Bento XVI Homilias 11106


Sábado, 4 de Novembro de 2006: CONCELEBRAÇÃO EM SUFRÁGIO PELOS CARDEAIS E BISPOS FALECIDOS NO ÚLTIMO ANO

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Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
Prezados irmãos e irmãs

Nos dias passados, a solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos ajudaram-nos a meditar sobre a meta final da nossa peregrinação terrena. Neste clima espiritual, hoje encontramo-nos em redor do altar do Senhor para celebrar a Santa Missa em sufrágio pelos Cardeais e Bispos que Deus chamou para junto de si ao longo do último ano. Revemos os seus rostos, que nos são familiares, enquanto voltamos a ouvir os nomes dos saudosos Purpurados, que nos deixaram nos meses passados: Leo Scheffczyk, Pio Taofinu'u, Raul Francisco Primatesta, Angel Suquía Goicoechea, Johannes Willebrands, Louis-Albert Vachon, Dino Monduzzi e Mário Francesco Pompedda. Gostaria de mencionar também cada um dos Arcebispos e dos Bispos, mas basta-nos a certeza consoladora de que, como certo dia Jesus disse aos Apóstolos, os seus nomes "estão escritos no Céu" (cf.
Lc 10,20).

Recordar os nomes destes nossos irmãos na fé remete-nos para o sacramento do Baptismo, que marcou para cada um deles, assim como para cada cristão, a entrada na comunhão dos santos. No final da vida, a morte priva-nos de tudo aquilo que é terreno, mas não daquela Graça e daquele "cariz" sacramental, em virtude dos quais fomos associados de maneira indissolúvel ao mistério pascal de nosso Senhor e Salvador. Despojado de tudo, mas revestido de Cristo: assim o baptizado atravessa o limiar da morte e se apresenta diante do Deus justo e misericordioso. A fim de que a túnica branca, recebida no Baptismo, seja purificada de todas as impurezas e de qualquer mancha, a Comunidade dos fiéis oferece o Sacrifício eucarístico e outras preces de sufrágio por aqueles que a morte chamou a passar do tempo para a eternidade. Rezar pelos finados é um ritual nobre, que pressupõe a fé na ressurreição dos mortos, em conformidade com aquilo que a Sagrada Escritura e, de modo completo, o Evangelho nos revelaram.

Há pouco ouvimos a descrição da visão dos ossos ressequidos do profeta Ezequiel (cf. Ez 37,1-14). Sem dúvida, trata-se de uma das páginas bíblicas mais significativas e impressionantes que se presta a uma leitura dupla. No plano histórico, responde à necessidade de esperança dos Israelitas deportados para a Babilónia, desanimados e aflitos porque tiveram que enterrar os seus entes queridos numa terra estrangeira. Pelos lábios do profeta, o Senhor anuncia-lhe que os tirará deste pesadelo, fazendo-os regressar ao país de Israel. A sugestiva imagem dos ossos que se reanimam, pondo-se novamente em movimento, representa portanto este povo que volta a adquirir vigor de esperança para regressar à sua pátria.

Mas o longo e articulado oráculo de Ezequiel, que exalta o poder da palavra de Deus, diante do qual nada é impossível, assinala ao mesmo tempo um passo decisivo no caminho rumo à fé na ressurreição dos mortos. Esta fé encontrará o seu cumprimento no Novo Testamento. À luz do mistério pascal de Cristo, a visão dos ossos ressequidos adquire o valor de uma parábola universal sobre o género humano, peregrino no exílio terrestre e submetido ao jugo da morte. A Palavra divina, encarnada em Jesus, vem habitar no mundo, que sob muitos aspectos é um vale de desolação; ela torna-se plenamente solidária com os homens, transmitindo-lhes o alegre anúncio da vida eterna. Este anúncio de esperança é proclamado até às profundezas do além, enquanto se abre definitivamente o caminho que conduz à Terra prometida.

No trecho evangélico, pudemos ouvir de novo os primeiros versículos da grande oração de Jesus, recitada no capítulo 17 de São João. As palavras angustiantes do Senhor mostram que o fim derradeiro de toda a "obra" do Filho de Deus encarnado consiste em dar aos homens a vida eterna (cf. Jn 17,2). Jesus diz também em que consiste a vida eterna: "que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste" (Jn 17,3). Nesta expressão sente-se ressoar a voz orante da comunidade eclesial, consciente de que a revelação do "nome" de Deus, recebida pelo Senhor, equivale à dádiva da vida eterna. Conhecer Jesus significa conhecer o Pai, enquanto conhecer o Pai quer dizer entrar em comunhão concreta com a própria Origem da Vida, da Luz e do Amor.

Estimados irmãos e irmãs, hoje nós agradecemos de modo especial a Deus por ter dado a conhecer o seu nome a estes Cardeais e Bispos que nos deixaram. Eles pertencem ao número daqueles homens que em conformidade com a expressão do Evangelho de João o Pai confiou ao Filho "do meio do mundo" (cf. Jn 17,6). A cada um deles Cristo "transmitiu as palavras" do Pai, e eles "receberam-nas" e "acreditaram", depositando a sua confiança no Pai e no Filho (cf. Jn 17,8).

Rogou por eles (cf. Jn 17,9), confioou-os ao Pai (cf. Jn 17,15 Jn 17,17 Jn 17,20-21) e disse-lhes de modo particular: "Quero que onde Eu estiver, estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória" (Jn 17,24). A esta oração do Senhor, que é sacerdotal por antonomásia, deseja unir-se no dia de hoje a nossa prece de sufrágio. Cristo substanciou a sua invocação ao Pai na oblação de si na Cruz; nós oferecemos a nossa oração em união com o Sacrifício eucarístico, que daquela única oblação salvífica constitui a representação real e actual.

Queridos irmãos e irmãs, nesta fé viveram os venerados Cardeais e Bispos defuntos, que hoje de manhã estamos a recordar. Na Igreja cada um deles foi chamado a sentir como suas, e colocá-las em prática, as palavras do Apóstolo Paulo: "Para mim, viver é Cristo" (Ph 1,21), há pouco proclamadas na segunda leitura. Esta vocação, recebida no Baptismo, fortaleceu-se neles mediante o sacramento da Confirmação e as três Ordens sagradas, alimentando-se constantemente da participação na Eucaristia. Através deste itinerário sacramental, o seu "ser em Cristo" foi-se consolidando e aprofundando, de tal forma que o morrer não é mais uma perda uma vez que, evangelicamente, já tinham "perdido" tudo pelo Senhor e pelo Evangelho (cf. Mc 8,35) mas sim um "lucro": o de encontrar finalmente Jesus e, com Ele, a plenitude da vida. Roguemos ao Senhor para que conceda a estes nossos dilectos Irmãos Cardeais e Bispos defuntos, alcançarem a meta tão desejada. Peçamo-lo, alicerçando-nos na intercessão de Maria Santíssima e nas preces de muitas pessoas que os conheceram e estimaram as suas virtudes cristãs. Nesta Sagrada Eucaristia reunimos todas as acções de graça e todas as súplicas, para o bem das suas almas e de todos os finados, que confiamos à misericórdia divina.

Amém.





Terça-feira, 7 de Novembro de 2006: DURANTE A SANTA MISSA COM OS BISPOS DA SUÍÇA

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Queridos irmãos!

Os textos escutados a Leitura, o Salmo responsorial e o Evangelho têm um tema comum que poderia ser resumido na frase: Deus não falha. Ou mais exactamente: no início Deus falha sempre, deixa existir a liberdade do homem, e esta diz continuamente "não". Mas a fantasia de Deus, a força criadora do seu amor é maior do que o "não" humano. Com cada "não" humano é acrescentada uma nova dimensão do seu amor, e Ele encontra um caminho novo, maior, para realizar o seu sim ao homem, à sua história e à criação. No grande hino a Cristo da Carta aos Filipenses com o qual iniciámos, ouvimos antes de tudo uma alusão à história de Adão, o qual não estava satisfeito com a amizade de Deus; era demasiado pouco para ele, pretendendo ele mesmo ser um deus. Considerou a amizade uma dependência e considera-se um deus, como se ele pudesse existir por si só. Por isso, disse "não" para se tornar ele mesmo um deus, e precisamente desta forma se deixou cair da sua altura. Deus "falha" em Adão e assim aparentemente ao longo de toda a história. Mas Deus não falha, porque agora ele mesmo se torna homem e recomeça assim uma nova humanidade; enraíza o ser homem de modo irrevogável e desce aos abismos mais profundos do ser homem; abaixa-se até à cruz. Vence a soberba com a humildade e com a obediência da cruz.

E assim acontece agora o que Isaías, cap. 45, tinha profetizado. Na época em que Israel estava no exílio e tinha desaparecido do mapa, o profeta tinha dito que o mundo inteiro "todos os joelhos" se teriam dobrado diante deste Deus impotente. E a Carta aos Filipenses o confirma: agora isto aconteceu. Por meio da cruz de Cristo, Deus aproximou-se das nações, saiu de Israel e tornou-se o Deus do mundo. E agora o mundo dobra os joelhos diante de Jesus Cristo, o que também nós podemos experimentar hoje de maneira maravilhosa: em todos os continentes, até às cabanas mais humildes, o Crucificado está presente. O Deus que tinha "falhado", agora, através do seu amor, leva deveras o homem a dobrar os joelhos, e assim vence o mundo com o seu amor.

Como Salmo responsorial cantámos a segunda parte do Salmo da paixão 21/22. É o salmo do justo sofredor, antes de tudo de Israel sofredor e, diante de Deus mudo que o abandonou, grita: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Como pudeste esquecer-te de mim? Agora quase já não existo. Tu já não ages, já não falas... Por que me abandonaste?". Jesus identifica-se com Israel sofredor, com os justos sofredores de todos os tempos abandonados por Deus, e leva o grito do abandono de Deus, o sofrimento por ser esquecido leva-o até ao coração do próprio Deus, e assim transforma o mundo. A segunda parte do Salmo, a que recitámos, diz-nos o que disso deriva: os pobres comerão e serão saciados. É a eucaristia universal que provém da cruz.

Agora Deus sacia os homens em todo o mundo, os pobres que precisam dele. Dá-lhes a abundância de que precisam: doa Deus, doa-se a si mesmo. E depois o Salmo diz: "Hão-de lembrar-se do Senhor e voltar para Ele todos os confins da terra". Da cruz deriva a Igreja universal. Deus vai além do hebraísmo e abraça o mundo inteiro para o unir no banquete dos pobres.

E, por fim, a mensagem do Evangelho. De novo o falimento de Deus. Os primeiros a serem convidados recusam, não vêm. A sala de Deus permanece vazia, o banquete parece ter sido preparado em vão. É o que Jesus experimenta na fase final da sua actividade: os grupos oficiais, autorizados dizem "não" ao convite de Deus, que é Ele próprio. Não vêm. A sua mensagem, a sua chamada termina com o "não" dos homens. Mas aqui também: Deus não falha. A sala vazia torna-se uma oportunidade para chamar um número maior de pessoas. O amor de Deus, o convite de Deus alarga-se Lucas narra-nos isto em duas fases: primeiro, o convite é feito aos pobres, aos abandonados, aos que não estão convidados por ninguém na mesma cidade.

Desta forma Deus faz o que ouvimos no Evangelho de ontem (O Evangelho de hoje faz parte de um pequeno simpósio no âmbito de uma ceia em casa de um fariseu. Encontramos quatro textos: primeiro a cura do hidrópico, depois a palavra sobre os últimos lugares, a seguir o ensinamento de não convidar os amigos que retribuiriam tal gesto, mas os que verdadeiramente têm fome, mas que não podem retribuir o convite, e depois, precisamente, segue a nossa narração). Agora Deus faz o que disse ao fariseu: Ele convida os que nada possuem; que têm verdadeiramente fome, que não o podem convidar, que nada lhe podem dar. E depois acontece a segunda fase. Sai para fora da cidade, pelas estradas do campo; estão convidados os desabrigados. Pudemos supor que Lucas tenha compreendido estas duas fases no sentido de que os primeiros a entrar na sala foram os pobres de Israel e depois dado que não são suficientes, sendo o ambiente de Deus maior o convite alarga-se para fora da Cidade Santa, ao mundo dos gentios.

Os que não pertencem a Deus, que estão fora, agora são convidados para encher a sala. E Lucas que nos transmitiu este Evangelho, viu certamente nisto a representação antecipada rica de imagens dos acontecimentos que depois narra nos Actos dos Apóstolos, precisamente onde isto acontece: Paulo começa a sua missão sempre na sinagoga, pelos que foram convidados primeiro, e só quando estas pessoas recusaram e permaneceu apenas um pequeno grupo de pobres, ele vai em direcção aos pagãos. Assim o Evangelho, através deste percurso de crucifixão sempre novo, torna-se universal, abraça a totalidade, finalmente até Roma. Em Roma Paulo chama a si os chefes da sinagoga, anuncia-lhes o mistério de Jesus Cristo, o Reino de Deus na Sua pessoa. Mas estes se recusaram, e ele despede-se deles com estas palavras: Pois bem, visto que não ouvis, esta mensagem será anunciada aos pagãos e eles ouvi-la-ão. Com esta confiança conclui-se a mensagem de falimento: Eles ouvirão; a Igreja dos pagãos formar-se-á. Formou-se e continua a formar-se. Durante as visitas ad limina ouço falar de muitas coisas graves e difíceis, mas sempre precisamente do Terceiro Mundo ouço também isto: que os homens ouvem, que eles vêm, que também hoje a mensagem vai pelas estradas até aos confins da terra e que os homens afluem para a sala de Deus, para o seu banquete.

Portanto, deveríamos perguntar: Que significa tudo isto para nós? Antes de tudo significa uma certeza: Deus não falha. "Falha" continuamente, mas precisamente por isso não falha, porque disso surgem novas oportunidades de misericórdia maior, e a sua fantasia é inexaurível. Não falha porque encontra sempre novas formas para alcançar os homens e para abrir mais a sua grande casa, para que se encha totalmente. Não falha porque não se subtrai à perspectiva de solicitar os homens para que venham sentar-se à sua mesa, para receber o alimento dos pobres, no qual é oferecido o dom precioso, o próprio Deus. Deus não falha, nem sequer hoje. Mesmo se experimentamos tantos "não", disso podemos ter a certeza. De toda esta história de Deus, a partir de Adão, podemos concluir: Ele não falha. Também hoje encontrará novos caminhos para chamar os homens e quer-nos ter consigo como seus mensageiros e servos.

Precisamente no nosso tempo conhecemos muito bem o "dizer não" de quantos foram convidados primeiro. De facto, a cristandade ocidental, isto é, os novos "primeiros convidados", agora em grande parte se recusam, não têm tempo para se encontrar com o Senhor. Conhecemos as igrejas que se tornam cada vez mais vazias; conhecemos todas as formas nas quais se apresenta este "não, tenho coisas mais importantes para fazer". E assusta-nos e perturba-nos ser testemunhas deste desculpar-se e recusar-se dos primeiros convidados, que na realidade deveriam conhecer a grandeza do convite e deveriam sentir-se atraídos por ele. Como nos devemos comportar?

Em primeiro lugar devemos fazer a pergunta: por que acontece precisamente assim? Na sua parábola o Senhor menciona dois motivos: a posse e as relações humanas, que envolvem totalmente as pessoas, a ponto de pensarem que já não precisam de mais nada para encher totalmente o seu tempo e, por conseguinte, a sua existência interior. São Gregório Magno na sua exposição deste texto procurou analisar mais profundamente e perguntou: mas como é possível que um homem diga "não" ao que há de maior; que não tenha tempo para o que é mais importante; que feche em si mesmo a própria existência? E responde: Na realidade, nunca fizeram a experiência de Deus; nunca tiveram "gosto" de Deus; nunca experimentaram como é bom ser "atingidos" por Deus! Falta-lhes este "contacto" e com ele o "gosto de Deus". E só se nós, por assim dizer, o experimentarmos, só então vamos ao banquete. São Gregório cita o Salmo, do qual é tirada a hodierna Antífona da Comunhão: saboreai, provai e vereis; provai e então vereis e sereis iluminados!

A nossa tarefa é contribuir para que as pessoas possam provar, para que possam sentir de novo o gosto de Deus. Noutra homilia São Gregório Magno aprofundou ulteriormente a mesma questão, e interrogou-se: Como é possível que o homem nem sequer queira "provar" Deus? E responde: Quando o homem está totalmente absorvido pelo seu mundo, pelas coisas materiais, com aquilo que pode fazer, com tudo o que é realizável e que lhe confere sucesso, com tudo o que pode produzir ou compreender por si, a sua capacidade de percepção em relação a Deus enfraquece-se, os sentidos dirigidos a Deus debilitam-se, tornam-se incapazes de compreender e sentir. Ele já não percebe o Divino, porque os sentidos correspondentes nele tornaram-se áridos, não se desenvolveram mais. Quando usa demasiado as demais percepções, as empíricas, então pode acontecer que precisamente o sentido de Deus se esvaneça; que este sentido morra; e que o homem, como diz São Gregório, deixe de compreender o olhar de Deus, o ser olhado por Ele esta preciosidade que é o facto de que o seu olhar me alcance! Penso que São Gregório Magno tenha descrito exactamente a situação do nosso tempo de facto, era uma época muito semelhante à nossa.

E ainda surge a pergunta: como nos devemos comportar? Penso que a primeira coisa seja fazer o que o Senhor nos diz hoje na Primeira Leitura e que São Paulo nos grita em nome de Deus: "Tende os mesmos sentimentos de Jesus Cristo! Touto phroneite en hymin ho kai en Christo Iesou". Aprendei a pensar como Cristo pensou, aprendei a pensar com Ele! E este pensar não é só o do intelecto, mas também um pensar do coração. Nós aprendemos os sentimentos de Jesus Cristo quando aprendemos a pensar com Ele e portanto, quando aprendemos a pensar também no seu falimento e no seu superar o falimento, ao aumentar-se do seu amor no falimento.

Se considerarmos estes seus sentimentos, se começarmos a exercitar-nos a pensar como Ele e com Ele, então desperta em nós a alegria para com Deus, a confiança em que Ele é sempre o mais forte; sim, podemos dizer, desperta em nós o amor por Ele. Sentimos como é bom que Ele exista e que podemos conhecê-lo que o conhecemos no rosto de Jesus Cristo, que sofreu por nós. Penso que esta seja a primeira coisa: que nós próprios entremos num contacto vivo com Deus com o Senhor Jesus, o Deus vivo; que em nós se fortaleçam os sentidos dirigidos a Deus; que tenhamos em nós próprios a percepção da sua excelência. Isto anima também o nosso agir; porque também nós corremos um perigo: podemos fazer muito, quer no campo eclesiástico, tudo para Deus..., quer no que permanece totalmente junto de nós próprios, sem encontrar Deus. O compromisso substitui a fé, mas depois esvazia-se interiormente.

Considero, portanto, que deveríamos comprometer-nos sobretudo: na escuta do Senhor, na oração, na participação íntima dos sacramentos, em aprender os sentimentos de Deus no rosto e nos sofrimentos dos homens, para desta forma sermos contagiados pela sua alegria, pelo seu zelo, pelo seu amor e para ver com Ele, e partindo d'Ele, ver o mundo. Se conseguirmos fazer isto, então até entre os muitos "não" encontramos de novo os homens que O esperam e que com frequência talvez sejam excêntricos a parábola di-lo claramente mas que contudo são chamados a entrar na sua sala.

Mais uma vez, com outras palavras: trata-se da centralidade de Deus, e precisamente não de um deus qualquer, mas do Deus que tem o rosto de Jesus Cristo. Isto é importante hoje. Há tantos problemas que podem ser elencados, que devem ser resolvidos, mas que todos nunca são resolvidos se Deus não for colocado no centro, se Deus não se torna de novo visível no mundo, se não se torna determinante na nossa vida e se não entra também através de nós de maneira determinante no mundo. Neste aspecto, penso, hoje decide-se o destino do mundo nesta situação dramática: se Deus o Deus de Jesus Cristo existe e é reconhecido como tal, ou se desaparece. Nós preocupamo-nos por que esteja presente.

Que devemos fazer? Em última análise? Dirigimo-nos a Ele! Nós celebramos esta Missa votiva do Espírito Santo, invocando-O: "Lava quod est sordidum, riga quod est aridum, sana quod est saucium. Flecte quod est rigidum, fove quod est frigidum, rege quod est devium". Invoquemo-l'O para que irrigue, aqueça, endireite, para que nos preencha com a força da sua sagrada chama e renove a terra. Por isto o imploramos de coração neste momento, nestes dias.

Amém.






VIAGEM APOSTÓLICA À TURQUIA (28 DE NOVEMBRO - 1º DE DEZEMBRO DE 2006)


Éfeso, 29 de Novembro de 2006: CONCELEBRAÇÃO NO SANTUÁRIO DE "MERYEM ANA EVÍ"

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Queridos irmãos e irmãs

Nesta celebração eucarística, queremos louvar o Senhor pela maternidade divina de Maria, mistério que aqui em Éfeso, no Concílio ecuménico de 431, foi solenemente confessado e proclamado. A este lugar, um dos mais queridos da Comunidade cristã, vieram em peregrinação os meus venerados Predecessores, os Servos de Deus Paulo VI e João Paulo II, o qual esteve neste Santuário no dia 30 de Novembro de 1979, a pouco mais de um ano do início do seu Pontificado.

Todavia, há outro meu Predecessor, que neste país não esteve como Papa, mas sim como Representante pontifício, de Janeiro de 1935 a Dezembro de 1944, e cuja recordação ainda suscita muita devoção e simpatia: o Beato João XXIII, Ângelo Roncalli. Ele nutria grande estima e admiração pelo povo turco. A este propósito, apraz-me recordar uma expressão que se lê no seu Jornal da alma: "Gosto muito dos turcos, aprecio as qualidades naturais deste povo, que tem também o seu lugar preparado no caminho da civilização" (n. 741). Além disso, ele deixou à Igreja e ao mundo o dom de uma atitude espiritual de optimismo cristão, fundamentado numa fé profunda e numa união constante com Deus. Animado por este espírito, dirijo-me a esta nação e, de modo particular, ao "pequeno rebanho" de Cristo que vive aqui, para o encorajar e para lhe manifestar o carinho da Igreja inteira. É com grande afecto que saúdo todos vós aqui presentes, fiéis de Izmir, Mersin, Iskenderun e Antakia, e outros que vieram de diversas partes do mundo, assim como aqueles que não puderam participar desta celebração mas estão espiritualmente unidos a nós.

Saúdo, de modo particular, D. Ruggero Franceschini, Arcebispo de Izmir, D. Giuseppe Bernardini, Arcebispo Emérito de Izmir, D. Luigi Padovese, os sacerdotes e as religiosas. Obrigado pela vossa presença, pelo vosso testemunho e pelo vosso serviço à Igreja nesta terra abençoada onde, nos primórdios, a comunidade cristã conheceu grandes desenvolvimentos, como testemunham também as numerosas peregrinações que vêm à Turquia.

Ouvimos o trecho do Evangelho de João, que convida a contemplar o momento da Redenção quando Maria, unida ao Filho na oferta do Sacrifício, ampliou a sua maternidade a todos os homens e, de maneira particular, aos discípulos de Jesus. Testemunha privilegiada deste acontecimento, é o próprio autor do quarto Evangelho, João, o único dos Apóstolos que permaneceu no Gólgota juntamente com a Mãe de Jesus e com outras mulheres. A maternidade de Maria, iniciada com o fiat de Nazaré, cumpre-se aos pés da Cruz. Se é verdade como observa Santo Anselmo que "no momento do fiat Maria começou a trazer todos nós no seu seio", a vocação e a missão maternais da Virgem em relação aos crentes em Cristo teve início quando Jesus lhe disse: "Mulher, eis o teu filho!" (
Jn 19,26). Ao ver do alto da cruz a Mãe e ali ao seu lado o discípulo tão amado, Cristo moribundo reconheceu as primícias da nova Família que Ele tinha vindo formar no mundo, o germe da Igreja e da nova humanidade. Por isso, dirigiu-se a Maria, chamando-lhe "mulher", e não "mãe", termo este que, ao contrário, utilizou quando a confiou ao discípulo: "Eis a tua mãe!" (Jn 19,27). Foi assim que o Filho de Deus cumpriu a sua missão: tendo nascido da Virgem para compartilhar em tudo excepto no pecado a nossa condição humana, no momento de voltar para o Pai deixou no mundo o sacramento da unidade do género humano (cf. Constituição Lumen gentium LG 1): a Família "reunida pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (São Cipriano, De Orat. Dom. 23: PL 4, 536), cujo núcleo primordial é precisamente este vínculo novo entre a Mãe e o discípulo. Deste modo, a maternidade divina e a maternidade eclesial permanecem unidas de maneira indissolúvel.

A primeira Leitura apresentou aquilo que se pode definir como o "evangelho" do Apóstolo das nações: todos, mesmo os pagãos, são chamados a participar em Cristo no mistério da salvação. Em particular, o texto contém a expressão que escolhi como lema da minha viagem apostólica: "Ele, Cristo, é a nossa paz" (Ep 2,14). Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo afirma não só que Jesus Cristo nos trouxe a paz, mas que Ele mesmo "é" a nossa paz. E justifica tal afirmação, referindo-se ao mistério da Cruz: derramando "o seu sangue" Ele diz oferecendo em sacrifício a "sua carne", Jesus destruiu a inimizade "em si mesmo" e criou "em si próprio, de dois, um só homem novo" (cf. Ep 2,14-16). O Apóstolo explica em que sentido, verdadeiramente imprevisível, a paz messiânica se realizou na própria Pessoa de Cristo e no seu mistério salvífico. Explica-o escrevendo, enquanto se encontra prisioneiro, à comunidade cristã que habitava aqui em Éfeso: "Aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso" (Ep 1,1), como afirma na introdução da Carta. O Apóstolo deseja-lhes "graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (Ep 1,2). "Graça" é a força que transforma o homem e o mundo: "paz" é o fruto maduro de tal transformação. Cristo é a graça; Cristo é a paz. Pois bem, Paulo sabe que foi enviado para anunciar um "mistério", ou seja, um desígnio divino, que somente na plenitude dos tempos, em Cristo, se realizou e se revelou: isto é, que "os gentios são admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho" (Ep 3,6). No plano histórico-salvífico este "mistério" realiza-se na Igreja, que é o novo Povo em que, derrubando o antigo muro de separação, judeus e pagãos se encontram na unidade. Como Cristo, a Igreja não constitui apenas um instrumento da unidade, mas é também o seu sinal eficaz. E a Virgem Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, é a Mãe daquele mistério de unidade que Cristo e a Igreja, inseparavelmente, representam e edificam no mundo e ao longo da história.

O Apóstolo das nações observa que Cristo, "dos dois povos, fez um só" (Ep 2,14): esta afirmação refere-se, nomeadamente, à relação entre judeus e gentios em vista do mistério da salvação eterna; porém, trata-se de uma afirmação que pode também ampliar-se, no plano analógico, às relações entre povos e civilizações presentes no mundo. Cristo "veio para anunciar a paz" (cf. Ep 2,17) não só aos judeus e não-judeus, mas a todas as nações, porque todas provêm do mesmo Deus, único Criador e Senhor do universo. Confortados pela Palavra de Deus, daqui de Éfeso, cidade abençoada pela presença de Maria Santíssima sabemos que Ela é amada e venerada inclusive pelos muçulmanos elevemos ao Senhor uma especial oração pela paz entre os povos.

Desta parte da Península anatólica, ponte natural entre continentes, invocamos a paz e a reconciliação sobretudo para aqueles que habitam na Terra que chamamos "santa", e que é assim considerada tanto pelos cristãos, como pelos judeus e pelos muçulmanos: é a terra de Abraão, de Isaac e de Jacob, destinada a acolher um povo que se tornasse uma bênção para todos os povos (cf. Gn 12,1-3). Paz para a humanidade inteira! Possa cumprir-se depressa a profecia de Isaías: "Transformarão as suas espadas em relhas de arados, / e as suas lanças, em foices. / Uma nação não levantará a espada contra outra, / e não se adestrarão mais para a guerra" (Is 2,4). Desta paz universal, todos nós temos necessidade; desta paz a Igreja está chamada a ser não somente anunciadora profética mas, ainda mais, "sinal e instrumento". Precisamente nesta perspectiva de pacificação universal, torna-se mais profundo e intenso o anseio pela plena comunhão e concórdia entre todos os cristãos. Na celebração hodierna estão presentes fiéis católicos de diversos Ritos, e isto é um motivo de alegria e de louvor a Deus. Com efeito, estes Ritos constituem uma expressão daquela admirável variedade que adorna a Esposa de Cristo, contanto que saibam convergir na unidade e no testemunho comum. Para esta finalidade, deve ser exemplar a unidade entre os Ordinários na Conferência Episcopal, na comunhão e na partilha dos esforços pastorais.

A liturgia de hoje fez-nos repetir, como ladainha ao Salmo responsorial, o cântico de louvor que a Virgem de Nazaré proclamou no encontro com a idosa parente Isabel (cf. Lc 1,39). Ressoaram consoladoras nos nossos corações as palavras do Salmista: "O amor e a fidelidade vão encontrar-se. / Vão beijar-se a justiça e a paz" (Ps 84,11). Queridos irmãos e irmãs, com esta visita desejei fazer sentir o amor e a proximidade espiritual, não só meus mas também da Igreja universal, em relação à comunidade cristã que aqui, na Turquia, é realmente uma minoria e enfrenta todos os dias não poucos desafios e dificuldades. Com confiança sólida cantemos, juntamente com Maria, o "Magnificat" do louvor e da acção de graças a Deus, que vê a humildade da sua serva (cf. Lc 1,47-48). Cantemo-lo com alegria, também quando somos provados por dificuldades e perigos, como demonstra o bonito testemunho do sacerdote romano Pe. André Santoro, que me apraz recordar também nesta nossa celebração. Maria ensina-nos que a fonte da nossa alegria e o nosso único apoio firme é Cristo, e repete-nos as suas palavras: "Não temais!" (Mc 6,50). "Eu estarei sempre convosco" (Mt 28,20). E Tu, Mãe da Igreja, acompanha sempre o nosso caminho! Santa Maria, Mãe de Deus, ora por nós! Aziz Meryem Mesih'in Annesi bizim icin Dua et".

Amém!




Istambul, 1 de Dezembro de 2006: CONCELEBRAÇÃO NA CATEDRAL DO ESPÍRITO SANTO

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Queridos Irmãos e Irmãs!


No final da minha viagem pastoral na Turquia, sinto-me feliz por me encontrar com a comunidade católica de Istambul e por celebrar com ela a Eucaristia para dar graças ao Senhor por todos os seus dons. Desejo saudar antes de tudo o Patriarca de Constantinopla, Sua Santidade Bartolomeu I, assim como o Patriarca arménio, Sua Beatitude Mesrob II, venerados Irmãos, que quiseram unir-se a nós para esta celebração. Expresso-lhes a minha profunda gratidão por este gesto fraterno que honra toda a comunidade católica.

Queridos Irmãos e Filhos da Igreja católica, Bispos, presbíteros e diáconos, religiosos, religiosas e leigos, pertencentes às diferentes comunidades da cidade e aos diversos ritos da Igreja, saúdo-vos a todos com alegria, repetindo-vos as palavras de São Paulo aos Gálatas: "Graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo!" (
Ga 1,3).Desejo agradecer às Autoridades civis aqui presentes o seu caloroso acolhimento, em particular a todos os que permitiram que esta viagem pudesse realizar-se. Saúdo por fim os representantes das outras comunidades eclesiais e das outras religiões que quiseram estar presentes entre nós. Como não pensar nos diversos acontecimentos que forjaram precisamente aqui a nossa história comum? Ao mesmo tempo, sinto o dever de recordar de modo especial as numerosas testemunhas do Evangelho de Cristo que nos estimularam a trabalhar juntos pela unidade de todos os seus discípulos, na verdade e na caridade!

Nesta catedral do Espírito Santo, desejo dar graças a Deus por tudo o que realizou na história dos homens e invocar sobre todos os dons do Espírito de santidade. Como nos recordou agora São Paulo, o Espírito é a fonte permanente da nossa fé e da nossa unidade. Ele suscita em nós o verdadeiro conhecimento de Jesus e coloca nos nossos lábios as palavras da fé para que possamos reconhecer o Senhor. Jesus já o dissera a Pedro depois da Confissão da fé em Cesareia: "És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu" (Mt 16,17). Sim, somos felizes quando o Espírito Santo nos abre para a alegria de crer e quando nos faz entrar na grande família dos cristãos, a sua Igreja, tão numerosa na variedade dos dons, das funções e das actividades, e ao mesmo tempo já una, "porque é sempre o mesmo Deus que age em todos". São Paulo acrescenta: "Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para benefício de todos". Manifestar o Espírito, viver segundo o Espírito, não significa viver apenas para si, mas sim, aprender a conformar-se constantemente com o mesmo Cristo Jesus, tornando-se no seu seguimento servo dos próprios irmãos. Eis um ensinamento muito concreto para cada um de nós, Bispos, chamados pelo Senhor a guiar o seu povo tornando-nos servos seguindo os seus passos; isto é válido tanto para todos os ministros do Senhor como para todos os fiéis: recebendo o sacramento do Baptismo, todos fomos imergidos na morte e ressurreição do Senhor, "fomos dessedentados pelo único Espírito", e a vida de Cristo tornou-se a nossa, para que vivamos como ele, amemos os nossos irmãos como ele nos amou (cf. Jn 13,34).

Há vinte e seis anos, nesta mesma catedral, o meu predecessor o Servo de Deus João Paulo II desejava que o alvorecer do novo milénio pudesse "surgir sobre uma Igreja que reencontrou a sua plena unidade, para testemunhar melhor, entre as exacerbadas tensões do mundo, o amor transcendente de Deus, manifestado no Filho Jesus Cristo" (Homilia na catedral de Istambul, n. 5). Este desejo ainda não se realizou, mas o desejo do Papa é sempre o mesmo e estimula-nos, a todos nós discípulos de Cristo que progredimos com lentidão e com as nossas pobrezas pelo caminho que conduz à unidade, a agir incessantemente "em vista do bem de todos", pondo a perspectiva ecuménica no primeiro lugar das nossas preocupações eclesiais. Então viveremos realmente segundo o Espírito de Jesus, ao serviço do bem de todos.

Reunidos esta manhã nesta casa de oração consagrada ao Senhor, como não recordar a outra bonita imagem que São Paulo usa para falar da Igreja, a da construção cujas pedras estão todas unidas, estreitas umas às outras para formar um só edifício, e cuja pedra angular, na qual tudo se apoia, é Cristo? É ele a fonte da vida nova que nos é dada pelo Pai, no Espírito Santo. O Evangelho de São João acabou de o proclamar: "Rios de água viva jorrarão do seu seio". Esta água jorrante, esta água viva que Jesus prometeu à Samaritana, os profetas Zacarias e Ezequiel vêem-na brotar do lado do templo, para regenerar as águas do Mar morto: imagem maravilhosa da promessa de vida que Deus sempre fez ao seu povo e que Jesus veio realizar.

Num mundo em que os homens têm tanta dificuldade de dividir entre si os bens da terra e no qual começamos justamente a preocupar-nos pela escassez da água, este bem tão precioso para a vida do corpo, a Igreja descobre que possui a riqueza de um bem ainda maior. Corpo de Cristo, ela recebeu a tarefa de anunciar o seu Evangelho até aos confins da terra (cf. Mt 28,19), ou seja, de transmitir aos homens e às mulheres deste tempo uma boa nova que não ilumina apenas mas transforma a sua vida, chegando até a vencer a própria morte.

Esta Boa Nova não é apenas uma Palavra, mas é uma Pessoa, o próprio Cristo, ressuscitado, vivo! Com a graça dos Sacramentos, a água que saiu do lado trespassado na cruz tornou-se uma fonte jorrante, "rios de água viva", um dom que ninguém pode interromper e que dá vida. Como poderiam os cristãos conservar só para si o que receberam? Como poderiam confiscar este tesouro e esconder esta fonte? A missão da Igreja não consiste em defender poderes, nem em obter riquezas; a sua missão é oferecer Cristo, participar na Vida de Cristo, o bem mais precioso do homem que o próprio Deus nos deu no seu Filho.

Irmãos e Irmãs, as vossas comunidades conhecem o humilde caminho de acompanhamento de todos os dias com os que não partilham a nossa fé mas que declaram "ter a fé de Abraão e que adoram connosco o Deus uno e misericordioso" (Lumen gentium LG 16). Sabeis bem que a Igreja nada pretende impor a ninguém, e que deseja simplesmente poder viver livremente para revelar Aquele que ela não pode esconder, Jesus Cristo que nos amou até ao fim na Cruz e que nos deu o seu Espírito, presença viva de Deus no meio de nós e no mais profundo de nós mesmos. Sede sempre abertos ao Espírito de Cristo e, portanto, estai sempre atentos aos que têm sede de justiça, paz, dignidade, consideração por si mesmos e pelos seus irmãos. Vivei entre vós segundo a palavra do Senhor: "Por isso é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jn 13,35). Irmãos e Irmãs, neste momento confiemos o nosso desejo de servir o Senhor à Virgem Maria, Mãe de Deus e Serva do Senhor. Ela rezou no cenáculo juntamente com a comunidade primitiva, na expectativa do Pentecostes. Juntamente com ela rezamos agora a Cristo Senhor: envia o teu Espírito Santo, Senhor, sobre toda a Igreja; que ele habite em cada um dos seus membros e faça deles mensageiros do teu Evangelho!

Amém.



Bento XVI Homilias 11106