Bento XVI Homilias 22407

Domingo, 22 de Abril de 2007: CONCELEBRAÇÃO NA ESPLANADA DOS "ORTI BORROMAICI" DE PAVIA

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Queridos irmãos e irmãs!

Ontem à tarde encontrei-me com a comunidade diocesana de Vigevano e o centro desta minha visita pastoral foi a Concelebração eucarística na Praça Ducal; hoje tenho a alegria de visitar a vossa Diocese e o momento culminante deste nosso encontro é também aqui a Santa Missa. Saúdo com afecto os Irmãos que concelebram comigo: o Cardeal Dionigi Tettamanzi, Arcebispo de Milão, o Pastor da vossa diocese, o Bispo Giovanni Giudici, o emérito, o Bispo Giovanni Volta, e os outros Prelados da Lombardia. Estou grato aos Representantes do Governo e das Administrações locais pela sua presença. Dirijo a minha saudação cordial aos sacerdotes, aos diáconos, aos religiosos e às religiosas, aos responsáveis das associações laicais, aos jovens, aos doentes e a todos os fiéis, e faço o meu pensamento extensivo a toda a população desta antiga e nobre cidade e da Diocese.

No tempo pascal a Igreja apresenta-nos, em cada domingo, alguns trechos da pregação com que os Apóstolos, em particular Pedro, depois da Páscoa convidavam Israel à fé em Jesus Cristo, o Ressuscitado, fundando assim a Igreja. Na hodierna leitura os Apóstolos estão diante do Sinédrio diante desta instituição que, tendo declarado Jesus réu de morte, não podia tolerar que este Jesus, mediante a pregação dos Apóstolos, agora começasse a agir de novo; não podia tolerar que a sua força restabelecedora se fizesse novamente presente e em volta deste nome se reunissem pessoas que acreditavam n'Ele como no Redentor prometido. Os Apóstolos são acusados. A reprovação é: "Quereis fazer pesar sobre nós o sangue daquele homem": a esta acusação Pedro responde com uma breve catequese sobre a essência da fé cristã: "Não, não queremos fazer pesar o seu sangue sobre vós. O efeito da morte e ressurreição de Jesus é totalmente diverso. Deus fê-lo "chefe e salvador" de todos, também de vós, para o seu povo de Israel". E aonde conduz este "chefe", o que traz este "salvador"? Ele, assim nos diz São Pedro, conduz à conversão cria o espaço e a possibilidade de se corrigir, de se arrepender, de recomeçar. E Ele concede o perdão dos pecados introduz-nos na relação justa com Deus e assim na justa relação de cada qual consigo mesmo e com o próximo.

Esta breve catequese de Pedro não era válida só para o Sinédrio. Ela fala a todos nós. Pois Jesus, o Ressuscitado, vive também hoje. E para todas as gerações, para todos os homens Ele é o "chefe" que precede pelo caminho, mostra o caminho, e o "salvador" que torna justa a nossa vida. As duas expressões "conversão" e "perdão dos pecados", correspondentes aos dois títulos de Cristo "cabeça", archegós em grego, e "salvador", são as palavras-chave da catequese de Pedro, palavras que neste momento pretendem alcançar também o nosso coração. Que significam? O caminho que devemos fazer o caminho que Jesus nos indica, chama-se "conversão". Mas o que é? O que é preciso fazer? Em cada vida a conversão tem a sua própria forma, porque todo o homem é algo de novo e nenhum é o duplicado de outro. Mas no decorrer da história da cristandade o Senhor enviou-nos modelos de conversão, nos quais, se olharmos para eles, podemos encontrar orientação. Poderíamos por isso olhar para o próprio Pedro, ao qual o Senhor no cenáculo disse: "E tu, uma vez convertido, converte os teus irmãos" (
Lc 22,32). Poderíamos olhar para Paulo como para um grande convertido. A cidade de Pavia fala de um dos maiores convertidos da história da Igreja: Santo Aurélio Agostinho. Ele faleceu a 28 de Agosto de 430 na cidade portuária de Hipona, na África, então circundada e assediada pelos Vândalos. Depois de bastante confusão de uma história agitada, o rei dos Lomgobardos adquiriu os seus despojos para a cidade de Pavia, e assim agora ele pertence de modo particular a esta cidade e nela e dela fala a todos nós, à humanidade, mas de modo especial a todos nós aqui.

No seu livro "As Confissões", Agostinho ilustrou de modo comovedor o caminho da sua conversão, que com o Baptismo que lhe foi administrado pelo Bispo Ambrósio na catedral de Milão tinha alcançado a sua meta. Quem lê As Confissões pode partilhar o caminho que Agostinho teve que percorrer numa longa luta interior para receber finalmente, na noite de Páscoa de 387, na fonte baptismal o Sacramento que marcou a grande mudança da sua vida. Seguindo atentamente o curso da vida de Santo Agostinho, podemos ver que a conversão não foi um acontecimento de um único momento, mas precisamente um caminho. E podemos ver que, na fonte baptismal este caminho ainda não tinha terminado. Como antes do Baptismo, assim também depois dele a vida de Agostinho permaneceu, mesmo se de forma diversa, um caminho de conversão até à sua última doença, quando fez colocar nas paredes os Salmos penitenciais para os ter sempre diante dos olhos; quando se auto-excluiu de receber a Eucaristia para repercorrer o caminho da penitência e receber a salvação das mãos de Cristo como dom das misericórdias de Deus. Assim podemos falar das "conversões"de Agostinho que, de facto, foram uma única grande conversão na busca doRosto de Cristo e depois no caminhar juntamente com Ele.

Gostaria de falar brevemente de três grandes etapas deste caminho de conversão, de três "conversões". A primeira conversão fundamental foi o caminho interior para o cristianismo, para o "sim" da fé e do Baptismo. Qual foi o aspecto essencial deste caminho? Agostinho, por um lado, era filho do seu tempo, profundamente condicionado pelos costumes e paixões nele dominantes, como também por todas as perguntas e problemas de um homem jovem. Vivia como todos os outros, e contudo havia nele algo de particular: permaneceu sempre uma pessoa em busca. Nunca se contentou com a vida como ela se apresentava e como todos a viviam. Estava sempre atormentado pela questão da verdade. Queria encontrar a verdade. Queria conseguir saber o que é o homem; de onde provém o mundo; de onde vimos nós mesmos, para onde vamos e como podemos encontrar a vida verdadeira. Desejava encontrar a vida recta e não simplesmente viver cegamente sem sentido e sem meta. A paixão pela verdade é a verdadeira palavra-chave da sua vida. A paixão pela verdade guiou-o realmente. E há ainda uma peculiaridade. Tudo o que não tinha o nome de Cristo, não lhe era suficiente. O amor por este nome diz-nos tinha-o bebido com o leite materno (cf. Conf. 3, 4, 8). E sempre acreditou por vezes bastante vagamente, outras vezes de modo mais claro que Deus existe e que Ele se ocupa de nós. Mas conhecer verdadeiramente este Deus e familiarizar deveras com aquele Jesus Cristo e chegar a dizer-Lhe "sim" com todas as consequências esta era a grande luta interior dos seus anos juvenis. Ele narra-nos que, através da filosofia platónica, tinha tomado conhecimento e reconhecido que "no princípio era o Verbo" o Logos, a razão criadora. Mas a filosofia, que lhe mostrava que o princípio de tudo é a razão criadora, esta mesma filosofia não lhe indicava caminho algum para o alcançar; este Logos permanecia distante e abstracto. Só na fé da Igreja encontrou depois a segunda verdade fundamental: o Verbo, o Logos fez-se carne. E assim ele nos alcança e nós o alcançamos. À humildade da encarnação de Deus deve corresponder é este o grande passo a humildade da nossa fé, que depõe a soberba pedante e se inclina para pertencer à comunidade do corpo de Cristo; que vive com a Igreja e só assim entra na comunhão concreta, aliás, corpórea, com o Deus vivo. Não devo dizer como tudo isto nos diga respeito: permanecer pessoas em busca, não se contentar com o que todos dizem e fazem. Não distrair o olhar do Deus eterno e de Jesus Cristo. Aprender a humildade da fé na Igreja corpórea de Jesus Cristo, do Logos encarnado.

A sua segunda conversão Agostinho descreve-a no final do décimo livro das suas Confissões com as palavras: "Oprimido pelos meus pecados e pelo peso da minha miséria, tinha meditado no meu coração e meditado uma fuga na solidão. Mas tu impedistemo-lo, confortando-me com estas palavras: "Cristo morreu por todos, para que aqueles que vivem já não vivam para si, mas para aquele que morreu por todos"" (2Co 5,15 Conf. 10, 43, 70). O que tinha acontecido? Depois do seu Baptismo, Agostinho tinha decidido regressar à África onde fundou, juntamente com os seus amigos, um pequeno mosteiro. Agora a sua vida devia estar dedicada totalmente ao diálogo com Deus e à reflexão e contemplação da beleza e da verdade da sua Palavra. Assim ele passou três anos felizes, durante os quais pensava ter alcançado a meta da sua vida; naquele período nasceu uma série de preciosas obras filosófico-teológicas. Em 391, quatro anos depois do baptismo, ele foi visitar na cidade portuária de Hipona um amigo, que desejava conquistar para o seu mosteiro.

Mas na liturgia dominical, na qual participou na catedral, foi reconhecido. O Bispo da cidade, um homem de proveniência grega, que não falava bem latim e tinha dificuldade em pregar, na sua homilia não ocasionalmente disse que tinha a intenção de escolher um sacerdote ao qual confiar a tarefa da pregação. Imediatamente o povo circundou Agostinho e levou-o para a frente com determinação, para que fosse consagrado sacerdote ao serviço da cidade. Logo depois desta sua consagração forçada, Agostinho escreveu ao Bispo Valério: "Sentia-me como alguém que não sabe segurar o remo e ao qual, contudo, foi destinado o segundo lugar no timão... E daqui derivavam aquelas lágrimas que alguns irmãos na cidade me viram derramar no tempo da minha ordenação" (cf. Ep 21,1s.). O bom sonho da vida contemplativa tinha esvaecido, a vida de Agostinho estava fundamentalmente mudada. Agora já não podia dedicar-se unicamente à meditação na solidão. Tinha que viver com Cristo por todos. Tinha que traduzir os seus conhecimentos e os seus pensamentos sublimes no pensamento e na linguagem do povo simples da sua cidade. A grande obra filosófica de toda uma vida, que tinha sonhado, não foi escrita. No seu lugar foi-nos dada uma coisa mais preciosa: o Evangelho traduzido na linguagem da vida quotidiana e dos seus sofrimentos. O que agora constituía a sua vida diária, descreveu-o assim: "Corrigir os indisciplinados, confortar os pusilânimes, sustentar os débeis, contestar os opositores... estimular os negligentes, impedir os litigiosos, ajudar os necessitados, libertar os oprimidos, mostrar aprovação aos bons, tolerar os maus e amar todos" (cf. Serm 340, 3). "Continuamente pregar, discutir, retomar, edificar, estar à disposição de todos é uma grande tarefa, um grande peso, uma fadiga imane" (Serm 339, 4). Foi esta a segunda conversão que este homem, lutando e sofrendo, teve que realizar continuamente: sempre de novo estar ali para todos, não para a própria perfeição; sempre de novo, juntamente com Cristo, oferecer a própria vida, para que os outros pudessem encontrar n'Ele a Vida verdadeira.

Há ainda uma terceira etapa decisiva no caminho de conversão de Santo Agostinho. Depois da sua Ordenação sacerdotal, ele pediu um período de férias para poder estudar mais profundamente as Sagradas Escrituras. O seu primeiro ciclo de homilias, depois desta pausa de reflexão, referiu-se ao Sermão da montanha; nelas explicava o caminho da vida recta, "da vida perfeita" indicada de modo novo por Cristo apresentava-a como uma peregrinação ao monte santo da Palavra de Deus.

Nestas homilias pode-se ver ainda todo o entusiasmo da fé acabada de encontrar e vivida: a firme convicção de que o baptizado, vivendo totalmente segundo a mensagem de Cristo, pode ser, precisamente, "perfeito", segundo o Sermão da montanha. Cerca de vinte anos depois, Agostinho escreveu um livro intitulado As Retratações, no qual revê de modo crítico as suas obras redigidas até àquele momento, fazendo correcções onde, entretanto, tinha aprendido coisas novas. Em relação ao ideal da perfeição nas suas homilias sobre o Sermão da montanha escreve: "Entretanto compreendi que só um é verdadeiramente perfeito e que as palavras do Sermão da montanha estão totalmente realizadas num só: em Jesus Cristo. Mas toda a Igreja todos nós, incluídos os Apóstolos devemos rezar todos os dias: perdoai-nos os nossos pecados assim como nós os perdoamos a quem nos tem ofendido" (cf. Retract. I, 19, 1-3). Agostinho tinha aprendido um último grau de humildade não só a humildade de inserir o seu grande pensamento na fé humilde da Igreja, não só a humildade de traduzir os seus grandes conhecimentos na simplicidade do anúncio, mas também a humildade de reconhecer que a ele mesmo e a toda a Igreja peregrina era e é continuamente necessária a bondade misericordiosa de um Deus que perdoa sempre e nós acrescentava tornamo-nos semelhantes a Cristo, o único Perfeito, na maior medida possível, quando nos tornamos como Ele pessoas de misericórdia.

Neste momento agradecemos a Deus pela grande luz que se irradia da sabedoria e da humildade de Santo Agostinho e pedimos ao Senhor para que conceda a todos nós, dia após dia, a conversão necessária e assim nos conduza para a vida verdadeira. Amém.




Domingo, 22 de Abril de 2007: VÉSPERAS NA BASÍLICA DE «SAN PIETRO IN CIEL D'ORO» DE PAVIA

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Queridos irmãos e irmãs!

Neste seu momento conclusivo, a minha visita a Pavia adquire a forma da peregrinação. É a forma na qual no início eu a tinha concebido, desejando vir venerar os despojos mortais de Santo Agostinho, para expressar tanto a homenagem de toda a Igreja Católica a um dos seus "padres" maiores, como a minha pessoal devoção e reconhecimento àquele que grande parte teve na minha vida de teólogo e de pastor, mas diria antes ainda de homem e de sacerdote. Renovo com afecto a saudação ao Bispo Giovanni Giudici e apresento-a de modo especial ao Prior-Geral dos Agostinianos, Padre Robert Francis Prevost, ao Padre Provincial e a toda a comunidade agostiniana. É com alegria que saúdo todos vós, queridos sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos consagrados e seminaristas.

A Providência quis que a minha viagem assumisse o carácter de uma verdadeira visita pastoral, e por isso, nestes momentos de oração, gostaria de recolher aqui, junto do sepulcro do Doctor gratiae, uma mensagem significativa para o caminho da Igreja. Esta mensagem vem-nos do encontro entre a Palavra de Deus e a experiência pessoal do grande Bispo de Hipona. Ouvimos a breve Leitura bíblica das segundas Vésperas do Terceiro Domingo de Páscoa (
He 10,12-14): a Carta aos Hebreus colocou diante de nós Cristo, sumo e eterno Sacerdote, exaltado à glória do Pai depois de ter se oferecido a si mesmo como único e perfeito sacrifício da nova Aliança, no qual se cumpriu a obra da Redenção. Sobre este mistério Santo Agostinho fixou o olhar e nele encontrou a Verdade que tanto procurava: Jesus Cristo, Verbo encarnado, Cordeiro imolado e ressuscitado, é a revelação do rosto de Deus-Amor a cada ser humano a caminho pelas veredas do tempo rumo à eternidade. Escreve o Apóstolo João num trecho que se pode considerar paralelo ao que agora foi proclamado pela Carta aos Hebreus: "Nisto consiste o Seu amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1Jn 4,10). Trata-se aqui do coração do Evangelho, do núcleo central do Cristianismo. A luz deste amor abriu os olhos de Agostinho, fez-lhe encontrar a "beleza antiga e sempre nova" (Conf. X, 27) a única na qual o coração do homem encontra a paz.

Queridos irmãos e irmãs, aqui, diante do túmulo de Santo Agostinho, gostaria de entregar idealmente à Igreja e ao mundo a minha primeira Encíclica, que contém precisamente esta mensagem central do Evangelho: Deus caritas est, Deus é amor (1Jn 4,8 1Jn 4,16). Esta Encíclica, sobretudo a sua primeira parte, é amplamente devedora ao pensamento de Santo Agostinho, que foi um apaixonado do Amor de Deus, e o cantou, meditou, pregou em todos os seus escritos, e sobretudo testemunhou no seu ministério pastoral. Estou convicto, colocando-me no seguimento dos ensinamentos do Concílio Vaticano II e dos meus venerados Predecessores João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II, que a humanidade contemporânea tem necessidade desta mensagem essencial, encarnada em Jesus Cristo: Deus é amor. Tudo deve partir daqui e tudo aqui deve conduzir: cada acção pastoral, cada desenvolvimento teológico. Como diz São Paulo: "se não tiver caridade, de nada me aproveita" (cf. 1Co 13,3): todos os carismas perdem o sentido e o valor sem o amor, graças ao qual, ao contrário, todos concorrem para edificar o Corpo místico de Cristo.

Eis então a mensagem que ainda hoje Santo Agostinho repete a toda a Igreja e, em particular, a esta Comunidade diocesana que com tanta veneração conserva as suas relíquias: o Amor é a alma da vida da Igreja e da sua acção pastoral. Ouvimo-lo esta manhã no diálogo entre Jesus e Simão Pedro: "Tu amas-Me?... Apascenta as minhas ovelhas" (cf. Jn 21,15-17). Só quem vive na experiência pessoal do amor do Senhor está em condições de exercer a tarefa de guiar e acompanhar outros no caminho do seguimento de Cristo. Na escola de Santo Agostinho repito esta verdade a vós como Bispo de Roma, enquanto, com alegria sempre nova, a acolho convosco como cristão.

Servir Cristo é antes de tudo questão de amor. Queridos irmãos e irmãs, a vossa pertença à Igreja e o vosso apostolado resplandeçam sempre pela liberdade de qualquer interesse individual e pela adesão sem reservas ao amor de Cristo. Os jovens, em particular, precisam de receber o anúncio da liberdade e da alegria, cujo segredo está em Cristo. É Ele a resposta mais verdadeira à expectativa dos seus corações inquietos pelas tantas perguntas que se têm dentro. Só n'Ele, Palavra pronunciada pelo Pai por nós, se encontra aquela união de verdade e amor no qual se encontra o sentido pleno da vida. Agostinho viveu em primeira pessoa e explorou profundamente as interrogações que o homem leva no coração e sondou as capacidades que ele tem de se abrir ao infinito de Deus.

Seguindo os passos de Agostinho, sede também vós uma Igreja que anuncia com franqueza a "feliz notícia" de Cristo, a sua proposta de vida, a sua mensagem de reconciliação e de perdão. Vi que o vosso primeiro objectivo pastoral é guiar as pessoas à maturidade cristã. Aprecio esta prioridade concedida à formação pessoal, porque a Igreja não é uma simples organização de manifestações colectivas nem, ao contrário, a soma de indivíduos que vivem uma religiosidade privada. A Igreja é uma comunidade de pessoas que crêem no Deus de Jesus Cristo e se comprometem a viver no mundo o mandamento da caridade que Ele deixou. Portanto, é uma comunidade na qual se é educados para o amor, e esta educação verifica-se não apesar, mas através dos acontecimentos da vida. Assim foi para Pedro, para Agostinho e para todos os santos. Assim é para nós.

A maturação pessoal, animada pela caridade eclesial, permite também crescer no discernimento comunitário, isto é, na capacidade de ler e interpretar o tempo presente à luz do Evangelho, para responder à chamada do Senhor. Encorajo-vos a progredir no testemunho pessoal e comunitário do amor laborioso. O serviço da caridade, que justamente concebeis sempre relacionado com o anúncio da Palavra e com a celebração dos sacramentos, chama-vos e ao mesmo tempo estimula-vos a estar atentos às necessidades materiais e espirituais dos irmãos. Encorajo-vos a prosseguir a "medida alta" da vida cristã, que encontra na caridade o vínculo da perfeição e que se deve traduzir também num estilo de vida moral inspirado no Evangelho, inevitavelmente contra a corrente em relação aos critérios do mundo, mas que deve ser sempre testemunhado com um estilo humilde, respeitoso e cordial.

Queridos irmãos e irmãs, foi para mim um dom, realmente um dom, partilhar convosco estes momentos junto do túmulo de Santo Agostinho: a vossa presença deu à minha peregrinação um sentido eclesial mais concreto. Regressamos daqui levando no coração a alegria de ser discípulos do Amor. Acompanhe-nos sempre a Virgem Maria, a cuja protecção materna confio cada um de vós e os vossos queridos, enquanto vos concedo com grande afecto a Bênção Apostólica.
* * *


Saudação às crianças fora da Basílica

Queridas crianças!
É para mim uma grandíssima alegria, na despedida desta maravilhosa cidade de Pavia, poder ver as crianças, os rapazes e as moças, os jovens. Vós estais de maneira especial próximos do Senhor. O seu amor é particularmente para vós.

Prossigamos no amor ao Senhor! Rezai por mim, eu rezo por vós. Até à próxima.



Domingo, 29 de Abril de 2007: ORDENAÇÃO DE 22 SACERDOTES NO DOMINGO DO BOM PASTOR

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Venerados Irmãos

no Episcopado e no Presbiterado
Estimados Ordenandos
Amados irmãos e irmãs!

O hodierno IV Domingo de Páscoa, tradicionalmente dito do "Bom Pastor", reveste para nós, que estamos reunidos nesta Basílica Vaticana, um significado particular. É um dia absolutamente singular sobretudo para vós, queridos Diáconos, aos quais, como Bispo e Pastor de Roma, me sinto feliz por conferir a Ordenação sacerdotal. Começareis assim a fazer parte do nosso "presbyterium". Juntamente com o Cardeal Vigário, com os Bispos Auxiliares e com os sacerdotes da Diocese, agradeço ao Senhor pelo dom do vosso sacerdócio, que enriquece a nossa Comunidade de 22 novos Pastores.

A densidade teológica do breve trecho evangélico, que há pouco foi proclamado, ajuda-nos a compreender melhor o sentido e o valor desta solene Celebração. Jesus fala de si como do Bom Pastor que dá a vida eterna às suas ovelhas (cf.
Jn 10,28). A imagem do pastor está muito radicada no Antigo Testamento e é muito querida à tradição cristã. O título de "pastor de Israel" é atribuído pelos Profetas ao futuro descendente de David, e portanto possui uma indubitável relevância messiânica (cf. Ez 34,23). Jesus é o verdadeiro Pastor de Israel, porque o Filho do homem que quis partilhar a condição dos seres humanos para lhes doar a vida nova e conduzi-los à salvação. Significativamente à palavra "pastor" o evangelista acrescenta o adjectivo kalós, bom, que ele usa apenas em referência a Jesus e à sua missão. Também na narração das bodas de Caná o adjectivo kalós é usado duas vezes para conotar o vinho oferecido por Jesus e é fácil ver nele o símbolo do vinho bom dos tempos messiânicos (cf. Jn 2,10).

"Dou-lhes (isto é, às minhas ovelhas) a vida eterna e nunca hão-de perecer" (Jn 10,28). Assim afirma Jesus, que pouco antes tinha dito: "O bom pastor oferece a vida pelas suas ovelhas" (cf. Jn 10,11). João utiliza o verbo tithénai oferecer, que repete nos versículos seguintes (Jn 10,15 Jn 10,17 Jn 10,18); encontramos o mesmo verbo na narração da Última Ceia, quando Jesus "depôs" as suas vestes para depois "as retomar" (cf. Jn 13,4 Jn 13,12). É claro que deste modo se deseja afirmar que o Redentor dispõe com absoluta liberdade da própria vida, de modo a poder oferecê-la e depois retomá-la livremente. Cristo é o verdadeiro Bom Pastor que deu a vida pelas suas ovelhas, por nós, imolando-se na Cruz. Ele conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas conhecem-no, como o Pai o conhece a Ele e Ele ao Pai (cf. Jn 10,14-15). Não se trata de mero conhecimento intelectual, mas de uma relação pessoal profunda; um conhecimento do coração, próprio de quem ama e de quem é amado; de quem é fiel e de quem sabe que, por sua vez, se pode confiar; um conhecimento de amor em virtude do qual o Pastor convida os seus a segui-lo, e que se manifesta plenamente no dom que lhes faz da vida eterna (cf. Jn 10,27-28).

Queridos Ordenandos, a certeza que Cristo não nos abandona e que obstáculo algum poderá impedir a realização do seu desígnio universal de salvação seja para vós motivo de constante conforto também nas dificuldades e de esperança inabalável. A bondade do Senhor está sempre convosco e é forte. O Sacramento da Ordem que estais para receber far-vos-á participar da mesma missão de Cristo; sereis chamados a difundir a semente da sua Palavra, a semente que traz em si o Reino de Deus, a dispensar a divina misericórida e a alimentar os fiéis na mesa do seu Corpo e do seu Sangue. Para serdes seus dignos ministros devereis alimentar-vos incessantemente da Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã. Aproximando-vos do altar, a vossa escola quotidiana de santidade, de comunhão com Jesus, do modo de entrar nos seus sentimentos, para renovar o sacrifício da Cruz, descobrireis cada vez mais a riqueza e a ternura do amor do Mestre divino, que hoje vos chama a uma amizade mais íntima com Ele. Se o ouvirdes com docilidade, se o seguirdes fielmente, aprendereis a traduzir na vida e no ministério pastoral o seu amor e a sua paixão pela salvação das almas. Cada um de vós, queridos Ordenandos, tornar-se-á com a ajuda de Jesus um bom pastor, pronto para dar, se necessário for, também a vida por Ele.

Assim aconteceu no início do cristianismo com os primeiros discípulos, enquanto, como escutámos na primeira Leitura, o Evagelho se ia difundindo entre consolações e dificuldades. Vale a pena ressaltar as últimas palavras do trecho dos Actos dos Apóstolos que ouvimos: "Os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo" (Ac 13,52). Apesar das incompreensões e dos contrastes, de que ouvimos falar, o apóstolo de Cristo não perde a alegria, aliás é a testemunha daquela alegria que brota do ser com o Senhor, do amor por Ele e pelos irmãos. No hodierno Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que este ano tem como tema "A vocação ao serviço da Igreja-comunhão", rezemos para que todos os que são escolhidos para uma missão tão excelsa sejam acompanhados da orante comunhão de todos os fiéis.

Rezemos para que cresça em cada paróquia e comunidade cristã a atenção pelas vocações e pela formação dos sacerdotes: ela inicia na família, prossegue no seminário e inclui todos os que têm a solicitude pela salvação das almas. Queridos irmãos e irmãs que participais nesta sugestiva celebração, e em primeiro lugar vós, parentes, familiares e amigos destes 22 Diáconos que daqui a pouco serão ordenados presbíteros! Envolvamo-los, a estes nossos irmãos no Senhor, com a nossa solidariedade espiritual. Rezemos para que sejam fiéis à missão a que hoje o Senhor os chama, e estejam prontos para renovar todos os dias a Deus o seu "sim", o seu "eis-me", sem hesitações. E peçamos ao Senhor da messe, neste Dia pelas Vocações, que continue a suscitar muitos e santos presbíteros, totalmente dedicados ao serviço do povo cristão. Neste momento tão solene e importante da vossa existência, é ainda a vós, queridos Ordenandos, que me dirijo com afecto. A vós hoje Jesus repete: "Já não vos chamo servos, mas amigos". Acolhei e cultivai esta amizade divina com "amor eucarístico"! Acompanhe-vos Maria, Mãe celeste dos Sacerdotes; Ela, que sob a Cruz se uniu ao Sacrifício do seu Filho e, depois da ressurreição, no Cenáculo recebeu juntamente com os Apóstolos e com os outros discípulos o dom do Espírito, ajude vós e cada um de nós, queridos irmãos no Sacerdócio, a deixar-nos transformar interiormente pela graça de Deus. Só assim é possível ser imagens fiéis do Bom Pastor; só assim se pode desempenhar com alegria a missão de conhecer, guiar e amar o rebanho que Jesus adquiriu com o preço do seu sangue.

Amém!





VIAGEM APOSTÓLICA AO BRASIL POR OCASIÃO DA V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE


Sexta-feira, 11 de Maio de 2007: SANTA MISSA E CANONIZAÇÃO DE FREI ANTÔNIO DE SANT'ANNA GALVÃO, OFM

11507

Aeroporto "Campo de Marte", São Paulo




Senhores Cardeais

Senhor Arcebispo de São Paulo
e Bispos do Brasil e da América Latina
Distintas autoridades
Irmãs e Irmãos em Cristo,

«Bendirei continuamente ao Senhor / seu louvor não deixará meus lábios» [
Ps 33,2]

1. Alegremos-nos no Senhor, neste dia em que contemplamos outra das maravilhas de Deus que, por sua admirável providência, nos permite saborear um vestígio da sua presença, neste ato de entrega de Amor representado no Santo Sacrifício do Altar.

Sim, não deixemos de louvar ao nosso Deus. Louvemos todos nós, povos do Brasil e da América, cantemos ao Senhor as suas maravilhas, porque fez em nós grandes coisas. Hoje, a Divina sabedoria permite que nos encontremos ao redor do seu altar em ato de louvor e de agradecimento por nos ter concedido a graça da Canonização do Frei Antônio de Sant’Ana Galvão.

Quero agradecer as carinhosas palavras do Arcebispo de São Paulo, D. Odilo Scherer, que foi a voz de todos vós, e a atenção do seu predecessor, o Cardeal Cláudio Hummes, que com tanto esmero empenhou-se pela causa do Frei Galvão. Agradeço a presença de cada um e de cada uma, quer sejam moradores desta grande cidade ou vindos de outras cidades e nações. Alegro-me que através dos meios de comunicação, minhas palavras e as expressões do meu afeto possam entrar em cada casa e em cada coração. Tenham certeza: o Papa vos ama, e vos ama porque Jesus Cristo vos ama.

Nesta solene celebração eucarística foi proclamado o Evangelho no qual Cristo, em atitude de grande enlevo, proclama: «Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos» (Mt 11,25). Por isso, sinto-me feliz porque a elevação do Frei Galvão aos altares ficará para sempre emoldurada na liturgia que hoje a Igreja nos oferece.

Saúdo com afeto, a toda a comunidade franciscana e, de modo especial as monjas concepcionistas que, do Mosteiro da Luz, da Capital paulista, irradiam a espiritualidade e o carisma do primeiro brasileiro elevado à glória dos altares.

2. Demos graças a Deus pelos contínuos benefícios alcançados pelo poderoso influxo evangelizador que o Espírito Santo imprimiu em tantas almas através do Frei Galvão. O carisma franciscano, evangelicamente vivido, produziu frutos significativos através do seu testemunho de fervoroso adorador da Eucaristia, de prudente e sábio orientador das almas que o procuravam e de grande devoto da Imaculada Conceição de Maria, de quem ele se considerava ‘filho e perpétuo escravo’.

Deus vem ao nosso encontro, "procura conquistar-nos - até à Última Ceia, até ao Coração trespassado na cruz, até as aparições e as grandes obras pelas quais Ele, através da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente" (Carta encl. Deus caritas est ). Ele se revela através da sua Palavra, nos Sacramentos, especialmente da Eucaristia. Por isso, a vida da Igreja é essencialmente eucarística. O Senhor, na sua amorosa providência deixou-nos um sinal visível da sua presença.

Quando contemplarmos na Santa Missa o Senhor, levantado no alto pelo sacerdote, depois da Consagração do pão e do vinho, ou o adorarmos com devoção exposto no Ostensório renovemos com profunda humildade nossa fé, como fazia Frei Galvão em "laus perennis", em atitude constante de adoração. Na Sagrada Eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, ou seja, o mesmo Cristo, nossa Páscoa, o Pão vivo que desceu do Céu vivificado pelo Espírito Santo e vivificante porque dá Vida aos homens. Esta misteriosa e inefável manifestação do amor de Deus pela humanidade ocupa um lugar privilegiado no coração dos cristãos. Eles devem poder conhecer a fé da Igreja, através dos seus ministros ordenados, pela exemplaridade com que estes cumprem os ritos prescritos que estão sempre a indicar na liturgia eucarística o cerne de toda obra de evangelização. Por sua vez, os fiéis devem procurar receber e reverenciar o Santíssimo Sacramento com piedade e devoção, querendo acolher ao Senhor Jesus com fé e sempre, quando necessário, sabendo recorrer ao Sacramento da reconciliação para purificar a alma de todo pecado grave.

3. Significativo é o exemplo do Frei Galvão pela sua disponibilidade para servir o povo sempre quando era solicitado. Conselheiro de fama, pacificador das almas e das famílias, dispensador da caridade especialmente dos pobres e dos enfermos. Muito procurado para as confissões, pois era zeloso, sábio e prudente. Uma característica de quem ama de verdade é não querer que o Amado seja ofendido, por isso a conversão dos pecadores era a grande paixão do nosso Santo. A Irmã Helena Maria, que foi a primeira "recolhida" destinada a dar início ao "Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição", testemunhou aquilo que Frei Galvão disse: "Rezai para que Deus Nosso Senhor levante os pecadores com o seu potente braço do abismo miserável das culpas em que se encontram". Possa essa delicada advertência servir-nos de estímulo para reconhecer na misericórdia divina o caminho para a reconciliação com Deus e com o próximo e para a paz das nossas consciências.

4. Unidos em comunhão suprema com o Senhor na Eucaristia e reconciliados com Deus e com o nosso próximo, seremos portadores daquela paz que o mundo não pode dar. Poderão os homens e as mulheres deste mundo encontrar a paz se não se conscientizarem acerca da necessidade de se reconciliarem com Deus, com o próximo e consigo mesmos? De elevado significado foi, neste sentido, aquilo que a Câmara do Senado de São Paulo escreveu ao Ministro Provincial dos Franciscanos no final do século XVIII, definindo Frei Galvão como "homem de paz e de caridade". Que nos pede o Senhor?: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amo». Mas logo a seguir acrescenta: que «deis fruto e o vosso fruto permaneça» (cf. Jn 15,12 Jn 15,16). E que fruto nos pede Ele, senão que saibamos amar, inspirando-nos no exemplo do Santo de Guaratinguetá?

A fama da sua imensa caridade não tinha limites. Pessoas de toda a geografia nacional iam ver Frei Galvão que a todos acolhia paternalmente. Eram pobres, doentes no corpo e no espírito que lhe imploravam ajuda.

Jesus abre o seu coração e nos revela o fulcro de toda a sua mensagem redentora: «Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos» (ib. Jn 15,13). Ele mesmo amou até entregar sua vida por nós sobre a Cruz. Também a ação da Igreja e dos cristãos na sociedade deve possuir esta mesma inspiração. As pastorais sociais se forem orientadas para o bem dos pobres e dos enfermos, levam em si mesmas este sigilo divino. O Senhor conta conosco e nos chama amigos, pois só aos que se ama desta maneira, se é capaz de dar a vida proporcionada por Jesus com sua graça.

Como sabemos a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano terá como tema básico: "Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida". Como não ver então a necessidade de acudir com renovado ardor à chamada, a fim de responder generosamente aos desafios que a Igreja no Brasil e na América Latina está chamada a enfrentar?

5. «Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei», diz o Senhor no Evangelho, (Mt 11,28). Esta é a recomendação final que o Senhor nos dirige. Como não ver aqui este sentimento paterno e, ao mesmo tempo materno, de Deus por todos os seus filhos? Maria, a Mãe de Deus e Mãe nossa, se encontra particularmente ligada a nós neste momento. Frei Galvão, assumiu com voz profética a verdade da Imaculada Conceição. Ela, a Tota Pulchra, a Virgem Puríssima, que concebeu em seu seio o Redentor dos homens e foi preservada de toda mancha original, quer ser o sigilo definitivo do nosso encontro com Deus, nosso Salvador. Não há fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora.

De fato, este nosso Santo entregou-se de modo irrevocável à Mãe de Jesus desde a sua juventude, querendo pertencer-lhe para sempre e escolhendo a Virgem Maria como Mãe e Protetora das suas filhas espirituais.

Queridos amigos e amigas, que belo exemplo a seguir deixou-nos Frei Galvão! Como soam atuais para nós, que vivemos numa época tão cheia de hedonismo, as palavras que aparecem na Cédula de consagração da sua castidade: "tirai-me antes a vida que ofender o vosso bendito Filho, meu Senhor". São palavras fortes, de uma alma apaixonada, que deveriam fazer parte da vida normal de cada cristão, seja ele consagrado ou não, e que despertam desejos de fidelidade a Deus dentro ou fora do matrimônio. O mundo precisa de vidas limpas, de almas claras, de inteligências simples que rejeitem ser consideradas criaturas objeto de prazer. É preciso dizer não àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento.

É neste momento que teremos em Nossa Senhora a melhor defesa contra os males que afligem a vida moderna; a devoção mariana é garantia certa de proteção maternal e de amparo na hora da tentação. Não será esta misteriosa presença da Virgem Puríssima, quando invocarmos proteção e auxílio à Senhora Aparecida? Vamos depositar em suas mãos santíssimas a vida dos sacerdotes e leigos consagrados, dos seminaristas e de todos os vocacionados para a vida religiosa.

6. Queridos amigos, deixai-me concluir evocando a Vigília de Oração de Marienfeld na Alemanha: diante de uma multidão de jovens, quis definir os santos da nossa época como verdadeiros reformadores. E acrescentava: "só dos Santos, só de Deus provém a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo" (Homilia, 20/08/2005). Este é o convite que faço hoje a todos vós, do primeiro ao último, nesta imensa Eucaristia. Deus disse: «Sede santos, como Eu sou santo» (Lv 11,44). Agradeçamos a Deus Pai, a Deus Filho, a Deus Espírito Santo, dos quais nos vêm, por intercessão da Virgem Maria, todas as bênçãos do céu; este dom que, juntamente com a fé é a maior graça que o Senhor pode conceder a uma criatura: o firme anseio de alcançar a plenitude da caridade, na convicção de que não só é possível, como também necessária a santidade, cada qual no seu estado de vida, para revelar ao mundo o verdadeiro rosto de Cristo, nosso amigo! Amém!






Bento XVI Homilias 22407