Discursos Bento XVI 14922

CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS Aeroporto Internacional Rafiq Hariri, Beirute Sexta-feira, 14 de Setembro de 2012

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Senhor Presidente da República,
Senhores Presidentes do Parlamento e do Conselho de Ministros,
Amadas Beatitudes, Membros do Corpo Diplomático,
Ilustres Autoridades civis e religiosas presentes,
Queridos amigos!

Tenho a alegria, Senhor Presidente, de responder ao amável convite que me fez para visitar o vosso país, e também ao convite recebido dos Patriarcas e Bispos católicos do Líbano. Este duplo convite bastaria, se fosse necessário, para manifestar a dupla finalidade da minha visita ao vosso país. Esta sublinha as excelentes relações que sempre existiram entre o Líbano e a Santa Sé, e pretende contribuir para as reforçar. Com esta visita, desejo também retribuir as que o Senhor Presidente me fez ao Vaticano em Novembro de 2008 e, mais recentemente, em Fevereiro de 2011, seguida nove meses mais tarde pela visita do Senhor Primeiro-Ministro.

Foi durante o segundo dos nossos encontros que a majestosa estátua de São Maron foi abençoada. A sua presença silenciosa numa parede lateral da Basílica de São Pedro lembra, de forma permanente, o Líbano no próprio lugar onde foi sepultado o apóstolo Pedro. Manifesta um património espiritual secular, confirmando a veneração dos libaneses pelo primeiro dos Apóstolos e seus sucessores. Precisamente para ressaltar a sua grande devoção a Simão Pedro é que os Patriarcas Maronitas acrescentam ao seu nome o de Boutros. É bom ver como do santuário petrino, São Maron intercede continuamente pelo vosso país e por todo o Médio Oriente. Desde já lhe agradeço, Senhor Presidente, por todos os esforços realizados para o bom êxito da minha estadia entre vós.

Outro motivo da minha visita é a assinatura e entrega da Exortação apostólica pós-sinodal da Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos, Ecclesia in Medio Oriente; trata-se dum importante evento eclesial. Agradeço a todos os Patriarcas católicos que aqui se encontram, e de modo particular ao Patriarca emérito, o amado Cardeal Nasrallah Boutros Sfeir, e ao seu sucessor, o Patriarca Bechara Boutros Raï. Saúdo fraternalmente todos os Bispos do Líbano, bem como aqueles que vieram para rezar comigo e receber das mãos do Papa este documento. Através deles, saúdo com paterno afecto todos os cristãos do Médio Oriente. Destinada ao mundo inteiro, a Exortação propõe-se ser para eles um roteiro para os anos futuros. Alegro-me também por poder encontrar, durante estes dias, numerosas representações das comunidades católicas do vosso país, por podermos celebrar e rezar juntos. A sua presença, o seu compromisso e o seu testemunho são um contributo reconhecido e muito apreciado na vida diária de todos os habitantes do vosso amado país.

Desejo saudar também, com grande deferência, os Patriarcas e Bispos ortodoxos que me vieram receber, bem como os representantes das várias comunidades religiosas do Líbano. A vossa presença, queridos amigos, demonstra a estima e colaboração que, no respeito mútuo, desejais promover entre todos. Agradeço-vos pelos vossos esforços e tenho a certeza de que continuareis a procurar caminhos de unidade e concórdia. Não esqueço os acontecimentos tristes e dolorosos que, durante longos anos, atormentaram o vosso lindo país. A convivência feliz de todos os libaneses deve demonstrar a todo o Médio Oriente e ao resto do mundo que, dentro duma nação, pode haver colaboração entre as diversas Igrejas – todas elas membros da única Igreja Católica – num espírito de comunhão fraterna com os outros cristãos e, ao mesmo tempo, a convivência e o diálogo respeitoso entre os cristãos e os seus irmãos de outras religiões. Vós sabeis, tão bem como eu, que este equilíbrio, que é apresentado em toda a parte como um exemplo, é extremamente delicado. Por vezes ameaça romper-se, quando está esticado como um arco ou sujeito a pressões que são muitas vezes de parte ou interessadas, contrárias e estranhas à harmonia e suavidade libanesas. Então é preciso dar provas de real moderação e grande sabedoria; e a razão deve prevalecer sobre a paixão unilateral para favorecer o bem comum de todos. Porventura o grande rei Salomão, que conhecia o rei Hiram de Tiro, não considerava a sabedoria como sendo a virtude suprema!? Por isso a pediu com insistência a Deus, que lhe deu um coração sábio e inteligente (cf.
1R 3,9-12).

Venho também para vos dizer como é importante a presença de Deus na vida de cada um e como a forma de viver juntos – esta convivência de que o vosso país quer dar testemunho – só será profunda se estiver fundada sobre uma visão acolhedora e uma atitude de benevolência para com o outro, se estiver enraizada em Deus que deseja que todos os homens sejam irmãos. O famoso equilíbrio libanês, que quer continuar a ser efectivo, pode-se prolongar graças à boa vontade e ao compromisso de todos os libaneses. Só então será um modelo para os habitantes de toda a região e para o mundo inteiro. Não se trata duma obra meramente humana, mas dum dom de Deus que é preciso pedir com insistência, preservar a todo custo e consolidar resolutamente.

Os laços entre o Líbano e o Sucessor de Pedro são históricos e profundos. Senhor Presidente e queridos amigos, venho ao Líbano como peregrino de paz, como amigo de Deus e como amigo dos homens. «?????? ????????– dou-vos a minha paz», diz Jesus Cristo (Jn 14,27). E hoje, além do vosso país, dirijo-me em espírito também a todos os países do Médio Oriente como peregrino de paz, como amigo de Deus e como amigo de todos os habitantes de todos os países da região, independentemente da sua filiação e da sua crença. Também a eles Jesus Cristo diz: «?????? ????????». As vossas alegrias e as vossas tribulações estão continuamente presentes na oração do Papa, pedindo a Deus que vos acompanhe e console. Posso assegurar-vos que rezo de maneira particular por todos os que sofrem nesta região, e são tantos! A estátua de São Maron recorda-me aquilo que vós viveis e suportais.

Senhor Presidente, o seu país preparou-me uma recepção calorosa, um magnífico acolhimento – o acolhimento que se reserva a um irmão amado e respeitado. Verdadeiramente digno é o seu país do «Ahlan wa Sahlan» libanês; já o é agora e sê-lo-á ainda mais daqui para diante. Estou feliz por estar com todos vós. Que Deus vos abençoe a todos (?????????? ?????? ????????). Obrigado.




VISITA À BASÍLICA DE SÃO PAULO EM HARISSA E ASSINATURA DA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL 14 de Setembro de 2012

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Harissa, Basílica de São Paulo

Sexta-feira, 14 de Setembro de 2012




Senhor Presidente da República,
Sua Beatitude, venerados Patriarcas,
Amados Irmãos no Episcopado e membros do Conselho Especial do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente,
Ilustres Representantes das Confissões religiosas, do mundo da cultura e da sociedade civil,
Prezados irmãos e irmãs em Cristo, queridos amigos!

Agradeço ao Patriarca Gregorios Laham as suas palavras de boas-vindas, e ao Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, D. Nikola Eterovic, as suas palavras de apresentação. As minhas saudações calorosas aos Patriarcas, a todos os Bispos orientais e latinos reunidos nesta linda Basílica de São Paulo, e aos membros do Conselho Especial do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente. Alegro-me também com a presença das delegações ortodoxa, muçulmana e drusa, bem como as do mundo da cultura e da sociedade civil. A feliz coabitação do Islão e do Cristianismo, duas religiões que contribuíram para criar grandes culturas, constitui a originalidade da vida social, política e religiosa no Líbano. Não se pode senão alegrar-se por esta realidade, que é preciso absolutamente encorajar. Confio este desejo aos responsáveis religiosos do vosso país. Saúdo com afecto a amada Comunidade greco-melquita que me acolhe. A vossa presença confere solenidade à assinatura da Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente, e testemunha que este documento, destinado sem dúvida à Igreja universal, reveste-se duma importância particular para todo o Médio Oriente.

É providencial que este acto tenha lugar precisamente no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz, cuja celebração nasceu no Oriente em 335, na sequência da Dedicação da Basílica da Ressurreição sobre o Gólgota e o sepulcro de Nosso Senhor construída pelo imperador Constantino, o Grande, que venerais como santo. Dentro de um mês, celebrar-se-ão os 1700 anos da aparição que lhe fez ver, na noite simbólica da sua incredulidade, o monograma cintilante de Cristo enquanto uma voz lhe dizia: «Por este sinal, vencerás!». Mais tarde, Constantino assinou o Édito de Milão e deu o seu nome a Constantinopla. Parece-me que a Exortação pós-sinodal pode ser lida e interpretada à luz da festa da Exaltação da Santa Cruz e, de forma particular, à luz do monograma de Cristo, o X (ghi) e o P (ro), as duas primeiras letras da palavra ???st??. Tal leitura leva a uma descoberta autêntica da identidade do baptizado e da Igreja e, ao mesmo tempo, constitui como que um apelo ao testemunho na comunhão e pela comunhão. Porventura a comunhão e o testemunho cristãos não estão fundados no mistério pascal, na crucifixão, morte e ressurreição de Cristo? Não é aqui que encontram a sua plena realização? Existe um vínculo indivisível entre a Cruz e a Ressurreição, que não pode ser esquecido pelo cristão; sem este vínculo, exaltar a Cruz significaria justificar o sofrimento e a morte vendo neles apenas uma fatalidade. Para um cristão, exaltar a Cruz quer dizer entrar em comunhão com a totalidade do amor incondicional de Deus pelo homem; é fazer um acto de fé. Exaltar a Cruz, na perspectiva da Ressurreição, é desejar viver e manifestar a totalidade deste amor; é fazer um acto de amor. Exaltar a Cruz leva ao compromisso de ser arauto da comunhão fraterna e eclesial, fonte do verdadeiro testemunho cristão; é fazer um acto de esperança.

Debruçando-se sobre a situação actual das Igrejas no Médio Oriente, os Padres sinodais puderam reflectir sobre as alegrias e as penas, os temores e as esperanças dos discípulos de Cristo que vivem nestes lugares. Deste modo, toda a Igreja pôde ouvir o grito ansioso e notar o olhar desesperado de tantos homens e mulheres que se encontram em situações humana e materialmente árduas, vivendo no medo e inquietação pelas fortes tensões, e que desejam seguir Cristo – Aquele que dá sentido à sua vida – mas frequentemente encontram-se impedidos; por isso, quis que a Primeira Carta de São Pedro fosse o fio condutor do documento. Ao mesmo tempo, a Igreja pôde admirar o que há de belo e nobre nas Igrejas presentes nestas terras. Como não dar contínuas graças a Deus por todos vós (cf.
1Th 1,2, I Parte da Exortação pós-sinodal), amados cristãos do Médio Oriente!? Como não O louvar pela vossa coragem na fé!? Como não Lhe agradecer pela chama do seu amor infinito que vós continuais a manter viva e ardente nestes lugares que foram os primeiros a acolher o seu Filho encarnado!? Como não Lhe elevar o nosso canto de gratidão pelos ímpetos de comunhão eclesial e fraterna, pela solidariedade humana constantemente manifestada por todos os filhos de Deus!?

A Exortação Ecclesia in Medio Oriente permite repensar o presente para considerar o futuro com o próprio olhar de Cristo. Com as suas orientações bíblicas e pastorais, com o seu convite a um aprofundamento espiritual e eclesiológico, com a renovação litúrgica e catequética preconizada, com os seus apelos ao diálogo, pretende traçar um caminho para chegar ao essencial: o seguimento de Cristo, num contexto difícil, e por vezes doloroso, que poderia fazer surgir a tentação de ignorar ou esquecer a Cruz gloriosa. Mas é precisamente então que é necessário celebrar a vitória do amor sobre o ódio, do perdão sobre a vingança, do serviço sobre a prepotência, da humildade sobre o orgulho, da unidade sobre a divisão. À luz da festa de hoje e tendo em vista uma aplicação frutuosa da Exortação, convido todos a que não tenham medo, permaneçam na verdade e a cultivem a pureza da fé. Esta é a linguagem da Cruz gloriosa. Esta é a loucura da Cruz: a de saber converter os nossos sofrimentos em grito de amor a Deus e de misericórdia para com o próximo; e a de saber também transformar, seres atacados e feridos na sua fé e identidade, em vasos de barro prontos a serem cumulados pela abundância dos dons divinos mais preciosos que o ouro (cf. 2Co 4,7-18). Não se trata aqui duma linguagem puramente alegórica, mas dum apelo premente a praticar actos concretos que configuram cada vez mais a Cristo, actos que ajudam as diversas Igrejas a reflectir a beleza da primeira comunidade dos crentes (cf. Act Ac 2,41-47, II parte da Exortação); actos semelhantes aos do imperador Constantino, que soube testemunhar e fazer sair os cristãos da discriminação, permitindo-lhes viver, aberta e livremente, a sua fé em Cristo crucificado, morto e ressuscitado para a salvação de todos.

A Exortação Ecclesia in Medio Oriente oferece elementos que podem ajudar a um exame de consciência pessoal e comunitário, uma avaliação objectiva do compromisso e desejo de santidade de cada discípulo de Cristo. A Exortação abre ao verdadeiro diálogo inter-religioso fundado na fé em Deus Uno e Criador. Quer também contribuir para um ecumenismo repleto de ardor humano, espiritual e caritativo, na verdade e amor evangélicos, que vai buscar a sua força ao mandato do Ressuscitado: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28,19-20).

Nas suas diversas partes, a Exortação quer ajudar cada um dos discípulos do Senhor a viver plenamente e a transmitir realmente aquilo que ele mesmo se tornou pelo baptismo: um filho da Luz, um ser iluminado por Deus, uma lâmpada nova na escuridão tenebrosa do mundo para que das trevas brilhe a luz (cf. Jn 1,4-5 2Co 4,1-6). Este documento quer contribuir para despojar a fé daquilo que a ensombra, de tudo o que pode ofuscar o esplendor da luz de Cristo. Assim a comunhão é uma autêntica adesão a Cristo, e o testemunho é uma irradiação do mistério pascal que dá um sentido pleno à Cruz gloriosa. Nós seguimos e «proclamamos Cristo crucificado (...) poder de Deus e sabedoria de Deus» (1Co 1,23-24, cf. III parte da Exortação).

«Não temas, pequenino rebanho» (Lc 12,32) e lembra-te da promessa feita a Constantino: «Por este sinal, vencerás!». Igrejas presentes no Médio Oriente, não temais, porque o Senhor está verdadeiramente convosco até ao fim do mundo. Não temais, porque a Igreja universal vos acompanha com a sua solidariedade humana e espiritual. É com estes sentimentos de esperança e encorajamento a ser protagonistas activos da fé através da comunhão e do testemunho que, no domingo, entregarei a Exortação pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente aos meus venerados Irmãos Patriarcas, Arcebispos e Bispos, a todos os presbíteros, aos diáconos, aos religiosos e religiosas, aos seminaristas e aos fiéis-leigos. «Tende confiança!» (Jn 16,33). Por intercessão da Virgem Maria, a Theotókos, invoco com grande afecto a abundância dos dons divinos sobre todos vós. Deus conceda a todos os povos do Médio Oriente viverem na paz, na fraternidade e na liberdade religiosa! ?????????? ?????? ???????? [Deus vos abençoe a todos]!



ENCONTRO COM OS MEMBROS DO GOVERNO DAS INSTITUIÇÕES DA REPÚBLICA, COM O CORPO DIPLOMÁTICO, OS RESPONSÁVEIS RELIGIOSOS E REPRESENTANTES DO MUNDO DA CULTURA

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Salão 25 de Maio do Palácio Presidencial de Baabda

Sábado, 15 de Setembro de 2012



Senhor Presidente da República,
Ilustres Autoridades parlamentares, governamentais, institucionais e políticas do Líbano,
Senhoras e Senhores Chefes das Missões Diplomáticas,
Beatitudes, Responsáveis religiosos,
Amados Irmãos no Episcopado,
Senhoras, Senhores, queridos amigos!

?????? ???????? [dou-vos a minha paz] (
Jn 14,27)! É com estas palavras de Jesus Cristo que desejo saudar-vos, agradecido pelo vosso acolhimento e a vossa presença. Agradeço-lhe, Senhor Presidente, não só as palavras cordiais, mas também o facto de ter permitido este encontro. Acabo, juntamente com Vossa Excelência, de plantar um cedro do Líbano, símbolo do vosso lindo país. Vendo esta pequena planta e os cuidados de que necessitará para se tornar robusta e lançar os seus ramos majestosos, pensei no vosso país e seu destino, nos libaneses e suas esperanças, em todas as pessoas desta Região do mundo que parece conhecer as dores dum parto sem fim. Então pedi a Deus que vos abençoe, abençoe o Líbano e abençoe todos os habitantes desta Região que viu nascer grandes religiões e nobres culturas. Por que motivo escolheu Deus esta Região? Porque vive ela em turbulência? Parece-me que Deus a escolheu para servir de exemplo, para testemunhar ao mundo a possibilidade concreta que o homem tem de viver o seu anelo de paz e reconciliação; inscrita desde sempre no plano divino, esta aspiração foi impressa por Deus no coração do homem. É da paz que vos desejo falar, porque Jesus disse: ?????? ???????? [dou-vos a minha paz] .

O que faz rico um país são, antes de mais nada, as pessoas que nele vivem. De cada uma e todas juntas, depende o seu futuro e a sua capacidade de se comprometer pela paz. Tal compromisso só será possível numa sociedade unida. No entanto, a unidade não é a uniformidade. O que assegura a coesão da sociedade é o respeito constante pela dignidade de cada pessoa e a participação responsável de cada um segundo as próprias capacidades, pondo a render o que há em si de melhor. A fim de assegurar o dinamismo necessário para construir e consolidar a paz, é preciso retornar incansavelmente aos fundamentos do ser humano. A dignidade do homem é inseparável do carácter sagrado da vida, que o Criador lhe deu. No desígnio de Deus, cada pessoa é única e insubstituível. Vem ao mundo numa família, que é o seu primeiro lugar de humanização e sobretudo a primeira educadora para a paz. Por isso, para construir a paz, a nossa atenção deve fixar-se sobre a família a fim de facilitar a sua tarefa, para assim a apoiar e consequentemente promover por toda a parte uma cultura da vida. A eficácia do compromisso a favor da paz depende do conceito que o mundo possa ter da vida humana. Se queremos a paz, defendamos a vida. Esta lógica desabona não só a guerra e as acções terroristas, mas também qualquer atentado contra a vida do ser humano, criatura querida por Deus. A indiferença ou a negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do homem impedem o respeito desta gramática que é a lei natural inscrita no coração humano (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007, n. 3). A grandeza e a razão de ser de cada pessoa só se encontram em Deus. Assim, o reconhecimento incondicional da dignidade de cada ser humano, de cada um de nós, e do carácter sagrado da vida responsabiliza-nos a todos diante de Deus. Portanto, devemos unir os nossos esforços para desenvolver uma sã antropologia que integre a unidade da pessoa. Sem isso, não é possível construir a paz autêntica.

Embora mais evidentes nos países que conhecem conflitos armados – estas guerras repletas de bazófia e de horrores –, os atentados à integridade e à vida das pessoas existem também noutros países. O desemprego, a pobreza, a corrupção e tudo o mais que se lhes vem juntar como a exploração, os tráficos ilícitos de toda a espécie e o terrorismo acarretam, para além do sofrimento inaceitável dos que são as suas vítimas, um enfraquecimento do potencial humano. A lógica económica e financeira quer continuamente impor-nos o seu jugo e fazer prevalecer o ter sobre o ser. Mas cada vida humana que se perde é uma perda para a humanidade inteira. Esta é uma grande família, da qual todos somos responsáveis. Algumas ideologias, pondo em questão de maneira directa ou indirecta, e mesmo legalmente, o valor inalienável de cada pessoa e o fundamento natural da família, minam os alicerces da sociedade. Devemos estar conscientes destes atentados contra a construção e a harmonia da convivência social. O único antídoto para tudo isto é uma solidariedade efectiva: solidariedade para rejeitar o que impede o respeito por todo o ser humano, solidariedade para apoiar as políticas e iniciativas que visam unir os povos de forma honesta e justa. É bom ver as acções de cooperação e de verdadeiro diálogo que constroem uma nova maneira de viver juntos. Uma melhor qualidade de vida e desenvolvimento integral não é possível senão numa partilha das riquezas e das competências, respeitando a dignidade de cada um. Mas tal estilo de convivência social, sereno e dinâmico, não pode existir sem a confiança no outro, seja ele quem for. Hoje, as diferenças culturais, sociais, religiosas devem levar a viver um novo tipo de fraternidade, onde aquilo que une é justamente o sentido comum da grandeza de cada pessoa e o dom que ela constitui para si mesma, para os outros e para a humanidade. Está aqui o caminho da paz. Aqui está o compromisso que nos é pedido. Aqui está a orientação que deve presidir às escolhas políticas e económicas nos seus diversos níveis e a escala planetária.

Deste modo, a fim de patentear às novas gerações um futuro de paz, a primeira tarefa é educar para a paz, construindo uma cultura de paz. A educação, na família ou na escola, deve ser, antes de mais nada, educação para os valores espirituais que conferem à transmissão do saber e das tradições duma cultura o seu sentido e a sua força. O espírito humano possui o gosto inato do belo, do bom e do verdadeiro; é o selo do divino, a marca de Deus nele! Desta aspiração universal deriva uma concepção moral firme e justa, que sempre coloca a pessoa no centro. Mas é só na liberdade que o homem se pode voltar para o bem, porque «a dignidade do homem exige que ele proceda segundo a própria consciência e por livre adesão, ou seja, movido e induzido pessoalmente desde dentro e não levado por cegos impulsos interiores ou por mera coacção externa» (Gaudium et spes GS 17). A tarefa da educação é acompanhar a maturação da capacidade de fazer escolhas livres e justas, que possam ir contra-corrente relativamente às opiniões generalizadas, às modas, às ideologias políticas e religiosas. A consolidação duma cultura de paz tem este preço. Obviamente é necessário banir a violência verbal ou física; é sempre um ultraje à dignidade humana, tanto do agressor como da vítima. Além disso, ao valorizar as obras de paz e o seu influxo no bem comum, cria-se também o interesse pela paz. Como testemunha a história, tais gestos de paz desempenham papel considerável na vida social, nacional e internacional. Assim a educação para a paz formará homens e mulheres generosos e rectos, solícitos para com todos mas particularmente com as pessoas mais débeis. Pensamentos de paz, palavras de paz e gestos de paz criam uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade, onde os erros e as ofensas podem ser reconhecidos com verdade, para avançar juntos rumo à reconciliação. Peço aos estadistas e aos responsáveis religiosos que reflictam nisto.

Devemos estar bem cientes de que o mal não é uma força anónima que actua no mundo de forma impessoal ou determinista. O mal, o demónio, passa através da liberdade humana, através do uso da nossa liberdade; procura um aliado, o homem: o mal precisa dele para se espalhar. E assim, depois de ter violado o primeiro mandamento, o amor a Deus, vem para perverter o segundo, o amor ao próximo. Com ele, o amor ao próximo desaparece, deixando o lugar à mentira e à inveja, ao ódio e à morte. Mas é possível não se deixar vencer pelo mal, e vencer o mal com o bem (cf. Rm 12,21). Somos chamados a esta conversão do coração; sem ela, as «libertações» humanas tão desejadas decepcionam, porque se movem no espaço reduzido que lhes concede a mesquinhez do espírito do homem, a sua dureza, as suas intolerâncias, os seus favoritismos, os seus desejos de vingança e os seus instintos de morte. É necessária a transformação nas profundezas do espírito e do coração para reencontrar uma certa clarividência e imparcialidade, o sentido profundo da justiça e do bem comum. Um olhar novo e mais livre tornar-nos-á capazes de analisar e questionar sistemas humanos que levam a becos sem saída, a fim de se avançar tendo em conta o passado para não mais o repetir com os seus efeitos devastadores. Esta conversão requerida é exaltante, porque abre possibilidades ao fazer apelo aos inúmeros recursos presentes no coração de tantos homens e mulheres ansiosos de viver em paz e dispostos a comprometer-se pela paz. Esta, porém, é particularmente exigente: trata-se de dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar. Porque só o perdão dado e recebido coloca os alicerces duradouros da reconciliação e da paz para todos (cf. Rm 12,16 Rm 12,18).

Só assim pode crescer o bom entendimento entre as culturas e as religiões, a estima de umas pelas outras sem complexos de superioridade e no respeito pelos direitos de cada uma. No Líbano, há séculos que o cristianismo e o islão habitam no mesmo espaço. Não é raro ver, na mesma família, as duas religiões. Se, numa mesma família, isto é possível, por que não o haveria de ser ao nível da sociedade inteira? A especificidade do Médio Oriente reside na secular amálgama de componentes diversas. É certo que também se combateram, infelizmente! Uma sociedade pluralista só existe por causa do respeito recíproco, do desejo de conhecer o outro e do diálogo contínuo. Este diálogo entre os homens só é possível com a consciência de que há valores comuns a todas as grandes culturas, porque estas estão radicadas na natureza da pessoa humana. Estes valores, que formam um substrato comum, exprimem os traços autênticos e característicos da humanidade; pertencem aos direitos de cada ser humano. As diversas religiões prestam uma decisiva contribuição para a afirmação da sua existência. Não esqueçamos que a liberdade religiosa é o direito fundamental, de que muitos outros dependem. Para toda e qualquer pessoa deve ser possível professar e viver livremente a própria religião sem pôr em perigo a sua vida e liberdade. A perda ou a diminuição desta liberdade priva a pessoa do direito sagrado a uma vida íntegra no plano espiritual. A chamada tolerância não elimina as discriminações; antes, por vezes até as reforça. E, sem a abertura ao transcendente que permite encontrar resposta para os interrogativos do próprio coração sobre o sentido da vida e sobre como viver de forma moral, o homem torna-se incapaz de agir segundo a justiça e comprometer-se em prol da paz. A liberdade religiosa tem uma dimensão social e política indispensável para a paz: promove uma coexistência e uma vida harmoniosas através do compromisso comum ao serviço de causas nobres e na busca da verdade que não se impõe pela violência, mas pela «sua própria força» (Dignitatis humanae DH 1), aquela Verdade que é Deus. Eis o motivo por que a fé viva conduz invariavelmente ao amor. A fé autêntica não pode levar à morte. O obreiro de paz é humilde e justo. Por isso, os crentes têm hoje um papel essencial: dar testemunho da paz que vem de Deus e que é um dom concedido a todos na vida pessoal, familiar, social, política e económica (cf. Mt 5,9 Heb He 12,14). A inércia dos homens de bem não deve permitir que o mal triunfe. O pior de tudo é não fazer nada!

Estas breves reflexões sobre a paz, a sociedade, a dignidade da pessoa, sobre os valores da família e da vida, sobre o diálogo e a solidariedade não podem permanecer ideais simplesmente enunciados; podem e devem ser vividos. Estamos no Líbano e é aqui que devem ser vividos. O Líbano é chamado, agora mais do que nunca, a ser um exemplo. Por isso vos convido a vós, políticos, diplomatas, religiosos, homens e mulheres do mundo da cultura, a dar testemunho ao vosso redor e com coragem, em tempo favorável e fora dele, de que Deus quer a paz, de que Deus nos confia a paz. ?????? ???????? [dou-vos a minha paz] – diz Jesus Cristo (Jn 14,27)! Que Deus vos abençoe. Obrigado!


ALMOÇO COM OS PATRIARCAS E OS BISPOS DO LÍBANO, COM OS MEMBROS DO CONSELHO ESPECIAL PARA O MÉDIO ORIENTE DO SÍNODO DOS BISPOS E COM O SÉQUITO PAPAL

RESPOSTA À SAUDAÇÃO DE BOAS-VINDAS Sábado, 15 de Setembro de 2012

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Refeitório do Patriarcado Armênio Católico de Bzommar




Sua Beatitude, Venerados Patriarcas,
Amados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Amados Membros do Conselho Especial do Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente
e do Sínodo Arménio-Católico,
Queridos seminaristas, Irmãos e Irmãs em Cristo!

Agradeço profundamente ao Patriarca Nersès Bédros o seu convite e as palavras que acaba de me dirigir, bem como ao Superior desta casa. Saúdo cordialmente a todos os convidados.

A divina Providência permitiu o nosso encontro neste convento de Bzommar, tão emblemático para a Igreja Arménia Católica. O monge Hagop, cognominado Méghabarde (o pecador) – é para nós um exemplo de oração, desapego dos bens materiais e fidelidade a Cristo Redentor. Há 500 anos, ele promoveu a impressão do Livro da Sexta-feira, estabelecendo assim uma ponte entre o oriente e o ocidente cristãos. Na sua escola, podemos aprender o sentido da missão, a coragem da verdade e o valor da fraternidade na unidade. No momento em que nos preparamos para restaurar as forças com esta refeição, preparada com amor e generosamente oferecida, o monge Hagop lembra-nos também que a sede do espiritual e a busca do Além sempre devem habitar nos nossos corações; é que «nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (
Mt 4,4).

Queridos amigos, por intercessão dos Apóstolos Bartolomeu e Tadeu e de São Gregório, o Iluminador, pedimos ao Senhor que abençoe a Comunidade Arménia, duramente provada através dos tempos, e envie para a sua seara muitos e santos trabalhadores que, motivados por Cristo, sejam capazes de mudar o rosto das nossas sociedades, curar os corações destroçados e dar de novo coragem, força e esperança aos desesperados. Obrigado!



ENCONTRO COM OS JOVENS Patriarcado Maronita de Bkerké Sábado, 15 de Setembro de 2012

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Sua Beatitude,
Irmãos Bispos,
Senhor Presidente,
queridos amigos!

«Graça e paz vos sejam concedidas em abundância por meio do conhecimento de Deus e de Jesus, Senhor nosso» (
2P 1,2). A passagem da carta de São Pedro, que ouvimos, exprime bem o grande desejo que há muito tempo trago no meu coração. Obrigado pelo vosso caloroso acolhimento, obrigado de todo o coração pela vossa presença tão numerosa nesta tarde! Agradeço a Sua Beatitude o Patriarca Béchara Boutros Raï as suas palavras de boas-vindas, a D. Georges Bou Jaoudé, Arcebispo de Tripoli e Presidente do Conselho para o Apostolado dos Leigos no Líbano, e a D. Elie Haddad, Arcebispo de Sídon dos Greco-Melquitas e Vice-Presidente do referido Conselho, bem como aos dois jovens que me saudaram em nome de todos vós. ?????? ???????? (dou-vos a minha paz) (Jn 14,27): diz-nos Jesus Cristo.

Queridos amigos, cabe a vós viver hoje nesta parte do mundo que viu o nascimento de Jesus e o desenvolvimento do cristianismo. É uma grande honra! E é um apelo à fidelidade, ao amor pela vossa terra e sobretudo para serdes testemunhas e mensageiros da alegria de Cristo, porque a fé transmitida pelos Apóstolos leva à liberdade plena e à alegria, como manifestaram tantos Santos e Beatos deste país. A sua mensagem ilumina a Igreja universal; e pode continuar a iluminar as vossas vidas. Muitos dos Apóstolos e dos Santos viveram períodos conturbados, e a própria fé foi a fonte da sua coragem e do seu testemunho. Extraí do seu exemplo e intercessão a inspiração e o apoio de que precisais.

Conheço as dificuldades que sentis na vida diária, por causa da falta de estabilidade e segurança, da dificuldade em encontrar emprego ou ainda do sentimento de solidão e marginalização. Num mundo em contínua mudança, enfrentais numerosos e graves desafios. O próprio desemprego e a precariedade não devem impelir-vos a provar o «mel amargo» da emigração, com o desenraizamento e a separação em troca dum futuro incerto. Tendes de ser protagonistas do futuro do vosso país e assumir a vossa função na sociedade e na Igreja.

Ocupais um lugar privilegiado no meu coração e na Igreja inteira, porque a Igreja é sempre jovem. A Igreja confia em vós; conta convosco. Sede jovens na Igreja. Sede jovens com a Igreja. A Igreja precisa do vosso entusiasmo e criatividade. A juventude é o tempo em que se anela por grandes ideais, e o período em que se estuda preparando-se para uma profissão e um futuro. Isto é importante e requer tempo. Procurai o que é belo, e comprazei-vos na prática do bem. Dai testemunho da grandeza e dignidade do vosso corpo, que «é para o Senhor» (1Co 6,13). Conservai a delicadeza e a rectidão dos corações puros. Na linha do Beato João Paulo II, repito-vos também eu: «Não tenhais medo! Abri as portas das vossas almas e dos vossos corações a Cristo». O encontro com Ele «dá à vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo» (Deus caritas est ). N’Ele, encontrareis a força e a coragem para avançar nos caminhos da vossa vida, superando as dificuldades e o sofrimento. N’Ele, encontrareis a fonte da alegria. Cristo diz-vos: ?????? ???????? (dou-vos a minha paz) (Jn 14,27)! Esta é a verdadeira revolução trazida por Cristo: a do amor.

As frustrações presentes não devem levar-vos a buscar refúgio em mundos paralelos, como por exemplo o mundo das drogas de todo o tipo ou o mundo triste da pornografia. Quanto às redes sociais, são interessantes mas podem, com facilidade, levar-vos à dependência e à confusão entre o real e o virtual. Procurai e vivei relações ricas de amizade verdadeira e nobre. Cultivai iniciativas que dêem sentido e raízes à vossa existência, lutando contra a superficialidade e o consumismo fácil. Estais de igual modo sujeitos a outra tentação: a do dinheiro – este ídolo tirânico que cega até ao ponto de sufocar a pessoa e o seu coração. Infelizmente os exemplos que vedes em redor não são sempre dos melhores. Muitos esquecem-se da afirmação de Cristo: não se pode servir a Deus e ao dinheiro (cf. Lc 16,13). Procurai bons mestres, guias espirituais que saibam indicar-vos o caminho para a maturidade, pondo de lado o que é ilusório, aparência e mentira.

Sede os portadores do amor de Cristo. Como? Voltando-vos sem reservas para Deus, seu Pai, que é a medida do que é justo, verdadeiro e bom. Meditai a Palavra de Deus. Descobri o interesse e a actualidade do Evangelho. Rezai. A oração, os sacramentos são os meios seguros e eficazes para ser cristão e viver «enraizados e edificados em Cristo, firmes na fé» (cf. Col 2,7). O Ano da fé, que está quase a começar, será uma oportunidade para descobrir o tesouro da fé recebida no Baptismo. Podeis aprofundar o seu conteúdo através do estudo do Catecismo, para que a vossa fé seja viva e vivida. Assim tornar-vos-eis, para os outros, testemunhas do amor de Cristo. N’Ele, todos os homens são nossos irmãos. A fraternidade universal, que Ele inaugurou na Cruz, reveste duma luz brilhante e exigente a revolução do amor. «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jn 13,34). Este é o testamento de Jesus e o sinal do cristão. Aqui está a verdadeira revolução do amor.

E assim Jesus convida-vos a proceder como Ele, a acolher o outro sem reservas, mesmo que pertença a cultura, religião, nação diferentes. Dar-lhe lugar, respeitá-lo, ser bom com ele torna-vos sempre mais ricos em humanidade e fortes com a paz do Senhor. Sei que muitos de vós participam nas diversas actividades promovidas pelas paróquias, escolas, movimentos, associações. É bom comprometer-se com os outros e pelos outros. Viver, juntos, momentos de amizade e alegria permite resistir aos germes de divisão, que devemos combater sem cessar. A fraternidade é uma antecipação do Céu. E a vocação do discípulo de Cristo é ser «fermento» na massa, como afirmava São Paulo: «Um pouco de fermento faz fermentar toda a massa» (Ga 5,9). Sede os mensageiros do Evangelho da vida e dos valores da vida; resisti corajosamente a tudo o que a nega: o aborto, a violência, a rejeição e o desprezo do outro, a injustiça, a guerra. Deste modo, propagareis a paz ao vosso redor. No fim de contas, não são os «obreiros da paz» aqueles que mais admiramos? E não é a paz o bem precioso que toda a humanidade procura? Porventura não é um mundo de paz aquilo que mais profundamente desejamos para nós e para os outros? ?????? ???????? (dou-vos a minha paz): disse Jesus. Ele venceu o mal não com outro mal, mas tomando-o sobre Si e aniquilando-o na cruz com o amor vivido até ao fim. Descobrir verdadeiramente o perdão e a misericórdia de Deus, permite sempre recomeçar uma nova vida. Não é fácil perdoar; mas o perdão de Deus dá a força da conversão, e a alegria de, por nossa vez, perdoar. O perdão e a reconciliação são caminhos de paz, e abrem um futuro.

Queridos amigos, com certeza muitos de vós se interrogam de forma mais ou menos consciente: O que é que Deus espera de mim? Que projecto tem para mim? Não quererá que eu anuncie ao mundo a grandeza do seu amor por meio do sacerdócio, da vida consagrada ou do matrimónio? Não me chamará Cristo para O seguir mais de perto? Debruçai-vos confiadamente sobre estas questões. Encontrai tempo para reflectir nelas e pedir luz. Respondei ao convite, oferecendo-vos diariamente Àquele que vos chama a ser seus amigos. Procurai seguir com coração generoso a Cristo que, por amor, nos resgatou e deu a vida por cada um de nós. Conhecereis uma alegria e uma plenitude insuspeitáveis. Responder à vocação que Cristo prevê para cada um: está aqui o segredo da verdadeira paz.

Ontem, assinei a Exortação apostólica Ecclesia in Medio Oriente. Esta carta destina-se também a vós, queridos jovens, como a todo o povo de Deus. Procurai lê-la com atenção e meditá-la, para a pôr em prática. Para vos ajudar, recordo-vos as palavras de São Paulo aos Coríntios: «A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. É evidente que sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações» (2Co 3,2-3). Também vós, queridos amigos, podeis ser uma carta viva de Cristo. Esta carta não estará escrita em papel nem com a caneta; será o testemunho da vossa vida e da vossa fé. Assim, com coragem e entusiasmo, fareis compreender ao vosso redor que Deus quer a felicidade de todos sem distinção, e que os cristãos são os seus servos e testemunhas fiéis.

Jovens libaneses, sois a esperança e o futuro do vosso país. Vós sois o Líbano, terra de acolhimento, de convivência, com esta capacidade incrível de adaptação. E neste momento, não podemos esquecer os milhões de pessoas que formam a diáspora libanesa e mantêm laços sólidos com o seu país de origem. Jovens do Líbano, sede acolhedores e abertos, como Cristo vos pede e como o vosso país vo-lo ensina.

Queria agora saudar os jovens muçulmanos que estão connosco nesta tarde. Obrigado pela vossa presença, que é tão importante. Sois, juntamente com os jovens cristãos, o futuro deste país maravilhoso e de todo o Médio Oriente. Procurai construi-lo juntos! E, quando fordes adultos, continuai a viver a concórdia na unidade com os cristãos; é que a beleza do Líbano encontra-se nesta bela simbiose. É preciso que o Médio Oriente inteiro, pondo os olhos em vós, compreenda que os muçulmanos e os cristãos, o islão e o cristianismo, podem viver juntos, sem ódio e no respeito das crenças de cada um, para construírem juntos uma sociedade livre e humana.

Soube ainda que há entre nós jovens vindos da Síria. Quero dizer-vos o quanto admiro a vossa coragem. Dizei em vossa casa, aos vossos familiares e aos vossos amigos que o Papa não vos esquece. Dizei ao vosso redor que o Papa está triste por causa dos vossos sofrimentos e lutos. Não esquece a Síria nas suas orações e preocupações. Nem esquece as populações do Médio Oriente que sofrem. É tempo que muçulmanos e cristãos se unam para pôr termo à violência e às guerras.

Ao terminar, voltemo-nos para Maria, a Mãe do Senhor, Nossa Senhora do Líbano. Do alto da colina de Harissa, Ela vos protege e acompanha, vela como uma mãe sobre todos os libaneses e tantos peregrinos que vêm de toda a parte para Lhe confiar as suas alegrias e penas. Nesta tarde, confiamos à Virgem Maria e ao Beato João Paulo II, que esteve aqui antes de mim, as vossas vidas, as de todos os jovens do Líbano e dos países da região, especialmente aqueles que sofrem por causa da violência ou da solidão, aqueles que precisam de conforto. Deus vos abençoe a todos! E agora todos juntos, rezemos-Lhe:
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