Bento XVI Homilias 20111


III Domingo de Advento "Gaudete", 11 de Dezembro de 2011: VISITA PASTORAL À PARÓQUIA ROMANA DE SANTA MARIA DAS GRAÇAS

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Prezados irmãos e irmãs
da Paróquia de Santa Maria das Graças

Ouvimos a profecia de Isaías: «O espírito do Senhor aos humildes... a proclamar um ano de graça da parte do Senhor» (
Is 61,1-2). Estas palavras, pronunciadas há muitos séculos, ressoam como nunca actuais também para nós, hoje, enquanto nos encontramos no meio do Advento e já em vista da grandiosa solenidade do Natal. São palavras que reanimam a esperança, preparam para acolher a salvação do Senhor e anunciam a inauguração de um tempo de graça e de libertação.

O Advento é precisamente um tempo de expectativa, de esperança e de preparação para a visita do Senhor. Para este compromisso convidam-nos também a figura e a pregação de João Baptista, como ouvimos no Evangelho há pouco proclamado (cf. Jn 1,6-8 Jn 1,19-28). João retirou-se no deserto para levar uma vida muito austera e para convidar, inclusive com a sua vida, as pessoas à conversão; ele confere um baptismo de água, um rito de penitência singular, que o distingue dos múltiplos ritos de purificação exterior das seitas dessa época. Portanto, quem é este homem, quem é João Baptista? A sua resposta é de uma humildade surpreendente. Não é o Messias, não é a luz. Não é Elias que voltou para a terra, nem o grande profeta esperado. É o precursor, simples testemunha, totalmente subordinado Àquele que ele anuncia; uma voz no deserto, como também hoje, no deserto das grandes cidades deste mundo, de profunda ausência de Deus, temos necessidade de vozes que simplesmente nos anunciem: «Deus existe, está sempre próximo, embora pareça ausente». É uma voz no deserto e uma testemunha da luz; e isto toca o nosso coração, porque neste mundo, com tantas trevas e obscuridades, todos somos chamados a tornar-nos testemunhas da luz. Esta é precisamente a missão do tempo de Advento: ser testemunhas da luz, e somente o podemos ser, se tivermos a luz em nós, se tivermos a certeza não só de que a luz existe, mas de que vimos um pouco de luz. Na Igreja, na Palavra de Deus, na celebração dos Sacramentos, no Sacramento da Confissão, com o perdão que recebemos, na celebração da Sagrada Eucaristia, onde o Senhor se entrega nas nossas mãos e corações, tocamos a luz e recebemos esta missão: ser hoje testemunhas de que a luz existe, transmitir a luz ao nosso tempo.

Caros irmãos e irmãs! Estou muito feliz por me encontrar no meio de vós neste domingo bonito, «Gaudete», domingo da alegria, que nos diz: «Mesmo no meio de tantas dúvidas e dificuldades, a alegria existe porque Deus existe e está connosco». Saúdo cordialmente o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso Pároco, Pe. Domenico Monteforte, a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos vós, e também o bonito dom da história da Paróquia. E saúdo inclusive o Vigário paroquial. Saúdo também as comunidades religiosas: as Irmãs Apóstolas da Consolata, as Mestras Pias «Venerini» e os Guanellianos; constituem uma das presenças mais preciosas na vossa Paróquia, e um grande recurso espiritual e pastoral para a vida da comunidade, testemunhas da luz! Além disso, saúdo quantos estão comprometidos no âmbito paroquial: refiro-me aos catequistas — agradeço-lhes o seu trabalho — aos membros do grupo de oração, inspirado na Renovação no Espírito Santo, aos jovens do Movimento Juventude Ardente Mariana. Depois, gostaria de dirigir o meu pensamento a todos os habitantes do bairro, especialmente aos idosos, aos doentes, às pessoas sozinhas e em dificuldade, sem esquecer a numerosa comunidade filipina, bem inserida e activamente partícipe nos momentos fundamentais da vida comunitária.

A vossa Paróquia nasceu numa das típicas regiões do campo romano, foi erigida canonicamente em 1985 com este bonito título de Santa Maria das Graças, começou a dar os seus primeiros passos por volta dos anos 60 quando, por iniciativa de um grupo de Padres Dominicanos, orientados pelo inesquecível Pe. Gerard Reed, foi construída numa habitação familiar uma capelinha, sucessivamente transferida para um local maior, que desempenhou a função de igreja paroquial até 2010, no ano passado. Com efeito, naquele ano, como sabeis, e precisamente no dia 1 de Maio, foi dedicado o edifício em que agora celebramos a Eucaristia. Esta nova igreja é um espaço privilegiado para crescer no conhecimento e no amor por Aquele que, daqui a poucos dias, receberemos na alegria do seu Natal. Enquanto vejo esta igreja e os edifícios paroquiais, vejo o fruto de paciência, de dedicação e de amor, e com a minha presença desejo animar-vos a realizar cada vez melhor aquela Igreja de pedras vivas que sois vós mesmos; cada um de vós deve sentir-se como um elemento deste edifício vivo; a comunidade edifica-se com a contribuição que cada um oferece, com o compromisso de todos; e penso de modo particular nos campos da catequese, da liturgia e da caridade, pilares principais da vida cristã.

A vossa comunidade é jovem, como vi ao saudar os vossos filhos. É jovem porque está constituída, sobretudo no que diz respeito aos novos povoados, por famílias jovens, e também porque são numerosas as crianças e os adolescentes que a povoam, graças a Deus! Desejo profundamente que, inclusive através da contribuição de pessoas competentes e generosas, o vosso compromisso educativo se desenvolva cada vez mais e que a vossa Paróquia, também com a ajuda do Vicariato de Roma, possa dispor quanto antes de um oratório bem estruturado, com espaços adequados para a diversão e o encontro, de modo a satisfazer a necessidade de crescimento na fé e numa socialidade sadia para as jovens gerações. Alegro-me por aquilo que realizais pela preparação dos adolescentes e dos jovens para os Sacramentos. O desafio que temos à nossa frente consiste em delinear e propor um verdadeiro percurso de formação na fé, que empenhe quantos se aproximam da iniciação cristã, ajudando-os não só a receber os Sacramentos, mas a vivê-los, para ser verdadeiros cristãos. Esta finalidade, receber, deve ser viver, como ouvimos na primeira Leitura: a justiça deve germinar como a semente na terra. Viver os Sacramentos, assim germina a justiça e também o direito e o amor.

A este propósito, a averiguação pastoral diocesana em curso, que diz respeito precisamente à iniciação cristã, é uma ocasião propícia para aprofundar e viver os Sacramentos que recebemos, como o Baptismo e a Confirmação, e aqueles dos quais nos aproximamos para alimentar o caminho de fé, a Penitência e a Eucaristia. Por isso é necessária, em primeiro lugar, a atenção à relação com Deus, mediante a escuta da sua Palavra, a resposta à Palavra da oração e o dom da Eucaristia. Sei que na Paróquia estão inseridos encontros de oração, de lectio divina, e que se realiza a adoração eucarística: são iniciativas preciosas para o crescimento espiritual nos planos pessoal e comunitário. Exorto-vos intensamente a participar neles em grande número. De modo especial, desejo evocar a importância e a centralidade da Eucaristia. A Santa Missa esteja no centro do vosso Domingo, que deve ser redescoberto e vivido como dia de Deus e da comunidade, dia em que louvar e celebrar Aquele que nasceu por nós, que morreu e ressuscitou pela nossa salvação, e que nos pede para vivermos juntos na alegria e de sermos uma comunidade aberta e pronta a acolher cada pessoa sozinha ou em dificuldade. Não percais o sentido do Domingo e sede fiéis ao encontro eucarístico. Os primeiros cristãos estavam prontos a entregar a vida por isto. Sabiam que esta é a vida, e faz viver.

Ao vir até vós, não posso ignorar que no vosso território um grande desafio é constituído por grupos religiosos que se apresentam como depositários da verdade do Evangelho. A este propósito, tenho o dever de vos recomendar que sejais vigilantes e aprofundeis as razões da Fé e da Mensagem cristã, do modo como nos são transmitidas com a garantia da autencidaide pela tradição milenária da Igreja. Dai continuidade à obra de evangelização com a catequese e a informação correcta a respeito daquilo que a Igreja católica crê e anuncia; proponde com clarividência as verdades da fé cristã; estai — como diz são Pedro — prontos «a responder, para a vossa defesa, a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança» (1P 3,15); vivei a linguagem do amor e da fraternidade compreensível para todos, mas sem esquecer o compromisso de purificar e fortalecer a própria fé perante os perigos e as insídias que podem ameaçá-la nestes tempos. Superai os limites do individualismo, do fechamento em vós mesmos e o fascínio do relativismo, pelo que se considera lícito qualquer comportamento, a atracção exercida por formas de sentimento religioso que exploram as necessidades e as aspirações mais profundas da alma humana, propondo perspectivas de satisfação fáceis, mas ilusórias. A fé é uma dádiva de Deus, mas que deseja a nossa resposta, a decisão de seguir Cristo não só quando cura e alivia, mas também quando fala de amor até ao dom de nós mesmos.

Outro ponto sobre o qual gostaria de insistir é o testemunho da caridade, que deve caracterizar a vossa vida de comunidade. Nestes anos, vós vistes crescer rapidamente também no número dos seus membros, mas vistes também chegar muitas pessoas em dificuldade e em situações de dificuldade, que têm necessidade de vós, da vossa ajuda material, mas também e sobretudo da vossa fé e do vosso testemunho de fiéis. Fazei com que o semblante da vossa comunidade possa manifestar sempre concretamente o amor de Deus, rico em misericórdia, e convide a aproximar-se d’Ele com confiança.

Quero dirigir uma especial palavra de carinho e de amizade a vós, caríssimos meninos, meninas e jovens que me ouvis, assim como aos vossos coetâneos que vivem nesta Paróquia. O hoje e o amanhã da história, bem como o futuro da fé, são confiados de modo particular a vós, que sois as novas gerações. A Igreja espera muito do vosso entusiasmo, da vossa capacidade de olhar para a frente, de ser animados por ideais, e pelo vosso desejo de radicalidade nas escolhas de vida. A Paróquia acompanha-vos, e gostaria que vós sentísseis também o meu encorajamento.

«Irmãos, vivei sempre felizes» (1Th 5,16). Este convite à alegria, dirigido por são Paulo aos cristãos de Tessalonica naquela época, caracteriza também o domingo de hoje, tradicionalmente chamado «Gaudete». Ele ressoa desde as primeiras palavras da Antífona de Entrada: «Alegrai-vos sempre no Senhor: repito-vos, alegrai-vos, o Senhor está próximo!»; assim escreveu são Paulo, da prisão, aos cristãos de Filipos (cf. Ph 4,4-5), e di-lo inclusive a nós. Sim, alegremo-nos, porque o Senhor está próximo de nós e, daqui a poucos dias, na noite de Natal, celebraremos o mistério do seu Nascimento. Maria, Aquela que foi a primeira a ouvir do Anjo o convite: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo» (Lc 1,28), indica-nos o caminho para alcançar a verdadeira alegria, aquela que provém de Deus. Santa Maria das Graças, Mãe do Amor Divino, intercede por todos nós. Amém!





Basílica Vaticana, 12 de Dezembro de 2011: SANTA MISSA PARA A AMÉRICA LATINA

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POR OCASIÃO DAS CELEBRAÇÕES DO BICENTENÁRIO
DA INDEPENDÊNCIA DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS E DO CARIBE
Solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe



Queridos hermanos y hermanas:

«La tierra ha dado su fruto» (
Ps 66,7). En esta imagen del salmo que hemos escuchado, en el que se invita a todos los pueblos y naciones a alabar con júbilo al Señor que nos salva, los Padres de la Iglesia han sabido reconocer a la Virgen María y a Cristo, su Hijo: «La tierra es santa María, la cual viene de nuestra tierra, de nuestro linaje, de este barro, de este fango, de Adán […]. La tierra ha dado su fruto: primero produjo una flor [...]; luego esa flor se convirtió en fruto, para que pudiéramos comerlo, para que comiéramos su carne. ¿Queréis saber cuál es ese fruto? Es el Virgen que procede de la Virgen; el Señor, de la esclava; Dios, del hombre; el Hijo, de la Madre; el fruto, de la tierra» (S. Jerónimo, Breviarum in Psalm. 66: PL 26,1010-1011). También nosotros hoy, exultando por el fruto de esta tierra, decimos: «Que te alaben, Señor, todos los pueblos» (Ps 66,4 Ps 66,6). Proclamamos el don de la redención alcanzada por Cristo, y en Cristo, reconocemos su poder y majestad divina.

Animado por estos sentimientos, saludo con afecto fraterno a los señores cardenales y obispos que nos acompañan, a las diversas representaciones diplomáticas, a los sacerdotes, religiosos y religiosas, así como a los grupos de fieles congregados en esta Basílica de San Pedro para celebrar con gozo la solemnidad de Nuestra Señora de Guadalupe, Madre y Estrella de la Evangelización de América. Tengo igualmente presentes a todos los que se unen espiritualmente y oran a Dios con nosotros por los diversos países latinoamericanos y del Caribe, muchos de los cuales durante este tiempo festejan el Bicentenario de su independencia, y que, más allá de los aspectos históricos, sociales y políticos de los hechos, renuevan al Altísimo la gratitud por el gran don de la fe recibida, una fe que anuncia el Misterio redentor de la muerte y resurrección de Jesucristo, para que todos los pueblos de la tierra en Él tengan vida. El Sucesor de Pedro no podía dejar pasar esta efeméride sin hacer presente la alegría de la Iglesia por los copiosos dones que Dios en su infinita bondad ha derramado durante estos años en esas amadísimas naciones, que tan entrañablemente invocan a María Santísima.

La venerada imagen de la Morenita del Tepeyac, de rostro dulce y sereno, impresa en la tilma del indio san Juan Diego, se presenta como «la siempre Virgen María, Madre del verdadero Dios por quien se vive» (De la lectura del Oficio. Nicán Mopohua, 12ª ed., México, D.F., 1971, 3-19). Ella evoca a la «mujer vestida de sol, con la luna bajo sus pies y una corona de doce estrellas sobre su cabeza, que está encinta» (Ap 12,1-2) y señala la presencia del Salvador a su población indígena y mestiza. Ella nos conduce siempre a su divino Hijo, el cual se revela como fundamento de la dignidad de todos los seres humanos, como un amor más fuerte que las potencias del mal y la muerte, siendo también fuente de gozo, confianza filial, consuelo y esperanza.

[Amados irmãos e irmãs!

«A terra deu o seu fruto» (Ps 66,7). Nesta imagem do salmo que ouvimos, o qual convida todos os povos e nações a louvar com júbilo o Senhor que nos salva, os Padres da Igreja souberam reconhecer a Virgem Maria e Cristo, seu Filho: «A terra é Santa Maria, a qual vive da nossa terra, da nossa linhagem, deste barro, desta argila, de Adão [...]. A terra deu o seu fruto: primeiro produziu uma flor [...]; em seguida essa flor transformou-se em fruto, para que o pudéssemos comer, para que comêssemos a sua carne. Quereis saber qual é esse fruto? É o Virgem que provém da Virgem; o Senhor, da escrava; Deus, do homem; o Filho, da Mãe; o fruto, da terra» (São Jerónimo, Breviarum in Psalm. 66: PL 26, 1010-1011). Também nós hoje, exultando pelo fruto desta terra, dizemos: «Louvem-vos, ó Senhor, os povos, todos os povos» (Ps 66,4 Ps 66,6). Proclamamos o dom da redenção alcançada por Cristo, e em Cristo, reconhecemos o seu poder e a sua majestade divina.

Animados por estes sentimentos, saúdo com afecto fraterno os senhores cardeais e bispos que nos acompanham, as diversas representações diplomáticas, os sacerdotes, religiosos e religiosas, assim como os grupos de fiéis congregados nesta Basílica de São Pedro para celebrar com alegria a solenidade de Nossa Senhora de Guadalupe, Mãe e Estrela da Evangelização da América. Tenho também presentes todos os que se unem espiritualmente e rezam a Deus connosco pelos diversos países latino-americanos e do Caribe, muitos dos quais durante este tempo festejam o Bicentenário da sua independência, e que, para além dos aspectos históricos, sociais e políticos dos acontecimentos, renovam ao Altíssimo a gratidão pelo grande dom da fé recebida, uma fé que anuncia o Mistério redentor da morte e ressurreição de Jesus Cristo, para que n’Ele todos os povos da terra tenham vida. O Sucessor de Pedro não podia deixar passar esta efeméride sem fazer presente a alegria da Igreja pelos abundantes dons que Deus na sua bondade infinita derramou durante estes anos sobre essas amadíssimas nações, que tão profundamente invocam Maria Santíssima.

A venerada imagem da Moreninha de Tepeyac, de rosto doce e sereno, gravada no manto do índio são João Diego, apresenta-se como «a sempre Virgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus pelo qual se vive» Da leitura do Ofício, Nicán Mopohua, 12ª ed., México, d.f., 1971, 3-19). Ela evoca a «mulher revestida de sol, tendo a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. Estava grávida» (Ap 12,1-2) e assinala a presença do Salvador à sua população indígena e mestiça. Ela conduz-nos sempre ao seu Filho divino, o qual se revela como fundamento da dignidade de todos os seres humanos, como um amor mais forte do que os poderes do mal e da morte, sendo também fonte de alegria, confiança filial, conforto e esperança].

O Magnificat, que proclamamos no Evangelho, é «o cântico da Mãe de Deus e o da Igreja, cântico da Filha de Sião e do novo Povo de Deus, cântico de ação de graças pela plenitude de graças distribuídas na Economia da salvação, cântico dos “pobres”, cuja esperança é satisfeita pela realização das promessas feitas a nossos pais» (Catecismo da Igreja Católica CEC 2619). Em um gesto de reconhecimento ao seu Senhor e de humildade da sua serva, a Virgem Maria eleva a Deus o louvor por tudo o que Ele fez em favor do seu povo Israel. Deus é Aquele que merece toda a honra e glória, o Poderoso que fez maravilhas por sua fiel servidora e que hoje continua mostrando o seu amor por todos os homens, particularmente aqueles que enfrentam duras provas.

«Mira que tu Rey viene hacia ti; Él es justo y victorioso, es humilde y está montado sobre un asno» (Za 9,9), hemos escuchado en la primera lectura. Desde la encarnación del Verbo, el Misterio divino se revela en el acontecimiento de Jesucristo, que es contemporáneo a toda persona humana en cualquier tiempo y lugar por medio de la Iglesia, de la que María es Madre y modelo. Por eso, nosotros podemos hoy continuar alabando a Dios por las maravillas que ha obrado en la vida de los pueblos latinoamericanos y del mundo entero, manifestando su presencia en el Hijo y la efusión de su Espíritu como novedad de vida personal y comunitaria. Dios ha ocultado estas cosas a «sabios y entendidos», dándolas a conocer a los pequeños, a los humildes, a los sencillos de corazón (cf. Mt 11,25).

Por su «sí» a la llamada de Dios, la Virgen María manifiesta entre los hombres el amor divino. En este sentido, Ella, con sencillez y corazón de madre, sigue indicando la única Luz y la única Verdad: su Hijo Jesucristo, que «es la respuesta definitiva a la pregunta sobre el sentido de la vida y a los interrogantes fundamentales que asedian también hoy a tantos hombres y mujeres del continente americano» (Exhort. Ap. postsinodal Ecclesia in America ). Asimismo, Ella «continúa alcanzándonos por su constante intercesión los dones de la eterna salvación. Con amor maternal cuida de los hermanos de su Hijo que todavía peregrinan y se debaten entre peligros y angustias hasta que sean llevados a la patria feliz» (Lumen gentium LG 62).

Actualmente, mientras se conmemora en diversos lugares de América Latina el Bicentenario de su independencia, el camino de la integración en ese querido continente avanza, a la vez que se advierte su nuevo protagonismo emergente en el concierto mundial. En estas circunstancias, es importante que sus diversos pueblos salvaguarden su rico tesoro de fe y su dinamismo histórico-cultural, siendo siempre defensores de la vida humana desde su concepción hasta su ocaso natural y promotores de la paz; han de tutelar igualmente la familia en su genuina naturaleza y misión, intensificando al mismo tiempo una vasta y capilar tarea educativa que prepare rectamente a las personas y las haga conscientes de sus capacidades, de modo que afronten digna y responsablemente su destino. Están llamados asimismo a fomentar cada vez más iniciativas acertadas y programas efectivos que propicien la reconciliación y la fraternidad, incrementen la solidaridad y el cuidado del medio ambiente, vigorizando a la vez los esfuerzos para superar la miseria, el analfabetismo y la corrupción y erradicar toda injusticia, violencia, criminalidad, inseguridad ciudadana, narcotráfico y extorsión.

Cuando la Iglesia se preparaba para recordar el quinto centenario de la plantatio de la Cruz de Cristo en la buena tierra del continente americano, el beato Juan Pablo II formuló en su suelo, por primera vez, el programa de una evangelización nueva, nueva «en su ardor, en sus métodos, en su expresión» (cf. Discurso a la Asamblea del CELAM, 9 marzo 1983, III: AAS 75, 1983, 778). Desde mi responsabilidad de confirmar en la fe, también yo deseo animar el afán apostólico que actualmente impulsa y pretende la «misión continental» promovida en Aparecida, para que «la fe cristiana arraigue más profundamente en el corazón de las personas y los pueblos latinoamericanos como acontecimiento fundante y encuentro vivificante con Cristo» (V Conferencia General del Episcopado Latinoamericano y del Caribe, Documento conclusivo, 13). Así se multiplicarán los auténticos discípulos y misioneros del Señor y se renovará la vocación de Latinoamérica y el Caribe a la esperanza. Que la luz de Dios brille, pues, cada vez más en la faz de cada uno de los hijos de esa amada tierra y que su gracia redentora oriente sus decisiones, para que continúen avanzando sin desfallecer en la construcción de una sociedad cimentada en el desarrollo del bien, el triunfo del amor y la difusión de la justicia. Con estos vivos deseos, y sostenido por el auxilio de la providencia divina, tengo la intención de emprender un Viaje apostólico antes de la santa Pascua a México y Cuba, para proclamar allí la Palabra de Cristo y se afiance la convicción de que éste es un tiempo precioso para evangelizar con una fe recia, una esperanza viva y una caridad ardiente.

Encomiendo todos estos propósitos a la amorosa mediación de Santa María de Guadalupe, nuestra Madre del cielo, así como los actuales destinos de las naciones latinoamericanas y caribeñas y el camino que están recorriendo hacia un mañana mejor. Invoco igualmente sobre ellas la intercesión de tantos santos y beatos que el Espíritu ha suscitado a lo largo y ancho de la historia de ese continente, ofreciendo modelos heroicos de virtudes cristianas en la diversidad de estados de vida y de ambientes sociales, para que su ejemplo favorezca cada vez más una nueva evangelización bajo la mirada de Cristo, Salvador del hombre y fuerza de su vida.

Amén.

[«Eis que o teu rei vem a ti; ele é justo e vitorioso, humilde, montado num jumento» (Za 9,9), ouvimos na primeira leitura. Desde a encarnação do Verbo, o Mistério divino revela-se no acontecimento de Jesus Cristo, que é contemporâneo de todas as pessoas humanas em qualquer tempo e lugar por meio da Igreja, da qual Maria é Mãe e modelo. Por isso, nós podemos continuar hoje a louvar a Deus pelas maravilhas que realizou na vida dos povos latino-americanos e do mundo inteiro, manifestando a sua presença no Filho e a efusão do seu Espírito como novidade de vida pessoal e comunitária. Deus escondeu estas coisas «aos sábios e doutos» e revelou-as aos pequeninos, aos humildes, aos simples de coração (cf. Mt 11,25).

Pelo seu «sim» à chamada de Deus, a Virgem Maria manifesta entre os homens o amor divino. Neste sentido, Ela, com simplicidade e com um coração de mãe, continua a indicar a única Luz e a única Verdade: o seu Filho Jesus Cristo, que «é a resposta definitiva à pergunta sobre o sentido da vida e às questões fundamentais que assediam também hoje tantos homens e mulheres do continente americano» (Exort. apost. pós-sinodal Ecclesia in America ). De igual modo, ela «continua a obter-nos os dons da salvação eterna. Com o seu amor de Mãe, cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz» (Lumen gentium LG 62).

Actualmente, enquanto se comemora em diversos lugares da América Latina o Bicentenário da sua independência, o caminho da integração nesse querido continente progride, enquanto se sente o seu novo protagonismo emergente no concerto mundial. Nestas circunstâncias, é importante que os seus diversos povos salvaguardem o seu rico tesouro de fé e o seu dinamismo histórico-cultural, sendo sempre defensores da vida humana desde a sua concepção até ao seu ocaso natural e promotores da paz; devem tutelar igualmente a família na sua natureza e missão genuínas, intensificando ao mesmo tempo uma vasta e minuciosa tarefa educativa que prepare rectamente as pessoas e as torne conscientes das suas capacidades, de modo que enfrentem digna e responsavelmente o seu destino. De igual modo estão chamados a incrementar cada vez mais iniciativas concretas e programas efectivos que propiciem a reconciliação e a fraternidade, incrementem a solidariedade e o cuidado do meio ambiente, fortalecendo ao mesmo tempo os esforços para superar a miséria, o analfabetismo e a corrupção e erradicar qualquer injustiça, violência, criminalidade, insegurança urbana, narcotráfico e extorsão.

Quando a Igreja se preparava para comemorar o quinto centenário da plantatio da Cruz de Cristo na boa terra do continente americano, o beato João Paulo II formulou no seu solo, pela primeira vez, o programa de uma nova evangelização, nova «no seu ardor, nos seus métodos, na sua expressão» (cf. Discurso à Assembleia do CELAM, 9 de Março de 1983, III: AAS 75, 1983, 778). Na minha responsabilidade de confirmar na fé, também eu desejo animar o afã apostólico que actualmente estimula e pretende a «missão continental» promovida em Aparecida, para que «a fé cristã se arraigue mais profundamente no coração das pessoas e dos povos latino-americanos como acontecimento fundante e encontro vivificador com Cristo» (V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Documento final, 13). Assim se multiplicarão os discípulos e missionários do Senhor e se renovará a vocação da América Latina e do Caribe para a esperança. Que a luz de Deus brilhe, portanto, cada vez mais na face de cada um dos filhos dessa amada terra e que a sua graça redentora oriente as suas decisões, para que continuem a progredir sem desanimar na construção de uma sociedade cimentada no progresso do bem, no triunfo do amor e na difusão da justiça. Com estes profundos desejos, e amparado pelo auxílio da Providência divina, tenho a intenção de empreender uma Viagem apostólica antes da santa Páscoa ao México e a Cuba, para ali proclamar a Palavra de Cristo e para garantir a convicção de que este é um tempo precioso para evangelizar com fé firme, esperança viva e caridade fervorosa.

Recomendo todos estes propósitos à amorosa mediação de Santa Maria de Guadalupe, nossa Mãe do céu, assim como o actual destino das nações latino-americanas e caribenhas e o caminho que estão a percorrer rumo a um amanhecer melhor. Invoco igualmente sobre elas a intercessão de tantos santos e beatos que o Espírito suscitou ao longo da história desse continente, oferecendo modelos heróicos de virtudes na diversidade de estados de vida e de ambientes sociais, para que o seu exemplo favoreça cada vez mais uma nova evangelização sob o olhar de Cristo, Salvador do homem e força da sua vida. Amém!]



Quinta-feira, 15 de Dezembro de 2011: CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS COM OS UNIVERSITÁRIOS

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Basílica Vaticana




«Irmãos, sede constantes até à vinda do Senhor» (
Jc 5,7).

Com estas palavras o Apóstolo Tiago indica-nos a atitude interior para nos preparamos para ouvir e acolher de novo o anúncio do Nascimento do Redentor na gruta de Belém, mistério inefável de luz, de amor e de graça. Caros universitários de Roma, a vós que tenho a alegria de encontrar nesta celebração habitual, dirijo a minha carinhosa saudação: recebo-vos em proximidade do Santo Natal, com as vossas aspirações, expectativas e preocupações; e saúdo também as comunidades académicas por vós representadas. Agradeço ao Magnífico Reitor, Prof. Massimo Egidi, as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos vós, e com as quais salientou a delicada missão do docente universitário. Saúdo com profunda cordialidade o Ministro para a Universidade, Prof. Francesco Profumo, e as autoridades académicas dos vários Ateneus.

Estimados amigos, são Tiago exorta a imitar o agricultor, que «espera com constância o fruto precioso da terra» (Jc 5,7). A vós, que viveis no coração do ambiente cultural e social da nossa época, que experimentais as tecnologias novas e cada vez mais requintadas, que sois protagonistas de um dinamismo histórico que às vezes parece empolgante, o convite do Apóstolo pode parecer anacronista, quase um convite a sair da história, a não desejar ver os frutos do vosso trabalho, da vossa investigação. Mas é mesmo assim? O convite à expectativa de Deus está precisamente fora do tempo? E ainda mais radicalmente poderíamos perguntar-nos: o que significa para mim o Natal; é verdadeiramente importante para a minha existência, para a construção da sociedade? Na nossa época são muitas as pessoas, especialmente aquelas que encontrais nas salas universitárias, que dão voz à pergunta se devemos esperar algo ou alguém; se temos que esperar outro messias, outro deus; se vale a pena confiar naquele Menino que, na noite de Natal, encontraremos na manjedoura entre Maria e José.

A exortação do Apóstolo à constância paciente, que no nosso tempo poderia deixar-nos um pouco perplexos, é na realidade o caminho para acolher profundamente a questão de Deus, o sentido que Ele tem na vida e na história, porque precisamente na paciência, na fidelidade e na constância da busca de Deus, da abertura a Deus, Ele revela a sua Face. Não temos necessidade de um deus genérico, indefinido, mas do Deus vivo e verdadeiro, que abra o horizonte do futuro do homem a uma perspectiva de esperança firme e segura, uma esperança rica de eternidade e que permita enfrentar com coragem o presente em todos os seus aspectos. Mas então deveríamos perguntar-nos: onde encontra a minha busca a verdadeira Face deste Deus? Ou melhor ainda: onde vem ao meu encontro o próprio Deus, mostrando-me o seu Rosto, revelando-me o seu mistério, entrando na minha história?

Caros amigos, o convite de são Tiago: «Irmãos, sede constantes até à vinda do Senhor», recorda-nos que a certeza da grande esperança do mundo nos é doada e que não estamos sós e que não construímos sozinhos a história. Deus não se encontra distante do homem, mas inclinou-se sobre ele e fez-se carne (cf. Jc 1,14), a fim de que o homem compreenda onde reside o sólido fundamento de tudo, o cumprimento das suas aspirações mais profundas: em Cristo (cf. Exort. apost. pós-sin. Verbum Domini, 10). A paciência é a virtude daqueles que confiam nesta presença na história, que não se deixam vencer pela tentação de depositar toda a esperança no imediato, em perspectivas puramente horizontais, em programas tecnicamente perfeitos, mas distantes da realidade mais profunda, aquela que confere a dignidade mais excelsa à pessoa humana: a dimensão transcendente, ser criatura à imagem e semelhança de Deus, trazer no coração o desejo de se elevar a Ele.

Porém, há outro aspecto que eu gostaria de sublinhar esta tarde. São Tiago disse-nos: «Olhai o agricultor: ele espera com constância» (Jc 5,7). Na encarnação do Verbo, na encarnação do seu Filho, Deus experimentou o tempo do homem, do seu crescimento, da sua realização na história. Aquele Menino é o sinal da paciência de Deus, o primeiro que é paciente, constante e fiel ao seu amor por nós; Ele é o verdadeiro «agricultor» da história, que sabe esperar. Quantas vezes os homens procuraram construir o mundo sozinhos, sem ou até contra Deus! O resultado é marcado pelo drama de ideologias que, no final, se demonstraram contrárias ao homem e à sua dignidade profunda. A constância paciente na construção da história, tanto a nível pessoal como comunitário, não se identifica com a virtude tradicional da prudência, certamente necessária, mas é algo maior e mais complexo. Ser constante e paciente significa aprender a construir a história juntamente com Deus, porque só edificando com base n’Ele e com Ele, a construção será bem fundada, não instrumentalizada para finalidades ideológicas, mas verdadeiramente digna do homem.

Então, esta tarde voltemos a acender de maneira ainda mais luminosa a esperança nos nossos corações, porque a Palavra de Deus nos recorda que a vinda do Senhor está próxima, aliás, o Senhor está connosco e é possível construir com Ele. Na gruta de Belém, a solidão do homem é derrotada, a nossa existência deixa de estar abandonada às forças impessoais dos processos naturais e históricos, a nossa casa pode ser construída sobre a rocha: nós podemos programar a nossa história, a história da humanidade, não na utopia mas na certeza de que o Deus de Jesus Cristo está presente e nos acompanha.

Estimados amigos universitários, apressemo-nos com alegria rumo a Belém, acolhamos nos nossos braços o Menino que Maria e José nos apresentarão. Recomecemos a partir d’Ele e com Ele, enfrentando todas as dificuldades. A cada um de vós, o Senhor pede que colaboreis para a construção da cidade do homem, conjugando fé e cultura de modo sério e apaixonado. Por isso, convido-vos a procurar sempre, com constância paciente, a verdadeira Face de Deus, ajudados pelo caminho pastoral que é proposto neste ano académico. Procurar o Rosto de Deus é a aspiração profunda do nosso coração e é também a resposta à questão fundamental que vai sobressaindo sempre de novo também na sociedade contemporânea. Prezados amigos universitários, vós sabeis que a Igreja de Roma, com a guia sábia e solícita do Cardeal Vigário e dos vossos Capelães, está próxima de vós. Estamos gratos ao Senhor porque, como foi recordado, há vinte anos o beato João Paulo II instituiu o Ofício para a pastoral universitária ao serviço da comunidade académica romana. O trabalho levado a cabo promoveu o nascimento e o desenvolvimento das Capelanias para elaborar uma rede bem organizada, onde as propostas formativas dos vários Ateneus estatais, privados, católicos e pontifícios possam contribuir para a elaboração de uma cultura ao serviço do crescimento integral do homem.

No final desta Liturgia, o Ícone da Sedes Sapientiae será entregue pela delegação universitária espanhola à da Universidade de Roma «La Sapienza». Começará a peregrinatio mariana nas Capelanias, que acompanharei com a oração. Sabei que o Papa confia em vós e no vosso testemunho de fidelidade e de compromisso apostólico.

Queridos amigos, esta tarde apressemos juntos com confiança o nosso passo rumo a Belém, levando connosco as expectativas e as esperanças dos nossos irmãos, para que todos possam encontrar o Verbo da vida e confiar-se a Ele. Estes são os bons votos que dirijo à comunidade académica romana: transmiti a todos o anúncio de que o verdadeiro Rosto de Deus está no Menino de Belém, tão próximo de cada um de nós, que ninguém pode sentir-se excluído, ninguém deve duvidar da possibilidade do encontro, porque Ele é o Deus paciente e fiel, que sabe esperar e respeitar a nossa liberdade. A Ele, esta tarde, queremos confessar com confiança o desejo mais profundo do nosso coração: «Eu estou à procura do vosso Rosto, ó Senhor; vinde, não demoreis!». Amém.



Bento XVI Homilias 20111