: o nascimento de Jesus, d’Aquele que veio trazer a luz, aliás Aquele que é a luz verdadeira que ilumina todos os homens (cf. Jn 1,9). A grande árvore que daqui a pouco acenderei predomina sobre a cidade de Gubbio e com a sua luz iluminará a escuridão da noite.

O segundo voto é que isto faça recordar como também nós temos necessidade de uma luz que ilumine o caminho da nossa vida e nos dê esperança, especialmente neste nosso tempo, no qual sentimos de maneira particular o peso das dificuldades, dos problemas e dos sofrimentos, que até parece estarmos cobertos por um véu de trevas. Mas qual luz é capaz de iluminar deveras o nosso coração e de nos doar uma esperança firme, segura? É exactamente o Menino que contemplamos no santo Natal, numa gruta simples e pobre, porque Ele é o Senhor que se faz próximo de cada um de nós e pede que o recebamos novamente na nossa vida, que o amemos, tenhamos confiança nele, sintamos que está presente, que nos acompanha, apoia e ajuda.

Mas esta grande Árvore é formada por muitas luzes. O último voto que gostaria de expressar é que cada um de nós saiba levar um pouco de luz para os ambientes em que vive: na família, no trabalho, nos bairros, nas aldeias, nas cidades. Cada um seja uma luz para quem estiver ao seu lado; saia do egoísmo que com frequência fecha o coração e impele a pensar só em si mesmo; dê um pouco de atenção e amor ao outro. Cada pequeno gesto de bondade é como uma luz desta grande Árvore: juntamente com outras luzes é capaz de iluminar a escuridão da noite, inclusive a mais tenebrosa.

Portanto, obrigado, e desçam sobre todos a luz e a bênção do Senhor.



ATO DE VENERAÇÃO À IMACULADA NA PRAÇA DE ESPANHA Quinta-feira, 8 de Dezembro de 2011

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Solenidade da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria




Queridos irmãos e irmãs!

A grande festa de Maria Imaculada convida-nos todos os anos a reencontrar-nos aqui, numa das praças mais bonitas de Roma, para prestar homenagem a Ela, à Mãe de Cristo e nossa mãe. Saúdo todos vós aqui presentes com afecto, bem como a quantos estão unidos a nós através da rádio e da televisão. E agradeço-vos a vossa coral participação neste meu acto de oração.

No cimo da coluna em volta da qual nos reunimos, Maria é representada por uma estátua que em parte recorda o trecho do Apocalipse acabado de proclamar: «Depois apareceu um grande sinal do Céu: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça» (
Ap 12,1). Qual é o significado desta imagem? Ela representa ao mesmo tempo Nossa Senhora e a Igreja.

Antes de tudo a «mulher» do Apocalipse é Maria. Ela está «revestida de sol», ou seja, revestida de Deus: de facto, a Virgem Maria está totalmente circundada pela luz de Deus e vive em Deus. Este símbolo da veste luminosa expressa claramente uma condição que diz respeito a todo o ser de Maria: Ela é a «cheia de graça», colmada pelo amor de Deus. E «Deus é luz», diz ainda são João (1Jn 1,5). E eis que a «cheia de graça», a «Imaculada», reflecte com toda a sua pessoa a luz do «sol» que é Deus.

Esta mulher tem debaixo dos pés a lua, símbolo da morte e da mortalidade. Com efeito, Maria está plenamente associada à vitória de Jesus Cristo, seu Filho, sobre o pecado e sobre a morte; está livre de qualquer sombra de morte e totalmente repleta de vida. Pois a morte já não tem poder algum sobre Jesus ressuscitado (cf. Rm 6,9), também por uma graça e um privilégio singulares de Deus Omnipotente, Maria deixou-a atrás de si, superou-a. E isto manifesta-se nos dois grandes mistérios da sua existência: no início, o facto de ter sido concebida sem pecado original, que é o mistério que hoje celebramos; e no fim, o facto de ter sido elevada ao Céu em corpo e alma, na glória de Deus. Mas também toda a sua vida terrena foi uma vitória sobre a morte, porque se dedicou totalmente ao serviço de Deus, na oblação total de si a Ele e ao próximo. Por isso, Maria é em si mesma um hino à vida: é a criatura na qual já se realizou a palavra de Cristo: «Vim para que tenham vida, e a tenham em abundância» (Jn 10,10).

Na visão do Apocalipse há outro pormenor: sobre a cabeça da mulher revestida de sol há «uma coroa de doze estrelas». Este sinal representa as doze tribos de Israel e significa que a Virgem Maria está no centro do Povo de Deus, de toda a comunhão dos santos. E assim esta imagem da coroa de doze estrelas introduz-nos na segunda grande interpretação do sinal celeste da «mulher revestida de sol»: além de representar Nossa Senhora, este sinal encarna a Igreja, a comunidade cristã de todos os tempos. Ela está grávida, no sentido de que leva no seu seio Cristo e deve dá-lo à luz para o mundo: eis a labuta da Igreja peregrina na terra, que entre a consolação de Deus e as perseguições do mundo deve levar Jesus aos homens.

É precisamente por isto, porque leva Jesus, que a Igreja encontra a oposição de um adversário feroz, representado na visão apocalíptica por «um grande dragão vermelho» (Ap 12,3). Este dragão procurou em vão devorar Jesus — o «filho varão, destinado a governar todas as nações» (12, 5) — em vão porque Jesus, através da sua morte e ressurreição, subiu para Deus e sentou-se no seu trono. Por isso o dragão, derrotado de uma vez para sempre no céu, orienta os seus ataques contra a mulher — a Igreja — no deserto do mundo. Mas em todas as épocas a Igreja é apoiada pela luz e pela força de Deus, que a alimenta no deserto com o pão da sua Palavra e da sagrada Eucaristia. E assim em cada tribulação, através de todas as provas que encontra ao longo dos tempos e nas diversas partes do mundo, a Igreja sofre a perseguição, mas resulta vencedora. E precisamente desta forma a Comunidade cristã é a presença, a garantia do amor de Deus contra todas as ideologias do ódio e do egoísmo.

A única armadilha da qual a Igreja pode e deve ter receio é o pecado dos seus membros. De facto, enquanto Maria é Imaculada, livre de qualquer mancha, a Igreja é santa, mas ao mesmo tempo marcada pelos nossos pecados. Por isso o Povo de Deus, peregrinante no tempo, dirige-se à sua Mãe celeste e pede a sua ajuda; pede isto para que ela acompanhe o caminho de fé, a fim de que encorage o compromisso de vida cristã e para que apoie a esperança. Dela temos necessidade, sobretudo neste momento tão difícil para a Itália, para a Europa, para várias partes do mundo. Maria nos ajude a ver que há uma luz além da barreira de nevoeiro que parece envolver a realidade. Por isso, também nós, sobretudo nesta celebração, não cessamos de pedir com confiança filial a sua ajuda: «Ó Maria, concebida sem pecado, intercede por nós que a ti recorremos». Ora pro nobis, intercede pro nobis ad Dominum Iesum Christum!




AOS MEMBROS DA CONFEDERAÇÃO

DAS COOPERATIVAS ITALIANAS E DA FEDERAÇÃO

ITALIANA DOS BANCOS DE CRÉDITO COOPERATIVO

POR OCASIÃO DO 120º ANIVERSÁRIO

DA ENCÍCLICA «RERUM NOVARUM»

Sala Clementina
1425 Sábado, 10 de Dezembro de 2011



Prezados irmãos e irmãs

Estou feliz por receber e saudar cada um de vós, aqui reunidos em representação da Confederação das cooperativas italianas e da Federação italiana dos bancos de crédito cooperativo. Saúdo os respectivos Presidentes, Luigi Marino e Alessandro Azzi, enquanto lhes agradeço as palavras que me dirigiram em nome de todos. Saúdo inclusive o vosso Assistente eclesiástico, Mons. Adriano Vincenzi, os dirigentes e todos vós aqui congregados.

É conhecida a importância da cooperação católica na Itália, instituída depois da Encíclica do Papa Leão XIII Rerum novarum, cujo 120º aniversário de promulgação se celebra este ano. Ela favoreceu a presença fecunda dos católicos na sociedade italiana, mediante a promoção de entidades de cooperação e de crédito, o desenvolvimento das empresas sociais e muitas outras obras de interesse público, caracterizadas por formas de participação e de autogestão. Tal actividade sempre teve como finalidade a assistência material à população e a atenção constante às famílias, inspirando-se no Magistério da Igreja.

Aquilo que impeliu os membros a associar-se em organizações de tipo cooperativista, muitas vezes com a contribuição determinante dos sacerdotes, não foi só uma exigência de ordem económica, mas também o desejo de viver uma experiência de unidade e de solidariedade, que levasse à superação das diferenças económicas e dos conflitos sociais entre os diferentes grupos.

Precisamente no compromisso de compor de maneira harmoniosa as dimensões individual e comunitária reside o fulcro da experiência cooperativista. Ela é uma expressão concreta da complementaridade e da subsidiariedade que a Doutrina Social da Igreja promove desde sempre entre a pessoa e o Estado; é o equilíbrio entre a tutela dos direitos do indivíduo e a promoção do bem comum, no esforço de desenvolver uma economia local que corresponde cada vez mais às exigências da colectividade. De igual modo, também no plano ético, ela caracteriza-se por uma acentuada sensibilidade solidária, mas no respeito pela justa autonomia do indivíduo. Tal sensibilidade é importante porque favorece a valorização dos vínculos entre realidades cooperativas e território, para um relançamento da economia real, que tenha como motor o desenvolvimento autêntico da pessoa humana, e saiba conjugar resultados positivos com um agir sempre eticamente recto. Com efeito, não podemos esquecer, como eu recordava na Encíclica Caritas in veritate, que também nos campos da economia e das finanças, «recta intenção, transparência e busca de bons resultados são compatíveis entre si e jamais devem ser separados. Se o amor é inteligente, sabe encontrar também os modos para agir segundo uma previdente e justa conveniência, como significativamente indicam muitas experiências no campo do crédito cooperativo» (n. 65).

As vossas instituições beneméritas estão presentes desde há muito tempo no tecido social italiano e permanecem plenamente actuais; elas contêm em si ideais evangélicos e uma vitalidade que as tornam ainda hoje capazes de oferecer uma contribuição válida para a comunidade inteira, quer do ponto de vista social, quer no campo da evangelização. Num período de grandes mudanças, de persistente precariedade económica e de dificuldades no mundo do trabalho, a Igreja sente que deve anunciar a Mensagem de Cristo com novo vigor, com a força de humanização e a carga de esperança para o futuro que ela contém. E vós, amados amigos, deveis estar conscientes de que as cooperativas católicas têm um papel importante a desempenhar neste campo.

Gostaria de evocar muito brevemente alguns elementos onde a vossa obra é preciosa. Antes de tudo, sois chamados a oferecer a vossa contribuição, com a profissionalidade específica e o compromisso tenaz, a fim de que a economia e o mercado nunca sejam separados da solidariedade. Além disso, sois chamados a promover a cultura da vida e da família, e a favorecer a formação de novas famílias, que possam contar com um trabalho digno e respeitador da criação que Deus confiou aos nossos cuidados responsáveis. Sabei valorizar sempre o homem na sua integridade, para além de todas as diferenças de raça, de língua ou de credo religioso, prestando atenção às suas necessidades reais, mas inclusive à sua capacidade de iniciativa. Particularmente importante, depois, é recordar aquilo que caracteriza as cooperativas católicas: a inspiração cristã, que deve orientá-las costantemente. Portanto, permanecei fiéis ao Evangelho e ao ensinamento da Igreja: isto faz parte da vossa própria sensibilidade; tende presente e favorecei as várias iniciativas de experiência que se inspiram nos conteúdos do Magistério Social da Igreja, como no caso dos consórcios sociais de desenvolvimento, de experiências de microcrédito e de uma economia animada pela lógica da comunhão e da fraternidade.

No Evangelho, a exortação ao amor pelo próximo está estreitamente vinculado ao mandamento de amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (cf.
Mc 12,29-31). Por conseguinte, para o cristão, amar o próximo não é uma simples filantropia, mas constitui a expressão do amor de Deus e deve fundamentar-se num verdadeiro amor a Deus. Somente assim ele poderá levar quantos encontra, a experimentar a ternura providente do Pai celestial e a transmitir um raio de esperança inclusive nas situações obscuras. Também no mundo da economia e do trabalho, para viver e comunicar o amor e a solidariedade, é necessário beber na nascente divina através de uma relação intensa com Deus, uma escuta constante da sua Palavra e uma existência alimentada pela Eucaristia. Não esqueçais a importância de fazer crescer esta dimensão espiritual no vosso compromisso de resposta aos desafios e urgências sociais dos dias de hoje, para continuar a agir segundo a lógica da economia da gratuidade e da responsabilidade, em vista de promover um consumo responsável e sóbrio (cf. Caritas in veritate ).

Caros amigos, só ofereci algumas sugestões de reflexão, mas sobretudo gostaria de encorajar a vossa obra, tão válida e importante. A Virgem Maria vos proteja e assista. Para vós, aqui presentes, e para todos os associados da Confederação das cooperativas italianas e da Federação italiana dos bancos de crédito cooperativo, formulo os votos de que continueis com serenidade e bom êxito o vosso compromisso no campo social e, enquanto vos asseguro a minha lembrança na oração, abençoo-vos de coração, assim como os vossos entes queridos.




Discursos Bento XVI 1419