Discursos Bento XVI 21612

A UM GRUPO DE BISPOS DA COLÔMBIA

EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Sala do Consistório

Sexta-feira, 22 de Junho de 2012




Queridos Irmãos no Episcopado

1506 1. É com grande alegria que vos recebo, pastores da Igreja de Deus que peregrina na Colômbia, vindos a Roma para realizar a vossa visita ad limina e estreitar assim os vínculos que vos unem a esta Sé Apostólica. Como Sucessor de Pedro, esta é uma oportunidade preciosa para vos reiterar o meu afecto e a minha cordialidade. Agradeço as amáveis palavras que me foram dirigidas em nome de todos por D. Rubén Salazar Gómez, Arcebispo de Bogotá e Presidente da Conferência Episcopal, apresentando-me as realidades que vos preocupam, assim como os desafios que devem enfrentar as comunidades às quais presidis na fé.

2. Conheço os esforços que, tanto no seio da Conferência Episcopal como nas vossas Igrejas particulares, envidastes ao longo dos últimos anos para concretizar iniciativas destinadas a fomentar uma corrente de evangelização renovada e frutuosa. Com efeito, a Colômbia não está alheia às consequências do esquecimento de Deus. Enquanto antigamente era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente aceite na sua referência ao conteúdo da fé e tudo que nela se inspirava, hoje não parece ser assim em vastos sectores da sociedade, devido à crise de valores espirituais e morais que incide negativamente em muitos dos vossos compatriotas. É, pois, indispensável reavivar em todos os fiéis a sua consciência de ser discípulos e missionários de Cristo, alimentando as raízes da sua fé, fortalecendo a sua esperança e revigorando o seu testemunho de caridade.

3. A este propósito, vós plasmastes os vossos anseios evangelizadores no Plano Global da Conferência Episcopal (2012-2020), resultado de um discernimento consciente da hora que a Igreja na Colômbia está a viver. Desejo encorajar-vos a dar continuidade, com tenacidade e perseverança, às pautas nele traçadas. Fazei-o, consolidando a comunhão à qual os Bispos são chamados no exercício da sua missão, pois concordando orientações pastorais e unindo as vontades, o ministério que o Senhor vos confio alcançará frutos abundantes. Com esta mesma finalidade, aproveitai as reflexões da próxima Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, assim como as propostas do «Ano da fé» por mim convocado, para explicar com elas o seu magistério e irrigar beneficamente o seu apostolado.

4. O pluralismo religioso crescente constitui um elemento que exige uma consideração séria. A presença cada vez mais concreta de comunidades pentecostais e evangélicas, não só na Colômbia, mas também em muitas regiões da América Latina, não pode ser ignorada nem subestimada. Neste sentido, é evidente que o povo de Deus é chamado a purificar-se e a revitalizar a sua fé deixando-se orientar pelo Espírito Santo, para dar assim uma renovada pujança à sua obra pastoral, pois «muitas vezes, a pessoa sincera que sai da nossa Igreja não o faz pelo que os grupos “não católicos” crêem, mas fundamentalmente pelo modo como eles vivem; não por razões doutrinais, mas vivenciais; não por motivos estritamente dogmáticos, mas pastorais; não por problemas teológicos, mas metodológicos da nossa Igreja» (V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Documento conclusivo, n. 225). Trata-se, portanto, de sermos crentes melhores, mais piedosos, afáveis e acolhedores nas nossas paróquias e comunidades, para que ninguém se sinta distante nem excluído. É necessário fortalecer a catequese, prestando atenção especial aos jovens e aos adultos; preparar com esmero as homilias, assim como promover o ensino da doutrina católica nas escolas e nas universidades. E tudo isto para que se recupere nos baptizados o seu sentido de pertença à Igreja e se desperte neles a aspiração a compartilhar com o próximo a alegria de seguir Cristo e de ser membros do seu Corpo místico. É importante também referir-se à tradição eclesial, incrementar a espiritualidade mariana e promover a rica diversidade devocional. Facilitar um intercâmbio sereno e aberto com os demais cristãos, sem perder a própria identidade, pode ajudar igualmente a melhorar os relacionamentos com eles e a superar desconfianças e confrontos desnecessários.

5. Impelidos pelo zelo apostólico e visando o bem comum, não deixeis de reconhecer aquilo que entorpece o justo progresso da Colômbia, procurando ir ao encontro daqueles que se encontram privados da liberdade por causa da violência iníqua. A contemplação do Rosto dilacerado de Cristo na Cruz deve levar-vos também a duplicar as medidas e os programas destinados a acompanhar amorosamente e a assistir quantos se encontram na provação, de modo peculiar aqueles que são vítimas de desastres naturais, os mais pobres, os camponeses, os enfermos e os aflitos, multiplicando as iniciativas solidárias e as obras de amor e misericórdia em seu favor. Não vos esqueçais também de quantos devem emigrar da sua pátria, porque perderam o próprio trabalho ou têm dificuldade de o encontrar; daqueles que vêem espezinhados os seus direitos fundamentais e assim são forçados a deixar as próprias casas e abandonar as suas famílias, sob a ameaça da mão obscura do terror e da criminalidade; ou de quantos acabaram por cair na rede infausta do comércio das drogas e das armas. Desejo encorajar-vos a continuar ao longo deste caminho de serviço generoso e fraterno, que não é resultado de um cálculo humano, mas nasce do amor a Deus e ao próximo, fonte onde a Igreja encontra força para levar a cabo a sua tarefa, transmitindo aos demais o que ela mesma aprendeu do exemplo sublime do seu Fundador divino.

6. Queridos irmãos no episcopado, se a graça de Deus não o precede e sustém, o homem fracassa rapidamente nos seus propósitos de transformar o mundo. Por isso, para que a luz do alto continue a fecundar o compromisso profético e caritativo da Igreja na Colômbia, insisti em favorecer nos fiéis o encontro pessoal com Jesus Cristo, de modo que rezem incansavelmente, meditem com assiduidade a Palavra de Deus e participem de maneira mais digna e fervorosa nos sacramentos, celebrados em conformidade com as normas canónicas e os livros litúrgicos. Tudo isto será um instrumento propício para um itinerário idóneo de iniciação cristã, convidará todos à conversão e à santidade, e cooperará para a tão necessária renovação eclesial.

7. Ao concluir este encontro, peço ao Todo-Poderoso que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado em vós, e vós nele (cf.
2Th 1,12). Enquanto vos confio ao amparo de Nossa Senhora do Rosário de Chiquinquirá, Padroeira celestial da Colômbia, concedo-vos de bom grado a implorada Bênção apostólica, como penhor de paz e alegria em Jesus Cristo, Redentor do homem.



VISITA PASTORAL ÀS ÁREAS ATINGIDAS PELO TERREMOTO NA REGIÃO EMÍLIA ROMANHA (26 DE JUNHO DE 2012)

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San Marino di Carpi - Modena

Terça-feira, 26 de Junho de 2012




Amados irmãos e irmãs
Obrigado pelo vosso acolhimento!

Desde os primeiros dias do terramoto que vos atingiu, estive sempre próximo de vós mediante a oração e o interesse. Mas quando vi que a prova se tornou mais árdua, senti de modo cada vez mais forte a necessidade de vir pessoalmente ao meio de vós. E dou graças ao Senhor que mo concedeu!

Então, saúdo-vos com grande afecto a vós aqui reunidos, e abraço com a mente e com o coração todos os povoados, todas as populações que sofreram danos do sismo, de maneira especial as famílias e as comunidades que choram os seus defuntos: o Senhor os receba na sua paz. Teria desejado visitar todas as comunidades para me tornar presente de maneira pessoal e concreta, mas vós sabeis bem como isto seria difícil. No entanto, neste momento gostaria que todos, em cada cidade, sentissem como o coração do Papa está próximo do vosso coração para vos consolar, mas sobretudo para vos encorajar e apoiar. Saúdo o Senhor Ministro Representante do Governo, o Chefe do Departamento da Protecção Civil e o Deputado Vasco Errani, Presidente da Região da Emilia-Romagna, a quem agradeço as palavras que me dirigiu em nome das instituições e da comunidade civil. Além disso, desejo agradecer ao Cardeal Carlo Caffarra, Arcebispo de Bolonha, as suas afectuosas expressões que me dirigiu e das quais sobressai a força dos vossos corações, que não têm fendas mas estão profundamente unidos na fé e na esperança. Saúdo e agradeço aos Irmãos Bispos e Sacerdotes, aos representantes das diversas realidades religiosas e sociais, às Forças da Ordem e aos voluntários: é importante oferecer um testemunho concreto de solidariedade e de unidade.

Como eu vos dizia, senti a necessidade de vir, nem que fosse por um breve momento, ao meio de vós. Também quando estive em Milão, no início deste mês, para o Encontro Mundial das Famílias, gostaria de ter vindo visitar-vos, e o meu pensamento dirigia-se com frequência para vós. Com efeito, eu sabia que, além de padecerdes as consequências materiais, éreis postos à prova no espírito, pelo protrair-se dos tremores, também fortes; assim como pela perda de alguns edifícios simbólicos das vossas cidades, e entre eles de forma particular de numerosas igrejas. Aqui em Rovereto de Novi, na queda da igreja — que acabei de ver — perdeu a vida Pe. Ivan Martini. Prestando homenagem à sua memória, dirijo uma saudação particular a vós, amados sacerdotes, e a todos vós irmãos de hábito, que estais a demonstrar, como já aconteceu noutros momentos difíceis da história destas terras, o vosso amor generoso pelo povo de Deus.

Como sabeis, nós sacerdotes — mas inclusive os religiosos e muitos leigos — rezamos todos os dias com o chamado «Breviário», que contém a Liturgia das Horas, a oração da Igreja que ritma o dia. Oramos com os Salmos, segundo uma ordem que é a mesma para toda a Igreja católica, no mundo inteiro. Por que razão vos digo isto? Porque nestes dias me encontrei, recitando o Salmo 46, esta expressão: «Deus é o nosso refúgio e a nossa força, / ajuda permanente nos momentos de angústia. / Por isso, não temos medo, mesmo que a terra trema, / mesmo que vacilem os montes no fundo do mar» (
Ps 46,2-3). Quantas vezes li estas palavras? Vezes sem conta! E no entanto, em certos momentos como este elas impressionam fortemente, porque tocam no vivo, dão voz a uma experiência que agora estais a viver, e que todos aqueles que rezam compartilham. Mas — vede — estas palavras do Salmo não apenas me impressionam porque usam a imagem do tremor de terra, mas sobretudo pelo que afirmam em relação à nossa atitude interior diante da devastação da natureza: uma atitude de grande segurança, fundamentada na rocha estável e inabalável, que é Deus. Nós «não temos medo, mesmo que a terra trema» — reza o salmista — porque «Deus é o nosso refúgio e a nossa força», é «ajuda permanente nos momentos de angústia».

Caros irmãos e irmãs, estas palavras parecem estar em contraste com o medo que, inevitavelmente, se sente depois de uma experiência como aquela que vós vivestes. Uma reacção imediata, que pode imprimir-se mais profundamente, se o fenómeno se prolonga. Mas, na realidade, o Salmo não se refere a este tipo de medo, e a segurança que ele afirma não é a de super-homens que não são tocados pelos sentimentos normais. A segurança de que ele fala é a da fé pelo que, sim, pode haver medo e angústia — até Jesus chegou a experimentá-los — mas há principalmente a certeza de que Deus está comigo; como a criança que sabe que pode contar sempre com a sua mãe e com o seu pai, porque se sente amada e querida, aconteça o que lhe acontecer. Assim somos nós em relação a Deus: pequeninos, frágeis, mas seguros nas suas mãos, ou seja, confiados ao seu Amor que é sólido como uma rocha. Nós vemos este Amor em Cristo Crucificado, que constitui o sinal da dor e, ao mesmo tempo, do amor. É a revelação de Deus Amor, solidário para connosco, até à humilhação extrema.

Sobre esta rocha, com esta esperança firme, é possível construir, é possível reconstruir. Sobre as ruínas do pós-guerra — e não só materiais — a Itália foi reconstruída, sem dúvida graças também às ajudas recebidas, mas sobretudo graças à fé de muitas pessoas animadas por um espírito de solidariedade verdadeira, pela vontade de oferecer um futuro às famílias, um porvir de liberdade e de paz. Vós sois uma população que todos os italianos estimam, pela vossa humanidade e sociabilidade, pela vossa laboriosidade unida à jovialidade. Tudo isto é agora posto a uma prova dura por esta situação, mas ela não deve nem pode minar aquilo que vós sois como povo, a vossa história e a vossa cultura. Permanecei fiéis à vossa vocação de população fraterna e solidária, e enfrentareis cada situação com paciência e determinação, afastando as tentações que infelizmente estão vinculadas a estes momentos de debilidade e de necessidade.

A situação que estais a viver salientou um aspecto que gostaria que estivesse bem presente no vosso coração: não estais e não estareis sozinhos! Nestes dias, no meio de tanta destruição e dor, vós vistes e sentistes como muitas pessoas se mobilizaram para vos manifestar proximidade, solidariedade e afecto; e isto, através de numerosos sinais e ajudas concretas. A minha presença no meio de vós quer ser um destes sinais de amor e de esperança. Olhando para as vossas terras, senti uma profunda comoção diante de muitas feridas, mas vi também numerosas mãos que as querem curar juntamente convosco; vi que a vida recomeça, deseja recomeçar com força e coragem, e este é o sinal mais bonito e luminoso.

Deste lugar gostaria de lançar um apelo vigoroso às instituições, a cada cidadão, a fim de que seja, apesar das dificuldades deste momento, como o bom samaritano do Evangelho que não passa indiferente diante daquele que se encontra em necessidade mas, com amor, inclina-se sobre ele, socorre-o e permanece ao seu lado, assumindo até ao fundo as necessidades do próximo (cf. Lc 10,29-37). A Igreja está e estará próxima de vós com a sua oração e com a assistência concreta das suas organizações, de modo particular da Caritas, que se comprometerá inclusive na reconstrução do tecido comunitário das paróquias.

Estimados amigos, abençoo todos e cada um de vós, e levo-vos com grande carinho no meu coração!



À DELEGAÇÃO DO PATRIARCADO ECUMÉNICO DE CONSTANTINOPLA Quinta-feira, 28 de Junho de 2012

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«Enaltecei comigo o Senhor, exaltemos juntos o seu nome» (
Ps 34,4).



Amados irmãos em Cristo

Nesta circunstância jubilosa da Festa dos Santos Pedro e Paulo, Padroeiros da Cidade e da Igreja de Roma, estou particularmente feliz por vos receber com as palavras do Salmo que serão entoadas durante a solene liturgia eucarística em honra destes dois grandiosos Apóstolos e Mártires. Enquanto vos dou calorosas boas-vindas, peço-vos que comuniqueis a Sua Santidade Bartolomeu I e ao Santo Sínodo os meus sentimentos de afecto fraternal e de profunda gratidão por ter desejado enviar também este dignos representantes para participar na nossa celebração, e que transmitais uma saudação cordial ao clero, aos monges e a todos os fiéis do Patriarcado ecuménico.

A vossa presença aqui em Roma por ocasião da festa litúrgica dos santos Pedro e Paulo oferece-nos uma oportunidade particular de elevar o nosso cântico de louvor pelas maravilhas que a graça divina, da qual provém todo o bem, realizou na vida dos dois Apóstolos, tornando-os dignos de entrar triunfantes na glória celestial, depois de terem passado pelo lavacro regenerador do martírio. A festa dos Santos Pedro e Paulo oferece-nos, outrossim, a possibilidade de darmos juntos graças ao Senhor pelas obras extraordinárias que ele levou a cabo e continua a realizar através dos Apóstolos na vida da Igreja. A sua pregação, corroborada pelo testemunho do martírio, constitui o fundamento sólido e perene sobre o qual se edifica a Igreja, e é na fidelidade ao depósito da fé transmitido por eles, que nós encontramos as raízes da comunhão que já podemos experimentar entre nós.

Venerados Irmãos, neste nosso encontro hodierno, enquanto confiamos à intercessão dos gloriosos Apóstolos e Mártires Pedro e Paulo a nossa súplica a fim de que o Senhor, rico de misericórdia, nos conceda chegar depressa ao dia abençoado em que poderemos compartilhar a mesa eucarística, nós elevamos a nossa voz no hino a Deus pelo caminho de paz e de reconciliação que Ele nos permite percorrer juntos. Este ano celebra-se o quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio ecuménico Vaticano II, que será celebrado solenemente no dia 11 de Outubro próximo. E foi em concomitância com esse Concílio no qual, como bem sabeis, estavam presentes alguns representantes do Patriarcado ecuménico, na qualidade de Delegados fraternos, que teve início uma nova fase importante das relações entre as nossas Igrejas. Desejamos louvar ao Senhor antes de tudo pela redescoberta da fraternidade profunda que nos une, e inclusive pelo caminho percorrido ao longo destes anos pela Comissão mista internacional para o diálogo teológico entre a Igreja católica e a Igreja ortodoxa no seu conjunto, com os votos de que se possam alcançar progressos também nesta fase actual.

Evocando o aniversário do Concílio Vaticano II, parece-me necessário recordar a figura e a actividade do inesquecível Patriarca ecuménico Atenágoras, cujo quadragésimo aniversário da morte será celebrado daqui a alguns dias. O Patriarca Atenágonas, juntamente com o Beato Papa João XXIII e o Servo de Deus Papa Paulo VI, animados por esta paixão pela unidade da Igreja que brota da fé no Senhor Jesus, fizeram-se promotores de iniciativas intrépidas que abriram o caminho a relações renovadas entre o Patriarcado ecuménico e a Igreja católica. É para mim motivo de alegria particular constatar como Sua Santidade Bartolomeu i segue, com fidelidade renovada e criatividade fecunda, o caminho traçado pelos seus predecessores, os Patriarcas Atenágoras e Demétrio, distinguindo-se no plano internacional pela sua abertura ao diálogo entre os cristãos e pelo seu compromisso ao serviço do anúncio do Evangelho no mundo contemporâneo.

Eminência, estimados membros da delegação, enquanto vos agradeço mais uma vez a vossa presença aqui no meio de nós, asseguro-vos a minha oração a fim de que o Senhor dê saúde e força a Sua Santidade Bartolomeu I e conceda prosperidade e paz ao Patriarcado ecuménico. Que Deus Todo-Poderoso nos propicie o dom de uma comunhão cada vez mais completa segundo a sua vontade, a fim de que, «com um só coração e uma só alma» (Ac 4,32), possamos exaltar sempre o seu nome.

Obrigado, Eminência!





AOS ARCEBISPOS METROPOLITANOS QUE RECEBERAM O PÁLIO NA SOLENIDADE DOS SANTOS PEDRO E PAULO E AOS SEUS FAMILIARES Sábado, 30 de Junho de 2012

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Sala Paulo VI

Estimados irmãos e irmãs


Estou feliz por dirigir as minhas cordiais boas-vindas a todos vós, que acompanhastes a Roma, junto do túmulo dos Apóstolos, os Arcebispos Metropolitanos, aos quais tive a alegria de impor o Pálio ontem na Basílica Vaticana, durante uma solene celebração em que fizemos memória dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. Neste nosso encontro, desejamos como que prolongar o clima de profunda comunhão eclesial, que vivemos ontem. Com efeito, a presença dos Arcebispos Metropolitanos, provenientes de diversas regiões do mundo, manifesta de modo visível a universalidade da Igreja, chamada a fazer conhecer Cristo e anunciar o Evangelho em todos os continentes e nas várias línguas.

Saúdo com afecto cada um de vós, venerados e estimados Irmãos Arcebispos Metropolitanos, e convosco saúdo os familiares, os amigos e os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais, que vos acompanham durante estes dias tão significativos. Além disso, transmito uma saudação cordial também às vossas Dioceses de proveniência.

Dirijo o meu pensamento em primeiro lugar a vós, amados Pastores da Igreja que está na Itália! Saúdo D. Francesco Moraglia, Patriarca de Veneza; saúdo D. Filippo Santoro, Arcebispo de Taranto; Vossa Excelência tem uma grande família de amigos. Vê-se! saúdo D. Arrigo Miglio, Arcebispo de Cagliari. Asseguro-vos a minha oração constante, a fim de que possais desempenhar com alegria e fidelidade o vosso ministério episcopal, para edificar na caridade as vossas Comunidades diocesanas, sustentando-as no testemunho da fé e ajudando-as a pôr em evidência cada vez mais o renovado entusiasmo do encontro com a pessoa de Cristo.

É-me grato receber os peregrinos francófonos, vindos para acompanhar os novos Arcebispos Metropolitanos, sobre os quais tive a alegria de impor o Pálio. Saúdo muito cordialmente D. Luc Cyr, Arcebispo de Sherbrooke; D. Paul-André Durocher, Arcebispo de Gatineau; D. Pascal Wintzer, Arcebispo de Poitiers; e D. André Lépine, Arcebispo de Montreal. O Pálio é o símbolo da unidade que une os Pastores das Igrejas particulares ao Sucessor de Pedro, Bispo de Roma. Ele evoca também aos Pastores as suas responsabilidades de ser exemplares e zelosos, ricos de amor por todos, a fim de orientar o povo de Deus confiado à sua solicitude pastoral. Concedo do íntimo do coração, a todos os sacerdotes e aos fiéis das vossas Arquidioceses, a Bênção Apostólica, como penhor da paz e da alegria no Senhor!

Saúdo calorosamente os Arcebispos Metropolitanos de expressão anglófona, os quais ontem pude conferir o Pálio. Dos Estados Undos da América: D. Charles Chaput, Arcebispo de Filadélfia; D. William Skurla, Arcebispo de Pittsburgh; D. William Lori, Arcebispo de Baltimore; e D. Samuel Aquila, Arcebispo de Denver. De Papua Nova-Guiné: D. Francesco Panfilo, Arcebispo de Rabaul. Das Filipinas: D. Luis Tagle, Arcebispo de Manila; D. Jose Advincul, Arcebispo de Capiz; D. Romulo Valles, Arcebispo de Davao; e D. John Du, Arcebispo de Palo. De Bangladesh: D. Patrick D’Rozario, Arcebispo de Daca. Das Antilhas: D. Joseph Harris, Arcebispo de Port of Spain. Da Zâmbia: D. Ignatius Chama, Arcebispo de Kasama. Da Índia: D. John Moolachira, Arcebispo de Guwahati; e D. Thomas D’Souza, Arcebispo de Calcutá. Do Paquistão: D. Joseph Coutts, Arcebispo de Karachi. Da Austrália: D. Timothy Costelloe, Arcebispo de Perth; e D. Mark Coleridge, Arcebispo de Brisbane. Da Coreia: D. Andrew Yeom Soo Jung, Arcebispo de Seul. Da Nigéria: D. Alfred Martins, Arcebispo de Lagos.

Saúdo também os membros das suas famílias, os seus parentes e amigos, bem como os fiéis das respectivas Arquidioceses, que vieram a Roma para rezar com eles e para compartilhar a sua alegria.

É com alegria que dirijo a minha saudação à Delegação dos hóspedes provenientes de Berlim, assim como a todos os peregrinos da Alemanha, que acompanharam a Roma o Cardeal Rainer Maria Woelki para receber o Pálio. Sois todos bem-vindos! O Pálio torna particularmente visível a vigorosa união dos Arcebispos Metropolitanos e das respectivas Províncias Eclesiásticas com o Papa e a Sé de Pedro. Ao mesmo tempo, recorda a missão de procurar — como Cristo — a ovelha tresmalhada, de a carregar sobre os ombros, de fazê-la entrar de novo na grei e de cuidar dela. Neste sentido, o Pálio é sinal da solicitude e da responsabilidade que os Pastores têm em relação aos respectivos rebanhos. Precisamente em virtude desta responsabilidade comum, somos chamados a fomentar e a manter a unidade. Oferecei também vós a vossa contribuição, através das vossas orações, para promover e consolidar a união da Igreja. Concedo a minha Bênção a todos vós.

Por ocasião da imposição do Pálio, saúdo cordialmente o Arcebispo de Guadalajara, Cardeal Francisco Robles Ortega; o Arcebispo de Tucumán, D. Alfredo Horacio Zecca; o Arcebispo de Los Altos-Quetzaltenango-Totonicapán, D. Mario Alberto Molina Palma; o Arcebispo de Ayacucho ou Huamanga, D. Salvador Piñeiro García-Calderón; o Arcebispo de Ciudad Bolívar, D. Ulises Antonio Gutiérrez Reyes; e o Arcebispo de San Luis Potosí, D. Jesús Carlos Cabrero Romero; assim como quantos nos ajudam com a sua oração e afecto nesta circunstância significativa. Coloco todos sob a protecção fiel de São Pedro e de São Paulo, para que se incrementem cada vez mais a proximidade espiritual e os vínculos de comunhão das vossas Igrejas particulares com a Sé Apostólica, e para que assim se intensifique entre vós o anúncio do Evangelho. Deus vos abençoe!

Saúdo com alegria os Arcebispos brasileiros, Dom Wilson Jönck, de Florianópolis; Dom José Francisco Dias, de Niterói; Dom Esmeraldo de Farias, de Porto Velho; Dom Jaime Rocha, de Natal; Dom Airton dos Santos, de Campinas; Dom Jacinto de Brito Sobrinho, de Teresina; e Dom Paulo Peixoto, de Uberaba; e também o Arcebispo de Malanje, em Angola, Dom Benedito Roberto, que ontem receberam o Pálio, sinal de particular comunhão com o Sucessor de Pedro. Queridos Arcebispos, sede para o vosso Povo um sinal de Cristo, Bom Pastor, que guia as suas ovelhas. Dou também as boas-vindas aos sacerdotes, religiosos e fiéis que vos acompanham, pedindo-lhes que rezem pelos seus Arcebispos, para que não lhes faltem as forças no cumprimento da sua missão. E, como penhor de alegria e de paz no Senhor, concedo a vós aqui presentes e às vossas comunidades arquidiocesanas a minha Bênção Apostólica.

Saúdo cordialmente os Arcebispos Metropolitanos da Polónia, que ontem receberam o Pálio: D. Stanislaw Budzik, Arcebispo de Lublim; D. Wiktor Skworc, Arcebispo de Katowice; e D. Waclaw Depo, Arcebispo de Czestochowa. Juntamente com eles, saúdo os fiéis que compartilham a sua alegria, especialmente os representantes das respectivas Sedes metropolitanas, todos os seus entes queridos e quantos os assistem com a sua oração. O Pálio é sinal de unidade particular com Cristo e de comunhão com o Sucessor de Pedro. Tal comunhão permeie também os corações dos fiéis de cada Sede metropolitana. Confio estes bons votos a Deus nas minhas preces e abençoo todos vós de coração. Louvado seja Jesus Cristo!

Prezados irmãos e irmãs, levai às vossas comunidades a experiência de espiritualidade intensa e de autêntica unidade evangélica destes dias, a fim de que ela sensibilize o coração dos crentes e se reverbere em toda a sociedade, deixando vestígios de bem. A intercessão da Mãe celestial de Deus e dos Apóstolos Pedro e Paulo obtenham para o povo cristão a capacidade de fazer resplandecer no mundo, através do testemunho tenaz e límpido dos indivíduos, a palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou como dom. Com tais sentimentos, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.


DISCURSO POR OCASIÃO DA VISITA À CASA DOS VERBITAS EM NEMI Segunda-feira, 9 de Julho de 2012

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Estou verdadeiramente grato pela possibilidade de rever esta casa em Nemi, depois de 47 anos. Dela conservei uma óptima recordação, talvez a mais bonita de todo o Concílio. Eu morava no centro de Roma, no Colégio de Santa Maria da Alma, com todo o barulho: tudo isto também é bonito! Mas estar aqui no meio do verde, ter esta respiração da natureza e também este frescor do ar era já por si muito agradável. E depois havia a companhia de muitos grandes teólogos, com a função tão importante e entusiasmante de preparar um decreto sobre a missão.

Recordo antes de tudo o superior-geral daquela época, padre Schütte, que tinha sofrido na China, fora condenado e depois expulso. Era cheio de dinamismo missionário, da necessidade de dar um novo impulso ao espírito missionário. E também eu estava, e era um teólogo sem grande importância, muito jovem, convidado não sei por que motivo. Mas foi um grande dom para mim.

Além disso estava Fulton Sheen, que à noite nos fascinava com os seus discursos, padre Congar e os grandes missiólogos de Louvain. Para mim foi um enriquecimento espiritual, uma grande dádiva. Era um decreto sem grandes controvérsias. Havia uma controvérsia, que eu realmente nunca entendi, entre as escolas de Louvain e de Münster: a finalidade principal da missão é a implantatio Ecclesiae, ou o anúncio Evangelii? Mas tudo convergia num único dinamismo da necessidade de levar a luz da Palavra de Deus, a luz do amor de Deus ao mundo, e de dar uma renovada alegria a este anúncio.

E assim nasceu naqueles dias um decreto importante e positivo, aceite quase unanimemente por todos os padres conciliares, e para mim é também um complemento muito bom da Lumen gentium, porque aí encontramos uma eclesiologia trinitária, que começa sobretudo a partir da ideia clássica do bonum diffusivum sui, do bem que contem em si a necessidade de se comunicar, de se doar: não pode permanecer em si mesmo; a coisa boa, a própria bondade é essencialmente communicatio. E isto já se manifesta no mistério trinitário, no interior de Deus, e difunde-se na história da salvação e na nossa necessidade de dar aos outros o bem que recebemos.

Assim, com estas recordação pensei com frequência nestes dias em Nemi que para mim, como já disse, fazem parte essencial da experiência do Concílio. E estou feliz por ver que a vossa Sociedade floresce — o padre-geral falou de seis mil membros em muitos países, de numerosas nações. Claramente, o dinamismo missionário vive, e só vive se houver a alegria do Evangelho, se estivermos na experiência do bem que provém de Deus e que deve e quer comunicar-se. Obrigado por este vosso dinamismo. Desejo para este Capítulo todas as bênçãos do Senhor e muita inspiração: que as mesmas forças inspiradoras do Espírito Santo, que nestes dias nos acompanharam quase visivelmente, estejam de novo presentes no meio de vós e vos ajudem a encontrar o caminho para a vossa Companhia, assim como para a missão do Evangelho ad gentes para os próximos anos. Obrigado a todos vós, e que o Senhor vos abençoe. Orai por mim, como eu rezo por vós. Obrigado!



PALAVRAS NO FINAL DO CONCERTO DA WEST-EASTERN DIVAN ORCHESTRA Quarta-feira, 11 de Julho de 2012

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Pátio do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo


Senhor Presidente
Venerados Irmãos
Ilustres Senhores e Senhoras

Vivemos um momento de audição verdadeiramente intenso e enriquecedor para o nosso espírito, e por isto damos graças ao Senhor. Desejo manifestar o profundo reconhecimento ao Maestro Daniel Barenboim e a todos os músicos da West-Eastern Divan Orchestra, que durante a sua tournée de verão quiseram gentilmente oferecer-me este concerto, no dia da festa de São Bento. Assim, permitiram que eu me deleitasse pessoalmente com a sua excelente execução, e também que participasse de maneira mais directa no seu percurso, encetado há treze anos precisamente pelo Maestro, juntamente com o saudoso Senhor Edward Said. Saúdo cordialmente o Presidente da República Italiana, Deputado Giorgio Napolitano, a quem agradeço a sua presença e o facto de ter encorajado esta iniciativa. E dirijo o meu «obrigado» inclusive ao Cardeal Ravasi, que introduziu o concerto com três citações bonitas e significativas. A minha saudação também às outras Autoridades e a todos vós, estimados amigos.

Podeis imaginar como estou feliz por receber uma Orquestra como esta, que nasceu da convicção, aliás da experiência que a música une as pessoas, para além de toda a divisão; porque a música é harmonia entre as diferenças, como acontece cada vez que se começa um concerto, com o «rito» da afinação. Da multiplicidade dos timbres dos vários instrumentos pode surgir uma sinfonia. Mas isto não acontece magicamente, nem de maneira automática! Realiza-se apenas graças ao compromisso do Director e de cada um dos músicos. Um compromisso paciente, fadigoso, que exige tempo e sacrifícios, no esforço de se ouvir reciprocamente, evitando protagonismos excessivos e privilegiando o melhor resultado do conjunto.

Enquanto exprimo estes pensamentos, a mente dirige-se à grande sinfonia da paz entre os povos, que nunca está totalmente completada. A minha geração, assim como a dos pais do Maestro Barenboim, viveram as tragédias da segunda guerra mundial e do Shoah.E é muito significativo que o Maestro, depois de ter alcançado as metas mais excelsas para um músico, tenha desejado dar vida a um projecto como o da West-Eastern Divan Orchestra: um grupo no qual tocam juntos músicos israelitas, palestinos e de outros países árabes; pessoas de religião judaica, muçulmana e cristã. Os numerosos reconhecimentos que lhe foram conferidos, assim como a esta Orquestra, desmonstram a excelência profissional e, ao mesmo tempo, o compromisso ético e espiritual. Ouvimo-lo também esta tarde, escutando a Quinta e Sexta Sinfonias de Ludwig van Beethoven.

Inclusive nesta escolha, nesta aproximação, podemos ver um significado que é interessante para nós. Estas duas Sinfonias celebérrimas expressam dois aspectos da vida: o drama e a paz, a luta do homem contra o destino adverso e a imersão tranquilizadora do ambiente bucólico. Beethoven trabalhou nestas duas obras, de modo particular na sua completação, quase contemporaneamente. Com efeito, elas foram executadas pela primeira vez juntas — como esta tarde — no concerto memorável de 22 de Dezembro de 1808, em Viena. A mensagem que gostaria de tirar disto hoje é a seguinte: para alcançar a paz é necessário comprometer-se, deixando de lado a violência e as armas, comprometer-se na conversão pessoal a comunitária, no diálogo e na busca paciente dos entendimentos possíveis.

Por conseguinte, estamos gratos de coração ao Maestro Barenboim e à West-Eastern Divan Orchestra por nos ter dado testemunho deste caminho. A cada um de vós, transmito os bons votos e o pedido de continuar a semear no mundo a esperança da paz através da linguagem universal da música.

Obrigado e boa tarde a todos!





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