Discursos Bento XVI 30812

NO FINAL DA FESTA ORGANIZADA PELA ARQUIDIOCESE DE MUNIQUE E FRISINGA

30812
Castel Gandolfo
Sexta-feira, 3 de Agosto de 2012




Senhores Cardeais
Estimados Irmãos
Caros amigos

No final desta «tarde bávara» só vos posso dizer do profundo do coração um «Vergelt’s Gott» [«Deus vos recompense!»]. Foi bom estar aqui, no centro do Lácio, em Castel Gandolfo, e ao mesmo tempo na Baviera. Senti-me mesmo «dahoam» [em casa], e devo apresentar as minhas felicitações ao Cardeal Marx, porque já consegue pronunciar tão bem esta palavra!

Pudemos compreender que a cultura bávara é uma cultura alegre: não somos pessoas rudes, não se trata de um simples divertimento, mas é uma cultura alegre, impregnada de alegria; nasce de uma aceitação interior do mundo, de um sim interior à vida, que é um sim à alegria. Ela fundamenta-se no facto de que nós estamos em sintonia com a Criação, em harmonia com o próprio Criador e, por isso, sabemos que é é bom sermos pessoas. É verdade, devemos dizer que Deus, na Baviera, nos facilitou a tarefa: concedeu-nos um mundo tão bonito, uma terra tão linda que se torna fácil reconhecer que Deus é bom e ser feliz por isso. Porém, ao mesmo tempo, Ele fez também com que os homens que vivem nessa terra, precisamente a partir do seu «sim», soubessem conferir-lhe a sua plena beleza; foi somente através da cultura das pessoas, mediante a sua fé, a sua alegria, os cânticos, a música e a arte que se tornou tanto bela quanto o Criador sozinho não a queria fazer, mas só com a ajuda dos homens. Pois bem, alguém poderia dizer: mas será lícito sentir-se tão feliz, quando o mundo está tão cheio de sofrimentos, quando existe tanta obscuridade e tanto mal? É lícito sermos tão ousados e alegres? A resposta só pode ser: «Sim»! Porque dizendo «não» à alegria não prestamos serviço a ninguém, mas só tornamos o mundo mais obscuro. E quem não se ama a si mesmo nada pode oferecer ao próximo, não pode ser mensageiro de paz. Nós sabemos isto através da fé, e vemo-lo todos os dias: o mundo é bonito e Deus é bom. É pelo facto de se ter feito homem e ter vindo ao meio de nós, de sofrer e de viver connosco, que nós o sabemos definitiva e concretamente: sim, Deus é bom, e é bom sermos pessoas. Nós vivemos desta alegria e, começando a partir desta alegria, procuremos também transmitir a alegria aos outros, rejeitar o mal e ser servidores da paz e da reconciliação.

Pois bem, certamente deveria agradecer a todos, um por um, mas a memória de um idoso não é confiável. Portanto, prefiro evitá-lo. Contudo, gostaria de agradecer ao amado Cardeal Marx ter lançado a ideia desta «tarde», ter transportado a Baviera a Roma e ter-nos manifestado deste modo tangível a unidade interior da cultura cristã; gostaria de lhe agradecer o facto de ter reunido Bávaros da nossa arquidiocese, desde a Baixa Baviera até à «Oberland», desde a Região do «Rupertigau» até ao «Werdenfelser Land»; gostaria de agradecer à apresentadora, que nos falou tão bem em língua bávara: acho que não sou capaz de falar em bávaro e ser ao mesmo tempo tão «elevato», mas a senhora sabe-o. Agradeço a todos os grupos, aos tocadores de instrumentos de sopro... mas não quero começar. Vós bem o sabeis: tudo me emocionou profundamente e por tudo isto estou reconhecido e feliz. Sem dúvida, os «Gebirgsschützen», que só pude ouvir à distância, merecem um agradecimento particular, porque eu sou um «Schütze» honorário, embora outrora eu tenha sido um Schütze medíocre. Além disso, agradeço-te de maneira particular, dilecto Cardeal Wetter, o facto de teres vindo: tu és o meu directo sucessor na sede de São Corbiniano; e governaste durante um quarto de século a arquidiocese como um bom Pastor: obrigado pela sua presença!

Cardeal Bertello, obrigado pela sua presença. Espero que também o senhor tenha constatado que a Baviera é bonita e que a cultura da Baviera e bela.

Agora, como meu agradecimento, só vos posso conceder a minha Bênção, mas antes entoemos juntos o Angelus e, na medida em que o conhecemos, o «Andachtsjodler» [cântico religioso em forma de jodler]. De coração, «Vergelt’s Gott» [Deus vos recompense]!




NO FINAL DO CONCERTO OFERECIDO PELA CÁRITAS DE REGENSBURG Castel Gandolfo, Pátio do Palácio Apostólico

11812
Sábado, 11 de Agosto de 2012




Reverendos irmãos
Estimados amigos

No final deste bonito «panorama» de músicas vocais e instrumentais, só me resta dizer de todo o coração aos músicos um «Vergelt’s Gott» [o Senhor vos recompense!]. Com o programa desta tarde vós oferecestes-nos uma ideia sobre a multiplicidade da criatividade musical e da amplitude da harmonia. A música não é uma sucessão de sons; ela tem um ritmo e, ao mesmo tempo, é coesão e harmonia; possui uma sua estrutura e uma sua profundidade. Pudemos saborear tudo isto de maneira maravilhosa, não apenas nos corais polifónicos, executados com vigor expressivo pelo grupo vocal «Cantico», dirigido pela senhora Edeltraut Appl, mas inclusive nos estupendos trechos instrumentais, como pudemos ouvir na execução do senhor Thomas Beckmann, da sua esposa Kayoko e da senhora Kasahara. Todos nós ouvimos arrebatados — como deveis ter observado — o som intenso e a grande plenitude de timbres do violoncelo. A música é expressão do espírito, de um lugar interior da pessoa, criado para tudo aquilo que é verdadeiro, bom e belo. Não é por acaso que muitas vezes a música acompanha a nossa oração. Ela faz ecoar os nossos sentidos e o nosso espírito quando, na oração, encontramos Deus.

Hoje, na liturgia, fazemos memória de santa Clara. Num hino à santa, lê-se: «Da clareza de Deus recebeste a luz. Tu deste-lhe espaço, ela cresceu em ti e difundiu-se no mundo; ilumina os nossos corações». Esta é a atitude de base que sacia o homem, doando-lhe a paz: a abertura à claritas divina, a beleza resplandecente e a força vital do Criador que nos animam e nos fazem superar-nos a nós próprios. Hoje pudemos encontrar essa claritas de modo maravilhoso, e ela iluminou-nos. Assim, é somente uma consequência que os artistas, começando a partir da sua profunda experiência da beleza, se comprometam em prol do bem e por sua vez ofereçam ajuda e sustento aos necessitados. Eles transmitem o bem que receberam como dom, e isto propaga-se pelo mundo. É desta forma que o ser humano cresce, tornando-se transparente e consciente da presença e do agir do seu Criador. Sem dúvida, isto poderá ser-nos confirmado pelo senhor Beckmann e por todos aqueles que, juntamente com ele, se comprometeram na obra caritativa «Gemeinsam gegen die Kälte» [«Juntos contra o frio»]. Compreendemos que este «Gemeinsam gegen die Kälte» não corresponde a uma finalidade que é imposta a partir de fora, mas provém das profundezas, desta música que supera o frio dentro de nós e abre o nosso coração. Desejo-vos a todos do íntimo do coração o bom êxito no vosso compromisso musical durante muitos anos, juntamente com as abundantes Bênçãos de Deus para o vosso empenhamento caritativo. A todos os intérpretes, mais uma vez, obrigado de coração por esta tarde!

Coloquemos tudo sob a Bênção de Deus! Concedo a todos vós a minha Bênção apostólica.

Obrigado de coração e boa noite!





AOS BISPOS DE RECENTE NOMEAÇÃO QUE PARTICIPARAM DO CURSO DE FORMAÇÃO PROMOVIDO PELA CONGREGAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS 7 de Setembro de 2012

7912
Sala dos Suíços do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo
Sexta-feira, 7 de Setembro de 2012




Prezados Irmãos

É com prazer que me encontro convosco, congregados em Roma para o Curso de formação dos Bispos de recente nomeação, promovido pela Congregação para a Evangelização dos Povos. Saúdo cordialmente o Cardeal Fernando Filoni, Prefeito do Dicastério, e agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu também em vosso nome. Saúdo D. Savio Hon Tai-Fai e D. Protase Rugambwa, respectivamente Secretário e Secretário Adjunto da Congregação; a eles e a quantos contribuem para o bom êxito do Seminário, manifesto o meu reconhecimento. Este Curso realiza-se na iminência do Ano da fé, uma dádiva preciosa do Senhor à sua Igreja para ajudar os baptizados a tomar consciência da própria fé e a comunicá-la àqueles que ainda não experimentaram a beleza da mesma.

As comunidades das quais sois Pastores na África, Ásia, América Latina e Oceania, embora em situações diferentes, estão todas comprometidas na primeira evangelização e na obra de consolidação da fé. Vós sentis a suas alegrias e esperanças, assim como as suas feridas e preocupações, analogamente ao apóstolo Paulo, que escrevia: «Agora, alegro-me nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo-o na minha carne, pelo seu corpo que é a Igreja» (
Col 1,24). Depois, acrescentava: «Eis a finalidade do meu trabalho, a razão pela qual luto, corroborado pela sua força que age poderosamente em mim» (v. 29). No vosso coração seja sempre firme a confiança no Senhor; a Igreja é sua, e é Ele quem a guia tanto nos momentos difíceis como nas horas de tranquilidade. As vossas comunidades são quase todas de recente fundação, e apresentam os valores e as debilidades ligados à sua breve história. Mostram uma fé participada e jubilosa, vivaz e criativa, mas muitas vezes ainda não arraigada. Nelas, o entusiasmo e o zelo apostólico alternam-se com momentos de instabilidade e incoerência. Aqui e ali sobressaem atritos e abandonos. Todavia, são Igrejas que vão amadurecendo graças à obra pastoral, mas também ao dom daquela communio sanctorum, que permite uma verdadeira osmose de graça entre as Igrejas de antiga tradição e as de recente constituição, mas também, antes ainda, entre a Igreja celeste e a peregrina. Desde há algum tempo verifica-se uma diminuição de missionários, porém equilibrada pelo aumento do clero diocesano e religioso. O aumento numérico de sacerdotes autóctones produz também uma nova forma de cooperação missionária: algumas jovens Igrejas começaram a enviar os seus próprios presbíteros para Igrejas irmãs desprovidas de clero no mesmo país ou em nações do mesmo Continente; é uma comunhão que deve animar sempre a obra evangelizadora.

Por conseguinte, as jovens Igrejas constituem um sinal de esperança para o futuro da Igreja universal. Amados Irmãos, neste contexto encorajo-vos a não poupar força nem coragem para uma obra pastoral diligente, conscientes do dom de graça que foi semeado em vós na ordenação episcopal, e que se pode resumir nos tria munera de ensinar, santificar e governar. Tende a peito a missio ad gentes, a inculturação da fé, a formação dos candidatos ao sacerdócio, a cura do clero diocesano, dos religiosos, das religiosas e dos leigos. A Igreja nasce da missão e cresce com a missão. Fazei vosso o apelo interior do Apóstolo das nações: «Caritas Christi urget nos» (2Co 5,14). Uma inculturação correcta da fé vos ajude a encarnar o Evangelho nas culturas dos povos e a assumir aquilo que de bom vive nelas. Trata-se de um processo longo e difícil que não deve comprometer de modo algum a especificidade e a integridade da fé cristã (cf. Encíclica Redemptoris missio RMi 52). A missão exige Pastores configurados com Cristo pela santidade de vida, prudentes e clarividentes, prontos a consagrar-se generosamente pelo Evangelho e a levar ao coração a solicitude por todas as Igrejas.

Velai sobre a grei, prestando atenção específica aos sacerdotes. Orientai-os com o exemplo, vivei em comunhão com eles, estai dispostos a ouvi-los e a acolhê-los com benevolência paterna, valorizando as suas diversas capacidades. Comprometei-vos a assegurar aos vossos sacerdotes encontros de formação específicos e periódicos. Fazei com que a Eucaristia seja sempre o coração da sua existência e a razão de ser do seu ministério. Tende sobre o mundo contemporâneo um olhar de fé, para o compreender profundamente, e um coração generoso, pronto a entrar em comunhão com as mulheres e os homens do nosso tempo. Não falteis à vossa primeira responsabilidade de homens de Deus, chamados à oração e ao serviço da sua Palavra, em benefício do rebanho. Que se possa dizer também de vós aquilo que o sacerdote Onias afirmou a respeito do profeta Jeremias: «Eis o amigo dos seus irmãos, aquele que reza muito pelo povo e pela cidade santa» (2M 15,14). Mantende o olhar fixo em Jesus, o Pastor dos pastores: o mundo de hoje tem necessidade de pessoas que falem a Deus, para poderem falar de Deus. Só assim a Palavra de salvação dará fruto (cf. Discurso ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, 15 de Outubro de 2011).

Estimados Irmãos, as vossas Igrejas conhecem bem o contexto de instabilidade que incide de modo preocupante sobre a vida quotidiana das pessoas. As emergências nos campos da alimentação, da saúde e da educação interrogam as comunidades eclesiais e envolvem-nas de maneira directa. Aliás, a sua atenção e a sua obra são apreciadas e elogiadas. Às calamidades naturais acrescentam-se discriminações culturais e religiosas, intolerâncias e facciosidades, fruto de fundamentalismos que revelam visões antropológicas erradas e que levam a subestimar, se não a desconhecer, o direito à liberdade religiosa, o respeito pelos mais frágeis, sobretudo as crianças, as mulheres e os portadores de deficiência. Enfim, são graves os contrastes recorrentes entre as etnias e as castas, que causam violências injustificáveis. Dai confiança ao Evangelho, à sua força renovadora, à sua capacidade de despertar as consciências e de provocar a partir de dentro o resgate das pessoas e a criação de uma nova fraternidade. A difusão da Palavra do Senhor faz florescer o dom da reconciliação e favorece a unidade dos povos.

Na Mensagem para o próximo Dia Missionário Mundial, desejei recordar que a fé é uma dádiva a ser acolhida no coração e na vida, e pela qual dar sempre graças ao Senhor. Mas, a fé doada para ser compartilhada; um talento concedido, para dar fruto; uma luz à qual não é permitido que permaneça escondida. A fé é o dom mais importante que nos foi conferido na vida: não podemos conservá-lo unicamente para nós! «Todos... têm o direito de conhecer o valor de tal dom e de ter acesso a ele», diz João Paulo II na Encíclica Redemptoris missio (n. 11). Confirmando a prioridade da evangelização, o Servo de Deus Paulo VI afirmava: «Os homens poderão salvar-se até por outras vias, graças à misericórdia de Deus, ainda que nós não lhes anunciemos o Evangelho; quanto a nós, poder-nos-emos salvar se, por negligência, por medo ou por vergonha... descuidamos o seu anúncio?» (Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi EN 80). Esta interrogação ressoe no nosso coração como apelo a sentir a absoluta prioridade da tarefa da evangelização. Queridos Irmãos, confio-vos, assim como às vossas Comunidades, a Maria Santíssima, primeira discípula do Senhor e primeira evangelizadora, porque ofereceu ao mundo o Verbo de Deus feito carne. Ela, Estrela da evangelização, oriente sempre os vossos passos. Neste sentido, concedo-vos a Bênção Apostólica.



AOS PARTICIPANTES NO XXIII CONGRESSO MARIOLÓGICO MARIANO INTERNACIONAL 8 de Setembro de 2012

8912
Palácio Apostólico de Castel Gandolfo
Sábado, 8 de Setembro de 2012




Estimados irmãos e irmãs

É com grande alegria que recebo todos vós aqui em Castel Gandolfo, quase no encerramento do XXIII Congresso mariológico mariano internacional. Muito oportunamente, estais a meditar sobre o tema: «A mariologia a partir do Concílio Vaticano II. Recepção, balanço e perspectivas», dado que nos preparamos para recordar e celebrar o cinquentenário do início dessa grandiosa Assembleia, inaugura no dia 11 de Outubro de 1962.

Saúdo cordialmente o Cardeal Angelo Amato, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Presidente do Congresso; o Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura e do Conselho de Coordenação entre as Academias Pontifícias, assim como o Presidente e as Autoridades Académicas da Pontifícia Academia Mariana Internacional, à qual transmito o meu agradecimento pela organização deste importante acontecimento. Dirijo uma saudação aos Bispos, aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos Presidentes e aos representantes das Sociedades mariológicas presentes, aos estudiosos de mariologia e, por fim, a todos aqueles que participam nos trabalhos do Congresso.

O Beato João XXIII quis que o Concílio Ecuménico Vaticano II fosse inaugurado precisamente no dia 11 de Outubro, dia em que, no ano 431, o Concílio de Éfeso tinha proclamado Maria «Theotokos», Mãe de Deus (cf. AAS 54, 1962, 67-68). Em tal circunstância, ele começou o seu discurso com palavras significativas e programáticas: «Gaudet Mater Ecclesia quod, singulari Divinae providentiae munere, optatissimus iam dies illuxit, quo, auspice Deipara Virgine, cuius materna dignitas hodie festo ritu recolitur, hic ad Beati Petri sepulchrum Concilium Oecumenicum Vaticanum Secundum sollemniter initium capit» (tradução: «A Mãe Igreja alegra-se porque, por uma dádiva especial da Providência divina, já chegou o dia tão almejado em que, sob os auspícios da Virgem Mãe de Deus, cuja dignidade materna se celebra com alegria hoje, aqui junto do sepulcro de São Pedro, começa solenemente o Concílio Ecuménico Vaticano II»).

Como sabeis, no próximo mês de Outubro, para recordar aquele acontecimento extraordinário, será inaugurado solenemente o Ano de fé, que eu quis proclamar com o Motu proprio Porta fidei no qual, apresentando Maria como modelo exemplar de fé, invoco a sua especial salvaguarda e intercessão para o caminho da Igreja, confiando este tempo de graça a Ela, bem-aventurada porque acreditou. Prezados irmãos e irmãs, também hoje a Igreja se alegra na celebração litúrgica da Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria, a Toda Santa, aurora da nossa salvação.

O sentido desta festa mariana é-nos recordado por santo André de Creta, que viveu entre os séculos VII e VIII, numa sua famosa Homilia para a Festa da Natividade de Maria, em que este acontecimento é apresentado como um fragmento precioso do mosaico extraordinário que é o desígnio divino de salvação da humanidade: «O mistério de Deus que se torna homem e a divinização do homem assumido pelo Verbo representam a suma dos bens que Cristo nos concedeu, a revelação do plano divino e a derrota de toda a presunçosa auto-suficiência humana. A vinda de Deus entre os homens, como luz resplandecente e realidade divina clara e visível, é o dom grande e maravilhoso da salvação que nos é dispensado. A celebração hodierna honra a Natividade da Mãe de Deus. Porém, o verdadeiro significado e a finalidade deste acontecimento é a encarnação do Verbo. Com efeito, Maria nasce, é amamentada e educada para ser a Mãe do Rei dos séculos, de Deus» (Discurso I: PG 97,806-807). Este testemunho importante e antigo leva-nos ao cerne da temática sobre a qual meditar e que o Concílio Vaticano II quis ressaltar já no título do capítulo VIII da Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium: «A Bem-Aventurada Virgem Maria Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja». Trata-se do «nexus mysteriorum», da ligação íntima entre os mistérios da fé cristã, que o Concílio indicou como horizonte para compreender cada um dos elementos e as diferentes afirmações do património da fé católica.

No Concílio, no qual participei come perito quando era um jovem teólogo, tive a oportunidade de ver os vários modos de enfrentar as temáticas acerca da figura e do papel da Bem-Aventurada Virgem Maria na história da salvação. Na segunda sessão do Concílio, um numeroso grupo de Padres pediu que se falasse sobre Nossa Senhora no contexto da Constituição sobre a Igreja, enquanto outro grupo igualmente numeroso defendia a necessidade de um documento específico que salientasse adequadamente a dignidade, os privilégios e o papel singular de Maria na redenção levada a cabo por Cristo. Com a votação de 29 de Outubro de 1963 decidiu-se optar pela primeira proposta, e o esquema da Constituição dogmática sobre a Igreja foi enriquecido com o capítulo sobre a Mãe de Deus, no qual a figura de Maria, relida e reproposta a partir da Palavra de Deus, dos textos da tradição patrística e litúrgica, mas também da ampla reflexão teológica e espiritual, se manifesta em toda a sua beleza e singularidade, estreitamente inserida nos mistérios fundamentais da fé cristã. Maria, de quem é salientada antes de tudo a fé, faz parte do mistério de amor e de comunhão da Santíssima Trindade; a sua cooperação para o plano divino da salvação e para a única mediação de Cristo é claramente afirmada e posta no justo relevo, fazendo dela um modelo e um ponto de referência para a Igreja, que n’Ela se reconhece a si mesma, a própria vocação e a sua missão. Por fim a piedade popular, desde sempre orientada para Maria, é alimentada pelas referências bíblicas e patrísticas. Sem dúvida, o texto conciliar não tratou a fundo todas as problemáticas relativas à figura da Mãe de Deus, mas constitui o horizonte hermenêutico essencial para cada ulterior tipo de reflexão, quer de carácter teológico, quer de índole mais estreitamente espiritual e pastoral. Além disso, representa um precioso ponto de equilíbrio, sempre necessário, entre a racionalidade teológica e a afectividade dos crentes. A figura singular da Mãe de Deus deve ser compreendida e aprofundada a partir de perspectivas diferentes e complementares: enquanto permanece sempre válida e necessária a via veritatis, não podemos deixar de percorrer também a via pulchritudinis e a via amoris, para descobrir e contemplar ainda mais profundamente a fé cristalina e sólida de Maria, o seu amor a Deus e a sua esperança inabalável. Por isso, na Exortação Apostólica Verbum Domini, dirigi um convite a continuar na linha ditada pelo Concílio (cf. n. 27), convite que dirijo cordialmente também a vós, caros amigos e estudiosos. Oferecei a vossa competente contribuição de reflexão e de proposta pastoral, para fazer com que o iminente Ano da fé possa representar para todos os crentes em Cristo um verdadeiro momento de graça, no qual a fé de Maria nos preceda e nos acompanhe como farol luminoso e como modelo de plenitude e maturidade cristã, para o qual olhar com confiança e do qual haurir entusiasmo e júbilo para viver sempre com maior empenhamento e coerência a nossa vocação de filhos de Deus, irmãos em Cristo e membros vivos do seu Corpo, que é a Igreja.

Confio todos vós e o vosso compromisso de investigação à salvaguarda materna de Maria e concedo-vos uma especial Bênção Apostólica. Obrigado!



AO SEGUNDO GRUPO DE BISPOS DA COLÔMBIA POR OCASIÃO DA VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» 10 de Setembro de 2012

10912
Sala do Consistório do Palácio Pontifício de Castel Gandolfo

Segunda-feira, 10 de Setembro de 2012




Queridos Irmãos no Episcopado

1. É com grande alegria que vos dou as cordiais boas-vindas a este encontro de comunhão com o Bispo de Roma e Cabeça do Colégio Episcopal. Agradeço a D. Ricardo Tobón Restrepo, Arcebispo de Medellín, pelas amáveis palavras com as quais me transmitiu o afecto dos bispos, presbíteros, diáconos, comunidades religiosas e fiéis leigos colombianos, assim como pela apresentação das linhas principais da tarefa pastoral que está a ser realizada nas vossas Igrejas particulares, que peregrinam entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus» (cf. Lumen gentium
LG 8).

2. A vossa visita aos túmulos dos príncipes dos Apóstolos, como bem sabeis, constitui um momento importante para a vida das circunscrições eclesiásticas das quais sois pastores, porque consolida os vínculos de fé e comunhão que vos unem ao Sucessor de são Pedro e a todo corpo eclesial. Inclusive para o Papa esta é uma ocasião que se caracteriza por um significado profundo, pois nela se expressa a sua solicitude para com todas as Igrejas. Portanto, espero que a vossa presença em Roma seja uma oportunidade para revigorar a unidade efectiva e afectiva com o Pastor da Igreja universal e também entre vós mesmos, de modo que se intensifique em todos e se fortaleça positivamente entre os fiéis, aquele ideal que identificou a comunidade eclesial desde o seu início: «tinha um só coração e uma só alma» (Ac 4,32).

3. A história da Colômbia está marcada indelevelmente por uma profunda fé católica do seu povo, pelo seu amor à Eucaristia, pela sua devoção à Virgem Maria e pelo testemunho de caridade de ilustres pastores e leigos. O anúncio do Evangelho deu frutos entre vós mediante abundantes vocações ao sacerdócio e à vida consagrada, a disponibilidade demonstrada para a missão ad gentes, o surgimento de movimentos apostólicos, assim como a vitalidade pastoral das comunidades paroquiais. Paralelamente, vós mesmos constatastes também os efeitos devastadores de uma secularização crescente, que incide com força nos estilos de vida e transtorna a escala dos valores das pessoas, minando os próprios fundamentos da fé católica, do matrimónio, da família e da moral cristã. A este propósito, a defesa e a promoção incansável da instituição familiar continua a ser uma prioridade pastoral para vós. Por conseguinte, no meio das dificuldades, convido-vos a não desanimar nos vossos esforços e a continuar a proclamar a verdade integral da família, fundada no matrimónio como Igreja doméstica e santuário da vida (cf. Discurso por ocasião da conclusão do v Encontro Mundial das Famílias, Valência 8 de Julho de 2006).

4. O Plano Global (2012-2020) da Conferência Episcopal da Colômbia indica como objectivo geral «promover processos de nova evangelização que formem discípulos missionários, animem a comunhão eclesial e incidam na sociedade a partir dos valores do Evangelho» (cf. n. 5.1). Acompanho com a minha oração este propósito, que já tive a oportunidade de comentar durante a inauguração da v Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida, pedindo a Deus que, ao realizá-lo, os ministros da Igreja não se cansem de se identificarem com os sentimentos de Cristo, Bom Pastor, indo ao encontro de todos com coração misericordioso, para lhes oferecer a luz da sua Palavra. Desta forma, o dinamismo da renovação interior levará os vossos concidadãos a revigorar o seu amor ao Senhor, fonte a partir da qual podem surgir caminhos capazes de suscitar uma esperança firme para viver de maneira responsável e jubilosa a fé e irradiá-la em toda a parte (cf. Discurso Inaugural, 2).

5. Com espírito paterno, dedicai a parte melhor dos vossos ministérios aos presbíteros, diáconos e religiosos que estão confiados aos vossos cuidados. Prestai-lhes a atenção da qual a sua vida espiritual, intelectual e material necessitam, a fim de que possam viver fiel e fecundamente o próprio ministério. E se for necessário, não eviteis a correcção e a orientação oportuna, esclarecedora e caritativa. Mas, em primeiro lugar, sede para eles modelos de vida e de dedicação à missão recebida de Cristo. E não deixeis de privilegiar o cuidado das vocações e a formação inicial dos candidatos às ordens sagradas ou à vida religiosa, ajudando-os a discernir a autenticidade da chamada de Deus, para que possam responder-lhe com generosidade e rectidão de intenção. A este respeito, será oportuno que, seguindo as orientações do Magistério, favoreçais a revisão dos conteúdos e dos métodos da sua formação, com o desejo de que ela responda aos desafios contemporâneos, assim como às necessidades e às urgências do Povo de Deus. Ao mesmo tempo, é importante a promoção de uma pastoral juvenil correcta, através da qual as novas gerações possam compreender com nitidez que Cristo as procura e deseja oferecer-lhes a sua amizade (cf. Jn 15,13-15). Ele deu a sua vida para que tenham vida abundante, para que os seus corações não se deixem arrastar pela mediocridade ou propostas que acabam por deixar vazio e tristeza. Ele deseja ajudar quantos têm o futuro pela frente a realizar as suas mais nobres aspirações, para que sejam uma linfa fecunda para a sociedade, de modo que esta possa por conseguinte progredir pelas sendas da salvaguarda do meio ambiente, do progresso ordenado e da solidariedade real.

6. Apesar de alguns sinais encorajadores, a violência continua a causar dor, solidão, morte e injustiça a muitos irmãos na Colômbia. Ao reconhecer e agradecer pela missão pastoral que, muitas vezes em lugares cheios de dificuldades e perigos, se está a realizar a favor de numerosas pessoas que sofrem injustamente na vossa amada Nação, encorajo-vos a continuar a contribuir para a tutela da vida humana e do cultivo da paz, inspirando-vos no exemplo do nosso senhor Salvador e suplicando humildemente a sua graça. Semeai o Evangelho e recolhei a reconciliação, sabendo que, onde está Cristo, a concórdia triunfa, o ódio cede o lugar ao perdão e a rivalidade transforma-se em fraternidade.

7. Queridos irmãos no Episcopado, ao garantir-vos mais uma vez a minha proximidade e benevolência, confio cada um de vós à protecção materna de Maria Santíssima, no seu título de Nossa Senhor do Rosário de Chiquinquirá. Que Ela interceda pelos ministros ordenados, os religiosos, as religiosas, os seminaristas, os catequistas e os fiéis de cada uma das vossas arquidioceses e dioceses, aumentando em todos o desejo de amar e servir o seu filho Divino. A todos concedo de coração uma afectuosa Bênção Apostólica, como penhor de abundantes favores celestiais.



VIAGEM APOSTÓLICA AO LÍBANO

(14-16 DE SETEMBRO DE 2012)


ENTREVISTA AOS JORNALISTAS DURANTE O VOO PARA O LÍBANO Sexta-feira, 14 de Setembro de 2012

14912

Padre Lombardi: Santidade, bem-vindo e obrigado por estar aqui connosco. Os jornalistas incorporados no séquito são pouco mais de 50, de diferentes línguas e nacionalidades; entretanto há muitas centenas, talvez milhares, que nos aguardam no Líbano, e todos estão muito atentos a esta viagem, cientes da sua delicadeza e importância. Agradecemos-lhe por estar connosco para responder às perguntas sérias que os próprios jornalistas formularam nos dias anteriores. As duas primeiras perguntas serão feitas em francês. O Santo Padre responde em francês enquanto língua mais ou menos oficial da viagem, e as restantes três em italiano.

Santo Padre, decorrem nestes dias aniversários terríveis, como o do 11 de Setembro ou o do massacre de Sabra e Chatila; perto das fronteiras do Líbano, desenrola-se uma guerra civil sangrenta, e vemos que o risco da violência perdura também noutros países. Santo Padre, com que sentimentos vive esta viagem? Sentiu-se tentado a desistir dela por causa da insegurança, ou houve alguém que lhe sugerisse desistir?

Santo Padre: Queridos amigos, estou muito feliz e agradecido por esta oportunidade de falar convosco. Posso dizer que nunca ninguém me aconselhou a desistir desta viagem e, da minha parte, nunca contemplei esta hipótese, porque sei que, se a situação se torna mais complicada, mais necessário é oferecer este sinal de fraternidade, encorajamento e solidariedade. Tal é o sentido da minha viagem: convidar ao diálogo, convidar à paz contra a violência, caminhar juntos para encontrar a solução dos problemas. Assim, os meus sentimentos nesta viagem são sobretudo sentimentos de gratidão pela possibilidade de ir neste momento a este grande país: um país que é – como disse o Papa João Paulo II – uma mensagem multiforme do encontro e da origem, nesta Região, das três religiões que fazem referência a Abraão. Sinto-me agradecido sobretudo ao Senhor, que me deu esta oportunidade; sinto-me agradecido a todas as Instituições e às pessoas que colaboraram e continuam a fazê-lo para a tornar possível. E sinto-me agradecido a tantas pessoas que me acompanham com a oração. Contando com esta protecção da oração e da colaboração, sinto-me feliz e tenho a certeza de que podemos servir realmente o homem e a paz.

Padre Lombardi: Obrigado, Santo Padre. Muitos católicos manifestam a própria inquietação face ao crescimento dos fundamentalismos em diferentes regiões do mundo, e às agressões de que são vítimas numerosos cristãos. Neste contexto difícil e muitas vezes sangrento, como pode a Igreja responder ao imperativo do diálogo com o Islão, em que Vossa Santidade várias vezes insistiu?

Santo Padre: O fundamentalismo é sempre uma falsificação da religião. Vai contra a essência da religião, que quer reconciliar e criar a paz de Deus no mundo. Assim, o dever da Igreja e das religiões é o de se purificarem: é sempre necessária à religião uma alta purificação destas tentações. É nosso dever iluminar e purificar as consciências e tornar claro que cada homem é uma imagem de Deus; e nós devemos respeitar no outro não apenas a sua alteridade, mas, na alteridade, também a real essência comum de ser imagem de Deus, e tratar o outro como uma imagem de Deus. Portanto, a mensagem fundamental da religião deve ser contra a violência, que é uma falsificação dela, como no caso do fundamentalismo, e deve visar a educação, o esclarecimento e a purificação das consciências, para torná-las capazes de se abrir ao diálogo, à reconciliação e à paz.

Padre Lombardi. No contexto da onda de desejo de democracia que se pôs em movimento em muitos países do Médio Oriente com a chamada «primavera árabe», dada a realidade social na maioria destes países, onde os cristãos estão em minoria, não há o risco de uma tensão inevitável entre o domínio da maioria e a sobrevivência do cristianismo?

Santo Padre: Diria que a primavera árabe, em si, é uma coisa positiva: é um desejo de maior democracia, maior liberdade, maior cooperação, duma identidade árabe renovada. E este grito da liberdade, que vem duma juventude mais formada cultural e profissionalmente, que deseja maior participação na vida política, na vida social, é um progresso, uma coisa muito positiva e por isso mesmo louvada também por nós, cristãos. Naturalmente, da história das revoluções, sabemos que o grito da liberdade, tão importante e positivo, corre sempre o perigo de esquecer um aspecto, uma dimensão fundamental da liberdade, ou seja, a tolerância do outro: o facto de que a liberdade humana é sempre uma liberdade compartilhada, que pode crescer apenas na partilha, na solidariedade, no viver juntos, com determinadas regras. Este é o perigo de sempre; e o mesmo perigo existe neste caso. Todos devemos fazer o possível para que o conceito de liberdade, o desejo de liberdade siga na justa direcção, não esqueça a tolerância, o conjunto, a reconciliação, como parte fundamental da liberdade. Assim também a identidade árabe renovada implica – penso eu – a renovação do conjunto secular e milenar de cristãos e árabes, que precisamente juntos, na tolerância de maioria e minoria, construíram estas terras e que não podem deixar de viver juntos. Por isso, penso que é importante ver o elemento positivo nestes movimentos e fazer a nossa parte para que a liberdade seja concebida de modo justo e corresponda a um maior diálogo e não ao domínio de um contra os outros.

Padre Lombardi: Santo Padre, na Síria, tal como há algum tempo atrás no Iraque, muitos cristãos sentem-se compelidos a deixar, com relutância, o próprio país. Que pensa a Igreja Católica fazer ou dizer para ajudar nesta situação, para impedir o desaparecimento dos cristãos na Síria e noutros países do Médio Oriente?

Santo Padre: Antes de mais nada, devo dizer que não escapam apenas cristãos, mas também muçulmanos. Naturalmente é grande o perigo de que os cristãos se afastem e percam a sua presença nestas terras, e devemos fazer o possível para ajudá-los a permanecerem. A ajuda essencial seria a cessação da guerra, da violência: esta gera a fuga. Portanto o primeiro acto é fazer todo o possível para que acabe a violência e se crie realmente uma possibilidade a fim de permanecerem juntos também no futuro. Que podemos fazer contra a guerra? Naturalmente – digamos – difundir continuamente a mensagem da paz, esclarecer que a violência não resolve jamais um problema sequer e revigorar as forças da paz. Nisto é importante o trabalho dos jornalistas, que muito podem ajudar para mostrar como a violência destrói: não constrói, nem é útil para ninguém. Depois, diria talvez gestos do cristianismo, jornadas de oração pelo Médio Oriente, pelos cristãos e os muçulmanos, indicar possibilidades de diálogo e soluções. Diria também que deve, finalmente, cessar a importação de armas: é que, sem a importação de armas, a guerra não poderia continuar. Em vez de importar as armas, que é um pecado grave, deveríamos importar ideias de paz, criatividade, encontrar soluções para aceitar cada um na sua alteridade. Devemos ainda tornar visível no mundo o respeito das religiões, de umas pelas outras, o respeito do homem como criatura de Deus, o amor do próximo como ponto fundamental para todas as religiões. Neste sentido, com todos os gestos possíveis, também com ajudas materiais, colaborar para que cesse a guerra, a violência, e todos possam reconstruir o país.

Padre Lombardi: O Santo Padre é portador duma Exortação apostólica dirigida a todos os cristãos do Médio Oriente. Hoje esta é uma população que sofre. Além da oração e dos sentimentos de solidariedade, Vossa Santidade vê passos concretos que possam ser dados pelas Igrejas e os católicos do Ocidente, sobretudo na Europa e na América, para apoiar os irmãos do Médio Oriente?

Santo Padre: Diria que devemos influir sobre a opinião política e os políticos para que se empenhem realmente, com todas as forças, com todas as possibilidades, com verdadeira criatividade, em prol da paz, contra a violência. Ninguém deveria esperar vantagens da violência; todos devem contribuir para o seu fim. Neste sentido, é muito necessário, da nossa parte, um trabalho de advertência, educação, purificação. Além disso, as nossas organizações caritativas deveriam fazer todo o possível, incluindo ajudar de forma material. Temos organizações como os Cavaleiros do Santo Sepulcro cuja própria acção se limita à Terra Santa; ora tais organizações poderiam ajudar material, política e humanamente também nestes países. Diria, uma vez mais, gestos visíveis de solidariedade, jornadas de oração pública… tais coisas podem chamar a atenção da opinião pública, ser factores reais. Estamos convencidos de que a oração surte efeito; se for feita com grande confiança e fé, terá o seu efeito.




Discursos Bento XVI 30812