Discursos Bento XVI 16912

ENTREGA DA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL PARA O MÉDIO ORIENTE Beirut City Center Waterfront Domingo, 16 de Setembro de 2012

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Suas Beatitudes, Senhores Cardeais,
Amados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs em Cristo!

A celebração litúrgica que vivemos permitiu-nos dar graças ao Senhor pelo dom da Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos, que teve lugar em Outubro de 2010 sobre o tema: «A Igreja Católica no Médio Oriente, comunhão e testemunho. “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma” (
Ac 4,32)». Quero agradecer a todos os Padres sinodais pela sua contribuição. A minha gratidão vai também para o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, D. Eterovic, pelo trabalho realizado e pelas palavras que me dirigiu em vosso nome.

Depois de ter assinado a Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente, tenho agora a alegria de a entregar a todas as Igrejas particulares na pessoa de todos vós, Beatitudes e Bispos orientais e latinos do Médio Oriente. Com a entrega deste documento, começa o seu estudo e assimilação por todos os protagonistas da Igreja, pastores, pessoas consagradas e leigos, para que cada um encontre uma nova alegria em continuar a sua missão, sentindo-se encorajado e fortalecido a pôr em prática a mensagem de comunhão e testemunho apresentada sob os vários aspectos humanos, doutrinais, eclesiológicos, espirituais e pastorais desta Exortação. Queridos irmãos e irmãs do Líbano e do Médio Oriente, espero que esta Exortação seja uma guia para avançar nos caminhos multiformes e complexos por onde Cristo vos precede. Possa a comunhão na fé, esperança e caridade ser reforçada nos vossos países e em cada comunidade para dar credibilidade ao testemunho que prestais ao único que é Santo, Deus Uno e Trino, que Se fez próximo de cada homem.

Amada Igreja presente no Médio Oriente, bebe na seiva original da Salvação que se realizou nesta Terra única e amada entre todas. Avança pela senda de teus pais na fé, daqueles que abriram, com a sua constância e fidelidade, o caminho da resposta da humanidade à Revelação de Deus. Encontra, na diversidade magnífica de santos que floresceram em ti, os exemplos e intercessores que hão-de inspirar a tua resposta ao apelo do Senhor a caminhar para a Jerusalém celeste, onde Deus enxugará todas as lágrimas dos nossos olhos (cf. Ap 21,4). Oxalá a comunhão fraterna seja um apoio na vida diária e o sinal da fraternidade universal que Jesus, Primogénito duma multidão, veio instaurar! Assim, nesta região, que viu os actos e recolheu as palavras d’Ele, possa o Evangelho continuar a ressoar como há 2000 anos e seja vivido hoje e sempre. Obrigado.



ENCONTRO ECUMÉNICO - RESPOSTA 16 de Setembro de 2012

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Salão de honra do Patriarcado Siro-Católico de Charfet

Domingo, 16 de Setembro de 2012




Santidade, Beatitude,
Venerados Patriarcas, amados Irmãos no Episcopado,
Amados Representantes das Igrejas e das Comunidades protestantes,
Queridos irmãos!

É com alegria que me encontro no meio de vós, neste mosteiro de Notre Dame de la Délivrance de Charfet, lugar sagrado da Igreja Siro-Católica para o Líbano e todo o Médio Oriente. Agradeço a Sua Beatitude Ignace Youssif Younan, Patriarca de Antioquia dos siro-católicos, pelas suas sentidas palavras de boas-vindas. Saúdo fraternamente cada um de vós que aqui representais a variedade da Igreja no Oriente e, em particular, Sua Beatitude Ignace IV Hazim, Patriarca dos Greco-Ortodoxos de Antioquia e de todo o Oriente, e Sua Santidade Mar Ignatius I Zakke Iwas, Patriarca da Igreja Siro-Ortodoxa de Antioquia e de todo o Oriente. A vossa presença feliz confere solenidade a este encontro; de coração vos agradeço por estarem entre nós. O meu pensamento vai também para a Igreja copta ortodoxa do Egipto e a Igreja etíope ortodoxa, que vivem a tristeza da perda dos respectivos Patriarcas. Asseguro-lhes a minha solidariedade fraterna e a minha oração.

Permiti-me sublinhar aqui o testemunho de fé prestado pela Igreja siríaca de Antioquia ao longo da sua gloriosa história, testemunho de amor ardente por Cristo que lhe fez escrever, até aos nossos dias, páginas heróicas até ao martírio, permanecendo fiel à sua fé. Encorajo-a a ser, para os povos da região, sinal da paz que vem de Deus e luz que vivifica a sua esperança. Este encorajamento torno-o extensivo a todas as Igrejas e comunidades eclesiais presentes nesta região.

Amados irmãos, o nosso encontro desta tarde é um sinal eloquente do nosso profundo desejo de responder ao apelo do Senhor Jesus: «Que todos sejam um» (
Jn 17,21). Nestes tempos instáveis e propensos à violência que conhece a vossa região, é cada vez mais urgente que os discípulos de Cristo dêem um testemunho autêntico da sua unidade, para que o mundo creia na sua mensagem de amor, paz e reconciliação. É esta mensagem que todos os cristãos, e nós em particular, recebemos a missão de transmitir ao mundo e que ganha um valor inestimável no contexto actual do Médio Oriente.

Trabalhemos incessantemente para que o nosso amor a Cristo nos conduza, pouco a pouco, à plena comunhão entre nós. Por isso, através da oração e do compromisso comum, devemos retornar continuamente ao nosso único Senhor e Salvador. Como escrevi na Exortação apostólica Ecclesia in Medio Oriente, que tenho o prazer de vos oferecer, Jesus «une aqueles que acreditam n'Ele e O amam, concedendo-lhes o Espírito de seu Pai e também Maria, sua Mãe» (n. 15).

Confio à Virgem Maria cada um de vós, bem como os membros das vossas Igrejas e comunidades. Que Ela interceda em nosso favor junto do seu divino Filho para que sejamos libertos de todo o mal e de toda a violência, e que esta região do Médio Oriente conheça finalmente o tempo da reconciliação e da paz. A frase de Jesus ?????? ???????? (dou-vos a minha paz)» (Jn 14,27) – que citei várias vezes ao longo desta viagem – seja para todos nós o sinal comum que daremos, em nome de Cristo, aos povos desta amada região que aspira, com impaciência, pela realização deste anúncio! Obrigado!



CERIMÓNIA DE DESPEDIDA Aeroporto Internacional Rafiq Hariri de Beirute Domingo, 16 de Setembro de 2012

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Senhor Presidente da República,
Senhores Presidentes do Parlamento e do Conselho de Ministros,
Suas Beatitudes, amados Irmãos no Episcopado,
Ilustres Autoridades civis e religiosas,
Queridos amigos!

Chegado o momento da partida, é com pena que deixo este querido Líbano. Agradeço-lhe, Senhor Presidente, as suas palavras e o ter favorecido, com o Governo cujos Representantes saúdo, a organização dos diversos acontecimentos que marcaram a minha presença no vosso meio, assistida de forma notável pela eficiência dos diversos serviços da República e do sector privado. Agradeço também ao Patriarca Béchara Boutros Raï e a todos os Patriarcas presentes bem como aos Bispos orientais e latinos, aos presbíteros e aos diáconos, aos religiosos e religiosas, aos seminaristas e aos fiéis que se deslocaram para me receber. Visitando-vos, é como se Pedro viesse ter convosco, e vós recebestes Pedro com a cordialidade que caracteriza as vossas Igrejas e a vossa cultura.

Os meus agradecimentos dirigem-se de modo particular para todo o povo libanês, que forma um belo e rico mosaico e que soube manifestar ao Sucessor de Pedro o seu entusiasmo, graças à contribuição multiforme e específica de cada comunidade. Agradeço cordialmente às veneráveis Igrejas irmãs e às comunidades protestantes. Agradeço de modo particular aos representantes das comunidades muçulmanas. Durante toda a minha estadia, pude constatar quanto a vossa presença contribuiu para o bom êxito da minha viagem. O mundo árabe e o mundo inteiro verão, nestes tempos conturbados, cristãos e muçulmanos reunidos para celebrar a paz. É tradicional no Médio Oriente receber o hóspede de passagem com consideração e respeito, e assim o fizestes. A todos agradeço. Mas, à consideração e ao respeito, juntastes um complemento, que se pode comparar a uma daquelas famosas especiarias orientais que enriquece o sabor dos alimentos: o vosso calor e o vosso coração, que me deixaram o desejo de voltar. Eu vo-lo agradeço de forma particular. Deus vos abençoe por isso.

Durante a minha breve estadia, motivada principalmente pela assinatura e entrega da Exortação apostólica Ecclesia in Medio Oriente, pude encontrar os diversos componentes da vossa sociedade. Houve momentos mais oficiais, outros mais íntimos, momentos de alta densidade religiosa e fervorosa oração, e outros ainda marcados pelo entusiasmo da juventude. Dou graças a Deus por estas oportunidades que Ele permitiu, pelos encontros qualificados que pude ter, e pela oração que foi feita por todos e a favor de todos no Líbano e no Médio Oriente, independentemente da origem ou da confissão religiosa de cada um.

Na sua sabedoria, Salomão fez apelo a Hiram de Tiro para o ajudar na construção duma casa ao nome de Deus, um santuário para a eternidade (cf. Sir
Si 47,13). E Hiram, que evoquei à minha chegada, enviou madeira dos cedros do Líbano (cf. 1R 5,22). Todo o interior do Templo era revestido de cedro em tábuas entalhadas com flores e frutos (cf. 1R 6,18). O Líbano estava presente no santuário de Deus. Oxalá o Líbano de hoje, com os seus habitantes, continue a estar presente no santuário de Deus. Possa o Líbano continuar a ser um espaço onde os homens e as mulheres vivam em harmonia e paz uns com os outros, para darem ao mundo, não apenas o testemunho da existência de Deus – primeiro tema do Sínodo passado – mas igualmente o da comunhão entre os homens – segundo tema do Sínodo –, qualquer que seja a sua sensibilidade política, comunitária e religiosa.

Rezo a Deus pelo Líbano, para que viva em paz e resista com coragem a tudo o que poderia destrui-la ou ameaçá-la. Desejo que o Líbano continue a permitir a pluralidade das tradições religiosas e a não dar ouvidos à voz daqueles que a querem impedir. Espero que o Líbano reforce a comunhão entre todos os seus habitantes, seja qual for a comunidade e religião a que pertençam, rejeitando decididamente tudo o que poderia levar à desunião e optando com determinação pela fraternidade. Estas são as flores agradáveis a Deus, virtudes que são possíveis e conviria consolidá-las com um enraizamento ainda maior.

A Virgem Maria, venerada com devoção e ternura pelos fiéis das confissões religiosas aqui presentes, é um modelo seguro para avançar com esperança pelo caminho duma fraternidade vivida e autêntica. Bem o compreendeu o Líbano, ao proclamar há algum tempo o dia 25 de Março como feriado, permitindo assim a todos os seus habitantes poder viver em medida crescente a sua unidade na serenidade. Que a Virgem Maria, cujos santuários antigos são tão numerosos no vosso país, continue a acompanhar-vos e a inspirar-vos.

Deus abençoe o Líbano e todos os libaneses. Que Ele não cesse de atraí-los a Si para lhes conceder a vida eterna. Que Ele os cumule da sua alegria, da sua paz e da sua luz. Deus abençoe todo o Médio Oriente. Sobre cada um e cada uma de vós, invoco de todo o coração a abundância das bênçãos divinas.

?????????? ?????? ???????? [Deus vos abençoe a todos].



A UM GRUPO DE PRELADOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PROMOVIDO PELAS CONGREGAÇÕES PARA OS BISPOS E PARA AS IGREJAS ORIENTAIS Quinta-feira, 20 de Setembro de 2012

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Sala dos Suíços do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo


Estimados Irmãos no Episcopado

A peregrinação ao Túmulo de São Pedro, que realizastes nestes dias de reflexão sobre o ministério episcopal, adquire este ano uma importância particular. Com efeito, estamos na vigília do Ano da fé, do 50° aniversário da inauguração do Concílio Ecuménico Vaticano II e da décima terceira Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, sobre o tema: «Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã». Estes acontecimentos, aos quais devemos acrescentar o vigésimo aniversário do Catecismo da Igreja Católica, constituem uma ocasião para fortalecer a fé da qual vós, queridos coirmãos, sois mestres e arautos (cf. Lumen gentium
LG 25). Saúdo-vos um por um, e manifesto o meu profundo reconhecimento ao Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos, também pelas palavras que me dirigiu, e ao Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais. O encontrar-nos juntos em Roma, no início do vosso serviço episcopal, é um momento propício para fazer uma experiência concreta da comunicação e da comunhão entre vós e, no encontro com o Sucessor de Pedro, alimentar o sentido de responsabilidade pela Igreja inteira. Com efeito, enquanto membros do Colégio episcopal deveis ter sempre uma solicitude especial pela Igreja universal, em primeiro lugar promovendo e defendendo a unidade da fé. Jesus Cristo quis confiar a missão do anúncio do Evangelho antes de tudo ao conjunto dos Pastores, que devem colaborar entre si e com o Sucessor de Pedro (cf. ibid., n. 23), a fim de que ele alcance todos os homens. Isto é particularmente urgente na nossa época, que vos interpela a ser audazes ao convidar os homens de todas as condições ao encontro com Cristo e a tornar a fé mais sólida (cf. Christus Dominus CD 12).

Que a vossa preocupação prioritária consista em promover e fomentar «um empenho eclesial mais convicto a favor de uma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé» (Carta Apostólica Porta fidei, 7). Também nisto sois chamados a favorecer e alimentar a comunhão e a colaboração entre todas as realidades das vossas dioceses. Com efeito, a evangelização não é obra de alguns especialistas, mas de todo o Povo de Deus, sob a orientação dos Pastores. Cada fiel, na e com a comunidade eclesial, deve sentir-se responsável pelo anúncio e pelo testemunho do Evangelho. Inaugurando a grandiosa assembleia do Vaticano II, o Beato João XXIII perfilava «um progresso na penetração doutrinal e na formação das consciências» e, por isso — acrescentava — «é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo» (Discurso de abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, 11 de Outubro de 1962). Poderíamos dizer que a nova evangelização começou precisamente com o Concílio, que o Beato João XXIII via como um novo Pentecostes que teria feito florescer a Igreja na sua riqueza interior e no seu ampliar-se maternalmente a todos os campos da obra humana (cf. Discurso de encerramento da primeira fase do Concílio, 8 de Dezembro de 1962). Não obstante as dificuldades dos tempos, os efeitos daquele novo Pentecostes prolongaram-se, alcançando a vida da Igreja em todas as suas expressões: da institucional à espiritual, da participação dos fiéis leigos na Igreja ao florescimento carismático e de santidade. A este propósito, não podemos deixar de pensar no próprio Beato João XXIII e no Beato João Paulo II, em numerosas figuras de bispos, de sacerdotes, de consagrados e de leigos, que adornaram o rosto da Igreja no nosso tempo.

Esta herança foi confiada também aos vossos cuidados pastorais. Deveis haurir deste património de doutrina, de espiritualidade e de santidade para formar na fé os vossos fiéis, a fim de que o seu testemunho seja mais credível. Ao mesmo tempo, o vosso serviço episcopal exige que «expliqueis a razão da vossa esperança» (cf. 1P 3,15) àqueles que estão em busca da fé ou do sentido derradeiro da vida, nos quais também «a graça age invisivelmente. Com efeito, Cristo morreu por todos e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, ou seja, a divina» (Gaudium et spes GS 22). Por isso, encorajo-vos a comprometer-vos a fim de que a todos, segundo as diversas faixas etárias e condições de vida, sejam apresentados os conteúdos essenciais da fé, de forma sistemática e orgânica, para responder inclusive às interrogações levantadas pelo nosso mundo tecnológico e globalizado. São sempre actuais as palavras do Servo de Deus Paulo vi, que afirmava: «É importante evangelizar — não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, mas de forma vital, em profundidade e isto até às suas raízes — a civilização e as culturas do homem... sempre a partir da pessoa e fazendo continuamente apelo para as relações das pessoas entre si e com Deus» (Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi EN 20). Tendo em vista esta finalidade, é fundamental o Catecismo da Igreja Católica, norma segura para o ensinamento da fé e para a comunhão no único Credo. A realidade na qual nós vivemos exige que o cristão receba uma formação sólida!

A fé exige testemunhas credíveis, que têm confiança no Senhor e se confiam a Ele para ser «sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo» (Carta Apostólica Porta fidei, 15). O Bispo, primeira testemunha da fé, acompanha o caminho dos crentes, oferecendo o exemplo de uma existência vivida no abandono confiante em Deus. Portanto, para ser mestre autorizado e arauto da fé, ele deve viver na presença do Senhor, como homem de Deus. O vosso compromisso pessoal de santidade vos conduza a assimiliar cada dia a Palavra de Deus na oração e a alimentar-vos da Eucaristia, para haurirdes desta mesa dúplice a linfa vital para o ministério. A caridade vos leve a estar próximos dos vossos sacerdotes, com aquele amor paternal que sabe sustentar, encorajar e perdoar; eles constituem os vossos primeiros e inestimáveis colaboradores para levar Deus aos homens e os homens a Deus. De igual modo, a caridade do Bom Pastor levar-vos-á a prestar atenção aos pobres e àqueles que sofrem, para os sustentar e consolar, assim como para orientar quantos perderam o sentido da vida. Estai particularmente próximos das famílias: dos pais, ajudando-os a ser os primeiros educadores da fé dos seus filhos; dos adolescentes e dos jovens, para que possam construir a sua vida sobre a rocha da amizade com Cristo. Tende uma atenção especial pelos seminaristas, preocupando-vos por que sejam formados humana, espiritual, teológica e pastoralmente, a fim de que as comunidades possam dispor de Pastores maduros e jubilosos, de guias seguros na fé.

Caros Irmãos, o Apóstolo Paulo escrevia a Timóteo: «Busca com empenhamento a justiça, a fé, a caridade, a paz... Não convém a um servo do Senhor altercar; ao contrário, seja ele condescendente com todos, capaz de ensinar, paciente... É com docilidade que deve corrigir» (2Tm 2,22-25). Recordando estas palavras a mim tanto como a vós, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, a fim de que as Igrejas que vós estão confiadas, impelidas pelo vento do Espírito Santo, cresçam na fé e a anunciem pelos caminhos da história com renovado fervor.



AO PRIMEIRO GRUPO DE BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL FRANCESA EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» 21 de Setembro de 2012

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Palácio Apostólico de Castel Gandolfo

Sexta-feira, 21 de Setembro de 2012




Senhor Cardeal
Queridos irmãos no Episcopado!

Obrigado, eminência pelas suas palavras. É a primeira vez que nos encontramos depois da minha visita apostólica de 2008 ao vosso bonito país, que me é muito querido. Nessa ocasião ressaltei as raízes cristãs da França que, desde as suas origens, acolheu a mensagem do Evangelho. Esta antiga herança constitui uma base sólida sobre a qual podeis apoiar os vossos esforços para continuar a anunciar incansavelmente a Palavra de Deus no espírito que anima a nova evangelização, tema da próxima Assembleia sinodal. A França possui uma longa tradição espiritual e missionária, a ponto que pôde ser qualificada pelo beato João Paulo II, «educadora dos povos» (Homilia, Le Bourget, 1º de Junho de 1980). Os desafios de uma sociedade amplamente secularizada convidam a procurar uma resposta corajosa e optimista, propondo com audácia e criatividade a novidade permanente do Evangelho.

Foi nesta perspectiva, a fim de estimular os fiéis de todo o mundo, que proclamei o Ano da fé, ressaltando deste modo o cinquentenário da abertura dos trabalhos do Concílio Vaticano II. «O Ano da fé é convite para uma conversão autêntica e renovada ao Senhor, único Salvador do mundo» (Porta fidei, 6). A figura do Bom Pastor que conhece as suas ovelhas, parte em busca da que se perdeu, e ama-as ao ponto de dar a sua vida por elas, é uma das mais sugestivas do Evangelho (cf.
Jn 10). Ela aplica-se antes de tudo aos Bispos na sua solicitude por todos os fiéis cristãos, mas igualmente aos sacerdotes, seus cooperadores. A sobrecarga de trabalho que pesa sobre os vossos sacerdotes cria uma obrigação acrescida de «velar pelo seu bem, quer material quer sobretudo espiritual» (Presbyterorum ordinis PO 7), pois recebestes a responsabilidade pela santidade dos vossos sacerdotes, conscientes de que, como vos disse em Lourdes, «a sua vida espiritual é o fundamento da sua vida apostólica» e, por conseguinte, a garantia da fecundidade de todo o seu ministério. Por conseguinte, o bispo diocesano está chamado a manifestar uma solicitude particular em relação aos seus sacerdotes (cf. CIC, CIC 384), de modo mais particular os que são de recente ordenação e os que se encontram em necessidade ou são idosos. Não posso deixar de encorajar os vossos esforços para os acolher incansavelmente, para agir com eles com um coração de pai e de mãe e «considerá-los como filhos e amigos» (Lumen gentium LG 28). Tereis a preocupação de pôr à sua disposição os meios de que poderão precisar para levar uma vida espiritual e intelectual e encontrar também o apoio da vida fraterna. Congratulo-me convosco pelas iniciativas que empreendestes neste sentido e que se apresentam como um prolongamento do Ano sacerdotal, colocado sob a protecção do santo Cura d’Ars. Ele foi uma ocasião excelente para contribuir para o desenvolvimento deste aspecto espiritual da vida do sacerdote. Prosseguir nesta direcção é muito positivo para a santidade de todo o Povo de Deus. Sem dúvida, hoje em dia, os operários do Evangelho são poucos. Portanto, é urgente pedir ao Pai que envie trabalhadores para a sua messe (cf. Lc 10,2). É preciso rezar e fazer rezar por esta intenção e encorajo-vos a seguir com maior atenção a formação dos seminaristas.

Desejais que os grupos paroquiais que estais a realizar permitam uma qualidade das celebrações e uma experiência comunitária, fazendo ao mesmo tempo apelo a uma nova valorização do domingo. Realçastes isto na vossa nota sobre «os leigos em missão eclesial na França». Eu mesmo tive a ocasião de ressaltar várias vezes este aspecto essencial para todos os baptizados. Todavia, a solução dos problemas pastorais diocesanos que se apresentam não seria limitar-se a questões de organização, por mais importantes que sejam. Existe o risco de dar importância à busca da eficiência com uma espécie de burocratização da pastoral, concentrando-se sobre a estrutura, a organização e os programas, que se podem tornar «auto-referenciais», para uso exclusivo dos membros destas estruturas. Elas teriam impacto unicamente sobre a vida dos cristãos afastados da prática regular. A evangelização exige, em contrapartida, que se comece a partir do encontro com o Senhor, num diálogo estabelecido na oração, e que haja uma concentração no testemunho que deve ser dado para ajudar os nossos contemporâneos a reconhecer e redescobrir os sinais da presença de Deus. Sei também que um pouco em todas as partes do vosso país são propostos aos fiéis tempos de adoração. Alegro-me profundamente por isto e encorajo-vos a fazer de Cristo presente na Eucaristia a fonte e o ápice da vida cristã (cf. Lumen gentium LG 1). É portanto necessário que na reorganização pastoral, seja sempre confirmada a função do sacerdote, a qual «enquanto estreitamente unida à Ordem episcopal, participa da autoridade mediante a qual o próprio Cristo edifica, santifica e governa o seu Corpo» (Presbyterorum ordinis PO 2).

Congratulo-me pela generosidade dos leigos chamados a participar em trabalhos e cargos da Igreja (cf. CIC 228 § 1), dando assim provas de uma disponibilidade pela qual ela é profundamente grata. Mas por um lado, convém recordar que a tarefa específica dos fiéis leigos é a animação cristã das realidades temporais no seio das quais eles agem por sua própria iniciativa e de modo autónomo, à luz da fé e do ensinamento da Igreja (cf. Gaudium et spes GS 43). É por conseguinte necessário velar pelo respeito da diferença entre o sacerdócio comum de todos os fiéis e o sacerdócio ministerial dos que foram ordenados ao serviço da comunidade, diferença que não é apenas de grau, mas de natureza (cf. Lumen gentium LG 10). Por outro lado, devemos conservar a fidelidade autêntica e professada por toda a Igreja. Com efeito, «a própria profissão da fé é um acto simultaneamente pessoal e comunitário, e o primeiro sujeito da fé é a Igreja» (Porta fidei, 10). Esta profissão da fé tem na liturgia a sua expressão mais alta. É importante que esta colaboração esteja sempre inserida no âmbito da comunhão eclesial em volta do bispo, que é o seu garante, comunhão mediante a qual a Igreja se manifesta una, santa, católica e apostólica.

Celebrais este ano o sexto centenário do nascimento de Joana d’Arc. A respeito dela ressaltei que «um dos aspectos mais originais da santidade desta Filha é precisamente este vínculo entre a experiência mística e a missão política. Depois dos anos de vida escondida e de maturação interior seguiram-se dois anos de vida pública, breves mas intensos: um ano de acção e um ano de paixão» (Audiência geral, 26 de Janeiro de 2011). Nela tendes um modelo de santidade laico ao serviço do bem comum.

Entre outras coisas gostaria de frisar a interdependência que existe «entre o progresso da pessoa humana e o desenvolvimento da própria sociedade» (Gaudium et spes GS 25), pelo facto de que a família «é o fundamento da sociedade» (ibidem, GS 52). Ela está ameaçada sob vários aspectos, devido a uma concepção da natureza humana que se manifesta defeituosa. Defender a vida e a família na sociedade não é minimamente retrógrado, mas ao contrário profético pois significa promover os valores que permitem o pleno desenvolvimento da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26). Neste aspecto temos um verdadeiro desafio a enfrentar. Com efeito, «o bem que a Igreja e toda a sociedade esperam do matrimónio e da família nele fundada é muito grande para que não nos comprometamos totalmente neste âmbito pastoral específico. Matrimónio e família são instituições que devem ser promovidas e garantidas contra qualquer equívoco possível em relação à sua verdade, porque qualquer dano que lhe seja causado constitui de facto uma ferida para a convivência humana como tal» (Sacramentum caritatis, 29).

Por outro lado, o bispo diocesano tem o dever de «defender a unidade de toda a Igreja» (CIC 392 § 1), na porção do Povo de Deus que lhe foi confiada, mesmo que no seu interior sejam legitimamente expressas diferentes sensibilidades que merecem ser objecto de uma igual solicitude pastoral. As expectativas particulares das novas gerações exigem que lhe seja proporcionada uma catequese apropriada, para que encontrem o seu lugar na comunidade crente. Senti-me feliz por ter encontrado um número considerável de jovens franceses na Jornada mundial da Juventude em Madrid, com muitos dos seus pastores, sinal de um novo dinamismo da fé, que abre a porta à esperança. Encorajo-vos a prosseguir o vosso compromisso tão prometedor, apesar das dificuldades.

Ao terminar, gostaria ainda de vos manifestar o meu encorajamento pela iniciativa Diaconia 2013, mediante a qual pretendeis estimular as vossas comunidades diocesanas e locais, assim como cada fiel, a pôr no centro do dinamismo eclesial o serviço ao irmão, sobretudo ao mais frágil. Que o serviço ao irmão, enraizado no amor de Deus, suscite em todos os vossos diocesanos a preocupação por contribuir, cada um nas suas possibilidades, para fazer da humanidade, em Cristo, uma só família, fraterna e solidária!

Estimados irmãos no Episcopado, conheço o vosso amor e serviço à Igreja, e dou graças a Deus pelos esforços que empregais quotidianamente para anunciar e tornar eficaz nas vossas comunidades a palavra de vida do Evangelho. Que pela intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, padroeira do vosso amado país, e das santas co-padroeiras Joana d’Arc e Teresa de Lisieux, Deus vos abençoe a vós e à França!



AOS MEMBROS DA COMISSÃO EXECUTIVA DA INTERNACIONAL DEMOCRACIA-CRISTÃ Sábado, 22 de Setembro de 2012

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Sala dos Suíços do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo


Senhor Presidente
Ilustres Parlamentares Distintas Senhoras e Senhores!

Estou feliz por vos receber, durante os trabalhos da Comissão Executiva da Internacional Democracia-cristã e, antes de tudo, desejo transmitir uma saudação cordial às numerosas Delegações, provenientes de muitas nações do mundo. Saúdo de modo particular o Presidente, Dep. Pier Ferdinando Casini, a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu em vosso nome. Passou um quinquénio desde o nosso encontro precedente, e neste tempo o compromisso dos cristãos na sociedade não cessou de ser fermento vivo para uma melhoria dos relacionamentos humanos e das condições de vida. Este compromisso não deve retroceder nem hesitar mas, ao contrário, há-de ser assumido com vitalidade renovada, em consideração da persistência e, sob determinados aspectos, do agravamento das problemáticas que estão à nossa frente.

Adquire um relevo crescente a situação económica contemporânea, cujas complexidade e gravidade justamente preocupam, mas diante das quais o cristão é chamado a agir e a manifestar-se com espírito profético, ou seja, capaz de captar nas transformações em curso a incessante e ao mesmo tempo misteriosa presença de Deus na história, assumindo assim com realismo, confiança e esperança as novas responsabilidades emergentes. «A crise obriga-nos a projectar de novo o nosso caminho, a impor-nos regras novas e encontrar novas formas de empenhamento [...] Assim, a crise torna-se ocasião de discernimento e elaboração de nova planificação» (Encíclica Caritas in veritate ).

É nesta chave, confiante e não resignada, que o compromisso civil e político pode receber um estímulo e um impulso renovados na busca de um sólido fundamento ético, cuja ausência no campo económico contribuiu para criar a actual crise financeira global (cf. Discurso no Westminster Hall, Londres, 17 de Setembro de 2010). Portanto a contribuição política e institucional, da qual vós sois portadores, não poderá limitar-se a responder às urgências de uma lógica de mercado, mas deverá continuar a considerar como central e imprescindível a busca do bem comum, rectamente entendido, assim como a promoção e a tutela da dignidade inalienável da pessoa humana. Hoje ressoa actual como nunca o ensinamento conciliar, segundo o qual «a ordem das coisas deve estar subordinada à ordem das pessoas, e não o contrário» (Gaudium et spes
GS 26). Uma ordem da pessoa, que «tem por base a verdade, está construída na justiça e é vivificada pelo amor» (Catecismo da Igreja Católica CEC 1 CEC 912), e cujo discernimento não pode proceder sem uma atenção constante à Palavra de Deus e ao Magistério da Igreja, de forma particular por parte daqueles que, como vós, inspiram a sua actividade nos princípios e nos valores cristãos.

Infelizmente, são muitas e ruidosas as ofertas de respostas apressadas, superficiais e a curto prazo às necessidades mais fundamentais e profundas da pessoa. Isto faz considerar tristemente actual a admoestação do Apóstolo, quando chama a atenção do discípulo Timóteo, para o dia «em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Desejosos de ouvir novidades, escolherão para si uma multidão de mestres, ao sabor das suas paixões, e hão-de afastar os ouvidos da verdade, aplicando-os às fábulas» (2Tm 4,3-4).

Os âmbitos nos quais se exerce este discernimento decisivo são precisamente relativos aos interesses mais vitais e delicados da pessoa, onde se fazem as escolhas fundamentais inerentes ao sentido da vida e à busca da felicidade. Além disso, tais âmbitos não são separados, mas profundamente interligados, subsistindo entre eles um continuum evidente, constituído pelo respeito da dignidade transcendente da pessoa humana (cf. Catecismo da Igreja Católica CEC 1 CEC 929), radicada no seu ser imagem do Criador e fim último de toda a justiça social autenticamente humana. O respeito pela vida em todas as suas fases, desde a concepção até ao seu fim natural — com a consequente rejeição do aborto provocado, da eutanásia e de cada procedimento eugenético — é um compromisso que se entrelaça efectivamente com o do respeito do matrimónio, como união indissolúvel entre um homem e uma mulher e, por sua vez, como fundamento da comunidade de vida familiar. É na família, «fundada sobre o matrimónio e aberta à vida» (Discurso às Autoridades, Milão, 2 de Junho de 2012), que a pessoa experimenta a partilha, o respeito e o amor gratuito, recebendo ao mesmo tempo — desde a criança até ao enfermo, ao idoso — a solidariedade que lhe é necessária. E é ainda a família que constitui principal e mais incisivo lugar educativo da pessoa, através dos pais que se põem ao serviço dos filhos para os ajudar a dar («e-ducere») o melhor de si mesmos. A família, célula originária da sociedade, é portanto raiz que alimenta não apenas a pessoa individualmente, mas também as próprias bases da convivência social. Por conseguinte, o Beato João Paulo II tinha justamente incluído entre os direitos humanos o «direito a viver numa família unida e num ambiente moral favorável ao desenvolvimento da própria personalidade» (Encíclica Centesimus annus CA 47).

Por conseguinte, um progresso autêntico da sociedade humana não poderá prescindir de políticas de tutela e promoção do matrimónio e da comunidade que dele deriva, políticas que não só os Estados mas também a própria Comunidade internacional deverá aplicar, com a finalidade de inverter a tendência de um isolamento crescente do indivíduo, fonte de sofrimento e de aridez, tanto para o indivíduo como para a própria comunidade.

Ilustres Senhoras e Senhores, se é verdade que a defesa e a promoção da dignidade da pessoa humana são «tarefa a que estão rigorosa e responsavelmente obrigados os homens e as mulheres em todas as conjunturas da história» (Catecismo da Igreja Católica CEC 1 CEC 929), é igualmente verdade que tal responsabilidade diz respeito de modo particular a quantos são chamados a desempenhar uma função de representação. Especialmente se forem animados pela fé cristã, eles devem ser «capazes de transmitir às gerações vindouras razões de viver e de esperar» (Gaudium et spes GS 31). Neste sentido, ressoa de modo útil a admoestação do livro da Sabedoria, segundo o qual «aqueles que dominam serão julgados rigorosamente» (Sg 6,5); contudo, não se trata de uma admoestação feita para assustar, mas para estimular e encorajar os governantes, a todos os níveis, a concretizar qualquer possibilidade de bem de que são capazes, em conformidade com a medida e a missão que o Senhor confia a cada um.

Portanto, faço votos a fim de que cada um de vós continue a assumir com entusiasmo e determinação o compromisso pessoal e público, e asseguro a recordação orante para que Deus vos abençoe, bem como aos vossos familiares. Obrigado pela atenção!




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