Bento XVI Homilias 50407


Quinta-feira Santa, 5 de Abril de 2007: SANTA MISSA «IN CAENA DOMINI»

50417

Basílica de São João de Latrão




Caros irmãos e irmãs

Na leitura do Livro do Êxodo, que acabamos de ouvir, é descrita a celebração da Páscoa de Israel, do modo como na Lei mosaica tinha encontrado a sua forma vinculante. Na origem, pode ter existido uma festa de Primavera dos nómades. Todavia, para Israel ela transformou-se numa festa de comemoração, de acção de graças e, ao mesmo tempo, de esperança. No centro da ceia pascal, ordenada segundo determinadas regras litúrgicas, encontrava-se o cordeiro como símbolo da libertação da escravidão no Egipto. Por isso, o haggadah pascal fazia parte integrante da refeição cujo prato-base era cordeiro: a recordação narrativa do facto de que foi o próprio Deus quem libertou Israel "com as mãos elevadas". Ele, o Deus misterioso e escondido, revelara-se mais forte do que o faraó, com todo o poder que ele tinha à sua disposição. Israel não devia esquecer que Deus tinha assumido pessoalmente a história do seu povo, e que esta história estava continuamente fundamentada na comunhão com Deus. Israel não devia esquecer-se de Deus.

A palavra da comemoração estava circundada por palavras de louvor e de acção de graças, tiradas dos Salmos. O agradecer e o bendizer a Deus alcançavam o seu ápice na berakha, que em grego se chama eulogia, ou eucaristia: bendizer a Deus torna-se bênção para aqueles que bendizem. A oferenda apresentada a Deus volta abençoada para o homem. Tudo isto lançava uma ponte do passado ao presente e rumo ao futuro: ainda não se tinha completado a libertação de Israel. A nação ainda sofria como pequeno povo no campo das tensões entre os grandes poderes.

Assim, recordar-se com gratidão da acção de Deus no passado tornava-se súplica e, ao mesmo tempo, esperança: Completai aquilo que começastes! Concedei-nos a liberdade definitiva!

Jesus celebrou esta ceia, de múltiplos significados, juntamente com os seus na noite precedente à sua Paixão. Com base neste contexto, temos que compreender a nova Páscoa, que Ele nos entregou na Sagrada Eucaristia. Nas narrações dos Evangelistas existe uma aparente contradição entre, por um lado, o Evangelho de João e aquilo que, por outro, nos comunicam Mateus, Marcos e Lucas. Segundo João, Jesus morreu na cruz precisamente no momento em que, no templo, eram imolados os cordeiros pascais. A sua morte e o sacrifício dos cordeiros coincidiram. Porém, isto significa que Ele morreu na vigília da Páscoa e, portanto, não pôde pessoalmente celebrar a ceia pascal pelo menos é assim que parece. No entanto, segundo os três Evangelhos sinópticos, a última Ceia de Jesus foi uma ceia pascal, em cuja forma tradicional Ele inseriu a novidade da oferta do seu corpo e do seu sangue. Até há alguns anos, esta contradição parecia insolúvel. A maioria dos exegetas julgava que João não queria comunicar-nos a verdadeira data histórica da morte de Jesus, mas tinha escolhido uma data simbólica, para tornar assim evidente a verdade mais profunda: Jesus é o novo e autêntico Cordeiro, que derramou o seu sangue por todos nós.

Entretanto, a descoberta dos escritos de Qumran levou-nos a uma possível solução convincente que, embora ainda não seja aceite por todos, contudo possui um elevado grau de probabilidade. Agora, podemos dizer que quanto foi mencionado por João é historicamente exacto. Jesus deveras derramou o seu sangue na vigília da Páscoa, na hora da imolação dos cordeiros. Porém, Ele celebrou a Páscoa com os seus discípulos, provavelmente, segundo o calendário de Qumran, portanto, pelo menos um dia antes celebrou-a sem o cordeiro, à maneira da comunidade de Qumran, que não reconhecia o templo de Herodes e estava à espera do novo templo. Portanto, Jesus celebrou a Páscoa sem o cordeiro, aliás, não sem o cordeiro: em lugar do cordeiro, entregou-se a si mesmo, o seu corpo e o seu sangue. Assim, antecipou a sua morte de modo coerente com a sua palavra: "Ninguém me tira a vida; sou Eu que a dou por mim mesmo" (
Jn 10,18). No momento em que oferecia aos discípulos o seu corpo e o seu sangue, Ele cumpria realmente esta afirmação. Ele mesmo ofereceu a própria vida. Somente assim a Páscoa alcançaria o seu verdadeiro sentido.

Nas suas catequeses eucarísticas, certa vez São João Crisóstomo escreveu: "O que estás a dizer, Moisés? O sangue de um cordeiro purifica os homens? Salva-os da morte? Como pode o sangue de um animal purificar os homens, salvar os homens, ter o poder contra a morte? Com efeito continua São João Crisóstomo o cordeiro podia constituir somente um gesto simbólico e, portanto, a expressão da expectativa e da esperança em Alguém que podia realizar aquilo de que o sacrifício de um animal não era capaz. Jesus celebrou a Páscoa sem cordeiro e sem templo e, todavia, não sem cordeiro nem sem templo". Ele mesmo era o Cordeiro esperado, o verdadeiro, como João Baptista tinha prenunciado no início do ministério público de Jesus: "Aí está o Cordeiro de Deus, que vai tirar o pecado do mundo!" (Jn 1,29). E Ele mesmo é o templo verdadeiro, o templo vivo onde Deus tem a sua morada e onde nós podemos encontrar Deus e adorá-lo. O seu sangue, o amor daquele que é Filho de Deus e, ao mesmo tempo, verdadeiro homem, um de nós, aquele sangue pode salvar-nos. O seu amor, o amor no qual Ele se entrega livremente por nós, é que nos salva. O gesto nostálgico, de certa forma desprovido de eficácia, que era a imolação do cordeiro inocente e imaculado, encontrou a resposta naquele que por nós se tornou Cordeiro e, contemporaneamente, Templo.

Assim, no centro da nova Páscoa de Jesus encontrava-se a Cruz. Dela provinha o novo dom por Ele oferecido. E deste modo ela permanece na Sagrada Eucaristia, onde podemos celebrar a nova Páscoa com os Apóstolos ao longo dos tempos. É da Cruz de Cristo que provém o dom.

"Ninguém me tira a vida; sou Eu que a dou por mim mesmo". Agora, Ele oferece-a a nós. O haggadah pascal, a comemoração da acção salvífica de Deus, tornou-se memória da cruz e da ressurreição de Cristo uma memória que não recorda simplesmente o passado, mas atrai-nos à presença do amor de Cristo. E assim a berakha, a oração de bênção e de acção de graças de Israel, tornou-se a nossa Celebração Eucarística, em que o Senhor abençoa as nossas oferendas pão e vinho para, nelas, se entregar a si mesmo. Oremos ao Senhor para que nos ajude a compreender cada vez mais profundamente este mistério maravilhoso, a fim de o amarmos sempre mais e, nele, para que O amemos cada vez mais. Peçamos-lhe que nos atraia com a Sagrada Comunhão cada vez mais para junto de si. Rezemos para que Ele nos ajude a não conservar a vida para nós mesmos, mas a oferecê-la a Ele e, desta forma, a trabalhar juntamente com Ele, a fim de que os homens encontrem a vida a vida verdadeira, que só pode vir daquele que Ele mesmo é, o Caminho, a Verdade e a Vida!

Amém.





Sábado Santo 7 de Abril de 2007: VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA

7407

Basílica de São Pedro





Queridos irmãos e irmãs!

Desde os tempos mais antigos a liturgia do dia de Páscoa começa com as palavras: Resurrexi et adhuc tecum sum — ressuscitei e estou sempre contigo; puseste sobre mim a tua mão. A liturgia vê nisto a primeira palavra do Filho dirigida ao Pai depois da ressurreição, depois da volta da noite da morte ao mundo dos vivos. A mão do Pai sustentou-O também nesta noite, e assim Ele pode levantar-se, ressuscitar.

A palavra encontra-se no Salmo 138 e ali tem inicialmente um significado distinto. Este Salmo é um canto de admiração pela onipotência e onipresença de Deus, um canto de confiança naquele Deus que jamais nos deixa cair das suas mãos. E suas mãos são boas mãos. O orante imagina uma viagem através de todas as dimensões do universo — que lhe acontecerá? “Se subir aos céus, lá Vos encontro, se descer aos infernos, igualmente. Mesmo que me aposse das asas da aurora, e for morar nos confins do mar, mesmo aí, a Vossa mão me conduz, e a vossa dextra me segura. Se eu disser: “ao menos as trevas me cobrirão...”, nem sequer as trevas serão bastante escuras para Vós [...] tanto faz a luz como as trevas” (
Ps 139,8-12[138], 8-12).

No dia de Páscoa a Igreja nos diz: Jesus Cristo cumpriu para nós esta viagem através das dimensões do universo. Na Carta aos Efésios lemos que Ele desceu nas regiões mais profundas da terra e que Aquele que desceu é o mesmo que também subiu acima de todos os céus para encher o universo (cf. Ep 4,9-10). Deste modo a visão do Salmo tornou-se realidade. Na escuridão impenetrável da morte Ele entrou como luz – a noite fez-se luminosa como o dia, e a trevas tornaram-se luz. Por isso a Igreja justamente pode considerar a palavra de agradecimento e de confiança como palavra do Ressuscitado dirigida ao Pai: “Sim, viajei até às extremas profundezas da terra, no abismo da morte e trouxe a luz; e agora ressuscitei e permaneço para sempre seguro pelas tuas mãos”. Mas esta palavra do Ressuscitado ao Pai tornou-se também uma palavra que o Senhor dirige a nós: “Ressuscitei e estou contigo para sempre”, diz a cada um de nós. A minha mão de mantém. Onde quer que possas cair, cairás em minhas mãos. Estou presente até mesmo nas portas da morte. Onde ninguém já não pode acompanhar-te e onde nada podes levar, ali eu te espero e transformo para ti as trevas em luz.

Esta palavra do Salmo, lida como diálogo do Ressuscitado conosco, é ao mesmo tempo uma explicação daquilo que acontece no Batismo. De fato, o Batismo é mais do que um lavacro, ou uma purificação. É mais do que a inserção numa comunidade. É um novo nascimento. Um reinício da vida. A passagem da Carta aos Romanos, que acabamos de ouvir, diz com palavras misteriosas que no Batismo fomos “enxertados” de forma semelhante à morte de Cristo. No Batismo nos doamos a Cristo – Ele nos assume em si, para que depois não vivamos mais para nós mesmos, mas graças a Ele, com Ele e n'Ele; para que vivamos com Ele e, assim, para os outros. No Batismo abandonamos a nós mesmos, depomos a nossa vida em suas mãos, para poder dizer com S. Paulo: “Já não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim”. Se nos doamos deste modo, aceitando uma espécie de morte do nosso eu, então isto significa também que o confim entre morte e vida se torna permeável. Tanto nesta vida como depois da morte estamos com Cristo e, por isso, daquele momento em diante, a morte já não é um verdadeiro limite. Paulo no-lo diz de forma clara na sua Carta aos Filipenses: “Para mim o viver é Cristo. Mas se permaneço nesta vida, ainda posso trazer fruto. Assim, vejo-me apertado entre estas duas coisas: ser libertado – ou seja, justiçado – e ser com Cristo, seria bem melhor; mas permanecer nesta vida é mais necessário para vós” (cf. Ph 1,21ss.). Tanto nesta vida como depois da morte ele está com Cristo – já não existe uma verdadeira diferença. Sim, é certo: “Estais à minha frente e atrás de mim, sobre mim repousa a Vossa mão”. Aos Romanos, Paulo escreveu: “Nenhum de nós vive para si mesmo, e nenhum de nós morre para si mesmo [...] Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,7ss.).

Queridos batizandos, esta é a novidade do Batismo: nossa vida pertence a Cristo, não a nós mesmos. Mas precisamente por isso não estamos sós nem sequer na morte, mas estamos com Ele que vive sempre. No Batismo, junto com Cristo, já fizemos a viagem cósmica até às profundezas da morte. Acompanhados por Ele, aliás, acolhidos por Ele no seu amor, nos libertamos do medo. Ele nos envolve e nos leva, onde quer que formos – Ele que é a própria Vida.

Voltemos à noite do Sábado Santo. No Credo professamos a respeito do caminho de Cristo: “Desceu à mansão dos mortos”. O que acontece então? Visto que não conhecemos o mundo da morte, podemos representar este processo de superação da morte somente com imagens que permanecem sempre pouco apropriadas. Porém, com toda a sua insuficiência, elas nos ajudam a entender algo do mistério. A liturgia aplica à descida de Jesus na noite da morte a palavra do Sl 24 [23]: “Levantai, ó pórticos, os vossos dintéis, levantai-vos, ó pórticos eternos!” A porta da morte está fechada, ninguém dali pode voltar para trás. Não existe uma chave para esta porta férrea. Cristo, porém, possui a chave. A sua Cruz abre de par em par as portas da morte, as portas irrevogáveis. Elas agora já não são intransponíveis. A sua Cruz, a radicalidade do seu amor é a chave que abre esta porta. O amor d'Aquele que, sendo Deus, se fez homem para poder morrer – este amor tem a força para abrir esta porta. Este amor é mais forte que a morte. Os ícones pascais da Igreja oriental mostram como Cristo entra no mundo dos mortos. A sua veste é luz, porque Deus é luz. “A noite é clara como o dia, as trevas são como a luz” (cf. Ps 139,12 [138], 12). Jesus que entra no mundo dos mortos leva os estigmas: as suas feridas, os seus padecimentos tornaram-se poder, são amor que vence a morte. Ele encontra Adão e todos os homens que esperam na noite da morte. À sua vista parece até ouvir a oração de Jonas: “Clamei a vós do meio da morada dos mortos, e ouvistes a minha voz” (Jn 2,3). O Filho de Deus na encarnação fez-se uma só coisa com o ser humano – com Adão. Mas só naquele momento, em que cumpre o extremo ato de amor descendo na noite da morte, Ele cumpre o caminho da encarnação. Com a sua morte Ele leva Adão pela mão, leva todos os homens em expectativa para a luz.

Contudo, agora, pode-se perguntar: Mas o que significa esta imagem? Que novidade realmente aconteceu ali através de Cristo? Sendo a alma do homem por si própria imortal desde a criação, qual foi a novidade que Cristo trouxe? Sim, a alma é imortal, porque o homem de forma singular está na memória e no amor de Deus, mesmo depois da sua queda. Mas a sua força não basta para elevar-se até Deus. Não temos asas que poderiam levar-nos até aquela altura. Porém, nada pode contentar o homem eternamente, se não o estar com Deus. Uma eternidade sem esta união com Deus seria uma condenação. O homem não consegue chegar ao alto, mas deseja-o: “Clamei a vós...” Só o Cristo ressuscitado pode elevar-nos até à união com Deus, onde nossas forças não podem chegar. Ele carrega realmente a ovelha perdida sobre os seus ombros e a leva para casa. Vivemos sustentados pelo seu Corpo, e em comunhão com o seu Corpo alcançamos o coração de Deus. E só assim a morte é vencida, somos livres e nossa vida é esperança.

Este é o júbilo da Vigília Pascal: nós somos livres. Mediante a ressurreição de Jesus o amor revelou-se mais forte do que a morte, mais forte do que o mal. O amor O fez descer e, ao mesmo tempo, é a força pela qual Ele se eleva. A força através da qual nos leva consigo. Unidos ao seu amor, levados sobre as asas do amor, como pessoas que amam descemos juntos com Ele nas trevas do mundo, sabendo que precisamente assim também nos elevamos com Ele. Rezemos, portanto, nesta noite: Senhor, mostra hoje também que o amor é mais forte do que o ódio. Que é mais forte do que a morte. Desce também nas noites e na mansão dos mortos deste nosso tempo moderno e segura pela mão aqueles que esperam. Leva-os para a luz! Permanece também comigo nas minhas noites escuras e leva-me para fora! Ajuda-me, ajuda-nos a descer contigo na escuridão daqueles que estão à espera, que das profundezas gritam por ti! Ajuda-nos a levar-lhes a tua luz! Ajuda-nos a chegar ao “sim” do amor, que nos faz descer e por isso mesmo elevevarmo-nos juntamente contigo! Amém.





Domingo, 15 de Abril de 2007: DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRIDA E VIGÍLIA DO SEU OCTOGÉSIMO ANIVERSÁRIO

15407

II Domingo de Páscoa e da Divina Misericórdia



Queridos irmãos e irmãs!

Segundo uma antiga tradição, o domingo de hoje tem o nome de Domingo "in Albis". Neste dia, os neófitos da vigília pascal vestiam mais uma vez a sua veste branca, símbolo da luz que o Senhor lhes tinha doado no Baptismo. Em seguida teriam deposto a veste branca, mas a nova luminosidade que lhes foi comunicada tinham que a incluir na sua vida quotidiana; a chama delicada da verdade e do bem que o Senhor tinha acendido neles, deviam conservá-la diligentemente para assim levar a este nosso mundo algo da luminosidade e da bondade de Deus.

O Santo Padre João Paulo II quis que fosse celebrada neste domingo a Festa da Divina Misericórdia: na palavra "misericórdia", ele encontrava resumido e novamente interpretado para o nosso tempo todo o mistério da Ressurreição. Ele viveu sob dois regimes ditatoriais e, no contacto com a pobreza, a necessidade e a violência, experimentou profundamente o poder das trevas, pelas quais o mundo também neste nosso tempo está afligido. Mas experimentou também, e não menos fortemente, a presença de Deus que se opõe a todas estas forças com o seu poder totalmente diverso e divino: com o poder da misericórdia. É a misericórdia que põe um limite ao mal. Nela expressa-se a natureza muito peculiar de Deus a sua santidade, o poder da verdade e do amor. Há dois anos, depois das primeiras Vésperas desta Festa, João Paulo II terminava a sua existência terrena. Ao morrer ele entrou na luz da Divina Misercórdia da qual, além da morte e a partir de Deus, agora nos fala de modo novo. Tende confiança diz-nos ele na Divina Misericórdia! A Misericórdia é a veste de luz que o Senhor nos concedeu no Baptismo. Não devemos deixar que esta luz se apague; ao contrário, ela deve crescer em nós todos os dias, para levar ao mundo o feliz anúncio de Deus.

Precisamente nestes dias iluminados de modo particular pela luz da divina misericórdia, ocorre uma coincidência para mim significativa: posso dirigir o meu olhar para trás, para os 80 anos de vida. Saúdo quantos estão aqui reunidos para celebrar comigo esta circunstância. Saúdo antes de tudo os Senhores Cardeais, dirigindo um pensamento de gratidão ao Decano do Colégio Cardinalício, o Senhor Cardeal Angelo Sodano, que se fez competente intérprete dos sentimentos comuns. Saúdo os Arcebispos e Bispos, entre os quais os Auxiliares da Diocese de Roma, da minha Diocese; saúdo os Prelados e os outros membros do Clero, os Religiosos e as Religiosas e todos os fiéis presentes. Dirijo um deferente e grato pensamento às Personalidades políticas e aos membros do Corpo Diplomático, que me quiseram honrar com a sua presença. Por fim, saúdo com afecto fraterno, o enviado pessoal do Patriarca ecuménico Bartolomeu I, Sua Eminência Ioannis, Metropolita de Pergamo, expressando apreço pelo gesto gentil e desejando que o diálogo teológico católico-ortodoxo possa prosseguir com renovado entusiasmo.

Estamos aqui reunidos para reflectir sobre o cumprimento de um breve período da minha existência. Obviamente, a liturgia não deve servir para falar do próprio eu, de si mesmo; todavia, a própria vida pode servir para anunciar a misericórdia de Deus. "Vinde, ouvi e narrarei a todos vós... aquilo que Ele fez para mim", diz o Salmo (
Ps 65,16[66], 16). Sempre considerei um grande dom da Misericórdia Divina que o nascimento e o renascimento me tenham sido concedidos, por assim dizer, juntos, no mesmo dia, no sinal do início da Páscoa. Assim, no mesmo dia, nasci membro da minha própria família e da grande família de Deus. Sim, agradeço a Deus porque pude fazer a experiência do que significa "família"; pude fazer a experiência do que significa paternidade, de forma que a palavra sobre Deus como Pai se tornou para mim compreensível a partir de dentro; com base na experiência humana foi-me aberto o acesso ao grande e benévolo Pai que está no céu. Diante dele nós temos uma responsabilidade, mas ao mesmo tempo Ele dá-nos confiança, porque na sua justiça transparece sempre a misericórdia e a bondade com a qual aceita também a nossa debilidade e nos ampara, de forma que pouco a pouco podemos aprender a caminhar com firmeza. Agradeço a Deus porque pude fazer a experiência profunda do que significa bondade materna, sempre aberta a quem procura refúgio e precisamente assim é capaz de me dar a liberdade. Agradeço a Deus pela minha irmã e pelo meu irmão que, com a sua ajuda, me estiveram fielmente próximos ao longo da minha vida. Agradeço a Deus pelos companheiros que encontrei no meu caminho, pelos conselheiros e amigos que Ele me deu. Agradeço de modo particular porque, desde o primeiro dia, pude entrar e crescer na grande comunidade dos crentes, na qual se abre de par em par o confim entre vida e morte, entre céu e terra; agradeço por ter podido aprender tantas coisas beneficiando da sabedoria desta comunidade, na qual estão contidas não só as experiências humanas desde os tempos mais remotos: a sabedoria desta comunidade não é apenas sabedoria humana, mas nela alcança-se a própria sabedoria de Deus a Sabedoria eterna.

Na primeira leitura deste domingo é-nos narrado que, no alvorecer da Igreja nascente, o povo levava os doentes às praças, para que, quando Pedro passava, a sua sombra os cobrisse: atribuía-se a esta sombra uma força restabelecedora. Esta sombra, de facto, provinha da luz de Cristo e por isso tinha em si algo do poder da sua bondade divina. A sombra de Pedro, mediante a comunidade da Igreja católica, cobriu a minha vida desde o início, e aprendi que ela é uma sombra boa uma sombra restabelecedora, porque provém precisamente do próprio Cristo. Pedro era um homem com todas as debilidades de um ser humano, mas era sobretudo um homem cheio de uma fé apaixonada em Cristo, repleto de amor por Ele. Através da sua fé e do seu amor a força restabelecedora de Cristo, a sua força unificadora, chegou aos homens mesmo se misturada com toda a debilidade de Pedro! Procuremos também hoje a sombra de Pedro, para estar na luz de Cristo!

Nascimento e renascimento; família terrena e grande família de Deus este é o grande dom das múltiplas misericórdias de Deus, o fundamento sobre o qual nos apoiamos. Prosseguindo o caminho da vida vem ao meu encontro depois um dom novo e exigente: a chamada para o ministério sacerdotal. Na festa dos santos Pedro e Paulo de 1951 havia mais de quarenta companheiros encontrámo-nos na catedral de Freising prostrados no chão e sobre nós foram invocados todos os santos, a consciência da pobreza da minha existência perante esta tarefa para mim era pesada. Sim, era confortador o facto de que a protecção dos santos de Deus, vivos e mortos, fosse invocada sobre nós. Sabia que não iria ficar sozinho. E quanta confiança infundiam as palavras de Jesus, que depois durante a liturgia da Ordenação pudemos ouvir dos lábios do Bispo: "Já não vos chamo servos, mas amigos". Pude fazer delas uma experiência profunda. Ele, o Senhor, não é só o Senhor, mas é também amigo. Ele colocou sobre mim a sua mão e não me abandonará. Estas palavras eram então pronunciadas no momento em que é conferida a faculdade de administrar o Sacramento da reconciliação e assim, em nome de Cristo, de perdoar os pecados.

Hoje, no Evangelho, ouvimos o mesmo: o Senhor sopra sobre os seus discípulos. Ele concede-lhes o seu Espírito o Espírito Santo: "Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados...". O Espírito de Jesus Cristo é poder de perdão. É poder da Divina Misericórdia. Concede a possibilidade de iniciar de novo sempre de novo. A amizade de Jesus Cristo é amizade d'Aquele que faz de nós pessoas que perdoam, d'Aquele que perdoa também a nós, nos alivia continuamente da nossa debilidade e precisamente assim, infunde em nós a consciência do dever interior de amar, do dever de corresponder à sua confiança com a nossa fidelidade.

Ouvimos no trecho evangélico de hoje a narração do encontro do apóstolo Tomé com o Senhor ressuscitado: ao apóstolo é concedido que toque nas suas feridas para assim o reconhecer reconhece-o, além da identidade humana do Jesus de Nazaré, na sua verdadeira e mais profunda identidade: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jn 20,28). O Senhor levou consigo na eternidade as suas feridas. Ele é um Deus ferido; deixou-se ferir por amor para connosco. As feridas são para nós o sinal de que Ele nos compreende e de que se deixa ferir pelo amor para connosco. Estas suas feridas como podemos nós tocá-las na história deste nosso tempo! De facto, Ele deixa-se ferir sempre de novo por nós. Que certeza da sua misericórdia e que conforto elas significam para nós! E que segurança nos dão sobre o que Ele é: "Meu Senhor e meu Deus!". E como constituem para nós um dever de nos deixarmos por nossa vez por Ele!

As misericórdias de Deus acompanham-nos dia após dia. É suficiente que tenhamos o coração vigilante para as poder sentir. Somos demasiado inclinados para sentir apenas a fadiga quotidiana que, como filhos de Adão, nos foi imposta. Mas se abrirmos o nosso coração, então podemos, mesmo imersos nela, ver também continuamente quanto Deus é bom connosco; como Ele pensa em nós nas pequenas coisas, ajudando-nos assim a alcançar as grandes. Com o peso aumentado pela responsabilidade, o Senhor trouxe também uma ajuda nova na minha vida. Repetidamente vejo com alegria reconhecida quanto é grande o número dos que me apoiam com a sua oração; que com a sua fé e o seu amor me ajudam a desempenhar o meu ministério; que são indulgentes com a minha debilidade, reconhecendo também na sombra de Pedro a luz benéfica de Jesus Cristo.

Por isso gostaria neste momento de agradecer de coração ao Senhor e a todos vós. Gostaria de concluir esta homilia com a oração do Santo Papa Leão Magno, com aquela oração que, precisamente há trinta anos, escrevi na imagem-recordação da minha sagração episcopal. "Rezai ao nosso bom Deus, para que se digne fortalecer nos nossos dias a fé, multiplicar o amor e aumentar a paz. Que ele me torne, servo miserável, suficiente para a sua tarefa e útil para a vossa edificação e me conceda um desempenho do meu serviço que, juntamente com o tempo concedido, aumente a minha dedicação. Amém".




VISITA PASTORAL DO SANTO PADRE A VIGEVANO E PAVIA


Sábado, 21 de Abril de 2007: CONCELEBRAÇÃO PRESIDIDA NA PRAÇA DUCAL DE VIGEVANO

21407

Amados irmãos e irmãs
"Lançai a rede... e haveis de encontrar!" (
Jn 21,6).

Ouvimos de novo estas palavras de Jesus no trecho evangélico que acaba de ser proclamado. Elas estão inseridas na narração da terceira aparição do Ressuscitado aos discípulos, à margem do mar de Tiberíades, que narra a pesca milagrosa. Depois do "escândalo" da Cruz, eles tinham voltado para a sua terra e para o seu trabalho de pescadores, isto é, para aquelas actividades que desempenhavam antes de encontrarem Jesus. Tinham voltado para a vida anterior, e isto deixa entender o clima de dispersão e de confusão que reinava na sua comunidade (cf. Mc 14,27 Mt 26,31). Era difícil para os discípulos compreender aquilo que tinha acontecido. Mas, enquanto tudo parecia terminado, de novo, como no caminho de Emaús, é ainda Jesus que vem ao encontro dos seus amigos. Desta vez encontra-os à margem do mar, lugar que traz à mente as dificuldades e as tribulações da vida; encontra-os ao amanhecer, depois de uma fadiga inútil que tinha durado a noite inteira. A sua rede está vazia. De certo modo, isto aparece como o balanço da sua experiência com Jesus: tinham-no conhecido, estavam ao lado dele e Ele tinha-lhes prometido muitas coisas. No entanto, agora encontravam-se com a rede vazia, sem peixes.

Mas eis que ao amanhecer Jesus vai ao seu encontro; contudo, eles não o reconhecem imeditamente (cf. Jn 21,4). Na Bíblia, a "aurora" indica com frequência o momento de intervenções extraordinárias de Deus. No livro do Êxodo, por exemplo, "na vigília da manhã", o Senhor intervém, "da coluna de fogo e da nuvem" para salvar o seu povo em fuga do Egipto (cf. Ex 14,24). E ainda é ao surgir da manhã que Maria Madalena e as outras mulheres, tendo corrido ao sepulcro, encontram o Senhor ressuscitado. Também no trecho evangélico que estamos a meditar já passou a noite e aos discípulos provados pelo cansaço, decepcionados por não terem pescado nada, o Senhor diz: "Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar!" (Jn 21,6).

Normalmente, os peixes caem na rede durante a noite, quando é escuro, e não de manhã, quando a água já é transparente. Porém, os discípulos confiaram em Jesus e o resultado foi uma pesca milagrosamente abundante, a tal ponto que mal conseguiam arrastar a rede, devido à grande quantidade de peixes pescados (cf. Jn 21,6). Nesta altura João, iluminado pelo amor, dirige-se a Pedro e diz: "É o Senhor!" (Jn 21,7). O olhar perspicaz do discípulo que Jesus amava ícone do crente reconhece o Mestre presente à margem do lago. "É o Senhor!": esta sua profissão de fé espontânea é também para nós um convite a proclamar que Cristo ressuscitado é o Senhor da nossa vida.

Prezados irmãos e irmãs, possa esta tarde a Igreja que está em Vigevano repetir com o entusiasmo de João: Jesus Cristo "é o Senhor!". E possa a vossa Comunidade diocesana ouvir o Senhor que, através dos meus lábios, vos repete: "Lança a rede, Igreja de Vigevano, e hás-de encontrar!". Com efeito, vim ao meio de vós sobretudo para vos encorajar a serdes testemunhas destemidas de Cristo. É a confiante adesão à sua palavra que há-de tornar fecundos os vossos esforços pastorais.

Quando o trabalho na vinha do Senhor parece ser vão, como o cansaço nocturno dos Apóstolos, não se pode esquecer que Jesus é capaz de inverter tudo num momento. A página evangélica que ouvimos recorda-nos, por um lado, que temos de nos comprometer nas actividades pastorais como se o resultado dependesse totalmente dos nossos esforços. Por outro, porém, faz-nos compreender que o verdadeiro bom êxito da nossa missão é totalmente dom da Graça. Nos misteriosos desígnios da sua sabedoria, Deus sabe quando é o tempo de intervir. E então, como a dócil adesão à palavra do Senhor fez com que se enchesse a rede dos discípulos, assim em todos os tempos, também no nosso, o Espírito do Senhor pode tornar eficaz a missão da Igreja no mundo.

Caros irmãos e irmãs, é com grande alegria que me encontro no meio de vós: agradeço-vos e saúdo todos cordialmente. Saúdo-vos como representantes do Povo de Deus reunido nesta Igreja particular, que tem o seu centro espiritual na Catedral, em cujo adro estamos a celebrar a Eucaristia. Saúdo com afecto o vosso Bispo, D. Cláudio Baggini, e agradeço-lhe as cordiais palavras que me dirigiu no início da Celebração; juntamente com ele, saúdo o Metropolita Cardeal Dionigi Tettamanzi, os Bispos lombardos e os outros Prelados. Dirijo uma especial e calorosa saudação aos sacerdotes, congratulando-me pela generosidade com que desempenham o seu serviço eclesial, sem se preocupar com os cansaços e as dificuldades. Estendo a minha saudação às pessoas consagradas, aos agentes pastorais e a todos os fiéis leigos, cuja preciosa colaboração é indispensável para a vida das várias comunidades. Não pode faltar um pensamento carinhoso aos seminaristas, que são a esperança da Diocese. Depois, dirijo uma saudação deferente às Autoridades civis, às quais estou grato pela significativa mensagem de cortesia que a sua presença exprime. Enfim, o meu pensamento dirige-se aos fiéis reunidos nas várias paróquias, para acompanhar este encontro mediante a televisão, e a quantos participam nesta assembleia eucarística nas praças e nas ruas adjacentes a esta sugestiva Praça Ducal, que tem como moldura a artística fachada da Catedral. Ela foi idealizada pelo ilustre Bispo de Vigevano, D. Juan Caramuel, cientista de fama europeia, cujo 4º centenário de nascimento recordasdes solenemente nos meses passados. Esta fachada, com a sua arquitectura singular, une harmoniosamente o templo à praça e ao castelo com a sua torre, simbolizando assim a síntese admirável de uma tradição em que se entrelaçam as duas dimensões essenciais da vossa Cidade: a civil e a religiosa.

"Lançai a rede... e haveis de encontrar!" (Jn 21,6). Amada Comunidade eclesial de Vigevano, o que significa concretamente o convite de Cristo a "lançar a rede"? Significa em primeiro lugar, como para os discípulos, acreditar nele e confiar na sua palavra. Também a vós, como a eles, Jesus pede que O sigais com fé sincera e sólida. Portanto, ponde-vos à escuta da sua palavra e meditai-a todos os dias. Esta escuta dócil encontra para vós actuação concreta nas decisões do vosso último Sínodo diocesano, que terminou em 1999. No final deste caminho sinodal, o amado João Paulo II, que se encontrou convosco no dia 17 de Abril de 1999 numa Audiência especial, teve a oportunidade de vos exortar a "fazer-vos ao largo e a não ter medo de avançar ao mar aberto" (Insegnamenti, XXII, 1, 1999, pág. 764). Nunca se extinga nos vossos corações o entusiasmo missionário suscitado na vossa Comunidade diocesana por aquela Assembleia providencial, inspirada e desejada pelo saudoso Bispo D. Giovanni Locatelli, que tinha ardentemente desejado uma visita do Papa a Vigevano. Seguindo as orientações fundamentais do Sínodo e as directrizes do vosso Pastor actual, permanecei unidos entre vós e abri-vos aos vastos horizontes da evangelização.

Que vos seja de guia constante esta palavra do Senhor: "Todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jn 13,35). Carregar os pesos uns dos outros, compartilhar, colaborar, sentir-se co-responsáveis é o espírito que deve animar constantemente a vossa Comunidade. Este estilo de comunhão exige a contribuição de todos: do Bispo e dos sacerdotes, dos religiosos e das religiosas, dos fiéis leigos, das associações e dos vários grupos de compromisso apostólico. As paróquias singularmente, como peças de um mosaico, em plena sintonia entre si, formarão uma Igreja particular viva, organicamente inserida em todo o Povo de Deus. Uma contribuição indispensável para a evangelização pode ser oferecida pelas associações, as comunidades e os grupos laicais, tanto pela formação como pela animação espiritual, caritativa, social e cultural, actuando sempre em harmonia com a pastoral diocesana e segundo as indicações do Bispo. Além disso, encorajo-vos a continuar a cuidar dos jovens, tanto dos "próximos", como também daqueles que denominamos "distantes". Nesta perspectiva, não vos canseis de promover de modo orgânico e aprofundado uma pastoral vocacional que ajude os jovens na busca de um verdadeiro significado a dar à sua existência. E que dizer, enfim, da família? É o elemento-chave da vida social, pelo que somente trabalhando em favor das famílias é possível renovar o tecido da comunidade eclesial vejo que estamos de acordo e da própria sociedade civil.

Esta vossa Terra é rica de tradições religiosas, de fermentos espirituais e de uma vida cristã diligente. Ao longo dos séculos, a fé forjou o seu pensamento, a arte e a cultura, promovendo a solidariedade e o respeito pela dignidade humana. Expressão mais eloquente do que nunca, deste vosso rico património cristão, são as figuras exemplares de sacerdotes e de leigos que, com uma proposta de vida arraigada no Evangelho e no ensinamento da Igreja testemunharam, especialmente nas dificuldades sociais do final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, os autênticos valores evangélicos, como válido apoio de uma convivência livre e justa, particularmente atenta aos mais necessitados. Esta luminosa herança espiritual, redescoberta e alimentada, não pode deixar de representar um ponto de referência seguro para um serviço eficaz ao homem do nosso tempo e para um caminho de civilização e de progresso autêntico.

"Lançai a rede... e haveis de encontrar!". Este mandato de Jesus foi docilmente acolhido pelos santos e a sua existência experimentou o milagre de uma pesca espiritual abundante. Penso de modo especial nos vossos Padroeiros celestiais: Santo Ambrósio, São Carlos Borromeu e o Beato Mateus Carreri. Penso também em dois filhos ilustres desta terra, cuja causa de beatificação está em curso: o venerável Francisco Pianzola, sacerdote animado por um ardente espírito evangélico, que soube ir ao encontro das pobrezas espirituais do seu tempo, com um corajoso estilo missionário, atento aos mais distantes e particularmente aos jovens; e o Servo de Deus Teresio Olivello, leigo da Acção Católica, falecido com apenas 29 anos no campo de concentração de Hersbruck, vítima sacrifical de uma violência brutal, à qual ele opôs tenazmente o ardor da caridade. Estas duas extraordinárias figuras de discípulos fiéis de Cristo constituem um sinal eloquente das grandes obras realizadas pelo Senhor na Igreja de Vigevano. Reflecti-vos nestes modelos, que tornam manifesta a acção da Graça e são para o Povo de Deus um encorajamento a seguir Cristo pela exigente vereda da santidade.

Dilectos irmãos e irmãs da Diocese de Vigevano! Finalmente, dirijo o meu pensamento à Mãe de Deus, que vós venerais com o título de Madonna della Bozzola. Confio-lhe cada uma das vossas Comunidades, para que obtenha uma renovada efusão do Espírito Santo sobre esta querida Diocese. A cansativa mas infrutuosa pesca nocturna dos discípulos é admoestação perene para a Igreja de todos os tempos: sozinhos, sem Jesus, nada podemos fazer! No compromisso apostólico as nossas forças não são suficientes: sem a Graça divina o nosso trabalho, mesmo que seja bem organizado, resulta ineficaz. Oremos em conjunto a fim de que a vossa Comunidade diocesana saiba acolher com alegria o mandato de Cristo e, com renovada generosidade, esteja pronta a "lançar" as redes. Então, certamente experimentará uma pesca milagrosa, sinal do poder dinâmico da palavra e da presença do Senhor, que confere incessantemente ao seu povo uma "renovada juventude do Espírito" (Colecta).





Bento XVI Homilias 50407